Continuando o acompanhamento da CPI do HSBC temos boas notícias: A lista será aceita como prova aqui no Brasil.
E mais uma listagem bombástica (será?!): Os advogados e pessoas do mundo jurídico que estão na lista... esses são importantes pois na ação ilegal de lavagem de dinheiro alguns advogados são utilizados para a criação de off-shores para transferir e receber de volta o dinheiro, pois quanto mais "rodado" o dinheiro mais difícil o rastreamento de sua origem ilegal...
Agora uma coisa me causa nojo!
Quanto cuidado para investigar contas de ricos e poderosos!!
O cara manda dinheiro para um país que promete a ele que não vai contar para ninguém, mantém a conta em nome de um número que não representa nada além do número da conta, bem escondido aquele número chega numa empresa, essa empresa é controlada por um advogado e só esse advogado tem o conhecimento de quem colocou esse dinheiro lá, de onde vem esse dinheiro...
E o cara que fez isso não é criminoso, o dinheiro é limpinho... ele apenas preferiu agir assim porque o dinheiro estava no banco da esquina da rua onde ele morava, o gerente não ofereceu cafezinho quando ele foi pedir um cheque especial, então por falta de um bom atendimento ele preferiu abrir a conta no HSBC da Suíça!!
Não vejo o mesmo cuidado de órgãos federais ao invadir uma casa na favela e acertar a cabeça do filho de 10 anos do morador, moradores esses que ainda não foram julgados, são ainda somente suspeitos...
Não vejo também o mesmo cuidado ao acusar a presidente(a) Dilma, o filho do Lula, etc...etc...etc... Para esses qualquer reunião no interior do Pará já é prova de delito.... Que nojo!
Receita já pode investigar mais de 100 clientes do HSBC na Suíça
Guilherme Oliveira | 01/04/2015, 17h29 - ATUALIZADO EM 01/04/2015, 19h38
Em audiência na CPI do
HSBC nesta quarta-feira (1º), o secretário da Receita Federal, Jorge
Rachid, afirmou que o órgão já pode conduzir investigações preliminares
sobre mais de 100 nomes identificados na lista de correntistas
brasileiros da filial suíça do banco.
Segundo Rachid, 100 dos 342 nomes da
lista publicada pela imprensa brasileira no mês de fevereiro, são de
contribuintes brasileiros já identificados que não declararam a
titularidade de conta no exterior. O diretor da Receita também
reconheceu a existência de irregularidades nas movimentações financeiras
de correntistas declarados, embora tenha preferido não garantir o
número de pessoas nessa situação.
Rachid faz questão de ressaltar que
essa análise é preliminar, e ainda é necessário que a Receita busque
mais informações para poder abrir investigações embasadas. No entanto,
ele fala na existência de “indícios de ilícito”.
- [Nesses correntistas] é possível
identificar elementos que demonstrem interesse para o Fisco. Das
informações que temos, para que possamos ter dados mais efetivos, nós
teríamos que buscar, junto aos contribuintes, mais elementos.
O Secretário Nacional de Justiça, Beto
Vasconcelos, falou da possibilidade de ação judicial contra as pessoas
cujas atividades irregulares venham a ser comprovadas. Ele disse que a
dimensão dos processos judiciais dependerá da natureza das informações
que o governo brasileiro receberá das autoridades francesas, que detêm
os dados mais aprofundados do caso.
— Não temos certeza como esses dados
virão, se brutos ou já processados. O que foi informado pelas
autoridades francesas é que elas terão condições de encaminhar
informações já processadas. Acredito que isso vai poder indicar
possibilidades de condutas individuais que ensejarão processos também
individualizados — disse ele.
Vasconcelos explicou também que uma
segunda fase das investigações dependerá da disposição de colaboração
dos órgãos fiscalizadores da Suíça, onde fica a filial do HSBC que é
alvo das investigações. Ele também alertou para a necessidade de se
analisar cuidadosamente os nomes envolvidos e apurar minuciosamente as
condutas e motivações.
01/04/2015 - CPI - HSBC - Antônio Gustavo explica o trabalho do COAF durante audiência pública
01/04/2015 - CPI - HSBC - O secretário da RF, Jorge Rachid, aguarda parecer técnico sobre contas de brasileiros no HSBC
01/04/2015 - CPI - HSBC - Antônio Gustavo explica o trabalho do COAF durante audiência pública
01/04/2015 - CPI - HSBC - O secretário da RF, Jorge Rachid, aguarda parecer técnico sobre contas de brasileiros no HSBC
01/04/2015 - CPI - HSBC - Anthero Moraes apresenta números do sistema financeiro do Banco Central
01/04/2015 - CPI - HSBC - Beto Ferreira enfatiza que o combate à corrupção deve ser feito de forma articulada
Receita diz nunca ter averiguado quantos brasileiros têm conta no exterior
01/04/2015 - CPI - HSBC - Beto Ferreira enfatiza que o combate à corrupção deve ser feito de forma articulada
01/04/2015 - 4ª - CPI do HSBC
Horário | (O texto a seguir, após ser revisado, fará parte da Ata da reunião.) |
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13:22
|
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Boa tarde.
Declaro aberta a 4ª
Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito, criada pelo Requerimento
nº 94, de 2015, para apurar supostas irregularidade na abertura de
contas do HSBC na Suíça.
Convocamos esta reunião para oitiva de três convidados importantes. Foram
convidados para a presente reunião: Jorge Rachid, Secretário da Receita
Federal, a quem convido para sentar-se à mesa; o Sr. Antônio Gustavo
Rodrigues, Presidente do Coaf; e Anthero de Moraes Meirelles, Diretor de
Fiscalização do Banco Central.
Antes de começar a nossa
audiência, quero informar ao Plenário desta Casa que houve o
encaminhamento, na reunião anterior, de fazermos uma visita ao
Ministério Público da União, para tratativas de relação do Ministério
Público com esta Comissão e acertarmos de que forma poderíamos fazer
trabalhos investigativos, cada um na sua área, complementares um ao
outro.
Ontem, às 16h, estivemos,
a comissão representada pela Presidência, pela Vice-Presidência e mais
outros dois Parlamentares, com o Procurador-Geral da República. O
Ministério Público já se dispôs inteiramente a fazer esse trabalho de
parceria conjunta com esta Comissão. O Sr. Procurador nos informou
acerca das iniciativas que já tomou, em termos de investigação, o
contato com o Estado francês, através do órgão correspondente do
Ministério Público francês, quanto à busca dos dados que serão de muita
importância não só para a investigação do próprio Ministério Público do
Brasil como também para esta Comissão. Inclusive, já existe uma
iniciativa do próprio Ministério Público da União de fazer uma visita à
França em busca desses dados, que são de fundamental importância para a
nossa investigação.
Quero ainda informar que
estamos em busca da data da audiência que também faremos na Embaixada da
França para, com o mesmo sentido, buscar esta relação de parceria com o
Estado francês, no sentido de que ele ajude, traga as informações e o
banco de dados importante para o trabalho desta Comissão.
Não sei se o Senador Randolfe quer fazer um complemento acerca dessas notícias.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Não, Presidente. Seu informe a esta Comissão – primeiro, boa tarde a todos – e a todos aos que assistem a esta reunião (...)
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13:27
|
e a todos que assistem à reunião já nos contemplam.
Apenas reiterar,
ressaltar a disposição que nós – V. Exª, Senadora Fátima, eu e os demais
membros desta Comissão –, que estivemos ontem com o Procurador-Geral da
República, a percepção que tivemos da disposição do Ministério Público
Federal, do Procurador-Geral da República em contribuir com os trabalhos
desta Comissão. Inclusive com o compromisso assumido, pois o Ministério
Público Federal já fez contato com o Parquet Financier, que é o
ministério público francês, responsável pelos crimes financeiros, na
segunda-feira da semana passada, para ter acesso ao banco de dados da
agência do HSBC da Suíça, que tem relação com o Brasil, e nos informou o
Procurador Rodrigo Janot e o Procurador de Cooperação Internacional
Vladimir Aras que, nos próximos dias, já ainda no mês de abril, eles
estarão se deslocando para a França, para receber os dados do governo
francês, o qual se dispôs a tão logo a Procuradoria-Geral da República
tiver acesso a esses dados compartilhá-los com esta Comissão Parlamentar
de Inquérito.
Considero isso de
fundamental importância para o andamento de nossas investigações.
Inclusive, a chegada desse base de dados, no meu entender, representará
uma fase nova das nossas investigações, visto que, tendo as informações
concretas desse caso, nós poderemos avançar nas audiências, oitivas,
eventuais quebras de sigilos bancário e fiscal.
Então, apenas para
ressaltar o que V. Exª já disse. Acho que todos nós que estivemos ontem
na PGR saímos de lá convencidos de que trabalharemos juntos nesse caso
com o Ministério Público Federal.
Destaco a necessidade que
temos, que assumimos ontem também com a PGR, de, nos próximos dias,
procurarmos a embaixada francesa para reforçar o pedido das autoridades
brasileiras para o compartilhamento dessas informações.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Tem V. Exª a palavra.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco
Apoio Governo/PT - RN) – Sr. Presidente, dois registros: primeiro
quero, aqui, dizer, ouviu Senador Randolfe, que o nosso Presidente está
aniversariando hoje, o Senador Paulo, Presidente da nossa Comissão.
Portanto...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP. Fora do microfone.) –
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco
Apoio Governo/PT - RN) – Enfim, receba o nosso abraço de felicidade, de
muita saúde, de muita disposição inclusive, Presidente, para darmos
continuidade ao trabalho desta CPI. Muitas felicidades mesmo!
Segundo, Sr. Presidente,
eu quero informar aos nobres pares que nós estaremos apresentando alguns
requerimentos com intuito exatamente, claro, de colaborar com o
processo de investigação, com o trabalho da CPI.
Na verdade, tomamos a
iniciativa de apresentar esses requerimentos, levando em consideração o
trabalho que tem sido feito pelo nobre jornalista Fernando Rodrigues,
que faz parte exatamente do Consórcio Internacional de Jornalistas
Interrogativos, inclusive ele esteve aqui na última reunião e deu um
depoimento muito importante, não só o jornalista Fernando Rodrigues,
como o Chico e outros jornalistas. Considerando o que o jornalista
Fernando Rodrigues tem dito ao divulgar, como tem feito, alguns nomes
que constam na lista dos que têm conta supostamente não declaradas à
Receita Federal do Brasil no HSBC, como ele tem colocado que o critério
que tem levado a divulgação...
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13:32
|
a divulgação desses nomes
tem sido critério, exatamente, do relevante interesse público. E
considerando, também, que na última reunião, Senador Paulo, aqui já foi
mencionado de que deveria ser convidada, para prestar esclarecimentos
sobre as contas relacionadas ao seu nome, na Agência do Banco HSBC, em
Genebra, na Suíça, a Sra. Therezinha Maluf, que vem a ser irmã do
Deputado Federal Paulo Maluf.
Então, com base,
exatamente, nesse raciocínio, do relevante interesse público e
considerando – repito – que já foi anunciado aqui que iria se convidar,
convocar a Sra. Therezinha Maluf para prestar esclarecimentos, é que eu
quero informar esta Comissão, que acho que é oportuno que a gente
convide os demais políticos, com mandato, ou sem mandato, que têm suas
contas, exatamente, relacionadas na agência do Banco HSBC, e até o
presente momento, contas essas, supostamente, não declaradas à Receita
Federal do Brasil, segundo as informações que têm sido prestadas no blog
do conceituado jornalista Fernando Rodrigues.
Então, nesse sentido, eu
requeiro, eu estou apresentando requerimentos para que sejam convocados o
Sr. Márcio Fortes, membro da Executiva Nacional do PSDB; requeiro,
também, que seja convocado o Sr. Daniel Tourinho, Presidente Nacional do
PTC; requeiro, também, que seja convocado o Sr. Marcelo Arar, Vereador
do Partido dos Trabalhadores, lá no Município do Rio de Janeiro; que
seja convocado o Sr. Lírio Parisotto, suplente de Senador do PMDB do
Amazonas e, também, mais dois outros requerimentos considerados – no
nosso entendimento – de relevante interesse público, porque trata-se,
inclusive, de obra pública, também, que sejam convocados o Sr. Paulo
Celso Mano Moreira da Silva, ex-diretor do metrô de São Paulo; e o Sr.
Ademir Venâncio de Araújo, ex-diretor do metrô de São Paulo e ex-diretor
de obras da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e o Sr. Jorge
Roberto Silveira.
Bom, inicialmente, são
esse requerimentos, Sr. Presidente, que eu estou dando conhecimento à
Comissão, que nós vamos apresentar. Repito, com o intuito, claramente,
de contribuir com os processos de investigação, com os trabalhos da CPI
ora em curso. Nós vamos fazer a formalização para apresentar para
apreciação do nosso colegiado, da nossa CPI.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Naturalmente que quando, à medida
em que avança as sessões e avança a investigação da CPI, oportunamente
cada Parlamentar, cada Senador, Senadora, terá oportunidade de fazer,
através da sua estratégia de investigação, os requerimentos que lhe
couberem. E nós criaremos todas as condições, na próxima semana, de uma
sessão deliberativa, com o quórum adequado para fazer esta sessão,
quando oportunamente analisaremos e trataremos disso para deliberar a
aprovar ou não os requerimentos de iniciativa dos vários Srs. Senadores e
Senadoras.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Presidente, eu queria sugerir que,
ao final da audiência de hoje, fosse possível nós definirmos a data
desta sessão deliberativa. Me parece que há uma necessidade disso, há já
vários requerimentos nesta Comissão, há requerimentos de minha autoria,
agora, alguns requerimentos de autoria da Senadora Fátima, acredito que
seria de bom tom nós, ao final da audiência de hoje, já termos uma
sugestão da data, na semana que vem,
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13:37
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para realizar a sessão deliberativa.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – A Presidência
também informa, produto de um requerimento de iniciativa do Senador
Randolfe, que foi aprovado, semana passada, o convite ao Sr. Ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, para também estar aqui colaborando com
os nossos trabalhos. O Ministério, de antemão, logo se colocou à
disposição. No entanto, o Sr. Ministro se coloca à disposição, a partir
do dia 16, para vir aqui.
Sem prejuízo da vinda do
Ministro, o Secretário Nacional de Justiça, Sr. Beto Vasconcelos, que
está aqui presente, convido-o para compor a nossa mesa e contribuir com
os nossos trabalhos.
Inicialmente, digo aos
nossos convidados que terão dez minutos para suas intervenções, dando
tempo para as interpelações dos nossos Parlamentares inscritos. Após as
interpelações, daremos o tempo suficiente para as respostas e as devidas
intervenções.
Inicio, portanto, esta audiência pública concedendo a palavra ao Sr. Antonio Gustavo Rodrigues, Presidente do Coaf.
Tem V. Exª a palavra por dez minutos.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Muito obrigado, Presidente.
Boa tarde a todos. Agradeço o convite, essa oportunidade de esclarecer o trabalho do Coaf.
Acho que é fundamental
começar explicando um pouco o que é o Coaf. O Coaf nasceu de uma
convenção internacional voltada ao combate do tráfico de drogas,
especialmente do crime organizado, nos anos 80. O enfoque é exatamente
combater o tráfico pelo lado financeiro. Daí nasceu esse conceito do
combate à lavagem de dinheiro. Isso teve tanto sucesso que acabou se
expandindo e evoluindo para outros crimes. Hoje é um padrão
internacional, que, no fundo, é definido por um organismo chamado Gafi
(Grupo de Ação Financeira) ou FATF, na sigla em inglês, Financial Action
Task Force.
Basicamente, é um grande
sistema que envolve diversos atores. Começa com o setor privado, vários
setores da economia, chamados setores obrigados. Esses setores devem
conhecer seus clientes, manter registros das suas operações e fazer as
chamadas comunicações de operações suspeitas. Para supervisionar a
atuação desses vários setores da economia, você, então, tem seus órgãos
reguladores. Dependendo de cada setor, você vai ter um órgão. Em alguns
setores em que já existe órgão regulador, cabe a esse órgão regular
também a parte da prevenção à lavagem de dinheiro. É o exemplo do
sistema financeiro, cuja supervisão é feita pelo Banco Central, que já
era responsável pela supervisão do sistema e, portanto, vai cuidar
também da prevenção. A mesma coisa se dá com o mercado de capitais, com a
CVM; e seguros, com a Susep. No entanto, há um conjunto de setores que
não têm órgão regulador próprio. Nesse caso, compete ao Coaf. É uma
atribuição paralela do Coaf. Mas a função principal do Coaf nesse
sistema é a chamada inteligência financeira. Então, o que define o Coaf
como instituição é ser uma unidade de inteligência financeira. Os demais
atores desse cenário, no fundo, são entidades que já existem há muitos
anos, algumas até milenares, como polícia, com 50 anos, como o Banco
Central, justiça, Ministério Público. Então, é um sistema que engloba
prevenção e o próprio combate à lavagem de dinheiro.
O que é o papel de uma
unidade de inteligência financeira, portanto, do Coaf. No fundo, é uma
definição muito simples: é receber, analisar e disseminar as
comunicações de operações suspeitas. Então, se olharmos a nossa lei, que
é de 1998, que também criou o Coaf, ela, no fundo, com outras palavras,
define exatamente essas atribuições. Então, o Coaf recebe as
comunicações dos setores obrigados. Essas comunicações – aqui faço um
parêntese rápido –, temos dois tipos de comunicação: a principal, que é o
esteio desse sistema, é a chamada comunicação de operação suspeita. Ela
parte de uma percepção subjetiva de um desses setores obrigados
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13:42
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de um desses setores
obrigados, como um exemplo o banco, de uma certa movimentação do seu
cliente que, em princípio, foge da normalidade, daquele padrão do
mercado. Então, é papel dela, dessa instituição, analisar essa
movimentação e, se considerar suspeita, comunicar ao Coaf.
Além desse tipo de
comunicação suspeita, temos um conjunto de comunicações chamadas
automáticas. Essas comunicações são feitas por critérios, vamos dizer,
matemáticos. Então, existe uma definição do órgão regulador de
determinado tipo de característica e cabe ao setor obrigado comunicar
essas situações, sem precisar pensar. Ele tem que verificar a ocorrência
e comunicar imediatamente. Um exemplo que é conhecido: no sistema
financeiro, saques e depósitos, em espécie, acima de R$100 mil. É o caso
de você entrar na agência e sair da agência com R$100 mil, em espécie.
Se for cheque, ordem de pagamento, etc., não é, esquece.
Em diversos setores,
existe esse tipo de comunicação automática. No setor de seguros, existia
há alguns anos. Isso, depois, foi corrigido na norma. Por exemplo,
seguros acima de R$1 milhão tinham que ser comunicados. Então, se eu
tenho uma casa de R$500 mil e faço uma cobertura de incêndio de R$500
mil e outra de, sei lá, inundação, e dava R$1 milhão, era comunicado.
Em geral, essas comunicações de natureza automática se focam na movimentação em espécie. Então, tem em diversos setores, factoring,
joalherias, tanto regulados pelo Coaf quanto pelos outros setores, essa
obrigação, quando existe, de comunicar certas situações não por serem
suspeitas, mas, sim, porque se encaixaram ou verificaram um critério
específico matemático.
O Coaf não investiga, não
tem poderes de investigação. Todo universo de trabalho do Coaf se
resume às comunicações de operação suspeita. Qualquer outra informação,
ele usa sempre em face dessa sua fonte primária, que são as comunicações
que ele recebe. Então, toda outra informação é útil complementarmente.
Usamos essas outras informações, no fundo, para entender ou, às vezes,
explicar uma movimentação financeira que tenha sido comunicada. Muitas
vezes, uma explicação que a gente recebe de outra fonte justifica ou
explica uma que tenha sido comunicada por uma instituição financeira ou
qualquer outro setor obrigado.
O Coaf, portanto, não
investiga, não tem acesso a sigilo fiscal – isso é importante deixar
claro. O Coaf também não fiscaliza o setor financeiro, por exemplo,
entre outro. Nós, sim, fiscalizamos alguns setores, como eu disse, factoring, joalherias e alguns outros.
Quanto ao caso
específico, recebemos, em 14 de outubro, no Coaf, a visita de um
jornalista que nos ofereceu uma lista que conteria correntistas do HSBC
da Suíça. Naturalmente, despertou interesse – é um assunto interessante
–, mas também nos trouxe uma série de preocupações. Então, recebemos a
lista e fomos começar a entender que lista era essa, de onde veio. De um
lado, a equipe começa a trabalhar com os dados, e a questão... Só para
dar um exemplo, era uma lista com 342 nomes. Desses nomes, conseguimos
identificar, com base na nossa base de comunicações, apenas 60 desses
nomes. Por outro lado, começamos, então, mais a tentar entender o
contexto disso, e a conclusão, em princípio, a que chegamos é que essa
lista teria sido obtida, no fundo, por um crime que ocorreu na Suíça, e
não sabíamos o caminho que ela percorreu para chegar às mãos do
jornalista. Ele tinha explicado que, no fundo, e a gente estava
trabalhando com o jornalista Fernando Rodrigues, que era parte desse
consórcio internacional. Então, fizemos algumas pesquisas para
identificar essa situação.
O fato é que,
normalmente, a gente recebe jornalista, e, normalmente, o fazemos com
muita cortesia... Normalmente, eles vão lá buscar informação do Coaf, e
até fornecemos bastante informação, sempre informação estatística, uma
vez que as informações de movimentação financeira que trabalhamos são
protegidas por sigilo.
Pesquisando o próprio site
do instituto do ICIJ, encontramos uma menção, por exemplo, que não era
previsto que os jornalistas compartilhassem esse tipo de informação com o
governo. Tinha uma frase, e não me lembro o texto exatamente em inglês,
mas
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13:47
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em inglês, mas como a longstanding practice de não compartilhar com o Governo.
O fato é que,
independente disso, nós continuamos a analisar, mas tomamos uma decisão.
Nós temos uma preocupação enorme de o Coaf não ser usado para
convalidar ou validar informação. Nós temos uma fonte, ou um conjunto de
fontes de informação que são definidos em lei – é obrigação de vários
setores, bancos etc., nos comunicar –, e esse é o nosso universo de
trabalho.
As outras informações,
como disse, são úteis em paralelo. Mas o Coaf, para dar um exemplo, em
qualquer lista, seja uma lista de moradores da Avenida Paulista ou
qualquer uma outra, o Coaf não tem condição de analisar um por um. O
máximo que nós podemos fazer é ver se aquela pessoa constante da lista
tem informação de movimentação financeira no âmbito do Coaf.
(Soa a campainha.)
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Posso continuar, Presidente?
(Pausa.)
Obrigado.
Então, como eu disse,
enquanto a equipe técnica trabalhava, nós decidimos aguardar a
publicação da matéria de forma que nenhuma atividade do Coaf pudesse
indicar que nós estávamos validando de alguma forma essa informação. No
nosso entendimento, tendo em vista que a origem dessa informação era
ilícita, qualquer ação que fosse iniciada com base nessa lista, na
verdade, era fadada ao fracasso, dada a legislação brasileira – no
conceito jurídico o fruto da árvore podre contamina qualquer ação
posterior. O fato é que continuamos, então, o processo de análise, ou
seja, do batimento com a nossa base de dados. Ele já estava pronto em
princípio de fevereiro. Na época, nós recebemos, via assessoria de
imprensa do Ministério, uma solicitação do jornalista Fernando Rodrigues
para uma entrevista. Nós falamos com o assessor de imprensa em não
recebê-lo e fazê-lo somente depois da publicação. Essa reunião acabou
ocorrendo no dia 12, não com ele que não pôde aparentemente, e foi um
representante dele, Bruno. Nessa ocasião, então – até me lembro que
quando falei com o assessor de imprensa –, existia também um pedido do jornal O Globo,
até sugeri, na época, que, primeiro, fosse feita a reunião com o
jornalista Fernando Rodrigues, uma vez que ele é quem tinha trazido a
informação, e depois com qualquer outro que quisesse informação sobre o
assunto.
Nessa reunião, então, nós
apresentamos a informação, que é estatística, que, no fundo, foi a
mesma que foi compartilhada com todos os outros órgãos de imprensa,
indicando que, dos 342 nomes, nós tínhamos identificado 60, dos quais 15
já tinham sido objeto de relatórios do Coaf, encaminhados, ao longo do
tempo, desde 2005, às autoridades competentes. Devo deixar claro, quer
dizer, nenhum desses relatórios, no fundo, tinha relação com operação na
Suíça. Esses relatórios contém comunicações de operações no Brasil que,
por suas características, foram comunicadas ao Coaf que, por sua vez,
elaborou relatórios que foram enviados a diversas autoridades:
Ministério Público, Polícia Federal, a alguns Estados também etc. Então,
basicamente, essa foi a sequência dos fatos.
Já no dia 11 de
fevereiro, de manhã, tivemos a primeira reunião com a Receita Federal,
em que apresentamos a situação. Ou seja, que nós havíamos recebido a
lista, esta que, aí sim, já estava pública, já estava na imprensa,
apresentamos o trabalho que fizemos, e já no dia 11 fornecemos a lista
para a Receita e, no dia seguinte, o nosso relatório, que teve que ser
editado, que era um relatório em papel, para ser colocado no nosso
sistema de intercâmbio de informação.
Nós tivemos, então, uma
primeira reunião com a Receita em que nós começamos a explorar as
possibilidades, o que representaria aquilo, o que se poderia
eventualmente buscar daquilo, especialmente tendo em vista a preocupação
com a origem dos dados.
Então, a primeira reação é
a seguinte: aquilo era uma informação útil como inteligência. Inclusive
eu expliquei esse tipo de situação até para vários órgãos de imprensa. O
que é inteligência? No fundo, é você usar aquilo como um guia, vamos
dizer, de prioridade para exercícios de fiscalização e identificar fatos
novos que ensejassem fiscalizações, porque aí sim você obtivesse
informações que lastreassem qualquer ação de qualquer órgão. Nessa
reunião nós tínhamos a conveniência de envolver o Banco Central – o que
foi feito em uma reunião no dia 20 de fevereiro –, tendo em vista que
existe, primeiro, a questão de um banco que está envolvido na questão,
eventuais informações sobre a forma que o dinheiro fora enviado. A partir dessa reunião, nós começamos – eu não tenho certeza o dia, creio que foi no dia 27– ...
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13:52
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não tenho certeza do dia,
creio que foi dia 27, a passar a ter reuniões regulares, já na
coordenação da Receita Federal, de todos os órgãos envolvidos, no caso
Coaf, Receita, Polícia Federal, Secretaria Nacional de Justiça, e acho
que não esqueci ninguém. Temos feito essas reuniões regulares toda
semana, desde então, exatamente para entender e explorar os melhores
caminhos de digerir a situação. Os órgãos que têm maior capacidade de
obtenção, de tentar obter essa lista, o fizeram, que foi o caso da
Receita, que está trabalhando no assunto; da mesma forma, o Ministério
da Justiça com o departamento de recuperação de ativos e cooperação
judicial.
Então, muito rapidamente, Presidente, tentei resumir aqui a nossa atuação no caso.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Muito obrigado, Sr. Antônio
Gustavo Rodrigues, pela vinda a este... atendendo ao nosso convite...
com certeza, as grandes contribuições que seu depoimento trouxe... Fique
à disposição dos nossos Parlamentares, dos nossos Senadores para as
perguntas.
Passo, então, a palavra ao Sr. Jorge Rachid, Secretário da Receita Federal.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Pela ordem, Sr. Presidente. Então, o senhor vai abrir para perguntas após...
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Acho que a gente vai abrir para
os quatro depoentes e, depois, inicialmente, para o nosso Relator ad hoc,
que hoje vai ser o Sr. Randolfe, dada a ausência do nosso Relator, que
está em viagem e não pôde estar aqui hoje. Abriremos, depois, aos outros
Parlamentares.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Depois que todos falarem.
Está o.k. Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Tem a palavra o Sr. Jorge Rachid, por 10 min., inicialmente.
O SR. JORGE RACHID – Boa tarde a todos.
Exmo Sr. Presidente Senador Paulo Rocha, Presidente desta Comissão Parlamentar de Inquérito, agradeço o convite.
Gostaria de cumprimentar
também o Senador Randolfe Rodrigues. Cumprimento os Parlamentares, Srs.
Senadores e Deputados presentes e demais componentes da Mesa.
Gostaria de, em primeiro
lugar, colocar a missão, trazer para vocês a missão da Secretaria da
Receita Federal do Brasil, que é responsável pela administração dos
tributos federais, de competência da União, além de atuar no combate à
evasão tributária, ao contrabando, ao descaminho, às fraudes comerciais,
ao tráfico de drogas nas fronteiras, enfim, a todos os delitos
relacionados ao comércio internacional. Então, a missão básica da
Receita é exercer a administração tributária e aduaneira.
Dentro dessa perspectiva,
a Receita Federal emprega todos os seus esforços e recursos para
garantir a arrecadação necessária ao cumprimento do orçamento, bem assim
o controle do comércio exterior.
Para cumprir sua missão e
alcançar seu objetivo, a Receita conta com sistemas de informação que
estão em constante atualização com o propósito de acompanhar as rápidas
alterações, a dinâmica que há na sociedade contemporânea.
Os fatos que estão sendo
investigados nesta Comissão Parlamentar de Inquérito estão sendo
analisados pelas equipes técnicas da Receita Federal. Assim que todas
informações estiverem disponíveis, será possível um diagnóstico preciso
que permita identificar exatamente e discernir quais movimentações
financeiras que estão declaradas, que estão lícitas ou estão fora do
controle da Receita Federal e de outros órgãos.
Devo chamar atenção que,
nessas movimentações financeiras que precisamos identificar, tem que se
verificar se foram utilizados meios lícitos ou ilícitos para
transferência no exterior.
Primeiro lugar, o dever
legal da administração tributária e de seus servidores exige a garantia
da autenticidade das informações. Então, estamos buscando justamente a
autenticidade e a observância do devido processo legal para que
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13:57
|
(...) para que nós possamos
manter a validade das provas recolhidas para efeito de eventuais
procedimentos a serem encaminhados. Cada caso isoladamente será tratado
conforme determina a lei e os limites.
Como o Presidente do COAF
comentou eu gostaria de destacar aqui que assim que a notícia ganhou
destaque no cenário nacional a Receita Federal prontamente – e ai que
venho demonstrar nas datas aqui – a atuação do órgão foi tempestiva e
célere com as situações que como essas situações exigem.
Por exemplo, no dia 8 de
fevereiro aqui comentado o organismo CIJI – Consórcio Internacional de
Jornalistas Investigativos mo – pública o caso SwissLeaks informando a
suposta existência do caso de milhares de brasileiros.
No dia 11 como comentado
pelo Presidente do COAF Receita Federal por intermédio da nossa unidade
de pesquisa de investigação busca essas informações junto ao COAF, que
compartilha essa lista de 342 nomes que foram selecionados, que a partir
deste momento constam – nesse momento nós tomamos conhecimento que
haviam – milhares de nomes brasileiros, mas foi feita uma seleção de
342, que recebemos essa seleção, esses nomes.
No dia 12, no dia
seguinte, há o compartilhamento do relatório de inteligência financeira e
partir dai nós tomamos duas direções : uma da área internacional da
Receita para buscar a cooperação internacional, identificar os atores
que possuem tais informações.
E a outra no sentido da investigação propriamente dita da pesquisa, da coleta de dados com as informações já disponíveis.
Então, na semana do dia 9 a 13, contatos iniciais foram realizadas com algumas administrações tributárias...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Nove a treze de...?
O SR. JORGE RACHID – De fevereiro deste ano.
Os fatos, Sr. Senador,
começaram a ocorrer para nós a partir do dia 11, dia 8 de fevereiro a
notícia, dia 11 o primeiro contato, a primeira reunião com o COAF. OK.
Então, na semana de 9 a
13 de fevereiro ,os contatos preliminares iniciais, com diversas
agremiações tributárias com diversas administrações tributárias, sobre a
possibilidade de compartilhamento de dados eventuais de eventuais
correntistas brasileiros.
Nesta semana
identificamos a administração tributária francesa detentora dessas
informações e que a partir dai dentro da clausula que nós temos no nosso
acordo para evitar dupla tributação há uma clausula de troca de
informações e a partir dai nós começamos a trabalhar para ter acesso de
forma juridicamente valida e integral dos dados que haviam sido
noticiados pelo ICIJ.
Dia 14 de fevereiro,
inclusive nós publicamos na nossa página na internet os esclarecimentos
sobre as informações divulgadas na imprensa pelo ICIJ, nós colocamos
essas informações na nossa página.
No dia 19 de fevereiro
foi realizado uma reunião de alinhamento com o Banco Central e COAF,
essa reunião realizada lá no próprio COAF e a partir de, então, dentro
dessas duas áreas n[os começamos a agir, caminhar. Na área
internacional.
No dia 24 de fevereiro a Receita formaliza o pedido de intercâmbio de informações junto a administração tributária francesa.
No dia 27 de fevereiro como já informado pelo Presidente
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14:02
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No dia 27 de fevereiro, como
já informado pelo presidente do Coaf, nós realizamos a primeira
reunião, uma reunião de coordenação, uma reunião de alinhamento dos
órgãos do Poder Executivo. Presentes a essa reunião, além da Receita
Federal, o Coaf e Banco Central, a Secretária Nacional de Justiça, o
Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional (DRCI) e o diretor-geral da Polícia Federal. Então, a
partir da reunião do dia 27 – esse marco: 27 de fevereiro –, nós
realizamos mais três ou quatros reuniões toda semana de forma
sistemática.
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE RACHID – Sr. Presidente, permita-me estender um pouco mais para poder esclarecer por completo.
(Pausa.)
Recebemos a
confirmação da administração tributária francesa da possibilidade de
fornecer as informações desejadas. No dia 24 de março confirmamos que
estamos prontos para começarmos esse trabalho junto à administração
francesa. Informo que tem um missão, já, junto à administração francesa
para coleta dessas informações.
Em resumo, nos meses de fevereiro e março, assim que tomamos conhecimento dos fatos...
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Pois não.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco
Apoio Governo/PT - RN) – Houve um barulho aqui, por isso peço ao Sr.
Secretário Rachid que pudesse repetir qual foi a posição do governo
francês.
O SR. JORGE RACHID –
Do governo francês exatamente. No dia 24 de março recebemos a
confirmação da administração tributária francesa dizendo que os dados
estavam disponíveis. "Estamos concluindo a organização para a entrega
desses dados". Então, no dia 24 de março. E aí é que eu informo que há
uma missão da Receita Federal do Brasil junto à administração tributária
francesa para a coleta formal, aí chamando a atenção para que possamos
ter a validade jurídica do acesso a essas informações e da sua
integralidade e autenticidade.
Em resumo, fevereiro e
março, assim que tomamos conhecimento do fato, a Receita Federal iniciou
a busca, a análise dos documentos disponíveis e adotou procedimentos e
formalidades necessárias para o envio dessa missão internacional à
França para o intercâmbio de informações.
Para concluir, Sr.
Presidente, apesar de todos os controles que Receita Federal possui em
relação às informações que são prestadas pelos contribuintes, as
movimentações financeiras que utilizaram mecanismos ilícitos e de
transferências são difíceis de serem detectadas. Correto? Nós
trabalhamos com o intercâmbio de informações. Isso é importante. A
Receita Federal possui um sistema de seleção de contribuintes onde
agregam mais de 80 fontes de informações. Essas fontes são trabalhadas e
daí geram a seleção de contribuintes.
Os fatos que estão sendo
investigados por esta CPI são objeto de estudo de toda a Comunidade
Internacional, pois foram praticados em vários países e fora dos
controles legais. Todos os países, atualmente, estão
preocupados com a questão voltada para a erosão da base tributária. É
uma questão importante, estamos participando de fóruns internacionais. O
mais recente, eu, antes de assumir a Receita, estava em uma das ações
junto a OCDE e G20, justamente buscando conferir mecanismos de
transparência em relação aos fatos que ocorrem, em especial a
movimentação financeira.
O Brasil é reconhecido
nos fóruns internacionais por manter uma legislação, apesar de recente e
atual para nós, mas ela requer, quando comparada a de outros países,
ela está aquém. Nós precisamos pensar, reformular ou trabalhar melhor
essa nossa legislação de acesso à movimentação financeira, Ela continua
ainda bastante restritiva no tocante acesso a informações.
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14:07
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Ela continua bastante restritiva no tocante a acesso a informações.
Para concluir, se houver
interesse, Sr. Presidente, com base em movimentações financeiras e em
operações já bastante conhecidas dos senhores, começando pela CPI do
Banestado – já foram objeto de ação por aqui o Banestado e outros bancos
– ou mesmo pela CPI sobre as CC5, que, na verdade, era a do Banestado,
dirigida pela Justiça Federal do Paraná, nós já realizamos em torno de
mais de 11 mil procedimentos fiscais, envolvendo uma quantia de quase
R$19 bilhões apurados.
Então, as informações são relevantes, para que a Receita Federal possa atuar e combater a evasão tributária de forma efetiva.
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE RACHID – O que é mais importante é que precisamos, já concluindo, garantir aos contribuintes que pagam impostos justiça.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES (Fora do microfone.) – Sr. Presidente, o senhor me permitira fazer um esclarecimento?
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Tem a palavra V. Sª para fazer um esclarecimento.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Obrigado.
Acho que é importante
ressaltar um ponto que o Dr. Rachid mencionou. A lista que ele recebeu
com 342 nomes foi a mesma lista que o Coaf recebeu. Até então, ou
melhor, até a publicação na imprensa da informação, nós imaginávamos que
era a lista completa. Com a publicação, que fala de oito mil nomes, de
8,7 mil nomes e de alguns bilhões, é que percebemos que isso não batia
com o que nós tínhamos. Então, como mencionei, na reunião
do dia 12 com o Bruno, com o jornalista que trabalha com ele, ele nos
explicou que isso era uma amostragem. Então, nós não conhecemos a lista
completa nem os critérios dessa amostragem.
Era mais para esclarecer bem que não foi uma seleção feita pelo Coaf.
Obrigado, Sr. Presidente. Desculpa-me.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Chamou a atenção do Sr. Relator o
fato de que, pelo depoimento da Receita Federal, a Comissão vai
precisar, em outro momento, das informações ou da presença da Receita,
para ajudar a dirimir dúvidas, uma vez que vocês estão à caça de
informações maiores e mais formais nessa questão.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sr. Presidente, já que V. Exª fez
um alerta a esta Comissão, permita-me antecipar uma perguntar ao Dr.
Jorge Rachid.
V. Sª informou que já solicitaram do Estado francês o compartilhamento das informações. Há previsão para obter os dados?
O SR. JORGE RACHID –
Há uma missão na França trabalhando para a coleta desses dados. Não
tenho a data exata da sua conclusão. Eles estão trabalhando nesta semana
lá.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – V. Sª tem conhecimento das ações do Ministério Público Federal também nesse sentido?
O SR. JORGE RACHID – Sim, sem dúvida. Sem dúvida, nessa reunião que nós fizemos de coordenação dos órgãos, esse tema foi tratado.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito.
Faço a última pergunta. O
Dr. Rodrigo Janot nos informou ontem que pretende ir até a França nos
próximos dias e que já solicitou o compartilhamento. Há a intenção da
Receita de fazer isso em conjunto?
O SR. JORGE RACHID –
Veja o alcance dessas informações: nós podemos usá-las para fins de
natureza tributária. O propósito da Procuradoria Geral da República é
mais amplo. Correto? Por isso, é pertinente a busca de informações por
outros canais.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Dando continuidade aos nossos
trabalhos, chamamos o nosso convidado Anthero de Moraes Meirelles,
Diretor de Fiscalização do Banco Central, para fazer seu depoimento.
V. Sª tem dez minutos, inicialmente.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Obrigado.
Exmo Sr. Presidente desta Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Paulo Rocha; Exmo Sr. Vice-Presidente, Senador Randolfe Rodrigues; Exmas Srªs e Srs. Senadores; demais presentes; integrantes da Mesa, meu cordial boa-tarde.
É uma honra para nós, é
sempre uma satisfação estar presente nesta Casa para trazer também
alguns esclarecimentos do ponto de vista do Banco Central.
Como os meus antecessores, começarei falando um pouco sobre a missão do Banco Central. O Banco Central, basicamente, tem uma missão com dois braços (...)
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14:12
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vem falando um pouco sobre a
missão do Banco Central. O Banco Central, basicamente, tem uma missão
com dois braços, que é executar a política monetária, zelar pela
estabilidade monetária, e o segundo braço da sua missão é zelar pela
estabilidade financeira. Ou seja, o bem público que tutelamos nesse
aspecto da estabilidade financeira é exatamente um sistema que funcione
bem, que cause o mínimo de danos para a sociedade, que seja robusto, que
seja resiliente a crises, a cenários econômicos desfavoráveis. Isso
envolve a supervisão, a regulação, a autorização de cerca de duas mil
instituições financeiras, entre conglomerados bancários de grande porte a
pequenas entidades de crédito, como cooperativas e outras entidades
menores. Mas é um mercado cada vez mais pujante. Nós estamos falando de
ativos da ordem de R$7,5 trilhões. É algo que representa em torno de
150% do PIB. Estamos falando de mercado de crédito de cerca de R$3
trilhões.
Eu trouxe algumas
lâminas, Sr. Presidente, quem foram distribuídas com um pouco desses
números. Eu não vou me deter em lâmina a lâmina, porque o tempo é curto,
mas, nessas lâminas, há esses dados, há esses números que trazemos
aqui, para mostrar um pouco dessa dimensão do nosso sistema financeiro,
do nosso mercado de crédito, do nosso mercado de câmbio.
No sistema financeiro,
essas operações de crédito, por exemplo, que representam, hoje, em torno
de 95% do risco do sistema financeiro, envolvem registro, por exemplo,
no Banco Central, de cerca de 435 milhões de operações, que são
registradas no Banco Central, num sistema de registro de crédito.
Envolvem também relacionamentos bancários da ordem de 300 milhões, entre
contas, correntistas, titulares e não titulares de contas.
Do ponto de vista do
mercado de câmbio, nós temos, hoje, um mercado que gira, diariamente,
algo como US$9 bilhões por dia, entre mercado primário e mercado
interbancário. São cerca de 30 mil operações por dia. Todas essas
operações registradas nos sistemas do Banco Central. Em 2014, foram cerca de US$2,2 trilhões em volumes contratados de câmbio. Nós
temos um sistema de pagamentos brasileiro, também gerenciado,
supervisionado pelo Banco Central, que envolve cerca de 3,3 milhões de
transações por mês. Nesse sistema de pagamentos gira, em movimentações
financeiras, cerca de um PIB brasileiro por semana.
Estou dando um pouco essa dimensão porque são números e sistemas que são gerenciados pelo Banco Central, que são input
extremamente importante para a supervisão do Banco Central, tanto no
que diz respeito a esse monitoramento, como eu estava dizendo, da
estabilidade do sistema financeiro, quanto do acompanhamento e da
avaliação de cada uma dessas entidades supervisionadas isoladamente.
A supervisão do Banco
Central tem basicamente dois focos: o foco que a gente chama
macroprudencial, que procura avaliar o sistema financeiro como um todo, o
mercado de crédito, o mercado de câmbio, a solidez, a higidez desse
sistema, a higidez dos sistemas de pagamento. Semestralmente divulgamos o
nosso relatório de estabilidade financeira. Nós o fizemos outro dia,
divulgando o relatório do segundo semestre de 2014, em que mostramos
exatamente a evolução dessa visão macroprudencial dos riscos à
estabilidade. E temos a visão microprudencial, que é onde
vamos verificar a saúde, a higidez, o funcionamento, a viabilidade das
entidades supervisionadas individualmente. Como eu disse, variam desde,
às vezes, uma pequena cooperativa, uma pequena corretora ou financeira
até grandes, enormes conglomerados bancários.
Para fazer esse trabalho
dentro dessa visão microprudencial, nós temos, portanto, dois enfoques,
basicamente: o enfoque prudencial financeiro, microprudencial, ou seja,
verificar se cada entidade tem capital, tem as provisões necessárias,
tem uma boa gestão de liquidez e também a parte de conduta. Aí envolve,
por exemplo, a observância
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14:17
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...a observância dos
critérios, por exemplo, de prevenção à lavagem de dinheiro. Como o Dr.
Gustavo falou, presidente do Coaf, no que diz respeito aos nossos
regulados, o Banco Central zela – e é responsável por isso – para que
essas instituições estejam aderentes às normas. O Banco Central regula e
supervisiona não apenas, como eu disse, a parte financeira, a parte da
saúde dessas instituições, mas, igualmente, os aspectos de conduta,
dentre eles, a observância às regras de lavagem de dinheiro.
O Banco Central faz parte
desse sistema de prevenção à lavagem de dinheiro desde a sua origem.
Desde a publicação da lei de 1998 que criou o Coaf, o Banco Central,
ainda em 1998, editou a primeira circular e a primeira carta circular
criando as primeiras regras para os nossos supervisionados, ou seja,
critérios de controle que as instituições precisavam implementar. Quer
dizer, o Banco Central, desde o início atuou de forma a levar as
instituições a se adequarem, a se adaptarem a esse novo arcabouço legal.
Essas circulares e essas cartas circulares evoluíram ao longo do tempo,
sofreram modificações – a própria lei passou por algumas modificações –
nesse período, de maneira a manter a nossa regulação e a nossa
supervisão atualizadas.
O conjunto de informações
que o Banco Central tem – seja do mercado de crédito e de câmbio, seja
do sistema de pagamentos, do cadastro de correntistas do sistema
financeiro, quer dizer, um conjunto realmente grande de informações que o
Banco Central tem – é utilizado tanto para a supervisão, digamos,
prudencial, de natureza financeira, quanto para a supervisão de conduta.
E, cada vez mais, o que temos procurado fazer – como bem disse tanto o
Dr. Gustavo quanto o Dr. Rachid – é aprimorar os nossos sistemas e os
nossos mecanismos de inteligência para sermos capazes de, num mundo
enorme de informações, ter uma ação de seleção, de captura, de
evidenciação de operações que merecem ser olhadas sob o aspecto de sua
lisura ou que, eventualmente, têm que ser encaminhadas ao Coaf, mas,
sobretudo, saber se as instituições sob a nossa regulação e supervisão
estão aderentes ao que estabelece a regulação, se há mecanismos,
sistemas, controles, uma governança que permita que elas prestem ao Coaf
essas informações que são um input extremamente importante para o trabalho de inteligência do sistema como um todo.
Como eu disse, cada vez
mais, nós temos procurado criar inteligência para, cruzando essas bases
de dados com outras a que temos acesso, seja por convênio com a Receita,
com outros órgãos reguladores ou outros cadastros públicos, procurar,
cada vez melhor, identificar eventuais desvios, isso do ponto de vista
do tema que hoje é o tema principal aqui da CPI, relacionado a eventuais
processos de lavagem de dinheiro, mas igualmente para a detecção de
eventuais fraudes financeiras. Nós desenvolvemos nos últimos anos,
inclusive com a própria experiência que tivemos, ferramentas
estatísticas bastante sofisticadas para identificar, dentro de volumes
enormes de operações de crédito, variações de padrões que pudessem
indicar a existência de fraudes, a existência de ativos insubsistentes,
coisas dessa natureza.
Esse tem sido o esforço
e, sem dúvida nenhuma, o Banco Central tem conseguido avançar.
Evidentemente que é um processo contínuo, tanto o Banco Central quanto
os demais órgãos públicos envolvidos nessa atividade de zelar pela
estabilidade e pela conduta do mercado estão diante de um desafio sempre
permanente. Mas hoje posso dizer que nós temos um sistema financeiro
muito sólido, muito robusto, do ponto de vista de provisões, de
liquidez, de capital. Hoje temos todas as nossas instituições muito bem
preparadas para se adequar ao novo arcabouço de regulação de capital e
de outros indicadores financeiros que...
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14:22
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...e de outros indicadores
financeiros, que é o conhecido Acordo de Basileia III. Temos tido
avaliações de pares, avaliações bastante satisfatórias, bastante
interessantes, como, por exemplo, dentro do próprio âmbito do Gafi, como
já foi dito aqui. Temos uma avaliação que é feita, e revisada a cada
dois anos, pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, que
avalia a qualidade da supervisão. E a avaliação da supervisão que o
Brasil teve foi realmente uma das melhores do mundo, com um padrão
realmente bastante bem avaliado.
E evidentemente, também,
todos os controles dos órgãos tanto internos quanto externos de
controle. Tivemos uma auditoria do TCU no ano passado, uma
auditoria sobre a supervisão bancária no Banco Central, uma auditoria
bastante robusta. Por quê? Porque os órgãos, as Cortes de Contas, não
apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, que se reúnem em torno de uma
associação, verificaram que a crise financeira de 2008 era uma crise
que, embora tivesse origem no sistema financeiro, no sistema bancário,
em muitas das vezes elas iam cair no colo dos Tesouros, no colo do
Erário. Então, as Cortes de Contas dos países entenderam que era
fundamental para eles conhecerem a qualidade da supervisão bancária de
seus países, da regulação e supervisão bancária de seus países. Então,
esse está sendo um trabalho feito eu acho que por várias Cortes de
Contas, e o Banco Central também teve, no ano passado, uma avaliação
bastante detalhada do Tribunal de Contas, que pôde conhecer bem de perto
a nossa atividade.
Em relação
especificamente à prevenção e à lavagem de dinheiro, como eu disse, o
nosso objetivo principal, a nossa missão principal é regular as nossas
entidades supervisionadas, definir aquelas situações onde elas devem
comunicar ao Coaf, como elas devem proceder, do ponto de vista dos
registros, dos controles, da guarda de toda essa documentação, para que
elas cumpram esse papel previsto na Lei 9.613.
E, evidentemente,
participamos do colegiado do Coaf. Então, também integramos esse
sistema, bem descrito pelo Dr. Gustavo, que é um sistema que exatamente
procura juntar um número significativo de órgãos tanto para compartilhar
informações quanto para pensar ações de inteligência. E evidentemente
que, se deparamos com indícios desse tipo de prática de lavagem de
dinheiro, nós temos fazemos comunicações ao Coaf, e, evidentemente, se
há indícios de crime, inclusive por força de lei, evidentemente, ao
Ministério Público Federal.
Então, hoje, o que está em vigor sobre lavagem de dinheiro é a Circular 3.461, de 2009, que...
(Soa a campainha.)
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Apenas concluindo, Presidente.
Que teve algumas mudanças aí no caminho, e a Carta Circular 3.542, de 2012.
Como eu disse, desde a
origem da aprovação da lei, da primeira legislação sobre prevenção à
lavagem de dinheiro, lei de 1998, o Banco Central emitiu as primeiras
regulamentações para o sistema financeiro, e, de lá para cá, vem
procurando, como eu disse, aperfeiçoar os nossos próprios mecanismos e
sistemas de controle, e aperfeiçoar também o nosso processo de
supervisão. Criamos recentemente o Departamento de Supervisão de
Conduta, que é um departamento especificamente voltado para isso,
exatamente para apartar um pouco as questões de natureza financeira das
questões de natureza de conduta. Criamos um comitê estratégico de
gestão, internamente ao Banco Central, para juntar todas as áreas:
regulação, supervisão, motorizações, jurídica, para, enfim, ter uma ação
cada vez mais articulada em relação a esse tema. E desenvolvemos alguns
sistemas que, depois também, havendo tempo, a gente pode destacar.
Em relação
especificamente ao caso da lista, do Swiss Leaks, nós recebemos essa
lista com informações, com 342 nomes, e estamos trabalhando para, a
partir das bases de dados, identificar movimentações financeiras e
identificar como as nossas instituições, as instituições supervisionadas
pelo Banco Central, se comportaram em caso de...
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14:27
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se comportaram em caso de
detecção de operações atípicas. Digo operações atípicas sob nossa
supervisão, ou seja, operações ocorridas aqui, no Brasil.
Sr. Presidente, são minhas palavras iniciais.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Obrigado, Sr. Anthero.
Dando continuidade à
ouvida dos nossos convidados, chamo o Sr. Beto Vasconcelos, Secretário
Nacional de Justiça, para o seu depoimento.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Boa tarde.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Tem V. Sª 10 minutos inicialmente.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Obrigado.
Exmo Sr. Presidente desta CPI, Senador Paulo Rocha; Exmo
Sr. Vice-Presidente, Senador Randolfe Rodrigues; Senadora Fátima
Bezerra; Senador Cássio Cunha Lima; Senador José Medeiros e, acredito
também, o Senador Aloysio Nunes estava aqui presente, senhoras e
senhores, meus colegas de Mesa, falar por último me garante também falar
mais objetivamente, porque grande parte da informação o Secretário
Jorge Rachid; o Presidente do Coaf, Antonio Gustavo e o Diretor do Banco
Central, Anthero, já esclareceram. Acho importante destacar isso porque
combate ao crime, combate à corrupção, combate à lavagem de dinheiro,
combate a organizações criminosas se dá – e necessariamente deve se dar –
de forma articulada, o Estado tem que estar com instituições fortes e,
de forma articulada e coordenada, atuar. Esse é o exemplo de uma atuação
coordenada, uma atuação articulada e uma atuação serena.
Destaco isso porque essa
forma de trabalho que a gente vem implementando: o Coaf, a Receita, o
Bacen, o Departamento de Polícia Federal e a parceria com o Ministério
Público Federal e a Justiça brasileira.
A Secretaria Nacional de
Justiça se insere nesse sistema a partir do momento em que ela recebe a
prerrogativa de tratar do tema de combate à corrupção em co-coordenação
com outros demais órgãos referentes ao tema, o combate à lavagem de
dinheiro, a cooperação jurídica internacional e a recuperação de ativos
mais especificamente. É a ela vinculado o Departamento de Recuperação de
Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, o chamado DRCI, cujo
titular está aqui presente, Dr. Ricardo Saad, e nós efetuamos... Aliás, a
partir do momento em que foi criado o departamento, mais uma iniciativa
de inovação institucional de eficiência, de agilidade e de repressão
foi instituída no Estado brasileiro. Acho que o combate tem-se dado em
várias esferas, o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro tem-se
dado em diversas esferas de prevenção e transparência, de eficiência e
agilidade, de inovação institucional e de repressão e a criação do DRCI
veio contribuir com isso. O DRCI, para esclarecer a todos, é autoridade
central na cooperação jurídica internacional. Então, ele atua como um
ponto focal no fluxo da cooperação jurídica internacional. Em outras
palavras, aqueles órgãos que pretendem a colaboração de órgãos
estrangeiros, informações, colaborações, dados, ações específicas, eles
fluem os pedidos de cooperação por meio da autoridade central do Estado
brasileiro, assim como é, em grande parte do mundo, no caso do Brasil, o
DRCI. E assim se repete por várias partes do mundo. Isso tanto da forma
ativa como da forma passiva. Então, se alguma autoridade estrangeira
pretende a colaboração de autoridades brasileiras, esse fluxo é
invertido e, através de suas autoridades centrais, chamados pontos
focais, se dá a cooperação jurídica internacional.
Esclareço isso, Sr.
Presidente, Sr. Vice-presidente, Senadoras e Senadores, porque é assim
que a Polícia, as autoridades policiais, as autoridades do Ministério
Público, tanto estadual como federal, e a Justiça Estadual e Federal,
elas encaminham os pedidos (...)
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14:32
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como federal, e a Justiça
Estadual e Federal, elas encaminham os pedidos de colaboração em geral
por esses mecanismos. É claro que há mecanismos de auxílio e cooperação
direta, mas em regra ela se dá pelo DRCI. Essa é uma forma que... Esse é um mecanismo que acabou induzindo criações de outros instrumentos e de outros institutos.
O Ministério Público
Federal criou recentemente a Secretaria de Cooperação Jurídica
Internacional. Acredito que os senhores tiveram contato com o Procurador
Vladimir Aras, que é o Secretário atual, numa iniciativa também de
fortalecimento institucional e, portanto, de fortalecimento da
cooperação.
O Brasil fez pouca
cooperação ao longo de décadas, e nas últimas décadas, com esses
aperfeiçoamentos, tem intensificado o trabalho de cooperação jurídica
internacional, que se dá, obviamente, com base em acordos multilaterais
ou em acordos bilaterais. Nós temos, desde 99, um acordo bilateral com a
França e é com base nesse acordo bilateral que se estabeleceu esta
cooperação à qual estamos nos referindo.
Mais concretamente, especificamente tratando do tema suisse leaks,
vale destacar que a partir do nivelamento de reuniões dos órgãos do
Poder Executivo, que foram as reuniões referidas pelo Secretário Rachid e
pelo Diretor Antônio Gustavo, e das referências que a imprensa publicou
e desta CPI, o Ministro determinou a abertura de inquérito policial
junto ao Departamento de Polícia Federal, o que foi feito no dia 4 de
março. A partir daí, tanto o Departamento de Polícia Federal como o
Ministério Público Federal iniciaram o pedido formal de cooperação
jurídica internacional, que se concretizou em 23 de março por meio de um
encaminhamento, Senador, do pedido do Ministério Público Federal e da
Polícia Federal à Secretaria Nacional de Justiça para encaminhamento da
cooperação jurídica...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Foi quando?
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Dia 23. A formalização, 23 de março. E o nosso encaminhamento, no mesmo dia para as autoridades francesas.
Eu só estou esclarecendo
isso para trazer mais informações àquelas que os senhores apuraram e
discutiram ontem com o Ministério Público Federal. Estamos
tratando, portanto, da mesma cooperação, do mesmo processo de
cooperação, que tem se dado em parceria entre a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal. E em contato com as autoridades francesas, para que essa cooperação possa fluir com mais rapidez.
Acho que vale essa
distinção, não é mesmo, Secretário Rachid, porque são duas cooperações
distintas. A Receita Federal disparou a cooperação tributária e esses
órgãos dispararam a cooperação penal nessas datas que eu mencionei.
Em linhas gerais, em
resumo e dentro do meu tempo, a atuação da Secretaria e do Departamento é
essa. E, no caso específico, foi para garantir o fluxo da cooperação
jurídica internacional.
Por fim, eu só destaco
que nós temos procurado, todos os agentes públicos envolvidos, conduzir
esse processo de uma maneira bastante serena, sabendo da delicadeza do
caso, sabendo da sensibilidade do caso, para evitar qualquer tipo de
comprometimento das provas obtidas e, até o momento adequado, sem expor
todo e qualquer nome envolvido para não cometermos o erro de culpar
inocente ou de inocentar culpados. Esse é um papel que cabe ao Poder
Público. E, obviamente, todos nós estaremos absolutamente à disposição
para contribuir com esta CPI.
Eram essas as minhas palavras.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Obrigado
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14:37
|
Obrigado, Beto Ferreira Vasconcelos, pela sua vinda. Contribui muito com a nossa CPI.
Dando continuidade aos
trabalhos, inicialmente vou passar a palavra ao Sr. Relator, que fará
perguntas a cada depoente. Após as perguntas, retornaremos a palavra a
cada depoente. Posteriormente, passaremos aos nossos Senadores e
Senadoras do plenário.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Presidente, se V. Exª me permite, nós estamos em quatro Senadores, alguns questionamentos aos nossos convidados, pelo menos na minha ótica, necessitam resposta imediata.
Acho que poderíamos dar
maior celeridade fazendo o questionamento, sendo que alguns tendo a
resposta logo após a pergunta de cada um dos Senadores, porque, no meu
entender, do ponto de vista da condução da CPI, é mais célere, é mais
adequado, e seria mais célere ficar à vontade com cada um dos Senadores.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Significa que a pergunta inicial de V. Exª para o Dr. Rachid, e outro Senador já perguntaria para ele, e ele responderia imediatamente.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Não, ele me responderia. Pergunta e resposta; pergunta e resposta.
ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Mas V. Exª foi designado aqui como Relator ad hoc. Portanto, quem vai primeiro...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito, mas só para mudarmos a
dinâmica. Ao invés de bloco e respostas depois; pergunta e resposta.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Eu sei, mas aqui V. Exª se dirige a um, logo ele responderia imediatamente.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Exatamente.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Assim que eu encaminhei. E depois passaríamos ao...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Obrigado, Presidente.
Queria, então, perguntar,
inicialmente, ao Secretário Jorge Rachid, agradecendo a presença de V.
Exª: quantos contribuintes, pessoas físicas, a Receita tem cadastrada
hoje no Brasil? Ou melhor, tínhamos em 2014?
O SR. JORGE RACHID – No cadastro de pessoas físicas, temos contribuintes ativos, suspensos, eu acredito em algo em torno de 110 milhões.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – 110 milhões? A Receita tem alguma
estatística para saber quantos desses contribuintes, pessoas físicas,
declararam ter contas bancárias ou empresas no exterior?
O SR. JORGE RACHID – Estatística, eu não posso lhe informar agora, mas é possível levantar esses dados.
Não tenho esse valor neste momento.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Não tem? Eu pergunto, número de correntistas.
O SR. JORGE RACHID – Número de correntistas no exterior.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – V. Exª disse que são 110 milhões. Desses, quantos estão no exterior?
O SR. JORGE RACHID –
Senador, desses 110 milhões, em torno de 25, 26 milhões apresentam
declaração de Imposto de Renda a pessoa física. Dentro dessa declaração
há...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – E pessoa jurídica?
O SR. JORGE RACHID –
Pessoa jurídica, nós temos em torno de 200 mil declarações de lucro
real, mais umas dois mil. Em torno de oito, nove milhões de declarações
de pessoa jurídica. Mas só concluindo a pergunta, as declarações de
pessoas físicas, declaração de rendimentos, a declaração de bens contida
diferentemente das pessoas jurídicas. Portanto, há possibilidade de
apurar esse dado sim.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Tá, mas hoje não tem esse dado preciso?
O SR. JORGE RACHID – Não, eu não tenho aqui este dado no momento, mas certamente a Receita Federal dispõe desse dado. Eu não
tenho isso para prestar neste momento para o senhor, mas, por uma
apuração, por uma informação no sistema, é possível colher esse dado.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Para ter esse dado, seria necessário uma pesquisa?
O SR. JORGE RACHID – Sem dúvida.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então, a Receita não tem disponível, na hora?
O SR. JORGE RACHID – Deixe-me esclarecer melhor se me permite.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não, fique à vontade.
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14:42
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melhor, se me permite.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não, pois não, fique à vontade.
O SR. JORGE RACHID –
As informações de que nós dispomos são informações declaradas pelos
contribuintes. Se estão declaradas, estão no Banco de Dados da Receita
Federal. Portanto, se essa informação for relevante, é possível nós
buscarmos essa informação do Banco de Dados da Receita Federal.
Portanto, nós temos essa informação. Eu não tenho, no momento, para
prestar-lhe.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Está bem.
O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) – Seria um fenômeno se tivesse.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Muito obrigado, Senador.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – De antemão, eu acho que a
informação é importante para a CPI, Presidente. Aí eu acho que nós
poderíamos solicitar isso.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Faremos isso.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Eu lhe agradeço.
E V. Exª sabe informar quantas dessas empresas estão em paraísos fiscais?
O SR. JORGE RACHID – Quantas dessas empresas...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Estão em paraísos fiscais – Liechtenstein, Suíça, Ilhas Virgens.
O SR. JORGE RACHID –
Não, veja, um outro esclarecimento. No que diz respeito às informações
declaradas pelos contribuintes, pelas pessoas jurídicas, são
contribuintes nacionais.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito.
O SR. JORGE RACHID – São contribuintes...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Eu lhe pergunto isso porque V. Exª
me informou o seguinte: que um determinado número está no exterior.
Deste número que está no exterior, das empresas que estão no exterior, a
Receita tem o controle de quantas estão hospedadas na Suíça, hospedadas
em Liechtenstein, hospedadas em países que são reconhecidos como
paraísos fiscais?
O SR. JORGE RACHID – Senador, desculpa, mas se o senhor chegou a essa conclusão, eu me equivoquei ao passar-lhe isso.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Tudo bem.
O SR. JORGE RACHID –
O que se tem, o que nós temos são contribuintes que declaram aqui no
Brasil, são contribuintes residentes aqui no Brasil, no caso de pessoas
físicas, ou são contribuintes pessoas jurídicas que têm sede no Brasil.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Eu deduzo, para ficar claro, que a
Receita não tem o controle de quais são os depósitos existentes no
exterior, daqueles que, embora residentes no Brasil, fizeram depósitos
em suas contas fora do Brasil.
O SR. JORGE RACHID – Ah, bom! Ok. Obrigado pelo esclarecimento.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não.
O SR. JORGE RACHID – Vamos tratar das pessoas físicas, em primeiro lugar.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sim.
O SR. JORGE RACHID –
As pessoas físicas, ao declararem, ao realizarem, ao cumprirem a sua
obrigação tributária, no final do mês de abril de cada ano, devem
declarar todos os bens existentes no Brasil e no exterior.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito.
O SR. JORGE RACHID – É iniciativa da pessoa física. Após fazerem isso, nós checamos, como eu havia comentado na minha fala, essas são imputs,
são informações que são agregadas nesse Banco de Dados de mais de 80
fontes de informação. E daí é feita a seleção de contribuintes.
Quando eu comentei que a
nossa legislação precisa ser revista é porque, hoje, o acesso à
movimentação financeira se dá autorizado pela Lei Complementar nº 105. É
muito positiva, é muito boa, é uma Lei Complementar de 2001. Essa lei
tem dois dispositivos: um para coleta de informações de montantes
globais, correto? A segunda são questões incidentais. A Receita Federal
abre um procedimento fiscal, pede informações financeiras. Só que o
alcance dessa Lei Complementar, por óbvio, é no Brasil. Nós não podemos
ter acesso a informações de outros países. A partir daí, nós temos os
acordos ...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi.
O SR. JORGE RACHID – ... para troca de informações.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Logo, se o contribuinte, seja
pessoa física ou pessoa jurídica, não declarar que tem conta no exterior
ele passa incólume?
O SR. JORGE RACHID –
Veja, passa incólume aqui no Brasil e em qualquer país do mundo.
Correto? Aqui no Brasil e em qualquer país do mundo, exceto uma lei
americana, de 2009, denominada ..., inclusive essa lei, aprovada pelo
Congresso americano, obrigou todos os cidadãos, empresas americanas no
mundo a prestarem informações diretamente ao fisco americano no que diz
respeito aos bancos. E essa lei exigiu que se o contribuinte não
colaborar com essa informação ou mesmo a instituição financeira no mundo
não colaborar, ela seria taxada junto ao tesouro
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14:47
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americano. Correto? Então,
isso foi objeto de uma ação internacional. O governo brasileiro aderiu,
como vários outros governos, porque há interesse, no caso do governo
brasileiro, há reciprocidade, não só cidadão americano residente aqui no
Brasil, mas também cidadão brasileiro no exterior, nos Estados Unidos.
Temos acesso à informação.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Não seria possível termos um marco
regulatório de igual teor para cooperação com as nações, com os países
que temos relacionamento de igual teor ao marco regulatório americano?
O SR. JORGE RACHID –
Perfeito. O governo brasileiro aderiu à convenção multilateral de troca
de informações. Essa convenção já tem – estou aqui com minha assessoria
de relações internacionais e área de inteligência – muito obrigado. Já
tem mais de 140 países, em torno de 140, 130 países que firmaram essa
convenção. O Brasil já tomou essa iniciativa para tanto.
Então, com essa convenção
multilateral, poderemos sim ter acesso mais amplo. Lembro que essa
convenção precisa ser aprovada aqui no Congresso brasileiro.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito. Pergunto ao Senhor o
seguinte: Para a Receita, para o Estado brasileiro ter o conhecimento de
quem tem conta no exterior é necessário obviamente a declaração do
contribuinte. Dessas declarações que a Receita tem – aí
insistindo na pergunta – a Receita tem informação de quantas foram
declaradas que estão hospedadas em paraísos fiscais? Como é o caso da
Suíça?
O SR. JORGE RACHID – Essas informações, se o contribuinte declarou, temos essa informação.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito. Não tendo esses dados,
quanto tempo a Receita demoraria para fazer o levantamento dessas
informações.
O SR. JORGE RACHID –
Esse é um campo, temos num campo rápido, dizendo que é Brasil, que é no
exterior. Para identificar levaríamos mais tempo, identificar qual é a
instituição, porque não é um campo, é um campo lido, não é um campo com
rápido acesso. Está certo?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não.
Por favor.
O SR. JORGE RACHID – Acho que cabe um esclarecimento no que diz respeito ao paraíso fiscal. Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Certo.
O SR. JORGE RACHID –
Temos, na nossa legislação, para efeito de imposto de renda, temos duas
situações: uma de países que não cooperam, países que não
disponibilizam informações; segundo, são países que têm tributação
inferior a um determinado patamar. Esses são as bases para definir
países ou regimes de tributação favorecida.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – A Receita, então, não considera a Suíça um paraíso fiscal?
O SR. JORGE RACHID – Na nossa lista, na Suíça, há cantões, há regiões como outros países que têm...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – O que são paraísos? O cantão de Genebra?
O SR. JORGE RACHID –
Deixe-me só esclarecer, Sr. Senador. Nessa questão há países e regiões,
correto? Há países e regiões. Quando se coloca isso, é uma dinâmica. É
muito importante deixar claro aqui que os países lá se alteram com o
movimento que houve de melhor transparência, o movimento inclusive feito
pelo G-20 junto ao ... e vários organismos internacionais, há constante
atualização, correto? Temos, na nossa lista de países em regimes de
tributação favorecida, algo em torno de 34 ou 35 países em regime. Chamo
a atenção para países em regime.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pergunto-lhe especificamente: O
Cantão de Genebra, onde está a agência do HSBC seria?
O SR. JORGE RACHID – Em breve, posso colher essa informação e lhe passo.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito.
Para resumir a pergunta:
Esse levantamento de quantas contas estão hospedadas em paraísos
fiscais, é possível a Receita fazer em razoável tempo.
O SR. JORGE RACHID –
Nós podemos fazer, veja, conforme lhe falei, teríamos que visitar
declaração por declaração. Recebemos 26 milhões de declarações.
Precisamos, primeiro, separar quais que possuem, que o contribuinte
apresentou...
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14:52
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que o contribuinte apresentou, declarou informações no exterior, está certo? E daí fazer uma análise caso a caso.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Eu lhe pergunto, Dr. Rachid, isso
não é automático? Por exemplo, se o contribuinte "x" declara: "Tenho
conta em Liechtenstein." E Liechtenstein é um paraíso fiscal, não já
entra numa lista? A Receita não teria esse controle?
O SR. JORGE RACHID – Senador, não é ilegal ter conta no exterior.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Não, eu sei disso.
O SR. JORGE RACHID – Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Eu sei disso; não é ilegal. Por
isso eu estou perguntando especificamente sobre os paraísos fiscais, o
que também não é ilegal...
O SR. JORGE RACHID – Perfeito.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – ...mas que teria elementos para o rastreamento por parte da Receita.
O SR. JORGE RACHID –
Veja, não é ilegal ter conta no exterior, e nada impede o contribuinte
de ter conta nesse chamado paraíso fiscal, estar regular perante o
Brasil e ter conta em outro país que não é paraíso fiscal, e esse
contribuinte está irregular. Está certo? Então, a visão da Receita
Federal é integral. A análise que a gente... Quando nós recebemos essas
informações, há um trabalho que eu já mencionei anteriormente, de
seleção de contribuinte. Havendo, eventualmente indício, seja lá se o
contribuinte está com conta num paraíso fiscal ou no país "a", "b" ou
"c", esse contribuinte será selecionado.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi, mas, assim, eu,
insistindo na mesma pergunta: se a conta, pela ocorrência de delitos –
vou tratar assim – existentes, com contas hospedadas nesses locais,
visto, via de regra, é comum haver casos de corrupção, e a casos de
corrupção tem uma decorrência. Não seria o caso de a Receita já ter esse
controle?
O SR. JORGE RACHID – Não, a Receita tem o controle integral. É o que eu estou dizendo: a Receita tem o controle integral.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito.
O SR. JORGE RACHID – Se o senhor me perguntar aqui quantas contas tem no país "a", "b" ou "c", neste momento eu não posso lhe dar.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi.
O SR. JORGE RACHID – Agora, para eu identificar, eu teria que visitar a cada declaração, correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi.
O SR. JORGE RACHID – Agora, para nós, nós temos, nós sabemos de imediato quem tem conta no exterior ou quem não tem conta no exterior, correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Correto. Não, eu entendi, mas,
assim, só, na mesma linha: não há dificuldade, então, de levantar esses
dados e fornecer, caso seja necessário?
O SR. JORGE RACHID –
Demandaria tempo, correto? Para eu identificar, eu tenho três
contribuintes no país tal, cinco contribuintes... Demandaria tempo.
Agora, se o senhor me pedir quantos contribuintes têm conta no exterior,
que declararam conta no exterior, perfeito. Que declararam conta no
exterior, eu tenho condições de disponibilizar de pronto.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Avançando aqui, Dr. Rachid, a
Receita teve acesso, mesmo que informal, a uma lista de 342 nomes, V.
Exª falou aqui, que fazem parte do acervo de informações da agência do
HSBC em Genebra, na Suíça. A Receita Federal checou quantos desses
clientes informaram suas contas em suas declarações de imposto de renda à
época em que estiveram abertas essas contas?
O SR. JORGE RACHID –
Insisto: essas informações que nós recebemos, esse relatório que nós
recebemos, nós trabalhamos de forma bastante preliminar por duas razões.
Primeira, nós precisávamos a sua autenticidade, e, segunda, diz
respeito ao universo. Não nos interessava que alguém faça, seja lá quem
for, a seleção de contribuintes para nós; nós temos interesse de olhar
todos os contribuintes. Mas, em relação aos dados que já foram... Que
nós havíamos recebido e que já foram objeto de menção junto à imprensa,
nós temos aqui o seguinte: na lista inicial, encaminhada pelo Coaf, são
342 nomes. Efetivamente identificados na base do CPF, temos 260 pessoas.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Duzentas e sessenta, então, declararam à Receita.
O SR. JORGE RACHID – Não, identificados na base do CPF.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Certo.
O SR. JORGE RACHID – Correto? A lista que veio...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Quantos declaram imposto? A Receita ainda não tem esse dado?
O SR. JORGE RACHID –
Vamos mais adiante. Contribuintes adicionais identificados em notícias
veiculadas na mídia, temos mais 148. Portanto, ao todo, temos 408 nomes,
408 contribuintes que atualmente estão em análise.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Só em relação ao divulgado, os
divulgados, nós temos duas fontes de informação: o blog do jornalista
Fernando Rodrigues e o jornal O Globlo, que são as fontes de informação das divulgações
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14:57
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das divulgações. Parece que o número é superior a 200. Alguns desses dados cruzaram? Dos 342 e os 148?
O SR. JORGE RACHID – Superior a 200, efetivamente identificados na base? É isso?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sim. O que o senhor está dizendo é
que os 148 são identificados na base dos 342. Certo ou não?
O SR. JORGE RACHID – Trezentos e quarenta e dois nomes estão na primeira lista preliminar.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Isso.
O SR. JORGE RACHID – Depois saíram mais 148 nomes. Alguns, inclusive, que estavam na lista preliminar. Quinze estavam na lista preliminar. Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Isso.
O SR. JORGE RACHID – Isso. Então, dessa análise, nós identificamos 260 contribuintes.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Com CPF?
O SR. JORGE RACHID – Com CPF. E daí mais adiante...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Não sabe informar se estes declararam Imposto de Renda à época?
O SR. JORGE RACHID – Então, vamos adiante?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não, por favor.
O SR. JORGE RACHID – Por favor. Agradeço.
Nas verificações preliminares, pessoas com saldo, no banco específico, zerado, incluindo contas encerradas, 69.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sessenta e nove?
O SR. JORGE RACHID – Sessenta e nove.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então...
O SR. JORGE RACHID – Dos 260.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – São os que declararam?
O SR. JORGE RACHID – Mais adiante.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Tá.
O SR. JORGE RACHID – Dessa lista temos 62 estrangeiros. Temos 29 com registro de óbito na base do CPF.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Quantos?
O SR. JORGE RACHID – Vinte e nove.
Temos mais 27 que são residentes no exterior e, por fim...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Brasileiros residentes, os 27?
O SR. JORGE RACHID –
Sim, são brasileiros residentes no exterior. E contribuintes que, além
daqueles da conta zerada, declararam conta bancária, nesse banco
específico, no ano calendário de 2007, três contribuintes.
Da análise preliminar nós
já temos condições de identificar de bens e direitos declarados algo em
torno de 100 contribuintes que realmente têm interesse do Fisco. Agora,
para tanto, eu precisava, a Receita Federal precisava ter as
informações autênticas.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi, da base de dados que está na França.
O SR. JORGE RACHID – Perfeito.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então, assim, só para ficar claro,
da lista inicial de 342, 100 não declararam à Receita possuir conta no
exterior e estão na lista. É isso?
O SR. JORGE RACHID –
Senador, não basta não declarar. A questão é não só declarar. Há
contribuintes também que declararam, mas é possível identificar uma
variação patrimonial. Declararam e é possível identificar outros
elementos que demonstrem interesse para o Fisco. O fato é: das
informações que nós temos, para que nós possamos ter dados mais
efetivos, nós teríamos que buscar, junto aos contribuintes, mais
elementos.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Mas, então, em tese, este número
que V. Exª dá seria, em primeira análise, o número de que V. Exª
denominou como de interesse do Fisco, seriam aqueles que teriam
elementos para investigação por parte do Fisco.
O SR. JORGE RACHID – Preliminarmente. É bom deixar...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito. Perfeito.
O SR. JORGE RACHID – Preliminarmente. Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Diga-me outra coisa. Se houver uma
lista preparada de nomes com data de nascimento e outros dados, além do
período em que mantiveram contas abertas no HSBC da Suíça, quanto tempo
a Receita demoraria para checar se esses contribuintes declararam essas
contas em suas declarações de imposto à própria Receita?
O SR. JORGE RACHID –
Se essa informação for autêntica, se nós tivermos essa lista de forma
autêntica... Por que eu falo autêntica? Nós precisamos identificar
efetivamente dados, precisamos ter exatamente o extrato bancário,
precisamos ter... Não basta ter: "Olha, eu quero consultar que sicrano
ou beltrano tem ou não conta no exterior". Para nós, não... Nós
precisamos saber qual o volume dessa conta. Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi.
V. Exª informou, ainda há
pouco, que o procedimento, digamos, de investigação da Receita foi a
partir das informações do jornalista Fernando Rodrigues. Então, é a
partir do começo de fevereiro, entre o dia 7 e o dia 11 de fevereiro.
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15:02
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entre o dia 7 e o dia 11 de fevereiro.
Entretanto, o vazamento
de dados do HSBC se tornou público no final da década passada e, em
outubro de 2010, a então Ministra da Economia da França, a Srª Christine
Lagarde, entregou primeiramente os dados ao Governo da Grécia, que é o
primeiro país que tem acesso a esses dados, para que a Grécia, em crise
econômica, pudesse fazer o repatriamento. A partir daí, vários outros
países seguiram o mesmo caminho: a própria França, a Holanda, Bélgica,
pelas informações que temos, Espanha e, mais recentemente, a Argentina.
Pergunto a V. Exª: a
Receita, o Governo brasileiro não teve acesso a essas informações
naquele momento, entre 2007 e 2010, ou então, pelo menos em 2010, quando
houve o primeiro compartilhamento de informações entre a França e a
Grécia?
O SR. JORGE RACHID – Senador, interessante, obrigado pela oportunidade da pergunta. É interessante.
Em algum momento, em
2010, nós tivemos conhecimento de que havia contribuintes brasileiros
naquela lista? Nós não tínhamos conhecimento. A informação veio a
público no início de fevereiro. Até então...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – No início de fevereiro no Brasil,
pelo ICIJ. Mas não existe nenhuma relação de cooperação com esses países
da Europa, com a França, que pudesse possibilitar essa informação?
O SR. JORGE RACHID –
Veja, mais uma vez, essa convenção multilateral, uma vez aprovada aqui
no Congresso, vai permitir isso que o senhor... Quando um país tomar
conhecimento, vai acionar o outro. Correto? Mas o fato é que nessa
conta, quando ao que se trata desse banco específico que o senhor
comentou, a Receita Federal veio tomar conhecimento no mês e fevereiro.
Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Obviamente, a requisição para a
França foi agora. Anteriormente, não houve nenhuma iniciativa nesse
sentido?
O SR. JORGE RACHID –
Não, porque não se justificaria como a França, como a Espanha, como a
Argentina, como os países que o senhor mencionou, não faria sentido
fazer esse pedido sem elementos suficientes para identificar. Não se
faz, não há possibilidade de fazer um pedido, algo do tipo, nos acordos
firmados. Eu não posso questionar a determinada administração
tributária, chamada fishing expeditions,
eu não posso questionar: "Existem contribuintes brasileiros nessa
lista?" Não há possibilidade. Da mesma forma, nós negaríamos para
qualquer administração tributária do mundo se alguém viesse questionar:
"Eu queria saber se o universo a, b, c ou d – universo, e não
contribuintes a, b, c ou d, universo –, eu quero as informações desse
universo." Nós negaríamos.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – E como V. Exª justificaria essas
nações que citei já terem tido acesso aos dados e algumas terem
repatriado os recursos com antecedência em relação ao Brasil?
O SR. JORGE RACHID –
A antecedência, Senador, da mesma forma: em 30 dias nós acreditamos que
tenhamos acesso a essas informações. Tão logo tomamos conhecimento, nós
tivemos acesso. Ninguém nos garante se outras organizações tributárias
surgirão nesse processo.
No próprio site do organismo internacional há indicações de contribuintes de outros países que não foram mencionados aqui nesta nossa sessão.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – No final de fevereiro, Dr. Rachid, duas revistas semanais, a Época e a IstoÉ Dinheiro
publicaram fac-símile com um documento com a marca Copei, que é a
Coordenação-Geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal. Esses
fac-símiles continham o resultado de uma avaliação preliminar do Coaf a
respeito de uma lista de 342 nomes de brasileiros que poderiam ter
contas no HSBC da Suíça. Eu faço pergunta a V. Exª sobre, neste caso, o
que aconteceu e se a Receita Federal poderia responder como um documento
interno seu, foi publicado pela mídia, e de quem seria a
responsabilidade geral pela guarda desse documento.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES (Fora do microfone.) – Senador, o senhor permitiria que eu...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não, pode ser ao senhor, pode ser ao Coaf. Fiquem à vontade.
O SR. JORGE RACHID – Desculpe-me, Sr. Presidente.
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O SR. JORGE RACHID – Desculpe, Sr. Presidente.
(Risos.)
Não, é só esse esclarecimento, que também é importante, para que fique claro a todos.
Só recapitulando, dia 8
de fevereiro, o ICIJ publica o caso do SwissLeaks, informando a suposta
existência de contas de milhares de brasileiros.
No dia 11 de fevereiro, nós fizemos uma reunião com o Coaf, onde houve o compartilhamento dessa lista.
No dia 12, há o
relatório, esse que o senhor mencionou, esse relatório de informações
financeiras. Esse relatório não é da Receita, o relatório é do Coaf. É
aí que eu pediria depois ao Presidente do Coaf para fazer os
comentários. Esse relatório, que diz respeito a 60 dessas pessoas,
produzido pelo Coaf – produzido pelo Coaf, correto? –, com a marca
d'água da Receita, esse relatório foi disponibilizado para a Receita
Federal no dia 20 de fevereiro. Há o compartilhamento desse mesmo
relatório para o Banco Central do Brasil, esse mesmo relatório gerado
pelo Coaf. Aí, depois, tem um sistema que gera esses relatórios.
No dia 26 de fevereiro,
tão logo tomamos conhecimento sobre o vazamento – inclusive, tomamos
conhecimento de uma fonte, antes da própria publicação –, de pronto, no
dia 27, informamos esse vazamento, essa informação à instituição
geradora dessa informação. Informamos a outra instituição, que também
teve acesso à mesma. Imediatamente encaminhamos um pedido de apuração
junto ao Departamento de Polícia Federal, tudo isso no próprio dia 27, e
solicitamos abertura de procedimento administrativo, uma investigação
administrativa, para apurar. Essa investigação está a cargo da
Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda, por envolver mais de um
órgão da Fazenda. Nessa mesma oportunidade, nesse mesmo dia, demos
conhecimento à imprensa da publicação.
Inclusive, essa nota,
Senador, é uma nota conjunta da Receita Federal, Coaf e Banco Central,
que prestam esclarecimentos, no dia 27 de fevereiro, sobre esse caso.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – E a guarda do documento pertenceria a quem?
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Por gentileza.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Permite-me, Senador?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não, Dr. Gustavo.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Eu pedi para esclarecer. Quer dizer, a guarda, no fundo, eu diria,
compete aos três. Quem teve acesso àquele documento? Quem gerou, o Coaf,
e os dois que o receberam. Daí, os três órgãos, o Ministério da Fazenda
e o Banco Central, tomaram as providências da auditoria interna, de
verificar administrativamente, como, ao mesmo tempo, pedimos à Polícia
Federal abertura de investigação criminal, para verificar.
O fato é que a divulgação
desse tipo de informação causa inúmeros prejuízos para o processo. Como
nós falamos de informação de inteligência, um ponto que sempre destaco
da atividade do Coaf, às vezes, você até alerta um possível investigado.
Então, realmente, é um problema. Há todo o interesse das
instituições de identificar qual foi a fonte, e aí eu tenho que incluir o
próprio Coaf. Mas é o Coaf, a Receita e o Banco Central, todos que
tiveram acesso àquele documento.
O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) – Presidente, pela ordem, Sr. Relator.
Apenas para complementar a
informação, Dr. Gustavo, por gentileza, em que data foi pedida a
apuração do vazamento? Não ficou claro.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Tão logo foi tomado conhecimento. Foi tomado conhecimento antes da
publicação por um órgão da Receita. Ele nos comunicou telefonicamente.
Na manhã seguinte, acho que foi numa quinta-feira, se não me falha a
memória...
O SR. JORGE RACHID – Sexta-feira.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
... Na manhã seguinte, que foi sexta-feira, passei o dia inteiro lá com
o Dr. Rachid exatamente discutindo isso. À noite, tivemos a reunião,
até com a presença da Polícia Federal, era o Diretor de Combate ao Crime
Organizado. Nessa ocasião, já combinamos com ele o envio, que foi
providenciado imediatamente pelo Secretário da Receita e complementado,
posteriormente, pelo Coaf, com as informações de log de acesso do nosso
sistema, de quem acessou o sistema para acesso do tal documento.
O SR. JORGE RACHID – Permite-me, Senador?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então...
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15:12
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O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então entendo que tem um procedimento administrativo de investigação instaurado?
ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Em curso.
Tem sim senhor.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Policial?
ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Também policial.
O SR. JORGE RACHID – Permita-me, Senador, só para um esclarecimento ao Senador Cássio Cunha Lima?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não.
O SR. JORGE RACHID –
Senador, como mencionado, para as datas precisas, no dia 26, no final
do dia, quando uma unidade da Receita Federal tomou conhecimento desse
vazamento, começamos a agir e, no dia 27, todos esses órgãos que tinham
acesso à informação, Departamento de Polícia Federal e à sociedade,
mediante a nota que está disponível no nosso site, demos publicidade, ok?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Avançando, já terminando as
perguntas a V. Exª, Dr. Rachid, tem três perguntas, na verdade, da lavra
do nosso relator e as demais do Senador Ricardo Ferraço. As demais que
fiz inclusive coincide com as que ele tinha formulado e eu acho que é
importante ter uma resposta de V. Exª.
Quais os mecanismos que a Receita Federal dispõe para averiguar a existência de ativos não declarados no exterior?
O SR. JORGE RACHID –
Como eu havia mencionado, Senador, tanto a Receita Federal do Brasil,
como o IRS americano e outras administrações tributárias, elas atuam com
trocas de informações, atuam com acesso a informação.
Como eu mencionei, o
primeiro ponto é o contribuinte declarar. O segundo ponto vem com a
troca de informações ou um trabalho de inteligência, de coleta.
Esta convenção...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Esse trabalho, há uma periodicidade dessa ação, com a instituição americana?
O SR. JORGE RACHID –
Há. Depois de 2012, no Fórum de Transparência, 2010/2012... Em 2010, no
Fórum de Transparência, junto à OCDE e ao G-20, há uma movimentação
muito grande das administrações tributárias terem acesso a esses dados
fora da sua jurisdição.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então essa cooperação existe desde 2010?
O SR. JORGE RACHID –
Não, essa cooperação existirá se passar na nossa convenção, se passar
essa convenção multilateral que está em debate aqui no Congresso.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então deixa eu entender. Hoje não existe?
O SR. JORGE RACHID –
Hoje as informações, se nós tivermos indícios de que um determinado
contribuinte tem uma movimentação, ou seja lá qual bem que esteja em
País que são cooperantes, em País que nós temos acordos para a troca de
informação, nós teremos acesso. Fora isso nós não temos como ter acesso.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Com a França, o Brasil tem?
O SR. JORGE RACHID – Temos acordo e por conta disso, e aí é bom um esclarecimento quanto à data.
Somente em 2013...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Permita-me, com a França o Brasil tem. E com Suíça?
O SR. JORGE RACHID – Com a Suíça ainda não. Nós estamos em tratativas para firmar um acordo de troca de informações com a administração tributária suíça.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Pois não.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco
Apoio Governo/PT - RN) – Sr. Presidente, nobre Senador Randolfe, queria
só que a gente pudesse observar um pouco do tempo, em que pese, claro,
que o Senador Randolfe está fazendo aqui um papel de relator e portanto
um papel importante, mas nós já vamos com duas horas de reunião. Duas
horas de reunião e conseguimos até agora ouvir, ou seja, na fase de
perguntas agora só com o primeiro convidado convocado que foi o Dr.
Rachid.
Já vamos com mais de duas
horas de reunião. É só para ajudar na realização aqui dos trabalhos.
Que a Presidência, junto com o Senador Randolfe pudesse ver a questão do
tempo.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Já estou concluindo com o Dr. Rachid.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – É que na verdade não foi um
ping-pong. Acho que foram perguntas e respostas mais duradouras do que o
ping-pong como estava previsto.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Bom, estávamos...
O SR. JORGE RACHID – Posso concluir a pergunta, Senador?
Eu queria até complementar uma informação quando desse acesso a informações em outros países.
No caso específico deste
que nós estamos tratando, nós precisamos ter validade jurídica para
esses dados. Não adianta termos acesso a informações sem ter validade
para que nós possamos utilizar nos nossos procedimentos fiscais.
No caso específico
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15:17
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nos nossos procedimentos
fiscais. No caso específico, somente em 2013, após a Corte Francesa dar
validade a essas informações, é que a França começou a fazer um trabalho
de fornecimento de dados. Passado um ano, tivemos acesso a informações
de que há brasileiros. Em uma semana houve um trabalho para vermos de
que maneira podemos ter acesso a essas informações que a França, que a
administração tributária estrangeira disponibilizaria para nós e que
essa informação, eventualmente, não seja objeto de questionamento
internamente aqui. Então, todo o cuidado foi feito.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – V. Exª fala em 2013. Não era, e
quero insistir numa questão anterior, não era possível, então, já em
2013, ter tido acesso a esse caso do HSBC suíço?
O SR. JORGE RACHID – Não tínhamos informações se nesse caso haveria brasileiros.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Perfeito. Para concluir com V.
Exª, duas perguntas. Diante da constatação da existência de ativos não
declarados no exterior, como seria e qual será o procedimento da Receita
Federal para resgatá-los? Para ir adiantando o serviço aqui, eu
pergunto também a V. Exª se há como descobrir se os ativos se originaram
de rendas sobre as quais são devidos impostos. Ou seja, há como a
Receita Federal descobrir se houve sonegação fiscal?
O SR. JORGE RACHID –
Em primeiro lugar, por óbvio, observamos o devido processo legal, isto
é, vamos identificar a situação e iniciar um procedimento fiscal junto
ao contribuinte. Antes disso, temos de observar a lei, que é a
decadência do crédito tributário. Nós temos o Código Tributário
Nacional, que prevê, dentro do nosso Ordenamento Jurídico, aprovado aqui
no Congresso, que tem o alcance legal. Pela...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Por V. Exª estar destacando,
várias vezes, esse marco regulatório que ainda está no Congresso, parece
claro e patente que a ausência de termos esse marco regulatório, de
termos essa lei, tem sido um impasse para as atividades da Receita
Federal, para a investigação, para a retomada de ativos, enfim, para
todos os procedimentos.
O SR. JORGE RACHID – Não, Senador, desculpe-me, eu me refiro ao Princípio da Decadência, que está no Código Tributário Nacional de 1966.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Eu entendi, mas a ausência desse
marco, que ainda está no Congresso, tem sido empecilho para esse tipo de
investigação?
O SR. JORGE RACHID – O Senhor me permite responder à primeira pergunta que depois respondo a essa outra?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Claro, fique à vontade.
O SR. JORGE RACHID –
Só para concluir a primeira, nós só poderemos constituir um crédito
tributário se estiver ao nosso alcance para o lançamento do crédito. Se
essa informação já decaiu o direito de lançar, nós não podemos fazer
nada, mas é uma informação importante, interessante para nós, porque,
identificado se o contribuinte tem uma movimentação no exterior
posterior a isso, é uma informação de interesse do Fisco brasileiro,
correto? Apenas para responder à primeira questão. Quanto à segunda
pergunta, de fato, tanto a Convenção Multilateral como os Acordos de
Troca de Informação, firmados bilateralmente pela Administração, pelo
Governo Brasileiro e outros países, são muito importantes para nós a sua
aprovação aqui no Congresso brasileiro. Não sei se fui claro nas duas
respostas.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Foi sim, Dr. Jorge Rachid. Eu
quero agradecer a V. Exª e, Sr. Presidente, com a sua permissão, já
passando rapidamente para o Dr. Antônio Gustavo, do Coaf. V. Exª, na
verdade, já respondeu a primeira, que é sobre a lista dos 342 nomes e do
vazamento das informações para as revistas IstoÉ e Época. Eu
pergunto a V. Exª, como perguntei ao Dr. Jorge Rachid. Com a
divulgação, quando o Coaf e a Receita receberam, em setembro de 2014,
essa lista, que era uma amostra da lista de 8 mil, como já conversado
aqui, quais foram as providências que o Coaf tomou e quanto tempo
demorou para tomar tais providências? Pergunto...
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15:22
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tempo demorou para tomar tais providências? Pergunto,
ainda, para, no caso de V. Exª, ser mais breve no encaminhamento,
quanto tempo demorou e o porquê do tempo para a resposta a esse tema.
E eu pergunto, também, se
o Coaf procurou verificar com a Receita Federal ou com o Banco Central
se seria possível analisar os 342 nomes.
E, por fim, se
compartilhou as informações sobre os 342 nomes com a Receita Federal ou
com o Banco Central, e se foi feito, pelo Coaf, um alerta sobre a
necessidade de manter o sigilo dessas informações.
Então, para V. Exª, já
faço, de uma só vez, as perguntas, para adiantar o processo e podermos
passar para os outros dois convidados.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Obrigado, Senador.
Conforme eu me referi,
logo na minha apresentação inicial, nosso primeiro contato com essa
lista foi em outubro de 2014, não setembro.
Então, isso foi no dia 14
de outubro, se não me falha a memória. Então, recebemos o documento e, a
partir daí, demos aquele tratamento que eu também já mencionei, na área técnica, a tentativa de identificação do nome, quer dizer, dos nomes lá.
E, aí, eu faço um
parêntese, que mostra e, até, de certa forma explica uma pergunta
anterior que o senhor fez, os bancos de dados têm indexadores, campos
específicos. No caso, nós usamos o CPF, que identifica uma pessoa sem
dúvida, é aquela pessoa especificamente.
Quando você pega uma
lista de nomes assim, nós tivemos casos, por exemplo, que tinham 12
homônimos. Então, você não tem condição de precisar de que pessoa,
efetivamente, aquilo se trata.
De qualquer forma, isso,
como eu mencionei, são questões de processo de trabalho que, e lembrando
que o Coaf tem as suas atividades principais também ocorrendo em
paralelo. Depois, se o senhor tiver interesse, eu posso dar alguns
números para o senhor ter uma ideia do tamanho desse trabalho.
Mas o ponto principal da
nossa preocupação, como eu disse, é que nós trabalhamos com informação
de fontes oficiais. Nós recebemos uma informação proveniente de um
crime, no fundo. Então, nós não tínhamos nenhuma segurança de trabalhar
com aquela informação antes que ela se tornasse pública.
Chamo a atenção, o Coaf
utiliza, e muito, o trabalho da imprensa. É uma fonte importante, só que
a imprensa é publicada. Há uma diferença, aqui, entre imprensa e
jornalista. O contato que nós tivemos, até hoje, não tive nenhum contato
com o Sr. Fernando Rodrigues sobre esse assunto, eu tenho a
impressão...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Desculpe, Dr. Antônio. Como assim, há uma diferença entre imprensa e jornalista?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Uma coisa é o senhor ver uma informação publicada no jornal. O senhor
tem uma entidade, o senhor tem uma empresa responsável por aquilo. Outra
coisa é uma pessoa física lhe dar uma informação.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi, mas, no caso do
jornalista Fernando Rodrigues, não tem uma pessoa jurídica, também, lá,
porque...
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Sim.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – ... há uma instituição, que é o UOL?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Não. Teve. Não, não. Isso que eu digo. No dia em que isso apareceu publicado, toda ação externa do Coaf teve início.
Então, o que eu
expliquei, desde o início, é isso: dado o nosso desconhecimento da
fonte, não tínhamos segurança da origem, como eu disse, quer dizer, não é
comum, nem era previsto nas próprias regras do ICIJ que isso fosse
disponibilizado, nós não tínhamos a menor segurança de tomar qualquer
ação externa.
Então, para nós, a segurança é na hora em que aquilo passa a assumir uma função, uma publicação externa.
De qualquer forma, isso
que eu estou falando, eu não estou falando de muitos meses, nosso
contato inicial, como eu estava falando, eu nunca conversei, não tive
nenhum contato com o jornalista Fernando Rodrigues nesse processo, eu
tenho a impressão, a minha memória está ficando, eu estou ficando velho,
mas eu tenho a impressão de que ele me convidou, alguns anos, para um
evento em São Paulo, e nós tivemos, lá, um excelente relacionamento.
Então, assim, não é
questão pessoal dele, o contato que nós tivemos foi com o jornalista
Leonardo, também da folha UOL, e, simplesmente, eu falei para ele,
primeiro, nós não podemos fornecer informação protegida por sigilo,
porque isso aí não pode mesmo, e, segundo, nós não podemos nos
comprometer com datas.
Por quê? Porque nós
estávamos num período sobrecarregado no Coaf. Não só era um período de
fim de ano, festas, em que têm feriados etc., férias, mas, só para o
senhor ter uma ideia, Senador, só no quarto trimestre de 2014, o Coaf
tratou de 318 mil comunicações, produziu 923 relatórios, sendo 78 da
Lava Jato, 65 das eleições, em cooperação com o TSE, e mais uma da
Operação Ararath.
Então, quer dizer, o
documento entrou, foi sendo tratado, agora, nós tínhamos, eu poderia
antecipar alguns dias? Poderia, mas houve uma decisão de aguardar.
De novo, lembrando, o Coaf é um órgão de inteligência. Eu estou
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15:27
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...o Coaf é um órgão de
inteligência. Eu estou, desde fevereiro de 2004, na presidência do Coaf.
Como órgão de inteligência, você passa a tratar a informação com certos
cuidados. A gente tem um medo danado de que o Coaf seja usado ou para
ratificar informação ou lavar informação, seja lá o nome. Ou seja,
imagina sair uma publicação de uma notícia dessa, com informações que a
gente não tem segurança da fonte, comentando que o Coaf já encontrou
quinze nomes da lista, mesmo sem citar ou somente citando dados
estatísticos, isso não nos pareceu adequado.
Então, esperamos a
publicação e imediatamente começamos, então, a disseminação externa.
Inicialmente, como eu disse, em 11 de fevereiro, com a Receita Federal.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Obrigado. Presidente, para ser
mais célere e avançarmos, eu vou fazer seguidamente as perguntas ao
Doutor Beto Vasconcelos e ao Sr. Anthero de Moraes e, aí, eu me dou por
satisfeito se as respostas forem em seguida, para dar a celeridade que,
obviamente, o plenário pede para a investigação. Ou melhor, para esta
audiência.
Então, iniciando pelo
Doutor Anthero, pergunto primeiro. Quando e como o Banco Central teve
conhecimento do vazamento de 106 mil contas secretas do HSBC, abrangendo
203 países? Pergunto ainda. A primeira denúncia data de 2008. O que fez
o Banco Central a partir da informação de que o Brasil era o quarto
país no ranking de clientes, com 8.867
correntistas, operando 6.606 contas? Ainda. O que fez o Banco Central,
por suas áreas técnicas, quando toma conhecimento de um fato... O que
faz, corriqueiramente, o Banco Central através de suas áreas técnicas
quando toma conhecimento de um fato dessa extensão?
Continuando. Cinco anos
atrás, em 2010, o governo francês passou a compartilhar – já foi
confirmado, inclusive, aqui pelo Doutor Rachid – o acervo vazado do HSBC
com os países que demonstraram interesse. O que aconteceu com o Brasil?
O Brasil não demonstrou interesse, pelo conjunto de contas brasileiras,
estimado em cerca de R$7 bilhões? As informações do Doutor Rachid foram
bastantes? O Banco Central tomou alguma providência?
Pergunto também se o
Banco Central tem algum sistema de rastreamento, nacional ou
internacional, que lhe permita ser informado sobre a ocorrência de
vazamentos que possam interessar ao Brasil. E se o sistema bancário tem
regras e obrigações para manter o Banco Central informado sobre a
existência de contas de brasileiros no exterior.
Pergunto a V. Exa
qual a área e quantas pessoas integram a equipe do Banco Central
encarregada desse controle de contas no exterior. Como é possível termos
6 mil contas de quase 9 mil brasileiros e elas terem vazado do controle
do Banco Central? Isso é possível? Se é possível, como é possível? Como
é também possível que cerca de R$7 bilhões de depósitos secretos
localizados em um único banco, o HSBC em Genebra, na Suíça, em registros
que abrangem essa totalidade em apenas dois anos, tenham sido operados
sem o conhecimento do Banco Central?
Diante de tudo isso, não
há de se fazer uma autocrítica que o sistema de fiscalização e
vigilância do Banco Central é falho? E o que faz, partindo do
pressuposto que tem essa falha, o que faz o Banco Central para sanar?
Pergunto também, Sr.
Anthero. De 2010 até 2014, cerca de U$1,36 bilhão foi recuperado em
impostos e multas na Bélgica. Só destacar que isso corresponde a quase
20% do ajuste fiscal proposto pelo Ministro Levy. O governo recuperou o
equivalente a U$490 milhões. Então, U$1,36 bilhão foi recuperado em
impostos e multas. Na Bélgica, o governo recuperou U$490 milhões. Na
Espanha, foram U$298 milhões recuperados. Eu pergunto: qual o valor que o
Banco Central estima que o Brasil poderia recuperar desses R$7
bilhões...
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o Brasil poderia recuperar
desses R$7 bilhões em contas secretas, e a partir, inclusive, dessa
informação que o Dr. Rachid presta aqui, que algumas dessas contas já
estão sob interesse do Fisco, estão sob investigação do Fisco? Pergunto a
V. Exª: embora o vazamento Swiss Leaks tenha recebido destaque na mídia
internacional desde 2008, o Governo brasileiro parece que não teve
interesse até esse fato se tornar de conhecimento aqui. Como explicar? É
essa a pergunta que faço.
O caso do Swiss Leaks
envolve um único banco e operações referentes a apenas dois anos. É
possível que outras contas, de outros bancos, em outros períodos de
tempo, estejam sendo operados, neste momento, por brasileiros, sem
conhecimento do Banco Central? Ou seja, temos outros HSBC de Genebra, da
Suíça, em outras partes do mundo, com ativos brasileiros, sem
declaração e sem controle do Estado brasileiro?
Pergunto a V. Exª: a
denúncia do Swiss Leaks escancara as deficiências de controle, as falhas
estruturais e, me parece, a falta de reação das autoridades
brasileiras. O que deve ser feito para que isso seja corrigido?
Por fim, pergunto sobre a rede de dinheiro em contas secretas que trafega pelo mundo, que opera através de empresas off shore
de intenções suspeitas e identidades ocultas, instaladas em paraísos
fiscais. O Banco Central brasileiro tem como controlar e coibir essa
prática, que acoberta eventuais crimes e estimula transgressões em
níveis transnacionais?
As perguntas, até para facilitar para V. Exª, eu posso passar. Fica melhor para as respostas e para o encaminhamento de V. Exª.
E, ainda, semana passada
tivemos a chamada operação Zelotes, desencadeada pela Polícia Federal. A
operação envolve o que pode ser a maior fraude tributária da história,
estimada em R$19 bilhões. Eu pergunto a V. Exª – e pode também se
estender ao Dr.Rachid, para responder no momento em que achar
conveniente – se há suspeita de relação, de alguma conexão entre a
operação Zelotes e as contas secretas no HSBC.
Antes de ouvir V. Exª,
vou fazer logo as perguntas para o Dr. Beto Vasconcelos. E aí,
Presidente, eu concluo os meus questionamentos aqui aos nossos
convidados.
Pergunto ao Dr. Beto
Vasconcelos, Secretário Nacional de Justiça: quando o Governo brasileiro
receber os dados sobre correntistas brasileiros no HSBC da Suíça, o que
poderá ser feito do ponto de vista legal? Imagino que os dados vindos
da França já estão validados, ou seria necessário mais algum ato de
validação aqui no Brasil?
Pergunto a V. Exª o mesmo
questionamento: ontem, em reunião, em audiência com o Procurador-Geral
da República, o Ministério Público Federal se dispôs a, tão logo ter
esses dados, compartilhá-los com esta CPI. Está claro aqui que as ações
do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e da Receita estão
coordenadas também com o Ministério Público Federal. Pergunto,
obviamente, sobre a disposição do Ministério da Justiça em compartilhar
essas informações.
Pergunto ainda a V. Exª:
há notícia de que as autoridades suíças, após serem criticadas
internacionalmente por permitirem que um banco atue para lavar dinheiro
de criminosos do mundo todo, decidiria abrir investigação contra o HSBC.
Em fevereiro, o Ministério Público de Genebra comandou uma operação de
busca e apreensão na sede do HSBC, em Genebra. Diante dessa informação,
Dr. Beto, o que o Governo brasileiro vem fazendo para ter acesso a esses
dados apreendidos pelas autoridades suíças?
Já foi basicamente
respondido, mas quero ouvir de V. Ex ª também como funcionam os acordos
de cooperação internacional entre o Brasil e a Suíça, e também com a
França, que é quem hospeda hoje os dados e a quem nós estamos buscando.
Pergunto a V. Exª, Dr. Beto:
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15:37
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Que razões levariam um
brasileiro honesto, que cumpre todas as suas obrigações tributárias, que
declara seus rendimentos todo mês de abril/maio à Receita Federal, que
razões levariam, dentro ou fora, ele abrir uma conta secreta em uma
agência no exterior, nesse caso específico, uma conta do HSBC em
Genebra?
Na opinião de V. Exª,
quais razões levariam e se há obviamente suspeitos no Ministério da
Justiça, sobre o conteúdo da ampla maioria das contas são as mesmas que
tem essa CPI?
Ainda neste sentido, por
que abrir uma conta numerada, com dígito cifrado em um país, em outro
país e operada, de forma anônima, por empresas offshore, que visam
sigilo? O que levaria a esse conjunto de procedimentos?
Por fim, pergunto a V.
Exª, quem faz isso de forma deliberada não adota pelo menos um
comportamento, digamos, suspeito, evasivo, que justifica presunção de
crime fiscal e tributário, que mobiliza uma investigação mais detalhada,
um acompanhamento mais detalhado por parte de todos os órgãos de
controle?
Sr. Presidente, são essas
as minhas perguntas aos nossos dois convidados. Reservo-me a continuar
quando os colegas também indagarem e tiver relação com essas perguntas.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Primeiro ao Dr. Anthero, depois o...
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Pela
ordem, Sr. Presidente, não sei se talvez não abrisse para o plenário e
já fizéssemos. Portanto, eles responderiam em conjunto.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Esse
é um exercício...A Presidência inclusive aceita as sugestões depois
como melhor dar eficiência aos nosso trabalhos. Já se verificou que a
questão do chamado pingue-pongue acabou criando ansiedade a V. Exª pelo
fato do Relator naturalmente...
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) –
Permita-me, Sr. Presidente. Claro que o Relator está cumprindo um papel
muito importante aqui. O Senador Randolfe está revestido hoje dessa
função.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Vamos dar o seguinte encaminhamento. Deixa os dois responderem e depois vocês três fazem pergunta em bloco.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) – Não,
volto exatamente a refazer, Sr. Presidente. Acho que é melhor mesmo que
os depoentes, enfim, respondam ao Relator, Senador Randolfe.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – A
gente dá oportunidade dele responder ao Relator e depois damos
oportunidade para os três Senadores que estão aqui fazerem em bloco aos
quatro e eles depois respondem aos quatro. Tudo bem?
Dr. Anthero.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Obrigado Sr. Presidente, Exmº Sr. Senador Randolfe Rodrigues, que
também dirige as perguntas, vou tentar contemplar esse conjunto de
pontos.
Quando o Banco Central
teve conhecimento dessa informação, quando começamos a trabalhar com
essa informação na lista? Foi exatamente quando recebemos o relatório de
inteligência financeira do Coaf, que fez uma primeira análise das
informações recebidas pelo jornalista e, como já informou o Dr. Antônio
Gustavo, compartilhou com a Receita Federal e o Banco Central. O que
fizemos com essas informações? Tanto quanto a Receita, procuramos bater
essas informações com cadastros da própria Receita, CPF, CNPJ, batemos
informações entre os órgãos para exatamente verificar o que teríamos de
informação para pesquisar e passamos então, é um trabalho que está em
curso, a consultar a nossas bases de dado, de câmbio, de transferências,
de...
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e passamos, então – é um
trabalho que está em curso –, a consultar as nossas bases de dados de
câmbios, de transferências, de relacionamento bancário, que é o Cadastro
de Clientes do Sistema Financeiro (CCS), exatamente para identificar se
havia registro de operações daquelas pessoas, porque é importante dizer
que abrir conta – já foi dito aqui, na CPI também, diversas vezes, pela
imprensa – no exterior não tem irregularidade. Não há vedação para
alguém ter conta no exterior e tampouco manter disponibilidades no
exterior.
Como a pessoa pode fazer
isso? Ela pode abrir essa conta diretamente no exterior. O Banco Central
não tem essa informação. O Banco Central não detém essa informação, até
porque são informações protegidas por sigilo nos países onde essas
contas estão, assim como outros países não têm acesso a contas que,
eventualmente, seus cidadãos têm aqui, no Brasil, porque também são
protegidas, conforme a Lei do Sigilo Bancário. Consequentemente, não
temos como saber isso.
O que nós temos de
informação no Banco Central? Nós temos informação de operações de
câmbio. Como uma pessoa consegue ter disponibilidades no exterior? De
várias formas. Vamos aqui, claro, às formas legais, às formas legítimas.
Ela pode ter negócios lá fora. Então, uma empresa exportadora, uma
empresa importadora, uma empresa de prestação de serviços, coisas dessa
natureza, enfim, uma empresa que tem atuação transnacional pode ter
contas – e, normalmente, tem – em várias jurisdições onde tem negócio. E
ela pode manter disponibilidades nessas contas. Ou seja, uma empresa
brasileira que tem uma atuação em vários países, em geral, tem conta
neles e pode receber neles, por exemplo, recursos provenientes de
exportações que fez, porque ela tem também, eventualmente, obrigações a
prestar nesses países. Então, uma pessoa, seja física ou jurídica, pode
ter haveres no exterior dessa fonte, a partir de negócios que tem no
exterior, ou por remessas. Quer dizer, ela pode fazer aqui uma operação
de câmbio, que também é uma operação legítima, lícita, que tem que ser
feita com instituições autorizadas pelo Banco Central, e pode remeter
esses recursos.
Qual é a obrigação que
ela tem? Evidentemente, ela tem obrigações com o Fisco, como já disse o
Dr. Rachid. Com o Banco Central ou com, digamos, a legislação nacional,
essas operações têm que ser feitas em entidades reguladas, como, por
exemplo, uma operação de câmbio, e existe a obrigatoriedade, existe o
censo brasileiro de capitais externos, um censo que o Banco Central faz
anualmente ou, dependendo do valor, trimestralmente, que tem fins
estatísticos. É uma informação que foi criada pela Medida Provisória nº
2.224, de 2001, que, na própria exposição de motivos, dizia: "...a
elaboração de estatísticas importantes para o delineamento de políticas
na área de fluxos internacionais de capitais para a elaboração do
balanço de pagamentos e para a equalização de dados divulgados de forma
consolidada por outros países de destaque na comunidade
internacional..." Então, o Banco Central faz um censo,
anualmente, para valores acima de R$100 mil – é um fim estatístico e é
declaratório também – e, trimestralmente, para quem tem acima de US$100
milhões. Então, a pessoa física ou jurídica com residência no Brasil,
domiciliada no Brasil que tem esses haveres lá fora tem a obrigação de
fazer esse reporte ao Banco Central exatamente em função da necessidade
de elaborar as estatísticas nacionais tanto de dívida externa
brasileira, seja pública ou privada, sejam haveres brasileiros públicos
ou privados no exterior, exatamente para fins de elaboração de balanço
de pagamento e para projeção de fluxos potenciais de entradas e saídas
de recursos no País.
Como o Banco Central está
trabalhando e trabalha quando recebe alguma denúncia, com todos os
cuidados que já foram aqui colocados em relação à origem, à legalidade?
Como estamos trabalhando nessa lista de, originalmente, 342 nomes?
Estamos procurando ver exatamente qual era o relacionamento que esses
CPFs ou CNPJs tinham com bancos e instituições financeiras por nós
regulados, verificando que operações foram feitas e se as instituições
financeiras reguladas por nós, em relação a esses clientes, selecionados
a partir de uma série de critérios
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selecionados a partir de uma série de critérios de relevância, etc. e tal. Como foi o comportamento dessas instituições em relação a essas operações, ou seja, essas operações tinham características de suspeição que deveriam ter levado a uma comunicação ao Coaf? Essa comunicação foi feita? Como ela se portou? Mais do que isso, como bem diz o Dr. Rachid, não somente em função da situação de 2006/2007, mas como está hoje, inclusive, que é o que a gente permanentemente avalia. Temos um sistema de supervisão em que, pelo menos a cada dois anos, as instituições bancárias passam por uma avaliação completa, que a gente chama de Sistema de Rating, na qual a gente destrincha a instituição e avalia as várias dimensões da instituição:
crédito, mercado, governança, controles internos, PLD, etc. São dadas
notas a essas instituições. Então, a governança da instituição, tanto
para fins da sua gestão financeira, da sua boa conduta e também dos seus
elementos de pressão de lavagem de dinheiro são permanentemente
avaliados. Em havendo falhas, deficiências, o Banco Central o orienta. A
gente tem várias medidas, que vão desde uma orientação, de uma
advertência, eventualmente, de multa, de um processo administrativo – no
caso da multa e advertência tem que ser um processo administrativo. A
recorrência de infrações dessa natureza pode levar, inclusive, a uma
ação de saneamento, que é a retirada de dirigentes ou das próprias
instituições do sistema.
Então, todos esses elementos são inputs
para a gente verificar se as instituições reguladas estão trabalhando
como se espera ou não, onde há falhas e o que é preciso para corrigir
essas falhas. Agora, como eu disse, abrir uma conta no exterior é algo
que não passa pela autorização do Banco Central. O Banco Central não tem
a relação das contas que as instituições têm. Nesse censo de capitais
brasileiros no exterior, tanto a pessoa física como jurídica informam o
montante dos valores que têm e o tipo de investimento; não informam a
conta tal, no banco tal, não informam isso.
Agora, toda operação
lícita de câmbio deve ser feita dentro de uma instituição autorizada
pelo Banco Central, feita à margem disso é ilegal, é irregular.
Evidentemente, se o Banco Central, na sua atividade de supervisão,
depara com indícios de cometimento de crime, faz as denúncias devidas ao
Ministério Público. É algo frequente, comum no nosso dia a dia de
trabalho.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Até a divulgação na imprensa? Até a divulgação do Jornalista Fernando Rodrigues, o Banco Central não teve conhecimento de nada relacionado a esse caso do HSBC?
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Não tenho registro de que a gente tenha tido qualquer...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Mesmo tendo tido informação da imprensa internacional?
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Mas nada que chegasse à informação de que havia contas de brasileiros com a informação que hoje está disponível, não tenho registro disso, Senador, não tenho registro.
O que que o Banco Central
faz em relação a eventuais movimentações no exterior? Como eu disse, a
gente regulamenta o mercado de câmbio, supervisiona o mercado de câmbio,
dentro do conjunto de ações de supervisão que nós temos. Então, se a
gente detecta irregularidades nessa atividade, quer dizer, são
irregularidades das instituições financeiras, nós atuamos como
reguladores e supervisores; se são atividades alheias à nossa regulação,
a gente denuncia aos órgãos competentes. Isso nós fazemos, a Receita
faz, reciprocamente, a CVM, a Susep ou o Ministério Público. Isso é
parte cotidiana do nosso trabalho. Outra questão que trabalhamos, dentro
de uma perspectiva internacional, é a partir de convênios e acordos com
supervisores internacionais. Temos vários acordos para trocas de
informações sobre riscos, sobre gestão das instituições financeiras que
têm sede ou dependências no Brasil, com sede em outros países. Então, os
reguladores e os supervisores acompanham as instituições e compartilham
informações, não propriamente de contas existentes, mas sobre as
condições econômico-financeiras, a qualidade da gestão das instituições
nas várias jurisdições. Nós participamos do que a gente chama de
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calleds
que são ações de compartilhamento e de avaliação do conjunto de
instituições financeiras que têm operação transnacional, principalmente,
naquelas instituições que têm, digamos, importância sistêmica, que é o
caso do Banco HSBC.
Isso, então, esses saldos
que estão sendo divulgados, que o Banco HSBC Suiça teria de
brasileiros, como que esses saldos podem ter sido formados? Se de forma
legal, da forma como eu disse, quer dizer, pessoas que têm recursos lá
fora, que têm negócios lá fora, eventualmente, têm esses recursos e
depositaram esses recursos lá na conta, abriram essas contas ou fizeram
as suas remessas. E, se fizeram legalmente, isso tem que estar
registrado, tem que ser feito com inscrição, autorização no Banco
Central e é o que vamos verificar.
Quando a gente pega um
saldo de 2005, 2006 e 2007, quer dizer, esses recursos podem ter chegado
a essas contas em tempos variados, porque já tem o saldo e não tem o
fluxo. Então, é isso que a gente vai tentar entender: esse
procedimento, não só com o olhar lá atrás, porque, se houve, por
exemplo, alguma irregularidade administrativa, também tem período de
decadência, mas, sobretudo, para verificar a atual adequação das
instituições em relação aos procedimentos de lavagem de dinheiro.
Na minha visão, Senador, o
Banco Central tem um conjunto de informações realmente bastante grande,
e tem conseguido fazer um trabalho de supervisão, inclusive com
reconhecimento internacional. Ele é considerado uma referência
internacional, evidentemente que compartilhamento de informações e
acesso a informações é algo que obedece a legislações dos vários países.
A gente procura, tanto quanto a Receita, compartilhar o que é possível,
avançar nessa avaliação, consolidada, das instituições financeiras, mas
há limitações.
Agora, uma outra questão
importante, que também de certa forma o Dr. Rachid falou é que está
havendo sim uma evolução, eu acho que positiva no sentido de aprimorar
os mecanismos de troca de informação.
A própria Suíça mudou
muita coisa da sua legislação, hoje até tem uma notícia na Reuters, que
até para a gente não é novidade, porque nós tivemos contato durante esse
tempo com os próprios reguladores suíços, ingleses, etc, exatamente
para saber como é que eles estavam tratando dessa informação lá, porque a
nossa preocupação aqui também, Senador, não é só o fato em si, é com a
própria instituição financeira, então, aqui é até o presidente do FINMA
que é o regulador-supervisor suíço. Então, ele diz que esse caso HSBC
fala de uma Suíça de dez anos atrás, não da Suíça de hoje. Está certo?
Ou seja, que esses elementos que estão sendo colocados, são elementos
que a Suíça já superou, está certo? Que a Suíça já modificou e,
certamente, por pressão das várias jurisdições, desses debates que têm
sido feitos...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sendo assim, então, não haveria
dificuldade nenhuma da Suíça diretamente cooperar com as autoridades
brasileiras.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Não, veja bem, nós estamos falando o seguinte, não é que eles
terminaram com o sigilo bancário, mas eles acabaram com uma série de
elementos, por exemplo, com contas numeradas, em que nenhum funcionário
do banco, por exemplo, tinha conhecimento de quem era o correntista,
entendeu? Não acabaram com o sigilo bancário, mas uma questão,
inclusive, que ele coloca aqui, vou fazer uma tradução livre, mas ele
diz o seguinte: "Nenhum banco na Suíça fez tanto, durante esse tempo de
adaptação, quanto o HSBC", porque o HSBC foi, pelas autoridades suíças,
pelas autoridades inglesas, digamos assim, foi inspecionado, avaliado
que tinha problemas e, digamos assim, instado a se adequar aos novos
padrões, inclusive abandonando vários negócios, etc.
Isso aqui, estou apenas reproduzindo o que disse o supervisor suíço.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Permita-me, Dr. Anthero, então,
por que a Suíça e o HSBC, ainda hoje, perseguem tanto o Sr. Ever
Falsiane, já que ele é alguém importante para prestar informações a
outras nações e lá na Suíça ele é um perseguido da Justiça.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Senador, eu realmente não saberia dizer isso, mas eu posso imaginar que
esteja relacionado ao fato de ele ter subtraído, de forma não lícita,
essas informações, evidentemente, que o que está sendo feito e os
eventuais benefícios que eventualmente essa divulgação pode trazer e
malefícios, digamos, o futuro vai dizer.
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Digamos, o futuro vai dizer, não é? Mas...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Nesse momento tem sido malefício,
talvez, somente para a Suíça. Para o mundo tem sido uma boa notícia, não
é?
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – É..
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Para aperfeiçoar nossos sistemas.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
É, mas eu digo assim, tem todo um processo de investigação, de apuração
e, evidentemente que, durante esse tempo todo, pessoas eventualmente...
você tem um processo que tem custos para muita gente. Eventualmente até
é injusto, como disse o Dr. Beto aqui. Quer dizer, é uma investigação.
Eu acredito que seja, ao final, bastante positiva, porque você realmente
fecha mais uma porta de eventual atividade ilícita. Então eu imagino
que a questão aí dessa persecução lá seja em função da forma como ele
obteve, mas isso é apenas uma suposição da minha parte.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Senador, desculpa interromper, mas eu acho que talvez seja útil (Fora microfone.). Eu acho que é importante.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Tem a palavra.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Obrigado.
Eu mencionei logo, na
minha apresentação, eu mencionei um organismo internacional chamado
Gafi. Eu pedi a palavra até para complementar, porque eu acho que é
importante entender a ideia como é que funciona. Esse é um organismo
internacional que reúne apenas 34 Países, grosso modo as maiores
economias. E eles criaram um padrão internacional voltado ao combate à
lavagem de dinheiro. Esse padrão funciona em mais de 180 Países.
E eu cheguei a mencionar
alguns aspectos que são muito importantes para entender, até assim, a
contextualizar essa situação aqui. Para você imaginar, a Receita, a
Polícia, quem quer que seja, pegar alguém levando dinheiro para fora ou
mandando dinheiro para fora, é muito difícil. Eventualmente você pega o
sujeito carregando lá debaixo da roupa ou em uma mala, não é? Mas você
tem outras formas, o dinheiro pode ser auferido no exterior, em um
terceiro País e levado para lá. Existem várias hipóteses, portanto é
muito difícil você pegar.
Então, como é que
funciona o sistema do Gafi que promove cooperação? É da mesma forma que
eu mencionei desde o início: os bancos têm que conhecer seus clientes,
manter registro e comunicar operação suspeita. Então a questão aqui, no
fundo, é que, naquela época, o banco que recebeu esses depósitos,
deveria ter analisado – deve conhecer, ou deveria conhecer os seus
clientes –, analisado aquelas operações e, quando fosse o caso, fazer
comunicações para a unidade suíça. E se a unidade suíça entendesse
conveniente, comunicar ao Coaf. E tanto isso é verdade que as
autoridades suíças, e o próprio Ministério Público, estão atuando – ou
atuaram já, como já até foi mencionado – junto ao banco para que
corrigisse as práticas, etc.
Então,
internacionalmente, funciona assim. Se chegasse um cidadão de qualquer
País no Brasil: da Suíça, França, etc., a obrigação do nosso sistema
financeiro seria, não é? Não tem crime nenhum em abrir a conta, mas
teria que saber: quem é aquela pessoa? Ela é uma pessoa, por exemplo,
politicamente exposta? As normas internacionais exigem uma atenção
especial? Aquela movimentação é compatível com o perfil daquela pessoa?
E, aí sim, aí no caso brasileiro, nesse exemplo, a instituição
brasileira comunicar ao Coaf. O equivalente, a mesma coisa, deveria
funcionar na Suíça.
Então, como isso é um
sistema, no mundo, relativamente novo, ele vem sendo aperfeiçoado. Eu
acho que é interessante os senhores conhecerem esse sistema, porque ele é
parte dessa instituição.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Mas, nós temos esse sistema hoje
ou tínhamos esse sistema na década anterior? Ou tivemos a partir de
2010?
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Não, ele começou a ser aplicado em 98. Então, em 2010, já estava em
funcionamento. Mas, como eu disse, isso pegaria um cidadão de outro País
no Brasil, operando em um banco brasileiro. Aqui nós estamos falando de
alguém, lá no exterior, operando em um banco suíço. Então seria o
equivalente suíço...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Deixa eu ver se entendi: nós temos
controle aqui, mas não temos como ter controle sobre brasileiros que
fazem...
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Lá...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – ... depósito no exterior.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES – Isso. Isso seria papel das autoridades lá. Ou seja, como eu disse, assim como um estrangeiro no Brasil...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – E aqui, nenhuma instituição nossa tem como...?
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Não, por causa de questões de jurisdição. A gente não tem jurisdição
sobre uma outra soberania, vamos dizer assim. Então, qualquer coisa a
partir daí é na base de cooperação, etc.
Por isso é que o sistema
que o Gafi promoveu, um sistema de incentivar a cooperação, ele exige
que os bancos do seu País tenham atenção, lógico, com as contas deles e
com quaisquer outras até de clientes estrangeiros. Então, assim, seria o
sistema suíço, no caso o próprio banco, deveria detectar eventuais
movimentações suspeitas e comunicar para o Coaf suíço. E o...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – E o Coaf suíço comunicar ao nosso Coaf.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Eventualmente, aí depende da política do Coaf deles. O equivalente
nosso seria um cidadão suíço no Brasil, imagina, chega um cidadão aqui e
vai a um banco, HSBC ou qualquer outro banco, no Brasil e pede para
abrir uma conta.
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Ele pode abrir. Não há
problema nenhum. Só que é dever do banco conhecer o cliente, saber de
onde vem o dinheiro, entender a operação. Se tiver algo suspeito,
comunicar ao COAF. Se não tiver, não precisa.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Então,
a partir do que o senhor, permita-me Sr. Presidente, porque eu acho que
essa informação é importante, a partir do que o senhor está nos
informando, há de se deduzir: o HSBC agiu de má-fé com o Brasil.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Eu não sei dizer, quer dizer, isso aí é uma avaliação mais policial,
investigativa. O que eu posso dizer é o seguinte: as regras
internacionais pressupõem isso, e essas regras se aplicam também à
Suiça. Também a Suiça é avaliada pelo Gafi, assim como o Brasil, ou
seja, é um padráo para todo mundo. Aliás, não só para eles, os Estados
Unidos, França, etc.
Então, eu acho que até a
ação que aparece, já apareceu, já esteve no passado, e eu creio que o
próprio texto lido pelo Dr. Anthero mostra isso; quer dizer, existiam
práticas inadequadas que foram corrigidas, práticas da época, e que já
foram corrigidas. Então, são defeitos do sistema que vão sendo
corrigidos. Isso vem acontecendo em vários países com várias
instituições.
No Brasil mesmo, o Banco
Central fiscaliza o sistema financeiro, quando encontra alguma
inconformidade, ele aplica penalidades administrativas. Então, é a
evolução natural do processo.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Tem a palavra nosso convidado, Beto Vasconcelos.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Obrigado, Sr. Presidente. Eu vou ser breve.
Senador, após o
recebimento desses dados, aliás, dizer o que vai acontecer após o
recebimento desses dados é um pouco complicado, porque nós não temos
certeza como esses dados virão. A gente vai precisar aguardar para saber
se eles virão dados brutos ou dados já processados. O que nos foi
informado pelas autoridades francesas, que obtiveram de forma oficial as
informações que nos encaminharão, é que eles processaram informações e
terão condições de encaminhar informações já processadas.
O detalhamento do que
virá, nós ficaremos sabendo quando recebido. Isso vai, obviamente,
indicar se o esforço do poder público, das autoridades de investigaçao,
portanto do Departamento de Polícia Federal, do Ministério Público
Federal, em especial, no tocante a essa cooperação, ou no tocante a
cooperação tributária que o Secretário Jorge Rachid mencionou, o esforço
que essas autoridades tomarão vai depender de como essas informações
receberem. Mas, acredito eu, fazendo aqui um exercício de compreenção do
processo regular, as informações processadas e separadas vão poder
indicar possibilidades, indícios de condutas individuais que ensejarão,
creio eu, procedimentos e processos também individualizados.
Não há espectativa de que
um processo apuratório seja suficiente para condutas tão diversas, de
uma quantidade tão grande de indivíduos, o que vai permitir uma segunda
fase numa eventual cooperação com outros países, como, por exemplo, a
própria Suiça.
A Suíça tem uma
cooperação, e aí já entrando numa segunda pergunta que V. Exª me fez, a
Suíça tem uma cooperação mais restritiva, Dr. Rachid pode, acredito que
do ponto de vista tributário, do ponto de vista penal, também elas, em
ambos os cenários, ela é uma cooperação mais restritiva.
Dr. Anthero apresentou
alguns avanços que já ocorreram na cooperação com a Suíça, mas, ainda
assim, comparativamente, ela é mais restritiva. Mas indicados
pressupostos em condutas indiidualizadas, o Procurador-Geral da
República Suíça já informou tanto ao Procurador-Geral da República do
Brasil, como ao Ministro da Justiça, ele já informou que terá condição
de cooperar mais precisa e individualmente.
Então, são fases dessa cooperação que podem ocorrer a depender de como esses dados chegarão aqui. A cooperação,
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Senador, quanto à cooperação
jurídica internacional, a forma de compartilhamento dela se dá a
depender, muitas vezes – e, neste caso, não é diferente –, da autoridade
central requerida. Então, é mais uma informação que vai depender de
como a autoridade central suíça vai tratar o compartilhamento de
informação. Por óbvio, posso lhe assegurar que, havendo por parte... Eu
disse Suíça. Não! No caso dessa cooperação, a autoridade é francesa.
Havendo, obviamente...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – A Suíça não?
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS –
Não, quanto à Suíça, nós nem disparamos o pedido de cooperação formal.
Pelo menos, nenhuma autoridade nos solicitou isso. Nem autoridades
policiais, nem o Ministério Pùblico, nem o Judiciário nos solicitaram a
cooperação com a Suíça. Eu estava me referindo, agora, a esse tópico de
compartilhamento de dados que receberemos das autoridades francesas.
Estas, então, dependerão de quais serão as condições de compartilhamento
das autoridades. Se o Procurador-Geral da República e o Secretário
Vladimir, ontem ou...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Ontem.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Foi ontem. Foi o que o senhor mencionou, não é?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Foi ontem.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS –
Se eles mencionaram que essa negociação já avançou nesse sentido, por
óbvio, isso, então, será materializado, e nós teremos o maior prazer e,
mais do que prazer, a obrigação de fazê-lo. Se houver algum outro
impedimento, seremos os primeiros a informar a esta CPI, com certeza,
até mesmo para viabilizar outras maneiras de atingir esse objetivo.
O acordo de cooperação
com a França, só para trazer mais um dado a esta CPI, foi firmado em
1999 e foi promulgado pelo Decreto nº 3.324, de 30 de dezembro de 1999. O
acordo com a Suíça foi promulgado pelo Decreto nº 6.974 em 7 de outubro
de 2009. Ambos têm a sistemática muito semelhante, ou seja, preveem que
algumas autoridades possam solicitar, preveem uma autoridade central,
que é tanto o ponto focal no Brasil como o ponto focal no país. Essas
autoridades são disparadoras dos pedidos de colaboração. O
pedido de colaboração com a França foi o que nós concretizamos agora a
pedido do Departamento de Polícia Federal e do Ministério Público
Federal.
Senador, é muito difícil
dizer quais são as motivações para um cidadão manter contas no exterior,
porque isso varia bastante. Pode haver tanto motivações lícitas quanto
motivações ilícitas. De novo, como todos reiteraram aqui, tiveram o
cuidado de reiterar, eu faço o mesmo: ter conta no exterior não é...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Claramente, parece-me que algumas
já estão sob investigação, pelo que nós ouvimos do Dr. Rachid.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Isso. Mas não é uma ilegalidade manter contas no exterior.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – É claro!
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS –
Afinal de contas, cidadãos brasileiros fazem negócios no exterior. Eles
têm uma presença mais constante. Estudam, têm presença constante no
exterior. Então, de novo, não há ilegalidade.
Nós estamos insistindo
nisso, porque é necessário um cuidado muito grande com relação a isso.
Ou seja, não é ilegalidade. Ter conta no exterior não tem como
pressuposto a ilegalidade. Portanto, é possível ter contas legais no
exterior. É possível que nomes sejam confundidos por serem homônimos. É
possível que haja falsidade em registro. Então, esse é o cuidado que as
autoridades públicas têm de ter. Têm de fazer uma apuração muito precisa
e bastante cuidadosa com relação a cada uma dessas condutas.
Agora, quanto às
motivações ilícitas, isso também é algo que buscamos, por óbvio,
combater em conjunto, tanto os órgãos do Poder Executivo que aqui estão –
Receita, Coaf, Banco Central, Polícia Federal –, mas também o
Ministério Público Federal e Estadual e a Justiça brasileira. Há
motivações de atos ilícitos.
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Ministério Público Federal,
Estadual e Justiça brasileira são motivações de atos ilícitos. Aí, nós
temos inúmeros, mas pode ser desde sonegação, evasão de divisas, como
lavagem de dinheiro e outros crimes precedentes à lavagem de dinheiro,
como tráfico, corrupção, etc.. Mas temos que ter o cuidado de apurar com bastante precisão e cuidado antes.
Acho que esses eram os esclarecimentos às suas perguntas, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Obrigado.
Passaremos, então, à ouvida as perguntas dos nossos Senadores.
Com a palavra, primeiro, o Senador José Medeiros.
V. Exª pode fazer logo
aos quatro. Depois, a gente passa a palavra para o Senador Cássio Cunha
Lima, que também poderá fazer aos quatro. Aí, poderemos retomar os
convidados.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco
Socialismo e Democracia/PPS - MT) – Sr. Presidente, Srªs e Srs.
Senadores, eu gostaria de dirigir as perguntas, como já foi dito aqui,
ao Sr. Gustavo Rodrigues, Diretor do Coaf; ao Sr. Jorge Rachid,
Secretário da Receita; assim como ao Sr. Anthero de Moraes Meirelles,
Diretor de Fiscalização do Banco Central; e ao Sr. Beto Vasconcelos,
Secretário Nacional de Justiça. Obviamente, há uma pergunta aqui que está mais direcionada ao Presidente do Coaf. Mas, vamos a elas.
Nós sabemos que, desde
2009, o Sr. Hervé Falciani colabora com as autoridades europeias na
apuração dos ilícitos fiscais de uma infinidade de correntistas do HSBC
na Suíça. É sabido também que a investigação, iniciada pelo governo
francês, despertou o interesse de outros países, como já foi dito aqui,
inclusive foram nominados, a exemplo da Grécia.
Portanto, repiso a
pergunta que o Senador Relator fez aos senhores: por qual razão o
Governo brasileiro não iniciou qualquer tipo de procedimento de apuração
nessa ocasião? Digo isso porque não fiquei convencido quando disseram:
"Nós não tínhamos notícia de que havia nomes brasileiros." Mas o fato é
que esses países todos se interessaram em ir buscar se havia, ali,
cidadãos franceses, gregos, enfim, nessa listagem. E começaram o
procedimento. Nós pegamos o exemplo da França, porque, em 2010, a França
já estava até homologando essa lista. A Corte se debruçou sobre ela.
Essa é uma das perguntas. A outra: na semana passada, estiveram aqui, nesta Comissão, o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, e Chico Otávio, de O Globo.
Em sua exposição, Fernando Rodrigues criticou veementemente a atuação
dos órgãos de fiscalização. Afirmou que houve vazamento indistinto dos
nomes constantes da lista por parte dos próprios órgãos estatais e que
não teria havido um cruzamento criterioso da lista com as declarações
para a Receita e para o Banco Central. Ou seja, o quadro que aprece se
desenhar aqui é que as autoridades brasileiras teriam falhado na
identificação dos fatos lá atrás e, mesmo após terem acesso ao conteúdo
divulgado pelo jornalista, não teriam adotado as melhores práticas de
investigação, tendo, inclusive, ignorado o sigilo bancário.
O que os senhores têm a
comentar sobre o panorama atual das investigações? Quais os próximos
passos? E se já é possível adiantar dados percentuais sobre o nome e o
número de contas não declaradas.
Aqui, uma pergunta ao Diretor do Coaf.
Pelo que já foi dito pelo
jornalista e pelo que já foi dito, hoje, aqui, o jornalista Fernando
Rodrigues teria levado – chegou ao conhecimento do Coaf – essa lista. E
V. Sª deixou claro para esta Comissão a distinção que fez entre imprensa
e jornalista. E que se passou a dar mais, vamos dizer assim,
credibilidade a essa lista após a publicação na imprensa.
A pergunta que faço é a seguinte: o jornalista Fernando Rodrigues trabalhou 27 anos na Folha de S.Paulo, que é um dos maiores jornais do País, com, vamos dizer assim, a credibilidade
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16:17
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...com a credibilidade ???
muito grande. Não parece ser temerário que, diante da gravidade do caso,
dessa listagem, do que poderia significar aquilo, e até do próprio
estofo de quem estava levando essa lista... Não parece que houve, no
mínimo, uma falha ao se considerar essa lista? Não estaríamos diante até
de uma prevaricação?
Para finalizar, eu
gostaria de fazer uma pergunta mais direcionada ao Secretário da
Receita: quais são os elementos necessários para que sejam dadas como
válidas as informações do HSBC nesse caso Swiss Leaks?
Outra pergunta: o fato de
o governo francês fornecer esses dados confere a essas informações
legitimidade para que a Receita possa perseguir eventual pagamento dos
impostos sonegados se houver a comprovação?
Por último pergunto,
também ao Diretor do Coaf, quantas pessoas tiveram acesso a essa lista
apresentada pelo jornalista Fernando Rodrigues, se a instituição já tem o
nome delas e se há o intuito de saber quem vazou, por que vazou e por
que só aqueles nomes.
São essas as perguntas, Sr. Presidente. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Com a palavra o Senador Cássio Cunha Lima.
O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) – Sr. Presidente, Sr. Relator ad hoc, Senador Medeiros, todos os convidados que compõem a Mesa: minha saudação.
Acredito que, desde a
criação desta CPI, uma polêmica foi estabelecida em relação à vontade de
investigar. O Senador Randolfe foi muito ético no que diz respeito aos
esclarecimentos prestados quanto à ausência de assinaturas de
componentes da Bancada do PSDB para a composição ou para a criação desta
Comissão Parlamentar de Inquérito.
A CPI é um instrumento
extremamente importante, válido, sobretudo é uma ferramenta muito
utilizada pelas minorias, mas ela tem, por razões óbvias, também um
componente político muito forte. E a Mesa está composta por
representantes de instituições que são basilares para a democracia
brasileira: nós temos aqui Receita Federal, Coaf, Ministério da Justiça e
Banco Central. Poucas vezes se vê uma composição com esse grau de
responsabilidade e com a qualidade da representação dos que aqui estão
sentados.
Mas há um questionamento
que está sendo posto neste instante que precisa ser esclarecido: até que
ponto o direito civil – consagrado no mundo inteiro, sobretudo nas
democracias – do sigilo fiscal e do sigilo bancário, e essa é uma
garantia individual que precisamos saber preservar... Aqui, inclusive,
fica o limiar entre visões de Estado: aqueles que defendem e acreditam
em um Estado mais forte, mais poderoso, de preferência vão exigir daqui
para frente autorização prévia ao Banco Central para abrir uma conta
bancária no exterior; os que têm uma visão mais liberal acreditam que as
pessoas têm o direito de destinar sua vida da forma como bem
entenderem, e o Estado fará, naturalmente, sua ação fiscalizadora. Nós
estamos num momento em que essa divisão de conduta é tênue, porque não
pode restar dúvida quanto a qualquer risco de prevaricação de
autoridades brasileiras nem tampouco o atravessar da linha – é esse o
esclarecimento que precisa ser feito – dos limites que os senhores têm
para que uma investigação seja feita.
Por exemplo, o Dr.
Antônio Gustavo em dado momento, por ocasião de uma das respostas
ofertadas ao Relator, disse: "Olha, nós tínhamos limites, porque a
informação era proveniente de um crime...
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16:22
|
...era proveniente de um crime. E, a partir daí, existe... E
aí eu gostaria, para que fique claro, não podemos terminar esta
reunião, em respeito às instituições que aqui estão representadas e em
respeito à trajetória de cada um que se senta a essa mesa, com dúvida de
que houve uma prevaricação.
Então, a pergunta que eu
faço, para que os que nos acompanham pela TV Senado, se estiver sendo
transmitida ao vivo, pela audiência, é quais são os limites reais, para
que fique extremamente claro, no que diz respeito às garantias
individuais que os cidadãos têm do seu sigilo fiscal, do seu sigilo
bancário e da compreensão que todos nós temos de que o HSBC não é uma
instituição criminosa. Estamos falando de um banco que tem credibilidade
internacional e que não pode ter essa trajetória maculada por qualquer
interesse e nem tampouco a condenação prévia de pessoas que possam estar
com os seus nomes aqui veiculados ou apresentados. O fato é que a casa
caiu para quem cometeu o crime. É questão de tempo. A casa caiu. Porque
nós temos hoje não só uma Comissão Parlamentar de Inquérito em curso,
como temos todos esses órgãos aqui representados, mais a Polícia Federal
e alguns outros que talvez não sejam do meu conhecimento, já com
investigação em curso.
Então, a pergunta, para finalizar a minha participação, que faço é: quais são esses limites do modus de agir? Até que ponto a lei permite uma ação de motu proprio?
Para que fique claro esse espaço, eu acho que não pode restar essa
dúvida, por razões já explicitadas. E quais são os cuidados – aí vem a
pergunta objetivamente –, que esta Comissão Parlamentar de Inquérito
deve tomar para que, mesmo bem intencionados – e aí eu uso, com a vênia
do Sr. Presidente, um expressão popular –, não possamos melar as
investigações que estão em curso? Nós temos que tomar cuidado porque,
repito e insisto, estamos diante de dois direitos que são absolutamente
consagrados: o sigilo fiscal e o sigilo bancário, no campo das garantias
individuais. E qualquer passo em falso, por mais bem intencionado que
seja, nós podemos prejudicar investigações que estão em curso com a
contratação de advogados habilidosos que encontrarão nulidades, que
encontrarão ilegalidades no curso dessas investigações.
Portanto, a pergunta que
formulo, e formulo de maneira indistinta, aos quatro convidados, e aqui
estão como convidados, é preciso deixar claro sempre isso, porque, vez
por outra, as pessoas confundem. Então, estão aqui como convidados para
contribuir com o trabalho desta Comissão Parlamentar de Inquérito.
Quais são os limites para
essa iniciativa de agir? E quais são os cuidados – e aí uma sugestão
mesmo – que a CPI deve tomar para não inviabilizar investigações que já
estão em curso, com a certeza de que os que estão relacionados e que
eventualmente tenham cometido crimes serão naturalmente identificados?
Mas também que tenhamos o mesmo cuidado para não misturar o joio com o
trigo – para usar outro lugar comum – e principalmente não inviabilizar a
eficácia dos acordos internacionais. Existem ritos que, por maior que
seja a nossa vontade, por maior que seja o voluntarismo, o desejo de
pressa de resultados, se descumprirmos certos ritos, poderemos
inviabilizar provas, poderemos inviabilizar processos, poderemos
inviabilizar procedimentos que estão em curso, cumprindo aí o papel do
inocente útil, de quem quis chegar à apuração de um fato e terminou
jogando com o bandido, se é que existem bandidos nessa investigação. É
preciso ter muito cuidado e muita responsabilidade quando se lida com
reputações de pessoas jurídicas, de pessoas jurídicas, e, sobretudo, não
fazer com que o desejo de resultados rápidos impeça, com o trabalho
cauteloso, que exige também muito de inteligência, a punição de
eventuais crimes que possam ter sido praticados.
Agradeço a oportunidade e aguardo com atenção a resposta dos senhores.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Antes de passar a palavra aos
nossos convidados, eu queria reafirmar a preocupação do nosso Líder
do...
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16:27
|
a preocupação do nosso Líder
do PSDB, de que ao aceitar a presidência desta Comissão eu declarei
logo no início, na primeira sessão, ao tomar posse, exatamente esse
cuidado.
Esta Comissão presidida
por mim vai ter exatamente a responsabilidade, o equilíbrio de tratar
essa questão com o cuidado que ela merece, exatamente por tratar de
direitos e de interesses, porque está em jogo a vida das pessoas, a vida
de empresas. E que nós não vamos dirigir esta... Capaz de tornar-se
aqui um espaço de espetáculo ou que seja instrumento de disputa entre
oposição e Governo, entre partidos ou lideranças, enfim, capaz de dar
seriedade ao que o nosso Senado está se propondo ao fazer essa
investigação.
Se as informações da
grande imprensa, destes ou daqueles jornalistas, a origem inclusive do
objeto do pedido de CPI, mas a CPI tem clareza, e vou dirigi-la assim,
de que o processo das informações da grande imprensa é um processo
detonador, mas a investigação, o processo investigativo de que é dotada a
autoridade desta CPI, dos nossos pares, é que vai nos colocar a
seriedade disso na busca das informações precisas, das informações
corretas na investigação, criando as condições para que a gente não
prejulgue ou não condene inocentes ou não deixe os julgados serem
inocentados.
Nesse sentido, inclusive o
contato com o Ministério Público ontem, a Procuradoria-Geral da
República, e aqui, agora, o depoimento das nossas entidades
governamentais que são responsáveis por essa situação, vem contribuir e
chamar a atenção desta Comissão para o nível de seriedade, o nível da
busca das informações e dos dados, que sejam realmente legítimas,
precisas e legais, capazes de dar seriedade à investigação.
Se são 8.500, por que só o
jornalista investigativo, com toda a fé que eles têm, com toda a
seriedade que eles têm, por que eles publicaram só 342? Qual foi a forma
de seleção que eles fizeram?
Tudo isso coloca essa
responsabilidade sobre a CPI. Inclusive o próprio jornalista que está
ali, Fernando Rodrigues, se recusou a dar a informação dos outros 1.500,
porque ele tinha o direito da informação da fonte, o que se respeita.
Mas o direito da notícia ele tem, a obrigação da notícia ele tem a dar.
Inclusive uma das justificativas... Ele colocou em xeque inclusive a
própria segurança do sistema de segurança das informações dadas na CPI,
colocou até em dúvida essa questão.
Por isso esta Presidência
e a Comissão realmente sabem o tamanho da responsabilidade e do
equilíbrio com que nós temos que fazer essa investigação.
Vou começar a resposta pela ordem de depoimentos.
Coaf.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Obrigado, Presidente.
Eu agradeço as perguntas.
Acho que elas oferecem uma oportunidade para esclarecer alguns pontos
que eu já mencionei, outros, não, especialmente, por exemplo, a primeira
pergunta: se eu soube antes do caso.
Na verdade, eu me lembro
de ter lido no jornal. Nessa época, em 2008, 2009, eu estive várias
vezes na França e cheguei a ler nos jornais informações sobre isso, não
só sobre esse caso, mas vários casos semelhantes. Eu posso me enganar
quanto aos nomes, mas acho que teve alguma coisa com Liechtenstein
também, uma coisa também com o serviço secreto alemão, que conseguiu
informações. O fato é que até então... Quer dizer, a informação que eu
tive é de que era uma coisa europeia
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16:32
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Com todo o respeito ao Dr.
Rachid, mas nós temos uma divisão de trabalho muito clara, nós
cooperamos e eu acho que muito com a Receita, mas dentro do nosso
enfoque de lavagem de dinheiro.
Com relação aos
comentários do Jornalistas que o senhor me pergunta. Eu até insinuo uma
eventual prevaricação. Eu tenho o jornalista em alta conta. Como eu
disse eu tive contato com ele há vários anos e sempre tive com um
profissional muito sério.
Eu que quando você afirma alguma coisa, inclusive insinuações dessa natureza você tem que estar bem unido de informações.
Então, para começar assim
eu não tive nenhum contato com esse jornalista nesse período. Está!
Ele não falou comigo ou com qualquer pessoa desse COAF. Os nossos
contatos novamente foi com o Jornalista Leonardo, 14/02 e depois com o
Bruno já em março no dia 10, se eu não me engano, eu não mencionei
antes, mas de qualquer forma já expliquei o nosso processo. Nós
recebemos essa informação deles e naturalmente achamos importante e
começamos a trabalhar. Está.
Agora uma lista de 342
nomes e depois até vou responder uma questão que eu acho que é
fundamental a questão que o senhor levantou, a questão do sigilo e da
segurança, mas voltando aqui ao detalhes.
Como eu disse foi
iniciado o trabalho da equipe técnica, para que o senhor tenha uma
noção, o COAF, a equipe de analise do COAF é composta de 14 analistas, 4
coordenadores gerais e o diretor, o Dr. Ferreira que está ali sentado.
Essa equipe no quarto trimestre, como eu já mencionei, ela tratou de 318
mil comunicações feitas pelos setores obrigados e produziu 923
relatórios, sendo como já disse, 68 da Lava Jato, 65 das eleições que
aliás eram urgente por causa do prazo de prestação de contas e oito da
Operação Araraque, desculpe, fora outras informações. Isso até dezembro.
Já no primeiro trimestre,
até 20/03, de agora de 2015, foram mais 275 mil comunicações tratadas e
mais 718 relatórios produzidos.
Então, eu acho que com
essa equipe é difícil imaginar que seja uma equipe que seja ociosa, eu
acho que na verdade ela tem uma das maiores produtividades. Avaliações
Internacionais sobre o assunto coloca o COAF como uma unidade de
inteligência sofisticado e inteligente.
Então, a respeito em respeito aos meus colegas que trabalham muito sério eu acho que é muito importante deixar isso claro.
Eu não ouvi as declarações do jornalista.
Eu recebi, por gentileza
aqui do Dr. Rachid uma notícia que saiu no valor por Vandisson Lima, que
é um órgão de imprensa que eu atribuo sério, onde está escrito e tal
que foi procurado a fim de firmar uma cooperação entre o trabalho dos
repórteres e o COAF.
O COAF não firma a
cooperação com os jornalistas. Como eu já falei todos são sempre muito
bem recebidos e eu não sei se tem algum que eu já tive oportunidade
aqui de receber, mas sempre com muita cortesia, mas informação protegida
por sigilo e protegida por sigilo. Nós explicamos, fornecemos
estatística, mas isso é uma coisa. Mas de qualquer forma continuando.
Então, foi dito que nós
firmar um acordo de cooperação é falso. Então, continua! ...que o COAF
poderia investigar se esses correntistas cumpriam com as suas
investigações com a Receita Federal do Brasil.
Então, deixando claro o COAF não investiga, como eu disse desde o início.
Terceiro, eu não tenha a
menor ideia se as pessoas cumprem ou não suas obrigações com a Receita
Federal, porque o COAF não tem acesso a sigilo bancário, desculpe, a
sigilo fiscal. O acesso que nós temos à informação são as comunicações
de operações suspeitas.
Eu nem posso, com relação
ao sigilo bancário pedir informação de uma pessoa a menos que ela tenha
sido objeto da comunicação de operação suspeita.
Então, o acesso ao sigilo
bancário também é restrito. Tá. Então, aqui essa afirmativa eu imagino
que possa ter sido um erro de aqui da reprodução da matéria que eu
achei, assim, bastante agressiva.
Eu que é importante
quando se afirma como se fala as coisas, especialmente quando você põe o
nome de uma instituição e como eu disse para o senhor, eu sou
Presidente do COAF desde fevereiro de 2004, então assim, eu sou mais
longevo do que o mais longevo Ministro da Fazenda, porque quando o
Ministro anterior chegou eu já estava e continuo. E já estava antes, na
verdade, porque eu estou na fazenda desde o ano 2000.
Então, a equipe que tem
sido, como eu disse, o COAF, que é um órgão novo que vem sendo
construído. Nós somos construídos dentro de uma filosofia de informação,
de inteligência, não é, uma das preocupações da inteligência é a contra
inteligência, o que representa você tomar cuidado para não ser usado
para validar informações ou ostentar informações. E já ocorreram casos
no
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16:37
|
da inteligência é a contrainteligência, o que representa você tomar cuidado para não
ser usado para validar informações ou esquentar informações. E já
ocorreram casos no passado que nos levaram a ajustar os nossos
procedimentos.
Então, o Coaf, só para
senhor ter uma ideia, ano passado, o ano inteiro, nós produzimos 3.200
relatórios de inteligência financeira. Para não ficar aborrecendo o
senhor com detalhes, eu tenho aqui várias estatísticas, esses relatórios
incluem mais de 80 mil pessoas. Então, é um trabalho que ocorre
diariamente com milhares de informações e que funciona sério.
Até onde eu sei, quer
dizer, fica suspeito eu falar de mim mesmo, as informações que eu recebo
da Polícia, do Ministério Público, demonstram respeito ao nosso
trabalho. E como eles nos conhecem, eu prefiro acreditar na opinião
deles. Então, eu até pediria, se o senhor tiver oportunidade, dirigir
essas perguntas para a Polícia Federal, para o Ministério Público, que
acho que eles nos conhecem.
O senhor só me permite terminar... Pois não, pois não.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – O que o Coaf considera operação suspeita?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Ok. A operação suspeita, no fundo, é regulada por cada um dos setores.
No caso dos bancos, existe uma norma que regula essa atividade do banco.
Primeiro, conhecer o cliente. Quem é que você está lidando. E conhecer não
é saber o CPF, o número de identidade; que é a pessoa do ponto de vista
econômico-financeiro; que ela produz de renda. Cada pessoa tem um
perfil, às vezes, até com profissões idênticas, mas basicamente você tem
alguns grupos. Assim, eu sou um servidor público, então, recebo no fim
do mês, depois entra, tem as várias saídas. Mas eu tenho um imóvel,
então, tenho uma renda de aluguel. Outra pessoa não
tem. Já eventualmente um advogado pode passar meses sem receber. Ganha
uma causa e recebe uma bolada. Outro, por exemplo, é um funcionário que
ganha salário mínimo, de repente entra um volume grande de dinheiro na
conta dele. O que é suspeito? Suspeito começa de uma avaliação do que é
fora do normal.
E eu vou dar alguns exemplos para que não se pense que isso é alguma coisa exótica ou sofisticada. Senador,
o senhor imagina assim: se o seu gerente do banco liga para o senhor, o
senhor atende? É normal. Tudo mundo atende. É sempre bom ser amigo do
gerente. Vá lá, que depois você pode precisar de uma ajudar dele. Quando
o cliente refuga, tenta não aparecer, isso é um sinal de alerta. Não
quer dizer que todo mundo que não fale com gerente é bandido. A questão é
assim: você na lei e na norma do Banco Central tem, creio, 105
situações de alerta. A partir desse alerta, cabe à instituição
financeira examinar o caso concreto e ver se aquilo é suspeito ou se é
um mal-entendido ou tem uma explicação. Às vezes obtém isso no próprio
cliente.
Outro exemplo, que até
vai na relação à pergunta que o senhor fez: a obrigação do banco
conhecer e, portanto, perguntar ao cliente. Então, ele chega para o
cliente e pergunta: "De onde vem esse dinheiro?" Ele: "Não respondo".
Isso é um alerta para o banco, que deve prestar atenção. Agora, essa
pessoa pode dizer "não respondo" porque ela uma defensora dos direitos e
garantias individuais e acha que o banco não tem nada que se meter na
vida dela ou pode ser um criminoso querendo esconder dinheiro.
O fato é que o banco tem
que tentar no máximo captar essa informação. Se ele não conseguir, e
isso eu falo para eles, na dúvida, manda, porque é para a própria
segurança da instituição financeira. Ou seja, se está na dúvida, não tem
elementos nem para dizer que é suspeito ou totalmente que não é
suspeito, manda para o Coaf. Assim, ele se tranquiliza.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Só um esclarecimento quanto a esse aspecto.
As movimentações no exterior, então, não são consideradas suspeitas? Não são tratadas como suspeitas?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Exatamente. Aí, bom...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Tem casos específicos do HSBC, a quantidade de depósitos em uma conta que não se tem conhecimento...
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Bom, primeiro assim: nós só recebemos as informações das instituições
financeiras brasileiras que estão atingidas pela nossa lei. Por isso que
eu expliquei anteriormente que a ideia do sistema, inclusive de
cooperação, é isso. Quer dizer, caberia ao banco lá também fazer esse
mesmo trabalho que se espera dos bancos aqui. Verificar movimentações
suspeitas. Como eu disse, a mesma coisa, um cliente de outro país vem ao
Brasil e, em qualquer banco, ele pode tentar abrir uma conta, o que é
perfeitamente legal também. Cabe ao banco conhecer esse cliente e saber
se aquela operação é suspeita ou não. Até eventualmente recusar o
cliente. Existe um processo chamado devida diligência, outro aspecto
importante que é conhecer o beneficiário final, que quando a pessoa
apresenta: " eu quero abrir a conta de uma pessoa jurídica". Tá, mas
quem é a pessoa física que lá no final da linha que efetivamente
controla essa pessoa jurídica? Isso é obrigação das normas, como disse,
de um padrão internacional. Então, tanto aqui, os bancos aqui e os
supervisor aqui, no caso o Banco Central, quantos os bancos na Suíça e o
supervisor na Suíça devem seguir esse mesmo
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16:42
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se os supervisores, na
Suíça, devem seguir esse mesmo padrão. Então, o que o ... esse organismo
que eu mencionei promove é exatamente a cooperação dos países. E houve
uma evolução enorme no processo, ao longo do tempo.
Continuando, só para
concluir, eu acho que antes de se lançar coisa urgente, e eu não sei
qual era a expectativa do jornalista quando procurou o Coaf, não sei se
ele procurou outros órgãos... Então, eu não sei disso. Só que antes de
afirmar as coisas, eu acho que é interessante se buscar esclarecer. Eu
poderia levantar um monte de perguntas: por que é que não publicou
antes, quem fez a seleção, qual foi o critério de seleção. Mas eu acho
que não é essa a questão. Em princípio, essa lista nem deveria ter
chegado ao Coaf. Chegou, e nós tratamos isso dentro de um período
perfeitamente razoável dada a nossa carga de trabalho. No dia
imediatamente após a noticia, nós já estávamos com a informação pronta;
tivemos reunião com a receita; e disparamos todo um processo.
Então, eu acredito que
colocar todo esse esforço especialmente nessa equipe limitada, como eu
já mencionei, que se esforça todos os dias para produzir esse monte de
relatórios, eu diria que é até triste, quer dizer, eu acho que não é bem
profissional. Eu prefiro não adotar esse tipo de comportamento.
Ah, desculpe-me há mais perguntas. Acho que me empolguei.
Bom, quantas pessoas
tiveram acesso? No fundo, nós tivemos as pessoas que elaboraram um
relatório dentro do Coaf. Eu não sei o número de cabeça, o senhor vai me
perdoar. Mas nós apresentamos uma lista completa de todos os que
tiveram acesso à Polícia Federal e à Auditoria do Ministério da Fazenda;
e as equipes já estão trabalhando. Então, nós temos acessos internos e
aí temos a equipe que elaborou. Como relação ao processo, eu mesmo tenho
acesso, porque eu é que libero. A equipe da área de informática...
Houve um problema na leitura do relatório inicialmente enviado para a
Receita, porque a gente não estava conseguindo abrir o relatório. Então,
a equipe de informática acabou acessando isso também para tentar
resolver o problema. Assim, aumentou um pouco o número de pessoas, mas
eu diria que foi algo da ordem de oito pessoas, mais ou menos.
Externamente, tiveram acesso tanto a Receita quanto o Banco Central.
Continuando, por que é
que saíram na imprensa só aqueles nomes? Como eu disse, da lista de 342
nomes, nós conseguimos identificar com precisão 60. Então, eram pessoas
que a gente sabia que eram aquelas. Posteriormente, eu diria atualmente,
desses 342 nomes, nós só conseguimos chegar a 260, já com a intervenção
dos profissionais da Receita e eu acho que até do próprio Banco
Central. Então, não conseguimos nem chegar ainda aos 342.
Além disso houve também publicações adicionais que saíram acho que no jornal O Globo
com outros nomes. Desses outros nomes, no nosso levantamento, só para o
senhor ter uma ideia, só 15 estavam nessa lista. Então, se essas novas
publicações são aqueles de valor – e eu acho que isso foi mencionado
aqui logo no início – ou de interesse da sociedade, desses novos todos,
147, só 15 estavam naquela lista que nós recebemos. Quer dizer, tudo
isso são fatores que nós estamos levando em conta. Imaginem a questão
assim: o Coaf não agiu publicamente antes porque a gente achou perigoso
agir publicamente antes. Agora, isso não quer dizer que a gente não
tenha agido. Isso aí eu acho que é um ponto importante.
Eu acho que o senhor,
Senador, tocou num ponto importantíssimo aqui – a questão dos direitos e
garantias individuais. Quando eu mencionei a questão, que se liga
também à questão que o senhor mencionou, obtida por crime, isso,
inclusive, estava em O Estadão ontem,
acho que num editorial. Houve uma proposta acho que do Ministério
Público nesse conjunto de combate à corrupção que fala sobre a questão
assim: "Não, se houver alguma ilegalidade nas provas, se for menor, que
fosse desconsiderada". Seria uma proposta do Ministério Público,
aparentemente, para melhorar o sistema de combate à corrupção. E já
nesse editorial você vê várias críticas a esse conceito. O conceito
básico, no fundo, é o chamado fruto da árvore envenenada. Quer dizer, se
a árvore está envenenada, qualquer fruto que seja produzido por ela
também está. E isso é um raciocínio assim – se você começou ou
incorporou num processo uma prova obtida de forma ilícita, tudo que
decorrer dessa prova é anulado. Só para o senhor ver como é que essa
coisa é tão estrita, nós tivemos um caso concreto, que saiu na imprensa,
um relatório feito pelo Coaf. Então, vamos lá, isso foi feito dentro da
lei, com comunicações dos setores obrigados. Um órgão com obrigação
formal fez um relatório e mandou para o Ministério Público. O Ministério
Público foi a um juiz, e obteve uma quebra de sigilo.
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16:47
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...obteve uma quebra de
sigilo e aí obteve gravações. Pois bem, houve um recurso que acabou
parando toda a operação, não me lembro o nome da operação agora, mas
cancelou toda a operação, porque o tribunal decidiu que o fato de se ter
pedido a quebra de sigilo apenas com o relatório do Coaf seria ilegal.
Olha que passou pelo juiz e por tudo. Então, isso é uma coisa efetivamente muito delicada.
Quando digo que essa
lista é produto de crime é porque ela é. Houve uma violação da lei de
sigilo suíço. A Suíça, o governo francês obteve essa lista licitamente,
como? Numa operação policial do ministério público, quando eles foram
prender o sujeito apreenderam um computador onde estava a lista. Então,
com isso, a lista foi obtida legalmente pelo governo francês, o que foi
convalidado, como mencionado, já pelo tribunal dele. Agora, a lista que
foi parar nessa ICIJ, não sei se a lista é verdadeira, não sei se os
nomes que estão lá são verdadeiros, não sei se os valores são
verdadeiros. Na verdade, não sabíamos nada. Eu só vim a descobrir que
eram 8 mil nomes depois que saiu impresso, porque para mim, até então, a
lista era aquela completa, os 342. Cheguei a escrever para o assessor
de imprensa do Ministério da Fazenda, depois da reunião com o Bruno, no
dia 13, pedindo que entrasse em contato com o Sr. Fernando Rodrigues,
para ver se conseguia a lista toda.
Quando se lida com coisas
que não estão muito claras, é melhor tomar cuidado. A cultura, como
órgão de inteligência do Coaf, é essa. Nós temos uma fonte oficial, não
temos agente secreto, nada disso. O Coaf trabalha com instituições que
são obrigadas por lei. Não fazemos investigação, nada. Então, por que
veio para no Coaf? Não sei, não tenho essa resposta. O fato é que temos
um medo danado que o nosso nome seja usado em algo que não seja. Podia
ter avisado a Receita? Não vou dizer para o senhor que poderia ter
avisado um mês antes. Não sei se isso vai fazer muita diferença neste
caso. Vamos ganhar um mês. De qualquer forma, estamos falando de
informações de 87, digo 2007, coisa que já tem sete ou oito anos, sendo
que sabemos que, em cinco anos, ocorre a decadência.
Então, dentro do conjunto
das informações disponíveis na ocasião, achei correto aguardar. Mas, ao
mesmo tempo, não é só isso. Como disso...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Mas quando o senhor recebeu, o
senhor não tinha as informações de 2007 divulgadas pela imprensa
mundial?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Não.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Ninguém teve?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Quando o Leonardo me deu a informação falou do ICIJ, que é aquela do Fernando Rodrigues, que estava trabalhando com ele...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Permita-me. Um cuidado simples. O
senhor recebeu em setembro, 342 nomes, o senhor sabia que era do ICIJ.
Não teve ninguém do Coaf que fosse ao Google pesquisar sobre isso?
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Primeiro, Senador, não é setembro, é outubro. Em setembro eu estava de férias.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Que seja outubro.
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Mas eu já disse isso para o senhor. De um lado a equipe começou a
trabalhar na questão de identificar os nomes. Do outro, eu falei. Aí vou
pesquisar no site onde tem uma
informação que essa informação, essa lista, não deveria ter sido
fornecida. Então, uma das regras do ICIJ foi quebrada. Não sei como
funciona aquela organização! O ponto que estou querendo chegar é que não
estamos lidando com uma fonte de informação regular do Coaf, confiável,
etc. Recebemos a informação e primeiro trabalhamos. O Coaf não é um
repassador automático de informação. A gente trata e foi o que fizemos.
Fizemos o tal relatório, que acabou vazando.
Então, dizer que não fizemos nada, não. Fizemos. Fizemos dentro da nossa competência. Esse é o ponto.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco
Socialismo e Democracia/PPS - MT) – Recebeu do Fernando Rodrigues e
logo em seguida passaram para a Receita ou quanto tempo...
O SR. ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES –
Nós recebemos no dia 14 de outubro e foi entregue na mão da Receita no
dia 11 de fevereiro. Essas foram as datas exatas em que ocorreram os
fatos. Recebemos o jornalista, recebemos documento, abrir, tabular,
identificar CPF, todo esse foi o trabalho que foi sendo feito.
Paralelamente, fomos obtendo informação de que contexto não está.
Já chegando essa imagem para a questão que o senhor levantou, a questão dos direitos e garantias individuais. Eu falei...
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dos direitos e garantias
individuais. Eu falei do fruto da árvore envenenada, ou seja, de você
avançar num processo com base numa prova que não seja lícita, que acaba
contaminando todo o resto. Mas, existe outra preocupação, sim, o Dr.
Rachid chegou a mencionar, chama-se phishing, um
termo em inglês que significa pescaria. Vamos fazer assim? Vamos pegar a
lista dos moradores na Vieira Souto, no Rio, e vamos começar a
investigar um por um. Mas, por que você vai fazer isso? Morar na Vieira
Souto não é crime. Da mesma forma, ter conta, em si, não é crime. Então,
ter conta não é um fundado indício de ilícito. Eu usei esse termo
propositalmente porque na lei que trata do Coaf está escrito: "O Coaf
comunicará as autoridades competentes quando encontrar fundado indício
de ilícito". Para nós, "fundado em indício" é quando a gente encontra,
no conjunto de informações disponíveis, especialmente nas comunicações
de operação suspeita, fundado indício para comunicar como autoridade.
Nesse caso, por que demos a lista para ele? Simplesmente porque não era
uma lista oficial e porque já estava muito claro de onde tinha vindo.
Apesar dela já ter sido publicada como originária do jornalista, já em
março teve outro jornalista de outra revista que veio me perguntar por
que o Coaf tinha selecionado aqueles nomes. Então, apesar de todo o
cuidado, existiu a desconfiança de que era o Coaf que estava escolhendo.
Esse é o tipo de coisa que acaba prejudicando o trabalho que você faz.
Então, o Senhor me desculpe se eu me empolguei, mas, para que o Senhor
tenha uma ideia, no Coaf, nós somos 48 pessoas, nós trabalhamos com uma
pressão enorme, é uma equipe pequena e altamente profissional, nós
recebemos gente de vários países. Temos enorme orgulho do trabalho que é
feito lá. Por isso que esses comentários sem maiores reflexões acabam
sendo decepcionantes. Conclusão: temos uma enorme preocupação contra
eventuais investigações generalizadas, que, inclusive, não são
autorizadas pela justiça, é a chamada quebra de sigilo generalizada, é
você quebrar o sigilo de todo mundo que, por exemplo, tenha carro acima
de R$ 200.000,00 ou quebrar o sigilo de todo mundo que more ou tenha
imóvel na Avenida Paulista, o que são sinais de riqueza, assim como é
estar na lista. Então, o problema do enfoque judicial dessas questões é
extremamente delicado. Não tenho as respostas, não sou especialista,
mas, certamente, isso é uma coisa que surgirá no momento. Por que a
gente vai sair analisando oito mil nomes do nada? Agora, se tiver algum
indício de ilícito, alguma causa provável que leve você a fazer uma
investigação, aí sim você estará perfeitamente coberto. Estou levantando
isso como uma preocupação, nem é do Coaf, especificamente, mas sobre
como você lida com esse tipo de coisa, uma lista com um monte de nome,
que não tem CPF, que a gente não sabe se é verdadeira, etc.. Eu diria
que todo cuidado é pouco num caso desses. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Vamos, então, passar a palavra ao
Dr. Anthero Meirelles, Diretor de Fiscalização do Banco Central.
O SR. ANTHERO DE MORAES MEIRELLES –
Obrigado, Presidente. Exmo. Senador Paulo Rocha, Exmo. Senador José
Medeiros, Exmo. Senador Cássio Cunha Lima. Apenas comentários gerais,
acho que o Dr. Gustavo já fez uma abordagem bem completa sobre a forma
de tratamento das informações, sobre a forma como elas chegaram. Então,
eu acho que isso está bem contemplado, não teria muito a acrescentar. Eu
apenas gostaria de compartilhar que essa preocupação em relação ao
equilíbrio na condução desse assunto, como de resto nos assuntos que são
tratados pelos nossos órgãos, e é claro que falo mais em nome do Banco
Central, por estar lá há vinte anos, é total, ou seja, a gente tem,
realmente, procurado nos cercar de todos os cuidados, tanto para não
deixar de fazer o que temos de fazer quanto também para não exacerbarmos
nossas competências e não avançarmos sobre direitos individuais, sejam
eles relacionados a pessoas físicas ou a pessoas jurídicas. Acho que
isso tem sido, inclusive, uma tônica na própria articulação entre esses
órgãos que estão presentes. Inclusive, no próprio compartilhamento de
informações...
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16:57
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Há uma noção muito clara do
que pode e não pode ser compartilhado, quem pode ou não pode ter acesso à
informação. Quer dizer, acho que isso tudo tem que ser muito bem
cuidado, muito bem trabalhado, exatamente porque o segredo é exatamente
você conseguir cumprir claro as suas obrigações, apurar o que tem que
ser apurado, buscar a punição do que tem que ser punido, mas com todo o
respeito, com todo o cuidado, tanto com pessoas, quanto com empresas,
quanto com reputações de uma maneira geral.
E, portanto, acho que
isso está na nossa agenda cotidiana lá no Banco Central. A gente anda
com o nosso jurídico a tiracolo lá para avaliar todos os pontos da
legislação que diz respeito ao Banco Central, da legislação do País. O
próprio Dr. Beto, que é também um grande advogado, tem também totalmente
esta percepção e claro o COAF e a Receita têm costume, não é, de atuar
com isso. Então realmente isso a gente tem buscado. espero que a gente consiga esse equilíbrio da forma mais adequada possível.
O Senador Cássio Cunha
Lima também coloca algum debate que esta CPI certamente terá em relação
ao quanto apurado e ao quanto investigado, e ele próprio levanta a
questão de como eventualmente endereçar propostas, melhorias, para,
digamos, um combate ao crime cada vez mais adequado. Acho que isso passa
certamente por um aperfeiçoamento contínuo dos órgãos, por um
aprimoramento dos sistemas de inteligência e de informação... Quer
dizer, eu acho que isso é muito mais eficiente do que proibições,
vedações e coisas dessa natureza que possam sobretudo prejudicar a
grande maioria dos negócios, das transações que são lícitas, que têm
fundamentação econômica, que são importantes para o comércio, para o
desenvolvimento do País, para o desenvolvimento...
Agora, evidentemente que
isso é um debate e o limite entre uma coisa e outra é algo riquíssimo
que esta Casa, junto com a Câmara Federal, debaterá sempre na
conformação das instituições e das leis deste País.
O que eu apenas faço
questão aqui de dizer é que o Banco Central, Sr. Presidente, está
inteiramente à disposição, não apenas aqui nesta oportunidade, mas
durante todo o desenvolvimento dos trabalhos da CPI.
Podem contar com a nossa
ajuda, com a nossa experiência, com o conhecimento que as nossas equipes
detém e formaram ao longo dos 50 anos que estamos completando este ano.
Um Banco Central jovem, comparado com outros bancos
centrais, mas que certamente conseguiu avançar bastante ao longo aí dos
anos enfrentando os muitos desafios que a Nação vem enfrentando e acho
que perseguindo sempre o interesse do País.
Muito obrigado pela oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Muito obrigado, Dr. Anthero.
Muito obrigado pela sua presença e pela contribuição e pela disposição de estar à esta Comissão.
Com a palavra o Dr. Jorge Rachid.
O SR. JORGE RACHID – Senador muito obrigado. Vou procurar responder à pergunta do Senador sobre a legitimidade desses dados.
É interessante a abordagem do Senador Cassio Cunha Lima.
Realmente, como já
mencionado anteriormente por mim e pelos demais, todo cuidado em relação
à legitimidade, à garantia dessas informações serem utilizadas dentro
do processo, no nosso caso administrativo fiscal, para que não seja
objeto de eventual questionamento por parte dos contribuintes. Por
isso, Senador, todo cuidado... Nós passamos uma semana com tratativas
com o Governo francês e outras administrações tributárias justamente
para traçar a maneira correta do acesso a essa informação.
Não bastava, como nós não conhecíamos as pessoas
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17:02
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Como nós não conhecíamos as
pessoas, ou como nós não conhecemos até hoje as pessoas ou empresas que
têm essa conta, então foi todo um trabalho de inteligência, para
justamente permitir que possamos ter acesso a esses dados dentro do
acordo, dentro da legalidade. Então, esse cuidado nós tivemos.
Foi mencionado aqui, em
outra passagem, apesar de que tanto o Senador como o Presidente da
Comissão já havia mencionado, mas é bom. Esse esclarecimento do dia 14
de fevereiro, que está na página da internet da Receita Federal, nós
colocamos naquela data, 14 de fevereiro – portanto, cinco dias após o
início dos trabalhos –, que as análises preliminares de alguns
contribuintes – nós já tínhamos feito essas análises preliminares nesse
curto espaço de tempo – indicavam indícios, não temos provas, Senador,
de eventual ilícito, eventual omissão. “(...) e que a Receita segue
aprofundando...” Estou lendo esta nota. “as pesquisas sobre o tema, com o
intuito de obter mais informações, inclusive mediante cooperação
internacional, para a correta identificação do maior número possível de
contribuintes relacionados e levantamento de possíveis valores não
declarados, passíveis, portanto, de autuação, etc.”
E até chamamos atenção que alguns desses contribuintes já haviam sido investigados anteriormente pela Receita Federal.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Quantos desses...
O SR. JORGE RACHID –
Senador, eu não tenho o número exato para lhe passar. Mas alguns desses
nomes, que até então já tinham sido objeto de investigação.
Agora, de forma alguma
faltou reação por parte da Receita Federal, do Coaf. Posso falar do
Coaf, do Banco Central e do Ministério da Justiça. Até porque me sinto à
vontade pelo fato das regulares reuniões que foram feitas no transcurso
desse último mês.
Então, como já mencionado
pelo Secretário Beto, nós fizemos esse trabalho de forma serena, dentro
da lei, dentro da legalidade, porém célere. Em pouco mais de 30 dias,
nós já estamos tendo acesso a informação autêntica, a informação
integral. É o que nós esperamos.
Outro ponto que acho que é
bom também mencionar, até em respeito aos auditores fiscais da Receita
Federal, aos analistas tributários que atuam na Receita e demais
servidores. Não são só contas no exterior. Nós identificamos aqui... Eu
particularmente já participei de cinco CPIs, às vezes até de forma
simultânea, e mesmo antes de Secretário, antes de 2002, como
Secretário-Adjunto, fizemos trabalhos de identificação de movimentação
financeira. E é isso.
Nesses dados que
mencionei, temos aí já trabalhos feitos de movimentação financeira
incompatível, mais de 7,5 mil contribuintes com movimentação financeira
incompatível. São movimentações financeiras que o contribuinte, aqui no
Brasil, banco nacional, não declara. Este é o nosso papel. O papel da
Receita Federal do Brasil é isto: identificar e agir.
Para nós, não importa se o
contribuinte tem em paraíso fiscal ou em outro país. Importa o
seguinte: É legal. Primeiro, é legal ter conta. Sim, não há dúvida. A
questão está: Ele declarou ou não declarou? Ele tem cobertura
patrimonial ou não para fazer essa questão, para poder declarar? Este é o
ponto.
Então, é só para esse
trabalho, essa investigação. A partir do momento em que nós tivermos
efetivamente acesso a esses dados, nós vamos aprofundar, com cautela,
com segurança, respeitadas as garantias e os direitos individuais,
evidentemente, a questão do sigilo, a questão como nós fazemos, como é
prática na Receita Federal. O trabalho vai ser feito dentro do...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Esses sete mil e quinhentos são contas no exterior?
O SR. JORGE RACHID – Não, são contas aqui no Brasil. São 7,5 mil contribuintes que identificamos variação...
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17:07
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...que identificamos
variação, movimentação financeira incompatível com a sua declaração.
Correto? Então, o outro ponto. Observados os ritos, Senador Cássio,
realmente o cuidado nos acordos internacionais. Observar esse rito, por
isso que adotamos essa cautela.
Enfim. E o que foi
comentado em relação à Suíça, coisa de quatro anos atrás, falar em troca
de informações com a Suíça era uma coisa impensável. Há quatro, cinco
anos, era impensável. Hoje, questão de uns dois anos para cá, hoje ela
já começa a fazer esse trabalho. Suíça e outros países que têm essa
proteção desses dados.
E, a partir do momento em
que elas começaram esse trabalho, nós, da Administração Tributária
Federal, começamos também a buscar essa relação com esses países e
firmar acordos de troca de informações, acordos de troca de informações
de natureza fiscal, de natureza tributária para esse alcance.
Ok? Então, esse é o esclarecimento. Eu não sei se ficou alguma pergunta não respondida.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Só uma questão, Presidente, rapidamente que eu acho que...
O SR. JORGE RACHID – Pois não, Senador.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sobre a lista, voltando à lista
dos 342. Qual critério a Receita adotou para chegar aos cem que
considera ser do interesse do Fisco a investigação?
O SR. JORGE RACHID –
Senador, eu gostaria de chamar atenção que, preliminarmente, porque
até, mais uma vez, as informações de que dispomos até o momento não
sabemos da sua legitimidade, se elas são autênticas ou não.
Então, por isso, com toda
a cautela, eu quero chamar atenção: preliminarmente. Amanhã, quando nós
recebermos, nós não vamos ter mais 342. Esses 342, para nós, é água
passada.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sim.
O SR. JORGE RACHID –
Não é? Eu acredito que o objetivo desta Comissão Parlamentar de
Inquérito é conhecer como é que funciona. Então, em relação a isso nós
vamos, aí sim, vamos ter acesso à informação. Eu terei absoluta...
Quando eu falo eu, a Receita Federal terá certeza se a informação
disponível para nós confere com os dados que o contribuinte declarou.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Permita-me insistir, Doutor Rachid. É que V. Exa informou anteriormente que, de 342, tem cem de interesse do Fisco.
O SR. JORGE RACHID – Preliminarmente, sim. Perfeito.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Preliminarmente. A pergunta
objetiva é o seguinte: qual foi o critério para chegar aos cem? A que
esses cem...
O SR. JORGE RACHID –
O nosso critério de seleção, como é que funciona? Não é por valor. Nós
temos que verificar se o contribuinte declarou ou não esse montante. No
caso específico, se declarou ou não o montante. Se ele não declarou, é
um contribuinte de interesse.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi.
O SR. JORGE RACHID –
Correto? Agora, se tem uma conta com um valor irrelevante, ele não
declarou, mas não é um contribuinte de interesse para nós. Correto?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Entendi. Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Por último, com a palavra, o Beto Vasconcelos.
O SR. BETO FERREIRA VASCONCELOS – Sr. Presidente, muito obrigado. Vou ser breve.
O crime, em especial o
crime contra o patrimônio público, seja por meio de desvio, seja por
meio de não inclusão no patrimônio do que deveria ser, como no caso de
sonegação ou evasão, nos indigna a todos. E é bom que não percamos, como
cidadãos, a capacidade de indignação. Por óbvio. Mas cabe a nós,
servidores públicos, que temos a missão de, em cada órgão público,
conduzir processos apuratórios ou criar mecanismos de melhoria do
combate ao crime, serenidade. E é essa serenidade que tem conduzido os trabalhos de todos esses órgãos públicos.
Por óbvio, a ação do
Estado tem que ser implacável na apuração e punição dos ilícitos. Claro.
Sem expor pessoas e, portanto, sem ferir definitivamente direitos e
garantias individuais e sem comprometer o processo apuratório. Portanto,
sem comprometer provas, que poderão e deverão ser utilizadas, ao final,
para julgamento.
Então, de novo, esses preceitos e esses pressupostos...
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17:12
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esses pressupostos exigem
que todos nós servidores públicos – e aí me refiro a todos aqueles que
têm, como nós, a missão de contribuir para o combate ao crime, tanto no
Coaf, na Receita, no Banco Central, no Departamento de Polícia Federal,
no Ministério Público, na Justiça brasileira, nesta CPI, como o senhor,
Presidente, muito mencionou o método com o qual vai conduzir a CPI,
assim como os Senadores mencionaram aqui também – conduzamos com a
serenidade necessária que o caso exige. Não há crime sem apuração. Não
há, neste caso concreto, crime por si só, só pelo fato de existir conta
no exterior. Nós temos que apurar o que existe. Não há instituição
inteiramente criminosa e contaminada por condutas individuais. Não é
assim nem em instituições financeiras, nem em empresas, nem em partidos,
nem em qualquer outra organização ou órgão público. É necessário apurar
condutas.
Acho que todos os órgãos –
e aí respondo uma pergunta bem específica – aqui presentes têm atuado
com essa serenidade e esse cuidado. Eu tenho sido testemunha, Senador,
dessas reuniões que temos feito de nivelamento e definição de
procedimentos e da diligência com que tem sido conduzido o trabalho da
Receita Federal, do Coaf, do Banco Central, do Departamento de Polícia
Federal, do Ministério Público e da Secretaria, na conclusão dos
trabalhos de apuração, na formalização do pedido de cooperação. E acho
que é assim que tem que ser feito.
É óbvio que a ansiedade
individual, a nossa ansiedade, como cidadão ou como jornalista ou como,
enfim, qualquer profissão, especialmente a ansiedade gerada em nós como
cidadãos, requer um tempo diferente do tempo em que as instituições, às
vezes, conseguem concluir o trabalho, mas ele tem sido feito. Esse é o
testemunho que posso dar de cada uma das reuniões que compartilhamos.
Eventuais desvios de
condutas vão ser apurados. Há procedimento apuratório aberto para ver o
porquê e em que condições foram efetuados aqueles vazamentos. E nós
temos tomado providências para evitar que isso aconteça novamente e
punir quem quer seja que tenha efetuado esse vazamento.
Temos que ter a
serenidade também de compreender o papel da imprensa, que é levar a
informação à sociedade brasileira. E é o que tanto o jornalista Fernando
Rodrigues, como os parceiros dele e outros jornalistas de outras
instituições de mídia têm feito e têm preservado a fonte, como há de ser
também.
Só para concluir, Sr.
Presidente, Sr. Relator, eu acho que, se conduzirmos o processo com o
Poder Público nesta CPI de forma serena, alcançaremos objetivos muito
mais eficientes do que se, efetivamente, conduzirmos com a pressa que,
às vezes, a sociedade requer.
Esse é um caso bem
sensível, assim como outros que estão sendo apurados. E ele vai nos
ajudar, certamente, a ter um Estado mais transparente, instituições mais
fortes e, portanto, um sistema de repressão e controle mais eficiente.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Obrigado, Dr. Beto Vasconcelos.
Sr. Jorge Rachid, o nosso
Relator fez uma menção sobre a questão do CARF, Zelotes. V. Sª pode
fazer algum comentário sobre isso, uma vez que foi levantado aqui?
O SR. JORGE RACHID – Por favor. Muito obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade de comentar.
Foi uma operação
realizada no dia 26 de março. Gostaria de esclarecer que isso foi fruto
de um trabalho de uma denúncia, inicialmente, no final de 2013. A
Receita Federal, juntamente com a Polícia Federal, começou a
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17:17
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com a Polícia Federal, começou a trabalhar de forma conjunta, para identificação de eventual ilícito ou confirmação da questão.
Posteriormente, essa
informação deu seguimento, foi para o Ministério Público, e, aí,
culminou nessa operação, agora, no início de março. Antes disso, a
própria Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda, por envolver um
outro órgão, envolver esse órgão, esse importante órgão de segunda
instância administrativa, que é o Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais, abriu, instaurou procedimento para identificação de prática
envolvendo eventual Conselheiro, não só da Fazenda, mas da parte dos
contribuintes.
É só esclarecer que esses
valores que foram colocados, foram trazidos à mídia, e foi mencionado
aqui, anteriormente, e fazendo correlação ao ajuste fiscal, eu queria
esclarecer, Sr. Presidente, que, realmente, há 74 processos
administrativos fiscais que estão sob, vamos chamar assim, sob suspeita,
pelas informações de que nós já dispomos. Desses 54 é que vem esse montante de R$19 bilhões.
Mas não necessariamente
esses R$19 bilhões serão revertidos a favor da Fazenda Nacional. Todos
esses processos, em cujos julgamentos tenha sido constatada eventual
irregularidade, serão reexaminados. Não necessariamente que serão
reduzidos ou alterados.
Então, não é correto nós
fazermos justamente essa correlação em relação ao ajuste fiscal que o
Ministério da Fazenda vem fazendo. Nós, Receita Federal estamos
participando do lado da arrecadação, mas também do lado do gasto, não só
a Receita, como todos os órgãos aqui envolvidos, estamos contribuindo
com o ajuste, mas do lado do gasto.
Então, é prematuro fazer essa correlação.
Era só isso, Sr. Presidente, que eu queria mencionar.
O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) – Presidente, permita.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Apoio Governo/PT - PA) – Senador Cássio.
O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco
Oposição/PSDB - PB) – A propósito do tema, Dr. Rachid, a imprensa
divulgou, de forma ampla, que uma das providências adotadas foi
suspender as reuniões do Conselho e, pelo que eu entendi, nas matérias
divulgadas, durante todo esse ano, a pergunta que lhe faço, aproveitando
o ensejo, é se isso não traz um prejuízo a contribuintes outros que
aguardam a prestação dos serviços jurisdicionais, mesmo que no campo
administrativo, do julgamento de seus processos?
Eu fico a imaginar um
contribuinte que recorreu ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
e que, agora, não contará mais com a prestação do serviço do Estado
brasileiro, pelo fato de ter-se tomado uma decisão de suspender, ao meu
ver, permita-me, de forma extremamente longa, as reuniões. Eu não
conheço a frequência e a regularidade do Conselho Federal, mas acredito
que deve ter reuniões mensais, pelo volume de recursos.
Então, a indagação que
faço nesse instante é se o prazo que foi anunciado não é muito longo e o
que fazer com esses contribuintes que recorreram ao Conselho para
apresentar os seus recursos no campo administrativo. Vão ficar sem a
prestação jurisdicional ou devem, já, de imediato, procurar a via
judicial? Estamos, ainda, falando num campo administrativo, e o
contribuinte vai ficar penalizado, vai ficar num vazio de prestação da
assistência do Estado brasileiro nessa hipótese.
Me parece que a medida é
um tanto quanto exagerada e que merece uma reflexão, dado o volume de
processos que suponho tramitar no Conselho.
O SR. JORGE RACHID – Perfeito. Posso esclarecer, Sr. Presidente? Muito obrigado pela pergunta, Senador.
Veja, realmente, saiu
essa informação e o que houve, desde a semana passada, a partir da
operação, foi a suspensão das sessões, mas, evidentemente, de forma
temporária – não ficou muito claro isso e nós vamos procurar esclarecer
–, de forma temporária.
Por quê? Porque a própria Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda que está atuando
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vai precisar notificar os
conselheiros. A partir do momento da notificação, possivelmente,
provavelmente, os conselheiros serão afastados, porque ficaria difícil
manter uma sessão, num órgão paritário, onde qual a confiança teria?
Todos estariam, qual a confiança teria no julgamento? Correto? Então,
por conta disso, houve uma interrupção do calendário, mas, em breve, eu
digo em breve, novo calendário de sessões ocorrerão.
Enquanto isso, enquanto
isso, há processo de admissibilidade que serão examinados, há outros
processos que independem da sessão aberta, independe da sessão das
Turmas, das sessões de julgamento do Conselho, correto?
O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) – Qual é a periodicidade das reuniões?
O SR. JORGE RACHID – Elas são mensais.
O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) – São mensais.
O SR. JORGE RACHID – Elas são mensais.
O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) – É porque a suspensão sine die dos julgamentos, mutatis mutandis, seria como se, não é o caso da Lava Jato, nós fechássemos a Petrobras.
O SR. JORGE RACHID –
O Senhor completa razão e não é o caso, de forma alguma, e o que nós
queremos, realmente, e o que o Conselho faz é justamente são julgamentos
técnicos, não é? E imparciais, não é? Então, técnicos e imparciais.
Nesse momento, apesar desse volume de 74 processos administrativos, mas
só o Conselho hoje tem mais de 100.000 processos, não é? Então, não
podemos, é só uma segurança que o presidente do Conselho adotou e
achamos, evidentemente, prudente fazê-lo. Ok?
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Presidente, o Senhor me permite? É
só uma última questão de interesse dessa CPI ao Dr. Rachid, não ficou
claro, pelo menos para mim, também não sei se algum Colega Parlamentar
voltou a pergunta, em algum momento V. Exª tentou contato com o jornalista Fernando Rodrigues? V. Exª, ou o representante de V. Exª, procurou contato com o jornalista Fernando Rodrigues, para obter a totalidade da lista do HSBC?
O SR. JORGE RACHID –
Senador, eu diria "eu não" e não dei essa orientação por quê? Não é uma
fonte que eu poderia usar nos processos administrativos fiscais.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Uma revista semanal, nesta semana,
uma revista semanal, obviamente, recentemente veiculou que teve um
contato de um representante da Receita Federal, com o jornalista, no
sentido de, em nome da Receita, buscar a lista. Essa informação não
procede? A revista mentiu nesse aspecto?
O SR. JORGE RACHID –
Não. A pergunta que o Senhor me fez é se a Receita Federal procurou o
jornalista? Eu disse que não e não fui orientado para tal. O jornalista
procurou a Receita Federal. O jornalista procurou a Receita
Federal e, portanto, dentro da questão colocada, não teve, nós não
tivemos condições de avançar mais nada, porque o jornalista procurou,
queria outras informações ou queria, enfim, ...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco
Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Mas da parte da Receita ninguém,
nenhum funcionário, nenhum diretor, ninguém buscou o acesso ao conteúdo
da lista, da parte da Receita não?
O SR. JORGE RACHID – O conteúdo...
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – E aí eu falo por parte da Receita, de V. Exª, de algum diretor, de algum assessor de V. Exª?
O SR. JORGE RACHID –
Mas orientado para buscar o conteúdo? A nossa orientação foi para
buscar o conteúdo oficial, lá ,ou na Suíça que seria impossível, ou na
França tão somente.
O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP) – Sim, isso ficou claro, com o jornalista não?
O SR. JORGE RACHID – Não, porque não teria valor, qual o valor dessa informação?
O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco
Oposição/PSDB - PB) – Vou complementar a pergunta, é praxe a Receita
agir, a partir de notícias de jornais, por mais credenciado, por mais...
O SR. JORGE RACHID – Perfeito.
O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco
Oposição/PSDB - PB) – ... confiável que seja o órgão ou o jornalista, a
Receita Federal tem como conduta habitual agir a partir de notícias que
são veiculadas na imprensa?
O SR. JORGE RACHID –
Senador, todas as informações são importantes para o Fisco. Todas as
informações. Uma notícia que sai na imprensa, nós temos uma equipe que
acompanha essas informações e fazem o cotejamento.
Nem todas as informações que saem na imprensa
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Receita diz nunca ter averiguado quantos brasileiros têm conta no exterior
Fernando Rodrigues 01/04/2015 17:08
Apesar de a informação constar nas declarações de bens, Fisco nunca teve interesse no dado
Tom geral de representantes do governo foi o de minimizar impacto de contas no HSBC da Suíça
Receita diz ter apenas 100 nomes que podem ter cometido crimes; conta desconsidera muitos suspeitos
Coaf reclama que tem muito trabalho; essa foi uma das razões para demorar 4 meses para agir
O secretário-geral da Receita Federal, Jorge Rachid, afirmou nesta 4ª feira (1º.abr.2015) que o órgão não tem estatísticas prontas sobre quantos brasileiros declaram ter contas no exterior.
Indagado durante audiência na CPI do HSBC, no Senado, Rachid respondeu que esse número não havia sido apurado até hoje. Disse que seria necessário fazer uma pesquisa no banco de dados do órgão.
O tom da resposta de Rachid foi o de que esse seria um dado de pouca relevância na atual investigação, que apura 8.667 clientes ligados ao Brasil e a contas na agência de Genebra, do HSBC.
Rachid também declarou que a Receita não saberia informar quantos brasileiros declaram ter empresas em paraísos fiscais nem em quais países estão as contas de contribuintes brasileiros que declararam possuir ativos no exterior. Esse tipo de estatística é comum em Fiscos de outros países –como o dos EUA, por exemplo.
Aos senadores, Rachid tentou justificar a demora do governo brasileiro em aproveitar o acervo de dados vazado do HSBC para investigar suspeitas de sonegação de impostos e evasão de divisas.
A Receita Federal e o Ministério da Justiça iniciaram apenas em março deste ano o procedimento para obter os dados do governo da França, que os recebeu em 2008 do ex-funcionário do HSBC Hervé Falciani.
A partir de 2010, as autoridades francesas passaram a dividir as planilhas com outros países –por meio da então ministra da Economia daquele país, Christine Lagarde, que hoje é diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional. No exterior, US$ 1,3 bilhão já foi recuperado em impostos sonegados e multas. Na América do Sul, a Argentina saiu na frente, solicitou os dados no ano passado e desde outubro de 2014 analisa as contas que argentinos mantinham na Suíça.
Por que as agências de controle do Brasil não se interessaram em ter acesso aos dados do HSBC em 2010 ou nos anos seguintes? Segundo Rachid, “não havia a informação da presença de brasileiros”.
Na realidade, não havia informação segura sobre a presença de nacionais de nenhum país entre os 8.667 clientes do HSBC de Genebra. Mas o escândalo foi amplamente noticiado pela mídia internacional. Alguns países se interessaram pelo acervo de dados e fizeram requerimentos ao governo francês para ter acesso.
O governo do Brasil, por não ter certeza de que havia brasileiros, preferiu não investigar o assunto. Na dúvida, nada fez.
O diretor de fiscalização do Banco Central, Antero Meirelles, também tentou minimizar a utilidade dos dados do HSBC para combater sonegação fiscal e evasão de divisas. “Esse caso fala de uma Suíça de 10 anos atrás”, disse.
O tom de Rachid, Meirelles e dos outros 2 representantes do governo ouvidos na CPI nesta 4ª feira –Beto Vasconcellos, secretário nacional de Justiça, e Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras– foi semelhante.
Todos tentaram minimizar o tamanho e a abrangência do eventual volume de sonegação fiscal e de evasão de divisas. As falas foram pontuadas por ressalvas dando a entender que o vazamento de dados de 8.667 brasileiros com conta no HSBC “não era tão grave”. O saldo total mantido na agência suíça por esses clientes era de US$ 7 bilhões –cerca de R$ 21 bilhões.
A impressão de quem acompanhou a audiência dos representantes do governo é que eles estavam mais próximos de defender os interesses de brasileiros com contas no exterior do que investigar e apurar eventuais ilícitos cometidos por quem mantém dinheiro em paraísos fiscais.
A Bélgica, que tem 11 milhões de habitantes, já conseguiu repatriar US$ 490 milhões em impostos devidos e multas a cidadãos que mantinham contas no HSBC de Genebra. A Espanha recuperou US$ 298 milhões e a França, US$ 286 milhões.
APURAÇÃO CONFUSA DA RECEITA FEDERALO secretário da Receita, Jorge Rachid, forneceu números confusos sobre a apuração conduzida até o momento. Disse que o órgão tem em seu poder cerca de 500 nomes de brasileiros relacionados a contas no HSBC na Suíça.
Esse universo corresponde, segundo Rachid, a 342 nomes de uma seleção preliminar mostrada ao Coaf pelo UOL no início de outubro de 2014, e a mais 148 nomes que o órgão pinçou das reportagens publicadas pelo UOL e pelo jornal “Globo” –veículos que fazem a investigação do SwissLeaks no Brasil.
Rachid disse que 69 desses brasileiros seriam titulares de contas bancárias já encerradas e outros 29 estavam mortos, mas não soube explicar por que esses dois casos deveriam estar fora do alvo da Receita.
Uma conta encerrada não suprime o eventual crime de evasão de divisas, entre outras possíveis ilegalidades. No caso das contas de pessoas já mortas, o valor depositado é revertido para os beneficiários do antigo titular –conforme mostram os arquivos do HSBC.
Rachid apenas desconsiderou contas já encerradas e pessoas mortas. Nenhum senador presente à sessão da CPI do HSBC questionou.
Outro aspecto também chamou a atenção no depoimento de Jorge Rachid foi quando ele diversas vezes ressaltou a necessidade de ter acesso aos dados do HSBC de maneira legal. “Todo cuidado é pouco'', afirmou. Ocorre que Rachid, em acordância com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, pediu a um funcionário da Receita Federal que tentasse obter do UOL a lista completa de clientes brasileiros.
Houve uma reunião do jornalista Fernando Rodrigues com o coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal, Gerson Schaan, em 25.fev.2015, a mando de Jorge Rachid. Nessa reunião, Schaan disse que Rachid o orientara a tentar obter a lista completa usada pelo UOL.
Indagado sobre esse episódio, Rachid deu uma versão que não corresponde à verdade. Disse que o jornalista procurou a Receita Federal, o que não é fato. Quem procurou o jornalista foi o Palácio do Planalto, por meio de Aloizio Mercadante. O ministro da Casa Civil pediu que o UOL falasse com Rachid, que por sua vez disse que a pessoa da Receita Federal que deveria falar em seu nome era Gerson Schaan. Há telefonemas e mensagens de texto que comprovam toda essa negociação pretendida pelo governo.
COAF FALA QUE TEM MUITO TRABALHOAntonio Augusto Rodrigues, chefe do Coaf, tentou explicar porque demorou vários meses para compartilhar com a Receita Federal a lista preliminar de 342 nomes de clientes ligados ao Brasil e relacionados a contas na Suíça.
Em resumo, disse que recebeu as informações e quis esperar primeiro que tudo fosse publicado –ou seja, cerca de 4 meses sem nada fazer, pois os dados foram mostrados ao órgão em outubro de 2014 e até fevereiro de 2015 nenhuma providência real havia sido tomada.
“Não sei qual era a expectativa do jornalista quando apresentou os dados”, disse Antonio Augusto. Na realidade, o Coaf foi explicitamente informado do que se tratava. Não agiu por opção. “Tratamos [o assunto] de acordo com a nossa carga de trabalho”, disse o chefe do Coaf, dando a entender que não tem estrutura suficiente para investigar com rapidez um caso que envolve depósitos totais de US$ 7 bilhões.
“Quando se lida com coisas que não estão muito claras, é melhor tomar cuidado”, disse Antonio Augusto. O chefe do Coaf omitiu que ao receber os dados do repórter Leonardo Souza, a pedido do UOL, no início de outubro, foi informado detalhadamente sobre o que estava sendo investigado.
Indagado se não teria sido o caso de compartilhar os dados imediatamente com a Receita Federal, Antonio Augusto foi evasivo: “Não sei se isso vai fazer [faria] muita diferença”.
O Coaf viu a lista em 14 de outubro de 2014. Entregou para a Receita Federal em 11 de fevereiro de 2015.
Para o Coaf, foi a decisão correta.
Antonio Augusto disse à CPI do HSBC que não sabia se a lista é verdadeira. Quando viu os nomes, em outubro de 2014, não demonstrou ter essa dúvida.
Antonio Augusto disse à CPI do HSBC que entendeu que a regra do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) teria sido quebrada porque ele, no Coaf, viu 342 nomes. De maneira inadvertida ou não, misturou assuntos. O ICIJ não divulga listas de nomes. O que foi mostrado ao Coaf foi uma amostra de 3% dos 8.667 nomes para uma análise preliminar.
O tom geral da CPI do HSBC na audiência deste 1º.abr.2015 foi assim: os representantes do governo defenderam ter agido de maneira correta e sem erros na apuração do SwissLeaks, apesar de o caso existir desde 2010 e as providências reais tenham sido tomadas em março de 2015.
Rodrigo Janot: dados do HSBC serão válidos como prova no Brasil
1) Dados completos devem chegar em abril: Janot e Aras devem viajar à França em abril para receber pessoalmente cópia do acervo de dados extraído da agência de “private bank” do HSBC, em Genebra, no ano de 2008 por um ex-funcionário da instituição. A viagem está sendo acertada entre os Ministérios Públicos brasileiro e francês;
2) CPI terá os dados: Janot prometeu a Randolfe que assim que o Ministério Público tiver a posse das informações, tudo será compartilhado com a CPI do HSBC;
3) Dados são legalmente válidos: como os arquivos do HSBC foram furtados do banco, as informações não poderiam, em tese, ser usadas como prova judicial. Ocorre que a França recebeu os dados por meio de uma pessoa que fez uma delação, nos moldes das que ocorrem na Operação Lava Jato. Essa pessoa, Hervé Falciani (o ex-funcionário do HSBC em Genebra), confessou crimes, ofereceu cooperação e forneceu provas materiais (os arquivos do banco). Nesse caso, o Estado francês validou os dados e passou a usá-los judicialmente para recuperar dinheiro de cidadãos franceses depositado ilegalmente na Suíça. Bélgica, Espanha e Reino Unido, entre outros, tomaram o mesmo caminho.
Aos senadores da CPI do HSBC, Rodrigo Janot disse algo que pode ser o pesadelo dos eventuais sonegadores brasileiros. É que o Brasil receberá oficialmente do Estado francês os dados do HSBC. São informações validadas para o uso do ponto de vista judicial, segundo o procurador-geral da República.
Janot demonstrou estar convicto de que o acervo do SwissLeaks poderá receber essa interpretação no Brasil. Em resumo: quem não declarou seus depósitos à Receita Federal nem informou sobre as operações ao Banco Central poderá então ser processado a partir das informações do HSBC de Genebra.
Além de Randolfe Rodrigues e Paulo Rocha, estiveram com Janot os seguintes senadores integrantes da CPI do HSBC na reunião de 3ª feira: Fátima Bezerra (PT-RN), Regina Sousa (PT-PI) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Em 2014, o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) firmou uma parceria com o jornal francês “Le Monde” para investigar o caso. No Brasil, o UOL e o “Globo'' têm exclusividade na apuração.
Os
senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Paulo Rocha (PT-PA) e outros
integrantes da CPI do HSBC estiveram no final da tarde desta 3ª feira
(31.mar.2015) com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e com o
secretário de Cooperação Internacional da Procuradoria Geral da
República, Vladimir Aras. Nessa conversa, soube-se o seguinte sobre o
SwissLeaks:
Tom geral de representantes do governo foi o de minimizar impacto de contas no HSBC da Suíça
Receita diz ter apenas 100 nomes que podem ter cometido crimes; conta desconsidera muitos suspeitos
Coaf reclama que tem muito trabalho; essa foi uma das razões para demorar 4 meses para agir
O secretário-geral da Receita Federal, Jorge Rachid, afirmou nesta 4ª feira (1º.abr.2015) que o órgão não tem estatísticas prontas sobre quantos brasileiros declaram ter contas no exterior.
Indagado durante audiência na CPI do HSBC, no Senado, Rachid respondeu que esse número não havia sido apurado até hoje. Disse que seria necessário fazer uma pesquisa no banco de dados do órgão.
O tom da resposta de Rachid foi o de que esse seria um dado de pouca relevância na atual investigação, que apura 8.667 clientes ligados ao Brasil e a contas na agência de Genebra, do HSBC.
Rachid também declarou que a Receita não saberia informar quantos brasileiros declaram ter empresas em paraísos fiscais nem em quais países estão as contas de contribuintes brasileiros que declararam possuir ativos no exterior. Esse tipo de estatística é comum em Fiscos de outros países –como o dos EUA, por exemplo.
Aos senadores, Rachid tentou justificar a demora do governo brasileiro em aproveitar o acervo de dados vazado do HSBC para investigar suspeitas de sonegação de impostos e evasão de divisas.
A Receita Federal e o Ministério da Justiça iniciaram apenas em março deste ano o procedimento para obter os dados do governo da França, que os recebeu em 2008 do ex-funcionário do HSBC Hervé Falciani.
A partir de 2010, as autoridades francesas passaram a dividir as planilhas com outros países –por meio da então ministra da Economia daquele país, Christine Lagarde, que hoje é diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional. No exterior, US$ 1,3 bilhão já foi recuperado em impostos sonegados e multas. Na América do Sul, a Argentina saiu na frente, solicitou os dados no ano passado e desde outubro de 2014 analisa as contas que argentinos mantinham na Suíça.
Por que as agências de controle do Brasil não se interessaram em ter acesso aos dados do HSBC em 2010 ou nos anos seguintes? Segundo Rachid, “não havia a informação da presença de brasileiros”.
Na realidade, não havia informação segura sobre a presença de nacionais de nenhum país entre os 8.667 clientes do HSBC de Genebra. Mas o escândalo foi amplamente noticiado pela mídia internacional. Alguns países se interessaram pelo acervo de dados e fizeram requerimentos ao governo francês para ter acesso.
O governo do Brasil, por não ter certeza de que havia brasileiros, preferiu não investigar o assunto. Na dúvida, nada fez.
O diretor de fiscalização do Banco Central, Antero Meirelles, também tentou minimizar a utilidade dos dados do HSBC para combater sonegação fiscal e evasão de divisas. “Esse caso fala de uma Suíça de 10 anos atrás”, disse.
O tom de Rachid, Meirelles e dos outros 2 representantes do governo ouvidos na CPI nesta 4ª feira –Beto Vasconcellos, secretário nacional de Justiça, e Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras– foi semelhante.
Todos tentaram minimizar o tamanho e a abrangência do eventual volume de sonegação fiscal e de evasão de divisas. As falas foram pontuadas por ressalvas dando a entender que o vazamento de dados de 8.667 brasileiros com conta no HSBC “não era tão grave”. O saldo total mantido na agência suíça por esses clientes era de US$ 7 bilhões –cerca de R$ 21 bilhões.
A impressão de quem acompanhou a audiência dos representantes do governo é que eles estavam mais próximos de defender os interesses de brasileiros com contas no exterior do que investigar e apurar eventuais ilícitos cometidos por quem mantém dinheiro em paraísos fiscais.
A Bélgica, que tem 11 milhões de habitantes, já conseguiu repatriar US$ 490 milhões em impostos devidos e multas a cidadãos que mantinham contas no HSBC de Genebra. A Espanha recuperou US$ 298 milhões e a França, US$ 286 milhões.
APURAÇÃO CONFUSA DA RECEITA FEDERALO secretário da Receita, Jorge Rachid, forneceu números confusos sobre a apuração conduzida até o momento. Disse que o órgão tem em seu poder cerca de 500 nomes de brasileiros relacionados a contas no HSBC na Suíça.
Esse universo corresponde, segundo Rachid, a 342 nomes de uma seleção preliminar mostrada ao Coaf pelo UOL no início de outubro de 2014, e a mais 148 nomes que o órgão pinçou das reportagens publicadas pelo UOL e pelo jornal “Globo” –veículos que fazem a investigação do SwissLeaks no Brasil.
Rachid disse que 69 desses brasileiros seriam titulares de contas bancárias já encerradas e outros 29 estavam mortos, mas não soube explicar por que esses dois casos deveriam estar fora do alvo da Receita.
Uma conta encerrada não suprime o eventual crime de evasão de divisas, entre outras possíveis ilegalidades. No caso das contas de pessoas já mortas, o valor depositado é revertido para os beneficiários do antigo titular –conforme mostram os arquivos do HSBC.
Rachid apenas desconsiderou contas já encerradas e pessoas mortas. Nenhum senador presente à sessão da CPI do HSBC questionou.
Outro aspecto também chamou a atenção no depoimento de Jorge Rachid foi quando ele diversas vezes ressaltou a necessidade de ter acesso aos dados do HSBC de maneira legal. “Todo cuidado é pouco'', afirmou. Ocorre que Rachid, em acordância com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, pediu a um funcionário da Receita Federal que tentasse obter do UOL a lista completa de clientes brasileiros.
Houve uma reunião do jornalista Fernando Rodrigues com o coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal, Gerson Schaan, em 25.fev.2015, a mando de Jorge Rachid. Nessa reunião, Schaan disse que Rachid o orientara a tentar obter a lista completa usada pelo UOL.
Indagado sobre esse episódio, Rachid deu uma versão que não corresponde à verdade. Disse que o jornalista procurou a Receita Federal, o que não é fato. Quem procurou o jornalista foi o Palácio do Planalto, por meio de Aloizio Mercadante. O ministro da Casa Civil pediu que o UOL falasse com Rachid, que por sua vez disse que a pessoa da Receita Federal que deveria falar em seu nome era Gerson Schaan. Há telefonemas e mensagens de texto que comprovam toda essa negociação pretendida pelo governo.
COAF FALA QUE TEM MUITO TRABALHOAntonio Augusto Rodrigues, chefe do Coaf, tentou explicar porque demorou vários meses para compartilhar com a Receita Federal a lista preliminar de 342 nomes de clientes ligados ao Brasil e relacionados a contas na Suíça.
Em resumo, disse que recebeu as informações e quis esperar primeiro que tudo fosse publicado –ou seja, cerca de 4 meses sem nada fazer, pois os dados foram mostrados ao órgão em outubro de 2014 e até fevereiro de 2015 nenhuma providência real havia sido tomada.
“Não sei qual era a expectativa do jornalista quando apresentou os dados”, disse Antonio Augusto. Na realidade, o Coaf foi explicitamente informado do que se tratava. Não agiu por opção. “Tratamos [o assunto] de acordo com a nossa carga de trabalho”, disse o chefe do Coaf, dando a entender que não tem estrutura suficiente para investigar com rapidez um caso que envolve depósitos totais de US$ 7 bilhões.
“Quando se lida com coisas que não estão muito claras, é melhor tomar cuidado”, disse Antonio Augusto. O chefe do Coaf omitiu que ao receber os dados do repórter Leonardo Souza, a pedido do UOL, no início de outubro, foi informado detalhadamente sobre o que estava sendo investigado.
Indagado se não teria sido o caso de compartilhar os dados imediatamente com a Receita Federal, Antonio Augusto foi evasivo: “Não sei se isso vai fazer [faria] muita diferença”.
O Coaf viu a lista em 14 de outubro de 2014. Entregou para a Receita Federal em 11 de fevereiro de 2015.
Para o Coaf, foi a decisão correta.
Antonio Augusto disse à CPI do HSBC que não sabia se a lista é verdadeira. Quando viu os nomes, em outubro de 2014, não demonstrou ter essa dúvida.
Antonio Augusto disse à CPI do HSBC que entendeu que a regra do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) teria sido quebrada porque ele, no Coaf, viu 342 nomes. De maneira inadvertida ou não, misturou assuntos. O ICIJ não divulga listas de nomes. O que foi mostrado ao Coaf foi uma amostra de 3% dos 8.667 nomes para uma análise preliminar.
O tom geral da CPI do HSBC na audiência deste 1º.abr.2015 foi assim: os representantes do governo defenderam ter agido de maneira correta e sem erros na apuração do SwissLeaks, apesar de o caso existir desde 2010 e as providências reais tenham sido tomadas em março de 2015.
Rodrigo Janot: dados do HSBC serão válidos como prova no Brasil
Fernando Rodrigues 01/04/2015 09:00
1) Dados completos devem chegar em abril: Janot e Aras devem viajar à França em abril para receber pessoalmente cópia do acervo de dados extraído da agência de “private bank” do HSBC, em Genebra, no ano de 2008 por um ex-funcionário da instituição. A viagem está sendo acertada entre os Ministérios Públicos brasileiro e francês;
2) CPI terá os dados: Janot prometeu a Randolfe que assim que o Ministério Público tiver a posse das informações, tudo será compartilhado com a CPI do HSBC;
3) Dados são legalmente válidos: como os arquivos do HSBC foram furtados do banco, as informações não poderiam, em tese, ser usadas como prova judicial. Ocorre que a França recebeu os dados por meio de uma pessoa que fez uma delação, nos moldes das que ocorrem na Operação Lava Jato. Essa pessoa, Hervé Falciani (o ex-funcionário do HSBC em Genebra), confessou crimes, ofereceu cooperação e forneceu provas materiais (os arquivos do banco). Nesse caso, o Estado francês validou os dados e passou a usá-los judicialmente para recuperar dinheiro de cidadãos franceses depositado ilegalmente na Suíça. Bélgica, Espanha e Reino Unido, entre outros, tomaram o mesmo caminho.
Aos senadores da CPI do HSBC, Rodrigo Janot disse algo que pode ser o pesadelo dos eventuais sonegadores brasileiros. É que o Brasil receberá oficialmente do Estado francês os dados do HSBC. São informações validadas para o uso do ponto de vista judicial, segundo o procurador-geral da República.
Janot demonstrou estar convicto de que o acervo do SwissLeaks poderá receber essa interpretação no Brasil. Em resumo: quem não declarou seus depósitos à Receita Federal nem informou sobre as operações ao Banco Central poderá então ser processado a partir das informações do HSBC de Genebra.
Além de Randolfe Rodrigues e Paulo Rocha, estiveram com Janot os seguintes senadores integrantes da CPI do HSBC na reunião de 3ª feira: Fátima Bezerra (PT-RN), Regina Sousa (PT-PI) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Em 2014, o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) firmou uma parceria com o jornal francês “Le Monde” para investigar o caso. No Brasil, o UOL e o “Globo'' têm exclusividade na apuração.
26 profissionais renomados do mundo do direito estão na lista do HSBC
2 desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo no SwissLeaks
Sócios de algumas das maiores bancas de advocacia do país aparecem
UOL e “Globo'' checaram mais de 1.500 nomes para apurar reportagem
Desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, um ex-procurador-geral de Justiça do Rio e uma ex-defensora pública-geral de Pernambuco estão relacionados a contas da agência do HSBC em Genebra, na Suíça.
Também aparecem no acervo de dados vazado do banco sócios e ex-sócios de alguns dos maiores escritórios de advocacia do país: Machado, Meyer, Sendacz e Opice; Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga; Levy e Salomão; e Trench, Rossi e Watanabe.
Procurados pela reportagem, todos negam irregularidades ou se recusam a comentar.
O vazamento dos dados, conhecido como SwissLeaks, refere-se a informações dos anos de 2006 e 2007, extraídas da agência do HSBC, em Genebra, em 2008 por um então técnico de informática da instituição, Hervé Falciani. Em 2014, o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) firmou uma parceria com o jornal francês “Le Monde” para investigar o caso. No Brasil, o UOL e o “Globo'' têm exclusividade na apuração.
Para esta reportagem, foram pesquisados os nomes de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Trabalho e Superior Tribunal Militar. O cruzamento incluiu os desembargadores dos 5 Tribunais Regionais Federais e os dos Tribunais de Justiça dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O UOL e o “Globo” também compararam a lista do HSBC com a dos 500 advogados mais admirados do país, segundo um ranking especializado produzido pela editora Análise Editorial, e outras listas de profissionais premiados. Foram ainda checados os nomes de chefes do Ministério Público e da Defensoria Pública. No total, cerca de 1.500 nomes foram pesquisados.
Do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), aparecem 2 desembargadores.
Jayme Queiroz Lopes Filho, da 36ª Câmara de Direito Privado, ex-presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, está ligado a 2 contas. Uma aberta em janeiro de 1997 e fechada em janeiro de 1999. Outra surge em outubro de 1998 e ainda permanecia ativa em 2006 e 2007, com saldo de US$ 131.147.
Também está na lista Paulo Eduardo Razuk, da 1ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP, com uma conta aberta em novembro de 1994 e fechada em março de 2004 –o saldo, nesse caso, está zerado.
Há 1 desembargador aposentado do TJ-SP relacionado ao HSBC de Genebra: Ney de Mello Almada, hoje advogado. A conta vinculada ao seu nome na agência suíça do banco foi aberta em maio de 1992 e permanecia ativa em 2006 e 2007, com saldo de US$ 263.922.
O ex-procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro de 1987 a 1991, Carlos Antonio da Silva Navega, está relacionado a 3 contas no HSBC, todas já fechadas quando os dados foram extraídos do banco, em 2008.
Está também na listagem a ex-defensora pública-geral de Pernambuco Marta Maria de Brito Alves Freire. Ela comandou a instituição de 2010 a 2014. A conta vinculada ao seu nome e ao de seu marido, o advogado Marcos Freire Filho, foi aberta em 29.out.1996 e tinha saldo de US$ 1,016 milhão em 2006/07.
Marcos Freire Filho não tem relação de parentesco com o político pernambucano Marcos Freire (1931-1987), líder do MDB durante a ditadura militar e ministro da Agricultura de José Sarney, nos anos 1980.
Os dados completos das contas estão relacionadas na tabela abaixo (clique na imagem para ampliar):
ADVOGADOS FAMOSOSA Ordem dos Advogados do Brasil considera que seus membros exercem “um papel de serviço público”. A Constituição Federal estabelece uma série de garantias para a classe e os advogados têm prerrogativas pelo fato de desempenharem uma papel essencial ao funcionamento do Estado democrático de Direito.
Guiado por essas diretrizes, o Blog pesquisou e identificou advogados de renome relacionados a contas no HSBC da Suíça. Estão ligados a contas do banco em Genebra sócios e ex-sócios de alguns dos maiores escritórios do país.
José Roberto Opice e Moshe Sendacz, sócios do Machado, Meyer, Sendacz e Opice, aparecem relacionados a depósitos na agência suíça do HSBC.
Opice e seu pai, Roberto Opice (que morreu em 2013) estão vinculados a uma conta aberta em 12.jul.2004, em nome da Paladino Trust, com US$ 2,4 milhões de saldo.
Moshe Sedacz abriu uma conta na mesma agência em 20.jul.2005, em nome da offshore Bosmina International Limited, sediada nas Bahamas, com US$ 1,2 milhão depositado em 2006 e 2007.
Outro ex-advogado da banca Machado, Meyer também está na lista: Pedro Helfenstein Prado Filho. Ele trabalhou no escritório até 2004 e abriu sua conta no HSBC da Suíça em 1º.out.2002, acompanhado de sua mulher, a também advogada Cláudia Farkouh Prado, do escritório norte-americano Baker & McKenzie, ex-sócia do Trench, Rossi e Watanabe. Em 2006 e 2007, quando os dados foram extraídos do HSBC, a conta do casal tinha US$ 1,6 milhão e estava vinculada à offshore Riselbort Inc., sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.
Há 2 advogados do escritório Mattos Filho relacionados a contas no HSBC. Um dos sócios, Otávio Uchôa da Veiga Filho, aparece como beneficiário de uma conta aberta em abril de 1988 e encerrada em maio de 1997. O advogado Kevin Altit, da filial carioca do Mattos Filho, e seu irmão, Paul Altit, presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, estão ligados, assim como outros familiares, a uma conta criada em 13.jul.2005 no HSBC de Genebra. A conta dos Altits está em nome da offshore Nimford Financial Assets Ltd. e tinha US$ 4,9 milhões em 2006 e 2007.
TRIBUTARISTASOs advogados são peça fundamental para clientes que desejam enviar e manter recursos no exterior –em alguns casos, mas não todos, para evitar pagar impostos. O levantamento do UOL e do “Globo” mostra que alguns fazem uso dos mesmos mecanismos para manter sua riqueza fora do país.
Os tributaristas Gilberto Fraga e Roberto Bekierman, sócios do Fraga, Bekierman & Cristiano, do Rio, são listados como correntistas do HSBC de 2000 a 2003. Fraga foi eleito em 2012 um dos 20 melhores tributaristas do país pela publicação International Tax Review.
CRIMINALISTAS
Arnaldo Malheiros Filho, advogado criminalista famoso por atuações no Supremo Tribunal Federal, que já teve entre seus clientes Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e Edmar Cid Ferreira, ex-presidente do Banco Santos, também está no acervo do HSBC. Malheiros Filho aparece ligado a uma conta aberta em maio de 1990 e ainda ativa em 2006 e 2007, com saldo à época de US$ 264 mil. Seu pai, Arnaldo Malheiros, também era beneficiário do montante.
Estão na lista Valter Uzzo, que defendeu presos políticos durante a ditadura e presidiu o Sindicato dos Advogados de São Paulo, com US$ 2,3 milhões em uma conta aberta em 6.abr.1994, e Waldir Troncoso Peres, famoso pela atuação em tribunais do júri, principalmente em casos de crimes passionais, morto em 2009, com uma conta ativa durante 4 meses de 1990.
FIM DO GOVERNO FHCHá ainda um caso curioso, em que a pessoa jurídica de um escritório –o Levy & Salomão– tinha uma conta no HSBC de Genebra, aberta em outubro de 2002 e encerrada em dezembro de 2005. Estavam vinculados a essa conta os 3 sócios da banca, Jorge Eduardo Prada Levy, Eduardo Salomão Neto e Bolívar Barbosa Moura Rocha, e o ex-sócio e professor da USP Calixto Salomão Filho.
Bolívar Moura Rocha atuou no âmbito do Ministério da Fazenda durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), quando foi titular da SAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico), de maio de 1996 a janeiro de 1999.
CONTA FAMILIAR
Raul de Paula Leite Filho, sócio do escritório Freitas Leite, de São Paulo, aparece como beneficiário de uma conta aberta em agosto de 2002, em nome da Londfarm Inc, ainda ativa em 2006 e 2007, com saldo de US$ 110 mil. O pais de Leite Filho eram os titulares da conta –o que desobriga, em princípio, o filho de declarar o depósito em seu Imposto de Renda pessoal.
DOCUMENTOSO UOL e o “Globo” solicitaram a todos os citados nesta reportagem que enviassem ou mostrassem documentos para comprovar a declaração dos valores à Receita Federal e ao Banco Central. Apenas 2 enviaram papéis.
Sérgio Mazzillo, conhecido no Rio de Janeiro por defender em algumas causas o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, está relacionado a 2 contas no HSBC da Suíça, ambas ainda ativas em 2006 e 2007.
Os recursos de Mazzillo estavam em nome das offshores Woodslake Investments Ltd, sedida nas Ilhas Virgens Britânicas, e The Saint Louis Establishment, de Liechtenstein. O saldo de ambas era de US$ 3,7 milhões em 2006 e 2007.
Mazzillo negou ser correntista do HSBC na Suíça, mas reconheceu ter conta em outro banco do país. Ele enviou trechos da declaração à Receita e ao Banco Central omitindo o nome da instituição financeira. Também não permitiu que a reportagem observasse o valor do saldo declarado, para verificar se era compatível com o que está anotado no acervo do SwissLeaks.
José Maurício Machado, sócio do Machado Associados, também aparece com 2 contas no HSBC suíço, ligadas à offshore Lafton Business Inc., das Ilhas Virgens Britânicas, e saldo máximo de US$ 1,1 milhão. Não é possível somar o saldo das 2 contas neste caso. Ele assumiu a titularidade e enviou documentos completos. Comprovou que a offshore e o valor haviam sido declarados à Receita Federal e ao Banco Central.
Sócios de algumas das maiores bancas de advocacia do país aparecem
UOL e “Globo'' checaram mais de 1.500 nomes para apurar reportagem
Desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, um ex-procurador-geral de Justiça do Rio e uma ex-defensora pública-geral de Pernambuco estão relacionados a contas da agência do HSBC em Genebra, na Suíça.
Também aparecem no acervo de dados vazado do banco sócios e ex-sócios de alguns dos maiores escritórios de advocacia do país: Machado, Meyer, Sendacz e Opice; Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga; Levy e Salomão; e Trench, Rossi e Watanabe.
Procurados pela reportagem, todos negam irregularidades ou se recusam a comentar.
O vazamento dos dados, conhecido como SwissLeaks, refere-se a informações dos anos de 2006 e 2007, extraídas da agência do HSBC, em Genebra, em 2008 por um então técnico de informática da instituição, Hervé Falciani. Em 2014, o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) firmou uma parceria com o jornal francês “Le Monde” para investigar o caso. No Brasil, o UOL e o “Globo'' têm exclusividade na apuração.
Para esta reportagem, foram pesquisados os nomes de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Trabalho e Superior Tribunal Militar. O cruzamento incluiu os desembargadores dos 5 Tribunais Regionais Federais e os dos Tribunais de Justiça dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O UOL e o “Globo” também compararam a lista do HSBC com a dos 500 advogados mais admirados do país, segundo um ranking especializado produzido pela editora Análise Editorial, e outras listas de profissionais premiados. Foram ainda checados os nomes de chefes do Ministério Público e da Defensoria Pública. No total, cerca de 1.500 nomes foram pesquisados.
Do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), aparecem 2 desembargadores.
Jayme Queiroz Lopes Filho, da 36ª Câmara de Direito Privado, ex-presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, está ligado a 2 contas. Uma aberta em janeiro de 1997 e fechada em janeiro de 1999. Outra surge em outubro de 1998 e ainda permanecia ativa em 2006 e 2007, com saldo de US$ 131.147.
Também está na lista Paulo Eduardo Razuk, da 1ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP, com uma conta aberta em novembro de 1994 e fechada em março de 2004 –o saldo, nesse caso, está zerado.
Há 1 desembargador aposentado do TJ-SP relacionado ao HSBC de Genebra: Ney de Mello Almada, hoje advogado. A conta vinculada ao seu nome na agência suíça do banco foi aberta em maio de 1992 e permanecia ativa em 2006 e 2007, com saldo de US$ 263.922.
O ex-procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro de 1987 a 1991, Carlos Antonio da Silva Navega, está relacionado a 3 contas no HSBC, todas já fechadas quando os dados foram extraídos do banco, em 2008.
Está também na listagem a ex-defensora pública-geral de Pernambuco Marta Maria de Brito Alves Freire. Ela comandou a instituição de 2010 a 2014. A conta vinculada ao seu nome e ao de seu marido, o advogado Marcos Freire Filho, foi aberta em 29.out.1996 e tinha saldo de US$ 1,016 milhão em 2006/07.
Marcos Freire Filho não tem relação de parentesco com o político pernambucano Marcos Freire (1931-1987), líder do MDB durante a ditadura militar e ministro da Agricultura de José Sarney, nos anos 1980.
Os dados completos das contas estão relacionadas na tabela abaixo (clique na imagem para ampliar):
ADVOGADOS FAMOSOSA Ordem dos Advogados do Brasil considera que seus membros exercem “um papel de serviço público”. A Constituição Federal estabelece uma série de garantias para a classe e os advogados têm prerrogativas pelo fato de desempenharem uma papel essencial ao funcionamento do Estado democrático de Direito.
Guiado por essas diretrizes, o Blog pesquisou e identificou advogados de renome relacionados a contas no HSBC da Suíça. Estão ligados a contas do banco em Genebra sócios e ex-sócios de alguns dos maiores escritórios do país.
José Roberto Opice e Moshe Sendacz, sócios do Machado, Meyer, Sendacz e Opice, aparecem relacionados a depósitos na agência suíça do HSBC.
Opice e seu pai, Roberto Opice (que morreu em 2013) estão vinculados a uma conta aberta em 12.jul.2004, em nome da Paladino Trust, com US$ 2,4 milhões de saldo.
Moshe Sedacz abriu uma conta na mesma agência em 20.jul.2005, em nome da offshore Bosmina International Limited, sediada nas Bahamas, com US$ 1,2 milhão depositado em 2006 e 2007.
Outro ex-advogado da banca Machado, Meyer também está na lista: Pedro Helfenstein Prado Filho. Ele trabalhou no escritório até 2004 e abriu sua conta no HSBC da Suíça em 1º.out.2002, acompanhado de sua mulher, a também advogada Cláudia Farkouh Prado, do escritório norte-americano Baker & McKenzie, ex-sócia do Trench, Rossi e Watanabe. Em 2006 e 2007, quando os dados foram extraídos do HSBC, a conta do casal tinha US$ 1,6 milhão e estava vinculada à offshore Riselbort Inc., sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.
Há 2 advogados do escritório Mattos Filho relacionados a contas no HSBC. Um dos sócios, Otávio Uchôa da Veiga Filho, aparece como beneficiário de uma conta aberta em abril de 1988 e encerrada em maio de 1997. O advogado Kevin Altit, da filial carioca do Mattos Filho, e seu irmão, Paul Altit, presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, estão ligados, assim como outros familiares, a uma conta criada em 13.jul.2005 no HSBC de Genebra. A conta dos Altits está em nome da offshore Nimford Financial Assets Ltd. e tinha US$ 4,9 milhões em 2006 e 2007.
TRIBUTARISTASOs advogados são peça fundamental para clientes que desejam enviar e manter recursos no exterior –em alguns casos, mas não todos, para evitar pagar impostos. O levantamento do UOL e do “Globo” mostra que alguns fazem uso dos mesmos mecanismos para manter sua riqueza fora do país.
Os tributaristas Gilberto Fraga e Roberto Bekierman, sócios do Fraga, Bekierman & Cristiano, do Rio, são listados como correntistas do HSBC de 2000 a 2003. Fraga foi eleito em 2012 um dos 20 melhores tributaristas do país pela publicação International Tax Review.
CRIMINALISTAS
Arnaldo Malheiros Filho, advogado criminalista famoso por atuações no Supremo Tribunal Federal, que já teve entre seus clientes Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e Edmar Cid Ferreira, ex-presidente do Banco Santos, também está no acervo do HSBC. Malheiros Filho aparece ligado a uma conta aberta em maio de 1990 e ainda ativa em 2006 e 2007, com saldo à época de US$ 264 mil. Seu pai, Arnaldo Malheiros, também era beneficiário do montante.
Estão na lista Valter Uzzo, que defendeu presos políticos durante a ditadura e presidiu o Sindicato dos Advogados de São Paulo, com US$ 2,3 milhões em uma conta aberta em 6.abr.1994, e Waldir Troncoso Peres, famoso pela atuação em tribunais do júri, principalmente em casos de crimes passionais, morto em 2009, com uma conta ativa durante 4 meses de 1990.
FIM DO GOVERNO FHCHá ainda um caso curioso, em que a pessoa jurídica de um escritório –o Levy & Salomão– tinha uma conta no HSBC de Genebra, aberta em outubro de 2002 e encerrada em dezembro de 2005. Estavam vinculados a essa conta os 3 sócios da banca, Jorge Eduardo Prada Levy, Eduardo Salomão Neto e Bolívar Barbosa Moura Rocha, e o ex-sócio e professor da USP Calixto Salomão Filho.
Bolívar Moura Rocha atuou no âmbito do Ministério da Fazenda durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), quando foi titular da SAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico), de maio de 1996 a janeiro de 1999.
CONTA FAMILIAR
Raul de Paula Leite Filho, sócio do escritório Freitas Leite, de São Paulo, aparece como beneficiário de uma conta aberta em agosto de 2002, em nome da Londfarm Inc, ainda ativa em 2006 e 2007, com saldo de US$ 110 mil. O pais de Leite Filho eram os titulares da conta –o que desobriga, em princípio, o filho de declarar o depósito em seu Imposto de Renda pessoal.
DOCUMENTOSO UOL e o “Globo” solicitaram a todos os citados nesta reportagem que enviassem ou mostrassem documentos para comprovar a declaração dos valores à Receita Federal e ao Banco Central. Apenas 2 enviaram papéis.
Sérgio Mazzillo, conhecido no Rio de Janeiro por defender em algumas causas o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, está relacionado a 2 contas no HSBC da Suíça, ambas ainda ativas em 2006 e 2007.
Os recursos de Mazzillo estavam em nome das offshores Woodslake Investments Ltd, sedida nas Ilhas Virgens Britânicas, e The Saint Louis Establishment, de Liechtenstein. O saldo de ambas era de US$ 3,7 milhões em 2006 e 2007.
Mazzillo negou ser correntista do HSBC na Suíça, mas reconheceu ter conta em outro banco do país. Ele enviou trechos da declaração à Receita e ao Banco Central omitindo o nome da instituição financeira. Também não permitiu que a reportagem observasse o valor do saldo declarado, para verificar se era compatível com o que está anotado no acervo do SwissLeaks.
José Maurício Machado, sócio do Machado Associados, também aparece com 2 contas no HSBC suíço, ligadas à offshore Lafton Business Inc., das Ilhas Virgens Britânicas, e saldo máximo de US$ 1,1 milhão. Não é possível somar o saldo das 2 contas neste caso. Ele assumiu a titularidade e enviou documentos completos. Comprovou que a offshore e o valor haviam sido declarados à Receita Federal e ao Banco Central.
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