Tudo dominado
Ao abrir mais possibilidades de extensões, agência responsável por regular domínios na
internet provoca verdadeira guerra entre gigantes de mercado pela propriedade de novos sufixos
Publicação: Jornal Estado de Minas 26/07/2012 Caderno Inform@tica Repórter Silas Scalioni
A internet está mais ativa do que nunca e pronta a movimentar mais alguns bilhões de dólares. Isso desde que a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann) ou, em português, Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números – organismo internacional que regula a infraestrutura técnica da web –, abriu às empresas a possibilidade de registro de novos domínios. Em cerca de cinco meses, período em que ficaram abertas as inscrições, foram 1.930 pedidos de posse de novos domínios web dos chamados generic top-level domains (gTLDs) ou domínios de nível superior.
Há alguns dias, a entidade divulgou em seu site uma lista de quem está na briga por tais aquisições – briga, por sinal, que envolve gigantes do mercado –, revelando que os pedidos de registros incluem mais de 700 nomes solicitados por mais de uma empresa, como .cloud e .app. A maior disputa está entre as norte-americanas Google e Amazon, que se engalfinham pela posse de cerca de 20 extensões (ou strings), entre elas .map, .music, .movie, .cloud, .app, .mail, .book, .search, .shop, .free e .game. Algumas delas são disputadas ainda por outras grandes concorrentes. A extensão .cloud, por envolver um tema tão ascendente no mundo da tecnologia devido à computação nas nuvens, é reclamada ainda por outras cinco companhias, como a Symantec.
Atualmente, há apenas 22 sufixos aprovados e utilizados no mundo, como os tradicionais .com, .net e .org (no Brasil, são atualmente 69 extensões com a terminação .br). “O que se está abrindo agora não é simplesmente a possibilidade de registro de um domínio, e sim de uma empresa se tornar proprietária de um novo sufixo. Ou seja, quem quiser depois usar esse sufixo em seu site, terá de ter a permissão do dono e pagar um valor pelo seu uso. Por isso há essa briga tão contundente entre gigantes tecnológicos por determinada extensão, como no caso de .app e .cloud”, explica o especialista em inovação e internet Ítalo de Barros Naddeo.
Mercado bilionário
Novas extensões de domínios, com sufixos dos mais variados, entram no ar até 2013,
o que para empresas pode ser um grande negócio. Mas o reinado ainda será do .com
Domínio é um nome
usado para localizar e identificar pessoas ou empresas na internet. Foi
criado para facilitar a memorização dos endereços de computadores na
rede, pois, sem ele, seria preciso guardar e digitar uma grande
sequência de números na hora de acessar um endereço web. O domínio é a
base de uma identificação profissional na internet, podendo-se dizer que
ele é o sobrenome de um site e de e-mails. É composto por um nome e uma
extensão. Por exemplo: em um endereço do tipo nomedealgumacoisa.com.br,
nomedealgumacoisa (podendo ser o de uma empresa, produto, entidade
etc.) é o nome do domínio, enquanto .com.br é a sua extensão.
O que a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), entidade internacional que regula o assunto, fez ao abrir o leque dos sufixos que completam um endereço de internet, saindo dos atuais 22 existentes, foi, ao mesmo tempo, uma grande jogada de mercado e uma forma de resguardar direitos de empresas proprietárias de marcas conhecidas. “Trata-se de um negócio que vai movimentar bilhões de dólares. Só a Icann está embolsando US$ 352 milhões pelos mais de 1,9 mil pedidos de novos domínios que recebeu, uma vez que cada um custa US$ 185 mil (além do pagamento de uma cota anual de US$ 25 mil)”, revela Ítalo de Barros Naddeo, especialista em inovação e internet. E resguarda direitos da empresa ao abrir para ela a possibilidade de criar domínios que envolvem seus produtos e marcas, impedindo assim que outros o façam. “Num primeiro momento, só empresas donas de produtos e marcas conhecidas puderam fazer essa solicitação, mas, vencido o prazo dado pela Icann, qualquer um vai poder pedir registros”, completa.
valorização O mercado é cheio de investidores, gente que vive a pesquisar o que ocorre no mundo para registrar patentes e domínios que possam depois interessar aos mais diversos segmentos. “Ou seja, se um domínio registrado por alguém se valorizar, com certeza essa pessoa o venderá com muito lucro”, diz ele, salientando que, com essa medida do Icann, uma empresa poderia solicitar domínios de várias coisas relacionadas a ela. Trazendo para a realidade brasileira, uma grande indústria alimentícia de embutidos de carne, para se resguardar, poderia fazer registros do tipo .coxa, .peito, .peru, .chester, .salsicha e assim por diante.”
Portanto, segundo Naddeo, abrir esse leque representa mais dinheiro no caixa da Icann e para o investidor a possibilidade de aumentar sua carteira de domínios, uma vez que as empresas não vão conseguir registrar todas as possibilidades existentes. Ele cita, como caso de sucesso, o indiano Bhavin Turakhia, dono da empresa de hosting Directi, que pediu o registro de 31 sufixos (como .web e .música). “Hoje, ele tem uma empresa conhecida e até pôde se inscrever nessa abertura da Icann. Mas é também um investidor e proprietário de um enorme banco de domínios”, informa.
Quanto ao caso de registros solicitados por mais de uma empresa, Ítalo Naddeo explica que a Icann vai fazer uma análise para definir quem tem mais a ver com aquela solicitação. “E se houver um empate nesse quesito, fica com o registro a empresa que fez o pedido primeiro.”
Pesquisas mais refinadas
Se para as empresas e investidores a medida da Icann diz muito, para o usuário final quase nada significará. A opinião é do gestor em tecnologia Marcos Bemquerer, diretor-executivo da Colabore.Info, especializada em serviços web 2.0. Profissional que vive a internet desde os seus primeiros passos, ele acredita que a forma como o Google e outras empresas de buscas vão interpretar a entrada de novos sufixos nos domínios é que poderá melhorar ou deixar inalterada a vida do usuário de internet.
“Afinal, mais da metade dos acessos são feitos hoje via ferramentas de busca. A forma como essas empresas vão incluir isso em seus algoritmos é que vai definir alterações. Poderá haver um refinamento nas pesquisas, filtrando-as por temas, se tais empresas fizerem os acertos de forma correta. Do contrário, nada mudará”, afirma.
Mas para ele, mesmo com a aprovação de centenas de novas extensões, dificilmente as empresas vão fugir do tradicional .com no momento de registrar seus domínios. “Trata-se de uma extensão super conhecida e que transmite segurança. Empresas gigantes estão procurando, sim, o registro de certas palavras porque elas têm marcas e podem explorá-las melhor dessa forma. Agindo assim, estarão também se resguardando da concorrência.”
Facilidade Se não for detectado nenhum impedimento, como endereçamentos iguais, criar e registrar um domínio na internet é fácil e rápido, ao contrário do que ocorre com uma marca ou patente, que pode demorar até anos. Há várias empresas de tecnologia que podem fazer isso para seus clientes. Mas, se quiserem, eles mesmos podem efetuar a solicitação no Registro.br (www.registro.br), órgão responsável pelo controle de domínios no país.
O serviço de registro resume-se em preencher um formulário com a documentação exigida pelo Registro.br, enviá-lo on-line, pagar a taxa e nada mais. O registro vale por um ano e precisa ser renovado sempre via pagamento de uma taxa. “De forma particular ou via terceiros, o custo é de cerca de R$ 30”, diz Luiz Cláudio de Araújo Pires, diretor-presidente da Turbositem (www.turbosite.com.br), empresa mineira credenciada pelo Registro.br e pela Icann. “São apenas cinco empresas brasileiras credenciadas a solicitar registros internacionais diretamente na Icann”, informa o executivo.
A Registro.br repassa aos seus credenciados apenas R$ 2 de cada solicitação feita, valor esse que, segundo Luiz Cláudio, não cobre nem os impostos. “Mas empresas como a nossa são prestadoras de vários serviços de tecnologia. Podemos oferecer outras opções de negócios, como hospedagem de sites, consultoria para criação e montagem do site, criação, montagem e hospedagem de lojas virtuais, serviços de e-mail marketing e todo suporte que alguém, que já tem um domínio, precisa”, ressalta.
O que a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), entidade internacional que regula o assunto, fez ao abrir o leque dos sufixos que completam um endereço de internet, saindo dos atuais 22 existentes, foi, ao mesmo tempo, uma grande jogada de mercado e uma forma de resguardar direitos de empresas proprietárias de marcas conhecidas. “Trata-se de um negócio que vai movimentar bilhões de dólares. Só a Icann está embolsando US$ 352 milhões pelos mais de 1,9 mil pedidos de novos domínios que recebeu, uma vez que cada um custa US$ 185 mil (além do pagamento de uma cota anual de US$ 25 mil)”, revela Ítalo de Barros Naddeo, especialista em inovação e internet. E resguarda direitos da empresa ao abrir para ela a possibilidade de criar domínios que envolvem seus produtos e marcas, impedindo assim que outros o façam. “Num primeiro momento, só empresas donas de produtos e marcas conhecidas puderam fazer essa solicitação, mas, vencido o prazo dado pela Icann, qualquer um vai poder pedir registros”, completa.
valorização O mercado é cheio de investidores, gente que vive a pesquisar o que ocorre no mundo para registrar patentes e domínios que possam depois interessar aos mais diversos segmentos. “Ou seja, se um domínio registrado por alguém se valorizar, com certeza essa pessoa o venderá com muito lucro”, diz ele, salientando que, com essa medida do Icann, uma empresa poderia solicitar domínios de várias coisas relacionadas a ela. Trazendo para a realidade brasileira, uma grande indústria alimentícia de embutidos de carne, para se resguardar, poderia fazer registros do tipo .coxa, .peito, .peru, .chester, .salsicha e assim por diante.”
Portanto, segundo Naddeo, abrir esse leque representa mais dinheiro no caixa da Icann e para o investidor a possibilidade de aumentar sua carteira de domínios, uma vez que as empresas não vão conseguir registrar todas as possibilidades existentes. Ele cita, como caso de sucesso, o indiano Bhavin Turakhia, dono da empresa de hosting Directi, que pediu o registro de 31 sufixos (como .web e .música). “Hoje, ele tem uma empresa conhecida e até pôde se inscrever nessa abertura da Icann. Mas é também um investidor e proprietário de um enorme banco de domínios”, informa.
Quanto ao caso de registros solicitados por mais de uma empresa, Ítalo Naddeo explica que a Icann vai fazer uma análise para definir quem tem mais a ver com aquela solicitação. “E se houver um empate nesse quesito, fica com o registro a empresa que fez o pedido primeiro.”
Pesquisas mais refinadas
Se para as empresas e investidores a medida da Icann diz muito, para o usuário final quase nada significará. A opinião é do gestor em tecnologia Marcos Bemquerer, diretor-executivo da Colabore.Info, especializada em serviços web 2.0. Profissional que vive a internet desde os seus primeiros passos, ele acredita que a forma como o Google e outras empresas de buscas vão interpretar a entrada de novos sufixos nos domínios é que poderá melhorar ou deixar inalterada a vida do usuário de internet.
“Afinal, mais da metade dos acessos são feitos hoje via ferramentas de busca. A forma como essas empresas vão incluir isso em seus algoritmos é que vai definir alterações. Poderá haver um refinamento nas pesquisas, filtrando-as por temas, se tais empresas fizerem os acertos de forma correta. Do contrário, nada mudará”, afirma.
Mas para ele, mesmo com a aprovação de centenas de novas extensões, dificilmente as empresas vão fugir do tradicional .com no momento de registrar seus domínios. “Trata-se de uma extensão super conhecida e que transmite segurança. Empresas gigantes estão procurando, sim, o registro de certas palavras porque elas têm marcas e podem explorá-las melhor dessa forma. Agindo assim, estarão também se resguardando da concorrência.”
Facilidade Se não for detectado nenhum impedimento, como endereçamentos iguais, criar e registrar um domínio na internet é fácil e rápido, ao contrário do que ocorre com uma marca ou patente, que pode demorar até anos. Há várias empresas de tecnologia que podem fazer isso para seus clientes. Mas, se quiserem, eles mesmos podem efetuar a solicitação no Registro.br (www.registro.br), órgão responsável pelo controle de domínios no país.
O serviço de registro resume-se em preencher um formulário com a documentação exigida pelo Registro.br, enviá-lo on-line, pagar a taxa e nada mais. O registro vale por um ano e precisa ser renovado sempre via pagamento de uma taxa. “De forma particular ou via terceiros, o custo é de cerca de R$ 30”, diz Luiz Cláudio de Araújo Pires, diretor-presidente da Turbositem (www.turbosite.com.br), empresa mineira credenciada pelo Registro.br e pela Icann. “São apenas cinco empresas brasileiras credenciadas a solicitar registros internacionais diretamente na Icann”, informa o executivo.
A Registro.br repassa aos seus credenciados apenas R$ 2 de cada solicitação feita, valor esse que, segundo Luiz Cláudio, não cobre nem os impostos. “Mas empresas como a nossa são prestadoras de vários serviços de tecnologia. Podemos oferecer outras opções de negócios, como hospedagem de sites, consultoria para criação e montagem do site, criação, montagem e hospedagem de lojas virtuais, serviços de e-mail marketing e todo suporte que alguém, que já tem um domínio, precisa”, ressalta.
Novos registros de domínio marcam grande mudança na webICANN divulgará hoje novas extensões de domínio em ação que vai mudar a forma como acessamos sites na internet | ||||||
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As mudanças não vão ser restritas à forma de acessar a web, que ganhará, por exemplo, endereços "usuário.youtube" para entrar em uma conta no serviço de vídeos, mas também vai criar uma corrida pode novos domínios. O Google, por exemplo, pediu diversos endereços. Parte deles tem relação com seus produtos - como o .Google, ou o .docs. Outros, no entanto, são vistos como oportunidades futuras para a empresa - como o .lol. Mas não são só empresas que querem os novos endereços. Para algumas pessoas, a corrida por domínios é uma boa oportunidade de ganhar dinheiro. Frank Schilling não é representante de nenhuma empresa, mas pode ganhar muito dinheiro com a mudança, segundo a CNET. Ele já é milionário e criou a sua fortuna comprando domínios que poderiam interessar a companhias um dia, e segurou os endereços até alguém comprar. Ao todo, ele é o dono de mais de 320 mil domínios apenas com esse objetivo - vendê-los para outras empresas. Ele investiu US$ 60 milhões do seu próprio dinheiro para fazer pedido de novos domínios também com esse objetivo - ao todo, ele quer 54 novos endereços. O anúncio da ICANN marcará uma das maiores mudanças da história da web desde o meio dos anos 1990, quando empresas passaram a comprar os domínios .com para divulgar as suas marcas. Agora, a internet será diferente. |
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