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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Google - Personalização do resultado das pesquisas causa polêmica

Mundo restrito 
Personalização de serviços em buscadores e redes sociais é alvo de críticas por reduzir o universo da pesquisa e prender usuário numa bolha de informação


Publicação: Estado de Minas  24/11/2011- Caderno de Informática - Repórter Shirley Pacelli.

 (VALF)
Quando em 1989, Tim Bernes Lee criou a world wide web, o propósito, mesmo que inconscientemente, era conectar indivíduos do mundo todo, proporcionar a circulação de ideias por diferentes lugares. Hoje, a web se tornou a rede de um: você. Se a internet possibilitou o acesso sem filtros a todo e qualquer conteúdo, a recente personalização dos serviços colocou robôs como porteiros de informações. Algoritmos decidem o que você vê ou não e máquinas não têm ética.

Certa vez perguntaram para o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, qual a lógica do feed de notícias da rede social e ele respondeu que “um esquilo morrendo no seu jardim pode ser mais importante para você que uma criança morrendo na África”. Ou seja, aquilo que é mais próximo vai te afetar mais.

Quem conta essa história é o pesquisador Eli Pariser, também presidente da organização política MoveOn. Pariser lançou, em maio desse ano, seu primeiro livro, The Filter Bubble: What The Internet is Hiding From You (O filtro bolha: o que a internet está escondendo de você). A obra trata sobre a perigosa cilada dos serviços sob medida para os gostos pessoais de cada internauta.

É como no filme Click, estrelado por Adam Sandler em 2006. O protagonista Michael Newman compra um controle remoto universal que lhe dá o poder de controlar a sua vida: avançar e voltar no tempo, modificar o som, parar situações.... Com o uso constante, o controle grava as preferências de Newman e age automaticamente. Mesmo que ele queira fazer diferente, o acessório não permite.

É assim que funciona a web. Notícias e resultados de pesquisa são apresentadas de acordo com algoritmos guardados a sete chaves que interpretam o que você busca a partir de seu hábito na rede. Dessa maneira, a pessoa não é exposta a informações que poderiam desafiar ou ampliar sua visão de mundo. “A internet nos mostra aquilo que ela pensa que queremos ver, mas não necessariamente o que precisamos ver”, explicou Eli Pariser em uma palestra no TED, evento de tecnologia, entretenimento e design, realizado em março na Califórnia (EUA).

O pesquisador esclarece que não existe mais um Google padrão. Cada pessoa, buscando as mesmas palavras, pode obter uma página diferente. Segundo ele, para apresentar os resultados, são analisados pelo menos 57 sinais, como por exemplo o navegador utilizado e a localização de quem pesquisa. Além disso, com o botão +1, lançado esse ano pela empresa, os links que seus amigos marcaram e compartilharam na rede social Google Plus ficam visíveis e mais bem posicionados no ranking.

Para Pariser, essa estrutura cria previsões generalizadas e não se separa a compulsão de informação do interesse público. O que é ruim também para a democracia, porque se formam pequenos universos ou bolhas de informação. O usuário estaria em contato sempre com as mesmas notícias que circulam entre seus amigos e nada “estranho” a esse grupo chegaria ao conhecimento de seus integrantes. “O que está no seu filtro bolha depende o que se é e o que faz. A questão é que você não decide o que entra. E, mais importante, na verdade, não se vê o que fica de fora”, ressalta Eli Pariser.

O objeto principal do estudo do pesquisador é o Google, mas ele mira também em outros produtos que trabalham com sistemas de relevância – a Amazon, a Netflix (serviço de aluguel de filme com entrega pelo correio ou via streaming), o Flipboard (aplicativo para iPad que gera uma revista digital das suas redes sociais) e o Yahoo News são exemplos. Segundo o autor, é necessário que outros aspectos (fatos relevantes, desconfortáveis) e outros pontos de vista sejam oferecidos ao internauta, para não haver um controle de informação e não se formar uma massa alienada.No site do The Filter bubble (www.thefilterbubble.com), além das discussões, são postadas diversas experiências para que os usuários comprovem a teoria proposta por Pariser.

Questionados sobre as críticas feitas no livro, tanto o Google quanto o Facebook afirmam agir dentro dos limites da ética e da privacidade. O fato é que, para muitos usuários, a personalização de conteúdos é um terreno completamente desconhecido, como comprovou o Informátic@ em uma enquete feita em locais de acesso digital público na capital mineira.


Inocentes úteis  
Superpersonalização de buscas, confirmada em teste proposto pelo Informátic@, passa despercebida para a maioria dos internautas. E causa polêmica

Patrícia Guerra compara pesquisa com a palavra
Patrícia Guerra compara pesquisa com a palavra "arquitetura" no buscador Google de duas maneiras: logada em sua conta e na de outro usuário. Resultados são diferentes
 “Perso...o quê?” Assim reagiu Patrícia Guerra, de 46 anos, à pergunta do Informátic@. Encontramos a arquiteta, numa tarde de sábado, enquanto, à espera das filhas, se distraía no Facebook em um café da internet. “Personalização de conteúdo na web”, explicamos. “Nunca ouvi falar sobre isso”, confessou Patrícia.

Mas ela não é a única– grande parte dos internautas desconhece que os sites estão investindo, cada vez mais, nesse serviço. Os algoritmos julgam qual conteúdo você busca com base numa série de fatores, como suas recentes preferências de pesquisa. Os resultados são, a partir disso, direcionados.

No teste proposto pelo Informatic@ Patrícia Guerra fez a busca, logada em sua conta do Gmail, pela palavra "arquitetura". Entre os primeiros resultados estavam o site da Wikipedia e o portal de uma revista consultada frequentemente por ela. Pesquisando a mesma palavra, só que logada na conta de outra pessoa, os últimos resultados, ainda da primeira página, sugerem links diferentes.

Mesmo surpresa, Patrícia disse não se incomodar com a descoberta. "Afinal a internet funciona assim e a personalização é mais interessante", argumentou. E na rede de Mark Zuckerberg, não faz diferença estarem sempre os mesmos amigos no seu feed de notícias? Nesse ponto Patrícia repensa: "Vai ficando até cansativo: toda hora as mesmas pessoas. Às vezes eu tenho vontade de tirar, postam demais e me cansam", explica.

O universitário Mackissuel da Silva, 19 anos, que tentava uma conexão na internet enquanto esperava a hora do embarque na Rodoviária de Belo Horizonte, confessou também não saber da tática utilizada pelo buscador. Mas foi categórico em expressar sua opinião sobre publicidade direcionada. "Você fica sem privacidade. Os sites filtram muitos dados, o que causa um certo desconforto. Eles não deveriam especular tanto", ressalta. Para ele, a internet é uma faca de dois gumes: "Com a personalização você perde a oportunidade de ter acesso a outros conteúdos, perde-se o leque de informações mas, ao mesmo tempo, aquilo que é compartilhado por pessoas que você conhece é sempre mais seguro", observa Silva.

Para o professor de inglês Lucas Carvalho, de 26, a internet ainda não é um meio tão seguro de informação e por isso são necessárias as indicações de pessoas do seu universo social. "Se eu gosto de restaurantes especializados em massa e tem 200 mil comentários sobre o estabelecimento X me importa menos do que se um dos meus amigos, que sei que têm gosto semelhante, o aprovou", explica.

MEDO DE ROUBO O técnico em informática Rollian Santos, de 27, percebe grandes barreiras na personalização de buscas. Trabalhando numa empresa de marketing mineira, mas com diversos clientes do Rio de Janeiro, ele reclama dos resultados que sempre apresentam links de Belo Horizonte em suas pesquisas. "Eles leem o meu IP e me apresentam isso. Ele (o Google) nos informa o que quer. As opções apresentadas são as que têm mais negócios com a companhia, como a Wikipédia, sempre a primeira da página", indigna-se Santos.

O técnico reprovou as diversas mudanças pelas quais o buscador passou, porque há pesquisas simples em que não se encontra o que se quer. "Antigamente procurava ‘stream’ ‘Belo Horizonte’ e o site me mostrava direto as câmeras da BHTrans. Hoje tem uma lista enorme de links que não são do meu interesse", exemplifica.

Outra questão observada pelo técnico é o perigo de roubo dessas informações que são coletadas sobre os usuários. O banco de dados do Google, segundo ele, é imenso, mas, como tudo na rede, também vulnerável. Apesar de todo o arsenal de argumentos, o técnico admite a agilidade do sistema de buscas da gigante.

Ao contrário do uso no Google, Rollian vê os algoritmos utilizados para dar um toque pessoal na página do Facebook como essenciais. "Mesmo que você tenha 500 contatos, tem amigos que usam a rede como Twitter, postando o tempo todo. Então, não me importo em não vê-los constantemente", explica.


CAMINHO DAS PEDRAS
É uma sequência finita de instruções bem definidas para realizar uma tarefa. Uma espécie de receita com o passo a passo para realizar uma ação. Na programação, ele detalha as etapas que precisam ser efetuadas para o software resolver um problema ou executar uma atividade específica. Mostra "como fazer" e não "o que fazer".


JUNTO E MISTURADO
Uma corrente que circula no Facebook promete fazer com que suas atualizações cheguem a mais usuários da rede. A técnica vale somente para o antigo feed de notícias. Primeiro clique em mais recentes na sua página inicial e na seta vá em "Editar opções". Depois em "Mostrar publicações de" altere a configuração para "Todos os seus amigos e páginas".


Invasão de privacidade?





"É como se a rede quisesse fazer você trabalhar por ela e não ela para nós", Mackissuel da Silva, 19 anos, universitário
Para o professor Air Rabelo, coordenador do curso de ciência da computação da Fumec, a única vantagem da personalização é que, na vastidão de informações, você não perde tempo selecionando o conteúdo ‘bom’ ou ‘ruim’ para o que procura. Como pontos negativos, ele lista a perda da oportunidade de ver diferentes tipos de informação, por exemplo. "Outro problema é o mapeamento dos usuários. Eles capturam informações e criam um imenso banco de dados. É bom para as empresas, mas não necessariamente para as pessoas que são assediadas com propagandas direcionadas nos ambientes virtuais. Até que ponto isso é uma invasão de privacidade?", observa Rabelo. Segundo ele, a personalização age quase numa forma de censura digital, porque restringe o acesso a web.

Apesar de todo o mistério que ronda o algoritmo utilizado pelo Google para apresentar seus resultados, a companhia deu sinais de mudanças na política de guardar o segredo. O Google publicou na semana passada, pela primeira vez, detalhes sobre seu sistema de ranqueamento nas pesquisas. Um post no seu blog oficial (http://virou.gr/si9WWU) revelou dez das 500 mudanças recentes na fórmula de seu buscador. Entre elas, como ele lida com buscas em idiomas menos comuns, a exemplo de algumas línguas africanas, até a detecção e melhor posicionamento de páginas oficiais. Outra novidade é que o buscador agora também apresenta posts públicos do Facebook em seus resultados.

ANONIMATO Em uma de suas páginas de ajuda (http://migre.me/6cVct), o Google esclarece como é feita a personalização das buscas e permite desabilitá-la. Por meio de assessoria de imprensa, o serviço afirma que leva a privacidade do usuário muito a sério. "Caso o usuário não esteja conectado à sua conta, o buscador não sabe de absolutamente nada sobre ele. Por outro lado, se faz uma busca conectado em sua conta, com sua autorização, a empresa pode oferecer resultados ainda personalizados enquanto preserva sua privacidade. Isso se deve a diversos sinais novos que são adicionados, desde os ‘+1’ marcados por pessoas de seus círculos no G+ até sobre vídeos que você já viu no YouTube, buscas que já fez e local onde está". O usuário pode definir o quanto de sua informação pessoal deseja compartilhar publicamente ou não e as informações são tornadas anônimas, o que garantiria "a privacidade e individualidade".

Já o Facebook diz não oferecer mais detalhes sobre seu algoritmos do que os encontrados nas configurações no próprio site (http://virou.gr/u0qxsc). Segundo informações da rede social, o feed de notícias determina o que é mais interessante com base em quantos amigos estão comentando em uma postagem, quem publicou o conteúdo e de que tipo é (fotos, vídeos ou status). Outras informações, como quais tipos de conteúdo podem ser exibidos no seu feed também podem ser consultadas.

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