Eles estão em toda parte
Número de ameaças na internet cresce mais de 80% em um ano. Redes sociais e smarts são alvos
São Paulo – Os internautas estão cada vez mais vulneráveis na internet, apesar dos investimentos mundiais em segurança digital, que atingiram US$ 3,7 trilhões no ano passado. O universo digital, que encanta com suas inúmeras e crescentes funcionalidades, tem mesmo um lado obscuro, estarrecedor.
A mais recente vítima famosa é a atriz Carolina Dieckman, cujo caso ganhou as manchetes dos jornais nos últimos dias. O número de roubos de senhas, perda de informações, panes em sites ou sistemas eletrônicos cresceu 81% no mundo em 2011 quando comparado ao ano anterior. Para piorar, o Brasil é o país da América Latina com mais ameaças e está em quarto lugar no ranking mundial, segundo a empresa de segurança Symantec.
A companhia apresentou os resultados da 17ª edição de um estudo feito anualmente, no qual analisa esse tipo de atividade em nível global. E ainda há mais surpresas. Mais de 5,5 milhões de ataques foram identificados e bloqueados, e os problemas com invasão de dados diárias aumentaram 36%.
Esse é só o começo. Sabe os spams, que se multiplicam nos e-mails falsos? Eles diminuíram 34%. No entanto, não deixaram de ser uma das armas dos cibercriminosos. O perigo agora está nos links enviados pelas redes sociais. “Esse tipo de plataforma faz as pessoas acreditarem que é mais seguro compartilhar e receber arquivos e suspeitarem menos de conteúdos de amigos. É um mito”, explica André Carraretto, estrategista em segurança da Symantec. Em média, 1,1 milhão de identidades foram roubadas no período analisado pelo estudo.
Mas os abusos vão além dos restritos aos desktops e laptops. A pesquisa calcula um risco significativo para tablets e smartphones, nos quais a vulnerabilidade dos sistemas operacionais aumentou 93%. Nesses casos, os malwares (vírus) foram atualizados e expandidos: há cerca de 4 mil de variantes de ameaças hoje.
Aparentemente não há como escapar da possibilidade de cair em uma armadilha de vírus quando se está conectado. Mas alguns cuidados podem ajudar – e muito – a se livrar das enrascadas virtuais. Carraretto dá algumas dicas: investir em senhas mais complexas e sair do famoso “1,2,3,4”, informar-se sobre a reputação da empresa do portal acessado e, principalmente, instalar um antivírus.
Além das sugestões do especialista, há outras precauções consideradas fundamentais pela pesquisa, como ter mais cuidado para não perder computadores, dispositivos USB ou aparelhos móveis. Essa distração é uma causa frequente da violação de dados. A empresa aponta que 50% dos smartphones perdidos são irrecuperáveis e 96%, incluindo os devolvidos, têm suas informações expostas. A pesquisa detectou 18,5 milhões de casos como esse.
A falta de segurança atinge também as empresas. A pesquisa da Symantec apurou um aumento de 77 para 82 ameaças diariamente. Antes, elas atingiam geralmente o setor público e grandes companhias. Agora, buscam as empresas com menos de 2,5 mil funcionários, que são as mais desprotegidas.
CONSCIENTIZAÇÃO Segundo dados da Bitdefender, 78% dos incidentes de perdas de dados nas empresas devem-se a comportamentos inseguros por parte dos funcionários, como clicar em links presentes em spams. A expectativa para 2012, segundo o diretor da empresa no Brasil, Vicente Lima, é de que os autores de malware investirão na mistura que existe entre vida pessoal e profissional, principalmente nos dispositivos móveis, para roubar dados de perfis e de companhias.
Essas ameaças crescentes podem ter conscientizado os usuários, pelo menos os brasileiros, segundo o estudo Índice de Segurança da Computação da Microsoft. Eles estão mais ativos em tomar medidas de segurança e privacidade na web. Foram entrevistadas pessoas de cinco países para discutir novos hábitos e práticas on-line. O levantamento mostra que o Brasil tem o maior nível de preocupação (40, em uma escala que vai até 100) com a proteção na rede. A média dos outros locais estudados foi de 34 pontos.
Mesmo um pouco mais atentos aos perigos da rede, os internautas que caírem em ciladas precisam correr atrás de seus direitos. É o que diz o advogado especializado em direito eletrônico Renato Leite Monteiro. “Ainda não existe uma legislação que ampare fielmente os atingidos pelo crime na internet, mas os usuários podem ficar tranquilos, pois a atual Constituição será suficiente para fazer justiça nesses casos.” A primeira atitude, segundo Monteiro, é procurar a polícia para que os dados possam ser preservados a tempo e sejam tomadas decisões no âmbito cível, criminal ou penal.
QUANTIDADE
Durante duas semanas a Bitdefender recolheu mais de 2 milhões de amostras de spams de diferentes regiões. O estudo mostra que a cada segundo 2 milhões de spams se espalham pela internet. Por dia, são 264 milhões de mensagens desse tipo, aproximadamente 90% do total de tráfego de correio eletrônico por meio da internet.
Do íntimo para o público
No dia 4 de maio, a atriz Carolina Dieckmann teve 36 fotos íntimas vazadas em um site pornográfico. As imagens estavam no laptop da artista. A Polícia Civil aponta cinco suspeitos envolvidos no crime, um deles menor de idade. De acordo com investigações, o mineiro morador de Córrego Danta Leonan Santos seria o responsável por enviar ao e-mail da atriz um malware (programa malicioso) como se fosse de seu provedor de internet, ironicamente oferecendo mais segurança no acesso a mensagens eletrônicas. Ao clicar em OK, Carolina acabou repassando os dados de seu computador, cerca de 60 arquivos, entre eles as fotos. O mineiro, que nega a autoria do crime, teria passado o conteúdo para quatro pessoas, inclusive o dono do site que publicou as fotos.
Não só os famosos, mas todos estamos expostos e podemos ser o próximo alvo de um hacker. “Hoje, estamos nos adaptando à cultura do armazenamento de documentos e mídia no formato digital. Há uma década, fotos e documentos importantes eram guardados a sete chaves. Em muitos casos, fotos sensuais nem eram registradas por máquinas fotográficas, pois, de qualquer forma, elas teriam de passar por mãos de terceiros para serem reveladas”, ressalta o professor do curso de segurança da informação da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Rodolfo Avelino.
Executar ou clicar em links recebidos por e-mail, como fez a atriz, é meio caminho andado para uma invasão indesejada de seu computador. “Salvo nos casos em que você tenha certeza de que a origem do e-mail e o destino do link são confiáveis”, diz Avelino. Não instalar programas desconhecidos, antes de fazer uma breve pesquisa sobre os mesmos é outra sugestão do professor. Manter o sistema atualizado por meio de correções fornecidas pelo fabricante, principalmente em sistemas Microsoft, é boa idéia para evitar possível invasão de hackers.
COMO SE PROTEGER
Arquivos seguros
Mantenha arquivos pessoais em aplicativos (softwares) que criptografam dados eletrônicos de forma amigável. Um exemplo é o Truecrypt (http://www.truecrypt.org/downloads), que permite que arquivos sejam armazenados em um diretório criptografado do computador e apenas as pessoas que possuem a senha dele tenham acesso ao conteúdo.
Prevenção de problemas
Faça periodicamente uma cópia de segurança dos dados. “Só conseguimos obter um nível de segurança de acesso não autorizado caso os dados estejam criptografados”, alerta o professor Rodolfo Avelino. Escolha uma assistência técnica de confiança, principalmente se o computador contiver elementos sensíveis, como declaração de Imposto de Renda, fotos íntimas, informações bancárias, entre outros.
Proteção em dispositivos móveis
Transfira para o desktop da residência arquivos íntimos armazenados em smartphones, notebooks ou tablets e apague-os dali. Serviços como o bluetooth só podem ser habilitados quando forem utilizados e a conexão à internet deve ser feita apenas em redes conhecidas. Habilite os recursos de senhas – a mais complexa possível – e instale apenas aplicativos confiáveis. Instale programas que possibilitem rastreamento em caso de furto ou perda. “Um exemplo para sistemas Android é o Lost Android (www.lostandroid.com), que permite deletar dados remotamente”, afirma Avelino.
Pen drive e/ou HD externo
Como o pen drive é um periférico fácil de ser perdido, grave somente arquivos comuns e não sensíveis. Se for necessário manter uma informação importante, transfira-a para o desktop o mais rápido possível e logo após apague-a do pen drive. Já para o HD externo, é indicado adotar a mesma postura com um sistema de criptografia, como sugerido na primeira dica.
Cuidado no descarte
Destine corretamente o computador ou dispositivo que não será mais utilizado, pois o conteúdo do HD fica armazenado no disco até mesmo quando apagado por meio do sistema operacional. Se for doá-lo, faça a formatação completa do HD: existem aplicativos gratuitos para sistemas operacionais Windows, como Free Disk Wipe (http://the-undelete.com) e Eraser (http://www.heidi.ie/node/6).
Computador compartilhado ou de terceiros
No ambiente de trabalho, lan houses e outros lugares de uso público de computadores, evite acesso ao internet banking ou fazer compras on-line, pois dados de conta bancária ou números de cartão de crédito serão requisitados. Principalmente em lan houses, não salve senhas e faça o logout ao sair do computador.
Redes sociais
Não poste informações pessoais, como endereço, número de documentos e contatos, no Facebook, Twitter, Foursquare, Google+, entre outras redes sociais. Evite ainda falar sobre sua rotina e aceitar pessoas desconhecidas em seu perfil.
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