Sobre o jornalismo sério e o jornalismo picareta.
Hoje eu quero fazer uma reflexão sobre o jornalismo sério e o jornalismo picareta.
Para isso vou contar a história de duas piadinhas sem graça que aconteceram de verdade,
uma entrou para história da vida política brasileira e outra não entrou para a história política brasileira.
A primeira piadinha foi emitida pelo então candidato a presidente e ainda hoje candidato a presidente Ciro Gomes.
Ao ser questionado sobre o papel da sua mulher Patrícia Pillar no governo, ele respondeu que seria dormir com ele.
Essa piadinha entrou para história da política brasileira, pois até então ele era um de quatro possíveis postulantes a participar do segundo turno e essa piadinha sepultou as suas chances de chegar no segundo turno. Ele terminou com 12% dos votos.
A outra piadinha foi feita pelo jornalista Juca Kfouri que então trabalhava na editora Abril nas revistas Placar e Playboy, hoje colunista semanal no ICL Notícias (ICL é Instituto conhecimento Liberta).
Essa piadinha não entrou na história da política brasileira apesar de ter envolvido o mesmo Ciro Gomes, foi numa entrevista dele para o programa roda viva.
Foi assim: Um outro jornalista perguntou para o Ciro: estou vento aqui uma notícia no jornal: É verdade que o senhor ficou em casa olhando as crianças enquanto sua esposa foi viajar?
(Essa esposa também era Patrícia, mas não a Pillar, a primeira esposa Patrícia Saboya)
A resposta do Ciro foi: Saiu no jornal é?! É verdade... ela foi fazer um curso nos Estados Unidos e eu fiquei olhando as crianças.
A piadinha do Juca Kfouri foi:
Quer dizer então que não é só os coroneis que estão acabando no Ceará, os cabra machos também estão acabando...
(Contextualizando a piada, minutos antes o assunto era como o grupo político combateu o coronelismo do Ceará até então no podre no estado)
A resposta do Ciro foi: Não... Isso não tira a masculinidade de ninguém... e você sabe disso...
Pausa para a primeira reflexão.
Reflexão a gente faz em cima de perguntas. A pergunta que salta aos olhos seria: O porque a primeira piada entrou para a história da política brasileira e a segunda não?
Depende do tipo de jornalismo que você que executar: é um jornalismo sério ou um jornalismo picareta?
O jornalismo sério, não ficaria apenas nesses segundos da piadinha. Iria verificar os fatos reais e divulgaria aquele que mais se aproximasse da realidade factual, já que é essa a missão do jornalismo:
narrar os fatos para que as pessoas que não estão presentes no momento em que eles aconteceram saberem o que aconteceu, o mais próximo possível da realidade.
Se você quiser fazer um jornalismo picareta você vai escolher aquela que mais encaixar nos interesses seus, de seus donos ou de seus patrocinadores políticos ou econômicos.
Quem quiser estudar mais sobre a missão do jornalismo recomendo o filme/projeto "O mercado das notícias" do gaúcho Jorge Furtado.
O Mercado de notícias - Filme/Projeto do gaúcho Jorge Furtado
Perceba que essas duas piadas mostram realidades diferentes sobre a mesma pessoa: uma essa pessoa é machista e na outra essa mesma pessoa não machista.
Entrou para a história da política brasileira a que esse candidato a presidente é machista.
O grosso do jornalismo brasileiro é sério ou picareta?
Para responder essa pergunta temos que saber se a escolha foi aquela que mais se aproxima da realidade ou se foi aquela que mais se encaixa nos interesses dos patrocinadores.
Vamos então para a realidade para saber qual foi a escolha do jornalismo brasileiro:
Ciro Gomes foi governador do estado do Ceará nos anos 90 e mais da metade do orçamento do orçamento era comandado por secretárias mulheres.
Esse fato também ocorreu na prefeitura de Fortaleza quando ele assumiu o cargo de prefeito e mais da metade do orçamento da prefeitura era comandado por secretárias mulheres.
Em um dia internacional das mulheres o Ciro cunhou um Outdoor para homenagear as suas secretárias com os dizeres: A maior homenagem que podemos fazer às mulheres é dividir com elas o poder.
Mais um fato interessante: O Ciro fundou a primeira delegacia de mulheres do Ceará, e colocou em prática uma política pública voltada às prostitutas, dando a elas acolhimento, atendimento à saúde e requalificação profissional àquelas que desejassem.
Vamos mais alguns fatos reais, sobre a resposta do Ciro sobre a Patrícia Pillar:
Aquela mesma pergunta foi feita várias vezes em vários momentos.
A assessoria estrangeira de um dos seus adversários na época (José Serra) deu uma dica de que o Ciro poderia ter o seu "ego fragilizado" por sua esposa ser mais famosa que ele, e que se insistisse naquela pergunta uma hora ele iria mostrar essa fragilidade.
Não aconteceu nas primeiras repostas que foram: Minha esposa é uma mulher maravilhosa, o amor da minha vida, estará comigo em todos os momentos...
E aconteceu depois de várias tentativas, claro que as primeiras respostas não foram noticiadas.
De tanto noticiar a piada machista, já que quem conta um conto aumenta um ponto, a história saiu do fato acontecido e evoluiu para mentira deslavada que o Ciro agrediu sua esposa Patrícia Pillar.
Mentira essa já desmentida pela própria atriz por vídeo, texto e declaração de voto ao ex-marido.
Pausa para a segunda reflexão: Qual o tipo de jornalismo praticado no Brasil: O sério ou o picareta?
Talvez seja respondido se refletirmos sobre outra pergunta: é mais importante discutir o quanto um candidato a presidente é machista ou o quanto as propostas que ele tem para o brasil é capas de mudar o futuro dessa nação?
Ele pretende equilibrar a carga tributária brasileira: diminuir os impostos que incidem no consumo que é pago pelos mais pobres e pesar a mão dos mais ricos (não classe C+ e sim classe A, apenas os 58mil de 210milhões cidadãos brasileiros que possuem mais de 20 milhões de patrimônio).
Ele pretende revolucionar a educação pública do pais, transformando em uma das 10 melhores educações públicas do mundo.
Ele pretende reindustrializar o país para suspender a tendência de nos transformamos em um buracão para extrair ferro e óleo ao lado de um grande pasto para extrair carne e soja.
Ele propõe uma renda mínima de cidadania, limite na cobrança de juros, renegociação dos débitos atual dos endividados e uma auditoria cidadã da dívida pública.
Esse último item já mostrei aqui como essa questão é interditado na mídia nacional.
Todas essas questões são as questões essenciais que deveriam girar os debates sobre esse candidato, pelo menos nas páginas sobre política. As outras questões poderiam estampar e ter espaço nas revistas de fofoca.
Uns podem dizer: você não está valorizando demais essa piadinha machista?
Bom se fosse esse somente esse o caso talvez.
Se fora dessa situação houvesse em outros momentos um debate sério sobre as reais responsabilidade de um presidente com ele.
Mas o que se vê é o seguinte:
Mais de uma hora de entrevista falando sobre passado/presente e propostas para o futuro do Brasil e na mídia se discute: Frase sobre receber a bala o ex-juiz-ex-ministro-Sérgio Moro.
Mais de uma hora de palestra falando sobre passado/presente e propostas para o futuro do Brasil e na mídia se discute: Pescotapa tipo pedala Robinho no deputado cassado Arthur-Mamãe-falei
Mais de uma hora de palestra falando sobre passado/presente e propostas para o futuro do Brasil e na mídia se discute: Expressão testosterona dito ao final da palestra.
Percebam que em todos esses exemplo houve material para caso fosse o interesse da mídia nacional fazer um trabalho sério e em todas vezes foi escolhido fazer um trabalho picareta.
O último episódio aconteceu esse ano na Firjan - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, que em 2018 fez um estudo sobre situação fiscal dos estados brasileiros e foi contatado que a melhor situação fiscal entre os estados brasileiros é o Ceará.
A história se repetiu: Mais de uma hora de entrevista falando sobre passado/presente e propostas para o futuro do Brasil e na mídia se discute: Frase sobre como o Ciro tratou o preparo dos favelados brasileiros, a conclusão que a matéria chegou é que o Ciro Gomes é elitista.
Tem alguma raiz nos fatos reais? Ciro Gomes filho de um cidadão apelidado advogado dos pobres casado com uma professora que estudou 12 dos 15 anos de sua vida em escola pública.
Ganhou a eleição para governador e não foi morar no palácio, preferiu continuar morando na casa alugada que morava na época. Motivo? Não acostumar seus filhos a um estilo de vida de maior padrão do que ele poderia oferecer.
Ele é mesmo elitista ou foi pura picaretagem da imprensa?
Ao escolher 7 segundos da 2 horas e meia de palestra e insinuar que o Ciro Gomes está contra os favelados a Rede Globo está informando um fato real ou está criando um personagem para que as propostas
Lei anti-ganância, financiamento dos endividados e renda mínima de cidadania chegue até aqueles que precisam ouvir as propostas?
É um jornalismo sério ou picareta?
Uns perguntarão: Quer dizer que você está reclamando que a imprensa não tem boa vontade com o seu candidato?
Eu diria que não é bem o meu candidato.
São as ideias, como prova o estudo de caso da auditoria cidadã da dívida pública.
A mesma mídia nacional que na verdade é um oligopólio cartelizado formado por cinco famílias e uma igreja, são patrocinados pelo Oligopólio cartelizado dos bancos.
E ela tem essa mesma picaretagem com o Ciro Gomes, com Maria Lúcia Fatorelli, com Adriano Benayon, com Ladislau Dowbor, com Nildo Domingos Ouriques, com Dilma, com Lula, com Brizola, com João Gulart, com Jucelino Kubisheck, com Getúlio Vargas.
Não são as pessoas. São as ideias.
Mas toda a mídia?
Como assim toda? É só um tiquinho...
Recentemente tivemos uma novidade. O Instituto Conhecimento Liberta que é tipo um netflix só que ao invés de pagar para assistir filmes você para para assistir aulas de um monte de cursos,
se arriscou a entrar na área dos meios de comunicação via internet.
A promessa é não ser patrocinado pelo Oligopólio Cartelizado dos bancos e ser mais independente.
O piadista Juca Kfouri é colunista semanal lá.
Funcionou?
Bom ao noticiar a participação do Ciro na Firjan foi noticiado igualzinho saiu na Globo, o mesmo recorte, as mesmas críticas, a mesma versão.
Só mostrou os sete segundos da 2 horas e meia de participação na Firjan.
A mesma versão vinculada no Oligopólio Cartelizado dos meios de comunicação...
Pelo menos nesse caso específico. Em outros casos envolvendo outros candidatos ele podem contar versão diferente e ser mais independentes.
No indicado filme Mercado de notícias, que é baseado em uma peça de teatro do século XVI, aprendemos que o que é noticiado necessariamente é uma escolha daquele que noticia.
Para chegar na verdade em um país dominado por um oligopólio cartelizado dos bancos que financia um oligopólio cartelizado dos meios de comunicação temos que conhecer aqueles que noticiam e seus interesses.
Todos tem.
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