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terça-feira, 17 de julho de 2012

Dispositivos Móveis e saúde - O preço da comodidade

DISPOSITIVOS MÓVEIS E SAÚDE » O preço da comodidade  
`Uis` e `ais` chegam mais cedo na vida das pessoas que vivem conectadas. Passeio na capital revela falta de consciência sobre posturas corretas no uso de tablets, smartphones e notebooks


Publicação: Jornal Estado de Minas 12/07/2012  Caderno Inform@tica Repórter Shirley Pacelli
 

Sabe aquelas reclamações que você escuta do seu pai sobre dores nas costas? Ou da sua avó falando que o tal nervo ciático está atacado? Pois bem, não demora muito para que jovens, como os estudantes Luiza Nunes, de 20 anos, e Luís Henrique Coutinho, de 19, passem a reclamar de problemas semelhantes. O uso constante de dispositivos móveis – com postura inadequada – tem gerado uma série de novas doenças degenerativas. Já ouviu falar de iPad neck (pescoço de iPad) ou de laptoptite? Ambos são males do milênio, surgidos com a popularização desses aparelhos.

Pesquisa feita em 2011 pela Boston University Sargente College, dos Estados Unidos, mostrou que usar o notebook por mais de quatro horas diárias, sem as pausas recomendadas, já traz riscos de lesões. O termo laptoptite foi inventado por Kevin Carneiro, norte-americano especialista em reabilitação. O iPad neck, por sua vez, é o apelido que vigora entre os fisioterapeutas e médicos para denominar a cervicalgia (dor no pescoço).

Há dois anos, os computadores portáteis ultrapassaram os desktops em vendas. De acordo com pesquisa feita pela Cisco, especializada em redes e comunicações, o número de dispositivos móveis deve ultrapassar, ainda este ano, a população mundial.

Lesões da coluna vertebral já são reconhecidas como a nova epidemia deste século. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), há mais de 5,2 milhões de brasileiros com hérnia de disco e as dores nas costas estão em terceiro lugar no ranking de motivos para aposentadoria precoce.

Na companhia do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, o Informátic@ percorreu alguns pontos na Savassi e no Centro de Belo Horizonte, para avaliar a postura das pessoas ao utilizar seus smartphones, tablets e notebooks. Luiza e Luís Henrique não passaram no teste de boa postura, como a maioria das pessoas analisadas. 
 
Consequências do prazer  
Você sabe o que é iPad neck e laptoptite? Ainda que engraçadas, novas definições alertam para o perigo de doenças decorrentes de posturas erradas ao usar dispositivos móveis
De médica a paciente do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, Taís Soares aprende a sustentar o tablet sem lesionar a coluna cervical, na qual sofre fortes dores (Jair Amaral/EM/D.A Press)
De médica a paciente do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, Taís Soares aprende a sustentar o tablet sem lesionar a coluna cervical, na qual sofre fortes dores
 Acordar e sentir dor cervical, todos os dias, durante longos sete meses. A princípio, a médica Taís Soares Vaz, de 35 anos, achou não ser nada grave. “Imaginei que era um mau jeito e troquei o travesseiro.” O que ela não suspeitava, e só depois descobriu, é que o início da dor coincidiu com a compra de um tablet. Ávida por leitura, a médica costumava usar o aparelho para isso antes de dormir. Esse novo hábito, somado a antigos erros, resultou em uma hérnia de disco entre as vértebras C5 e C6, além de uma retificação da coluna cervical. Taís engrossa o coro de pessoas com o chamado iPad neck, nova lesão provocada por tensionar o pescoço para baixo, comprimindo um nervo. “Usava o tablet apoiado nas pernas por muitas horas. O que deflagrou a dor foi isso”, conta.

Outras doenças típicas dos novos tempos surgiram com a popularização dos dispositivos móveis, como a laptoptite (causada por laptops) e a síndrome do polegar de BlackBerry (derivada do mau uso do celular), diz o fisioterapeuta da FortaleSEr (www.fortaleser.com.br), centro de reabilitação e condicionamento físico, Rodrigo Antônio Moura, que trata de Taís e acompanhou a reportagem do Informátic@ em pontos de wi-fi em Belo Horizonte para conferir como, na era da mobilidade, as pessoas se posicionam para usar seus smartphones, tablets e notebooks .

Segundo o profissional, o uso de tablets, smartphones e laptops é fato inegável da modernidade, mas é preciso observar a postura corporal e, muito importante, fazer as pausas recomendadas. Quem usa notes e netbooks, por exemplo, deve fazer paradas a cada 50 minutos. Já tablets e smartphones deveriam ser usados apenas emergencialmente, mas como isso não acontece, o ideal é que se façam pausas a cada 40 minutos. Atenção redobrada para aqueles que não resistem a um joguinho no smartphone. O que não faltam são títulos atrativos..

Para ter uma ideia, até 2016 o país deverá atingir a quarta posição no ranking mundial de comércio de smartphones, segundo a consultoria Internacional Data Corporation (IDC). Pesquisa do Google, chamada Our Mobile Planet (bit.ly/LOyNs7), apontou em maio que 14% da população brasileira tinha smartphones, sendo que 73% desses usuários acessavam a internet todos os dias. E é importante lembrar que desde 2010 a venda de notebooks superou a de desktops no Brasil.

Além do mal causado pelo uso incorreto do tablet, Taís trabalha o dia todo em frente a um PC. “Não tinha postura correta na cadeira, sentava sem encostar no apoio das costas, sobrecarregando a coluna. O monitor também ficava abaixo da minha linha de visão”, explica. Para piorar, a médica ainda utilizava seu iPhone entre uma atividade e outra e passava de 10 a 12 horas trabalhando de salto alto. Hoje, ela está em sua 11ª sessão de fisioterapia, na etapa de fortalecimento e estabelecimento da coluna cervical. Além do tratamento, foi preciso fazer uma reeducação postural para evitar que no futuro as dores voltem.

HOMOS SENTADUS Oldack Borges de Barros, presidente da Sociedade Brasileira de Reeducação Postural Global (SBRPG), explica que essas doenças por esforço repetitivo surgiram nos anos 1990 e o início do novo milênio com o advento dos notebooks. “Éramos o Homo erectus e agora somos o Homo sentadus”, brinca o especialista, sobre a condição atual de sedentarismo da sociedade. Segundo ele, as primeiras doenças a aparecer – relacionadas ao uso de dispositivos móveis – foram a artrite, a artrose e a fibromialgia (dor crônica em vários pontos do corpo). Sobre a dor generalizada pelo corpo, ele alerta também para o estresse como causa.

O presidente conta que, inicialmente, a lesão por esforço repetitivo, ou LER, atinge a faixa etária dos “adultos jovens”, com cerca de 40 anos. Hoje, há jovens que com 20 anos já desenvolvem o mal. “É natural que, por exemplo, uma pessoa com 23 anos que fique o dia todo no PC e passa mais de 30 minutos ininterruptos digitando tenha dores nas articulações. Basta fazer um ano dessa rotina e os sinais virão”, exemplifica.

O alongamento é a principal recomendação de Barros para prevenir essas novas doenças. “Alongar especialmente os músculos flexores do braço”, complementa. Além disso, ele aconselha a não usar o laptop na cama antes de dormir, porque não propicia uma boa postura e o brilho da tela alerta em excesso, causando insônia. Depois de ser acometido pelas lesões, o ideal é a fisioterapia e a reeducação postural global. Para ele, o principal perigo no uso dos dispositivos móveis é a dor musculoesquelética. “Um estudo da Universidade da Califórnia apontou que 80% da população ativa do trabalho será acometido por LER até 2014”, ressalta.


DOR POR REPETIÇÃO
LER é uma doença causada por movimentos repetitivos. Manifesta-se principalmente nas formas de tendinites, cotovelo de tenista, dores no punho, incapacidade de segurar objetos e dor aguda nos dedos, punhos e cotovelos. Medicamentos e
fisioterapia são indicações de tratamento.
 
 
Aí o corpo reclama 
 Observações em pontos da cidade constatam vários erros posturais cometidos por usuários


Enquanto Camila Silveira segura corretamente o smartphone, apoiando os cotovelos na mesa, a amiga Thaís Hagler escorrega pela cadeira para digitar e não passa no teste de postura (Gladstone Rodrigues/EM/D.A Press)
Enquanto Camila Silveira segura corretamente o smartphone, apoiando os cotovelos na mesa, a amiga Thaís Hagler escorrega pela cadeira para digitar e não passa no teste de postura
 Durante os cinco minutos de intervalo do trabalho, o garçom Sidney de Oliveira Padilha, de 34, dá uma rápida “zapeada” no celular. Antes de a reportagem abordá-lo, o garçom sentava-se bastante relaxado na cadeira em um shopping, com uma mão no aparelho e outra apoiando a cabeça. Ao receber as orientações do fisioterapeuta Rodrigo Antônio Moura, Padilha desabafou: “Não consigo manter essa postura ereta”. Este não é um problema só do garçom, como comprovamos ao percorrer lugares com acesso a internet sem fio no Centro e na Savassi.

O fisioterapeuta da FortaleSER (www.fortaleser.com.br), centro de reabilitação e condicionamento físico, acompanhou a reportagem do Informátic@ por estes pontos de Belo Horizonte, para conferir como as pessoas se posicionam ao acessar smartphones, tablets e notebooks. “Não há uma forma 100% correta de utilizá-los, há a menos errada”, explica o profissional. Segundo ele, o surgimento de doenças degenerativas depende de diversos fatores, como o nível de atividade física/sedentarismo, hereditariedade e alterações posturais. “Na verdade, nosso corpo tolera muita coisa. Lá pelos 40, 50 anos ele grita”, sintetiza Rodrigo.

O garçom Padilha, além do esforço contínuo no trabalho desfilando com bandejas pesadas a todo momento, faz um curso de administração a distância, o que o obriga a permanecer algumas horas diante do PC todos os dias. Pelo menos em casa, ele garante que senta “certinho” na cadeira para fazer os trabalhos.

Em um café da Região da Savassi, no Centro-Sul da capital mineira, encontramos os estudantes Luís Henrique Coutinho, de 19 anos, Luiza Nunes, de 20, e Francisco Grynberg, 18. Com seu notebook aberto, Luís acessava a internet. O aparelho, em uma mesa alta, fazia com que ele flexionasse demais os punhos, o que pode provocar tendinite. Fora isso, a coluna não estava apoiada no encosto e os pés para o alto. Tudo incorreto, de acordo com a avaliação do fisioterapeuta. “Uso o laptop bastante na cama ou no sofá, dificilmente na mesa. É uma comodidade difícil de largar”, reconhece Henrique Coutinho.

A amiga, ao lado, contorcia o pescoço para baixo, com coluna envergada, a fim de enxergar o conteúdo do smartphone. “Não dá para elevar o aparelho, porque o sol atrapalha a visualização. No ônibus sempre fico com ele assim”, justifica a jovem. Apesar de sobrecarregar a coluna cervical para usar o celular, Luiza teclava com as duas mãos, que é o ideal, segundo Moura.

RELAXAMENTO É ILUSÃO Em outra mesa, Camila Silveira, de 25, chamou a atenção do fisioterapeuta por utilizar corretamente seu smartphone. Braços apoiados sobre a mesa, celular mais elevado pelas duas mãos, além de uma boa postura na cadeira. “Mesmo quando estou usando o notebook apoiado nas pernas, ponho uma almofada por baixo para elevá-lo ao meu campo de visão”, explicou.

Em sua companhia, a colega Thaís Hagler, de 24, não passou no teste da postura. Sentada bem na ponta da cadeira, como se estivesse esvaindo-se, ela digitava no laptop. Os braços superestendidos se cansam logo. “As pessoas, como ela, têm a ilusão de que devem ficar completamente relaxadas ao sentar e acabam sobrecarregando estruturas de estabilização passiva, como ligamentos, tendões e ossos. O ideal é sentar com a coluna mais ereta”, observa o fisioterapeuta. A jovem, que é designer gráfica, conta que já sente dores no pulso e se alonga para amenizar o problema, prática indicada pela fisioterapia.

Rodrigo Moura lembra que é difícil identificar que a lesão está ligada ao uso de um dispositivo móvel. Quase sempre é multifatorial, um pouquinho de cada coisa. Pelo menos você pode fazer sua parte para evitar lesões da coluna.
 
É de pequenino...


Com seu novo brinquedo, o pequeno Daniel Martins Oliveira, de 5 anos, se diverte na praça de alimentação de um shopping no Centro de Belo Horizonte. O símbolo do Batman é uma das poucas pistas de que a tela e o mouse compõem um notebook “de mentirinha”. Se, como diz a sabedoria popular, é de pequenino que se torce o pepino, o garoto já poderia receber umas dicas para melhorar a postura ao usar o brinquedo. Até na hora da diversão as crianças já estão expostas a réplicas dos dispositivos móveis que não foram criados pensando-se em ergonomia.

Os pais, Vagner e Fernanda Oliveira, contam que Daniel gosta de usar o notebook real para se entreter. “Se deixar, eu fico 10 horas jogando”, solta o menino, sendo logo repreendido. O casal Oliveira justifica que o filho fica cinco minutos em frente à tela e já se distrai com outra coisa. “Nunca parei para pensar na postura para usar o laptop. Se não cuidar, os problemas vão chegando mais cedo: artrite, artrose e outras doenças que são só da terceira idade, não é?”, reflete Vagner depois da orientação do fisioterapeuta.



DORT E LER

Distúrbios osteo-musculares relacionados ao trabalho, ou Dort, juntamente com a lesão por esforço repetitivo (LER), tiveram seu boom na década de 1980, problemas que atingiam mais os bancários. Hoje é difícil determinar, como nexo causal de uma lesão, somente o trabalho. De acordo com especialistas, uma sucessão de erros provocam tais doenças e suas consequentes dores. 


A moda é casual  
Com jogabilidades simples e fáceis de entender, os games para celular ganham um público diversificado, e as mulheres entram para aumentar o número de jogadores
Raphael Ramos usa o Samsung Galaxy S2, para vencer o tédio de filas e trajetos em ônibus (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Raphael Ramos usa o Samsung Galaxy S2, para vencer o tédio de filas e trajetos em ônibus
 A fila do banco está enorme. O ônibus pegou um engarrafamento para casa. O dentista se atrasou outra vez. É hora de dar uma descansada no trabalho. Se tem um objeto que está praticamente onipresente nessas situações de espera é o celular, ou melhor, o smartphone. E na tela deles lá estão os games casuais, com cenários coloridos, personagens carismáticos e estrutura viciante, como um dos maiores passatempos atuais.

O escritor, roteirista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e da Federação de Estabelecimento de Ensino Superior em Novo Hamburgo (Feevale), Christopher Kastensmidt, em seu artigo “Ubiquidade de jogos digitais”, afirma que os games estão presentes no cotidiano mundial, independentemente de cultura, plataforma e lugar. Sobre a  velocidade de evolução da tecnologia móvel, ele acredita que o abismo que separa os jogos hardcore dos casuais diminuirá cada vez mais.

Levantamento feito pela Sophia Mind, empresa especializada em pesquisas voltadas para o universo feminino, 34,2% das usuárias de internet costumam jogar no celular. Os mais procurados são os casual games e os simuladores de estabelecimentos comerciais femininos (salão de beleza, spa, restaurante e academia de ginástica).

 As estudantes Juliana Lima, de 17 anos, e Gabriela Camargos, de 21, usam o iPhone 4 para se divertir com seus personagens favoritos. Juliana é apaixonada pelo jacarezinho de Where is my water?. Gabriela gosta dos desafios e da correria de Temple Run, principalmente pela interatividade com o celular.

“Desde que ganhei o iPhone 4 há seis meses, tenho jogado cada vez mais. Momentos de espera, em aulas chatas ou quando o professor falta são os mais propícios”, comenta Gabriela, também adepta dos games hardcore, terreno tradicionalmente dominado pelo gênero masculino.

TEMPO PARA SE ACOSTUMAR Do lado dos homens, os jogos casuais mudam de cara e ganham aspecto mais adulto. Adepto de games com foco em batalhas, como Samurai vs. zombies defense e Eternity warriors, o programador Raphael Ramos, de 28, usa seu Samsung Galaxy S2 para relaxar em situações que exigem paciência. “Costumo jogar quando estou numa fila ou dentro do ônibus. É um bom entretenimento para essas horas”, conta.

Em casa, os consoles e o PC ganham espaço na diversão de Raphael, que vê nessas plataformas mais opções de golpes, por causa da quantidade maior de botões. Mas ele não acha que a jogabilidade nos celulares deixa a desejar, apenas é necessário tempo para se acostumar com o touchscreen, que acaba virando um joystick. “Muitos jogos de celular poderiam ser transferidos para o console sem problema, porém o contrário é difícil”, diz.

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