A maior tragédia de nossas vidas, Fabrício Carpinejar
28 de Janeiro de 2013 por José Lino | Categorias: Texto de Abertura do Programa Rádio Vivo
Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.
A tragédia anunciada 11 anos atrás
28 de Janeiro de 2013 por Eduardo Costa
Madrugada de 24 de novembro de 2001. O telefone tocou e o
colega de redação sugeriu que eu desse um pulo à Avenida do Contorno, na
região Centro-Oeste da cidade, porque havia informações de um grande
incêndio, com vítimas fatais.
Dez minutos depois estava lá e, de imediato, vi três corpos enfileirados na porta do “Canecão Mineiro”. Voluntários traziam mais dois, esfumaçados. Morreram sete, só porque a casa estava vazia naquela noite – uma semana antes, fizeram show lá com público quatro vezes maior.
Agora, no domingo, quando recebi as primeiras informações sobre a tragédia de Santa Maria, as cenas de onze anos atrás voltaram à minha mente. Foi tudo, rigorosamente, tudo igual. As primeiras informações sobre a causa: fogos de artifício (ou sinalizador) usados no palco pela banda; o princípio de incêndio, correria; seguranças impedindo a saída das pessoas antes de terem certeza de pagamento das respectivas contas; uma porta só, a luta pela saída e a lei da física: não havia espaço para todos, então, muitos tiveram de aspirar ao gás tóxico e foram morrendo, em meio a um desespero alucinante.
E vem o estardalhaço na TV, o rádio fala sem parar, os jornais preparam páginas e mais páginas, a presidenta volta do exterior, o país não fala de outra coisa. Por poucos dias. Vem um novo fato de repercussão, a gente esquece e a vida segue. Quem sabe quantas – e quais – pessoas estão presas, responsabilizadas por aquele incêndio?
Eu sei que pelo menos uma das pessoas que lá estavam naquela noite já ganhou uma indenização de 300 mil reais que serão pagos pela Prefeitura, com o nosso dinheiro, com o dinheiro do nosso IPTU. Nove anos depois – e perto de cinco milhões investidos – um grupo de empresários poderosos queria abrir outra casa, no mesmo local, sem o devido alvará. Anunciavam show com o meu xará mais famoso e vendiam ingresso pela internet. Avisei, no rádio, que iria tirar a roupa na Praça Sete e eles recuaram e só abriram a casa de acordo com a lei.
Aquelas mortes do Canecão foram em vão. Depois, em 2004, na Argentina, 194 morreram nas mesmas circunstâncias e mudaram a lei… Lá! Tomara que as vítimas da “Kiss” sacudam as autoridades para uma atitude de proteção aos nossos jovens aqui. Que Deus os protejam!
Dez minutos depois estava lá e, de imediato, vi três corpos enfileirados na porta do “Canecão Mineiro”. Voluntários traziam mais dois, esfumaçados. Morreram sete, só porque a casa estava vazia naquela noite – uma semana antes, fizeram show lá com público quatro vezes maior.
Agora, no domingo, quando recebi as primeiras informações sobre a tragédia de Santa Maria, as cenas de onze anos atrás voltaram à minha mente. Foi tudo, rigorosamente, tudo igual. As primeiras informações sobre a causa: fogos de artifício (ou sinalizador) usados no palco pela banda; o princípio de incêndio, correria; seguranças impedindo a saída das pessoas antes de terem certeza de pagamento das respectivas contas; uma porta só, a luta pela saída e a lei da física: não havia espaço para todos, então, muitos tiveram de aspirar ao gás tóxico e foram morrendo, em meio a um desespero alucinante.
E vem o estardalhaço na TV, o rádio fala sem parar, os jornais preparam páginas e mais páginas, a presidenta volta do exterior, o país não fala de outra coisa. Por poucos dias. Vem um novo fato de repercussão, a gente esquece e a vida segue. Quem sabe quantas – e quais – pessoas estão presas, responsabilizadas por aquele incêndio?
Eu sei que pelo menos uma das pessoas que lá estavam naquela noite já ganhou uma indenização de 300 mil reais que serão pagos pela Prefeitura, com o nosso dinheiro, com o dinheiro do nosso IPTU. Nove anos depois – e perto de cinco milhões investidos – um grupo de empresários poderosos queria abrir outra casa, no mesmo local, sem o devido alvará. Anunciavam show com o meu xará mais famoso e vendiam ingresso pela internet. Avisei, no rádio, que iria tirar a roupa na Praça Sete e eles recuaram e só abriram a casa de acordo com a lei.
Aquelas mortes do Canecão foram em vão. Depois, em 2004, na Argentina, 194 morreram nas mesmas circunstâncias e mudaram a lei… Lá! Tomara que as vítimas da “Kiss” sacudam as autoridades para uma atitude de proteção aos nossos jovens aqui. Que Deus os protejam!
Isso é importante
RT @burgos: Conecte-se ao que importa
January 27, 2013 at 11:37am
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O que fazer?
Aqui nas redes sociais temos opinião sobre tudo, mas a verdade é que é duro não saber o que fazer em situações como essa, de hoje. A tragédia é imensa, mais de duas centenas de vidas, mas é muito particular. Não é um acidente aqui na minha cidade, não adianta ir doar sangue; não faz sentido retuitar a mensagem de alguém com a foto de um desaparecido, não foi um naufrágio. Em outras tragédias, como os anuais deslizamentos do Rio, temos um 0800 da Cruz Vermelha e uma conta no Banco do Brasil para enviar dinheiro.O ponto é que quando temos uma receita de solidariedade automática, retuitamos, compartilhamos tudo isso ou depositamos um troco e achamos que nossa parte está feita – é ótimo que estejamos fazendo isso, não me leve a mal. Mas no incêndio de Santa Maria, para muitos aqui, a coisa é tão distante que, mesmo com os 4 graus de separação do Facebook, muitos de nós – ou a maioria – não conhecem qualquer pessoa a quem podemos dar nosso suporte direto, o abraço, as palavras amigas. O que Santa Maria precisa agora é urgente, mas precisa vir de perto, e podemos fazer muito pouco. Nada com RTs.
A falta de proximidade automática não quer dizer que nós não estejamos mexidos. Todos estamos. Ou espero que estejamos, porque eu creio que somos bons. Vejo que na falta de manifestações de solidariedade eletrônica direta, sobrou um pouco de raiva (dos brigadistas, seguranças, quem iniciou o incêndio, o que seja). Mas podemos canalizar essas emoções de outras formas, mais positivas e com um impacto direto.
Acordamos este domingo com um bocadinho mais de empatia e compaixão. Então, na falta de alguém conhecido para confortar e um retuite automático de ajuda, ache na sua lista de contatos alguém que passou por uma situação difícil recentemente, alguém que perdeu um parente, a sua amiga que fez uma cirurgia. E dê amor, atenção, ouvido, o que quer que seja. Esteja lá. De alguma forma, se todos fizerem isso (e algumas religiões tem grandes teorias sobre) este amor vai chegar ao Rio Grande.
Hoje, o terremoto foi aqui
28 de janeiro de 2013
Enquanto estava no Haiti, em janeiro de 2010, 24 horas depois do
terremoto que devastou o país e deixou 200 mil mortos, eu olhava para o
nosso intérprete, o Martineau, e me perguntava:
- Como ele consegue nos guiar por sua cidade devastada?
E se fosse comigo? Na minha cidade? No fundo, eu fazia um exercício mental: colocava-me em seu lugar. Eu, um brasileiro do sul do país, guiando um jornalista haitiano por minha cidade destruída. Como eu agiria? Martineau não chorava. De forma ágil, guiava-me pelas ruelas, por entre ruínas de prédios, conversando com seus compatriotas, dividindo silenciosamente a sua dor.
Foi um pouco essa sensação estranha, de narrar a tragédia na minha própria terra, que senti hoje ao chegar ao jornal para a cobertura de ZH sobre o incêndio que tirou a vida de mais de 230 jovens em Santa Maria. É diferente quando saímos para cobrir um desastre do outro lado do mundo. Não que a dor seja maior ou menor. Mas, quando se testemunha uma tragédia dentro de casa, na nossa cidade ou Estado, o impacto psicológico é muito forte.
Ao atender a um pedido de entrevista para a rede de TV americana ABC News, na hora em que a lista dos mortos na boate Kiss era divulgada, lembrei de novo de Martineau. Lá estava eu, descrevendo um "terremoto" dentro de casa.
- É difícil descrever para o mundo quando algo acontece tão perto da gente. Normalmente, descrevo o mundo pra população daqui do sul do Brasil - afirmei ao apresentador David Muir, âncora do programa World News, em 15 minutos de relato.
Nessas horas, ser humano e profissional se misturam. Ao final da noite, perfilamos as páginas de ZH no chão da Redação. Eram 56 páginas de cobertura. Lado a lado, para que não repetíssemos títulos, fotos e para que tivéssemos uma ideia do todo da edição. Formou-se uma fila silenciosa, respeitosa de repórteres, fotógrafos e editores.
Um trabalho difícil de fazer. Mas necessário. Acreditamos que, ao retratar a realidade, com respeito, dedicação, mas sem descuidar da busca pela verdade, de cobrar responsabilidades, estamos ajudando a evitar que novas tragédias se repitam. Ou pelo menos, acreditamos que ajudaremos a amenizar a dor de quem fica. É assim. No Haiti ou no Rio Grande do Sul. Hoje, o terremoto foi aqui.
Postado por Rodrigo Lopes, às 2:12- Como ele consegue nos guiar por sua cidade devastada?
E se fosse comigo? Na minha cidade? No fundo, eu fazia um exercício mental: colocava-me em seu lugar. Eu, um brasileiro do sul do país, guiando um jornalista haitiano por minha cidade destruída. Como eu agiria? Martineau não chorava. De forma ágil, guiava-me pelas ruelas, por entre ruínas de prédios, conversando com seus compatriotas, dividindo silenciosamente a sua dor.
Foi um pouco essa sensação estranha, de narrar a tragédia na minha própria terra, que senti hoje ao chegar ao jornal para a cobertura de ZH sobre o incêndio que tirou a vida de mais de 230 jovens em Santa Maria. É diferente quando saímos para cobrir um desastre do outro lado do mundo. Não que a dor seja maior ou menor. Mas, quando se testemunha uma tragédia dentro de casa, na nossa cidade ou Estado, o impacto psicológico é muito forte.
Ao atender a um pedido de entrevista para a rede de TV americana ABC News, na hora em que a lista dos mortos na boate Kiss era divulgada, lembrei de novo de Martineau. Lá estava eu, descrevendo um "terremoto" dentro de casa.
- É difícil descrever para o mundo quando algo acontece tão perto da gente. Normalmente, descrevo o mundo pra população daqui do sul do Brasil - afirmei ao apresentador David Muir, âncora do programa World News, em 15 minutos de relato.
Nessas horas, ser humano e profissional se misturam. Ao final da noite, perfilamos as páginas de ZH no chão da Redação. Eram 56 páginas de cobertura. Lado a lado, para que não repetíssemos títulos, fotos e para que tivéssemos uma ideia do todo da edição. Formou-se uma fila silenciosa, respeitosa de repórteres, fotógrafos e editores.
Um trabalho difícil de fazer. Mas necessário. Acreditamos que, ao retratar a realidade, com respeito, dedicação, mas sem descuidar da busca pela verdade, de cobrar responsabilidades, estamos ajudando a evitar que novas tragédias se repitam. Ou pelo menos, acreditamos que ajudaremos a amenizar a dor de quem fica. É assim. No Haiti ou no Rio Grande do Sul. Hoje, o terremoto foi aqui.
Blog Reinaldo Azevedo
Análises políticas em um dos blogs mais acessados do Brasil28/01/2013 às 7:07
Tragédia.
O
país parou para acompanhar detalhes de uma das maiores tragédias de sua
história. Duzentos e trinta e um moços e moças saíram de casa para se
divertir na noite de sábado e jamais voltarão. Morreram queimados ou
asfixiados — a grande maioria — na boate Kiss, na cidade de Santa Maria,
no Rio Grande do Sul. Ficamos, especialmente os pais de adolescentes e
jovens, paralisados de medo, de apreensão, de terror. Qualquer morte nos
diminui. A de um ente querido nos destroça. A de um filho, então,
subverte aquele que é o nosso mais duro aprendizado: morrer um pouco por
dia para que sobreviva a nossa descendência. Em “Cântico do Calvário”,
escrito justamente em memória de um filho morto, Fagundes Varela pôs nos
justos termos:
“Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.”
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.”
Penso na
dor dessas mães e desses pais e rezo para que encontrem algum conforto.
Lembro-me de ter me irritado certa feita com a minha mãe por causa de
seu excesso de preocupação, ainda que estivéssemos a centenas de
quilômetros de distância: “Pô, eu sei o que faço; já tenho mais de
trinta anos”. E ouvi do outro lado: “E continua meu filho; filho não tem
idade para mãe e para pai”. Hoje sou eu que ouço: “Pai, eu já tenho 18,
já tenho 16…”. Filhos não têm idade. As nossas crianças têm de voltar
para que possamos fechar a porta, deixando do lado de fora as tormentas.
Mas a
nossa dor também tem de saber exercitar a devida ira. Com a conivência
de muitos, a Kiss não era uma boate, mas uma armadilha. Parece evidente
que muitos milhares se arriscaram antes a morrer nas suas dependências.
Faltava apenas o casamento do fortuito com o inexorável. As imprudências
meticulosa e metodicamente praticadas careciam do elemento incidental,
da estupidez que serve de estopim, do gesto tolo, irrelevante, que
provoca a reação em cadeia e resulta na tragédia.
Na
madrugada de sábado para domingo, ele veio na forma de um sinalizador,
uma espécie de fogos de artifício, usado pela banda. Uma fagulha atingiu
o teto de papelão e material de proteção acústica, altamente
inflamáveis. Em segundos, o fogo se espalhou pelo teto. Estima-se que
90% das vítimas fatais tenham morrido asfixiadas pela fumaça, não
queimadas. Talvez duas portas de emergência, destravadas, tivessem
bastado para evitar a tragédia.
O Plano de
Prevenção de Combate a Incêndio tinha vencido em agosto do ano passado e
não havia sido renovado, informa o comandante-geral do Corpo de
Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo. É, sim,
uma informação relevante, que parece indicar que a casa não primava
exatamente pelo respeito às regras. Mas essa informação pode contribuir
para omitir outra, que me parece ainda mais importante: quer
dizer que, até agosto de 2012, o Corpo de Bombeiros julgava que tudo ia
bem num imóvel que abriga duas mil pessoas e tem uma única porta. Ela
não só servia à entrada e à saída dos frequentadores como era obstruída
por uma espécie de biombo, que impedia os seguranças de ver o que se
passava lá dentro, razão por que, por alguns poucos minutos, eles
tentaram impedir a fuga dos jovens, supondo que queriam sair sem pagar a
conta.
O incêndio
causou um curto-circuito e deixou a moçada no escuro, em meio à fumaça.
Não havia luzes de emergência, acionadas automaticamente quando há o
corte do fornecimento de energia elétrica. Um extintor também não teria
funcionado. A boate Kiss não poderia, naquelas condições, estar
funcionando. E não era um empreendimento pequeno, que tivesse existência
clandestina. Talvez fosse a maior casa do gênero em Santa Maria, uma
cidade de porte médio, com 230 mil habitantes, mas com vida noturna
agitada em razão da universidade federal, que atrai jovens do Brasil
inteiro. A festa de sábado tinha sido organizada por alunos do primeiro
ano dos cursos de de Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina
Veterinária, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia.
Estupidez
Não, senhores! Essa não é uma tragédia fabricada pelo acaso. Ela é obra de uma cadeia de descasos. Uma casa dessas dimensões tem de ter, por exemplo, uma brigada civil de combate a incêndios. A ela caberia dizer à tal banda “Gurizada Fandangueira” que o ambiente era impróprio para o uso de fogos de artifício.
Não, senhores! Essa não é uma tragédia fabricada pelo acaso. Ela é obra de uma cadeia de descasos. Uma casa dessas dimensões tem de ter, por exemplo, uma brigada civil de combate a incêndios. A ela caberia dizer à tal banda “Gurizada Fandangueira” que o ambiente era impróprio para o uso de fogos de artifício.
Que se
apurem as responsabilidades. Não sou polícia técnica nem perito. Mas há
elementos de sobra para concluir que a “fatalidade” que resultou na
morte de 231 jovens foi construída. Eles foram mortos pela estupidez,
não pelo destino.
PS – Por
mais que fique constrangido e até envergonhado de escrever isto num
texto dessa natureza, é inevitável. Vamos lá. Dilma Rousseff fez bem ao
interromper a sua viagem e se deslocar para Santa Maria. É a presidente
de todos os brasileiros, e uma grande tragédia aconteceu por lá.
Goste-se ou não disso, representa todos os brasileiros. A presidente
chorou, e acho que estava sendo sincera. Dispensável, porque tem o
cheiro inevitável da exploração política, é a nota de Lula e sua mulher,
Marisa. Ele não exerce mais cargo público. E não se espera que cada
político se manifeste a respeito. Dilma está investida do cargo mais
importante da República. Ele, embora não se dê conta disso, não. É só
mais uma evidência de que não tem mesmo limites.
Texto publicado originalmente às 4h42
8 de Janeiro de 2013
Hoje, uma tragédia atípica nos
acordou no domingo: um incêndio com mais de 200 mortos em uma boate na
cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. E, segundo os relatos dos Bombeiros no local, os celulares não param de tocar.
É doloroso pensar que o aparelho que mais diminuiu distâncias fique tocando, tocando, tocando sem resposta. Nos desacostumamos a não encontrar as pessoas. O aparelho que eliminou o adeus enfático para quem mora longe, o aparelho que facilitou o ir e vir das informações.
E o ir e vir de informações, como em qualquer grande tragédia, está frenético: Twitter, Facebook e YouTube estão lotados de mensagens de luto, opiniões exacerbadas e desencontro e encontro de informações. É preciso ter um filtro ocular mais apurado do que nunca para saber o que é real, o que é fato, o que é dor transformada em revolta.
Na luz de uma tragédia tão grande, acompanhando as redes sociais cabisbaixas, mas ao mesmo tempo inflamadas, a única coisa que peço é que tomemos cuidados com os milhares de julgamentos instantâneos. Relatos de pessoas que passaram por um trauma tão grande, dedos apontados de forma tão furiosa com tão pouca informação… fuja disso. Em partes, fuja das redes sociais: como disse o Pedro em seu blog, procure a relação mais humana que uma tragédia tão distante pode lhe trazer.
[Crédito da imagem: Germano Roratto/Agência RBS/Folhapress]
Os celulares não param de tocar
Por - Leo Martins 27 jan, 2013 - 03:09
É doloroso pensar que o aparelho que mais diminuiu distâncias fique tocando, tocando, tocando sem resposta. Nos desacostumamos a não encontrar as pessoas. O aparelho que eliminou o adeus enfático para quem mora longe, o aparelho que facilitou o ir e vir das informações.
E o ir e vir de informações, como em qualquer grande tragédia, está frenético: Twitter, Facebook e YouTube estão lotados de mensagens de luto, opiniões exacerbadas e desencontro e encontro de informações. É preciso ter um filtro ocular mais apurado do que nunca para saber o que é real, o que é fato, o que é dor transformada em revolta.
Na luz de uma tragédia tão grande, acompanhando as redes sociais cabisbaixas, mas ao mesmo tempo inflamadas, a única coisa que peço é que tomemos cuidados com os milhares de julgamentos instantâneos. Relatos de pessoas que passaram por um trauma tão grande, dedos apontados de forma tão furiosa com tão pouca informação… fuja disso. Em partes, fuja das redes sociais: como disse o Pedro em seu blog, procure a relação mais humana que uma tragédia tão distante pode lhe trazer.
[Crédito da imagem: Germano Roratto/Agência RBS/Folhapress]