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quarta-feira, 11 de julho de 2018

O engenheiro Rubens Paiva e seus cinco filhos.





Introduzindo o assunto:




Mais sobre o Bolsonaro aqui.

Eu acho que essa repórter bonitinha aí foi muito mal...
Eu se fosse uma bonita repórter como ela, passasse por tudo aquilo que ela passou, na hora que o Bolsonaro perguntou: Você já desceu aqui na biblioteca da câmara?  Eu iria responder:


-Já sim senhor! Vamos lá nós dois juntos que eu vou te mostrar um dos livros que eu já li...


Então pegaria ele pelas mãos, escolheria uma mesa de dois lugares, sentaria ele numa das cadeiras, pegaria o volume 67 da coleção "Perfis Parlamentares" a bibliografia do Rubens Paiva, sentaria na outra cadeira e começaria a ler na frente dele...
Nem precisaria ser o livro todo...
Só essas partes que eu destaco aqui na biografia de uma das pessoas mortas na ditadura brasileira.


Livro de domínio público situado no lugar onde o Bolsonaro sugeriu que a moça fosse e biografia oficial de um deputado federal brasileiro feita pela câmara dos deputados federais brasileiro.

Está aqui o livro completo,  com alguns trechos que destaco, mas antes quero reproduzir uma discussão que tive no mundo real. Eu costumo reproduzir aqui discussões em foruns na internet.
Isso é mais fácil, pois é só copiar e colar (veja aqui, aqui, aqui ou aqui)

Mas reproduzir um debate que ocorreu na vida real, é mais difícil pois não foi gravado, você depende da memória para relembrar dos diálogos, sempre vem na sua cabeça outros detalhes que você poderia ter dito na hora e não disse...
Mas vou tentar aqui reproduzir toda a fala com poucas inclusões e supressões... Esse diálogo aconteceu depois de um argumento do tipo:

-blábláblá Na ditadura brasileira só morreram vagabundos  blábláblá

Reproduzirei essa resposta onde cito o Rupens Paiva e logo depois o livro...
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Se eu estivesse em casa eu falaria sem pedir permissão. Mas como estou na sua vou pedir: posso falar palavrão?!

Claro!! A casa é sua!! Fique a vontade!!

Então a ditadura brasileira só matou vagabundo PORRA nenhuma.  Na ditadura brasileira foram mortos, torturados, espancados, expulsos, exilados, ameaçados, acusados, acoados as melhores e maiores inteligências brasileira. O que de melhor o país produziu na época. Os mais nacionalistas. Exemplo:
O pai do Marcelo Rubens Paiva, esse que pulou da cachoeira ficou paraplégico e depois escreveu feliz ano velho, era engenheiro civil formado, abriu uma empresa, tinha obras em vários lugares, empregava vários brasileiros, não era vagabundo porra nenhuma e foi espancado até a morte. Vou trazer aqui a esposa e os 5 filhos que ele deixou, você fala na frente deles que ele era vagabundo e o Marcelo levanta da cadeira e te dará bengaladas na cabeça...
O irmão do Henfil cantado pela Elis Regina no que virou um hino na época, João Bosco e Aldir Blanco fizeram referência ao Herbert de Souza, o Betinho, exilado do país e vagabundo porra nenhuma, ele voltou ao país e doou o que a Hemofilia e a AIDS lhe deixou de vida para combater a fome que a ditadura militar brasileira deixou de legado ao país. Metade dos brasileiros com fome.
E eu posso continuar dando 1, 5 10, 100 outros exemplos, mas é melhor eu te aclarar o que foi a ditadura militar de interesses americanos, não só no Brasil, na Argentina, Paraguai,  Chile, Equador, Panamá, Honduras, México todos iguaisinhos, todos coordenados.... A intensão da ditadura não era matar fome de brasileiros. Eles que morram a míngua.  Em 1985 a mortalidade infantil no interior do nordeste era 101 a cada 1000. Um verdadeiro genocídio. A intensão da ditadura militar brasileira era transformar o país no maior exportador de commodities do planeta terra. O que era necessário para fazer isso? Hidroelétricas, estradas, portos e aeroportos. Nisso eles foram competentíssimo e se temos Itaipu para nos iluminar e não fazer as mineradoras pararem de funcionar um minuto agradeçam aos governos militares. Toda evolução acontecida na época é efeito colateral desse objetivo. E quem era perseguidos? Os vagabundos? Não! Quem era contra o regime de nos transformar em colônia do império. Em suma os nacionalistas. Todos aqueles que não tinham espírito de vira-lata. Os anos de chumbo perdemos nossos melhores quadros. Ou mortos, ou expulsos ou acuados dentro de si mesmos sem poder dar ao país a contribuição que potencialmente o seu talento poderia dar....


Sobre a Ditadura Militar e o Golpe de 64:

Dossiê Jango - Faz você lembrar de alguma coisa?

Comissão Nacional da Verdade - A história sendo escrita (pela primeira vez) por completo.



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Rubens Beyrodt Paiva (Santos, 26 de dezembro de 1929 — Rio de Janeiro, ? de janeiro de 1971) foi um engenheiro civil desaparecido durante a ditadura militar no país.

Era filho de Jaime Almeida Paiva, advogado, fazendeiro do Vale do Ribeira e despachante do Porto de Santos, e de Araci Beyrodt. Casou-se com Maria Lucrécia Eunice Facciolla (n. 1929), com quem teve cinco filhos: Marcelo Rubens Paiva, escritor e jornalista, Vera Sílvia Facciolla Paiva (psicóloga e professora), Maria Eliana Facciolla Paiva (jornalista, editora de arte e professora), Ana Lúcia Facciolla Paiva (matemática e empresária) e Maria Beatriz Facciolla Paiva (psicóloga e professora).

Formou-se em engenharia civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, em São Paulo, em 1954. Militou no movimento estudantil na campanha "O petróleo é nosso". Foi presidente do centro acadêmico e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo.

Informação retirada do Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rubens_Paiva

Ele é o personagem do 67° livro "Perfis Parlamentares", que foi escrito pelo escritor, tradutor e jornalista Jason Tércio, livro público disponível na Camara dos deputados:
bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/13417/rubens_paiva_tercio.pdf



Trechos do livro que destaco:
"o mais notório e controvertido caso de desaparecimento político ocorrido durante os 21 anos de ditadura militar, exemplo mais gritante da exacerbação da violência do Estado.
Dezenas de reportagens foram escritas sobre esse episódio, inclusive em
diversos órgãos da imprensa internacional: New York Times, The Times,
Washington Post, Newsweek, Los Angeles Times, Miami Herald, L’Express."
(...)
"Já se tornou um clichê dos saudosistas da ditadura e de seus epígonos o argumento de que as brutalidades do regime militar na perseguição aos opositores – sobretudo os que pegaram em armas – foram males necessários, porque era uma “guerra”, e essas organizações não pretendiam democratizar o Brasil, mas implantar aqui uma ditadura comunista. Ainda se ouvem tolices como “Tivessem eles vencido, estaríamos hoje numa grande Cuba”, conforme afirmou um intelectual conservador em 2012 – 27 anos depois do fim da ditadura. Trata-se do mesmo discurso mistificador usado pelos golpistas em 1964 e cuja finalidade hoje é tentar justificar e legitimar as atrocidades praticadas. “Guerra”, neste sentido, é uma hipérbole ardilosa, pois absolve toda a violência praticada pelo Estado contra dissidentes."
(...)
Afora os debates sérios e polêmicos, a UEE também promovia atividades de lazer e cultura, como exposições de arte e bailes beneficentes, frequentados por Rubens e Eunice, que haviam se casado em 30 de maio daquele ano, ambos com 22 anos. Muito provavelmente eram os únicos cônjuges entre os estudantes do Mackenzie. Rubens já trabalhava meio período como diretor técnico no escritório de uma empresa de seu pai, a Companhia Paiva Madeireira, que comercializava cedro, pinho, caixeta, ingá e outras madeiras nobres. Desse modo, ele assumiu bem jovem as responsabilidades domésticas e profissionais, em vez da boemia estudantil, muito comum nessa fase da vida.
(...)
o grupo de Rubens começou a simpatizar com o PSB, um partido que defendia uma transição gradual para o socialismo, sem revolução armada, sem romper os princípios da democracia liberal. 
O lema era socialismo com liberdade. Seus filiados eram principalmente intelectuais, jornalistas, professores, escritores, artistas e profissionais liberais.
(...)
O jornal estava desativado e o momento era bastante oportuno para relançá-lo, porque
os grupos conservadores estavam determinados a conseguir a privatização da Petrobras.
(...)
Nesse mesmo ano Rubens fundou a sua empresa, S/A Paiva Construtora, com escritório na rua Conselheiro Crispiniano, centro de São Paulo. Ele era sócio majoritário e entre os minoritários, com um por cento das ações, estava Gasparian. O momento econômico era bastante favorável. A construção civil estava explodindo em São Paulo, na esteira do desenvolvimentismo juscelinista, e muitas obras públicas e privadas se espalhavam pela cidade, alterando a paisagem arquitetônica. A empresa se consolidou, mas Rubens não queria apenas construir prédios, escolas, pontes, viadutos. Sua inquietação política continuava.
(...)
No início de 1962, Rubens Paiva era um bem-sucedido empresário de 32 anos, 1,73m de altura, robusto e começando a engordar. Morava numa confortável casa na rua Pará, em Higienópolis, com Eunice e a prole: Vera, Eliana, Ana Lúcia (Nalu), Marcelo e Maria Beatriz (Babiu), com idades entre 2 e 9 anos. O sucesso empresarial se consolidara graças ao dinamismo de Rubens e à sua associação com profissionais respeitáveis e inovadores.
(...)
O resultado (das eleições) oficial demorou mais de um mês. Almino foi reeleito, e em São Paulo o PTB elegeu nove deputados federais. Rubens foi um deles, com 13.440 votos. Seu pai lhe telefonou feliz: “Pode vir, você foi eleito”. A eleição representou em sua vida uma virada muito maior do que ele imaginava.
(...)
O ingresso de Rubens no grupo foi imediato. Eram os mais empenhados na defesa do programa partidário, que incluía reforma agrária, defesa da indústria nacional, direito de greve, legislação trabalhista para camponeses, participação dos trabalhadores nos lucros das empresas. Queriam modernizar a arcaica estrutura do capitalismo brasileiro, fundada na agroexportação e na dependência: a economia se sustentava exportando matérias-primas e produtos agrícolas e importando manufaturados dos países ricos. As principais indústrias, com raras exceções, eram estrangeiras.
(...)
A oposição, contrária a qualquer tipo de reforma agrária, deslanchou uma campanha alarmista que, amplificada na imprensa, passou a confundir deliberadamente mobilização social e alteração constitucional com desordem, ilegalidade e comunismo. Esse discurso foi engendrado com a participação direta dos Estados Unidos desde o início. Exatamente no dia da abertura dos trabalhos do Congresso Nacional, o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, estava em 
Washington informando à Subcomissão de Assuntos Interamericanos, da Câmara dos Deputados, que havia infiltração comunista no governo João Goulart, nos sindicatos operários, na União Nacional de Estudantes e no Parlamento.
(...)
Mas ninguém difundia a revolução armada para derrubar o capitalismo. O PCB, além da pouca expressão eleitoral, já abandonara a ortodoxia marxista e pregava uma aliança com a “burguesia nacional”, como eram denominados os empresários nacionalistas que defendiam um desenvolvimento econômico autônomo e se opunham ao processo de desnacionalização das empresas brasileiras, como Fernando Gasparian e José Ermírio de Morais, senador pelo PTB.
(...)
Mas nos corredores e gabinetes havia rumores inquietantes, em torno do financiamento da campanha eleitoral do ano anterior – muitos milhões tinham jorrado estranhamente para centenas de candidatos
através de um esquema obscuro. Por isso, no dia 19 de abril, o deputado Paulo de Tarso apresentou um projeto de resolução com 145 assinaturas criando uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o financiamento eleitoral suspeito, com foco nas atividades do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes). Rubens foi escolhido pela bancada trabalhista para ser o vice-presidente da CPI. Ninguém ainda sabia, mas seria o maior escândalo de corrupção eleitoral da República até então, e com ramificações internacionais.
O Congresso Nacional viveria um dos momentos mais tensos de sua história. Enquanto prosseguia o ácido debate sobre a reforma agrária, foi instalada no dia 30 de maio a CPI do Ibad-Ipes, criada pela Resolução nº 10/1963, com prazo de seis meses para apurar a origem dos  recursos financeiros e o envolvimento das duas organizações na campanha eleitoral. A CPI foi composta por nove membros: deputados Peracchi Barcelos (PSD-RS), presidente; Rubens Paiva (PTB-SP), vice-presidente; Laerte Vieira (UDN-SC), relator; José Aparecido (UDN-MG), Anísio Rocha (PSD-GO), Eloy Dutra (PTB-GB), Regis Pacheco (PSD-BA), Arnaldo Cerdeira (PSP-SP) e Armando Rollemberg (PDC-SE). Como suplentes, os deputados Benedicto Cerqueira (PTB-GB), Benedito Vaz (PSD-GO), Arnaldo Nogueira (UDN-GB), Broca Filho (PSP-SP) e João Dória (PDC-BA).
(...)
No depoimento, Frederico Melo(ex-proprietário do jornal A Noite.) admitiu ter recebido cinco milhões de cruzeiros do Ibad, através da Promotion, para mudar a linha editorial do seu jornal e divulgar notícias e propaganda dos candidatos indicados. Um contrato fora assinado, no dia 2 de agosto de 1962, entre a Promotion e o jornal, para arrendamento total a partir daquele mês até as eleições. De governista, o jornal virou oposição. A Adep influenciava na editoria política, nos editoriais e até na diagramação da primeira página.
(...)
O plenário da Câmara ficou convulso no dia 19 de julho. Na primeira página do influente Correio da Manhã estava uma relação de 111 deputados que teriam sido eleitos com as dádivas do Ibad, a maioria da UDN e do PSD, mas cinco do PTB – Álvaro Lins, Padre Nobre, Celso Amaral, Hélcio Maghenzani e Rubem Bento Alves. Entre os do PSD estavam Armando Falcão, um dos mais intransigentes críticos do governo, e até o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli; da UDN, Aliomar Baleeiro, José Bonifácio, Oscar Correia, Herbert Levy e Emival Caiado, entre outros. O que causou maior constrangimento, mas não surpresa, foi a inclusão de cinco membros da CPI na lista: Laerte Vieira, Arnaldo Cerdeira, Anísio Rocha, Régis Pacheco, o suplente Benedito Vaz e o próprio presidente da comissão, Peracchi Barcelos, que já havia admitido ter sido beneficiado. O deputado João Mendes reagiu afirmando que o vazamento da lista para a imprensa era parte de uma campanha “que as esquerdas vêm intensificando para destruir as organizações que ainda defendem a democracia no país”
(...)
No palácio do Planalto suspeitou-se de motivação política na reivindicação dos militares. A agressão verbal a Jango fez com que, no dia seguinte à assembleia, o ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, determinasse a prisão do marechal Magessi por dez dias, no Forte de Copacabana, e de mais sete oficiais por trinta dias. Em seguida Jango ordenou a instauração de um inquérito policial-militar, com apoio de agentes dos serviços secretos das Forças Armadas, para investigar o envolvimento de militares com o Ibad. Os resultados seriam mantidos em sigilo.
(...)
Com a quantidade extraordinária de informações colhidas nos depoimentos, a CPI já tinha provas e claros indícios de que o Ibad havia injetado dinheiro e ajuda material na campanha de pelo menos 600 candidatos a deputados estaduais e 250 candidatos a deputados federais, além de alguns candidatos a governadores e vice-governadores. O mais difícil era obter provas documentais, embora as provas testemunhais fossem legalmente válidas, e contundentes. Helcio França, ex-tesoureiro da Adep (pedira demissão em março de 1963), em depoimento no dia 25 de julho, especificou a quantia que havia remetido a cada estado entre maio e agosto de 1962: ele contabilizara remessas para os  estados no montante de 850 milhões de cruzeiros, a maior parte usada nos meses pré-eleitorais. Denunciou que vinha sendo ameaçado de morte por telefonemas anônimos e confirmou que, pouco depois do início das investigações da CPI, ele e o ex-secretário-geral Arthur Oscar Junqueira haviam queimado registros contábeis sobre as operações.Uma informação fundamental ainda não se sabia com certeza: qual a origem do dinheiro usado pelo Ibad? Suspeitava-se de doações ilegais feitas por grandes empresas brasileiras e multinacionais americanas. Outra fonte suspeita era a CIA. 
(...)
Apesar dessas dificuldades, já era possível concluir que “O Ibad é a trama mais sinistra de nossa história republicana, uma conspiração contra a soberania do país”, como afirmou o deputado José Aparecido numa entrevista ao jornalista Paulo Francis. Assim como José Aparecido e outros  membros mais atuantes na CPI, Rubens Paiva também foi alvo de ataques dos envolvidos no esquema
(...)
Após ouvir 34 depoimentos, a CPI deixou como resultado um substancial relatório apontando os culpados pela corrupção eleitoral e com boas recomendações para evitar que se repetisse. Ninguém foi punido. O Ipes acabou em 1971, sem ter sido arrolado na CPI. Em 1965, Ivan Hasslocher foi morar em Genebra, Suíça. Em 1976, mudou-se para Londres e vinha ao Brasil apenas a passeio. Depois foi para os Estados Unidos, onde morreu em 5 de março de 2000, aos 79 anos.
(...)
Em épocas de crise política, a guerra psicológica é uma tática muito utilizada por governantes ou grupos de oposição. As técnicas incluem difusão de boatos e mentiras alarmistas sobre o adversário, infiltração de agentes provocadores para acirrar a agitação, distribuição clandestina de documentos e panfletos forjados atribuindo ações ao adversário (contrapropaganda), repetição de acusações falsas ou exageradas, sabotagens. Para dar credibilidade aparente a uma informação distorcida, atribui-se a uma fonte objetiva ou até a fontes do próprio inimigo visado. Tudo isso para influenciar a sociedade, seus valores, crenças, comportamento e ações. A CIA usou a guerra psicológica com extrema eficácia
nas suas missões clandestinas para desestabilizar governos legítimos.
Outro mecanismo fundamental na guerra psicológica são os meios de comunicação, usados para se plantarem notícias falsas ou facciosas, publicar artigos atacando ou desclassificando os adversários e influir na opinião da sociedade. Os grupos de oposição a Goulart lançaram a guerra psicológica como
parte de uma bem calculada ofensiva para desmoralizar politicamente o presidente, dividir os movimentos populares e espalhar o pânico do comunismo nas classes médias.
(...)
Após a queda de Bocayuva da liderança do PTB na Câmara, os fisiológicos saíram fortalecidos e a esquerda do partido ficou isolada, mas continuou participando da Frente de Mobilização Popular. O Grupo Compacto até pensou em deixar o PTB para formar um novo partido, mas a ideia durou apenas poucos dias. O quadro político foi ficando mais confuso. Quando o ministro da Educação e Cultura, Paulo de Tarso, pediu demissão e Jango anunciou sua intenção de discutir a situação do país com os governadores em audiências particulares no palácio Laranjeiras e no seu apartamento na avenida Atlântica, as esquerdas deduziram que ele estava se aproximando dos conservadores, conciliando com a direita a fim de se manter no cargo.
(...)
Mesmo sob bombardeio, Jango governava, tomando decisões importantes. No dia 17 de janeiro, ele assinou o decreto que regulamentava a Lei da Remessa de Lucros, com novas regras e um teto para a remessa de lucros e royalties das empresas multinacionais para os países de origem. Dois dias antes, os udenistas, que vinham repetindo a cantilena de que o presidente estaria planejando um golpe de Estado, acrescentaram um petardo que causaria muito estardalhaço. O presidente da UDN, deputado Bilac Pinto, distribuiu à imprensa um longo texto com uma grave denúncia, sem prova, mas divulgada com destaque por toda a imprensa. Dizia o deputado que “sindicatos rurais e elementos da orla marítima estão sendo armados e se prepara um golpe popular” e que já estava em curso a “guerra revolucionária”, para implantar uma “ditadura comunista” no país. O texto teorizava detalhadamente sobre as diferentes fases da guerra revolucionária e as técnicas utilizadas. Muita gente duvidou que Bilac Pinto, um advogado do interior mineiro, tivesse concebido o factoide. O jornalista Paulo Francis, fiel janguista, chegou a denunciar que o texto fora preparado por uma empresa norte-americana de relações públicas, sem citar o nome.
(...)
No final de janeiro de 1964, surgiu mais um motivo de preocupação para Jango, e pretexto para novos ataques da oposição: uma crise ética na Petrobras. O governo decretara o monopólio da empresa nas importações de petróleo, e a Esso, então principal truste internacional do setor, teria oferecido à estatal um suborno de trezentos mil dólares, para obter aprovação de um contrato de fornecimento de petróleo bruto por três anos. Dois diretores da Petrobras denunciaram que o presidente da empresa, general Albino Silva, havia aceitado a proposta por meio de uma carta de 22 de novembro de 1963, enviada ao representante da Esso, Howard Auld, sem aprovação prévia da diretoria e a preços superfaturados, o que resultaria em vultoso prejuízo para a Petrobras. O caso foi examinado também por uma comissão parlamentar de inquérito da Câmara, que fora instalada em maio de 1963, com prazo de  um ano, para investigar uma outra denúncia envolvendo desvios de verba na Petrobras. Os depoimentos eram realizados no palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro.
(...)
A missão de San Tiago Dantas para articular a Frente Ampla de Apoio às Reformas de Base se encerrou em fevereiro de 1964, quando ele entregou a Jango o plano escrito. O presidente enviou cópias aos dirigentes dos partidos aliados e San Tiago apresentou o programa à imprensa, numa entrevista coletiva no palácio Tiradentes, no Rio. Era um programa bastante amplo e democrático. Previa emendas à Constituição para viabilizar as reformas de base, que incluíam direito de voto aos analfabetos, elegibilidade para militares de todas as patentes, reforma agrária com indenização em títulos públicos, legalização do Partido Comunista (mediante revogação do artigo 58 da Lei de Segurança Nacional, que proibira o seu registro), anistia para os presos políticos (os sargentos rebelados), reforma tributária para que pessoas físicas pagassem de acordo com seus rendimentos, aplicação da legislação trabalhista aos trabalhadores rurais, defesa da indústria nacional, expansão de escolas públicas e manutenção da política externa independente. A aplicação de tudo isso implicava uma reforma ministerial, com participação do PSD.
(...)
As negociações foram interrompidas pelos preparativos para o comício de 13 de março, em frente à estação da Central do Brasil, centro do Rio de Janeiro. A entusiasmada multidão que compareceu ao comício comprovou que havia um grande apoio popular às reformas e ao presidente Goulart. Pesquisas do Ibope realizadas entre os dias 9 e 26 daquele mês, e sonegadas pela imprensa na época confirmaram isso. Em São Paulo, 66% dos entrevistados apoiavam a reforma agrária; no Rio de
Janeiro, 82%. Sobre o governo, 45% o consideravam ótimo e bom. Essas pesquisas só foram divulgadas em 2004. Poucas horas depois do comício, Jango cumpriu o que prometera e decretou a estatização das refinarias de petróleo e a desapropriação de terras às margens das rodovias e de açudes públicos federais, o que fez os opositores no Congresso Nacional lançarem a proposta de
impeachment. A palavra de ordem deles era: a saída de Jango ou o caos.
(...)
Ao se despedirem na porta da casa, o telefone tocou. San Tiago atendeu. Era um amigo avisando que o Forte de Copacabana, um dos focos de apoio a Jango, havia sido tomado por oficiais do Exército. Com o peito palpitando, Rubens e Gregori voltaram aos Correios. Não havia mais ninguém na sala. Depois souberam que Neiva Moreira e Max tinham sido presos. Agentes da Divisão de Polícia Política e Social, juntamente com soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica, estavam fazendo prisões em massa na cidade, invadindo sindicatos, entidades estudantis, empresas estatais – como a Petrobras – e órgãos do governo.
(...)
 souberam que o governador Carlos Lacerda havia dado uma entrevista a uma emissora de TV justificando o golpe com um rosário de mentiras sobre Jango (“maior latifundiário do país”, “montou uma célula comunista para entregar o Brasil à União Soviética”, “Darcy Ribeiro estudou tupi-guarani e chegou a reitor da Universidade de Brasília sem nunca ter sido professor de coisa alguma”), elogiou os generais golpistas e concluiu pateticamente: “Deus teve pena do povo, Deus é bom”.
(...)
A imprensa local estava censurada – soldados do Exército tinham ocupado as redações de jornais (inclusive sucursais), rádios e emissoras de TV, proibindo a publicação ou transmissão de qualquer declaração política. O Congresso Nacional estava cercado de soldados e o serviço de teletipo e telex da Câmara fora cortado. Ligações telefônicas interurbanas também estavam interrompidas.
(...)
Naquela madrugada, cerca de 3 horas, o senador Auro de Moura Andrade, presidente do Congresso, iniciou uma sessão conjunta extraordinária com 26 senadores e 152 deputados em plenário. Foi uma das mais tumultuadas sessões em toda a história do Congresso Nacional. Auro começou fazendo uma comunicação, mas já nas primeiras palavras foi interrompido por Bocayuva, que pediu uma questão de ordem, rejeitada, por intempestiva, até que o senador concluísse o comunicado. Diante da insistência do deputado petebista e da interferência de outros parlamentares governistas, Auro interrompeu a sessão por alguns instantes e reiniciou o comunicado, dizendo que o presidente Goulart “deixou, por força dos notórios acontecimentos de que a nação é conhecedora, o governo da República”. Brados de revolta o interromperam novamente. Doutel de Andrade chegou apressado e entregou a Moura Andrade um ofício que ele, Waldir Pires e Darcy Ribeiro haviam escrito minutos antes no gabinete da Casa Militar, no palácio do Planalto. O senador leu indiferente e, após veementes apelos do Plenário, passou o ofício ao primeiro-secretá- rio, senador Adalberto Sena, para fazer a seguinte leitura:
“Senhor presidente do Congresso Nacional, o senhor presidente da República incumbiu-me de comunicar a Vossa Excelência que, em virtude dos acontecimentos nacionais das últimas horas, para preservar de esbulho criminoso o mandato que o povo lhe conferiu, investido na chefia do Poder Executivo, decidiu viajar para o Rio Grande do Sul (palmas), onde se encontra à frente das tropas legalistas e no pleno exercício dos poderes constitucionais com seu ministério. Atenciosamente, Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil”. (Palmas e muito bem.)
O deputado Sérgio Magalhães levantou uma questão de ordem, argumentando que aquela convocação extraordinária e o comunicado que o presidente da sessão queria fazer não estavam contemplados no Regimento Comum. Moura Andrade lembrou um precedente ocorrido em 1961, quando o Congresso Nacional permanecera reunido em sessões permanentes para analisar a crise aberta com a renúncia de Jânio Quadros e o impedimento de João Goulart. Em seguida, Auro não deu mais a palavra a ninguém e falou com uma voz bem pausada, grave e fúnebre: 
“Atenção, o senhor presidente da República deixou a sede do governo, deixou a nação acéfala (gritos de protestos), numa hora gravíssima da vida brasileira, em que é mister que o chefe de Estado permaneça à frente do seu governo. Abandonou o governo (protestos indignados), e esta comunicação faço ao Congresso Nacional. (Protestos. Tumulto. Auro faz soar a campainha.) Esta acefalia, esta acefalia configura a necessidade do Congresso Nacional como poder civil, imediatamente tomar a atitude que lhe cabe nos termos da Constituição brasileira (palmas misturadas a gritos), para o fim de restaurar nesta pátria conturbada a autoridade do governo e a existência de governo. Não podemos permitir que o Brasil fique sem governo, abandonado. (Vaias. Tumulto.) Há sob a nossa responsabilidade a população do Brasil, o povo, a ordem. Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República! (palmas, vaias e gritos.) E nos termos do artigo 79 da Constituição, declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli! 
A sessão se encerra!”  
O golpe estava completo. A sessão durou pouco mais de dez minutos. Tancredo Neves, normalmente calmo, agitou furiosamente o braço direito na direção de Moura Andrade: “Canalha! Canalha! O presidente da República não precisa de licença do Congresso Nacional pra se ausentar de Brasília!”
No meio das imprecações, vaias e aplausos, o secretário-geral da Mesa, Paulo Affonso Martins de Oliveira, convocou quase inaudível os parlamentares para a posse de Ranieri Mazzilli no palácio do Planalto dali a poucos minutos. E Moura Andrade mandou desligar os microfones. Um deputado atirou o microfone do plenário na direção dele. O fio era curto e o senador não foi atingido. Vários deputados subiram os degraus até a Mesa e tentaram reabrir a sessão. No empurra-empurra, o grandalhão Rogê Ferreira, do PSB paulista, conseguiu abrir espaço e deu duas escarradas no paletó de Auro. Outro deputado tentou dar um soco no senador, mas atingiu o seu chefe de gabinete, Nerione Nunes Cardoso. Petebistas tentaram impedir que Auro deixasse o plenário. Nerione propôs saírem por uma porta de emergência que havia atrás da Mesa. O senador rejeitou com veemência: “Seu Nerione, um presidente do Senado não foge pela porta dos fundos!” 
(...)
O golpe não enfrentou resistência em nenhuma cidade, mais uma prova ostensiva de que a “ameaça comunista”, a “república sindicalista”, o “golpe de Jango” eram apenas fios de um novelo retórico no discurso mistificador. Tanto as organizações sindicais quanto os militares legalistas estavam desarticulados, ao contrário do que aparentavam, contrariando o otimismo do jornalista Paulo Francis, que, poucos dias antes do golpe, afirmou que haveria uma guerra civil se Jango fosse derrubado.
(...)
Rubens não se considerava muito visado pelos novos donos do poder. Tinha pouco mais de um ano de mandato, não fizera parte da cúpula do governo deposto nem era uma liderança nacional. Entretanto, integrava o Grupo Compacto, a Frente Nacionalista Parlamentar, mantinha contatos regulares com Jango e fora um veemente inquiridor, como vice-presidente da CPI do Ibad. Por isso cuidou de se esconder. No dia seguinte à partida de Waldir e Darcy, ele decidiu com Almino e Bocayuva sair de Brasília até a poeira baixar. Bocayuva sugeriu irem para uma fazenda no sul da Bahia, pertencente ao seu sogro, Ernesto Simões Filho, ex-ministro da Educação no segundo governo de Getúlio Vargas e dono do jornal A Tarde, em Salvador. Não há informações exatas sobre as circunstâncias e local de decolagem desse voo de Brasília, mas é certo que o próprio Rubens pilotou o avião. Ele tinha carteira de piloto expedida pela então Diretoria de Aeronáutica Civil, desde quando voava para supervisionar obras nas estradas. Pousou no Aeroclube de Salvador, a menos de um quilômetro do Aeroporto 2 de Julho, que estava ocupado por um regimento do Exército. Ali os três entraram num carro requisitado antecipadamente por Bocayuva. Na fazenda tiveram uma desagradável surpresa: os camponeses não sabiam nada do que estava acontecendo no país. O rádio noticiava, mas eles não entendiam a gravidade do que se passava. Depois de quatro dias na fazenda, ouviram pelo rádio, no programa Hora do Brasil, a transmissão de um discurso do deputado Marco Antônio. Como o Congresso continuava funcionando, decidiram voltar para Brasília. Rubens conseguiu aterrissar em local ignorado e os três sa- íram do avião sem ser vistos. Bocayuva e Rubens foram para a Câmara. Era dia 9 de abril e o pior ainda estava por acontecer.
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Bocayuva fez um contundente discurso no plenário: “Que fiquem esses chefes militares marcados com o estigma da traição à soberania do nosso povo, pelas medidas arbitrárias, pelo rasgar da Constituição, pela cassação de mandatos, segundo se anuncia”, disse num trecho – e foi para o seu apartamento. Ao abrir a porta da sala, deparou com oito policiais que o aguardavam, depois de arrombar a entrada de serviço. Levado preso para o Batalhão da Guarda Presidencial, ficou sozinho numa sala, sob vigia de um sentinela do lado de fora. O deputado Benedicto Cerqueira, ex-operário metalúrgico, trabalhador desde os 13 anos, também foi preso no mesmo dia em seu apartamento, diante de sua família. À noite a Câmara realizou uma sessão extraordinária, na qual o presidente em exercício, deputado Affonso Celso, do PTB fluminense, informou a prisão dos dois deputados. Uma comissão de deputados foi designada para procurar o Comando Militar de Brasília e solicitar esclarecimentos. A sessão foi suspensa até que a comissão trouxesse informações sobre a situação dos deputados. Após cerca de duas horas detido na sala, Bocayuva foi libertado. Cerqueira passaria a noite preso no batalhão do Exército.
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No início da tarde de 10 de abril, com 352 deputados no plenário, a sessão foi aberta pelo deputado Affonso Celso. Por volta de 16 horas, ele suspendeu a sessão, convidando os líderes dos partidos para uma reunião no gabinete da presidência da Mesa, “a fim de tomarem conhecimento de um documento importante”. Meia hora depois, Lenoir Vargas, do PSD catarinense e 2º vice-presidente, assumiu a presidência dos trabalhos – Affonso Celso tinha precedência, mas se recusou a fazê- lo por saber o que teria de anunciar. “Atenção, senhores deputados, a Mesa acaba de receber uma comunicação urgente, que passo a ler, para conhecimento do Plenário”, disse Lenoir Vargas, e leu o comunicado do Comando Supremo da Revolução, com uma lista de quarenta deputados (um deles suplente) cujos mandatos estavam cassados a partir daquele momento. Da UDN, havia Ferro Costa e José Aparecido. Comentou-se depois que o governador Magalhães Pinto fora ao Rio para tentar impedir a cassação de José Aparecido, mas em vão. A lista foi feita com a colaboração de um grupo de deputados udenistas. O nome de Rubens ainda não estava incluído. Lenoir encerrou bruscamente a sessão, sem considerar as diversas questões de ordem levantadas por diferentes deputados que tentaram suspender a decisão até que fosse ouvida a Comissão de Constituição e Justiça e concedido o direito de defesa aos cassados. A voracidade dos vencedores estava apenas começando. Na manhã seguinte, embora fosse sábado, houve uma sessão extraordinária, presidida também pelo deputado Affonso Celso, para a posse dos suplentes convocados. Todos os deputados presentes estavam “entre a perplexidade e a amargura”, como afirmou José Sarney, udenista moderado, que foi solidário com os cassados e criticou o “julgamento sumário”. Minutos depois, um novo comunicado do Comando Supremo da Revolução foi lido pelo secretário da Mesa, referente apenas à suspensão de direitos políticos, com uma lista de cem pessoas, incluindo os quarenta deputados cassados na véspera e personalidades políticas diversas, como João Goulart, Jânio Quadros, militares, membros da cúpula do governo deposto e seus aliados. Dessa vez, mais quatro deputados foram acrescentados, todos do PTB, Rubens Paiva entre eles.
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Quem lesse com olhos neutros os jornais nas primeiras semanas após o golpe, ficaria convencido de que o Brasil estava finalmente em paz, ingressando numa era de prosperidade, paz social, moralidade administrativa, e que o regime de exceção seria transitório. Muitos políticos democratas e liberais, intelectuais prestigiados e cidadãos comuns acreditaram sinceramente que após uma intervenção profilática, para colocar “ordem” no país, os militares devolveriam em breve o poder aos civis e as eleições presidenciais seriam realizadas na data prevista, outubro de 1965. Até líderes civis da quartelada acreditaram nisso, como Carlos Lacerda, imaginando que seria eleito presidente. Mas, como diz um personagem de George Orwell, em 1984, “Sabemos que ninguém toma o poder com a intenção de devolvê-lo. O poder não é um meio, é um fim”. E a natureza de todo regime autoritário é não se satisfazer apenas com a derrota política do adversário; é preciso tripudiar de todas as maneiras – moral, psicológica ou fisicamente –, até aniquilá-lo.  
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(... Na embaixada da Iuguslávia ...) Amigos e familiares iam visitá-los todos os dias, levando jornais, revistas, livros e notícias nada promissoras. As perseguições continuavam cada vez mais raivosas. Rubens ficou muito preocupado ao saber que um grupo terrorista pró-golpe havia metralhado a frente da casa de Fernando Gasparian em São Paulo, na rua México, no Jardim América. Ninguém foi atingido. Minutos antes, a dois quarteirões de distância, na rua Argentina, uma bomba explodira todos os vidros da frente da casa do empresário José Ermírio de Morais, senador do PTB e ex-ministro da Agricultura do governo Jango. Centenas de pessoas estavam sendo presas diariamente. No Rio, as embaixadas do México, Peru, Uruguai, Bolívia e Chile estavam lotadas de asilados brasileiros; empresas públicas faziam demissões sumárias de funcionários suspeitos de simpatia pelo governo deposto; diretorias de sindicatos estavam sendo substituí- das por interventores, entidades estudantis invadidas, e já havia denúncias de torturas psicológicas e físicas nos presos.
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“Eu prefiro morrer a ser torturada”, disse Vera Brant certa tarde na embaixada, ao lado de Rubens, Almino e Fernando Santana. “Eu também prefiro”, disse Rubens. Vera, uma extrovertida mineira radicada em Brasília desde o ano da inauguração, era bem relacionada nos círculos políticos da cidade e ia quase todos os dias visitar os asilados.
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Além de amigos, Rubens recebia visitas de sua mãe, seus irmãos e de Eunice, que de vez em quando ia com os filhos. Ou então ia só com a mãe de Rubens, levando alimentos não perecíveis, roupas, charutos e cartinhas das crianças, que tinham entre 3 e 10 anos.
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Na tarde de 15 de abril, todos pensavam que seria por pouco tempo. Em volta de um rádio portátil ouviram a transmissão ao vivo da posse de Castelo Branco, agora promovido a marechal, numa sessão conjunta no Congresso Nacional. Era o sexto presidente da República a ocupar o palácio do Planalto na cidade com quatro anos de existência. A imagem pública que se construiria de Castelo Branco era a de um militar moderado, boa formação intelectual. E ele correspondeu a essa imagem ao afirmar no seu discurso que “o remédio para os malefícios da extrema esquerda não será o nascimento de uma direita reacionária, mas o das reformas que se fizerem necessárias”. Quando prometeu, no mesmo discurso, entregar o cargo para o seu sucessor em 31 de janeiro de 1966, muitos brasileiros regozijaram-se. Significava que haveria a eleição presidencial prevista para outubro de 1965, que a intervenção militar seria curta e as perseguições políticas poderiam terminar depois da posse. Os asilados da embaixada iugoslava (e de outras embaixadas, no Rio) devem ter pensado até que nos próximos dias todos poderiam sair dali tranquilamente.
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Poucos dias antes da partida, amigos e familiares foram à embaixada se despedir. Eunice levou cartinhas das filhas para Rubens, que escreveu-lhes uma comovente carta de despedida, tratando pelos apelidos que tinham em casa. 
“Veroca /Cuchimbas /Lambancinha/Babiu e Cacasão. 
Recebi suas cartinhas, desenhos, etc.; fiquei muito satisfeito de ver que os nenês não esqueceram o velho pai. Aqui estou fazendo bastante ginástica, fumando meus charutos e lendo meus jornais.
Vocês aí fiquem bem boazinhas para mamãe, cuidando bem da casa e brigando pouco. É possível que o velho pai vá fazer uma viagenzinha para descansar e trabalhar um pouco. Vocês já sabem que o velho pai não é mais deputado? E sabem por quê? É que no nosso país existe uma porção de gente muito rica que finge que não sabe que existe muita gente pobre, que não pode levar as crianças na escola, que não tem dinheiro para comer direito e às vezes quer trabalhar e não tem nem emprego. O papai sabia disso tudo e quando foi ser deputado começou a trabalhar para reformar o nosso país e melhorar a vida dessa gente pobre. Aí veio uma porção daqueles muito ricos, que tinham medo que os outros pudessem melhorar de vida, e começaram a dizer uma porção de mentiras. Disseram que nós queríamos roubar o que eles tinham: é mentira! Disseram que nós somos comunistas que queremos vender o Brasil – é mentira! Eles disseram tanta mentira que teve gente que acreditou. Eles se juntaram – o nome deles é gorilas – e fizeram essa confusão toda, prenderam muita gente, tiraram o papai e os amigos dele da Câmara e do governo e agora querem dividir tudo o que o nosso país tem de bom entre eles que já são muito ricos. Mas a maioria é de gente pobre – que não quer saber dos gorilas – e mais tarde vai mandar eles embora e a gente volta para fazer um Brasil muito bonito e para todo mundo viver bem. Vocês vão ver que o papai tinha razão e vão ficar satisfeitos do que ele fez. 
Beijos do papai.” 
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Após 23 dias de viagem, o Bohinj atracou na cidade de Rijeka, em território iugoslavo. Os brasileiros ficaram alguns dias hospedados no hotel Jadran, passeraram bastante, depois prosseguiram de trem para Belgrado, a seis horas de viagem. Um funcionário do governo estava na estação para recebê-los e os acompanhou em dois carros para o hotel Slavija, onde foram recebidos com efusivos abraços por Rubens, Bocayuva e Ryff. 
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Ao contrário dos demais países socialistas do leste europeu, a Iugoslávia não era satélite da União Soviética – estavam rompidos desde 1955 – nem tinha um Partido Comunista autoritário e burocrático. Era governada por uma Liga dos Comunistas, formada pelos PCs das repúblicas federadas que compunham a nação – Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia. Era um socialismo pragmático, sem burocratização, sem aparelhismo estatal e com autogestão nas fábricas mediante conselhos de trabalhadores. O Parlamento tinha deputados eleitos pelo voto direto e por assembleias das diversas repúblicas. Havia propriedade privada, liberdade de imprensa e de religião, política externa independente, os habitantes e os visitantes estrangeiros podiam viajar livremente pelo país.
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No Museu da Guerra, os brasileiros puderam ver que os iugoslavos tinham sofrido muito mais que o Brasil, sob ocupações otomana e austríaca, uma ditadura monárquica sérvia e a invasão alemã nazista durante a II Guerra Mundial. A liderança do carismático Josip Broz “Tito” conseguia manter coeso um povo com tradicionais rivalidades étnicas e religiosas. Os sérvios eram cristãos ortodoxos, os bósnios eram muçulmanos, os eslovenos e croatas eram católicos, além de mais ricos e desenvolvidos. A Sérvia, a maior das repúblicas, era pobre. Sérvios e croatas se detestavam.
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As eleições presidenciais previstas para outubro de 1965 tinham sido canceladas e o mandato de Castelo Branco prorrogado.
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 Quando o avião para Montevidéu aterrissou no Galeão, ele disse à aeromoça que ia descer apenas para comprar cigarros e voltaria em poucos minutos. E foi para São Paulo.94 Antes de ir para casa, na rua Pará, procurou uma florista e comprou um buquê de rosas. Eunice tinha ido buscar as crianças na escola. Ele sentou-se numa escadinha na porta da cozinha e ficou esperando, com o buquê nas mãos. Quando Eunice chegou com as crianças, todos trocaram longos e emocionados abraços e beijos. “Feliz aniversário”, disse ele entregando o buquê a Eunice, que completou 35 anos no dia 7 de novembro. “Estou no Brasil e vou ficar no Brasil. Não quero exílio nem clandestinidade”. Estava finalmente em casa, após quase cinco meses ausente.  O aconchego da família e o reencontro com os amigos renovaram suas forças para enfrentar a tormenta que continuava açoitando o país – sucessivos inquéritos policial-militares contra estudantes, professores, intelectuais e trabalhadores, intervenções em sindicatos, mais cassações de mandatos parlamentares e de direitos políticos.
 (...)Um dos planos de Rubens, após retomar a direção de sua empresa, era atuar num projeto jornalístico envolvendo a recuperação da edição paulista da Última Hora. No dia do golpe, a porta do prédio onde funcionava a redação em São Paulo fora ocupada por soldados do Exército e o jornal deixara de circular durante 21 dias. Perdera popularidade e anunciantes, sobrevivia mal; seu proprietário, Samuel Wainer, estava exilado em Paris. Na condição de cassado, Rubens não queria assumir abertamente a direção do jornal. Procurou Gasparian, que tinha se mudado para o Rio, por causa de sua empresa, América Fabril. Os dois sanearam as finanças do jornal e conseguiram fazê-lo recuperar seus leitores e aumentar a circulação, mantendo a posição nacionalista discretamente, com destaque para assuntos de interesse dos trabalhadores, mas também noticiário policial. Contrataram Marco Antônio e o ex-deputado estadual pernambucano Carlos Luís de Andrade, também cassado, e um jovem aspirante a cineasta, Maurício Capovilla. O chefe de reportagem era o pernambucano Eurico Andrade. No expediente só constava o nome de Múcio Borges da Fonseca, como diretor. As matérias políticas eram discutidas no escritório da empresa de Rubens. Mas os órgãos de investigação e repressão do governo vigiavam diariamente todos os opositores, ostensivos ou discretos – políticos e ex-políticos cassados, jornalistas, advogados de presos políticos, empresários nacionalistas e funcionários, operários, estudantes, etc. Os passos de Rubens também eram espionados e o Dops fazia informes periódicos incluindo referências a ele. 
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No dia 6 de janeiro de 1971, Rubens escreveu novamente a Carlos em Nova York. Tratou de assuntos familiares, dos preparativos para a volta do irmão. Apesar dos entraves políticos, pessoalmente estava “remando sempre, muito animado”. Embora estivesse com a saúde boa e trabalhando todos os dias, teria apenas duas semanas de vida.  
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O desfecho do sequestro de Giovanni Bucher foi o catalisador da prisão de Rubens Paiva. O embaixador suíço foi libertado em 16 de janeiro de 1971, três dias depois que os setenta presos políticos exigidos para seu resgate embarcaram como banidos no aeroporto do Galeão, num Boeing da Varig com destino a Santiago do Chile. Enquanto centenas de soldados do Exército e da Polícia Militar, agentes dos órgãos de segurança e da Polícia Federal vasculhavam a cidade em busca dos sequestradores, vigiando aeroportos, estações de transportes rodoviários e ferroviários, fazendo barreiras nas rodovias próximas, revistando carros e passageiros, as atenções se voltaram também para o Chile. Com um regime socialista e democrático, era a nova meca dos exilados da América Latina. Os órgãos de segurança brasileiros acreditavam, erroneamente, que o governo de Salvador Allende incentivava cursos de guerrilha para chilenos, brasileiros e outros latino-americanos. O cotidiano dos exilados brasileiros em Santiago era atentamente espionado por agentes que trabalhavam na embaixada brasileira, sob a supervisão do embaixador, Antônio Cândido da Câmara Canto, um senhor de 60 anos, de ultradireita, bem relacionado com os militares chilenos que derrubariam Allende em 1973. Nas reuniões, festas e almoços dos exilados e banidos (e não só no Chile) havia quase sempre algum informante infiltrado e que repassava informações para os agentes, que eram lotados na Divisão de Segurança e Informações, criada pelo Itamaraty depois do golpe militar. “Esses agentes da ditadura lotados nas embaixadas seguiam os exilados, controlando seus passos e informando os cônsules e embaixadores. Muitas vezes os próprios embaixadores e cônsules eram os agentes da ditadura no exterior”, escreveu um dos banidos que embarcaram para o Chile naquela noite de janeiro de 1971.
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Mesmo que o conteúdo da carta para Rubens fosse um simples bilhete fraternal, seria entendido pelos agentes como mensagem codificada de perigosos subversivos. O erro cometido pelos exilados era irreversível e as consequências, fatais.
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O dia 20 de janeiro foi incomum em vários sentidos. Houve uma extraordinária coincidência de eventos diferentes, mas de tal modo correlacionados que poderiam servir como exemplo perfeito de sincronicidade, a definição do psicólogo Carl Jung para acontecimentos “sem relação causal, mas com o mesmo conteúdo significativo”. O dia amanheceu ensolarado, e logo cedo as praias da Zona Sul come- çaram a encher de banhistas, embora fosse quarta-feira. Era feriado local, dia do padroeiro da cidade, São Sebastião, um oficial do Império Romano que se converteu ao Cristianismo. Por ajudar clandestinamente os cristãos, os subversivos da época, foi perseguido e condenado à morte pelo imperador Diocleciano. Morreu por espancamento (não pelas flechadas) e seu corpo foi jogado numa vala comum para que não fosse localizado. A homenagem ao santo aconteceu, como todos os anos, na Paróquia de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, na Tijuca, bairro onde ficava o DOI-Codi. Centenas de fiéis foram pagar ou fazer promessas, assistir à missa e depois participar da enorme procissão, num percurso de cinco quilômetros até a nova Catedral Metropolitana, situada na avenida Chile. O Ministério da Aeronáutica comemorava naquele dia o aniversário de 30 anos de sua criação. A partir de 10 horas haveria uma solenidade no quartel da III Zona Aérea, para onde Rubens seria levado inicialmente. À tarde dois emocionantes jogos de futebol seriam realizados no estádio do Botafogo: preliminar com Flamengo e o time português Acadêmica de Coimbra, e Vasco e América na partida principal. E à noite, na TV Globo, o programa Discoteca do Chacrinha seria temático, com o título “Noite do Eu te amo meu Brasil” com cenário decorado em verde-amarelo, uma contribuição para a campanha ufanista lançada pelo governo e cuja frase mais simbólica era “Ninguém segura este país”. Recentemente Chacrinha tinha sido proibido pela Polícia Federal de atirar bacalhaus para a plateia... Na véspera, Rubens havia chegado de São Paulo, onde passara alguns dias a trabalho, e Eunice viera da fazenda com os filhos. Ao contrário da costumeira movimentação nos fins de semana e feriados, a casa estava silenciosa naquela manhã. Uma das filhas, Ana Lúcia, de 14 anos, tinha ido dormir na casa de uma amiga e ainda não chegara. A filha mais velha, Vera, de 17 anos, estava em Londres passando férias, hospedada na casa de Fernando Gasparian, que morava lá. Marcelo, de 12 anos, estava dormindo. Acordadas, somente Eliana, de 15 anos, e a caçula, Beatriz, de 10. Ainda na parte da manhã, Rubens recebeu a visita de dois amigos, Raul Ryff e Waldir Pires. Ficaram bebericando e conversando por algum tempo e depois os visitantes saíram. Waldir havia prometido à esposa almoçar em casa e Raul Ryff tinha plantão à tarde no Jornal do Brasil, onde trabalhava na editoria de pesquisa. Por volta de 11 horas, o telefone tocou. Uma mulher que não se identificou pediu para falar com Rubens e lhe disse que trouxera do Chile uma carta para ele e queria confirmar o endereço para levá-la. Sem entrar em detalhes, ela desligou em seguida. Era Marilene. O telefonema feito no Cisa foi gravado por agentes numa sala ao lado. Eles ficaram num estado de excitação típica de policiais quando descobrem uma informação decisiva ou a pista de um suspeito. Um deles afirmou que podiam invadir a casa, se fosse necessário. O chefe ordenou: “O homem está lá dentro, vamos invadir a casa”. Imediatamente foi convocada uma equipe encarregada de prisões e cercos. Ao receber o telefonema, Rubens não desconfiou de nada, pensou que fosse carta de um dos seus amigos exilados no Chile, como Almino Affonso. Os dois se comunicavam regularmente, por telefone e carta, a respeito do salvo-conduto que Rubens estava tentando conseguir através do Itamaraty. Cecília e Marilene foram transferidas ainda na parte da manhã para a III Zona Aérea, na rua General Justo, no Centro. Um aspecto relevante e nunca mencionado é que esse local não era usado para custódia ou interrogatório de presos políticos. A presença das duas mulheres e de Rubens ali foi uma exceção no histórico da repressão política. Por que elas foram transferidas para lá, em vez de continuarem no Cisa, para onde Rubens também poderia ser levado? A resposta não é muito difícil, sabendo-se que o comandante da III Zona Aérea era o brigadeiro João Paulo Burnier. Amável para a família e os amigos que recebia em sua casa, revelava no quartel um temperamento explosivo. Um coronel-aviador que trabalhou com ele, e o admirava, recordou: 
“Normalmente, enchia de assessores a sala de comando e passava a dar ordens simultâneas e, nesse caso, sempre havia alguém que não as entendia. Vinha, então, aquela famosa bronca e sempre alguém era preso para, logo depois, quando ele se acalmasse, ser solto”. Politicamente, Burnier era um dos líderes da extrema-direita militar, criador e primeiro chefe do Cisa e ex-chefe de gabinete do ministro Márcio de Souza e Mello, também extremista de direita. Portanto, a hipótese mais provável é que Burnier, depois de saber que as duas mulheres suspeitas tinham como contato um ex-deputado cassado que morava num sobrado de frente para o mar, pensou estar desvendando um importante elo da luta armada, envolvido numa possível conexão terrorista Brasil-Chile, e quis averiguar pessoalmente, embora não fosse mais a sua função. Ele deve ter ficado tão entusiasmado com a descoberta, pois ainda era influente na comunidade de informações, que nem a solenidade oficial programada para aquela manhã na III Zona Aérea o impediu de se envolver no caso.  
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Seis agentes do Cisa em trajes civis e fortemente armados bateram na porta da casa de Rubens. Uma das duas empregadas, Maria José, uma senhora que trabalhava para a família havia muitos anos, foi atender. O chefe do grupo perguntou se Rubens morava ali. Diante da confirmação, todos entraram apontando as armas e trancaram rapidamente a porta. A outra empregada, Maria do Céu, ficou estarrecida. Rubens tinha voltado da praia e estava com Eunice no escritório, sentados no sofá, com o ar-condicionado ligado, jogando gamão e bebendo suco de laranja. Maria José bateu na porta: “Doutor Rubens, têm uns homens na porta querendo falar com o senhor”. Ele ficou intrigado com a fisionomia assustada dela, saiu e voltou daí a pouco, mas abrindo apenas uma fresta da porta do escritório, para acalmar Eunice: “Não é nada, mulherzinha, não se assuste, fique calma”. A porta foi escancarada subitamente e entraram quatro homens com metralhadoras. Marcelo ainda dormia no seu quarto. Eliana tinha ido à praia. Ana Lúcia ainda não chegara da casa da amiga. Rubens e Eunice ficaram na sala com Beatriz e as duas empregadas, sob os olhares atentos dos agentes armados. O chefe do grupo informou que eram da Aeronáutica e tinham vindo buscar Rubens e Eunice para prestarem depoimento. Não apresentaram intimação nem identificação. Rubens procurou acalmá- los, pediu que guardassem as armas e concordou em acompanhá-los, mas sem Eunice, alegando que ela precisava ficar para tomar conta das crianças. O chefe do grupo concordou e Rubens subiu a escada para seu quarto a fim de trocar de roupa. Dois agentes o seguiram, enquanto os outros reviravam o escritório apanhando livros e agendas. Quando Ana Lúcia chegou, os agentes já tinham guardado suas armas, estavam sentados e ela não percebeu nada de anormal, porque seu pai recebia muitos amigos. Estranhou apenas o semblante muito sério de Eunice, sentada num sofá. Com Ana Lúcia estava sua amiga Cristina, em cuja casa havia pernoitado. Era enteada do jornalista Sebastião Nery, amigo de Rubens e que tinha trazido as duas de carro, mas como estava com pressa, ficara lá fora no carro, o que pode ter sido bom para ele, pois também era visado pelos órgãos de segurança, por ser de oposição ao governo. Ana Lúcia perguntou pelo pai e subiu ao quarto para falar com ele. Rubens já estava de terno e gravata. Ela disse que ia à praia com Cristina e queria emprestada uma camisa dele. Era a moda de praia na época. Depois de apanhar a camisa ela saiu com a amiga, sem serem incomodadas. Rubens apanhou sua carteira com documentos, dois charutos, e desceu com os agentes. Na sala ele disse ao chefe que gostaria de ir no seu carro. Ele tinha um Opala bege com capô marrom, mas, não se sabe por quê, preferiu ir no carro de Eunice, um Opel Kadett grená. Despediu-se dela, de Beatriz e das empregadas. Enquanto o chefe do grupo e outro agente o acompanhava, os quatro restantes permaneceram. Rubens ainda disse que a casa estava à disposição, que ele não tinha nada a esconder, mas que não assustassem as meninas. 
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Cecília e Marilene chegaram à III Zona Aérea conduzidas por agentes do Cisa e foram para o prédio principal, onde ficava a parte operacional do quartel e o gabinete do comandante Burnier, no segundo andar. Elas ficaram no terceiro andar, sentadas em um banco num corredor, sem capuz na cabeça. Isto se explica pelo fato de aquela unidade militar não ser, como já foi dito, usada para custódia de presos políticos. Também por isso não havia ali os instrumentos normalmente usados nos ritos de tortura dos interrogatórios. Enquanto permaneciam sentadas, Cecília e Marilene ouviram gritos de dor bastante altos, vindos de uma sala próxima, e de vez em quando homens em trajes civis saíam dessa sala e ficavam conversando baixo. Era Rubens sendo espancado, como verificou Marilene. Em certo momento, ela foi retirada do banco e levada para a sala de onde vinham os gritos. Um homem que ela não conhecia estava sentado atrás de uma mesa, com a camisa amarrotada, o rosto vermelho e assustado, olhos esbugalhados. Um agente disse ao homem: “Essa é a Marilene, que trouxe as cartas, você a conhece?” Rubens respondeu: “Não, nunca vi”. Os agentes deram bofetões no rosto de Rubens. Perguntaram a Marilene se o conhecia. Assustada, ela respondeu que nunca o vira antes e começou a chorar, dizendo “eu não sei quem ele é, não sei!”, e foi reconduzida de volta ao banco no corredor.115 Após cerca de meia hora, ainda ouvindo gritos de Rubens, as duas ouviram os homens que saíam da sala dizerem a palavra “aparelhão”. Cecília concluiu que se referiam ao DOI-Codi, porque seu filho que estava exilado no Chile lhe falara uma vez que “aparelhão” era a designação irônica dada pelos agentes, em contraposição aos “aparelhos” da guerrilha urbana. Ela entendeu também que falavam da falta de viatura e de uma procissão, referindo-se à procissão de São Sebastião, que estava complicando o trânsito na Tijuca, para onde iriam. Um dos homens, que entrava e saía da sala onde estava Rubens, foi reconhecido por Cecília. Era o major Nereu de Matos Peixoto, chefe de gabinete do comandante Burnier e casado com uma prima-irmã dela. Estava fardado. Ela se levantou e foi falar com ele. O major ficou surpreso, disse que a prisão dela “deve ser um equívoco”, e se retirou da sala, não mais retornando. Cecília ficou otimista e disse a Marilene que o major iria ajudá-las.
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Marcelo acordou e não desconfiou de nada. Para não assustá-lo, pois era ainda criança, Eunice falou que aqueles homens eram amigos de Rubens. O garoto até conversou amistosamente com eles. No meio da tarde, dois adolescentes foram à casa: Nelson Prado, neto do historiador Caio Prado Jr., e Renato, namorado de Vera. Mal entraram, foram detidos pelos policiais como se fossem perigosos guerrilheiros. Os dois foram levados para uma delegacia no Alto da Boa Vista, onde passaram a noite. Essa delegacia, chamada oficialmente Subseção de Vigilância, prestava apoio logístico ao DOI-Codi, fazendo triagem de presos políticos e detenções temporárias. Eunice pensou num meio de avisar a vizinha, Helena Arroxelas, de quem era amiga. Escreveu um bilhete, enfiou numa caixa de fósforo e pediu a Marcelo para entregar. Sem poder sair da casa, Marcelo deu um jeito de pular o muro do quintal para a casa vizinha e entregou o bilhete. Nele, Eunice dizia que Rubens tinha sido preso, “ninguém pode vir aqui senão é preso também”. No final da tarde, o telefone tocou. Era Carlos Alberto Muniz. Perguntou por Rubens, sem se identificar. Eunice falou que ele tinha viajado e num tom de voz que fez Muniz ficar com a pulga atrás da orelha. Ele agradeceu e desligou sem dizer mais nada. No começo da noite, outros quatro agentes do Cisa chegaram à casa para substituir os colegas. Quando Eunice perguntou o nome de um deles, com atitude de chefe, ele respondeu debochadamente que se chamava Dr. Stockler e era doutor em parapsicologia. Na III Zona Aérea, Rubens foi colocado no banco de trás de um carro. Estava algemado, rosto avermelhado, camisa amarrotada e com manchas de sangue, sinais evidentes de que fora bastante espancado. Minutos depois entrou Cecília, trazida por um agente, e sentou-se ao lado dele. Rubens arregalou os olhos ao reconhecê-la, colocou o dedo indicador nos lábios, sinalizando que deveriam ficar em silêncio. Quando o carro estava de partida, Cecília perguntou: “Quem são vocês?” “Somos das Forças Armadas”, respondeu um deles. “Pra onde vão levar a gente?” “Pro aparelhão.” Atrás seguiu um fusca com outros três agentes levando Marilene, de olhos vendados com um pano. Eles manifestaram preocupação com um possível congestionamento do trânsito na avenida Presidente Vargas, por causa da procissão que atraíra cerca de trinta mil pessoas. Algumas ruas da Tijuca ainda estavam interditadas. Durante o trajeto, um agente no carro onde estavam Rubens e Cecília se comunicou pelo rádio da viatura usando o codinome de “Raposa Cinzenta”, dirigindo-se a um colega também com codinome de animal. A conversa era sobre o trânsito e a procissão. Em outra chamada, “Raposa Cinzenta” contatou um colega sobre uma operação numa casa na Zona Sul, certamente a casa de Rubens, e ordenou: “Quem está dentro não sai”. Quando o carro chegou à Tijuca, um agente cobriu os rostos de Rubens e Cecília com toalhas (como foi dito, não havia capuzes na III Zona Aérea), e depois de dar várias voltas para fazer os presos perderem a noção de tempo e espaço, entrou no DOI-Codi.  
O nome DOI-Codi, órgão criado no Rio de Janeiro em 1970 e em diferentes capitais do país, é uma convenção linguística criada pela imprensa. Oficialmente era apenas DOI (Destacamento de Operações de Informações), subordinado ao Codi (Centro de Operações de Defesa Interna), que funcionava em outro prédio, bem distante, no quartel-general do I Exército, no Centro. A função do Codi era burocrático-administrativa: analisava as informações recebidas e coordenava as ações executadas pelos órgãos de segurança: DOI, Cenimar (Centro de Informações da Marinha), Ciex (Centro de Informações do Exército) e Cisa, mantendo vínculos com todos os demais organismos policiais e militares. No Rio de Janeiro, o DOI-Codi foi instalado na avenida Barão de Mesquita, dentro do 1º Batalhão da Polícia do Exército, usando as dependências de um prédio nos fundos, no qual funcionava o PIC (Pelotão de Investigações Criminais). Todo batalhão de Polícia do Exército (PE) possuía um PIC, para apoiar as unidades dos comandos militares das respectivas áreas nas investigações criminais, técnicas e científicas, controlar e manter os presídios dos batalhões, fazer prisões, transportar e manter sob custódia os presos à disposição da Justiça Militar, além de fazer segurança a pedido dos comandos militares. O comandante do PIC carioca nessa época era o primeiro-tenente Armando Avólio Filho. Como o DOI-Codi não possuía instalações próprias, utilizava a infraestrutura e o presídio do PIC. Embora o DOI-Codi não tivesse nenhuma relação funcional com o batalhão da PE, o comandante do quartel, coronel de Infantaria Ney Fernandes Antunes, recebia diariamente uma relação nominal de todos os presos recolhidos à carceragem, tanto dos presos disciplinares (militares) quanto dos presos políticos, e tinha livre acesso a estes, às vezes participando de interrogatórios. A guarda dos presos políticos era feita por soldados e cabos do batalhão da PE. A criação de órgãos de inteligência e combate às oposições, como os DOI-Codi, foi o momento mais bem estruturado e organizado do aparato repressivo da ditadura, pois permitiu ao Estado militar manter uma campanha coordenada e sistemática contra a guerrilha, o que resultou em 
vitória, mas recorrendo a violações de todos os direitos humanos, inclusive prisões clandestinas, tortura, assassinatos e ocultação de cadáver. Trabalhavam no DOI-Codi policiais civis do Dops e da Polícia Federal, policiais militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Todos os agentes usavam codinomes e os que eram militares se vestiam à paisana e deixavam o cabelo crescer normalmente. Os interrogatórios eram dirigidos por oficiais militares, que também planejavam as ações de repressão, com base nas informações trazidas pelos agentes e informantes civis infiltrados nas organizações, sindicatos e universidades. O chefe do DOI-Codi, quando Rubens esteve lá, era o major Francisco Demiurgo Santos Cardoso, que diariamente fazia a relação nominal dos presos políticos, em três vias: uma ficava com ele, outra era enviada ao comandante do PIC e a terceira ao Comandante do I Exército, general Syzeno Sarmento. Os veículos usados pelos agentes do órgão não entravam no quartel da PE pelo portão principal, na rua Barão de Mesquita; tinham uma entrada exclusiva, pelo portão da rua transversal, rua Pinto de Figueiredo, em frente à praça Lamartine Babo. Quando chegou o carro que levou Cecília e Rubens, um agente trocou as toalhas por capuzes. A venda nos olhos de Marilene também foi trocada por capuz. Os três presos saíram dos carros caminhando e foram conduzidos pelos braços para dentro do prédio, onde um agente lhes ordenou que ficassem de frente para uma parede, com os braços levantados. Era a sala de identificação. Um outro agente, empunhando um cassetete na mão, começou a berrar histericamente: “Levantem os braços! Mãos na parede!” Num local próximo tocava uma música de Roberto Carlos, “Jesus Cristo / Jesus Cristo / Jesus Cristo, eu estou aqui”, misturada com gritos infernais vindos do andar de cima. Cecília foi a primeira a ser fichada, fotografada, identificada com impressões digitais e colocada novamente em pé de frente para a parede. Minutos depois ela ouviu Rubens soletrar seu sobrenome para o escrivão: “B-e-y-r-o-d-t”. Rubens também foi reconduzido para junto das duas mulheres diante da parede. Após algum tempo, Cecília sentiu dor nos braços de tanto ficarem erguidos, e também porque ela estava cansada, fraca, não havia comido nada o dia todo. As pernas bambearam e ela desfaleceu. Rubens a amparou, mas ao fazer isso foi agredido furiosamente por agentes. Marilene gritou apavorada: “Vocês vão matá-lo! Isso é tortura!” Um dos agentes a agarrou: “Aqui não tem tortura. Não existe tortura no Brasil! Está entendendo? Isto é uma guerra!” Rubens foi retirado da sala e Cecília ficou no chão, desmaiada. Quando recobrou os sentidos, estava numa outra sala, sentindo uma injeção sendo aplicada num braço por um rapaz que tinha ao lado um aparelho de pressão arterial. Um dos agentes perguntou ao rapaz: “Será que ela aguenta?” “Melhor deixar pra amanhã”, disse o rapaz. Marilene ouviu berros de Rubens vindos de uma sala fechada. Ela soube que era ele porque sua voz angustiada dizia: “Eu não conheço Marilene, não sei nada sobre o Chile, sobre cartas”. Momentos depois, Cecília voltou a ser interrogada, numa sala com luz forte sobre a cabeça, sem capuz. Os agentes lhe perguntaram a qual organização terrorista ela pertencia. Cecília negou pertencer a qualquer organização política. Um dos agentes, o mais agressivo, era louro, olhos azuis, com esparadrapo tapando seu nome na camiseta, e dava murros na mesa, ameaçando-a com choques elétricos, mostrando um aparelho e ao mesmo tempo fazendo Cecília repetir a frase: “Não há torturas no Brasil”. Em seguida lhe mostraram um álbum de fotografias para que ela reconhecesse algumas pessoas. Ela só reconheceu um homem chamado Ferreira, que morava no Chile, ela estivera na casa dele, almoçando uma feijoada. Os agentes também perguntaram se ela conhecia o homem com quem viera da III Zona Aérea, e Cecília disse que era pai de alunas dela no Sion, mas tinham contatos esporádicos, só quando ele buscava as meninas no colégio, e a trazia de carona para casa em Copacabana. Os agentes estavam ansiosos para obter informações que levassem aos sequestradores do embaixador suíço, ou descobrir uma rede subversiva ligada ao Chile. Ameaçaram a família de Cecília, especialmente suas filhas, o que a deixou em pânico. Ela foi novamente colocada de frente para uma parede com os braços erguidos, sendo proibida de encostar as mãos. Após cerca de meia hora, foi conduzida encapuzada para uma cela no segundo andar. Marilene, após identificada, foi levada também encapuzada para outra cela, onde ficou sozinha. Rubens também estava numa cela próxima. As celas não tinham iluminação, apenas um velho colchão de palha sem lençol, sanitário turco, chuveiro e uma portinhola gradeada. O oficial de dia era o primeiro-tenente Luiz Mário Valle Correia Lima, encarregado de verificar todas as noites, durante a Revista do Recolher, a situação dos presos disciplinares recolhidos ao PIC e dos presos políticos do DOI-Codi.
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No mesmo dia 20, a seção carioca do Serviço Nacional de Informações foi informada da prisão de Rubens e das duas mulheres. Sobre Rubens, o informe declarou que ele tinha sido “cassado por subversão” e fora levado para “o QG da 3ª Zona Aérea e de lá conduzido juntamente com Cecília e Marilene para o DOI”. Um soldado que fazia a guarda dos presos acendeu uma lanterna forte na portinhola de Cecília e perguntou seu nome completo. Segundos depois ela ouviu a voz de Rubens numa cela próxima também dizendo seu nome completo ao soldado. Esse procedimento foi repetido diversas vezes. O objetivo era não deixá-los dormir. Cecília ouviu também a voz de Rubens, muito fraca, pedindo água e um médico. Enquanto isso, Marilene estava de volta ao interrogatório, sendo torturada com choques elétricos, socos nas costas e ameaças de estupro. Não conseguiu dormir a noite inteira. O interrogatório de Rubens seguiu até provavelmente o começo da madrugada. Os métodos de interrogatório mais usados no DOI-Codi para forçar os presos políticos a falarem eram espancamentos de diferentes tipos e palmatória, pau de arara, choque elétrico, afogamento, cadeira de dragão e coroa de cristo. Pode-se inferir sem risco de exagero que Rubens passou por alguns desses procedimentos, além dos espancamentos, pelo estado em que seu corpo foi visto pouco antes de morrer.  
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Por volta de 2 horas da madrugada de 21 de janeiro, o médico e segundo-tenente do Exército Amílcar Lobo foi acordado por um telefonema em seu apartamento, na Tijuca. Do outro lado da linha estava o capitão Manoel Anselmo, da Polícia do Exército, chamando-o para um atendimento urgente no quartel. No seu trabalho o médico usava o codinome de “Carneiro”. Cumpria expediente de manhã dando consultas aos efetivos do quartel e examinando as condições clínicas dos presos políticos submetidos a interrogatórios violentos. Chegando lá, Amílcar Lobo foi levado pelo capitão Anselmo para o PIC, onde foi recebido pelo coronel Ney Fernandes Antunes, um homem de cerca de 40 anos, magro e alto, voz grave. Subiram para a carceragem no segundo andar. Rubens estava na última cela do corredor, no lado direito. Deitado de costas numa cama de campanha, nu, respirava com dificuldade, ofegante. O coronel Ney Fernandes informou que o homem – não disse o nome – estava reclamando de “dores no abdômen”. Amílcar Lobo se agachou e começou a examiná-lo. Ficou abismado, nunca atendera ali um preso em condições físicas tão deploráveis. Tinha sido muito espancado, estava com o corpo marcado de hematomas e equimoses: no supercílio, no canto esquerdo da boca, no peito, nos braços, na barriga e nas pernas; a pele estava pegajosa de suor, a testa e a palma das mãos transpiravam. Ao colocar o estetoscópio no peito dele, Amílcar o ouviu balbuciar: “Rubens... Paiva...”. O médico não sabia quem era. Rubens se queixou de dor na barriga. O médico apalpou o abdômen, estava rígido, sintoma de hemorragia interna devido a rompimento de algum órgão: fígado ou baço. Amílcar Lobo o virou de costas: mais manchas roxas de equimoses. Tinha sido muito espancado. Depois que o médico terminou o exame, Rubens repetiu em voz baixa o seu nome: “Rubens... Paiva...”. Carneiro disse ao coronel que o abdômen estava rígido demais, parecia uma tábua, e que algum órgão interno estava rompido: “Ele precisa ser internado agora”. Mas o coronel queria continuar o interrogatório: “Não posso internar, está sendo interrogado. Preciso fazer mais umas perguntas. Esse cara é quente, doutor, tem ligação com subversivos brasileiros no Chile”. “É melhor dar uma parada. Se ele não for pro hospital, vai ter poucas horas de vida. As chances de sobreviver são de vinte por cento.” O coronel insistiu: “O chefe mandou completar as perguntas que ele deixou por escrito”. “Esse preso não é da PE?” “Não, é do DOI.” “Então resolva aí. Eu posso esperar, se quiser. Se a hemorragia for no baço, ele ainda pode se salvar.” “Vou telefonar ao chefe. Se ele autorizar, a gente manda o homem pro hospital do Exército.” Após quinze minutos dentro da cela, o médico foi dispensado e saiu. Ele deixou o DOI-Codi aproximadamente às 2h50. Pouco tempo depois, numa das celas no corredor onde estava Rubens, um preso ouviu uma movimentação incomum àquela hora da madrugada. Edson Medeiros, médico acusado de envolvimento no sequestro do embaixador Giovanni Bucher, seria o encarregado de prestar eventual atendimento aos sequestradores. Ele percebeu dois soldados passarem na frente de sua cela arrastando o corpo de um homem corpulento, e ao ser jogado dentro da cela vizinha, que estava vazia, o baque fez um barulho como se fosse saco de cimento. O homem ainda gemia.  Pouco depois, Edson viu quatro homens apressados que pararam diante da cela vizinha e ficaram conversando em voz baixa. Edson entendeu repetirem a palavra “Brasília”, algo como “ordem de Brasília, telefonaram de Brasília”, e se retiraram afobados.123 De manhã, Amílcar Lobo voltou para trabalhar no horário normal. Chegou ao quartel às 7h30 da manhã e no pátio cruzou com o tenente Armando Avólio Filho, que tinha o codinome de “Apolo” e participara do interrogatório de Rubens. “E o preso, Avólio?”, perguntou o médico. “Aquele que você veio ver? Morreu.” “Aqui ou no hospital?” “Aqui mesmo. O pessoal pensou que ele ainda podia falar alguma coisa. Morreu durinho...” O médico deduziu que Rubens morrera entre 3 e 7 horas de 21 de janeiro, dentro do DOI-Codi. Depois de fazer o atendimento de rotina na enfermaria, ele foi para sua sala, onde apareceu o capitão Manoel Anselmo, que o tinha apanhado em casa de madrugada. “Aquele cara que você atendeu de madrugada morreu, sabia?”, disse o capitão. “Eu soube. O nome era Rubens Paiva.” “Você sabe o nome dele?” O capitão estranhou porque era proibido revelar nomes de presos nas conversas, mas continuou: “Foi deputado. Um cara quente. Estava com cartas de subversivos do Chile. Mas não se meta nessa história”.
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O chefe do grupo, “Dr. Stockler”, atendeu respondendo com poucas palavras o que parecia ser uma ligação de um oficial superior. Desligou e se dirigiu a Eunice dizendo que a casa seria liberada, mas ela iria prestar um depoimento, e Eliana também. Eunice ficou espantada e tentou evitar que a filha a acompanhasse, dizendo que era adolescente, só tinha 15 anos, mas o agente respondeu que a garota precisava explicar um trabalho escolar que havia escrito. Talvez eles tenham escolhido Eliana por ser a filha mais velha na casa, já que além dela só havia Marcelo e Beatriz. Outra hipótese é que Eunice e Eliana foram presas para se desmobilizar a família enquanto era preparada a versão da “fuga”. Mas o fato de saberem que Eliana havia escrito um determinado trabalho escolar indica que até em colégios católicos de meninas os órgãos de segurança tinham informantes. Eunice subiu para o quarto de Eliana e a acordou. As duas se vestiram e se sentaram no banco de trás de um fusca azul dos agentes. No trajeto, um deles se comunicava pelo rádio com um colega chamado “Grilo”, avisando que estava a caminho. Os agentes gostavam de usar codinomes de animais. Na praça da Bandeira, próxima ao estádio do Maracanã, o fusca parou e um dos agentes falou: “Desculpa, mas vamos cobrir a cabeça de vocês”. Elas foram encapuzadas. Eunice começou a ficar muito preocupada. No DOI-Codi, Eunice e Eliana foram conduzidas para uma sala, revistadas detalhadamente e despojadas de seus pertences. Em seguida fotografadas e identificadas. Encapuzadas novamente, foram sentadas em um banco, próximas uma da outra, mas sem saber que estavam juntas, pois não viam nada e não podiam falar. Ouviam burburinho de vozes masculinas e gritos. Assim permaneceram até o final do dia, em silêncio, respirando com dificuldade sob o capuz no calor de quase 40º, sem beber nem comer nada.
Era começo da noite quando soldados as conduziram para a carceragem, no segundo andar, retiraram os capuzes e as trancaram sozinhas em celas separadas, cubículos de três metros quadrados. As duas passaram a noite sem dormir direito, com medo e ouvindo gritos torturantes ecoando pelo prédio. Sem duvidar de que havia frequentes torturas de presos ali, pode-se aventar que houvesse também gravações de gritos colocadas para o recém-chegado ouvir, como parte da tortura psicológica inicial, porque quase todo preso político que ficou no DOI-Codi relata gritos desesperados que ouvia ao chegar, independentemente do horário. Ana Lúcia voltou para casa naquela tarde e começou a perceber a gravidade da situação ao encontrar só Beatriz e Marcelo. Uma das empregadas lhe contou que sua mãe e Eliana tinham saído com os homens, e sua avó materna, Olga, estava vindo de São Vicente, onde morava. Bocayuva foi à casa de Rubens para saber informações e se ofereceu para ajudar no que fosse necessário. À noite, antes de irem para a cama, Beatriz, Marcelo e Ana Lúcia conferiram se as portas e janelas estavam trancadas, algo que nunca faziam. Ana Lúcia dormiu com a avó no quarto dos pais. Pela primeira vez, estavam com um estranho sentimento de solidão. 
(...)
Diversas explicações, além do episódio das cartas, já foram divulgadas como causas da prisão e morte de Rubens Paiva. Um ex-sargento da Aeronáutica, Antônio Carlos Dias, afirmou:
“Ele havia contrariado um setor das Forças Armadas ao denunciar, no começo da década de 1960, as mordomias de adidos militares nas embaixadas da França e dos Estados Unidos. Muita gente perdeu dinheiro e o Rubens ganhou inimigos, que depois chegaram ao poder”.
Já o historiador Carlos Fico tem uma outra versão: “Ele pagou com a vida não pela militância política, que era pouca, mas por ter denunciado o esquema de comissões da obra da Ponte Rio-Niterói, cujo cabeça era o coronel Mário David Andreazza. Esse é o motivo da execução. (...) A cúpula do Cenimar (sic) decidira abater Paiva em represália à campanha que estava movendo contra o resultado da concorrência”. 
A versão do ex-sargento pode ter sido apenas um motivo a mais para que Rubens fosse considerado inimigo de alguns integrantes do establishment militar. Quanto à versão do respeitável historiador, há equívocos: a militância política de Rubens, como vimos, não era pouca, se considerarmos que ação política não se restringe a um mandato parlamentar; a “cúpula do Cenimar” não teve nada a ver com a prisão e morte de Rubens; e a possível corrupção nas obras da Ponte Rio-Niterói (a oposição tentou criar na Câmara dos Deputados uma CPI para investigar as irregularidades) não foi mencionada sequer de passagem em nenhum dos documentos e reportagens que compõem o dossiê deste caso, e isso não seria motivo para matar Rubens, inclusive porque denúncias de corrupção não assustavam o governo. Notícias assim não saíam publicadas na imprensa, eram censuradas oficialmente ou autocensuradas pelo próprio jornalista ou seu editor, que omitia informações por cumplicidade ou por receio da repressão na época. Todos esses fatores citados foram partes de um conjunto de ações praticadas por Rubens e que o deixaram visado, desde a sua participação na ala esquerda do PTB, depois como vice-presidente da CPI do Ibad, como deputado presente em atos políticos pró-reformas e mobilizações populares, além de ser francamente de oposição à ditadura. Na época em que ele foi preso, até escrever um simples artigo em jornal podia resultar em processo pela Lei de Segurança Nacional, como aconteceu com o ensaísta e crítico literário Otto Maria Carpeaux, por causa do artigo “FMI: Fome e Miséria Internacionais”, publicado no jornal carioca O Sol, no qual os dirigentes do Fundo Monetário Internacional eram qualificados de “agiotas da ditadura militar”. Sempre que alguém morria sob custódia de um órgão de repressão, negava-se que ele tivesse sido preso ou alegava-se suicídio, morte em confronto armado ou atropelamento. Mas a família de Rubens testemunhara a sua prisão, o corpo tinha muitas marcas de violência e ele não era nenhum guerrilheiro que poderia ter trocado tiros com a polícia. Decidiu-se forjar uma fuga, a mesma tramoia usada no próprio DOI-Codi carioca menos de um mês antes, numa operação bem semelhante: o jovem Celso Gilberto de Oliveira foi preso pelo Cisa no dia 10 de dezembro de 1970 e levado para o DOI-Codi. Após vinte dias de interrogatórios violentos, “fugiu”, e está desaparecido até hoje. Quanto à versão da “fuga” de Rubens Paiva, acabou se tornando uma assombrosa teia de mentiras, fraude e falsos testemunhos como raramente se viu na política brasileira.
 (...)
Por todos os padrões morais de qualquer época, a pior das mentiras é sem dúvida aquela que tem a finalidade de encobrir um crime, e pior ainda quando é uma mentira oficial, escrita, assinada, carimbada e rubricada por altas autoridades para negar um homicídio com ocultação de cadáver. Foi o que aconteceu no caso Rubens Paiva. E a mentira adquiriu uma dimensão institucional porque, mesmo sendo uma história estapafúrdia, que contrariava o bom senso e a lógica, foi endossada pelas principais instituições do país – Superior Tribunal Militar, Legislativo (o partido governista, Arena), Executivo (Ministério da Justiça), Exército e Aeronáutica. Trata-se de um emblemático exemplo de mentira política e manipulação da opinião pública. A teia de mentiras começou a ser tecida no dia 22 de janeiro por um certo capitão “Aranha” (mais um com codinome de bicho, e bem apropriado), na verdade Raimundo Ronaldo Campos, que escreveu o seguinte ofício ao chefe do DOI-Codi, major Francisco Demiurgo Santos Cardoso:
“Rio de Janeiro, GB, 22 Jan 71 
De: Cap Oficial de Operações 
Ao Sr Maj Chefe DOI/I Ex 
Assunto: Ocorrência (Participa) 
Participo-vos que às 04:00 horas do dia 22 jan 71, em consequência das informações prestadas pelo cidadão Rubem (sic) Beyrodt Paiva, levei-o acompanhado da equipe da Bda Aet (Brigada Aeroterrestre) para indicar uma casa onde poderia estar elemento que trazia correspondência do Chile. O Sr Rubem não conseguiu identificar a casa e ao regressar, na pista de descida ao Alto da Boa Vista, lado da Usina, o Volks da equipe do DOI foi interceptado por dois Volks, um branco e outro verde ou azul-claro, que violentamente contornaram a frente do carro do DOI disparando armas de fogo. A equipe rapidamente abandonou o carro refugiando-se atrás de um muro respondendo ao fogo. O carro logo incendiou-se. O Sr Rubem saiu pela porta esquerda, atravessou a rua refugiando-se atrás de um poste enquanto elementos desconhecidos, provavelmente terroristas, pelo tipo de ação desencadeada, disparavam de atrás dos carros sobre o nosso carro, ele corria para dentro de um dos carros os quais logo partiam em alta velocidade. Ao cessarem os tiros para o embarque dos terroristas, aproveitamos e atiramos violentamente conseguindo quebrar o vidro traseiro de um dos carros e com certeza atingindo um dos elementos que com um grito caiu ao chão, sendo arrastado para dentro do carro já em movimento. Desceram a estrada em alta velocidade sob uma saraivada de balas disparadas pela equipe. O carro do DOI a essa altura já ardia completamente. Foi participado ao 19º DP e ao Corpo de Bombeiros que compareceram ao local, porém não conseguindo salvar o carro. Na hora em que a equipe abandonou o carro foram deixados no seu interior dois carregadores de metralhadora 9mm Beretta. Não houve feridos por parte dos elementos do 
DOI. RAIMUNDO RONALDO CAMPOS – 
Cap Oficial de Permanência”  
(...)
Fora as contradições, discrepâncias e incongruências mencionadas até aqui, a farsa continha cinco pontos absolutamente inverossímeis que nunca foram abordados pela imprensa: 1) Rubens tinha família, dois empregos e vários amigos, entretanto não entrou em contato direto ou indireto com ninguém; 2) qualquer organização clandestina que tivesse praticado uma operação tão audaciosa, corajosa e bem-sucedida, já no dia seguinte assumiria a proeza publicamente e com muito orgulho, pois seria um ótimo estímulo para o moral da resistência armada; 3) uma fuga espetacular de um preso político do principal órgão de repressão do Rio de Janeiro seria mantida em rigoroso sigilo pelo governo, censurada na imprensa – por ser desmoralizante e para não prejudicar as investigações e buscas –, mas a imprensa foi até convidada a fotografar o fusca incendiado; 4) uma ação desse tipo exigiria um planejamento com antecedência de alguns dias, os atacantes precisariam ter informações exatas sobre o horário que o carro com Rubens sairia e o percurso que seguiria. Ele chegou ao DOI-Codi no dia 20, só esteve com os agentes que o interrogaram e a “fuga” teria acontecido na madrugada do dia 22; 5) fugas de qualquer presídio só acontecem com a conivência de funcionários internos. Endossar categoricamente a “fuga” de Rubens, como fizeram as autoridades militares, implicou admitir que o DOI-Codi carioca era um órgão incompetente e corrupto, inclusive porque menos de um mês antes acontecera a outra “fuga”, de Celso Gilberto de Oliveira. 
(...)
Eunice permaneceu doze dias presa, sendo interrogada dia e noite. Na sala havia pau de arara, fios desencapados ligados em uma tomada, sangue no chão. Queriam saber se ela era comunista, se Rubens era comunista, quem eram os amigos dele. Mas queriam saber principalmente sobre as cartas do Chile, com quem Rubens se correspondia. Só então ela ficou sabendo da prisão de Cecília e Marilene. Mas Eunice não sabia nada sobre as cartas. Eles não acreditavam. Para pressioná-la, os agentes mentiram que Rubens ainda estava lá, sendo interrogado, e que também negava tudo, mas acabaria confessando. Mostraram para ela um caderno com fotografias, para que dissesse o nome de quem conhecia. Ela identificou apenas Rubens – uma foto tirada quando ele chegou –, uma foto dela própria, de Eliana e Cecília, que conhecia pouco. Depois desse dia, na cela, sempre que ouvia gritos ela pensava serem de Rubens. Deitada no áspero colchão de palha, não podia se comunicar com ninguém lá fora. De madrugada era acordada para interrogatório, o que a impedia de dormir. Outras noites ela não conseguia dormir por causa dos gritos, e pensava: a próxima sou eu. Como ensinava o manual Kubark de Contrainteligência da CIA: “O preso não deve ter uma rotina à qual possa se adaptar e ficar com certo conforto ou pelo menos com um senso de identidade. (...) Deve ficar incomunicável e privado de qualquer tipo de rotina de alimentação e sono”. Foi libertada no dia 2 de fevereiro, às 18 horas. Um agente lhe disse para levar o carro de Rubens, que estava no pátio. Mas ela não se sentia disposta a dirigir e falou que mandaria uma pessoa buscá-lo. Não sofreu tortura física, mas saiu pesando apenas 47 quilos, após doze dias numa cela pequena, sem dormir direito, pressionada por interrogatórios diários, sem alimentação adequada, sem escova de dentes, sem trocar de roupa. E a alma em transe.
  (...)
A versão da “fuga” teria sido decidida pouco depois da morte de Rubens, ainda na madrugada do dia 21. O brigadeiro Burnier foi informado pelo DOI-Codi, pois Rubens viera da III Zona Aérea já muito espancado, com sangue na camisa, como testemunhou Cecília. Por se tratar de uma vítima importante, ex-deputado federal, Burnier achou conveniente informar o general Orlando Geisel, ministro do Exército, que nesse cargo acompanhava diretamente o que acontecia na área de segurança, recebendo informes do Cisa, do Cenimar, do DOI-Codi e outros órgãos. Depois da conversa com o ministro, em Brasília, o brigadeiro Burnier teria orientado o DOI-Codi a simular a fuga. Dias depois, o presidente Médici estava no pé da escada de um avião na pista da Base Aérea do Galeão quando chegou o ministro Orlando Geisel. Eram amigos e se tratavam pelo primeiro nome. O general chamou o presidente à parte, falou que “foi preso um ex-deputado, Rubens Paiva, ligado a terroristas do Chile, reagiu no interrogatório e morreu”. Médici comentou: “Então morreu em combate, né, Orlando?”
Esta história foi contada em Brasília pelo insuspeitíssimo Victorino Freire, um veterano político conservador que dominou a política do Maranhão durante vinte anos e encerrou a carreira como senador da Arena em 1971. Ele era não apenas um fiel aliado do regime militar desde o início, como também amigo de Orlando Geisel. Em diversas ocasiões Victorino requereu a transcrição nos anais do Senado de discursos do general, inclusive o da posse como ministro do Exército. Também leu no plenário um discurso de outro general de extrema-direita, Jayme Portela, que pronunciou ao tomar posse no comando da 10ª Região Militar, e um discurso do presidente Médici na Escola Superior de Guerra.
   (...)
Eunice e Bocayuva se encontraram também com outros deputados. Tancredo Neves ficou espantado com a história. Ulysses Guimarães, que conhecia Rubens desde a campanha presidencial do Marechal Lott, em 1960, “ficou com os olhos cheios de lágrimas. Naquele momento eles perceberam que a mulher deles também poderia ser presa. Contei que eram homens sem farda, sem nome, falei dos capuzes. Foi a primeira vez que eles ouviram essas coisas de alguém em quem realmente confiavam. Lembro-me também do Milton Campos. Ele chorava e dizia: não é possível, e pensar que eu ajudei essa revolução a vencer”.
(...)
Esteja onde estiver o seu túmulo anônimo, Rubens Paiva deixou um legado imprescindível para todas as gerações e que transcende governos: coerência política, inconformismo com as injustiças, amor à liberdade e coragem para não se deixar abater pelas dificuldades ocasionais e pela prepotência dos covardes. Como afirmou o deputado Ulysses Guimarães, em outubro de 1988, na cerimônia de promulgação da Constituição no Congresso Nacional: “A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”.

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E assim conhecendo a história brasileira, podemos saber em quem confiar ou não hoje em dia.


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O caso Rúbens Paiva
Os Procuradores da República no Rio de Janeiro, do Grupo de Trabalho Justiça de Transição, que apura crimes políticos cometidos durante o regime militar, não têm dúvidas de que Rubens Paiva foi torturado e morto pelos agentes da repressão.



Vera Paiva



Marcelo Rubens Paiva no #SempreUmPapo
Marcelo Rubens Paiva no #SempreUmPapo para o debate e o lançamento dos livros autobiográficos “Ainda Estou Aqui” e “Meninos em Fúria: e o Som que Mudou a Música para Sempre”, escrito em parceria com Clemente Tadeu Nascimento, no Auditório da Cemig, em 07 de fevereiro de 2017



http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/03/ditadura-filha-de-rubens-paiva-se-emociona-com-audio-do-pai-e-pede-por-mais

http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0285z9.htm

Maria Eliana Facciolla Paiva, filha de Rubens Paiva.
"Presa, eu meio que sabia que o papai tinha morrido"
Leonardo Costas
Da Redação
Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos, no dia 26 de dezembro de 1929. Hoje teria 83 anos, caso não fosse torturado e morto no DOI-Codi do I Exército do Rio de Janeiro, no início de 1971. Casou-se com Maria Lucrécia Eunice Facciolla, que está com 83 anos, mas com a saúde debilitada, pois sofre do Mal de Alzheimer.
O casal teve cinco filhos: Vera Silvia Facciolla Paiva (59 anos), Maria Eliana Facciolla Paiva (57), Ana Lucia Facciolla Paiva (55), Marcelo Rubens Paiva (53) e Maria Beatriz Facciolla Paiva (52). Recentemente, veio a público a informação que a esposa e a segunda filha do casal foram presas em 21 de janeiro de 1971, um dia após Rubens Paiva.
Em entrevista reveladora para A Tribuna, Maria Eliana Facciola Paiva, que atualmente reside no Rio de Janeiro, conta o que viveu dentro do DOI-Codi e os motivos que a levaram a segurar por tanto tempo sua história. Até poucos anos os irmãos desconheciam sua prisão.
Como você e seus irmãos lidam com a história do seu pai?Cada um tem uma relação diferente quanto a isso. Fomos ficando mais velhos, outras prioridades nos tomavam. Tanto que só resolvi falar sobre o tema recentemente, até porque minha mãe não vai entender, pois está com Mal de Alzheimer. De qualquer forma, nem eles (os irmãos) sabiam o que tinha acontecido comigo dentro do DOI-Codi.

Por que motivo?Eles não sabiam da história da minha prisão e também nunca me perguntaram. Isso aconteceu porque fui presa aos 15 anos. Nessa época, minha mãe estava absolutamente lúcida e assumiu todo o trabalho familiar. Mudamos para Santos, para a casa de meu avô Jaime Almeida Paiva (o local abrigou o antigo Clube XVe hoje é sede da Caixa Econômica Federal, no Gonzaga). A família do meu pai era uma família burguesa de Santos. E comentar problemas políticos tinha certas resistências. Não cabia a mim discutir este tipo de assunto na minha idade. E como minha mãe gerenciou a situação, eu não comentava nada com meus irmãos. Além disso, estávamos em uma época de ditadura e muita coisa não podia ser dita. Até porque a maioria da população não iria acreditar.

Quando e por que resolveu se manifestar?Em 2011, houve a exposição Rubens Paiva, em São Paulo. Foi algo que mexeu muito comigo, tanto que não fui em um primeiro momento, pois chorava muito. Chorava o dia inteiro porque voltou tudo na minha cabeça. Só fui lá nos últimos dias. Antes, por uma série de circunstâncias, não era importante falar. Agora, abri a boca e falei.

Você não havia contado sua história anteriormente em nenhuma situação?
A única vez que falei estava em um Carnaval na Bahia com o Rogério Ramos, neto do (escritor) Graciliano Ramos. Estávamos na casa do James Amado, irmão do (escritor) Jorge Amado. Um pessoal comunista, ligado à esquerda. Eu não bebia, mas o Rogério ficou me enchendo o saco para que eu contasse esta história. Aí, virei uma garrafa de cerveja e falei. Só que ele passou a ter uma crise de choro na minha frente. Depois disso, não falei pra ninguém. Não queria ter amigos tendo crise de choro. Aí, o tempo foi passando, meu irmão sofreu um acidente. Enfim, tinha coisas muito mais sérias naquele momento, em termos familiares, do que ficar contando como tinha sido presa pelo DOI-Codi.

Você e sua mãe foram presas no dia seguinte. Então, melhor do que ninguém, você pode dizer o que era o DOI-Codi...Era um inferno total e absoluto. Fomos presas no dia 21 de janeiro de 1971. Fui liberada 24 horas depois, mas a sequência foi complicada. Foram 12 dias com a mamãe presa e eu segurando a barra da família, esperando que soltassem pelo menos um dos dois. Mas, ao mesmo tempo, eu meio que sabia que o papai tinha morrido. Vi uma série de circunstâncias dentro do DOI-Codi que mostraram um pouco isso.

Então, o que você achava da versão oficial do Governo em relação ao desaparecimento de seu pai?
Nunca me convenceu, porque eu vi o que era o DOI-Codi por dentro e sabia que a versão oficial era meio que uma balela.

Você foi torturada?Fiquei com capuz, tomando cascudos na cabeça e era chamada de comunista o tempo todo.

E sua mãe?Ela nunca falou, mas tenho a impressão de que foi um pouco mais respeitada do que eu. Acho que sua pior tortura foi saber que eu havia sido libertada somente depois de dois dias. Perguntava sobre ela, e os guardiões falavam que a mamãe estava estirada no colchão e não se mexia. Dentro do DOI-Codi, a encontrei uma vez, na sala de interrogatório, mas estávamos encapuzadas.

Como foi o período até a libertação de sua mãe?Quando saí da prisão, me reunia todos os dias com os amigos do meu pai tentando fazer um movimento pela imprensa internacional para ver se conseguíamos pressionar e, assim, obter algum tipo de informação. Cheguei a ir com meu avô levar roupas para meus pais. Doze dias depois, minha mãe chega em casa de táxi. E, como me deram a bolsa dela dentro do DOI-Codi, a primeira coisa que ela perguntou era onde estava a bolsa.

Você viu a prisão de seu pai?Eu acordei e ele estava na minha casa com Raul Ryff, jornalista que foi assessor de imprensa do João Goulart. Dei um beijo nele, fui para a praia (no Rio de Janeiro). Quando voltei, por volta de 13h30, ele já tinha sido preso.

Como era a relação de Rubens Paiva com Santos?
Papai adorava Santos. Sempre foi santista, assim como meus avós. Os Paivas eram santistas e os Facciollas tinham uma casa em São Vicente.

Após o assassinato do coronel Júlio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do DOICodi, em novembro de 2012, a polícia encontrou na casa dele dois documentos relacionados a Rubens Paiva. O que representa para você? A descoberta do documento de Molinas é muito importante em termos jornalísticos, mas em termos jurídicos parece que não acrescenta muita coisa.

O que você espera do final deste processo?
Quero que exista uma documentação factual e, não, uma documentação imaginária. Espero que a realidade dos fatos seja contada de uma maneira histórica e objetiva.

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/08/filhos-de-rubens-paiva-falam-sobre-o-dia-em-que-o-pai-nao-voltou.html













Filhos de Rubens Paiva falam sobre o dia em que o pai não voltou


As memórias do desaparecimento do pai na ditadura militar estão no novo livro de Marcelo Rubens Paiva, 'Ainda estou aqui', da editora Objetiva. Marcelo e duas irmãs relatam a ÉPOCA o feriado mais triste da infância deles

MARCELO, VERA E ELIANA PAIVA EM DEPOIMENTO A ALINE RIBEIRO
18/08/2015 - 08h00 - Atualizado 18/08/2015 11h51

Marcelo – Era feriado no Rio, fazia bastante sol. Eu tinha 11 anos. A gente morava numa casa de dois andares na Rua Delfim Moreira, de frente para o mar do Leblon. Meu pai tinha saído de manhã para caminhar na orla com o jornalista Raul Ryff, amigo e confidente que também havia estado no exílio. Quando chegou, deitou no sofá, acendeu um charuto e começou a ler os jornais. Minha mãe estava por ali, fazendo companhia. Era um pouco mais de 10 horas quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, uma mulher queria o nosso endereço para entregar uma encomenda do Chile. Meu pai não desconfiou de nada.























Eliana – Umas 11 da manhã, coloquei biquíni e peguei minhas coisas. Como todo mundo na adolescência, eu tinha minha turma de praia. Desci as escadas correndo para encontrar os amigos. Nossa casa era ladeada por um jardim. Meu pai e Ryff estavam ali sentados, conversando e tomando sol. Acho que também iam à praia depois, não sei o que esperavam. Antes de eu cruzar o portão, meu pai perguntou: “Você não vai me dar um beijo?”. Eu disse: “Claro que vou”. Nunca me esqueço disso. Dei um beijo nele, no Ryff e saí. Foi a última vez que vi papai.
A primeira imagem de Eunice e os filhos após a prisão do marido, Rubens Paiva  (Foto:  Eduardo Simões/Acervo da Família)
Os Paivas  (Foto: época )
Vera – Eram férias escolares, e eu estava em Londres na casa do Fernando Gasparian, um grande amigo do meu pai, empresário que resistiu ao golpe. Na época, eu tinha no Rio um namorado três anos mais velho do que eu e papai queria que nos afastássemos um pouco. Eu era nova, a gente começou a falar de casar. Meu pai achava cedo demais. Então me mandou para lá, para ficar um pouco distante e para estudar inglês. A última vez que falei com meu pai foi em 25 de dezembro de 1970, pouco menos de um mês antes. Ele me telefonou para desejar feliz Natal, saber se estava bem, dizer que estava com saudade. Falei só com ele, não conversei com minha mãe e nem com meus irmãos naquele dia. Meu pai também falou com o Gasparian. Ele desligou o telefone chorando. Disse que sentia muita falta daquele grande companheiro. O dia 20 de janeiro, quando papai foi preso, foi normal para mim. Fui para a escola de inglês, não me lembro o que fiz exatamente.
Marcelo – Meus pais estavam na sala, prontos para ir à praia. Seis sujeitos armados entraram em casa pela porta dos fundos. Na cozinha, apontaram metralhadoras para a empregada, Maria José. Ela entrou pálida e avisou meu pai que tinha uns homens querendo falar com ele. Minha mãe continuou a ler o jornal e meu pai, escoltado por dois militares, pediu: “Amorzinho, fique calma”. Pediu também que eles baixassem as armas. Era o mais calmo de todos. Os militares perguntaram quem mais estava na casa. Mamãe respondeu que só as crianças. Babiu (Beatriz), minha irmã mais nova, percebeu o barulho e foi até lá. Eu estava dormindo no quarto. Eles fecharam todas as janelas e cortinas da casa e começaram a fazer perguntas. Trocavam informações pelo rádio. Pediram a  meu pai para acompanhá-los para prestar depoimento. Meu pai pediu para se trocar. Subiu, colocou terno e gravata, relógio no pulso, umas cadernetas no bolso. Saiu de casa escoltado por dois agentes. Outros quatro militares ficaram em casa. Ninguém podia sair.

Eliana – Quando voltei da praia, umas 2 da tarde, estranhei a casa toda fechada em pleno verão. Entrei e vi mamãe muito assustada, com os olhos arregalados, coisa que não me lembrava de ter presenciado antes. Falava baixo, contida. Perguntei: “O que aconteceu?”. Ela: “Teu pai foi preso”. Eu não tinha percebido que havia militares à paisana dentro da casa. Na ausência da Vera, que estava em Londres, eu era a irmã mais velha. Talvez por isso minha mãe me tenha feito um pedido: “Você precisa dar um jeito de sair para avisar seu tio. Você tem dinheiro?”. Meu tio era advogado. Nessa época, eu era atleta do Clube do Botafogo. Jogava vôlei no juvenil. Me vesti para o jogo e fui pela porta da frente. Falei depressa: “Estou saindo para jogar, estão me esperando, tenho de ir”.  Fechei a porta e fui. Até hoje, não sei como consegui. Se foi porque eu fiz uma cara de pau muito grande ou se porque os militares não tiveram tempo para pensar no que estava acontecendo. Fui para a casa de um amigo, que morava num lugar que chamávamos de “condomínio de jornalistas”, telefonei para o meu tio. Depois fiquei circulando para dar o tempo de uma partida de vôlei. Uma hora e meia depois, voltei para casa. O mais fortão perguntou: “O que você foi fazer na rua?”. Respondi que tinha ido jogar. E ele, furioso: “Não, você não foi, você foi avisar seu tio que teu pai está preso”. Como ele sabia? Meu tio, como um bom advogado, ligou para a casa para saber o que tinha acontecido. Eles escutaram a conversa pela extensão.
>> Justiça Federal aceita denúncia contra acusados pela morte de Rubens Paiva

Marcelo – Acordei tarde, depois de tudo isso. Ainda sonolento, escovei os dentes e percebi um estranho no corredor, vigiando da janela do andar de cima o movimento da rua. Cumprimentei com a cabeça. Assim que desci as escadas, percebi o movimento. Mas nem estranhei, eles não estavam fardados. Era comum ter gente de fora ali, minha casa vivia cheia. Me chamou a atenção que um militar atendia o telefone quando tocava. Então perguntei para minha mãe o que estava acontecendo. Ela respondeu: “Nada”. Perguntei quem eram aqueles caras. Ela disse que eram fiscais, depois que vieram para dedetizar a casa. O almoço foi servido, e os militares almoçaram também. Estávamos apreensivos, mas não tensos. Consegui sair sem ser notado, fui jogar bola na praia. Quando voltei, levei bronca de um deles. Queria saber onde eu havia ido. Eu disse que estava logo ali na frente jogando bola. O que tinha demais? Eram férias, feriado, era minha praia. Ninguém podia me impedir. Surpreso com a resposta, ele me disse:  “Você não tem a menor ideia do que está acontecendo aqui, não é, garoto?”. Quando minha mãe percebeu que eu consegui sair, me chamou no quarto e perguntou por onde eu tinha escapado. “Pela garagem”, respondi. Achei que levaria uma bronca, mas na verdade ela queria um favor. Escreveu um bilhete, colocou numa caixa de fósforos e me pediu para levar até a casa da vizinha, Helena, sem que ninguém me visse. Fui correndo, toquei a campainha, li o bilhete antes de entregá-lo: “Rubens foi preso, ninguém pode vir aqui, senão é preso também”.

Eliana – Naquele dia, ficamos em casa, numa espécie de prisão domiciliar. Me lembro de ter conseguido dormir. Acordei no dia seguinte com minha mãe pedindo para eu levantar e me trocar, porque prestaríamos depoimento. “Eu?”. Coloquei uma túnica preta e uma calça bem discreta. Por volta de 11 da manhã, nos colocaram num Fusca. Quando chegamos em frente ao Maracanã, colocaram um capuz preto em nossas cabeças. Chegamos ao DOI-Codi (o destacamento de inteligência ligado ao Exército), na Tijuca, e me separaram da minha mãe. Fui revistada de cima a baixo. Fiquei o dia todo numa espécie de corredor polonês. Sempre encapuzada, um cheiro horrível, não via nada. Eles passavam e diziam: “Comuniiiiiista”. Passavam a mão nos meus peitos. Me davam coques na cabeça. Não compreendia o que estava acontecendo. Era uma menina. Vivia no Rio, numa casinha em frente à praia, numa família normal, com festas... não dava para imaginar que aquilo existia. Comecei a ouvir coisas terríveis: “Pelo amor de Deus, parem com isso”. Fui interrogada três vezes, em uma sala pequena, fechada, sem janelas. No primeiro, o interrogador era um tal de Cirurgião. Tinha um pau de arara ao lado, sangue no chão. A gente estava frente a frente, separados por uma mesa. Ele tinha uma planilha, e ficava me perguntando de algumas pessoas, amigas de papai. “Frequentam sua casa? São comunistas? São terroristas?”.  Até que surgiu uma coisa absurda: um dos meus trabalhos escolares de história. Eu estudava no Notre Dame de Sion, um colégio tradicional do Rio. O trabalho era sobre a revolução da Tchecoslováquia, algo bastante noticiado pelos jornais. Eles me mostraram e disseram: “Então você também é comunista”. O segundo e o terceiro interrogatórios foram mais tranquilos. Àquela altura, acho que papai já estava morto. Eu podia sentir isso, não sei explicar. Saí no dia seguinte ao da prisão. Me deram a bolsa da minha mãe, com dinheiro, cigarro, tudo dentro. Me colocaram num Fusca e me deixaram numa praça. Entrei num bar, liguei para um amigo do meu pai e pedi para ir me buscar. Só dois dias depois contaram para mamãe que haviam me libertado. Ela ficava estendida num colchão sem se mexer, achando que a filha ainda estava presa. Ficou lá por 12 dias. Enquanto isso, ficamos com nossa avó, que veio de Santos.


RETRATOS DE FAMÍLIA
A vida dos Paivas antes do sumiço do patriarca, o ex-deputado Rubens Paiva, preso na ditadura

ÉRAMOS SETE 1 | A família completa com a avó Cici, mãe  de Rubens (Foto: Acervo da Família)
2 | O casal Rubens e Eunice  em viagem de férias (Foto: Acervo da Família)
3 | Marcelo nos ombros do pai, na piscina (Foto: Acervo da Família)
4 | Eunice em sua lua de mel em Bariloche, em 1952 (Foto: Acervo da Família)
5 | Retrato  de Rubens Paiva (Foto: Acervo da Família)
Vera – O correio da Inglaterra estava em greve, e eu mandava cartas para o Brasil por portador, tanto para meus pais quanto para meu namorado. No dia da prisão da minha mãe, meu namorado foi a nossa casa, no Leblon, buscar uma carta minha e acabou preso também. Ele e um amigo. Os dois foram parar no DOI-Codi, mas logo foram soltos. Só fiquei sabendo de tudo dias depois. Telefonar era difícil naquele tempo. Quando a notícia chegou a Londres, ninguém me contou de imediato. As pessoas mudavam de assunto quando eu entrava na sala. Mas eu achava que tinha relação com meu tio, irmão mais velho do meu pai, que estava com câncer. Só foram me contar depois. Na aula de inglês, a gente estudava e discutia textos de jornais. Fui para a escola e, pela manchete do The Times, soube da prisão dele. Ao voltar para a casa do Gasparian, conversaram comigo. Todo mundo fazia o possível para deixar a gente calmo. O tom era: tudo vai se resolver, vai dar tudo certo. A versão oficial dos militares era de que meu pai havia escapado durante uma transferência da prisão.

Marcelo – Assim que minha mãe voltou, magérrima e sem meu pai, a gente ficou um pouco assustado. Mas nem tanto. Naquela época, muita gente ia presa. Prestava depoimento, ficava uns dias e saía. Foi assim com muitos amigos da família. Não se falava ainda em desaparecido político, meu pai foi o quinto do Brasil. A prática começou em 1970. Quando fomos morar em Santos, seis meses depois da prisão, minha mãe comprou uma cama de viúva. Isso foi muito simbólico. A gente acha que nesse período ela já tinha alguma informação de que ele tinha sido morto. Mamãe nunca nos contou, provavelmente porque nem ela mesmo sabia. Mas, para ter saído do Rio, mudado com os cinco filhos para Santos, se inscrito numa faculdade de Direito... alguma coisa ela sabia. Muita gente vendia informações, dizia que papai estava vivo. A gente mantinha certa esperança, sabe?

Vera – Voltei ao Brasil e, mesmo passado um tempo, a gente não falava do assunto, para não fazer a mamãe sofrer. Ela também não falava, porque não tinha o que dizer. A gente não podia pensar que ele havia morrido. Uma das coisas mais terríveis era que, se passava um pensamento como esse na sua cabeça, era como se você estivesse matando. Estivesse decidindo a morte. Era uma culpa muito grande. Uma experiência brutal. Como se fôssemos os assassinos. Vira um buraco, uma coisa indizível.

Marcados pela ditadura 1. O escritor Marcelo Rubens Paiva  em seu apartamento em São Paulo  (Foto: Ricardo Correa/ÉPOCA)
2 | Maria Eliana Facciolla Paiva, a segunda de cinco filhos, presa pelos militares um dia depois do pai  (Foto: Reprodução)
3 | Vera Silvia Facciolla Paiva, a irmã mais velha (Foto: Filipe Araújo/Estadão Conteúdo)
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Acompanhando a Operação Zelotes XVIII (CPI do CARF): Esboço do relatório final - Ainda terão mais sugestões...

Acompanhando a Operação Zelotes XIX (CPI do CARF II): Melancólico fim da CPI do CARF. Início da CPI do CARF II

Acompanhando a Operação Zelotes XX (CPI do CARF II):Vamos poupar nossos empregos 


Sobre CBF/Globo/Corrupção no futebol/Acompanhando a CPI do Futebol:

KKK Lembra daquele desenho da motinha?! Kajuru, Kfouri, Kalil:
Eu te disse! Eu te disse! Mas eu te disse! Eu te disse! K K K


A prisão do Marin: FBI, DARF, GLOBO, CBF, PIG, MPF, PF... império Global da CBF... A sonegação do PIG... É Tudo um assunto só!!



Revolução no futebol brasileiro? O Fim da era Ricardo Teixeira. 




Videos com e sobre José Maria Marin - Caso José Maria MarinX Romário X Juca Kfouri (conta anonima do Justic Just ) 





Do apagão do futebol ao apagão da política: o Sistema é o mesmo


Acompanhando a CPI do Futebol - Será lúdico... mas espero que seja sério...

Acompanhando a CPI do Futebol II - As investigações anteriores valerão!

Acompanhando a CPI do Futebol III - Está escancarado: É tudo um assunto só!

Acompanhando a CPI do Futebol IV - Proposta do nobre senador: Que tal ficarmos só no futebol e esquecermos esse negócio de lavagem de dinheiro?!

Acompanhando a CPI do Futebol VII - Uma questão de opinião: Ligas ou federações?!

Acompanhando a CPI do Futebol VIII - Eurico Miranda declara: "A modernização e a profissionalização é algo terrível"!

Acompanhando a CPI do Futebol IX - Os presidentes de federações fazem sua defesa em meio ao nascimento da Liga...

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Acompanhando a CPI do Futebol XII - Uma visão liberal sobre a CBF!

Acompanhando a CPI do Futebol XIII - O J. Awilla está doido! (Santa inocência!)

Acompanhando a CPI do Futebol XIV - Mais sobre nosso legislativo do que nosso futebol



Acompanhando o Governo Michel Temer

Acompanhando o Governo Michel Temer I



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