Taiguara :
O Cavaleiro da Esperança
Que as crianças cantem livres
Hoje
Piano e Viola
Em algum lugar do mundo
Carne e osso
O viandante
Viagem
Mudou
Luzes
Ele Vive
O velho e o novo
Guerra Pra Defender
Público
Pros filhos do Zé
No colo da nuvem
Universo no teu corpo
Teu sonho não acabou
Outubro
Helena, Helena, Helena
TAIGUARA
A história de Taiguara Chalar da Silva começa a 9 de outubro de 1945 em Montevidéu e termina em São Paulo, Capital, a 14 de fevereiro de 1996, quando tinha 50 anos e 4 meses. A discussão em torno de sua morte segue mais ou menos aquela tendência do imaginário popular de sublimar a morte dos artistas, enxergando mistério em tudo. Buscam-se razões as mais estranhas, esotéricas até, para explicar a morte de um ídolo.
Não faltam ainda hoje especulações como as que ocorreram com a morte de Tancredo Neves, Castelo Branco, Juscelino Kubitschek e tantos outros. Em menor escala, claro. O caso mais conhecido é o de Tancredo. Até hoje as pessoas abordam os jornalistas com a inevitável pergunta que também é uma afirmação: ele teria morrido antes e foi mantido vivo até o dia 21 de abril, data histórica importante, etc. Por mais que se argumente, ninguém convence o povo do contrário. O InCor e o professor Henrique Walter Pinotti até hoje carregam o estigma de terem participado ativamente da morte de Tancredo.
Não vamos conferir à morte de Taiguara a mesma importância. Ela não teve o mesmo peso na mídia. Mas as especulações existiram, e ainda existem, talvez pelo fato dele ter mexido com a sensibilidade popular. E pelo fato dele ter alimentado a idéia de perseguição. Outra alegação inevitável é a morte prematura, se é que a morte aos 50 anos pode ser considerada prematura, num país em que as estatísticas sobre a média de vida são controvertidas.
Taiguara morreu de tanto amar, diria Vinícius de Moraes, vivo fosse. Já o pai de Taiguara é mais realista. Acha que ele foi vítima de excessos alimentares. Muita carne, no melhor estilo de sua origem gaúcha, e muito vinho. O câncer na bexiga interrompeu uma carreira em ascensão.
Infância, entre pianos e bandoneons
Antes de Taiguara nascer, seu avô, o gaúcho Glaciliano Correa da Silva, tocava bandoneon em Porto Alegre e por todo o interior do Rio Grande do Sul. Seu repertório era basicamente música gaúcha, mas também incluía o tango argentino.
Quando o pai de Taiguara tinha 12 anos, toda a família foi a Montevidéu, para tentar resolver um problema de saúde de um irmão, Turiassu Correa da Silva, que era paraplégico devido a uma hidrocefalia. Eles tinham sido atraídos pela notícia de que no Uruguai havia um médico muito bom nesses casos. Moraram dois anos lá.
A viagem não curou o tio de Taiguara, mas pode ter criado o primeiro elo que explicaria o fato dele ter nascido na capital uruguaia, já que, alguns anos mais tarde, as dificuldades financeiras da família levaram Ubirajara Correa da Silva, também músico profissional, a mudar-se para Montevidéu, não sem antes pensar muito na hipótese de ir para Buenos Aires, aonde tocara muitas vezes.
Ubirajara conhecia muito bem a rivalidade entre brasileiros e argentinos. Sentiu na própria pele o que é ser brasileiro em Buenos Aires. No mínimo, um rejeitado. Daí sua opção por Montevidéu.
Logo se engraçou de uma cantora, Olga Chalar, com quem veio a casar-se em 194x e com quem teve dois filhos: Taiguara Chalar da Silva e Araguari Chalar da Silva.
Em janeiro de 1949 Ubirajara e Olga vieram para o Rio de Janeiro. Taiguara tinha 4 anos, seu irmão 2. O primeiro ano foi em Santa Cristina e dessa fase Taiguara não lembra muita coisa, mas contava sempre que convivia com filhos de portugueses e espanhóis e que nas noites de lua o cenário era de música de Vinícius. “Ainda hoje, quando ouço cavalo-marinho” me lembro de Santa Cristina, disse Taiguara a Marcos Baby Durães, em memorável entrevista concedida à rádio Jovem Pan AM, de São Paulo.
Quando saiu de Santa Cristina foi para a Lapa. Morava numa casa na esquina da Mem de Sá com Rezende, onde havia uma oficina de acordeón do avô, Glaciliano. Por ela passavam os mais famosos acordeonistas da época.
Nas entrevistas, porém, fala mais dos tempos de Santa Teresa, que seria o bairro mais constante em sua vida, pois mesmo tendo morado na Barra da Tijuca (Rio), no Embu (São Paulo), em Pau Amarelo (Olinda-PE) e tantos outros lugares, sempre acabava voltando para a antiga casa, aonde ainda hoje existem algumas coisas daqueles tempo, especialmente o primeiro piano comprado pelo pai.
Quando tinha nove anos, foi visitar sua avó materna em Montevidéu. Pegou a bicicleta de um vizinho e pedalou em quase toda a cidade, embevecido com suas ruas arborizadas, e até circundou a estátua do Parque Rodô (?). Resultado: ao voltar para casa, levou merecidas palmadas de sua mãe, que não sabia onde ele andava.
Essa, a única recordação de ter sido punido pelos pais por causa de alguma arte. No mais, foi um garoto bem comportado, que adorava música brasileira, mas tocava “rock”. Seus primeiros ídolos foram Sílvio Caldas, Luís Vieira, Maysa, Doris Monteiro, Tito Madi, entre outros. Chegava a imitar Luís Vieira, de quem gravaria, mais tarde, o famosíssimo “Paz do meu amor”, que na verdade se chama Prelúdio no 2.
Embora a MPB fosse seu xodó, não podia fugir às influências da época, que não eram do jazz. No caso da rapaziada, o negócio era rock mesmo. E Taiguara imitava, à perfeição, segundo todos os testemunhos, nada menos que Elvis Presley. Vestia-se igual a ele para se apresentar em shows no colégio em que estudava.
Dos bancos da faculdade para os palcos da noite
Taiguara tinha 17 anos quando seu pai o matriculou no Instituto Mackenzie, uma das mais respeitáveis escolas superiores de São Paulo, para estudar Direito. Com ele, estudava também seu irmão mais velho, Araguari Chalar da Silva, que chegou a se formar em Psicologia, mas faleceu jovem, aos 47 anos, vítima de câncer no intestino. Sempre trabalhando muito, Araguari só detectou a doença quando era tarde demais.
Taiguara começou sua carreira no João Sebastião Bar, um dos pontos de encontro dos artistas na década de 60, situado pertinho do Mackenzie, onde era um aluno à Castro Alves, preocupado com as injustiças sociais e preconceitos, que procurava canalizar sua indignação para a arte.
Um de seus ídolos era Vinícius de Moraes, que conhecera aos 13 anos, nas rodas de samba ou de literatura do Rio de Janeiro. Vinícius morava no Rio, mas baixava em São Paulo de vez em quando, e ia sempre ao barzinho da rua Marquês de Itu, onde se encontrava com Chico Buarque, Claudete Soares, Geraldo Vandré, Airto Moreira e muitos outros que pontificavam na meca paulista da Bossa Nova.
Durante cerca de um ano, Taiguara cantou naquele bar. Ainda não um profissional, mas já dava o seu recado, tendo como padrinhos artísticos Chico e Claudete.
Em seguida, foi convidado pela Philips para gravar seu primeiro disco, “Samba de copo na mão”, que logo entrou nas paradas de sucesso.
Um dos primeiros espetáculos de grande público de que participou foi produzido por Walter Silva, o famoso descobridor de talentos da MPB. Realizado em 16 de novembro de 1964, Mens Sana In Corpore Samba contava com uma turma onde apareciam, pela ordem, Toquinho, Taiguara, Maria Lúcia, Chico Buarque, Ivete, Tuca, Solano Ribeiro, Sérgio Augusto, Bossa Jazz Trio, Bossatoa, Roberta Faro e Os Poligonais. A segunda parte era a repetição de um show da boate Zum-Zum, com Silvia Telles, Conjunto Roberto Menescal e Oscar Castro Neves.
Os primeiros discos, os primeiros shows
Daí pra frente o sucesso não foi difícil. Seu primeiro LP, ainda da Philips, foi produzido por Luiz Chaves, do Zimbo Trio. Conta o pai de Taiguara, o também músico e maestro Ubirajara Correa da Silva, ainda hoje entregue à rotina do trabalho no Rio de Janeiro, que foi esta a primeira vez que uma gravadora colocou num estúdio uma orquestra inteira, com mais de 60 músicos. E deu a Taiguara toda a liberdade para escolher o repertório, arranjos e demais detalhes necessários à realização plena de seu trabalho.
Pelo menos nesse ponto, Taiguara nunca pôde se queixar: sempre gravou o que quis, com os arranjos que ele mesmo fez ou encomendou aos amigos, e participou ativamente de todo o processo de produção.
“Eu queria me provar que era um grande artista. Então gravei um disco com trinta figuras, mil cordas, trompas soando”, disse Taiguara a Luís Carlos Sá em abril de 1970, mas não entendia por que o LP não tinha dado certo, quer dizer, não tinha sido um estouro de vendas.
Foi nessa época que Taiguara participou de um show produzido pela dupla Miéli-Bôscoli, chamado 1o Tempo 5xO, com Claudete Soares. O show fez muito sucesso e ficou um ano em cartaz no Rio de Janeiro.
A fase gloriosa dos festivais
A fase gloriosa foi a dos festivais. Taiguara foi quatro vezes finalista do Festival Internacional da Canção, como compositor e intérprete, destacando-se com “Chora, coração”, de Vinícius e Baden Powell e com “Universo do teu corpo”, dele mesmo.
Sobre essa última canção, anos depois, Taiguara costumava fazer um apelo no sentido de substituir os seus primeiros versos por “eu não desisto e sempre existiu o amanhã que eu persegui”. O apelo veio tarde demais. Ainda hoje essa música é uma das mais apreciadas pelo seu público.
Era o V Festival Internacional da Canção. A música ficou em oitavo lugar e revoltou Taiguara, que desabafou em Fatos e Fotos de 12 de novembro de 1970:
“Quando resolvi concorrer não podia imaginar que as pressões econômicas fossem tão grandes. Todo mundo achava que eu merecia o primeiro ou o segundo lugar, mas como gravo pela Odeon e não pela Philips (e o júri era composto pelo pessoal da Philips), me deram o oitavo lugar. Isso me deixou desesperado, mas ainda assim procurei me acalmar. Afinal, o público do Maracanãzinho estava do meu lado, me aplaudindo e vaiando o júri, que não teve a coragem de dar a colocação que eu merecia. Mas, o que me deixou doente mesmo foi eu ter sido convidado para a festa de encerramento, segunda-feira à noite no Teatro Municipal e na última hora ter sido cortado. Isso foi um dos maiores trambiques que sofri na vida.”
Taiguara tinha feito uma roupa especial para a festa: “Agora eu entendo tudo: não interessa à TV Globo que o público conheça minha música, porque não sou contratado dela e comecei na TV Tupi, num programa de Flávio Cavalcanti. Por todas essas implicações econômicas, que matam o festival, não participo mais do FIC. A gente precisa é uma coisa livre, tipo Woodstock. Um festival ao ar livre, numa praça, onde o povo possa ir sem pagar. E nós artistas possamos fazer uma verdadeira feira musical.”
Na entrevista, Taiguara conta com a solidariedade de Michèle Torr, que também não conseguiu boa colocação e confessa não entender o júri: “Fui uma das mais aplaudidas e não cheguei nem ao décimo lugar”, disse ela.
Além de acusar os jurados que, segundo ele, não entendem nada, Taiguara acusou também o som:
“No dia da apresentação, o som do Maracanãzinho era ruim, não deu pra ouvir nada”.
Dia seguinte ao festival, a Odeon fez um coquetel para lançar o LP Viagem, contendo “Universo do teu corpo”. O disco seria lançado independentemente do resultado do festival. Marcado para 18 horas, Taiguara só chegou lá pelas 20, com a desculpa de que tinha ido ao médico, para verificar suas cordas vocais. O lançamento se transformou numa reunião de solidariedade a Taiguara, com a presença, entre outros, de Toni Tornado e Cláudia, que também haviam participado do festival. (Obs: que músicas defenderam e que classificação conseguiram?)
Durante a festa, Taiguara fala sobre suas incursões cinematográficas. Trabalha como ator em O Bolão, filme que classifica como chanchada. Vai começar a fazer roteiros cinematográficos, sem prejuízo de sua carreira de compositor. Sem alusão direta ao nome do LP, dá os primeiros sinais do que seria, mais tarde, uma característica de sua carreira: viajar. Comentava com os amigos que só iria esperar a saída do filme, em novembro (1970), para começar os preparativos de uma viagem ao exterior. Estava escolhendo um país da Europa, mas não excluía os Estados Unidos de seus futuros roteiros.
O País escolhido foi Londres, onde esperava gravar o que proibiam aqui. Foi ao encontro de Peter Philips, que apesar do nome, não era da gravadora Philips, e sim diretor da Odeon inglesa, a EMI-Odeon. Sabia-se que ele jamais dera oportunidade a estrangeiros, mas Taiguara o enfrentou corajosamente e conseguiu êxito em sua empreitada. Gravou 18 músicas, que jamais foram editadas pela gravadora. Mais tarde, Taiguara denunciava que tudo tinha sido de propósito, ou seja, a gravadora não queria que ele gravasse aquelas músicas em lugar nenhum, muito menos no Brasil. Taiguara chegou a suspeitar que a gravadora estaria sendo gentil ao governo militar. E alardeou essa suspeita, jamais comprovada na prática. Já a essa época, Taiguara revelava uma mania de perseguição que o perseguiria para o resto da vida.
Não há registros na imprensa de que ele tivesse sido perseguido como Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo. Ao contrário, há inúmeras entrevistas em que ele admite que entrou em acordo com a Censura. Sempre que uma de suas músicas era vetada, ele comparecia à Polícia Federal e tentava mudar uma ou outra palavra, na tentativa de liberar a letra. Em 21 de setembro de 1971 o Jornal do Brasil anunciava que “a Censura Federal manteve ontem a proibição da música Corpos Luz, de Taiguara, sob o argumento de que não foram substanciais as modificações feitas pelo compositor na letra da canção”. O argumento da Censura era tão confuso quanto a mudança. Taiguara trocara o título para Fazendo Deus.
Voltando a Londres, Taiguara mostrou suas músicas a John Cameron, famoso arranjador e compositor que, naquele momento, fazia a trilha sonora de um filme de Elizabeth Taylor. Cameron prometeu gravar um compacto com suas músicas e foram escolhidas A transa, Hoje, Rua dos ingleses e Viagem. Em sua volta ao Brasil (maio de 1972), Taiguara contava orgulhoso suas conquistas e anunciava que voltaria a Londres em agosto daquele ano para entrar seriamente no mercado europeu, a convite de Peter Philips.
Antes da passagem por Londres, Milton Miranda, seu produtor à época, havia levado Taiguara a Paris, onde Françoise Hardy fazia sucesso com uma versão de A transa. Milton e Taiguara foram recebidos por Alain de Ricou, da Pathé Marconi, que prometeu gravar a divulgar suas músicas na Europa e forneceu uma carta de apresentação ao diretor da KPM inglesa. Em Paris, Taiguara reencontrou Tuca, cantora brasileira que começara com ele, nos famosos shows universitários de São Paulo, e fazia sucesso como produtora, cantora e compositora.
A história de Modinha
Taiguara conquistou o lo lugar no festival “Brasil Canta no Rio”, com Modinha, de Sérgio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim), recebendo o prêmio de melhor intérprete.
A participação de Taiguara nesse festival ocorreu de forma inusitada. Sérgio procurou inicialmente Sílvio Caldas, que não aceitou o convite, alegando a existência de outros compromissos. Eliana Pittmann também não pôde ou não quis. E até o Quarteto OO4, que não era dos mais famosos, recusou o convite para defender Modinha. O autor já estava desiludido quando se encontrou com Taiguara, que também resistiu. Afinal, não conhecia a música e estava sendo solicitado na qualidade de regra três. Mas Taiguara não poderia deixar de atender ao pedido de um amigo. Sendo, ainda, o filho do grande e inesquecível Jacob do Bandolim, um dos grandes mestres desse instrumento. Foi justamente Jacob que salvou Taiguara, na primeira apresentação, segurando a melodia pouco conhecida do intérprete. Taiguara não decorara a letra e errara tudo. Mesmo assim, a música foi classificada. E deu no que deu. A interpretação de Taiguara, já na fase de disputa, foi tão marcante que até hoje essa música é uma das puxadoras de vendas de seus discos, sucessivamente relançados pela EMI-Odeon.
Quem não se lembra de Taiguara em todos os televisores do Brasil, o público emocionado como num final de Copa do Mundo, algo assim.
Taiguara teve também a sua Helena
Taiguara também foi primeiro lugar no 1o. Festival Universitário da Música Brasileira, com Helena, Helena, Helena, de Alberto Land, em 1969.
Aqui cabem algumas explicações dadas pelo próprio cantor, em entrevistas. A música, como se sabe, fala de uma prostituta. “Eu chorei de verdade no próprio palco porque senti a minha realidade”, disse Taiguara em entrevista à Jovem Pan. Contou que por volta de 1966, 67, freqüentava um bar chamado Vila Verde, no caminho da rua Frei Caneca, que era também frequentado por Ismael Silva, Edu Lobo, Francis Hime, entre outros. O bar tinha esse nome porque servia um delicioso caldo verde.
Taiguara, como Alberto Land, tivera também algumas aventuras na Lapa, famoso reduto boêmio e de prostitutas. Não há compositor carioca ou paulista de peso que não tenha passado por seus bares desde as décadas de 30 e 40.
Taiguara chegou a se apaixonar por uma delas. E a música de Alberto Land mostrava exatamente uma situação similar à que ele tinha vivido, daí o pranto difícil de controlar.
“Eu não me senti cantor naquele momento. Por um instante eu tive uma imagem de vida, uma outra realidade brotando por dentro”, relembra.
O próprio Land admitiu que compôs a música chorando.
Quanto à escolha dele para intérprete, foi uma decisão unilateral de Jacob do Bandolim:
“Você vai cantar essa música”, disse ele a Taiguara. E ponto final.
Jacob era um dos músicos que acompanhavam Modinha. Quando Taiguara a defendeu pela primeira vez, errou a letra, que não tinha decorado por completo. Foi Jacob que salvou o intérprete, com um providencial solo, ajudando-o a continuar, cantarolando.
Foi naquela noite que Taiguara fez seu primeiro discurso durante uma apresentação. Ao voltar para o bis muita gente conversava em voz alta na platéia, comentando o pranto de Taiguara. Ele deu a bronca:
“Olha, vocês precisam entender que nem tudo nesse mundo é embromação. Não me comovi aqui de grupo, não. Isso aconteceu por uma razão muito forte: eu acho que todo mundo tem sua Helena na vida”.
Taiguara parece ter tomado, a partir daí, o gosto pelo discurso. Começava a mudar seu comportamento. “Eu me encontrei, bicho. Foi o primeiro recado que eu dei mesmo. Antes era tudo artificial, era tudo aquele negócio de artista e coisa e tal”, continuou Taiguara, falando ainda a Luís Carlos Sá.
No 2o Festival Universitário da Música Brasileira Taiguara ficou em 2o lugar com Nada sei de eterno, de Silvio Silva Júnior e Aldir Blanc, bem como o prêmio de melhor intérprete.
Em 1967 assinou contrato com as Associadas e comandou um programa semanal na TV Tupi do Rio de Janeiro, “Farhrenheit 2000”. Em 1968 participou de um movimento musical chamado “Musicanossa” e assinou contrato com a Odeon, para gravar os sucessos dos festivais.
Assim, a década de 70 foi uma sucessão de prêmios, turnês, circuitos universitários e viagens internacionais.
No auge de sua carreira, que não tinha então mais que cinco anos, viu-se tentado a casar-se.
Levou ao altar a filha de um músico, Geisa.......
Sua carreira foi bem até sentir na pele os efeitos da censura. Já desfrutando de enorme popularidade, Taiguara começou a sofrer com a censura a seus novos trabalhos. Chegou a contar mais de 40 vetos. Começou então a pensar em mudar-se. E justificava sua inconstância com a necessidade de estudar, reciclar-se, aprender mais sobre o Brasil...
Aproveitou para aceitar convites para cantar no exterior e decidiu exilar-se, ao mesmo tempo em que mergulhava de corpo e alma em pesquisas, em viagens aos Estados Unidos, Europa e África. Em Londres gravou um disco, que não chegou a ser lançado no Brasil, supostamente por desinteresse de sua própria gravadora. Vai ver ela não queria desagradar o regime.
Exatamente nessa data o jornalista e produtor musical Walter Silva comemorava discretamente o 33o aniversário do primeiro grande show realizado no Teatro Paramount com Elis Regina, então com apenas 20 anos de idade.
Ao lado do cartaz do show de Elis havia outro, que anunciava o show “Mens Sana In Corpore Samba”, promoção da Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo.
Era o primeiro show importante de que Taiguara participava em São Paulo, no dia 16 de novembro de 1964. Taiguara era o segundo da lista de um cartaz onde apareciam, pela ordem, Toquinho, Taiguara, Maria Lúcia, Chico Buarque, Ivete, Tuca, Solano Ribeiro, Sérgio Augusto, Bossa Jazz Trio, Bossatoa, Roberta Faro e Os Poligonais. A segunda parte do espetáculo era um show da boate Zum-Zum, com Silvia Telles, Conjunto Roberto Menescal e Oscar Castro Neves.
Nas paredes de sua elegante casa no bairro do Morumbi, em São Paulo, Walter Silva ostenta com justo orgulho esses e outros cartazes dos primeiros de shows de MPB que promoveu na década de 60, inclusive o primeiro grande show com Elis Regina naquele 31 de agosto de 1964, antes do Mens Sana, que tive o privilégio de aplaudir de pé e emocionado.
Walter ficou na história da MPB como um dos maiores descobridores de talentos. Por suas mãos passaram grandes nomes. Ele tinha um programa na Rádio Bandeirantes que fez história, o Pick-Up do Picapau, que tocava preferencialmente artistas de qualidade, alguns ainda desconhecidos do grande público. Em outubro de 1997, dois meses depois de reviver esses fatos, Walter foi operado do coração, recebendo quatro pontes de safena, por coincidência no mesmo hospital em que morreu Taiguara, o Sírio Libanês, em São Paulo.
Claro que as gravadoras apreciavam a conduta de Walter. Afinal, ele acabou sendo um descobridor de novos talentos. Durante muitos anos manteve essa característica, descobrindo novos valores e promovendo-os, tanto nas emissoras de rádio como nos shows que produzia com grande sensibilidade e sobretudo com grande senso de oportunidade.
“Para mim, Taiguara era um épico, um exagerado. Eu não gostava de suas interpretações teatrais, mas de sua música, sim”, disse o incentivador de dezenas de artistas que mais tarde se tornariam nomes de grande expressão nacional e internacional.
Pai queria outra carreira para o filho
Quando o assunto é Taiguara, o pai dele, Ubirajara Correa da Silva, 74 anos, ainda se emociona. Fala com entusiasmo, vibra ao recordar o menino, o jovem e o adulto impulsivo. Tendo extinguido seu conjunto, Ubirajara é ainda hoje (outubro de 1997) requisitado para apresentações as mais diversas. Na semana em que conversamos, ele preparava um workshop que realizaria no dia seguinte num colégio de Jacarepaguá. Era uma proposta didática, de levar aos estudantes a música instrumental ao vivo. No repertório que ele mostraria aos estudantes estavam desde um pout porri de tangos até clássicos como “Sardas”, de Monzzz??? , “A Dança ritual do fogo”, de Manuel de Falla, “O vôo do besouro”, a “Protofonia do Guarani”, de Carlos Gomes. Esta última, aliás, era tocada num dos shows com que Taiguara excursionou por todo o Brasil.
Na mesma semana em que concedia entrevista, Ubirajara gravaria uma cena da novela “Por Amor”, da TV Globo, em que o dono da casa (Eduardo Dolabella) interrompe uma festa e pede ao conjunto para tocar um tango. Entra Ubirajara com o seu bandoneon, inicialmente sob os apupos da platéia jovem, e em seguida emocionando a todos com um som maravilhoso. Regina Duarte e Antônio Fagundes dançam emocionados, sob os olhares curiosos da platéia.
Por um momento, os músicos são alvo de atenção, mas ninguém percebe que aquele bandeonista perfeito é o pai de Taiguara. Veterano da noite, acostumado a essa relativa indiferença, Ubirajara faz a sua parte, garantindo os volteios dos dançarinos.
No dia 14 de outubro de 1997, Ubirajara me explicou as origens musicais de Taiguara, que são as mesmas do pai e do avô:
“Eu era um cara que só trabalhava. Fui músico, sempre músico. Houve uma época em que eu tinha uma certa projeção, pois a música instrumental era ouvida com respeito. Nós tínhamos Waldir Azevedo, Dilermando Reis, Rago, Jacob do Bandolim, Chiquinho do Acordeon, Antenógenes Silva, Caçulinha, Silvio Mazzuca, Severino Araújo, Radamés, muitos instrumentistas. Eu era acompanhante de artistas, em shows e em gravações. Muitas vezes acompanhei Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, Elis Regina...hum, são tantos que a lista ficaria cansativa. Mas tinha também o Ubirajara e seu Conjunto, que durou 30 anos. Cansei de ser “papai” dos coleguinhas músicos. Agora só toco sozinho”.
Como o senhor, um músico famoso, encara o fato de ser chamado de pai de Taiguara?
“ Quando Taiguara começou a estudar, o pessoal dizia: olha, você viu aquele garoto? É o filho de Ubirajara! Aí o Taiguara começou aquela ascensão vertiginosa e eu passei a ser o pai de Taiguara. Mas nunca me fez mal nenhum. Isso absolutamente nunca me incomodou, ao contrário. Sempre tive muito orgulho dele e dos discos que ele gravou e em todos os discos sempre tem uma faixa em que eu toco bandoneon.”
A que o senhor atribui o esquecimento de Taiguara, a menos de dois anos de sua morte?
“Depois que Taiguara voltou a cantar, a mídia passou a ignorá-lo, como até hoje o ignora. Houve aí uma rejeição, em relação ao comunismo, socialismo, enfim, suas posições políticas. Taiguara criticava personalidades ainda vivas. Ele não poupava nem a Rede Globo, que tanto o promoveu no início de sua carreira. Pode ser que um dia venha um reconhecimento por tudo o que ele fez. Não sei se o Brasil vai mudar, parece que está mudando para pior, mas um dia pode ser que mude para melhor.”
Taiguara chegou a ser preso alguma vez?
“Uma vez ele sumiu no Rio. Eu estava em São Paulo. O avô dele me telefonou comunicando seu desaparecimento há dois dias. Quando eu me preparava para viajar, abandonando todos os meus compromissos, o avô me telefonou dizendo que Taiguara já estava com ele. Suponho que foi uma prisão de advertência, como se a polícia quisesse dar algum recado. Ele teve muitas dores de cabeça. Foi muitas vezes desacatado.”
Ele teve alguma briga com Flávio Cavalcanti?
“Flávio era muito polêmico. Tinha aquele negócio de ouvir o disco e quebrá-lo na frente das câmaras. Eu não gostava dele, mas ele nunca quebrou um disco de Taiguara. Como Chacrinha e outros apresentadores, Flávio era um aproveitador, o negócio dele era aparecer, virar notícia, aproveitando as novidades, os novos valores, qualquer coisa. Isso acontece até hoje.”
E as mulheres de Taiguara, como o senhor analisa o fato dele ter sido casado três vezes?
“Eu prezo qualquer uma delas. Foram companheiras de Taiguara, deram a ele a felicidade que puderam dar, eu respeito as três. Taiguara gostava de mulheres com quem pudesse conversar, que tivessem um conteúdo cultural. Se existe algum desentendimento entre elas, não sei nem me interessa saber. Divergências e desentendimentos são naturais entre seres humanos.”
Por que ele nasceu no Uruguai e não em Porto Alegre?
“São coisas da vida. A vida vai empurrando a gente. Pra onde o vento empurra a gente vai. Como brasileiro, e tendo que optar por uma outra cidade eu fiquei dividido: Rio de Janeiro, o grande centro político e social do país, ou Buenos Aires, a terra do tango que eu tocava tão bem quanto eles. O que é que eu faço? Em Buenos Aires eu teria grandes oportunidades. Poderia ficar rico tocando tango. Mas o argentino na época, muito mais do que agora, não era muito simpático aos brasileiros. E embora eu tocasse a música deles tão bem quanto eles, eu sentia uma certa rejeição. Todas as vezes em que eu fui tocar lá, senti certa discriminação, e sofria com isso. Daí fui para Montevidéu. Lá conheci a cantora Olga Chalar, a mãe de Taiguara.”
Quem primeiro apoiou a carreira de Taiguara?
“Muita gente. Zimbo Trio, por exemplo. Eu me lembro que o primeiro disco de Taiguara foi produzido praticamente por Luís Chaves, contrabaixista do Zimbo Trio, que fez os arranjos. Foi a maior orquestra colocada em estúdio na época. A maior quantidade de músicos numa gravação, uns 40. Taiguara não subiu degraus. Jogaram-no para cima e ele ficou lá. Isso de certa forma não foi bom, porque o bom é quando você galga os degraus um a um. A Philips deu todo apoio que você possa imaginar, apesar dele ser apenas um menino que ainda estava na escola. Era um acadêmico. Fazia Direito no Mackenzie. Eles vislumbraram ali um artista. Neste primeiro disco, feito antes dos festivais, tem “Samba de copo na mão”, o primeiro sucesso dele. Depois vieram “Hoje”, “Universo do teu Corpo” e todos os que você já sabe.”
Qual sua participação nos discos de Taiguara?
“Eu nunca pressionei. Sempre esperei que ele tomasse a iniciativa de me chamar. Em cada disco tenho uma participação, pelo menos em uma faixa, com meu bandoneon. Mas eu tinha minha atividade isolada. Tive um conjunto durante 30 anos; cansei, e passei a trabalhar sozinho, razão pela qual acho que ainda vou viver uns dez anos.”
De que exatamente o senhor se cansou?
“Com o decorrer dos tempos, aqueles músicos que eram dóceis, educados, com o rock passaram a andar com camisa aberta no peito, medalha pendurada no pescoço, brinco na orelha, barba por fazer, chinelo, aí o mundo começou a ficar muito chato. Eu sou um conservador, sou de uma época em que os músicos se vestiam tudo igual numa orquestra. Foi aí que eu desfiz o Ubirajara e seu Conjunto e fiquei sozinho. Até hoje recebo convites para tocar, mas sempre toco sozinho. Dá menos trabalho, não preciso reunir uma turma, esperar um e outro.”
Alguns shows inesquecíveis
O ano de 1973 foi produtivo para Taiguara. Ele alugou por Cr$ 1 mil nada menos que um enorme convento no município do Embu, em São Paulo. O convento tinha 30 quartos e 10 banheiros. Lá se instalaram todos os componentes do conjunto, “A Transa”: o próprio Taiguara, piano e órgão; Tibério, baixo acústico e elétrico; Marlui, percussão, guitarra e violão; Jorginho Campos, bateria; Nivaldo Ornelas, flauta (convidado especial).
À noite, o conjunto tocavam no Boteco, na capital paulista. O show chamava-se “A Transa de Taiguara”, dirigido por Cláudio Mamberti.
Em sua carreira, Taiguara realizou muitos shows inesquecíveis. Relembrar todos seria cansativo, mas citemos alguns, pelo menos os mais marcantes, começando por “Primeiro Tempo 5X0”, sucesso garantido, tendo como produtores uma dupla de grande sucesso e penetração naquele tumultuado 65 pós revolução. Antes, Taiguara havia participado do Festival Mc-Dam de Jograis, com Vinícius, Toquinho, Chico Buarque e outros. Com o Sambalança Trio cantara muitas noites no João Sebastião Bar, em São Paulo.
Em 1970 fez um show baseado no LP Viagem, da Odeon, em que lançaria seus primeiros grandes sucessos.
Três anos depois fez um dos mais importantes show de sua carreira, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, e na boate Pigalle, do Rio de Janeiro. O show teve por título o LP então lançado: “Fotografias”, e tinha uma ficha técnica impecável: Taiguara (piano, órgão, arranjos), Claudio Mamberti (direção), Tibério e César (baixo acústico), Marlui (percussão, guitarra, violão), Jorginho Campos (bateria), Nivaldo Ornelas (flauta, convidado especial), Antônio Guerreiro e David Zingg (decoração e fotografia).
Claudio Mamberti, conhecido ator e diretor de teatro, utilizou técnicas teatrais no espetáculo, incentivando os músicos a integrar o ambiente. Taiguara, por sua vez, propunha-se a mostrar sua verdadeira imagem, que ele supunha diferente daquela o tornara conhecido, conforme confessara a Ivan Migliaccio (Folha de S. Paulo, 13 de junho de 1973): “Trabalhar em televisão é o mesmo que ficar parado. Você tem razão. A gente não perde nem acrescenta nada às coisas que faz, e além de tudo é desgastado pela máquina e pelos indivíduos, desesperadamente.”
Taiguara vinha de dois anos de viagem e trouxera dos Estados Unidos o melhor que havia em equipamentos de som. “Foi a primeira vez no Brasil que um artista se apresentou com equipamentos de primeira linha”, conta o empresário Genildo Fonseca, que cuidava de Taiguara. Segundo ele, foi a partir deste show que os outros cantores, os outros empresários e as gravadoras passaram a utilizar eletrônica nos shows em maior escala. A própria Gianinni, fabricante de equipamentos musicais, passou a utilizar o som desse show como paradigma.
Taiguara estava entusiasmado com a novidade. E para evitar problemas com a censura, optou por um show essencialmente musical, sem muito texto.
Viagem sem retorno aos ideais políticos
Não é tarefa fácil precisar exatamente quando Taiguara deixou de ser o cantor romântico para tornar-se baluarte de conquistas sociais. Essa tendência, conforme ele confessa em várias entrevistas e o próprio pai me confirmou, vem do avô Glaciliano, que em sua simplicidade e à sua maneira, era um socialista convicto. E Taiguara conviveu muito com o avô.
Um dos maiores sucessos de Taiguara, composto em 1968 e gravado em 1969, já expressa sentimentos difusos, com sutis insinuações de revolta, tipo “hoje trago em meu corpo as marcas do meu tempo/meu desespero a vida num momento/a fossa, a fome, a flor, o fim do mundo”. Mas essa era uma explosão sentimental.
Com acesso a Vinicius desde os 13 anos de idade, Taiguara imitava Elvis Presley na escola, por modismo, mas ouvia Dolores Duran, Sílvio Caldas, Luís Vieira, por aí afora. Ao mesmo tempo, poeta sensível, forjava seu espírito na fonte do romantismo exacerbado, misturando a fome da maioria da população com a sede de justiça social.
Aos 17 ou 18 anos, ao passar a conviver mais estreitamente com Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré e outros expoentes da MPB, que na época sofriam perseguição do governo militar, Taiguara provavelmente começou a fortalecer o seu, digamos, espírito de luta. Mesmo assim, ainda cantou muita música romântica, durante e após o período dos festivais.
As origens afro e ameríndeas
Uma das características da personalidade de Taiguara era sua preocupação com as raízes do povo brasileiro. Durante muitos anos, paralelamente à sua carreira artística, Taiguara dedicou-se ao estudo do homem, especialmente às raízes afro e ameríndeas, tendo como um de seus “orientadores” ou “inspiradores” figuras como o sociólogo Florestan Fernandes, o economista Caio Prado Júnior e principalmente o político Luís Carlos Prestes, em quem se espelhava a quem ouvia com grande assiduidade.
Um de seus interlocutores mais freqüentes foi o professor Celso Prudente, diretor do Pólo Cultural de São Paulo (leia-se Parque Anhembi), onde são realizados os desfiles das escolas de samba no carnaval e outros eventos importantes da capital paulista. Celso Prudente já foi cotado para o cargo de Secretário Municipal de Cultura, que somente não ocupou por injunções políticas conhecidas. Como se sabe, o ex-prefeito Paulo Maluf recomendou ao prefeito Celso Pita a manutenção de Rodolfo Konder, cujo trabalho interessava porque abria uma espécie de fenda nas correntes de esquerda, sabidamente antimalufistas.
Paulistano, Celso Prudente morou durante muitos anos no Rio de Janeiro, atraído pelo caldeirão cultural que fervilhava na antiga capital federal. Era o Rio de Machado de Assis, de Pixinguinha, das escolas de samba e de tantas manifestações artísticas que interessava ao professor e estudioso.
Nesse período conviveu intensamente com Taiguara, introduzindo-o nos assuntos sócio-antropológicos. Em contato permanente com o cantor, discutia também as teorias do marxismo-leninismo.
“O que diferenciava Taiguara dos outros cantores era exatamente essa preocupação com o social, que ele deixava transparecer nitidamente em suas poesias, em suas apresentações, na mesa do bar ou em reuniões de qualquer tipo”, conta Celso, que ainda se lembra de um episódio marcante na carreira de Taiguara. Foi quando os mais famosos compositores brasileiros se reuniram no Rio de Janeiro para discutir as principais questões da categoria, especialmente direitos autorais e censura. Taiguara fechou o tempo com um discurso radical em defesa das liberdades democráticas e sobre o papel do compositor enquanto ser pensante e como ser político. Celso também interveio, colocando-se ao lado de Taiguara, mas se dedicando aos aspectos relacionados com as raízes culturais do povo brasileiro, principalmente às raízes afro e ameríndeas. Taiguara estava afinado em tudo com as idéias de Celso, que durante muito tempo foi seu grande amigo e uma espécie de guru.
Celso chegou a iniciar um filme sobre a vida e a obra de Taiguara, com a colaboração de amigos comuns. O filme ainda está nos planos dele e deve sair oportunamente. Salvo se suas novas atividades como diretor da União Americana de Carnaval, que assumiu dia 1o de março de 1998 juntamente com Ricardo Cravo Albim, atrapalhe seus planos. Em sua Enciclopédia da Música Popular Brasileira, edição de luxo da Funarte, Ricardo, crítico de música do Jornal do Brasil durante muitos anos e possuidor de um dos maiores arquivos particulares de MPB, situa Taigura como um dos grandes cantores brasileiros. Já o cinema fez parte das atividades multiprofissionais de Taiguara, conforme veremos a seguir.
MORTE SEM MISTÉRIO
Não houve nenhum mistério em torno de sua morte. Foi uma morte anunciada. Mesmo assim, como acontece ainda hoje com Tancredo Neves, Castelo Branco, Marcos Freire, Juscelino Kubtscheck e outros grandes nomes, ainda há quem acredite em boatos. Há quem pergunte de que morreu mesmo Taiguara.
Como ele não cuidava da saúde? Sua alimentação era racional? Não há registro de abusos de drogas e álcool. Havia um médico de família, quem?
O desespero de quem não queria morrer foi acompanhado de perto por Ana Lasevicius, cujo depoimento vem a seguir.
Þ DEPOIMENTOS E ENTREVISTAS
Um caso de amor quase à primeira vista
O encontro de Ana Lasevicius com Taiguara seria uma história de amor trivial, não fossem algumas peculiaridades. Eles não se conheciam até o dia em que se encontraram nos corredores da Rádio e TV Bandeirantes, em São Paulo, no programa Novos Talentos, apresentado por Caçulinha, em 1985. Taiguara estava ali também para acertar detalhes de um show que faria no Auditório Elis Regina, do Pólo de Arte Anhembi, em São Paulo. Era o primeiro show após um jejum de “13 Outubros”.
Ana acompanhava uma cunhada, que era cantora e ia gravar um disco. Não era empresária dela, apenas a acompanhava, ajudando-a no que fosse possível. Como estudante de Comunicação, era uma interessada pelas atividades artísticas e seus bastidores. Sua cunhada (nome dela) participava das eliminatórias do programa de Caçulinha, que não era exatamente um programa de calouros, pois seus concorrentes já tinham alguma experiência. Era um programa que julgava e premiava cantores, atores, locutores e apresentadores, os quais teriam como prêmio o exercício de suas respectivas habilidades. Era uma espécie de parada de sucesso que selecionava os melhores. O melhor cantor, naturalmente, grava um disco, como chegou a acontecer com a cunhada de Ana.
Por coincidência, ela participara do tal programa cantando exatamente composições de Taiguara (que músicas?).
Ana conhecia a música de Taiguara, de quem na verdade era fã. Mas não o conhecia pessoalmente. Ouvia seus discos, na verdade uma coletânea de seus sucessos, que não tinha fotos dele. Por isso, conversou com ele alguns minutos sem saber quem era o seu interlocutor. ZNão tinha importância, eram duas pessoas matando o tempo numa sala de espera. Até que sua cunhada percebeu e avisou que era o Taiguara, o compositor das músicas que ela defendia no programa.
Ana fez amizade com ele e chegou a ir ao show do Anhembi, que a TV Bandeirantes gravou na íntegra e mostrou algumas vezes, em datas nobres. Mas a amizade entre os dois só se aprofundaria um ano depois, quando Taiguara voltou a São Paulo para se apresentar no Teatro Maksud. Dois ou três meses depois de um namoro apaixonado, houve o casamento no Uruguai, em julho de 1987. O casamento tinha de ser fora do país porque no Brasil Taiguara era casado com Geisa.
Sua família não aprovava o casamento. Primeiro porque a decisão tinha sido muito rápida. Segundo pelo que rolava nos bastidores. Taiguara era tido como meio doido, estava no ostracismo, era confundido com hippie, maconheiro, coisas do tipo. Mesmo assim, foram em frente. Taiguara enfrentou corajosamente a família de Ana e comunicou pessoalmente aos pais dela a intenção de se casarem. Foi um susto. Mas pouco a pouco a família apoiaria a união, especialmente depois de conhecer melhor o cantor, de resto uma figura inteligente e cativante.
Após o casamento, os dois foram morar na rua Venâncio Flores, esquina com a rua Ataufo Paiva, no Leblon. O apartamento, alugado, ficava em cima do Luna, restaurante freqüentado por artistas e intelectuais. Uma curiosidade: como a cozinha era muito pequena e Ana não era exatamente uma mulher de prendas domésticas, o pessoal do Luna preparava as sopinhas do Guarani, o único filho do casal, nascido em 1988.
O apartamento era ao mesmo tempo estúdio, escritório e dormitório, lembra Ana, que também fazia refeições no Luna, com Taiguara e Guarani, naturalmente. Foi um período de muito trabalho e pouco dinheiro. Afinal, Taiguara estivera afastado muito tempo. Estava retomando a vida artística e deu a sorte de encontrar uma companheira dedicada, que aos 25 anos enfrentara a própria família para dedicar-se a um artista relativamente apagado, perseguido e sem dinheiro.
A carreira estava sendo retomada. Mesmo sem contar com os festivais, Taiguara tinha um público muito fiel. “Nossa dificuldade era com a mídia”, lembra Ana, que tinha dificuldades em divulgar os shows nos jornais e em emissora de rádio. Eles temiam dar espaço ao cantor, porque sabiam que entraria em cena o político, com seu discurso anticapitalista. “Ele não separava as coisas”, conta Ana, e sempre que lhe abriam uma brecha, lembrava os aspectos políticos de suas letras. Antes de qualquer apresentação, ele se preocupava em ouvir, em ondas curtas, as notícias da França, de Portugal, de Moscou ou da BBC de Londres, para informar-se sobre a situação dos povos do mundo. Aí, dava o seu recado, fresquinho, falando coisas que não estava em nenhum jornal, que ele acaba de ouvir pelo rádio.
Perguntei a Ana por que Taiguara pulou do sucesso dos festivais para o meio esquecimento que praticamente amaldiçoou sua carreira. Ela foi franca e objetiva:
“Com suas atitudes às vezes radicais, mas sempre coerentes, Taiguara conquistou alguns inimigos e foi muitas vezes perseguido e boicotado. Mas em nenhum momento ele se queixou disso. Para ele, o mais importante era contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade justa e democrática. Em sua vida ele perdeu muito, perdeu tudo, mas se manteve fiel a seus princípios e quando reclamou foi das desigualdades e da má distribuição da riqueza entre os homens, não apenas no Brasil mas em todo o mundo.”
Ana colaborava com o artista e com o homem utilizando os conhecimentos (poucos, é verdade) adquiridos durante dois anos de estudos de Comunicação nas Faculdades Anhembi-Morumbi. Na verdade, admite que aprendeu mesmo foi na prática. Era produtora, cenógrafa, figurinista, relações públicas, fotógrafa, divulgadora - fazia de tudo, sempre com o objetivo de ajudar o marido. “Só não cantava nem tocava nada”, afirma. Teve grande participação em dois memoráveis shows de Taiguara: no Canecão e no Teatro João Caetano, quando enfrentou todos os problemas comuns desse tipo de atividade: som alugado, luz em gambiarras, água, partitura e cavaletes para os músicos, passar o som, ensaios... Afinal, diz ela, na hora o público quer que tudo funcione, não importa o trabalho que tenha dado.
Ana teve também papel importantíssimo nos últimos anos de vida do cantor, que sofria de câncer na bexiga. Acumulava as funções de produtora com as de mulher, mãe e enfermeira. Até o fim.
LULA BRANCO MARTINS
No dia seguinte à morte de Taiguara, um dos críticos de música do Jornal do Brasil, Lula Branco Martins, escreveu:
“Eu gosto do Taiguara. Mas isso sempre foi uma coisa meio chocante. Em todas as rodas que frequentei, em todos os grupos de amigos que tive e mesmo aqui no JB, entre os críticos de música, poucos aceitavam o fato de eu gostar do Taiguara. Ele era mais ou menos um Oswaldo Montenegro de sua época, eterno incompreendido. A esquerda o considerava muito romântico e a direita, subversivo demais. Nunca foi chique gostar de suas letras e melodias.”
Mas isso não impediu que ao criticar um show realizado no Teatro João Caetano, dois anos antes de sua morte, Lula escrevesse que “seu discurso estava meio demodê”. Comentando sua própria crítica, acrescentava: “Tive que aturar longos minutos de falação anticapitalista - a meu ver, Taiguara foi se tornando, com o passar das décadas, uma figura folclórica. Aos poucos, passei a ter vergonha de contar em público que, na juventude, dando meus primeiros passos no violão, cheguei várias vezes a virar a antena da TV para fazê-la de pedestal de microfone e, assim, poder imitar Taiguara, escondido no quarto, altas horas da madrugada.”
A tal crítica do show foi publicada no dia 11 de agosto de 1994 e sua parte mais contundente é a seguinte: “... Mas o show tem muitas falhas. A voz de Taiguara, por exemplo, já não é a mesma dos prolongados agudos de suas primeiras gravações e a performance em Samba do amor denuncia isso. E o desenvolvimento do espetáculo é emperrado pelo discurso do cidadão Taiguara, que jorra frases como “no ardor quente das paixões eu me apaixonei por um país chamado Cuba”, análises como “o bondinho de Santa Teresa está quebrado por causa do sistema” e até confissões como:
“Já dancei muito rock’n’roll. Como é boa a alienação. Todos têm o direito de se alienar. Mas ao mesmo tempo não é bom abrir mão da consciência”.
Quem for ao João Caetano esperando reencontrar antigos sucesso de Taiguara vai perder a viagem, dizia o jornalista, acrescentando: “Ele não canta Modinha, Hoje, Carne e Osso, Que as crianças cantem livres e Helena, Helena. Quem quiser saber histórias de sua passagem pela Tanzânia e por Angola e ouvir seus pouco inspirados comentários políticos, vai gostar mais. Quem quer?”
Lula Branco Martins conta que foi procurado por Taiguara no dia seguinte, mas não foi encontrado. Uma pena, diz ele, pois queria contar que chegou a imitá-lo na juventude, antes de envergonhar-se de contar aos amigos que era admirador dele.
TÁRIK DE SOUZA
No mesmo dia e jornal, outro crítico, Tárik de Souza, escreveu: “Taiguara foi empurrado para o gueto de sua opção política radical, na corrente prestista de esquerda. Como sempre acontece no Brasil, após a morte do homem é possível que o artista seja reavaliado”.
SÉRGIO BITTENCOURT
“Taiguara tem o dom de complicar a vida e simplificar as canções”.
FREDERICO ROCHA
Para o grande público, um desconhecido. O médico psiquiatra Frederico Rocha foi dirigente nacional do PCB durante alguns anos. Frequentou a casa de Prestes e todos os lugares frequentados pelos comunistas. Conheceu Taiguara nos bares de Santa Tereza e Lapa, nos quais conversou muitas vezes com o cantor, naturalmente sobre seu assunto predileto: marxismo-leninismo. A preocupação com o social era a pauta do dirigente Fred, que nas horas vagas era boêmio e poeta.
Em sua constante busca de expressão artística, Taiguara se interessa muito pelos diálogos em torno da relação entre política e arte. E Fred, como poeta, era naturalmente propenso a esse tipo de diálogo. Ainda hoje o é, mas se queixa de não ter mais interlocutores como Taiguara.
Coincidência honrosa para mim: a agenda de Fred, não tão famosa quanto a de Prestes, que tanto deu o que falar durante certo tempo, tinha na letra “T” dois endereços e telefones: Taiguara e Tiné. A diferença é que eu não tinha, como Fred, a mesma capacidade de diálogo, o mesmo nível de informação sobre marxismo e arte. Lera com muito interesse e curiosidade livros, revistas e jornais sobre o assunto, como a “Revista da Civilização Brasileira”, o “Para Todos”, o “Jornal de Letras”, “Leia Livros” e toda e qualquer publicação ligada à literatura. Mas não me considerava culto o bastante para participar de debates verbais, nem mesmo em mesa de bar, onde sabe mais quem fala mais.
Fred considera Taiguara um bom poeta, um bom compositor e sobretudo e um teórico bastante lúcido do processo revolucionário.
FRASES MARCANTES
Sobre Ronaldo Bôscoli, quando criticou a aflição e a ansiedade de Taiguara:
- O Bôscoli, coitado, vive frustrado, amargurado, por não morar em Nova Iorque. Anda pela Zona Sul do Rio de Janeiro pedindo a Deus que um raio desça do céu e transforme o Rio em Nova Iorque. Então, como ele não consegue realizar esse desejo, vive de porre por aí, dizendo coisas que não interessam a ninguém.
Sobre a censura, que o forçou ao exílio voluntário:
- Parei de cantar em público em abril de 74. Nessa época, eu já tinha 44 músicas vetadas pela Censura Federal. Percebi, então, que não dava pra continuar. E jurei: só volto a cantar quando o poder popular assumir o governo em meu País.
Sobre arte e política, Taiguara gostava de citar o líder africano Amílcar Cabral:
- A arte é um instrumento na luta pela liberdade.
Sobre análise, era pretensioso:
- O sujeito que recebe críticas do proletariado não precisa de análise. Eu me lembro da Nara Leão antes daquela famosa psicanálise, tão divulgada pela revista O Cruzeiro. Ela era uma pessoa combativa, participava do CPC, Grupo Opinião, etc. Depois de cinco anos de análise, afirmou que “tinha se encontrado”: gravou Erasmo e Roberto.
Sobre “Universo do teu corpo”, cuja musa inspiradora ele sempre se recusava a revelar:
- Tem que ser retificados os primeiros versos, porque eu não desisto e sempre existiu o amanhã que eu persegui.
Sobre a falta de memória:
“Ainda estamos sem memória. Somos um país desmemoriado. Nossos artistas estão cantando para os militares, para as multinacionais. E isso pra mim é falta de memória. Duvido que esses artistas lembrem hoje porque entraram nessa”.
Frases ditadas a Marcos Baby Durães e Sabá, programa “Roda de Sábado”, da Jovem Pan, em 25 de outubro de 1986:
- A gente tem que trabalhar hoje para organizar a sociedade e não deixar que o imperialismo dirija a sociedade para a guerra nuclear, para o extermínio, para o aumento da concentração do capital.
Sobre a distribuição da riqueza, na mesma entrevista:
- O que está errado no nosso País é a distribuição da riqueza, é a miséria crescente a que vai chegando a nossa população.
- A gente pensa que o povo brasileiro não é capaz de lutar, de levar um ideal à frente, é alienado, indolente. A gente pensa tudo errado do nosso povo. Meu povo não é assim.
Explica que a mentira das universidades nos levou a isso, e sentencia: Essa mentira cultural é que nos mantém nessa ilusão!
Taiguara
Entre seus maiores sucessos, destacam-se Hoje, Universo do teu corpo, Viagem, Teu sonho não acabou, Geração 70 e Que as Crianças Cantem Livres.
Confira a íntegra da entrevista:
Sentados na mesma mesa Taiguara, Sabá e Synésio Júnior, numa tarde de um sábado frio, com uma garoa típica paulistana. Taiguara foi quem escolheu o prato: "sphaghetti". Entre um gole e outro de vinho, o cantor, pianista e compositor vai relembrando fatos.
Fala do começo da carreira, há exatos trinta anos. Relembra os companheiros, cantarola algumas músicas da época e não esconde a saudade nesta entrevista exclusiva.
Taiguara : Eu nasci na Cale Pedro Ricardoni, em Montevidéo, Uruguai.
Filho de Olga, cantora e do bandonionista Ubirajara Silva. Quer dizer : eu já nasci condenado á música. Meus pais estavam de passagem, apresentando-se no Uruguai. Eu quase nasci em Bueno Aires...podia ter nascido em Porto Alegre, mas na passagem, acabamos parando em Montevidéo eu nasci. Mas logo voltei para Porto Alegre e aí começou minha infância gaúcha.
Movimento: E seu avô teve uma forte influência na sua vida...
T: Ah, sim. Meu avô foi a presença mais marcante em minha vida. Ele era
afinador profissional, compositor-não profissional, rebelde que saía com um facão de um lado e o bandonion de outro. Quando ele recebeu o instrumento ele nem queria saber se era argentino ou não e já saiu tocando coisas brasileiras como choro, trancheira, gaúcha.. ele transformou o bandonion em sanfona. O velho Graciliano chegou ao Rio de Janeiro e tocou com Noel Rosa e Carmem Miranda. A influência dele foi muito forte.
M : E seu pai Ubirajara ?
T : Está comigo, firme e forte tocando no meu mais recente trabalho, o "Brasil- Afri" . Ele é o bandonion brasileiro ! Gravou também com o Chico Buarque, com a Jane Duboc. E agora esta fazendo um trabalho cuidadoso do bandonion no samba, ao lado de Raul de Souza, Macaé e Newton Rodrigues. O homem é fera.
M : Quer dizer que a música começou em casa ?
T: Foi. Eu tinha oito anos quando meu pai comprou o piano, que eu tenho até hoje. Eu tirava algumas músicas, quando anos 10 anos comecei a compor e lá pelos 11 ou 12 eu comecei a escrever letras. A primeira foi "Verdade", que eu gosto até hoje : Verdade / E melhor dizer adeus / Não deixar se não adeus / Pra não ter por que pensar/ Em voltar...
M: Na sua chegada a São Paulo, nos anos 60, você teve dificuldade para mostrar seu trabalho ? Como foi a recepção ?
T: No início de braços abertos. Depois vieram as barreiras naturais, que já existiam em nosso País. Nós estávamos no início de 1964 e foi quando Chico Buarque me levou a uma das "4as. Feiras da Bossa", no Juão Sebastião Bar. Era o único dia da semana em que um jovem iniciante podia mostrar seu trabalho. E a gente era apresentado pela Claudete Soares, a nossa musa ! Era uma emoção enorme...
M: Fale um pouco desta emoção...
T: Imagine o que era um estudante chegar ali, no João Sebastião Bar*, a Meca da Bossa-Nova, levado pelo Chico Buarque - que dos estudantes já era o nosso líder. Era muito importante o que se fazia ali, por que não existiam moldes, clichês... tudo era espontâneo, criativo e quando a gente fazia alguma coisa nova, o pessoal vibrava, aplaudia.
M : Além de você e do Chico Buarque, quem mais participava?
T : Tinha a Tuca, a Ivete, o Toquinho e os meninos do Bossa Jazz Trio, liderados pelo Amilson Godoy. Essa foi a turma que realmente caminhou unida.
M: Você participou desse movimento musical universitário que foi importantíssimo nos anos 60. Como foi que isso começou a acontecer?
T: Eu acho que esse movimento foi a maior prova de que a gente não precisa tanto assim da mídia. A gente fazia tudo no páteo, dentro da faculdade. Nós matávamos aula e ficávamos tocando... Começou assim,... nas casas das pessoas, nas universidades, depois nos teatros e aí sim, veio a televisão, mas como uma conseqüência. Na verdade, a televisão chegou para fazer uma reportagem. Quando a Record chegou encontrou tudo já prontinho : o grande movimento musical universitário já existia concebido e criado dentro das universidades.
M: É evidente que o jovem é muito mais atirado do que aquele que já tem mais experiência, mais maduro. O jovem é mais destemido a essa é a mola propulsora. Isso faz a grande diferença?
T: É claro que sim. E como é necessária essa energia, a vibração, essa liberdade?
M: Hoje você sairia para contestar novamente?
T: Sem dúvida. Da mesma forma... E tenho certeza de que o Chico iria também.
M: Muita gente fala que você foi torturado, que levou pancada... afinal qual é a verdade?
T: Nunca..…Nunca tomei choque, nunca levei porrada, nunca fui torturado.
A minha tortura foi o veto ao meu trabalho. Começou em 71 com a proibição "A Ilha" e eu não entendi muito bem a coisa. Quando uma música é proibida, você faz outra e substitui. Já em 1972 me proibiram duas músicas: . "Sim" e "O medo". Em 1973, proibiram 11 faixas do meu disco com a produção do Eduardo Souto Neto. Liberaram justamente a música "Verão 74" em que eu dizia : Faz tempo / Eu sangro e choro rimas / Pelo escuro / Nossos poemas / São concreto / Sobre o muro / Dentro da casa / Em viveiros / Sem janelas, qual velhas plantas / Somos plantas / Somos verdes / Que amarelam...
Vejam só! Liberaram só essa! As que eram românticas foram proibidas. E nesse mesmo ano me proibiram um total de 45 músicas.
M: E os shows, também foram proibidos?
T: Sim, também. Mas eles esperavam o contrato ser assinado, o dinheiro da produção ser gasto, compromissos assumidos, divulgação feita. Aí eles proibiam. Sempre em cima da hora, pra dar prejuízo mesmo. Entre Outubro de 1973 e Abril de 1974, eu tentei trabalhar de todas as formas. Entrevistas em rádio e TV a gente marcava mas na hora de ir ao ar, eles proibiam. A tática era essa : fazer dar prejuízo. Essa foi a maneira, a forma de tortura que eu sofri: não me deixavam trabalhar. Eu tive que vender os carros para pagar dívidas, aí resolvi vender minha casa e fui embora para a Inglaterra.
M: E ameaças ? Você chegou a sofrer algum tipo de ameaça?
T: Houve algumas. E tinha também os interrogatórios, que eram tristes. Eles chamavam porque escreveu aquilo na letra. Aí deixavam a gente numa fila a tarde inteira, e às vezes o interrogatório só acontecia á noite. Havia um incremento das condições de terror e a gente sabia aonde isso ia parar. Enquanto eu passava por uma tortura leve, a psicológica, havia gente morrendo, levando choque, sendo torturada e às vezes sumindo. Eu cheguei a receber ameaças, telefonemas esquisitos...
M: Mesmo sendo uma coisa execrável e condenável em todos os sentidos, a Censura acabou levando os autores da época a um exercício de criatividade.
T: Cuidado companheiro! Essa é uma tese nazifacista que nasceu na Alemanha de Hitler. É muito fácil você criar um fato á base de censura e da repressão e depois provar que o fato existe. É como cortar os braços de alguém para provar que esse alguém não pode pegar um objeto qualquer. Tudo o que foi criado nessa época, nós criaríamos da mesma forma falando de outras coisas e os poemas seriam muito melhores. Nós teríamos mais tempo para estudar, para apropriar o nosso trabalho.
M: E o Taiguara de hoje? O seu trabalho de hoje?
T: O meu mais recente trabalho é o CD, Brasil- Afri, que é o resultado de 17 anos de sonho e dez anos de espera. "África-Mãe" é a composição mais velha do disco, tem 17 anos. Existe só uma gravação, a música Hoje . Eu gravei esse disco pela Movieplay, depois de recusar propostas de outras 4 gravadoras. É um trabalho onde estou completamente a vontade, eu posso mostrar a minha brasilidade, respeitando meus critérios, e sentindo-me respeitado também.
M: É o trabalho que você realmente sonhou em fazer?
T: Eu sei que tem algo mais a fazer. Mas não sinto. O que eu sinto é que eu realizei o trabalho da minha vida. Esse é um sentimento, a consciência vai continuar com seu poder de auto-crítica. Assim como o coração tem razões que a própria razão desconhece, a razão tem memórias que o próprio coração esquece.
M: É verdade que você ainda tem umas 150 composições inéditas?
T: Exatamente. Mas eu preciso sentar uma hora e gravar, porque eu vou acabar esquecendo. A memória costuma trair muita a gente. As letras eu tenho todas escritas, mas as melodias não, eu guardo de cabeça. Lembro perfeitamente de umas 40 ou 50. O restante está um pedaço escrito, outro não. Eu preciso organizar isso.
*João Sebastião Bar, do jornalista Paulo Cotrin, foi um dos berços da bossa nova em São Paulo, SP.
Entrevista: Os outubros de Taiguara, um dos maiores compositores da MPB
O jornal A Verdade entrevistou Janes Rocha, escritora e jornalista carioca, autora do livro Os Outubros de Taiguara, livro-reportagem lançado pela gravadora Kaurup. Na entrevista Janes Rocha conta como surgiu a ideia do livro e revela que Taiguara foi um dos artistas mais perseguidos pela Ditadura, principalmente por seu apoio a Luiz Carlos Prestes e sua defesa firme do comunismo.
A Verdade – Além de resgatar a
obra deste que é um dos maiores compositores da MPB, o que te levou a
escolher a história de Taiguara para ser publicada em livro?
Janes Rocha – Este
trabalho foi feito por mim a pedido da Kuarup Produções, empresa que
detém um contrato de curadoria da obra de Taiguara junto à família dele.
Em princípio, eu iria apenas levantar os documentos no Arquivo
Nacional. Até então, sabíamos que ele havia sido um dos mais perseguidos
da Ditadura, mas não sabíamos quanto. Ficamos impressionados com os
números, então decidimos fazer um livro que não é bem uma biografia, na
verdade, é um livro-reportagem. Centramos o trabalho na questão da
censura e de seu ativismo político muito mais do que em questões
pessoais.
Como livro biográfico é o primeiro,
porém encontrei duas teses de mestrado e doutorado sobre ele realizadas
por pesquisadoras da Universidade de Brasília, muito boas também, e que
estão incluídas na bibliografia de Os outubros de Taiguara.
Você encontrou alguma barreira na preparação deste livro?
Não, ao contrário. O Arquivo Nacional dá
amplo acesso aos documentos. A família dele foi muito bacana, apoiou e
ajudou no que pode, todos, mas especialmente Moína Lima, Marcelo Borghi e
Eliane Potiguara. Algumas pessoas que eu pretendia entrevistar, amigos,
músicos e políticos, não quiseram falar, ou colocaram dificuldades. Mas
creio que mais por questões pessoais que eu respeito, ninguém é
obrigado a dar entrevista.
A tecnologia foi importante para a
recuperação das músicas. Taiguara deixou inúmeras canções em fitas
cassete que nunca haviam sido gravadas em vinil ou CD. A Kuarup, com o
trabalho de uma equipe de especialistas, artesãos da música, liderados
por Pedro Baldanza, conseguiu recuperar e remixar muitas delas. Se você
entrar no site www.taiguara.art.br/ele_vive.html vai poder acessar o
disco Ele Vive, que está sendo lançado junto com o livro.
Taiguara foi um dos compositores
que despertou ódio por parte do Regime Militar. O que causou todo esse
ódio, já que ele chegou a ser um dos cantores mais famosos do Brasil na
época dos festivais?
Ninguém apresentou uma resposta pronta a
essa questão. Muitos acham que ele foi perseguido por sua aproximação
com Prestes. Isso só é verdade a partir de 1980, quando ele conhece
Prestes e dá início à sua atividade política mais aguerrida. Porém, ele
já vinha sendo perseguido muito antes disso, aliás, os documentos das
músicas censuradas vão do período 1970-1974, ou seja, antes de seu
contato com Prestes.
E o motivo para a perseguição inicial da
censura é, na verdade, pura implicância com algumas letras mais
sensuais. A primeira música dele censurada não tinha nada a ver com
política, foi “Corpos nus”, de 1971, que ele pretendia apresentar no VI
Festival Internacional da Canção promovido pela Rede Globo.
Eu acredito, por tudo que pesquisei e
pelas informações dos meus entrevistados, que ele se expôs mais que os
outros artistas, daí ter atraído a atenção dos censores. Ele radicalizou
suas posições, principalmente na sua volta nos anos 80, quando se alia
ao Luiz Carlos Prestes. Nesse momento, ele não só entrou na mira do SNI,
mas também começou a perder mídia por seu discurso ácido em defesa do
comunismo.
Qual a mensagem que você acha que ficou mais forte da obra de Taiguara?
Acho que Taiguara deixou como legado um exemplo de luta e sacrifício com seu ativismo político em defesa da democracia.
Porém, a grande mensagem de Taiguara
está em suas canções. Quase todos se lembram dele mais por suas letras
românticas dos anos 60 que, de fato, são belíssimas. Mas acredito que a
mensagem que ele queria transmitir está nas músicas que fez a partir do
álbum “Imyra, Tayra, Ipy Taiguara” (de 1976, inteiramente censurado e
recolhido das lojas). Neste álbum, ele começa a fazer uma fusão de
ritmos contemporâneos (bossa nova, jazz, pop) com o regional (chamamé,
guarânia), que vai aperfeiçoando daí para frente nos discos seguintes, o
“Canções de Amor e Liberdade” (1984) e “Brasil Afri” (1994). Além de
lindas canções do ponto de vista artístico, são também uma mensagem de
integração latino-americana, de integração dos povos e raças que formam o
nosso Brasil.
Cloves Silva, estudante de Letras da UFRPE e militante da UJR
Resenha de Os Outubros de Taiguara, de Janes Rocha
Relato precioso recupera a trajetória de Taiguara, uma vítima diferente do regime militar
Por Maurício Amendola
Emplacar um ou outro hit é garantia de duas coisas: haverá o momento dos louros do sucesso e também a exigência do próximo êxito. A história de Taiguara – contada no livro Os Outubros de Taiguara, de Janes Rocha – exemplifica bem essa via de duas mãos. Com a diferença que o cantor uruguaio de nascença e brasileiro de biografia foi impedido de testar grande parte de seu cancioneiro com o público. A censura do regime militar interrompeu o processo após um começo bastante popular. Taiguara nunca conseguiu ter o mesmo cartaz dos primeiros anos de carreira e morreu no ostracismo, em 1996, aos 50 anos.
Projetado durante a segunda metade dos anos 1960, Taiguara encontrou espaço nas rádios brasileiras com sucessos românticos como “Hoje” e “O Universo No Teu Corpo”. Chegou a ter composições gravadas por nomes como Cauby Peixoto, Agnaldo Timóteo e Erasmo Carlos. Mas, quando se lançou às letras engajadas e subversivas, os milicos cortaram suas asas. O livro estima que Taiguara teve mais de 80 composições censuradas pelo regime militar.
Um ponto defendido por Janes é que o cantor não se inseria nos movimentos musicais da época – como Jovem Guarda, Tropicália, Clube da Esquina ou de gente como Chico Buarque e Edu Lobo. Como conta João Gabriel de Lima no prefácio, Taiguara foi romântico quando todos eram políticos, e excessivamente político quando todos almejavam o pop. Libertário e marxista ferrenho a partir da década de 1970, foi censurado por versos que iam da subversão política ao questionamento dos costumes, passando por poesias sensuais, as quais o momento não admitia. Após o sucesso como cantor romântico, a exigência artística partiu do próprio Taiguara, que deu um salto de complexidade em sua obra, tanto nas letras quantos nos arranjos – era um pianista de mão cheia.
O desgaste pela censura constante fez com que ele se autoexilasse em Londres. Ao retornar ao Brasil, lançou Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara (1976). O álbum foi retirado das prateleiras em menos de 24 horas.
A sensação que fica ao adentrarmos a trajetória de Taiguara é a de que ele é um caso especial na história da música brasileira. Sabe aquele papo de que a mão pesada dos censores impulsionou a criatividade dos artistas e fez com que eles até fossem mais procurados? “A censura é a mãe da metáfora”, diria o escritor argentino Jorge Luis Borges. Aqui, isso é falácia. Há um momento do livro no qual a autora diz que quem era censurado ganhava certo prestígio na intelectualidade da época. Com o biografado foi diferente. A obra de Taiguara foi completamente afastada do público. Seus jogos de palavras, figuras de linguagem e artimanhas para dobrar a censura nunca ganharam o status cool, o que aconteceu com Caetano e Chico. Talvez o cantor fosse menos genial do que seus pares ou até explícito demais em suas letras. O fato é que nunca saberemos que imagem caberia a ele no imaginário popular. Afinal, Taiguara praticamente não foi escutado.
O outro motivo do caso ser distinto é que Taiguara pode ter se tornado um herói involuntário para seus colegas da MPB. Na condição de “carta marcada” do regime, ele funcionava como o famoso boi de piranha. Suas canções eram enviadas para a análise da censura sempre acompanhada de muitas outras. As dele eram censuradas, as outras passavam. Era como se a “cota” da repressão recaísse quase sempre sobre ele, imunizando os demais artistas.
O livro de Janes Rocha é um serviço – e uma homenagem – sem precedentes à obra de Taiguara. Embora nunca tenha sido exilado, é fato que o músico incomodava e muito o regime, o que faz com que suas composições mereçam uma nova luz. Ele não está entre os cantores mais prestigiados de sua geração, nem entre os mais geniais, mas é provável que seja um dos mais históricos, levando em conta o sentido mais pleno da palavra. Sua aventura – ou como a ditadura a tornou quase entediante – é mais um dos fragmentos de um capítulo decisivo da vida política brasileira. Taiguara é um conto sobre a censura no Brasil.
Programa Ensaio de 1994:
Entrevista com Taiguara
Entrevista com Taiguara feita pela reporter Rita de
Cássia para o programa de rádio Notícias do Brasi. Produção do CRIA (Centro
Radiofônico de Imprensa e Assessoria) do IBASE. Taiguara Chalar da Silva
(Montevidéu, 9 de outubro de 1945 — São Paulo, 14 de fevereiro de 1996) foi um
cantor e compositor Brasileiro, embora nascido no Uruguai durante uma temporada
de shows de seu pai, o Bandoneonista e Maestro Ubirajara Silva. Mudou-se para o
Rio de Janeiro em 1949 e para São Paulo, posteriormente, em 1960. Largou a
faculdade de Direito para se dedicar à música. Participou de vários festivais e
programas da TV. Fez bastante sucesso nas décadas de 60 e 70. Autor de vários
clássicos da MPB, como Hoje, Universo do teu corpo, Piano e viola, Amanda,
Tributo a Jacob do Bandolim, Viagem, Berço de Marcela, Teu sonho não acabou,
Geração 70 e "Que as Crianças Cantem Livres"; entre outros.
Considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar
brasileira, Taiguara foi um dos compositores mais censurados na historia da
MPB, tendo cerca de 100 canções vetadas. Os problemas com a censura
eventualmente levaram Taiguara a se auto-exilar na Inglaterra em meados de
1973. Em Londres, estudou no Guildhall School of Music and Drama e gravou o Let
the Children Hear the Music, que nunca chegou ao mercado, tornando-se o
primeiro disco estrangeiro de um brasileiro censurado no Brasil. Em 1975,
voltou ao Brasil e gravou o Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara com Hermeto Paschoal e
uma orquestra sinfônica de 80 músicos. O espetáculo de lançamento do disco foi
cancelado e todas as cópias foram recolhidas pela ditadura militar em poucos
dias. Em seguida, Taiguara partiu para um segundo auto-exílio que o levaria a
África e à Europa por vários anos. Quando finalmente voltou a cantar no Brasil,
em meados dos anos 80, não obteve mais o grande sucesso de outros tempos.
Faleceu em 1996 devido a um persistente câncer na bexiga.
Entrevista com Taiguara
Entrevista
com Taiguara feita pela reporter Rita de Cássia para o programa de
rádio Notícias do Brasi. Produção do CRIA (Centro Radiofônico de
Imprensa e Assessoria) do IBASE. Taiguara Chalar da Silva (Montevidéu, 9
de outubro de 1945 — São Paulo, 14 de fevereiro de 1996) foi um cantor e
compositor Brasileiro, embora nascido no Uruguai durante uma temporada
de shows de seu pai, o Bandoneonista e Maestro Ubirajara Silva. Mudou-se
para o Rio de Janeiro em 1949 e para São Paulo, posteriormente, em
1960. Largou a faculdade de Direito para se dedicar à música. Participou
de vários festivais e programas da TV. Fez bastante sucesso nas décadas
de 60 e 70. Autor de vários clássicos da MPB, como Hoje, Universo do
teu corpo, Piano e viola, Amanda, Tributo a Jacob do Bandolim, Viagem,
Berço de Marcela, Teu sonho não acabou, Geração 70 e "Que as Crianças
Cantem Livres"; entre outros. Considerado um dos símbolos da resistência
à censura durante a ditadura militar brasileira, Taiguara foi um dos
compositores mais censurados na historia da MPB, tendo cerca de 100
canções vetadas. Os problemas com a censura eventualmente levaram
Taiguara a se auto-exilar na Inglaterra em meados de 1973. Em Londres,
estudou no Guildhall School of Music and Drama e gravou o Let the
Children Hear the Music, que nunca chegou ao mercado, tornando-se o
primeiro disco estrangeiro de um brasileiro censurado no Brasil. Em
1975, voltou ao Brasil e gravou o Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara com
Hermeto Paschoal e uma orquestra sinfônica de 80 músicos. O espetáculo
de lançamento do disco foi cancelado e todas as cópias foram recolhidas
pela ditadura militar em poucos dias. Em seguida, Taiguara partiu para
um segundo auto-exílio que o levaria a África e à Europa por vários
anos. Quando finalmente voltou a cantar no Brasil, em meados dos anos
80, não obteve mais o grande sucesso de outros tempos. Faleceu em 1996
devido a um persistente câncer na bexiga.
Show em Belo Horizonte década de 90:
Programa Rede Manchete:
Taiguara, um dos principais alvos da ditadura na área cultural, ensinando como driblar censores
Por Daniel SettiDica do amigo do blog Reynaldo, este vídeo extraído de um show da turnê “Treze Outubros”, do músico uruguaio-brasileiro Taiguara (1945-1996) no Anhembi, em São Paulo, em 1986 é um documento histórico-musical ao mesmo triste, hilariante e emotivo.
Triste porque mostra Taiguara relatando o chumbo grosso que enfrentou durante os piores anos da ditadura militar, entre o final dos anos 60 e a metade da década seguinte. Ele conta ter tido nada menos que 68 canções vetadas pela censura. Não à toa, em 1973 se exilou em Londres, passando em seguida por outros países europeus e africanos.
Hilariante porque antes de entoar a clássica balada “Que as Crianças Cantem Livres”, do álbum Fotografias (1973), o cantor explica como fez para ludibriar o ignorante trio de censores, a quem dá nome – Marina, Sá e Selma – na hora de fazê-los aprovar outra composição do mesmo disco, “Nova York”. Engraçado, Taiguara imita a cara perplexa de Selma à simples menção do termo “aliteração”.
E emotivo porque, tal qual indica o nome do show, Taiguara, levou 13 anos para poder cantar livremente suas canções, até que o fim da ditadura se consolidasse. Entre essas composições está “Que as Crianças…”, em cujos versos o autor reconhece o sombrio período, mas demonstra esperança por tempos melhores que, ao menos no quesito liberdade de expressão, por fim vieram: “E que o passado abra os presentes pro futuro/ que não dormiu e preparou o amanhecer”.
COMO COMEÇOU ESSA HISTÓRIA
A idéia de tentar resgatar a imagem de Taiguara surgiu do boom de biografias que vem proliferando nos últimos anos. Ruy Guerra com Nelson Rodrigues e Mané Garrincha, Regina Echeverria com Elis Regina, Assis Ângelo com Luís Gonzaga, José Nêumanne Pinto com Luiza Erundina, Jon Lee Anderson com Che Guevara, Fernando Moraes com Olga e Chateaubriand, Jorge Caldeira com Visconde de Mauá - são apenas alguns exemplos de lançamentos recentes, avidamente disputados por compradores num país sem tradição de leitura mas que vem recebendo certo impulso através de faculdades e jornais.
Saíram também biografias de Cazuza - Só as Mães São Felizes - por Lucinha Araújo e Regina Echeverria, de Elza Soares - Cantando Para Não Enlouquecer - de José Louzeiro e Lenin Novaes, de políticos e de vários outros artistas. O aparecimento, particularmente em São Paulo, de livrarias tipo supermercado, estimulou a venda de livros como se fossem legumes e verduras. Não se sabe se tais livros vão para a cabeceira do comprador ou se viram objeto de decoração, mas com certeza o lançamento festivo de novos livros se transformou numa exigência quase diária das grandes livrarias, que desencadearam uma série de megaeventos - lançamentos de livros com coquetéis, shows, desfiles moda, qualquer coisa para chamar a atenção. Em sua edição no 43, de 27 de outubro de 1997, a revista Veja São Paulo, carinhosamente chamada de Vejinha, classifica como Oba-Oba das Letras o lançamento freqüente de novos livros, sempre com vinho branco à vontade e noite de autógrafos.
Nasceu, por outro lado, saudável concorrência entre editores, contribuindo ainda mais para o surgimento de novidades editoriais, discos, filmes e outras manifestações artísticas. Em 1997 houve até o lançamento de um livro com o roteiro de um filme. Mais de um, aliás.
É evidente que dessa enxurrada de livros nem tudo vale a pena ser lido. Há trinta anos em Paris fazendo psicanálise, o médico brasileiro Paulo Fernando de Queiroz Siqueira orgulhava-se de quase nunca ter lido uma biografia. Prefere o coletivo. Acha perda de tempo dedicar atenção a um indivíduo, quando toda uma sociedade está a exigir interpretação. Mesmo em seu trabalho de psicanálise, prefere os grupos.
Tal posicionamento radical e isolado não impede que o fenômeno continue proliferando, inclusive e principalmente nos outros países. As figuras brasileiras inexistem no primeiro mundo, onde Paulo Coelho é senhor absoluto das vendas. Aqui, ilustres desconhecidos como o médico Matinas Suzuki, pai do jornalista do mesmo nome que apresentava o programa Roda Viva, da TV Cultura, aventuram-se lançando a história de suas vidas. E às vezes certas memórias viram best-sellers.
Por trás de toda biografia há um fanático, ou uma viúva. Às vezes mais de um fanático e mais de uma viúva. Todos querem reconstituir a imagem de seu ídolo à sua moda, transformando-o em herói ou vilão, conforme o amor ou o ódio que restou da convivência. Não é este o caso.
Um artista é amado por muitas mulheres. E ama muitas mulheres. Ama o ser humano. Ama o mundo. Daí ser difícil conciliar tanto amor e sujeitar-se às amarras de um casamento convencional. Taiguara amou pelo menos três mulheres, e provavelmente achou pouco. Nesse sentido, imitou um de seus ídolos, Vinícius de Moraes, e Toquinho (antes do casamento), que não podiam ver um rabo de saia.
Resgatar sua história é pois uma necessidade, não apenas diante da avalanche de biografias que vem surgindo, mas principalmente devido a importância de sua obra, esquecida pela mídia. Fique claro, porém, que não se trata de uma biografia completa. Tudo o que consegui reunir sobre Taiguara é pouco para descrever com precisão sua trajetória.
Infelizmente, a pressão das gravadoras sobre os disque-jóqueis para tocar determinados lançamentos continua sendo um rolo compressor muito mais pesado do que o valor artístico dos discos. A imposição das músicas internacionais antecedeu a globalização que hoje predomina no comércio em geral. Talvez por essa razão os admiradores de suas músicas não consigam escutá-las em emissoras de rádio, tampouco em tevês. Nem o lançamento, em novembro de 1998, do primoroso disco “Claudya canta Taiguara” conseguiu reerguer o prestígio do ex-protegido da Rede Globo.
A marca da coerência
A marca registrada da vida de Taiguara foi a coerência, pois ele se manteve fiel até o fim à ideologia que abraçou. Foi classificado de stalinista, por causa de seu posicionamento radical de esquerda e escreveu sobre arte popular no jornal “Hora do Povo”, do Movimento Revolucionário 8 de Outubro - MR-8. Mas ele não era radical apenas politicamente. Era exigente também consigo mesmo e com suas composições, arranjos e apresentações. Exigia disciplina de seus acompanhantes, fato confirmado por todos os que presenciaram os ensaios de suas gravações e de seus shows.
“Ele era implacável nos ensaios, mas fora disso era de uma ternura só, como nas canções”, conta Ana Lasevicius, terceira e última esposa, produtora de seus últimos shows e companheira fiel dos últimos oito anos da vida que matou Taiguara.
Um radical à moda de Ernesto Che Guevara, mas exclusivamente quanto ao dito que virou refrão e chavão das esquerdas: Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamais. Sim, porque ao que consta, Taiguara era incapaz de pegar numa arma. Poder-se-ia dizer que ele era um guerrilheiro da palavra, ou um cancioneiro da esperança. Suas armas eram as letras de suas músicas - verdadeiras poesias - o piano, o violão, o bandoneon, os tambores, qualquer coisa que emitisse um som emocionado, à moda latina ou africana.
Como repórter de Contigo e Intervalo (revistas da Editora Abril) freqüentei a casa de Antônio Marcos (Pensamento da Silva) e Vanusa, quando Taiguara também vivia por lá, no bairro de Santo Amaro. Ficava atônito, às vezes, em meio à discussão que tanto poderia começar pelo mau gosto da estátua de Borba Gato, ali pertinho, como enveredar pela linguagem rebuscada da literatura, das artes visuais, da poesia. A discussão em torno da estátua é uma das mais comuns entre os pretensos intelectuais paulistanos. É considerada feia, alguns a chamam de monstruosa, mas mesmo assim constitui um marco da vida paulistana, ou pelo menos o mais importante símbolo do bairro de Santo Amaro, na pior das hipóteses.
Naquela época, embora já se comesse muita massa em São Paulo, ainda não estava consagrada a expressão tudo acaba em pizza. Tudo acabava em cerveja, conhaque ou uísque, conforme a disponibilidade do momento. A preocupação com comida não subia à cabeça em momentos tão grandiloqüentes quanto a discussão entre a arte e a vida. Tudo muito pretensioso, mas nada científico.
Claro, aquelas discussões também me interessavam por causa de certa identificação com a temática. Mas quase nada daquilo transparecia nas matérias que fazia. Conforme orientação editorial, tinha de falar do gosto dos artistas - a cor, o carro, a comida preferidos, coisas do gênero. As eventuais preferências políticas do entrevistador e dos entrevistados não figuravam nas reportagens, que se propunham apenas a despertar ilusões e obviamente vender milhares de exemplares.
Contigo chegou a tirar 500 mil exemplares por mês. Intervalo vendia em torno de 70 mil por semana e foi fechada em 1974 porque dava prejuízos à Abril. Roberto Civita comunicou a decisão aos 50 jornalistas afirmando que ela chegara a “um túnel sem saída”. Mas isso é outra história.
Conheci uma das três viúvas de Taiguara - Ana Lasevicius - meio por acaso. Foi numa dessas oficinas literárias de São Paulo, o Projeto Mosaico, do professor Gabriel Perissé. Ex-revisor da Editora José luO Olympio, Gabriel abandonou a profissão no Rio de Janeiro para fundar o tal projeto, que pretende transformar em uma Organização Não Governamental (ONG), dedicada ao incentivo à formação de escritores, revisores e professores.
A maioria dos alunos de Gabriel é constituída de artistas plásticos, jornalistas, intelectuais desempregados, donas de casa com sonhos literários, cada um deles com uma idéia na cabeça e nenhuma câmara na mão. No máximo, cada um leva debaixo do braço um livro de poesias, inédito naturalmente, ou um calhamaço de memórias, diários, anotações, projetos. Após algumas aulas sobre a arte de escrever, os trabalhos são discutidos em classe, selecionados, e eventualmente saem numa antologia anual.
Foi Gabriel que me aproximou de Ana. Pragmático, sugeriu que ao invés de memórias de um jornalista desconhecido, eu trabalhasse a memória de Taiguara, figura conhecida e que tem lá seus admiradores. Na pior das hipóteses, uma história muito mais viável, sob todos os aspectos. Nada mais convincente.
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Minhas 20 músicas preferidas - Bom gosto musical - Introdução - Índice
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Outro dia discutindo sobre as manifestações do dia 15, sobre crise do governo e a corrupção da Petrobrás eu perguntei a ele se tinha acompanhado a CPI da Dívida Pública. Então ele me respondeu: Eu lá estou falando de CPI?! Não me lembro de ter falado de CPI nenhuma! Estou falando da roubalheira... A minha intenção era dizer que apesar de ter durado mais de 9 meses e de ter uma importância ímpar nas finanças do país, a nossa grande mídia pouco citou que houve a CPI e a maioria da população ficou sem saber dela e do assunto... Portanto não quis fugir do assunto... é o mesmo assunto: é a política, é a mídia, é a corrupção, são as eleições, é a Petrobras, a auditoria da dívida pública, democracia, a falta de educação, falta de politização, compra de votos, proprina, reforma política, redemocratização da mídia, a Vale, o caso Equador, os Bancos, o mercado de notícias, o mensalão, o petrolão, o HSBC, a carga de impostos, a sonegação de impostos,a reforma tributária, a reforma agrária, os Assassinos Econômicos, os Blog sujos, o PIG, as Privatizações, a privataria, a Lava-Jato, a Satiagraha, o Banestado, o basômetro, o impostômetro, É tudo um assunto só!...
A dívida pública brasileira - Quem quer conversar sobre isso?
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(Relata
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Comissão Nacional da Verdade - A história sendo escrita (pela primeira vez) por completo.
Luiz Carlos Prestes: Coluna, Olga, PCB, prisão, ALN, ilegalidade, guerra fria... Introdução ao Golpe de 64.
A WikiLeaks (no Brasil: A Publica) - Os EUA acompanhando a Ditadura Brasileira.
Sobre o caso HSBC (SwissLeaks):
Acompanhando o Caso HSBC I - Saiu a listagem mais esperadas: Os Políticos que estão nos arquivos.
Acompanhando o Caso HSBC II - Com a palavra os primeiros jornalistas que puseram as mãos na listagem.
Acompanhando o Caso HSBC III - Explicações da COAF, Receita federal e Banco Central.
Acompanhando o Caso HSBC V - Defina: O que é um paraíso fiscal? Eles estão ligados a que países?
Acompanhando o Caso HSBC VI - Pausa para avisar aos bandidos: "Estamos atrás de vocês!"...
Acompanhando o Caso HSBC VII - Crime de evasão de divisa será a saída para a Punição e a repatriação dos recursos
Acompanhando o Caso HSBC VIII - Explicações do presidente do banco HSBC no Brasil
Acompanhando o Caso HSBC IX - A CPI sangra de morte e está agonizando...
Acompanhando o Caso HSBC X - Hervé Falciani desnuda "Modus-Operandis" da Lavagem de dinheiro da corrupção.
Sobre o caso Operação Zelotes (CARF):
Acompanhando a Operação Zelotes!
Acompanhando a Operação Zelotes II - Globo (RBS) e Dantas empacam as investigações! Entrevista com o procurador Frederico Paiva.
Acompanhando a Operação Zelotes IV (CPI do CARF) - Apresentação da Polícia Federal, Explicação do Presidente do CARF e a denuncia do Ministério Público.
Acompanhando a Operação Zelotes V (CPI do CARF) - Vamos inverter a lógica das investigações?
Acompanhando a Operação Zelotes VI (CPI do CARF) - Silêncio, erro da polícia e acusado inocente depõe na 5ª reunião da CPI do CARF.
Acompanhando a Operação Zelotes VII (CPI do CARF) - Vamos começar a comparar as reportagens das revistas com as investigações...
Acompanhando a Operação Zelotes VIII (CPI do CARF) - Tem futebol no CARF também!...
Acompanhando a Operação Zelotes IX (CPI do CARF): R$1,4 Trilhões + R$0,6 Trilhões = R$2,0Trilhões. Sabe do que eu estou falando?
Acompanhando a Operação Zelotes X (CPI do CARF): No meio do silêncio, dois tucanos batem bico...
Acompanhando a Operação Zelotes XII (CPI do CARF): Nem tudo é igual quando se pensa em como tudo deveria ser...
Acompanhando a Operação Zelotes XIII (CPI do CARF): APS fica calado. Meigan Sack fala um pouquinho. O Estadão está um passo a frente da comissão?
Acompanhando a Operação Zelotes XIV (CPI do CARF): Para de tumultuar, Estadão!
Acompanhando a Operação Zelotes XV (CPI do CARF): Juliano? Que Juliano que é esse? E esse Tio?
Acompanhando a Operação Zelotes XVI (CPI do CARF): Senhoras e senhores, Que comece o espetáculo!! ("Operação filhos de Odin")
Acompanhando a Operação Zelotes XVII (CPI do CARF): Trechos interessantes dos documentos sigilosos e vazados.
Acompanhando a Operação Zelotes XVIII (CPI do CARF): Esboço do relatório final - Ainda terão mais sugestões...
Acompanhando a Operação Zelotes XIX (CPI do CARF II): Melancólico fim da CPI do CARF. Início da CPI do CARF II
Acompanhando a Operação Zelotes XX (CPI do CARF II):Vamos poupar nossos empregos
Sobre CBF/Globo/Corrupção no futebol/Acompanhando a CPI do Futebol:
KKK Lembra daquele desenho da motinha?! Kajuru, Kfouri, Kalil:
Eu te disse! Eu te disse! Mas eu te disse! Eu te disse! K K K
A prisão do Marin: FBI, DARF, GLOBO, CBF, PIG, MPF, PF... império Global da CBF... A sonegação do PIG... É Tudo um assunto só!!
Revolução no futebol brasileiro? O Fim da era Ricardo Teixeira.
Onde está a falsidade?? O caso Vladimir Herzog === Romário X Marin === Verdade X Caixa Preta da Ditadura
Videos com e sobre José Maria Marin - Caso José Maria MarinX Romário X Juca Kfouri (conta anonima do Justic Just )
Do apagão do futebol ao apagão da política: o Sistema é o mesmo
Acompanhando a CPI do Futebol - Será lúdico... mas espero que seja sério...
Acompanhando a CPI do Futebol II - As investigações anteriores valerão!
Acompanhando a CPI do Futebol III - Está escancarado: É tudo um assunto só!
Acompanhando a CPI do Futebol IV - Proposta do nobre senador: Que tal ficarmos só no futebol e esquecermos esse negócio de lavagem de dinheiro?!
Acompanhando a CPI do Futebol VII - Uma questão de opinião: Ligas ou federações?!
Acompanhando a CPI do Futebol VIII - Eurico Miranda declara: "A modernização e a profissionalização é algo terrível"!
Acompanhando a CPI do Futebol IX - Os presidentes de federações fazem sua defesa em meio ao nascimento da Liga...
Acompanhando a CPI do Futebol X - A primeira Liga começa hoje... um natimorto...
Acompanhando a CPI do Futebol XI - Os Panamá Papers - Os dribles do Romário - CPI II na Câmara. Vai que dá Zebra...
Acompanhando a CPI do Futebol XII - Uma visão liberal sobre a CBF!
Acompanhando a CPI do Futebol XIII - O J. Awilla está doido! (Santa inocência!)
Acompanhando a CPI do Futebol XIV - Mais sobre nosso legislativo do que nosso futebol
Acompanhando o Governo Michel Temer
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