Peço permissão ao Humberto e ao editor desse vídeo para usa-lo para homenagear Adriano Benayon, falecido ontem(11/05/2016) e que passou a vida como um Dom Quixote combatendo em causas perdidas...
por amor ao seu país...
por amor ao seu país...
A introdução desse post está aqui.
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Consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo,
Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de
Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda,
Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais
nas áreas econômica tecnológica. Depois, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas
Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de
Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo.
Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de
Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda,
Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais
nas áreas econômica tecnológica. Depois, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas
Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de
Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo.
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BRASIL PERDE A LUCIDEZ DE ADRIANO BENAYON
"Hoje(11/05/2016) o Brasil dá adeus a um dos maiores intelectuais
nacionalistas que durante sua passagem terrena, tentou tornar o Brasil um país
melhor para as futuras gerações! Escritor, jurista e diplomata de carreira o
professor Adriano Benayon era uma das poucas vozes isoladas que defendeu com
unhas e dentes um Brasil independente, livre das amarras coloniais nas quais
insistimos em padecer, levantou a voz para alertar a todos nós a maneira insana
com que a nossa economia está sendo entregue e usurpada, trocada por migalhas,
artigos afiadíssimos e carregados de informações coerentes expondo sempre de
maneira clara os malefícios da Lei Kandir e as consequências nefastas às quais
o professor Enéas Carneiro, seu eterno correligionário no PRONA, costumava se
referir à economia nacional como Economia de Cemitério, baseada em entregar
integralmente nossa produção primária produzida de forma desordenada e
antiecológica para gerar empregos em outros países, reféns de uma dívida
absurda e inexplicada e que os governos tentam postergar ao invés de resolver,
daqui uns 20 anos olharemos pra trás com pesar de termos tido uma cabeça
pensante que nos alertou de todas as maneiras e que nós por estarmos muito
atrás de seu tempo não conseguimos escutar. Quem tiver oportunidade de ler os
livros e artigos de sua autoria, peço que o façam, precisamos nos informar para
poder protestar e levar adiante as ideias progressistas deste que arrisco dizer
foi o maior patriota que este país já teve, que suas palavras sejam a faísca da
mudança para que nosso país tão rico proporcione ao seu povo um sistema justo e
igualitário em oportunidades. Vá em paz professor, seremos eternos órfãos de
sua coerência e nacionalismo”, Átila Pereira.
Adiano Benayon era doutor em economia pela Universidade de
Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty.
Diplomata de carreira, consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília
(Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e
Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª
ed. Editora Escrituras, São Paulo.
Por
meio dos seus estudos, Benayon denunciou as injustiças e desigualdades que o
sistema financeiro reproduz e a necessidade de um debate mais amplo a respeito
da arquitetura financeira mundial. “Em todos os governos, no cômputo geral, tem
prevalecido os interesses dos que saqueiam a economia do Brasil sobre os dos
residentes”, afirmou no artigo O Golpe permanente.
“Não é nada fácil abrir mão da companhia de um grande amigo
como o Benayon, e precioso apoiador da Auditoria Cidadã da Dívida. Seguimos
adiante, inspirados por seu exemplo de amor ao Brasil e indignação pelos erros
que têm tornado o nosso rico país um dos mais injustos do mundo. Grata por
tudo, querido Adriano Benayon, você estará sempre presente entre nós”, declarou
a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli
A denúncia da inclusão do artigo na constituição sobre a
divida, sem ser votado foi alertado pelo professor em seu artigo,
"Anatomia de uma fraude à Constituição".
O legado do professor Benayon, seguirá inspirando e
norteando diversas gerações na luta por um mundo menos desigual e mais humano.
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Hoje, a LNT em nome de todos os trabalhadores brasileiros
que amam esse país, presta uma homenagem EM MEMÓRIA ao digníssimo Doutor
Adriano Benayon, que tratou de defender o Brasil em todas as esferas que
estavam ao seu alcance, na esfera internacional enquanto diplomata por 30 anos,
na esfera econômica com seus exemplares artigos publicados quinzenalmente, na
esfera judicial quando entrou com uma ação para recuperar a legenda do PRONA
(último partido nacionalista vigente).
Adriano Benayon foi um dos três mosqueteiros do PRONA, o
último presente na luta contra o neoliberalismo, o último presente em defesa
das riquezas minerais do Brasil, o último que falava abertamente sobre a
necessidade da auditoria da dívida pública nacional, resumindo, um dos últimos que
defendia o nosso imenso território das garras e cobiças internacionais, sem nos
alongarmos muito, um economista que não falava o economês.
Com o falecimento desse excelentíssimo patriota, temos o
dever de divulgarmos suas ideias patriotas, temos o dever de mantermos sempre
presente o seu legado, temos o dever de defender o que é nosso e de nossos
filhos. Não deixaremos o sistema corroer tudo que nos foi ensinado.
Que noite triste! Meu coração fica em frangalhos com a morte
de Adriano Benayon. É o último homem a desvendar o cenário político deste país
tal como ele é. Denunciou as falsas premissas e nos alertou do perigo da
globalização. E se não fosse o aviso de seus familiares pelo facebook, e se
fosse pra depender dessa imprensa nojenta, não somente a sua morte passaria
despercebida, mas também toda a existência de um homem nobre e virtuoso;
alérgico a demagogia generalizada e dono de argumentos colossais. Não é somente
a tristeza que abate a nós, compromissados com a verdade, mas também um vazio,
uma solidão. Também acrescento um sentimento de incapacidade. É o melancólico
saber de que já não teremos os alertas de que éramos dependentes para saber da
realidade. É a angústia de restarem os piores dos piores, como Reinaldo
Azevedo, Socialista Morena, olavo de Carvalho e outros tumores, outras
aberrações jornalísticas parasitárias, afeiçoadas ao oportunismo e aos
holofotes. A morte sempre leva os bons, cujo único interesse é a realidade. E a
esse interesse somo o meu, pois tenho uma obsessão em comum, uma paixão em
comum, que é a verdade. E a partir de hoje essa perseguição a verdade se torna
mais dificultosa.
Faleceu agora. à noite nosso companheiro de luta contra a
entrega do nosso país Adriano Benayon, faço minhas as palavras abaixo;
Atila Pereira
"Hoje o Brasil dá adeus a um dos maiores intelectuais
nacionalistas que durante sua passagem terrena tentou tornar o Brasil um país
melhor para as futuras geraçoes ! Escritor, jurista e diplomata de carreira o
professor Adriano Benayon era uma das poucas vozes isoladas que defendeu com
unhas e dentes um Brasil independente, livre das amarras coloniais nas quais
insistimos em padecer, levantou a voz para alertar a todos nós a maneira insana
com que a nossa economia está sendo entregue e usurpada, trocada por migalhas,
artigos afiadíssimos e carregados de informações coerentes expondo sempre de
maneira clara os malefícios da Lei Kandir e as consequencias nefastas às quais
o professor Enéas Carneiro, seu eterno correligionário no PRONA, costumava se
referir à economia nacional como Economia de Cemitério, baseada em entregar
integralmente nossa produção primária produzida de forma desordenada e antiecológica
para gerar empregos em outros países, reféns de uma dívida absurda e
inexplicada e que os governos tentam postergar ao invés de resolver, daqui uns
20 anos olharemos pra trás com pesar de termos tido uma cabeça pensante que nos
alertou de todas as maneiras e que nós por estarmos muito atrás de seu tempo
não conseguimos escutar. Quem tiver oportunidade de ler os livros e artigos de
sua autoria, peço que o façam, precisamos nos informar para poder protestar e
levar adiante as ideias progressistas deste que arrisco dizer foi o maior
patriota que este país já teve, que suas palavras sejam a faísca da mudança
para que nosso país tão rico proporcione ao seu povo um sistema justo e
igualitário em oportunidades.
Vá em paz professor, seremos eternos órfãos de sua coerência
e nacionalismo."
Destruição econômica e social
Adriano Benayon * - 15.05.2015
Foi muito divulgada esta asserção do professor Wanderley
Guilherme dos Santos: "Depois de criado, o Estado liberal transforma-se no
estado em que a hegemonia burguesa não é seriamente desafiada. Trata-se de um
estado cuja intervenção em assuntos sociais e econômicos tem por fim garantir a
operação do mercado como o mais importante mecanismo de extração e alocação de
valores e bens."
2. Esse cientista político destaca a óbvia natureza
intervencionista (não-admitida) do Estado dito liberal, sem, porém, propor uma
denominação que saia dessa contradição em termos.
3. De resto, os muitos que repetem o termo (neo)liberal,
mesmo sabendo-o falso, colaboram com a enganosa comunicação social do
capitalismo.
4. O mesmo cientista afirma: “O Estado liberal não é de modo
algum um Estado não intervencionista. Muito pelo contrário, o Estado liberal
está sempre intervindo, a fim de afastar qualquer obstáculo ao funcionamento
'natural' e 'automático' do mercado."
5. Aí está um engano sério. O mercado, nas mãos dos
oligopólios e carteis, não funciona natural nem automaticamente: ele é
controlado e manipulado por eles, e lhes serve de álibi, ao usarem o termo
impessoal “mercado” em relação a ações praticadas por pessoas físicas, a
serviço de grupos concentradores de poder econômico e financeiro.
6. Isso é exatamente o contrário do funcionamento 'natural'
e 'automático' do mercado e também do que teorizaram os clássicos da economia
sobre mercados livres, com participantes igualmente submetidos à
concorrência. Na realidade, a
intervenção do Estado capitalista:
1) afasta a aplicação dos mecanismos de defesa econômica do
Estado, coibidora dos abusos praticados pelos concentradores;
2) promove o aumento da concentração do poder da oligarquia
financeira, através de subsídios governamentais e das políticas fiscal e
monetária, entre outras.
7. Portanto, capitalismo é o sistema político e econômico
que não admite restrições à concentração dos meios de produção e financeiros,
ademais de a fomentar, nas mãos da oligarquia, por menor que seja o número das
pessoas que a compõem.
8. Nos países centrais ou imperiais, o Estado liderou o
desenvolvimento econômico e nunca abandonou o fomento ao setor privado. À
medida que este ganhou corpo, o Estado passou a apresentar-se como liberal, a
fazer concessões no campo social e a adotar, na política, formas exteriormente
democráticas.
9. Nos períodos de
crescimento e bem mais nos de crises, a
concentração foi crescendo, e regrediram
os avanços, surgindo o fascismo (antes da 2ª Guerra Mundial). E o fascismo
não-declarado, como nos EUA, desde antes do inside job de setembro de 2001
(destruição das Torres Gêmeas e míssil lançado no Pentágono).
10. A concentração do poder financeiro mundial alcançou o incrível grau presente (147 corporações
transnacionais, vinculadas a apenas 50 grupos financeiros, detendo mais de 40%
da riqueza mundial).
11. Isso se foi intensificando por mais de 100 anos após se
terem os concentradores tornado bastante
fortes, para que o Estado capitalista os protegesse adicionalmente. Os
setores mais aquinhoados foram o das armas e a finança.
12. O grande impulso recente deu-se através da financeirização da economia,
abusando os bancos dos privilégios de criar moeda e títulos de toda sorte. Seus
acionistas e executivos locupletaram-se assim, beneficiados pela
desregulamentação dos mercados financeiros, a qual lhes proporcionou abusar da
alavancagem e de fraudes diversas.
13. Ilustrativa da subordinação do Estado capitalista,
falsamente dito liberal, à oligarquia financeira foi a resposta ao colapso
financeiro de 2007/2008, provendo mais de 20 trilhões de dólares em ajuda aos
banqueiros delinquentes, ao invés de realizar as correções estruturais
necessárias ao bem da economia e da justiça.
14. De há muito, as
intervenções imperiais - militares ou
não - recrudescem em todos os continentes, gerando sistemas políticos
pró-imperiais e Estados vassalos, como se tornou o Brasil, à raiz do golpe de
Estado de agosto de 1954, passando a partir das Instruções 113 da SUMOC e
seguintes (janeiro de 1955) a subsidiar os investimentos estrangeiros diretos,
de modo absurdo.
15. Não há como falar em capitalismo periférico. Há somente
indivíduos riquíssimos originários das periferias, como muitos outros dos
países centrais, subordinados à oligarquia capitalista mundial.
16. À medida que essa oligarquia se foi apropriando, no
Brasil, da estrutura econômica, foi também promovendo sucessivas intervenções e
manobras, no campo das instituições políticas, que propiciaram intensificar
ainda mais essa apropriação.
17. Temos agora mais uma crise. Nesta, a baixa resiliência –
devida à desindustrialização e à desnacionalização – combina-se com o déficit
das transações correntes exteriores, mais os
déficits das contas públicas nos três níveis da Federação, resultando em
grande salto qualitativo para nova degradação econômica e social.
18. Consideremos as taxas básicas dos juros dos títulos
públicos, uma das mega-fontes de agravamento do caos decorrente do
“ajuste” em curso.
19. Nos últimos cinco meses, a taxa SELIC foi elevada várias
vezes. Era 11,25%, em novembro de 2014, e chegou a 13,25%, em 30.04.2015, o que
significa taxa efetiva em torno de 16,25% aa.
20. Em artigo anterior, comparei a aplicação das taxas de
12% aa. e de 18% aa., durante 30 anos, sobre o atual montante da dívida
mobiliária interna, de cerca de R$ 3 trilhões:
a primeira resultaria em R$ 90 trilhões, e a segunda em incríveis R$ 430
trilhões, quantia igual ao dobro da soma dos PIBs de todos os países do mundo.
21. A taxa atual alçaria o estoque da dívida para R$ 274,73
trilhões de reais.
22. Tal como as letais taxas de juros, as demais políticas do “ajuste” só podem ter por objetivo
concluir a desestruturação (destruição) econômica e social do País.
23. Em função dos estratosféricos juros da dívida e também
da intenção restritiva do “ajuste”, os investimentos públicos sofrem enormes
cortes. Do mesmo modo, a demolição de direitos sociais, incluindo generalizar a
terceirização, significa extrair sangue de organismos anêmicos.
24. É inútil esperar resultados positivos de tais medidas,
porque, na atual estrutura, dominada pelos carteis transnacionais, e dada a
infra-estrutura existente, nenhum “ajuste” levará a diminuir significativamente
o “custo Brasil”, qualquer que seja a taxa de câmbio.
25. Até mesmo as subsidiárias das transnacionais, que
poderiam apresentar custos competitivos, inclusive por não precisarem do
crédito local, absurdamente caro, preferem, em vez disso, auferir lucros
fabulosos no País, reforçados pelos incríveis subsídios que lhes dão a União,
Estados e municípios.
26. Elas remetem esses lucros ao exterior, disfarçados em
despesas por serviços, superfaturamento de importações (dos equipamentos,
máquinas e insumos) e subfaturamento de
exportações. Assim, seus custos são forçosamente altos.
27. Já as empresas de capital nacional vêm sendo alijadas do
mercado, desde 1954. Além de não
contarem com as vantagens dos incentivos e subsídios, que só as transnacionais
estão em condições de aproveitar, elas foram desfavorecidas pelas políticas
públicas e deixadas à mercê das práticas monopolistas dos carteis
multinacionais.
28. A política de crédito as afeta de modo especialmente
agudo, pois os juros que despendem - são
múltiplos da taxa dos títulos públicos. Já as transnacionais, além de não
necessitarem de crédito, bastando-lhes reinvestir pequena parcela dos lucros,
têm acesso a crédito barato no exterior.
29. A partir dos anos 90 e após a devastação produzida pela
dívida externa, passou-se às indecentes privatizações, já que a classe
dominante eram os controladores das transnacionais, cujos governos impõem suas vontades, diretamente e
através de agentes, cooptados e corrompidos.
30. Sob o modelo dependente, o País carece de poder armado e
financeiro para fazer valer seus interesses na esfera mundial, e sua inserção
externa é a pior possível, pois os
segmentos de maior valor agregado e maior emprego de tecnologia são controlados
pelos carteis mundiais.
31. A própria infra-estrutura, como a dos transportes,
inclusive em sua orientação geográfica,
foi desenhada para servir o interesse das corporações estrangeiras, tal
como a escolha dos investimentos, priorizando a extração de minérios em escalas
imensas, com pouco ou nenhum processamento no País.
32. Também na agricultura, privilegia-se a grande escala,
segundo as regras dos carteis mundiais do agronegócio e suas tradings,
abusando-se dos agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes químicos, para grande
dano dos solos e da saúde pública.
33. Entre os grandes escárnios ilustrativos da submissão do
Brasil à condição de periferia imperial é a Lei Kandir, que isenta de tributos
as exportações primárias. A Inglaterra
entendeu, já no Século XIII, que era vital sair dessa condição, quando a lã de
seus carneiros ia para as indústrias de Flandres e da Itália.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Crescimento do subdesenvolvimento
Adriano Benayon * - 15.06.2015
A economia brasileira está seriamente doente. A crise põe-se
à mostra: negócios fechando, desemprego crescente, violência e insegurança
recrudescendo.
2. A atual é uma das muitas provenientes da enfermidade
estrutural e crônica que assola o País,
há mais de 60 anos. Sem ordem
constitucional de verdade não há como sair do atoleiro, pois os beneficiários
da corrupção sistêmica a institucionalizaram e criaram mecanismos, em todas as
esferas do poder, para aprofundá-la.
3. Os desequilíbrios agravam-se, porque o poder, sob todos
os regimes e governos que se têm sucedido, é controlado pelos que acumulam
poder através do dinheiro e faturam com os desequilíbrios.
4. Aristóteles ensinou que o hábito forma uma segunda
natureza. Então, há muito tempo, através da psicologia aplicada - e utilizando formadores de opinião e o crédito de
instituições supostamente científicas -
o sistema de poder acostuma as pessoas a
ignorar as causas da doença política e social.
5. A economia brasileira perde qualidade através da
concentração, da desnacionalização, da desindustrialização e do consequente
empobrecimento tecnológico.
6. Afora a indústria, prejudicada desde meados dos anos 50,
as infraestruturas foram deterioradas e
privatizadas, principalmente a partir dos anos 90. A regulação dos
serviços favorece a manipulação dos preços de suas tarifas e a falta de
qualidade, sob o beneplácito das agências, ao bel prazer dos carteis que os
controlam.
7. Nessas fabulosas negociatas - que a grande mídia
nunca denunciou - foram entregues a carteis estrangeiros as
infraestruturas construídas e pagas pelo Estado. Além disso, privatizaram-se e
desnacionalizaram-se bancos, cada vez mais favorecidos pela legislação e pelo
BACEN.
8. A entrega dos monopólios das infraestrutura e as normas
pró-carteis da precificação de suas tarifas tornaram-se causa maior da alta da
inflação.
9. Daí também, e em combinação com a produção industrial
dominada por carteis transnacionais, advém a perda de competitividade da
economia e os déficits nas transações correntes, formadores da dívida externa.
10. Na lógica perversa do sistema, em vez de se construir
uma infraestrutura eficiente e independente, finge-se combater a inflação
através da elevação das taxas de juros.
11. Ora, aumentar os juros significa:
1) fazer crescer as insuportáveis despesas financeiras do
Tesouro, incapacitando-o de realizar os prementes investimentos de
infraestrutura, baixar o “custo Brasil” e melhorar o grau de competitividade;
2) elevar a taxa de inflação, uma vez que os juros são um
dos custos de produção, além de dissuadir investimentos produtivos e assim
reduzir a oferta de bens e serviços, determinante da alta dos preços;
3) tornar ainda mais concentrada a renda e o poder nas mãos
dos oligarcas financeiros: daí ser essa política promovida pelas “autoridades
monetárias” e endossada pelos beneficiários das doações de grandes empresas e
bancos às campanhas eleitorais.
12. Mais efeitos
estruturais negativos são gerados a pretexto de
conter os preços através das importações, deixando de desvalorizar a
taxa de câmbio em correspondência com a alta dos preços internos: agrava-se a
falta de competitividade da indústria local e aumenta a desindustrialização.
13. As empresas estatais foram entregues a preços muito
abaixo de seu valor patrimonial, envolvendo a subavaliação dos lances iniciais,
o pagamento em “moedas podres” (títulos de dívida desvalorizados) e a
participação de fundos de pensão de estatais. Ainda por cima, a União despendeu
centenas de bilhões de reais para sanear passivos trabalhistas e financeiros
das empresas privatizadas.
14. Assim, o Brasil tornou-se a casa da sogra dos carteis.
Nas telecomunicações, até as tarifas promocionais são múltiplos enormes das
normais do exterior. O serviço é de baixa qualidade, e áreas imensas ficam sem
sinal.
15. Mudanças na Lei Geral das Telecomunicações (nº
9.472/97) permitiram a operação de
telefonia e celular por um único conglomerado, e incentivos à concentração
favoreceram as mega-empresas, apoiadas por
ANATEL e CADE.
16. No sistema elétrico, danos semelhantes ao País: a
infraestrutura deteriorou-se, e, desde a privatização, as tarifas elevaram-se
em cerca de 150%, acima da alta média dos preços.
17. A Petrobrás, foi privada, desde sua fundação, do monopólio da distribuição, o segmento
privilegiado da indústria do petróleo, feudo para obter grandes lucros e
que nada produz. A estatal já tivera
desgastes, mesmo antes dos pesados golpes decorrentes da Lei 9.497 de 1997,
entre os quais sua desnacionalização parcial e a perda dos monopólios da
prospecção e exploração.
18. Desde 1955, a preponderância dos combustíveis fósseis,
não-renováveis, esteve associada à deletéria expansão subsidiada da indústria
automotiva, nas mãos dos carteis transnacionais, com a míngua de investimentos
nas ferrovias e demais meios eficientes e econômicos, como a navegação fluvial
e a marítima.
19. A mesma linha pró-subdesenvolvimento – característica da
política inaugurada em agosto de 1954 -
faz que, nas hidrelétricas, a geração de energia seja grandemente
diminuída, e os custos elevados.
20. As mesmas normas e intervenções falsamente ambientais e
pró-indígenas, impedem ou reduzem as eclusas, para grande dano do
aproveitamento de rios e canais que
tornariam baratíssimo o transporte interior no Brasil.
21. A política pró-subdesenvolvimento fez, nos anos 90,
entrar em cena os negócios corruptos do gás da Bolívia, em favor das
angloamericanas Shell, BP e Enron, tendo o Brasil pagado pelos gasodutos e
investido em termelétricas antieconômicas, sem falar nas alimentadas por óleo
combustível.
22. Ao mesmo tempo, impede-se que a energia de biomassa
assuma o lugar principal que deve ter:
1) desvirtuando o Programa do Álcool, criado sob a liderança
de Severo Gomes e Bautista Vidal, a partir de 1975; o etanol chegou a suprir
integralmente a demanda de veículos novos produzidos no País, antes do final
dos anos 80, mas concentrou-se em usinas e plantations gigantescas, que
implicam transportar a cana a grandes distâncias e depois o álcool, de volta: a
produção descentralizada, e combinada com alimentos, trazia vantagens econômicas,
sociais e ecológicas; mas, nos últimos decênios o setor sucroalcooleiro passou
a integrar o agronegócio e tem sido
desnacionalizado;
2) marginalizando a produção de óleos vegetais, com a
escolha de matérias primas e tecnologias
erradas, como o biodiesel, além de adotar a lógica concentradora, antieconômica
e antissocial, dificultando o acesso ao mercado de cooperativas e pequenos
produtores;
3) coerentemente com a opção pela dependência tecnológica,
não dando espaço à alcoolquímica e nem à oleoquímica;
4) entre as fontes renováveis de energia, preferindo e
subsidiando as de tecnologia proprietária de empresas estrangeiras, como a
eólica e a solar.
23. Juntamente com a desorganização econômica, política e
social, fortalece-se a ordem colonial sobre o País, enquanto este perde a
identidade nacional.
24. O caminho para isso tem sido as respostas subalternas
dos governos às crises recorrentes derivadas do modelo dependente. Ao contrário
do que alegam, as autoridades monetárias não têm como sanear as finanças,
levando à estratosfera a dívida do Tesouro.
25. Com a composição e capitalização da elevadíssima taxa
SELIC, o crescimento dessa dívida compromete, em definitivo, a independência do País.
26. No círculo vicioso, a produção e o emprego caem, e os recursos
que os viabilizariam, são carreados para o pagamento de impostos, a fim de
sustentar rendas exclusivamente financeiras, enquanto definham as suscetíveis
de gerar produção.
27. A presente crise é pretexto para cortes profundos,
também na área militar, vital para que se recupere algum grau de autonomia. Ela
perdera substância, quando da crise da dívida externa do início dos anos 80.
28. Dita crise resultara da estrutura industrial
desnacionalizada e concentrada que fizera acumular déficits externos incompatíveis
com a capacidade de pagamento do País.
29. Hoje revivemos a
daquela época, quando foram desativadas importantes indústrias de defesa, devido à falta de encomendas das
Forças Armadas. A partir dos anos 80,
não cessaram de ocorrer perdas e desnacionalizações de empresas brasileiras.
30. Nos anos mais recentes,
após um esforço de ressurgimento, promove-se, de novo, desmonte nas
pastas militares, tendo o governo cortado R$ 500 milhões no projeto (KC-390) da
EMBRAER, com mais de 1.000 engenheiros e
10.000 técnicos envolvidos. Podam-se também os projetos da HELIBRAS e os dos
submarinos.
31. Em suma, o País
fica sem indústria e sem tecnologia, e à mercê das potências
imperiais. O Reino Unido, à frente
delas, obteve a demarcação de áreas
imensas em Roraima e em outras regiões
amazônicas, a pretexto de criar reservas indígenas e ecológicas. Pouco falta
para essas áreas serem alijadas do território nacional.
32. Todos deveriam saber que o Reino Unido ocupa as Ilhas
Malvinas da Argentina há mais de duzentos anos e recusa-se a reconhecer a
soberania platina sobre essa área rica em petróleo.
34. A realidade do Brasil é a de um país
dominado pelas corporações
estrangeiras e desestruturado,
que sofre assalto antigo, agora em fase aguda, desferido também sobre Petrobrás
e à engenharia nacional, cujos
conglomerados têm importante atuação nos segmentos tecnológicos da defesa.
35. Por que o inimigo ataca, confiante? Por que nem a Petrobrás é mais
unanimidade. Porque a coesão nacional
foi dilacerada. Porque o País está sem liderança política alguma, digna de
crédito, e sem que qualquer dos poderes do Estado o defenda.
* - Adriano
Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
O poder mundial e nós
Adriano Benayon * - 25.09.2015
Defino o capitalismo como um sistema econômico e político no
qual capitais privados vão sendo cada vez mais concentrados nas mãos de poucos
oligarcas dominantes. Isso lhes permite
conquistar não só as grandes empresas financeiras e produtivas, mas também o
Estado.
2. Isso acontece sob regimes abertamente fascistas e também
sob regimes aparentemente democráticos, em que o dinheiro e a mídia, a serviço
dos oligarcas, controlam o sistema político e o resultado das eleições.
3. O capitalismo nos países centrais, mercê notadamente de
guerras que envolveram os aspirantes à hegemonia, tornou-se, ao longo dos
últimos 350 anos, um sistema de poder mundial, sob a hegemonia do capitalismo
britânico, que depois consolidou sua associação com o norte-americano, formando
o império angloamericano.
4. Atualmente, restam duas potências não subordinadas ao
império, China e Rússia, capazes de propiciar equilíbrio na balança do poder
mundial. Sem esse equilíbrio, não há como país algum, no mundo, desenvolver-se.
5. Veja-se a anomia prevalente no cenário mundial, do início
dos anos 1990 até há pouco, período em que o império angloamericano
cometeu colossais genocídios: na Iugoslávia, seguindo-se Iraque, Afeganistão, novamente
Iraque, Líbia, para citar só alguns. Agora, em pauta, a Síria.
6. O auge da tirania imperial corresponde no Brasil aos
governos Collor e FHC. Na Argentina, ao de Menem, e mais exemplos vergonhosos
mundo afora.
7. O enfraquecimento e dissolução da União Soviética haviam
deixado o planeta à mercê do império, secundado por seus satélites.
8. Mas a China vem ganhando
poder em todos os campos, e a Rússia reafirma-se como potência nuclear e
balística de grande porte.
9. Isso lhes dá autonomia nas decisões políticas e
econômicas, e limita um pouco a tirania exercida pelo império angloamericano em
âmbito global.
10. Se se tivessem mantido abertos à influência do império, não teriam alcançado o status de potências
mundiais. Para tanto, precisaram de regime centralizado e fechado.
11. As histórias da Coreia do Sul e de Taiwan ilustram a
mesma constatação: para se desenvolverem, tiveram governos militares nacionalistas, devido a circunstâncias
especiais: a presença do comunismo na
China e na Coreia do Norte, com apoio do Exército Vermelho da China de Mao Dze
Dong. Este havia empurrado os partidários de Chiang Kai Chek para Taiwan
(Formosa), onde se instalaram sob a proteção da esquadra norte-americana.
12. Em suma, os EUA precisavam deixar fortalecer-se aqueles
dois países, empobrecidos pela exploração colonial e pela ocupação japonesa,
além de devastados por guerras, antes e durante a 2ª Guerra Mundial. Do
contrário, seus povos seriam reunidos a seus compatriotas sob governos
comunistas.
13. Em nossa história, como na da Argentina, houve progressos para o desenvolvimento,
exatamente sob regimes autoritários, no período entre-guerras da 1ª metade do
Século XX e durante a 2ª Guerra Mundial.
14. O senador Severo Gomes, desaparecido no mar, em 1992,
comentava que a arrancada para o desenvolvimento da Argentina e do Brasil fora
possível graças ao relativo isolamento comercial propiciado pela 1ª Guerra
Mundial (1914-1918) e pela depressão dos anos 1930, seguida da 2ª Guerra
Mundial (1939-1945).
15. A melhora das estruturas econômica e social só se pode
realizar sob condições de poder central forte, como, no Brasil, as dos anos
subsequentes à Revolução de 1930 e no Estado Novo (1937-1945), mercê da
consciência nacionalista do Exército e da visão esclarecida e habilidade do presidente Vargas.
16. Como tenho exposto, Vargas foi injusta e incessantemente
acoimado de ditador por agentes do império, horrorizado com a perspectiva de o
País atingir o desenvolvimento econômico e social.
17. Por isso não cessavam de injuriar o presidente os
adeptos do império angloamericano, fosse fascinados pela democracia de molde
ocidental, fosse a soldo daquele
império.
18. Tive, com frequência, ocasião de trocar ideias com
Severo Gomes, empresário e antigo
ministro da Indústria e Comércio (MIC) no governo do general Geisel. Também, com outros grandes brasileiros: o
general Andrada Serpa, o físico Bautista Vidal (secretário de Tecnologia
Industrial do MIC com Severo Gomes e criador do Programa do Álcool, Energia da
Biomassa), e o Dr. Enéas Carneiro.
19. Todos tinham consciência plena de que o desenvolvimento
só é possível com autonomia nacional e que um dos requisitos para esta
existir é a autonomia industrial e
tecnológica, inclusive com domínio da
energia nuclear aplicada à defesa.
20. O que precede significa que, para o Brasil, é vital ter
estratégia que:
1) contemple estarem as potências hegemônicas intervindo
permanentemente em nosso País;
2) acompanhe a balança do poder em âmbito global, avaliando
a medida em que o império se veja
obrigado a concentrar recursos e atenção em outras regiões.
21. Dado o nosso recuo econômico, financeiro e tecnológico –
crescente nos últimos decênios - a
chance de êxito que possa ter o projeto de sobrevivência do País depende de
unir o máximo possível das forças nacionais.
22. Estas têm sido agudamente divididas em direita e
esquerda, ao longo dos últimos 85 anos. O marco foi a Revolução de 1930, a qual
abriu a perspectiva de desenvolvimento
do País.
23. Em seguida, o
império angloamericano fomentou novos separatismos e passou a investir
mais intensamente em cooptar e corromper locais, notadamente na mídia, como
Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, dono dos Diários Associados, a maior
cadeia jornalística da época.
24. Já no mandato de Vargas assumido em 1951, indagado Chatô, por que atacava o presidente e abria total
espaço na TV a Carlos Lacerda, seu virulento e audacioso adversário, respondeu:
“se ele desistisse de criar a Petrobrás, eu passaria apoiá-lo e lhe daria espaço
em minha rede de comunicação”.
25. Outro, foi o notório Roberto Marinho, dono de O
Globo desde 1931. Esse, desde 1964,
recebeu favores oficiais e fartos recursos norte-americanos para tornar-se
dominante na comunicação social.
26. Mais tarde, o império declarou, através de Henry
Kissinger, que não podia tolerar o surgimento de uma potência no Hemisfério
Sul. Assim, foram cavados profundos fossos ideológicos entre brasileiros e
n outros modos de intervenção.
27. Em 1932, Londres
fomentou a falsamente denominada Revolução Constitucionalista, em São Paulo, que se poderia ter transformado
em guerra separatista do Estado onde a
industrialização despontava promissora.
28. A constitucionalização real veio em 1934, preparada por
Vargas desde antes daquela teleguiada “revolução”. A insurreição comunista, em 1935, tempo de grande polarização
esquerda/direita, reflexo do cenário europeu antecedente à 2ª Guerra Mundial.
29. Era muito pequeno o número de operários organizados, e a
geopolítica dava chances nulas de êxito aos comunistas brasileiros: poder naval do império britânico absoluto
no Atlântico Sul, e proximidade dos EUA.
30. Sendo incipiente o desenvolvimento do poder militar da
União Soviética (URSS), não havia como
esta apoiar o levante comunista no Brasil. Ademais, Stalin dava prioridade à
infra-estrutura industrial da URSS. Não apostava na revolução internacional, ao
contrário de Trotsky, alijado do poder.
31. Entre os comandados de Prestes, infiltraram-se agentes
do Intelligence Service, o M16 britânico, e os planos dos ataques eram
previamente conhecidos das forças legalistas.
32. O resultado da insurreição de 1935 foi exacerbar a
polarização ideológica, de interesse exclusivo do império anglo-americano.
33. Pior, sua memória tem servido à irracionalidade que faz reprimir,
atribuindo-se-lhes ser comunistas, os que se opõem ao império angloamericano ou
não fecham os olhos aos crimes deste.
34. Seguiu-se o golpe de 1937, que instituiu o Estado Novo,
repressor de comunistas e outros. A geopolítica e a influência da finança
angloamericana determinaram a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial:
bases no Nordeste para as FFAA dos EUA e envio da Força Expedicionária à
Itália, vinculada a comando norte-americano.
35. Entretanto, o império não hesitou em patrocinar o golpe
de 1945 e as intervenções subsequentes,
que prosseguem até hoje, e vêm logrando seus objetivos desde agosto de
1954:
a) desnacionalizar e a desindustrializar o Brasil, impedindo
o desenvolvimento de tecnologias controladas por empresas nacionais, tanto
privadas como estatais;
b) enfraquecer as
Forças Armadas e a capacidade estratégica do País, indústrias básicas,
infra-estrutura e o domínio da energia
nuclear;
c) desinformar e abaixar o nível de educação dos
brasileiros, investindo na anticultura e na demolição dos valores éticos
indispensáveis à evolução de nação próspera e equilibrada;
36. Esse processo tem sido realizado não só durante governos
claramente subordinados aos interesses financeiros angloamericanos (Café Filho,
JK, Castello Branco, Collor e FHC).
37. Também, durante
os demais, que, no essencial,
cederam às pressões imperiais, não obstante terem tido, setorialmente, patriotas voltados para o
desenvolvimento nacional.
38. Destaque-se, ademais, que eleições dependentes de dinheiro
grosso e grande mídia levaram a desastres de origem parlamentar, inclusive a
presente Constituição e emendas.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Cair na real – LRF e juros
Adriano Benayon * - 03.10.2015
O senador Cristovam
Buarque divulgou mensagem em que manifesta preocupação com o risco de os
gestores públicos, diante da crise e da queda da arrecadação, descumprirem a
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
2. Referiu-se aos projetos de lei aprovados na Câmara e no
Senado que acrescentavam despesas ao Orçamento da União. A presidente Dilma
buscou impedir sua passagem, com 32 vetos, dos quais 26 foram mantidos pelo
Congresso, mas seis foram rejeitados, o que elevará gastos.
3. Os que se preocupam com os déficits públicos alarmam-se
com a situação, porquanto os déficits já vinham crescendo e, desse modo, tendem
a aumentar ainda mais, também porque as receitas estão em baixa significativa.
4. Há que colocar os pingos nos is. A LRF não passa de
instrumento destinado a acelerar o
empobrecimento do Brasil, assegurando a perpetuação de sua condição de economia
primarizada e de zona de extração de recursos naturais, para entregá-los a
preço vil aos carteis transnacionais.
5. Trata-se de lei complementar, de maior hierarquia que as
leis ordinárias, ditada pelo império angloamericano, via FMI. Data de 2000,
quando FHC reinava na satrápia chamada Brasil.
6. Essa lei dá total prioridade ao pagamento dos juros da
dívida pública, tanto no âmbito federal, como no dos Estados e municípios, os
quais, com a federalização da dívida (lei 9.496/1997), se tornaram
vassalos de absurdas taxas de juros e
índices de correção monetária, que devem pagar à União. Esta ficou responsável
pelo total das dívidas públicas.
7. As taxas de juros e os índices de correção monetária
devidos pelos governos locais são semelhantes àqueles com os quais o governo
federal provê estupenda acumulação de dinheiro
em favor dos concentradores financeiros (banqueiros estrangeiros e
locais, e demais rentistas, como as
empresas transnacionais).
8. Desse modo, o Brasil tem perdido recursos que
possibilitariam alçar sua taxa de investimentos produtivos (contando os do
setor privado), a taxas de 35% do PIB, mesmo com proporcional crescimento do
consumo.
9. Ora, se se
endireitassem também as estruturas e infraestruturas, notadamente corrigindo a
patológica desnacionalização da economia, não seria difícil progredir no ritmo
observado na China dos últimos 30 anos.
10. Demonstremos, com base nas estatísticas do Tesouro
Nacional, a quanto têm montado os recursos saqueados do Brasil, a título do “serviço da dívida pública”.
11. Somente de janeiro de 1995 - 1º ano após o plano Real, que proclamou a
mentirosa estabilização monetária – até agosto de 2015, a dívida pública interna multiplicou-se 24
vezes, de R$ 135,9 bilhões (contando
então as dívidas de estados e municípios) para R$ 3,83 trilhões. Isso significa
que a dívida interna foi multiplicada por 28, no período.
12. Isso significa crescimento médio anual de 18,65% aa.,
decorrente da capitalização dos juros e da inflada correção monetária, ambos
decretados pelo BACEN, para gáudio dos sistemas financeiros privados, mundial e
local.
13. Desde a Constituição de 1988, os gastos com a dívida
pública, atualizados monetariamente,
superam em muito R$ 20 trilhões.
14. Se os gastos com
a dívida interna, cujo montante passa de R$ 3,8 trilhões, continuarem crescendo
com a taxa efetiva anual presente - aí
nos 18% aa. – essa dívida subirá, em 30
anos, para 1/2 quatrilhão de reais. Um quatrilhão são mil trilhões:
1.000.000.000.000 x 1.000.
15. Na finança mundial, os derivativos voltaram a superar
US$ 600 trilhões, como nas proximidades do colapso financeiro de
2007/2008. Agora já passam de US$ 1
quatrilhão.
16. Iludem-se grandemente os que acreditam nos bancos e em
economistas das universidades famosas e das que as copiam, quando caem na
conversa de que os juros são elevados para conter a inflação!
17. Ao contrário, o crescimento exponencial das dívidas,
expressas em títulos, significa
inflação ainda maior do que causaria a
emissão de moeda, tão anatematizada pelos economistas “ortodoxos” (e pela
opinião geral, por eles influenciada). Os títulos financeiros são dinheiro,
como a moeda, e ainda turbinado pelos juros.
18. Um dia, a explosão da massa de títulos insuscetíveis de
serem liquidados, leva a reformas monetárias. Então se consolida o poder
absoluto dos concentradores, mesmo em relação aos cidadãos aparentemente
abastados.
19. Imaginemos, num caso limite, que o patrimônio financeiro
dos grandes concentradores atinja vários quatrilhões de dólares e que
individualmente tenham, em média, ativos de 100 trilhões de dólares.
20. Ao acontecer o “saneamento”, a reforma monetária faz que
um novo dólar valha um milhão dos antigos. Então, um oligarca que acumulou US$
100 trilhões, ficará com 100.000.000 (cem milhões) de dólares novos. Já um
empresário, dono de patrimônio de US$
100 milhões, ficará reduzido a 100 dólares novos. Que chance tem alguém com 100
unidades de moeda, diante de quem tem 100 milhões delas?
21. A reforma mostrará como o empresário empobrece, enquanto
a composição dos juros e as demais jogadas do mercado financeiro fazem expandir
os ativos dos banqueiros e demais concentradores.
22. Torna-se, assim,
abissal a diferença de poder econômico entre estes e os demais
mortais, mesmo os ricos, cuja maioria, como também a classe
média, é convertida às ideologias de interesse dos concentradores e,
assim, julga normais as manipulações de juros,
câmbio e outras, praticadas pelo sistema financeiro.
23. No Brasil, esse sistema é criminosamente privilegiado
pela fraude no artigo 166, § 3º, II, b), e pela sacralização suicida dos gastos
com juros injustificados, assegurada pelo art. 164. Esse confere exclusividade
ao Banco Central (BACEN), para emitir moeda – somente para servir os bancos – colocando o Tesouro
Nacional à mercê destes.
24. Por lei, o BACEN está subordinado ao governo federal.
Portanto, os governantes que se têm sucedido, deveriam explicar por que o BACEN
age em favor da finança dos concentradores privados estrangeiros e locais e, em
detrimento da economia e da sociedade.
25. Criaram um círculo vicioso: a dívida pública cresce
devido a despesas financeiras, priorizadas pela LRF. A perspectiva de déficits
orçamentários serve de desculpa para elevarem mais os juros. Daí minguam
os investimentos produtivos e sociais
da União e dos entes federativos.
26. É, pois, incrível
que a LRF seja defendida como sagrada por tanta gente, até com o primarismo
flagrante na mensagem de Cristovam: “a
revogação da Lei de Responsabilidade Fiscal é o mesmo que revogar as quatro
operações aritméticas, é dizer que dois mais dois é igual a cinco.”
27. Para o senador, o brasileiro está acostumado a querer
receber aposentadoria jovem, e a crise
estrutural exige reforma da Previdência. Traduzindo o jargão da “esquerda”
reacionária: ”que assalariados e aposentados paguem a conta; não se toque nos
trilhões de reais de juros para os
bancos!” É de estarrecer.
28. Conquanto as
despesas financeiras não sejam a causa única do subdesenvolvimento acelerado, o
vulto delas comprova, de sobra, seu peso
na ruína financeira do País. Acarretam
também a miséria da estrutura produtiva e social, além de reforçarem a tirania
dos oligarcas concentradores sobre o sistema político.
29. Há mais causas da
degringolada. A principal delas, inclusive por ser a fonte da dívida, é a desnacionalização da economia, com os
carteis transnacionais subsidiados pela política econômica, aplicando preços
absurdos aos consumidores, privando o País de tecnologias próprias, e transferindo
quantias estratosféricas ao exterior.
30. Os déficits nas
transações correntes com o exterior -
mesmo com o País a exportar quantidades brutais e crescentes, via agronegócio e mineração - cresceram para valor próximo a US$ 100
bilhões anuais, e não mostram sinais de cair muito, nem com a depressão e com o
dólar a 4 reais.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
O que é estratégico?
Adriano Benayon * - 16.10.2015
Demonstrando abissal ignorância sobre o que é, ou não, estratégico, ou então desprezo pela segurança nacional, os falsos desenvolvimentistas, desde JK (1956-1960), consideraram que bastava ter sob comando nacional as telecomunicações, a energia, notadamente o petróleo, e a área nuclear.
2. Se olhassem com seriedade para a História, teriam
percebido que nenhum país foi capaz de se defender, tendo entregado sua
economia e suas finanças a controle estrangeiro. Isso se tornou cada vez mais
nítido, à medida que a capacidade bélica
foi ficando mais dependente da indústria e da tecnologia.
3. Mas, mesmo antes do século XVIII, quando a sorte nas
armas se vinculou à mecânica pesada e às indústrias básicas - que lhe fornecem insumos -, as guerras,
sempre foram movidas a dinheiro, tal como a política.
4. Revela-se, pois, enorme e múltipla a leviandade dos
dirigentes do País, uma vez que o “modelo econômico brasileiro”, de JK aos
governos militares, se caracterizou, não só pela dependência tecnológica, mas
também pela dependência financeira.
5. Depois, isso continuou a agravar-se, culminando com as
manipulações eleitorais que levaram às presidências de Collor e FHC, nas quais,
além de tudo, as Forças Armadas foram deliberadamente debilitadas.
6. E por que isso foi possível? Porque quem monopoliza o
dinheiro grosso e comanda a mídia submissa, determina as políticas. Claro que essas não foram as de interesse do
País.
7. Acaso? Não, mas, sim, algo que se desenhou com o golpe de agosto de 1954, quando as decisões
econômicas foram entregues a “técnicos” do agrado dos centros financeiros
angloamericanos.
8. Desde o final dos anos 50, o domínio dos carteis
multinacionais sobre a economia resultou em enormes déficits de transações
correntes: esses carteis transferiram ao exterior – principalmente como
despesas - lucros de fato, decorrentes dos preços elevadíssimos, no mercado
interno, dos bens aqui produzidos e dos importados, e preços baixos na
exportação.
9. Daí derivou
absurda dívida externa, inflada também
com os juros e demais despesas decorrentes do financiamento externo de
investimentos públicos e privados efetuados no País.
10. Afora os colossais pagamentos do serviço da dívida
externa, ao exterior, ainda maiores nos anos seguintes à Constituição de 1988, parte dessa dívida foi
transformada em interna, a qual passou a crescer exponencialmente, em função de
juros e correção monetária absurdos - mais um sinal de que o País não tem
autonomia política.
11. Montou-se, assim, a engrenagem viciosa, através da qual
a dependência política alimenta o crescimento da dependência econômica, a qual
acentua a submissão política, e assim
por diante.
12. O conceito assumido por pró-imperiais assumidos e
inconscientes, era que se deveria abrir às grandes transnacionais, com matrizes
no exterior, as indústrias de transformação – consideradas não-estratégicas
- como
a de bens de consumo durável, inclusive veículos automotores, o ridículo carro-chefe da arrancada para o
falso desenvolvimento.
13. Tão grande foi a irresponsabilidade para com o País e
seu futuro, que - através das Instruções da SUMOC, a partir de janeiro de 1955
- propiciaram subsídios desmedidos para
que os carteis industriais estrangeiros se assenhoreassem facilmente do mercado
brasileiro, que nunca lhes esteve fechado.
14. Ademais, permaneceram abertas as brechas que permitiram
crescente penetração do capital estrangeiro no sistema financeiro do País.
15. Sessenta anos depois, passados numerosos governos
aparentemente diferentes, deu-se a desnacionalização praticamente completa, a
causa da desindustrialização.
16. O balanço é o pior possível: a) a dívida interna, que
continua crescendo exponencialmente, por efeito da capitalização de absurdos
juros, já atingiu mais de R$ 3,8 trilhões; b)
boa parte dos títulos pertence a residentes no exterior; c) o passivo
externo financeiro bruto – onde avultam os investimentos estrangeiros diretos
(IEDs) - supera US$ 1 trilhão.
17. Os IEDs
acumularam-se principalmente com recursos estatais, subsídios governamentais e reinvestimento de
lucros, o que denuncia a natureza autoretroalimentada do processo de
desnacionalização.
18. Finaliza-se o processo, com o enfraquecimento e maior
infiltração da própria Petrobrás por interesses forâneos, além de preparar-se
luz verde a petroleiras transnacionais para apoderar-se das reservas
descobertas pela estatal. Além disso, deterioraram-se e desnacionalizaram-se
infra-estruturas essenciais, como as de energia, transportes e comunicações.
19. Não bastasse isso tudo, a engenharia, último ramo sobrevivente com tecnologia
competitiva, está sob fogo interno,
teleguiado do exterior, para que os
mercados que conquistou no Brasil, e fora dele, também caiam sob controle de
empresas estrangeiras.
20. O Brasil está inerme, com seus recursos terrestres,
águas e subsolo, dotado de minerais preciosos e estratégicos, tudo aberto ao
saqueio das corporações estrangeiras.
Grande parte do território amazônico foi subtraído à jurisdição efetiva
do País, sob o pretexto de demarcar terras supostamente indígenas.
21. Que aconteceria se mudasse de política? A violência das
intervenções imperiais na Líbia, Iraque e Síria, entre outras, deveria alertar para reverter as políticas levianas aqui praticadas, há
mais de 60 anos.
22. Mauro Santayana afirma que o Brasil talvez seja o país
mais indefeso do mundo, e o pouco que ainda tem de empresas nacionais na
indústria bélica está sendo
adquirido por grupos
estrangeiros, ou controlado por estes
mediante associações, principalmente as firmas
que desenvolveram tecnologia militar, nos últimos anos.
23. A vulnerabilidade decorre também do baixo conteúdo local
das peças do equipamento de defesa, mesmo no caso de blindados ligeiros. Que
dizer das carências em tecnologia eletrônica, até mesmo chips desenhados e
fabricados no País?
24. Esse é o resultado da entrega, favorecida pelos
governos, do controle do grosso da economia a empresas e grupos
financeiros transnacionais. Era questão de tempo a entrega também dos
setores ditos estratégicos.
25. Em vez de
"lideranças" civis e militares cuidarem disso, ignoraram que o desenvolvimento econômico verdadeiro só se
faz com capital nacional e tecnologia nacionais.
26. Além disso, tiveram a visão ofuscada pela crença que lhes
foi inculcada, de que o inimigo estratégico seria o comunismo, termo em que foi
abusivamente englobado tudo que desagradasse o império e seus adeptos locais.
27. Nas lideranças e cidadãos, em geral, foram incutidas
divergências ideológicas que se tornaram
fossos intransponíveis, geradores de exclusões, perseguições e conflitos envenenados.
28. Assim, além da economia dominada, o que, mormente após a
pseudo-democratização de 1988, levou os interesses antinacionais a controlarem
o sistema e as decisões políticas, acelerando a desindustrialização e
primarização da economia, a falência estratégica foi acentuada por outra: a falta de coesão
nacional.
29. Para esta deficiência estratégica contribuiu a abertura
ao arrasamento da cultura e dos valores éticos, através da permissividade das
“autoridades” para com os meios de
comunicação mundiais e locais, acompanhada da deformação dos fatos políticos e
econômicos em todo o mundo.
30. Se é que o poder emana do povo, que poder emanaria de um
povo submetido a processos de psicologia aplicada e a outras intervenções
destinadas a apassivá-lo?
31. Machiavello
ensinou que “o poder emana do ouro e das armas.” Nesta vertente, como
o Brasil precisa ter poder para viver
com dignidade, e até para sobreviver, impõe-se
entender que:
a) o desenvolvimento econômico e social é indispensável para
a defesa e segurança; b) ele depende de autonomia, tanto nas decisões
governamentais como na das empresas.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
O Brasil tem de reviver como Nação
Adriano Benayon * - 01.12.2015
Ao longo da 1ª metade do Século XX, o Brasil fez notáveis
progressos através da industrialização e do fortalecimento das instituições
financeiras públicas. Também, na área social, com a decretação do salário
mínimo (1930) e da legislação trabalhista (1932, consolidada em 1943). Economia
e relações sociais são interdependentes.
2. Entretanto, esses
avanços - interrompidos de 1946 a 1950,
quando a política do País se submeteu
facilmente ao império angloamericano e à polarização ideológica da Guerra Fria
– não foram suficientemente retomados e atualizados, sequer com a volta de Getúlio Vargas à
presidência da República em 1950, pelo voto direto do povo.
3. Isso porque, diante disso, a intervenção do poder mundial
tornou-se maciça e sustentada por abundante corrupção, que penetrou em todos os
campos estratégicos, com o objetivo de fazer abortar o surgimento de uma
potência industrial no Hemisfério Sul.
4. Essa intervenção logrou derrubar o presidente e inaugurou
uma era, que completou 61 anos, de sucessivas renúncias à autonomia econômica e
política do Brasil.
5. A desnacionalização da indústria, política oficial desde
janeiro de 1955, conduziu à desindustrialização e causou déficits externos,
originadores da dívida externa e depois da dívida pública interna.
6. A política de destruição da Nação foi grandemente
radicalizada por meio das três primeiras eleições diretas, sob a Constituição
de 1988, regime de aparente democracia: a de Collor em 1989 e as duas de
FHC, 1994 e 1998, que desencadearam
verdadeiros tsunamis de entreguismo e institucionalizaram a devastação
socioeconômica do País.
7. A corrupção, em todas suas acepções, já havia formado
maioria folgada dos constituintes, para inserir na Lei Básica normas estratégicas
contrárias aos interesses nacionais.
8. Os analistas viciados no engano de qualificar tudo sob o
prisma ideológico esquerda/direita, definiram como “Centrão” os constituintes
“centro-direita” favoráveis a essas normas, que poucos da “esquerda” combateram.
9. Nem um só parlamentar denunciou a aprovação do art. 164,
nem a inserção no texto constitucional, por meio de fraude, de cláusula no
inciso II, parágrafo 3º do art. 166, que elimina limites à aprovação de verbas
para o serviço da dívida. O art. 164 põe o Tesouro Nacional à mercê dos bancos.
10. O peso do dinheiro concentrado e da mídia antibrasileira
nas eleições continuou a eleger Congressos cada vez mais alheios aos interesses
do País, a ponto de terem aprovado dezenas de emendas à Constituição, favoráveis
aos concentradores financeiros estrangeiros e locais.
11. Ora, o processo de degradação econômica, política e
cultural teve início nos anos 50, quando o Brasil não havia construído infraestruturas econômica e social de país
desenvolvido.
12. Pior: a maioria
das que se implantaram, após 1955, foi planejada em favor dos carteis
transnacionais aqui instalados para obter lucros ilimitados da extração dos
abundantes recursos naturais e do controle do mercado consumidor.
13. A de transportes
já era deficiente e não foi corrigida, ficando ainda mais lastimável,
considerado o crescimento econômico,
ainda expressivo até o final dos anos 70, graças a estes fatores: inércia da industrialização anterior; crescimento demográfico; os fabulosos
recursos naturais do País; haver, até então, recursos de monta para
investimentos públicos, pois as finanças do Estado ainda estavam em processo de
serem arruinadas pelo modelo dependente, causador das exações referentes ao
serviço da dívida.
14. Como lembrou o professor de tecnologia Weber
Figueiredo, o presidente Vargas, em
1950, dada a insuficiência de trens em face da demanda de passageiros, mandara
ampliar o sistema ferroviário. Havia 676 trens e transportavam-se mais de 500
mil passageiros/dia. Hoje são 450 mil e
pouco mais de 100 trens, muitos daquela longínqua época. Numerosas conexões no
interior foram suprimidas em São Paulo e
outros Estados.
15. Os transportes no Brasil retratam a situação de um país
ao qual foi negada permissão para desenvolver-se. Tudo serve aos carteis
transnacionais do petróleo/indústria automotiva. Predominam as rodovias. Não há
linhas de metrô que atendam minimamente
a demanda das regiões metropolitanas. As principais ferrovias são de natureza
colonial: transportam aos portos colossais
quantidades de minérios: Belo Horizonte/Vitória; Carajás/Itaqui.
16. Onde houve
desenvolvimento, houve uso intenso das aquavias, como os cinco grandes lagos
que ligam, nos EUA, Meio Oeste, Costa
Leste e Canadá. Inglaterra, França, Alemanha construíram densas malhas de rios
navegáveis e canais. Em 1900, já tinham boas ferrovias e ainda as estendem e
aperfeiçoam. A China constrói ótimas ferrovias e trens de alta velocidade em
todo seu extenso e acidentado território.
17. As ferrovias para transportar matérias-primas minerais e
agrárias remetem ao modelo econômico que não valoriza os recursos naturais do
País nem os processa em indústrias de capital nacional, porque acabou com elas,
ao entregar o mercado às transnacionais.
18. Esse modelo causa mega-catástrofes irreparáveis, como a
do rompimento das barragens de dejetos das minas, em Mariana, MG, operadas pela
Samarco, controlada pela transnacional anglo-australiana Billiton, com
participação da Vale.
19. Dada a corrupção e a obtusa mentalidade entreguista,
nenhum dos poderes - a nível federal, estadual e local - exige reais controles
de segurança, nem se mostra inclinado a acabar com os intoleráveis abusos. Chegam ao ridículo de participar de entrevistas
midiáticas junto com executivos da transnacional transgressora.
20. O desastre econômico e ambiental remete, por sua vez, à
privatização da portentosa Vale Rio Doce, em 1997, no esquema que entregou
patrimônio de dezenas de trilhões de dólares, por 3 bilhões, “pagos” com
títulos podres e compensados por créditos fiscais e outras benesses.
21. Da Serra de Carajás transportam-se diariamente 576 mil
toneladas do melhor minério de ferro do mundo, com o que ela tende a acabar em
80 anos.
22. O saqueio mineral é subsidiado pela isenção tributária
na exportação (Lei Kandir, LC 87, 13.09.1996, aplicável também ao agronegócio)
e premiado por taxação ínfima na extração.
23. A CFEM (Compensação Financeira pela Extração Mineral)
- calculada sobre o líquido (a ETN
arranja e superfatura despesas minimizar o faturamento bruto) -
cobra estas alíquotas: alumínio,
manganês, sal-gema e potássio: 3%; ferro, fertilizantes e carvão: 2%; ouro: 1%;
pedras preciosas, carbonados e metais
nobres: 0,2%.
24. Foram extraídas, em 2013, das “nossas” minas de ferro
370 milhões de toneladas, 90% para exportação
e 10% para o mercado interno. Com a acelerada desindustrialização, a
dependência do exterior continua crescendo, e, mesmo com preços em queda, os minérios metalúrgicos respondem por 13% do
valor total das exportações.
25. Na agricultura o
quadro é semelhante: 55% das terras são
usados para cultivar soja - metade da qual se destina à exportação - causando
pauperização dos solos – e contaminação de aquíferos - decorrente do intenso uso de fertilizantes
químicos, sementes transgênicas e pesticidas altamente tóxicos.
26. As exportações agrárias somaram, em 2014, US$ 96,7 bilhões = 43% das exportações totais
do País, de US$ 225,1 bilhões, que
equivalem a míseros 10% das exportações da
China!
27. O caos agrário liga-se à miséria da energia, via setor
sucroalcooleiro, formado por enormes usinas e plantations, a maioria já
desnacionalizada, a exportar açúcar e álcool (6,1% das exportações totais),
segundo o interesse dos patrões transnacionais.
28. Esse esquema prevalece contra a correta ideia original
do programa do álcool (1974), que incluía agricultura familiar,
descentralização, culturas alimentares combinadas e aproveitamento de óleos
vegetais - como dendê, macaúba, pinhão manso etc. - para substituir o diesel do petróleo, além do
erguimento da química do álcool e dos óleos vegetais.
29. Além de se fazer tudo errado no biodiesel, engodo para
ocultar a mão pesada das transnacionais - governantes das poluidoras fontes fósseis
- as “alternativas” preferidas têm sido
as dependentes de tecnologia e equipamentos importados, como a eólica.
30. Ainda sobre a infraestrutura de energia, não é de omitir
a devastação em curso, desde Collor e FHC, a qual desnacionalizou o grosso da
geração e distribuição da hidroeletricidade, e instituiu um sistema de
precificação, impossível de entender, para propiciar indecentes lucros aos
beneficiários, que já elevou as tarifas, em 150% acima da inflação. No processo, sugaram-se as estatais, a ponto
de pôr a Eletrobrás em situação falimentar.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Mais golpes do sistema da dívida
Adriano Benayon * - 29.12.2015
Governadores de dez Estados reuniram-se, dia 28.12.2015, em
Brasília, com o novo ministro da Fazenda, a respeito da iminente regulamentação
da Lei que alterou o indexador das
dívidas estaduais e municipais.
2. Enquanto a União é escorchada pelo serviço dívida, em
favor dos bancos, transnacionais e rentistas ela suga os entes federativos,
desde a federalização das dívidas, em 1997, principal fator de estarem
quebrados financeiramente.
3. Esse esquema faz parte do conjunto de medidas
antinacionais, impostas pela oligarquia angloamericana, através do FMI e dos
bancos mundiais, a que se submeteu o governo do PSDB, durante os anos 90, e não
modificado sob o governo do PT.
4. Foi, de fato, o período mais sombrio da história do País,
pois nele, com o falso pretexto de reduzir a dívida, foram arrancadas do patrimônio nacional empresas e bancos estatais de valor
inestimável.
5. Qualquer preço que se discutisse, mesmo sob ótica
reducionista, ignorando o incalculável valor estratégico desses patrimônios, só
teria algum sentido se fosse em torno de muitas dezenas de trilhões de dólares.
6. Entretanto, os políticos foram cooptados, e o povo
anestesiado por vários meios, sem falar na repressão e na mídia corrupta, para que se dessem favores inacreditáveis aos
beneficiários das negociatas, desde a Lei da Desestatização, aprovada pelo
Congresso em 12 de abril de 1991, proposta pelo Executivo, sob Collor.
7. Resultado: os patrimônios foram torrados (para o País), e
a dívida pública continuou a crescer de forma exponencial, à taxa média de
18,65% aa. (janeiro de 1995 a agosto de 2015), de R$ 135,9 bilhões para R$ 3,86
trilhões (multiplicou-se por 28,4).
8. A Lei Complementar 148, de 25 de novembro de 2014, prevê
que Estados e municípios passem a ter suas dívidas corrigidas pelo IPCA (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ou pela taxa básica SELIC - o que for
menor - mais juros de 4% aa., no lugar
do IGP-DI mais 6% a 9% aa.
9. Embora isso pareça mitigar a angustiante situação
financeira dos entes locais, não se abre
qualquer chance de tirá-los do buraco, nem sequer de evitar que este se
aprofunde ainda mais.
10. De fato, embora haja alguma redução nas taxas de
correção e juros, estas permanecem
absurdamente altas: a SELIC básica já está em 14,25% aa., e o INPCA, em alta,
com expectativa acima de 10% aa. Além disso, aplicam-se sobre montantes já
insuportáveis, em relação às receitas.
11. Os mecanismos de promoção ao subdesenvolvimento têm seu
instrumento central na “Lei de Responsabilidade Fiscal”, outro presente de grego
do FMI, (Lei Complementar 101/2000). Ela obriga União, Estados e Municípios a
sacrificarem todo tipo de despesa que não
o serviço da dívida, em favor dele.
12. Prosseguindo em sua luta por modificar essas realidades,
e alertando quanto a novos golpes do sistema dívida, a Coordenadora da
Auditoria Cidadã, Maria Lúcia Fattorelli entregou, ontem, carta aberta aos
governadores de Estados.
13. Destaco alguns pontos desse documento, que convém ser
lido e estudado pelo maior número possível de brasileiros:
“Os Estados e Municípios têm recebido repasses federais,
decrescentes, devido ao ajuste fiscal que faz destinar cada vez mais recursos
ao pagamento da dívida pública federal. Em 2014, enquanto os juros e
amortizações da dívida federal consumiram 45,11% dos recursos federais, os 26
estados, Distrito Federal, e 5.570 municípios receberam repasses de 9,19%.”
“Em 2015 a situação agravou-se ainda mais, e os gastos com a
dívida devem atingir 50% do orçamento federal, devido ao aumento abusivo das
taxas de juros e à prática de mecanismos que usurpam o instrumento do
endividamento público, gerando dívida sem contrapartida alguma ao País.”
“Exemplos: 1) as
operações realizadas pelo Banco Central de swaps cambiais”, que de
setembro/2014 a setembro/2015 geraram prejuízo de R$ 207 bilhões impactando o
endividamento público federal; 2) as de “mercado aberto”, cujo volume atinge
quase R$ 1 trilhão e exige o pagamento de juros em moeda corrente, provocando a
elevação dos juros de mercado e prejudicando a indústria e o comercio.”
14. Fattorelli recorda que, mesmo sem se ter feito a
auditoria da dívida federal, determinada pela CF, a CPI realizada pela Câmara
dos Deputados, em 2009/2010, apontou graves indícios de ilegalidades e
ilegitimidades das dívida externa e interna, federal, estaduais e
municipais.
15. Ela indaga dos governadores se já calcularam quantas
vezes os Estados pagaram aquela dívida desde o final da década de 90, e quantos
investimentos deixaram de ser realizados, porque os recursos foram absorvidos
pelo pagamento da dívida ilegítima e inflada de forma ilegal.
16. Ademais, se eles têm consciência da origem espúria
dessas dívidas, provenientes de passivos de bancos estaduais, no esquema ilegítimo do PROES. E
se sabem que os Estados recorreram a endividamento externo para pagar a União.
17. A Auditoria Cidadão denuncia, ainda, o arranjo
inconstitucional implementado por diversos Estados, criando empresas
independentes, sociedades anônimas, que passam a gerenciar ativos públicos e a
emitir debêntures: obrigação de mesma natureza de dívida pública, contando com
garantia pública.
18. Finalmente, exige dos governadores resposta decente à
população, que sofre a subtração de direitos essenciais, enquanto enfrenta
desemprego, queda salarial e aumento de tributos, e assiste ao crescimento dos
bilionários lucros dos bancos, batendo novos recordes a cada trimestre.
19. Recordo que, na biologia, nenhum ser vivo surge sem
provir de outro, mas a política econômica permite a criação artificial de
dívida. Isso porque está a serviço dos bancos e rentistas e, portanto, faz o
Tesouro Nacional emitir títulos com taxas de juros absurdamente elevadas, sob o
principal e falso pretexto de isso conteria a inflação.
20. A enorme dívida pública interna resulta da capitalização
desses juros. Provém, pois, de fraude incorporada à política financeira a cargo
do Banco Central e de um certo COPOM (Conselho de Política Monetária).
21. No sistema vigente, de falsa democracia, e mesmo antes
da "Nova República", o Poder
Executivo não exerce seus poderes.
Tampouco o Congresso.
22. Talvez só um presidente, Sarney, tentou encarar a dívida
pública de forma soberana (à época pesava mais a externa). Desvencilhou-se de
Francisco Dornelles, sobrinho de Tancredo, que herdara deste no ministério da
Fazenda, e nomeou Dílson Funaro.
23. Este, entretanto, não durou muito, devido às pressões
dos banqueiros angloamericanos. Nem sequer na vida, provavelmente envenenado.
Depois, Sarney entregou os pontos e pôs na Fazenda moleques de recados dos
banqueiros.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
Jogo pesado no poder mundial
Adriano Benayon * - 22.12.2015
Há enorme descompasso entre o modo de operar das grandes
potências, especialmente o das hegemônicas, e a capacidade de entende-lo, por
parte dos cidadãos dessas potências e pelos das que estão à mercê delas.
2. Os centros de formação de opinião, inclusive
universidades cuidam, em geral, de manter inquestionada a suposta boa-fé dos
dirigentes das ditas potências, cumpridores das diretivas dos potentados da
oligarquia financeira, em busca do poder absoluto.
3. Além disso, a ‘informação”, disponível na grande mídia,
seleciona, ao gosto dos oiigarcas, as notícias a ser divulgadas, e distorce as
que não consegue ocultar por completo.
4. Não bastassem as adulterações da realidade, o sistema de
poder trabalha, há mais de século, na adaptação dos públicos-alvos para
recebe-las e incorporá-las
acriticamente. Para tanto, abusam da psicologia aplicada e dos recursos
tecnológicos aplicados sobre os órgãos sensores.
5. Não se exclui que disso faça parte inculcar o hábito dos
jogos e mensagens eletrônicos, incutido, pelo marketing, em crianças acima de dois anos (e até menos),
fator de condicionamento tendente a tornar o ser humano (?) capaz de reações
mentais ultra rápidas, mas pouco afeito aos raciocínios lógico e analítico.
6. Ademais, o envolvimento do indivíduo pelo universo
virtual o isola do contato direto com outros, e ele só se comunica através dos
aplicativos dos meios eletrônicos.
7. Já nos anos 1960, intelectuais franceses e de outros
países assinalavam a despolitização da sociedade, então já inundada de
marketing e de alienação. Atualmente é possível que mais gente se interesse por
política, mas resta saber em que nível de compreensão.
8. O fato é que a concentração financeira e econômica
continua a caminhar na direção do absurdo, inclusive nos principais países
desenvolvidos, com a possível exceção da China, sem que as instituições ditas
democráticas ofereçam chances às grandes maiorias marginalizadas de sair dessa
situação.
9. Joseph Stiglitz, Nobel e ex-presidente do Banco Mundial,
escrevera, em 2011, que os Estados Unidos se tornavam um país “dos 1%,
pelos 1% e para os 1%”. Então, esses já
recebiam quase 25% da renda nacional e controlavam 40% da riqueza total do país. Essa concentração prossegue aumentando.
10. Conforme recente relatório do banco Crédit Suisse, essa
tendência é a mesma no âmbito mundial, os do 1% mais ricos controlando 50% da
riqueza total, algo inédito há um século.
11. Para uma ideia das transformações estruturais
desfavoráveis ao emprego e à distribuição minimamente equilibrada da renda, dos
anos 1950 aos tempos atuais, os lucros da indústria manufatureira caíram de 60%
dos lucros totais para 20%, enquanto os do setor financeiro se elevaram de 10%
para 30%.
12. O emprego na manufatura desceu de 30% para menos de 10%,
e a finança permanece com 5% desde sempre. Ou seja: cada vez menos empregos
qualificados na economia. O grosso está nos serviços de baixo componente
tecnológico, e, nesse país símbolo da riqueza e do poder ocidentais, um sexto
dos residentes passa fome.
13. Há indústrias que não sofrem recessão: a dos
equipamentos e armas de guerra e as ligadas ao terrorismo de Estado, espionagem
e ingerência em outros países.
14. Os EUA prosseguem intervindo militarmente em todos os
continentes e promovendo agressões através de mercenários e terroristas, como
na Síria, ultimamente.
15. A Rússia tem sido o único país que - embora
prudentemente e só recentemente - se
vem contrapondo com efetividade ao bullying mundial exercido pela potência
hegemônica.
16. Por isso, a Rússia tem sido agredida diretamente e por
satélites do império angloamericano (União Europeia, a Ucrânia e a Turquia),
por sanções econômicas e atos de guerra, como a derrubada, pela última, de
avião militar sobre o espaço aéreo fronteiriço com a Síria.
17. Além das ações bélicas, decisivas para conter os
terroristas do Estado Islâmica, apoiados, por debaixo do pano, pelos EUA,
Turquia, Arábia Saudita e outros, a Rússia tem exposto provas desse
envolvimento.
18. No cenário das hostilidades, a Rússia acena com a exposição
de fotos de satélite captadas quando da implosão das Torres Gêmeas de Nova
York, em 2001.
19. De há muito, a Associação dos Arquitetos e Engenheiros
pela Verdade e outras, cidadãos e cientistas e norte-americanos – enfrentando
fortes censura e pressões oficiais – demonstram ter-se tratado de ato de
terrorismo de Estado cometido para intensificar o Estado policial e
“justificar” as devastadoras intervenções praticadas no Afeganistão, Iraque,
Líbia e Síria.
20. Evidente e provado está que as estruturas de aços
especiais daqueles prédios ruíram e pulverizaram-se, em poucos segundos, e isso
só pode ocorrer com dezenas de toneladas de explosivos especiais introduzidos
nessas estruturas. Terroristas da Al
Qaeda (colaboradores dos serviços
especiais angloamericanos), supostamente sequestrando aviões, fizeram parte da
encenação.
21. Dado, porém, o
acobertamento dos fatos, a iludir boa parte do público, a divulgação das fotos
russas mostraria de forma contundente a real face do império e poderia ter
consequências políticas no Ocidente.
22. Também no recente atentado em Paris, tudo aponta para
mais uma operação de falsa bandeira, para “justificar” ataques aéreos franceses
na Síria.
* - Adriano Benayon é
doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização
versus Desenvolvimento.
Há como evitar o caos?
Adriano Benayon * - 27.01.2016
1. Delfim Netto concedeu entrevista a Claudia Safatle, do
Valor. Foi czar da economia em governos militares. No de Geisel, embaixador em
Paris, voltando com Figueiredo.
2. Muito ligado a banqueiros, ingressou no governo pela mão
do Bradesco. Favoreceu as transnacionais com enormes subsídios às exportações,
que não evitaram o crescimento exponencial da dívida externa. Depois, deputado
e conselheiro de presidentes na Nova República. Ninguém mais representativo do
establishment.
3. Disse haver poucas chances de impeachment da presidente
da República e que esta deveria, com urgência, assumir protagonismo,
apresentando ao Congresso projetos de reforma constitucional e
infraconstitucional.
4. Também, que o Congresso deve ser pressionado a
aprová-los, sem o que o caos será inevitável e se materializará nos próximos
anos.
5. Ele propõe quatro reformas: Previdência Social,
desvinculação dos gastos orçamentários, desindexação e mercado de trabalho.
6. Ora, as duas primeiras foram objeto, por duas vezes, de
reformas constitucionais, sob FHC e Lula, aprovadas em 1998 e 2003. A reforma
do mercado de trabalho significa que a legislação trabalhista não prevalecerá
sobre a “negociação”.
7. A desindexação foi decretada pelo Plano Cruzado em 1986 e
pelo Plano Real em 1994. Delfim não indicou se os títulos da dívida pública
serão ou não isentados da desindexação. Quando do Real foi trágico: a taxa
SELIC acumulou 53% em 1995.
8. Em suma, as propostas consistem em aumentar a dose de
medidas em uso há muito tempo e até hoje, que nada solucionaram. Não obstante,
muitos as aclamarão como solução, pois consideram novidade tudo de que a TV não
fala, desde há três meses.
9. Delfim não vê futuro nas propostas de Lula de reanimar a
economia expandindo o crédito. Lembra: “Não há falta de crédito, Há falta de
tomador. Não tem ninguém querendo crédito."
10. Claro, a renda das pessoas caiu, suas dívidas cresceram.
Aliás, não há necessidade de keynesianismo para entender que só surge retomada
de investimentos e criação de empregos, se se crê que haverá mercado para o que
se pretende produzir.
11. Mas, e a verdadeira solução? Delfim não a pode apontar.
Membro de escol da pseudoelite, ele julga impensável alijar-se da “comunidade
financeira internacional”, abrir mão dos ganhos fabulosos das aplicações
financeiras, e aprova a globalização do sistema de poder mundial, deixando a
economia produtiva sob o comando dos carteis transnacionais.
12. Teorias sofisticadas, voltadas para conservar o império
da oligarquia concentradora, como o keynesianismo, embora rotulado como
progressista, são uma espécie de ópio de economistas, inclusive ditos de
esquerda.
13. Nessa linha, Delfim imagina vencer a crise, mudando as
expectativas: “na economia as crenças são mais importantes do que os fatos.”
Para ele, a eleição de Macri, na Argentina, fez o mundo crer que ela vai
melhorar e já está melhor que o Brasil.
14. Claro que o império angloamericano vai tentar tornar
isso verdade. Mas, mesmo que o consiga, a curto prazo, nas aparências, o
resultado estrutural será afundar a Argentina no apartheid tecnológico.
15. Para Delfim, “o Brasil sofre de uma doença: não tem
perspectiva.” Seu programa ganharia aplausos da grande mídia e dos muito
endinheirados, os que têm meios para investir.
16. Se Dilma o adotar – aderindo integralmente a esses –
como já faz, por exemplo, elevando os juros da dívida pública – o sistema de
poder financeiro e transnacional fará o Congresso aprová-lo.
17. Dilma acenaria a possibilidade de recuperar empregos
perdidos durante a paralisia, advinda dos diversos fatores da crise.
18. Mas, em função principalmente da estrutura do modelo
dependente, não há como repor as perdas e nem sequer estancar os fatores de
prosseguimento delas, agravadas pela inflação e pela desvalorização cambial.
19. Só os bancos têm aumentado sempre os lucros. A renda
total, em queda, concentra-se ainda mais, excluindo a perspectiva de
ressurgimento da procura, ademais devido ao tripé: juros altos para o mentiroso
combate à inflação, meta de superávit primário e câmbio flutuante.
20. Então: como vão surgir os investimentos e as
expectativas keynesianas favoráveis aos investimentos?
21. Nem com injeção de recursos do Tesouro para o crédito
público, como fez Lula, e Dilma até 2013, política injustamente acoimada de
errada em si mesma, como causadora do “desequilíbrio fiscal”.
22. Essa política, a proposta por Delfim, e também as duas
combinadas, têm de dar errado, dadas estas realidades estruturais:
1) Financeirização, desnacionalização e concentração
galopantes;
2) Infraestrutura que prioriza a extração e o cultivo
predatórios de recursos naturais para exportar, e o faz de forma ineficiente e
cara;
3) Despesa pública descomunal, decorrente da dívida interna
- indexada e objeto de taxas de juros e spreads absurdos - a qual, para evitar
déficit orçamentário muito alto, faz comprimir investimentos públicos;
4) Déficits gigantes acumulados nas transações correntes com
o exterior – que se aceleram quando a economia cresce - conducentes ao
crescimento da dívida externa e à elevação do passivo externo, proveniente
principalmente dos investimentos diretos estrangeiros;
5) Investimentos estrangeiros na dívida pública interna,
cuja dimensão ameaça as reservas externas, em função do possível retorno ao
exterior dessas aplicações, ao qual se juntariam saídas de capitais financeiros
de residentes no País, eventualidade tanto mais destrutiva, quanto a
pseudoelite não quer recorrer aos controles de câmbio e capitais.
23. Esses fatores de corrosão da economia brasileira
retroalimentam-se entre si, constituindo um processo cumulativo.
24. Diante disso e dos conselhos dos economistas do sistema,
vem à mente grande parte da medicina ocidental, que atacando sintomas e não,
causas, agrava as doenças, intoxicando, ainda mais, com drogas químicas,
pacientes intoxicados por alimentação e modos de vida inadequados.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha, autor do livro Globalização versus Desenvolvimento .
O golpe permanente
Adriano Benayon *- 24.02.2016
Tenho assinalado que os processos de desnacionalização da
economia, de desindustrialização e de desestruturação do Brasil foram desencadeados desde o golpe de Estado
de agosto de 1954.
2. A corrupção na política e em instituições públicas e
privadas, que viabilizou esse golpe, tornou-se uma constante ao longo de nossa
história, desde então, ficando o País destituído de verdadeira autonomia.
3. Refiro-me à corrupção proveniente de fontes estrangeiras,
no interesse do sistema financeiro e dos carteis transnacionais, mais que à
gerada internamente, da qual se faz grande alarde, como instrumento de mais
intervenções contrárias aos interesses nacionais.
4. Em todas as intervenções políticas sofridas pelo País,
desde 1954, tem estado subjacente, a ameaça de intervenção armada estrangeira,
muitas vezes velada, salvo no próprio golpe de 1954 e no de março de 1964.
5. Ela faz parte do leque de instrumentos intervencionistas,
em que tem sobressaído, cada vez mais, a corrupção sistêmica, por parte de
fontes estrangeiras, valendo-se, pois, da Quinta Coluna, ampliada e
desenvolvida dentro do País ao longo dos últimos 62 anos.
6. A desnacionalização da economia, a desindustrialização e
a desestruturação - resultantes do modelo econômico implantado - produziram, entre outros efeitos perversos,
minar as finanças do País, formando dívidas públicas imensas.
7. A seguir, transformaram essas dívidas em fonte adicional
de empobrecimento, mediante a decretação de juros, correção monetária e outras
taxas exorbitantes, cuja capitalização as fez crescer exponencialmente.
8. De fato, a dívida
pública interna teve seu saldo multiplicado mais de 25 vezes, somente após a
edição do Plano Real (1994), cujos mentores fraudulentamente o proclamaram como
estabilizador da economia e da moeda, e eliminador da correção monetária.
9. A dimensão dessa mentira criminosa pode ser avaliada,
compulsando a taxa SELIC acumulada no ano seguinte ao Plano Real (1995): 53%
aa. Em 1994, já ultrapassara 12%.
10. Isso ilustra a cumulatividade do processo do processo de
subdesenvolvimento, já que o enfraquecimento financeiro decorrente do serviço
da dívida pública se soma ao proveniente das demais mazelas geradas pelo modelo
econômico: déficits externos colossais advindos da desnacionalização da economia,
superfaturamento escandaloso dos bens vendidos no Brasil pelas empresas e
carteis transnacionais, inclusive os das ex-estatais privatizadas,
infraestrutura inadequada e geradora de custos altos.
11. Tem feito parte dessa cascata de consequências
deletérias do modelo implantado desde 1954, debilitar as Forças Armadas,
abaixar a qualidade cultural, o grau de identificação das pessoas com a Nação,
o nível da educação em todos os graus, e causar o êxodo, por falta de
oportunidades de trabalho, de residentes qualificados.
12. Tudo isso concorre para explicar por que, em todos os governos, tenham, no cômputo geral,
prevalecido os interesses dos que saqueiam a economia do Brasil sobre os dos
residentes.
13. Explica também por que as potências imperiais, que
lideram esse saqueio, não precisaram recorrer a ameaças de intervenção armada
explícita nas diversas sucessões presidenciais ocorridas desde 1967.
14. Há que ter presente que essas potências não costumam
abster-se de tal tipo de intervenção, quando o julgam necessário, mesmo fora do
Continente Americano, incluídas as ilhas e o Mar do Caribe, considerado um lago
norte-americano, do ponto de vista real.
15. Atualmente, desde a participação da aviação e de mísseis
da Rússia para deter a devastação da Síria (repetindo as do Iraque e Líbia,
para citar só as mais recentes), o quadro do poder mundial pode estar tendo
modificação após a situação de 1990 em diante, quando o império anglo-americano
se viu de mãos livres para invadir direta ou indiretamente qualquer nação cuja
liderança estivesse deixando de cumprir integralmente os ditames imperiais.
16. Notável é que, não só na grande mídia brasileira - que
pratica, sem cerimônia, toda desinformação possível a serviço do império,
inclusive distorções semânticas das palavras – também o grosso da mídia dos
países ocidentais e Japão, entre outros, apoia sistematicamente a deformação
das consciências, ocultando-lhes a realidade dos fatos e inculcando-lhes preconceitos
e ideologias facilitadores da aceitação do governo mundial.
17. Exemplo impressionante disso é a cobertura da
intervenção militar por meio de mercenários e terroristas, patrocinada pelos
EUA e seus satélites da OTAN e regionais, por parte do jornal francês Le Monde.
18. Esse diário - que foi um dos mais acatados, mercê da
qualidade e independência dos jornalistas, proprietários dele – foi recebendo
participações de capital de grupos financeiros, até estes passarem a ditar a
linha editorial.
19. Assim, o Le Monde refere-se como “guerra civil”, à brutal intervenção armada estrangeira na
Síria - comandada pelo governo dos EUA,
que resolveu proclamar que o presidente da Síria, Assad, tem de sair, e
pronto. E só fala dos mercenários,
terroristas e degoladores do ISIS (Estado Islâmico), como os “rebeldes”, como
se fosse cidadãos locais em conflito com o respectivo governo.
DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA E INTERNA
Adriano Benayon – 01.03.2016
I – O que é a dívida?
O povo brasileiro sofre demais, em função da dívida pública,
cujo estoque passou de 4 trilhões de reais (em dezembro de 2015, R$ 3,94
trilhões) e envolve despesa no orçamento federal, próxima a 1 trilhão de reais
= 42% do total do orçamento.
2. Essa despesa equivale a 1/5 (um quinto ou 20%) do
PIB, muito superior ao total dos
investimentos públicos e privados realizados no País (14% do PIB). Se fosse
eliminada, o Brasil poderia investir na
economia e na infraestrutura econômica e social, percentual de 34% do
PIB. Certamente, mais que isso, pois, antes não investia tão pouco como
atualmente.
3. Essa dívida formou-se basicamente pela capitalização dos
juros absurdamente altos que o cartel dos bancos exige do Banco Central para
adquirir títulos do Tesouro: taxa SELIC mais margem, em torno de 3% aa., o que
eleva a atual taxa efetiva para mais de 17% aa.
4. Assim, a dívida
interna cresceu 30 vezes, de 1994 para cá.
1994 foi o ano do Plano Real, um conjunto de fraudes, entre as quais a de o “governo” de então
proclamar que a moeda estava estabilizada e que dever-se-ia acabar com a
correção monetária.
5. Em seguida, em
1995, as taxas SELIC, decretadas pelo Banco Central desse “governo” acumularam
53%. A dívida interna de R$ 136 bilhões
em dezembro de 1994, chegou agora a R$ 4 trilhões.
6. A dívida externa voltou a subir e retornou a patamar
muito alto (US$ 545,4 bilhões em dezembro de 2015), devido aos enormes déficits
de transações correntes com o exterior, que acumularam US$ 337,9, de dezembro
de 2010 ao final de 2015.
7. Além disso, o saldo dos investimentos diretos
estrangeiros, US$ 1 trilhão, mais os investimentos estrangeiros em carteira,
cerca de US$ 700 bilhões, elevam o passivo externo bruto a mais de US$ 2,2
trilhões (equivalente a R$ 8 trilhões, o dobro da dívida interna.)
8. A esse passivo externo ainda haveria que adicionar boa
parte da dívida interna, detida por estrangeiros e brasileiros residentes no
exterior. Diante disso, as reservas brasileiras (US$ 356,35 bilhões) e os
investimentos brasileiros no exterior, cerca de US$ 400 bilhões (difíceis de
retornar, em situações de crise) não significam situação confortável.
II – De onde vem a dívida pública brasileira?
9. Se não identificarmos as causas das dívidas que nos estão
sugando, de nada adiantaria acabar com elas, mesmo um milagre as extinguisse. Por que? Porque não se removendo
as causas, se estaria formando, em pouco tempo,
nova dívida tendente a crescer exponencialmente, como aconteceu com a
atual.
10. A dívida externa foi a primeira a surgir e a gerar
crises tremendas no País, agravadas por arrochos violentos sob a direção do
FMI.
11. Houve muitas dessas crises, desde o ponto de viragem
para o subdesenvolvimento, decorrente da deposição do presidente Vargas, em
1954. A primeira, ao final do mandato de J. Kubitschek, 1960/61.
12. Essa, como as seguintes recorrentes, resultou da
desnacionalização da economia, com a entrega aos carteis transnacionais dos
mercados industriais do País, desde janeiro de 1955. Então, foram baixadas as
Instruções da SUMOC, que propiciaram subsídios inacreditáveis, para esses
carteis, donos de grandes empresas em grande número de países se apoderarem de
nosso mercado industrial.
13. Esse crime contra o Brasil foi cometido pelo governo
egresso do golpe de 1954, por militares pró-EUA e políticos da UDN. São raríssimos os economistas que atribuem importância, a
tais modificações na política industrial e de capitais estrangeiros, aplicadas
com entusiasmo e ampliadas, por JK, enganosamente tido por desenvolvimentista.
14. Ele adotou o falso conceito da CEPAL (Comissão para a
América Latina das Nações Unidas), segundo o qual o importante era
industrializar-se, sem se importar com quem controla o capital e a tecnologia das indústrias.
15. Resultado: sob JK e sob os governos militares, o País
teve altas taxas de crescimento do PIB, por algum tempo, mas crescia errado.
Por isso, o Brasil pagou caro demais: décadas perdidas, desde a dos anos 80. A
dívida externa subiu de menos de US$ 1 bilhão em 1954, para US$ 90 bilhões em
1982.
16. Os falsos desenvolvimentistas jactaram-se da
industrialização, mas mentiam, ou ignoravam que o Brasil se industrializava na
primeira metade do Século XX, sem aporte significativo de investimentos diretos
estrangeiros.
17. O modelo de “desenvolvimento dependente” é uma contradição
em termos, uma impossibilidade. Promovendo e subsidiando os
“investimentos” estrangeiros, causou
fabulosos déficits externos, cujo financiamento, juntamente com os empréstimos
públicos para apoiar esses “investimentos”, fez a dívida externa crescer
exponencialmente.
18. A contradição foi defendida por FHC, no péssimo livro
Dependência e Desenvolvimento na América Latina (coautoria com Enzo Faletto).
19. Por essas e outras provas de ser inimigo dos interesses
nacionais, FHC foi conduzido pelo império anglo-americano à presidência da
República, a fim de aprofundar o desastre da economia brasileira, com as
privatizações, dando continuidade ao pacotão de leis antinacionais que Collor
fez o Congresso aprovar em menos de dois meses.
20. Diziam promover a industrialização e garantiram que o
País se desindustrializasse, consequência natural da desnacionalização da
economia, em razão de: a) empobrecimento do Brasil com os arrochos acarretados
pelas crises de dívida externa; b) praticarem os carteis transnacionais preços absurdos
(múltiplos de mais de 3 do real custo de produção) e transferirem os lucros para as matrizes,
através de vários mecanismos; c) concentrarem nas matrizes a produção dos
componentes de maior valor agregado e conteúdo tecnológico.
21. O resultado é a desindustrialização, não apenas por ter
o produto industrial caído a menos de 10% do PIB, mas por ser constituído, cada
vez mais, por bens intensivos de recursos naturais e decrescente conteúdo tecnológico.
22. São tendências terríveis e que se manifestam também em
termos do emprego, que decai tanto quantitativamente como do ponto de vista da
qualificação.
* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Hora de Decisão
Adriano Benayon * - 08.03.2016
O Brasil está em momento que exige decisão. Precisa agir
rápido para reverter o desastre estrutural implantado, desde há quase 62 anos,
que se completam em 24 de agosto próximo, data do golpe de Estado de 1954, a
partir do qual a desnacionalização da economia não cessou de aumentar.
2. Essa desnacionalização está na raiz da
desindustrialização, da apartheid tecnológica de que o País padece
crescentemente, da galopante dívida pública e do impressionante passivo externo
bruto, de US$ 2,2 trilhões (equivalente a R$ 8 trilhões, o dobro da dívida
interna e perto do dobro do PIB).
3. A perversidade do processo ilustrada por esses números
pode ser visualizada de forma ainda mais contundente, ao se considerar que o
brutal endividamento não decorreu de investimentos para melhorar alguma coisa
no País. Ao contrário, o arruinamento financeiro aconteceu simultaneamente com
a devastação do capital humano e a dos
recursos não renováveis e dos renováveis.
4. No referente à destruição do meio-ambiente fala-se muito
pouco do uso abusivo e poluidor das águas, praticado na agricultura do
agronegócio, em numerosos setores da indústria e sobre tudo na exploração
mineral. Tudo isso para realizar exportações muito mal pagas, como se verifica
através dos 340 bilhões de dólares de déficits acumulados nos últimos cinco
anos.
5. Igualmente ignorada, a destruição de seres humanos - não
só através da violência, mas da miséria e da falta de perspectiva - deveria reclamar que se entendam, e desse
modo, se eliminem as causas que a geram em números alarmantes e crescentes.
6. A longa estagnação do produto nacional bruto, desde as
décadas perdidas, iniciadas nos anos 80 – de resto, indissociável das gestões
dos governos anteriores a ela – transformou-se recentemente em queda
continuada.
7. E, quando se noticia a taxa de crescimento negativa do
PIB (produto interno bruto) de 3,8 % aa. , em 2015, deveria estar claro que o
poder aquisitivo da classe média e dos mais pobres que esta, caiu muitíssimo
mais que do que esses 3,8 % aa., a taxa do conjunto da economia.
8. De fato, no conjunto, tem peso cada vez maior o setor
financeiro, em que avultam os grandes bancos (aumentos em 2015 : Banco do
Brasil 28%, Itaú 15,4%, Bradesco 13,9%), além dos carteis transnacionais e
demais rentistas, cujos fabulosos lucros prosseguiram, em 2015, crescendo a
taxa média próxima a 20% aa.
9. Bem, que a crise é muito grave está claro. O que precisa
ser esclarecido é que suas causas principais são estruturais. Portanto, além de
não haver como afastá-las mediante a desestabilização e destituição, em curso,
da enfraquecida e insatisfatória presidente, é certo que elas seriam agravadas
com a investidura de qualquer dos sucessores previstos pela Constituição.
10. Para remover as causas do desastre, é indispensável: 1)
pelo menos, algumas pessoas capazes de exercer liderança, as entenderem; 2)
essas pessoas ganharem poder para instituir regime dotado de autonomia nacional
e independente de interesses especiais.
11. Vai em direção diametralmente oposta a essa o golpe de
Estado, em curso, que visa a substituir a presidente da República e proceder à
eliminação política de Lula, deixando o
País sem alternativa alguma à radicalização do processo de desestruturação
econômica, política e social.
12. Não que Lula e o PT sejam, ou sequer tivessem sido,
alguma vez, alternativa real, pois pouco passaram de um recurso dos
organizadores alienígenas da implantação do caos, quando estes frustraram -
mediante fraudes, corrupção, injeção de dinheiro na política e na mídia - qualquer chance que ainda pudesse ter o
trabalhismo liderado por Leonel Brizola.
13. De fato, a ditadura entreguista – mal disfarçada de
democracia - vem sendo implantada passo a passo, cumprindo roteiro e
planejamento baseados na lógica imperial, de acordo com a qual as concessões
obtidas permitem ganhar terreno, proporcionando além de vantagens imediatas – a
ocupação de espaço e poder para extorquir novas concessões.
14. As administrações petistas, apesar de adotarem muitas
iniciativas e medidas dignas de apoio, basicamente deram continuidade à
desestruturação entreguista e financeirista, vertiginosamente realizadas nos
governos de Collor e FHC.
15. Mas a desestabilização do PT decorre de coisas como
estas: 1) dos ganhos que os mentores do golpe pretendem auferir, atribuindo só à mais recente administração
desgraças que decorrem principalmente de deformações estruturais gestadas ao
longo dos últimos 62 anos; 2) ter feito investimentos em áreas estratégicas,
como petróleo, defesa, apoiado empresas brasileiras em obras e no exterior e se
aproximado dos BRICS.
* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Tirar os antolhos
Grande parte do povo brasileiro precisa livrar-se dos
antolhos que o fazem enxergar somente o que lhes mostra a televisão e as
revistas de “opinião” da grande mídia. Há também a visão monocular, que priva
do sentido de profundidade.
2. Falo dos instrumentos limitantes da visão política,
econômica e estratégica: a secular doutrinação ideológica e a massiva
desinformação, por parte da mídia movida a dinheiro e dos que a retroalimentam.
3. Não desminto a responsabilidade da atual chefe do
Executivo, nem a do ex-presidente Lula, em alguns dos fatos que têm sido
difundidos e magnificados pelos mentores do processo de desestabilização
daquela e de desmoralização deste.
4. Entretanto, não se deve ignorar que esse processo é
patrocinado e teleguiado do exterior, e
que seu objetivo está longe de ser o bem do País. Muito pelo contrário.
5. Ele ganha corpo, desde o mensalão, julgado no STF em 2012, e as manifestações de 2013,
para as quais foram divulgados os abusos nas despesas superfaturadas e
desnecessárias da construção de estádios e realização de obras para a Copa do
Mundo de 2014.
6. Há corrupção em tudo isso, como também nas relações das
empresas de engenharia com a Petrobrás.
Mas isso ocorreu, em dimensões até maiores, em administrações do PSDB e
outras, sem que fosse deblaterado pela mesma mídia que vergasta os petistas.
Mais grave, ainda: sem que sofra repressão do Ministério Público, da Polícia
Federal ou do Judiciário.
7. Exemplos de conduta condenável são as propinas de FHC
para obter o apoio de deputados à emenda da reeleição, o mensalão mineiro do
ex-governador Azeredo, o escandaloso superfaturamento de obras praticado por
administrações do PSDB em São Paulo, como
no anel rodoviário e no metrô.
Não menos gritantes, os negócios
escusos com a Petrobrás durante o governe FHC, o mais deletério que o País já
teve.
8. Também as calamitosas negociatas do BANESTADO, em que
foram desviados U$ 150 bilhões ao exterior, nos anos 90, viabilizadas por regulamentação das contas
CC5, pelo próprio Banco Central.
9. Veja-se a acusação das procuradoras Valquíria Nunes e
Raquel Branquinho, ajuizada em dezembro de 2003:
(http://www.oficinainforma.com.br/textos/acaocivil.rtf) em que pedem a
condenação por crime de improbidade administrativa de Gustavo Loyola, Gustavo
Franco, Ricardo Sérgio de Oliveira e mais 12 ex-dirigentes do Banco Central e
de mais cinco bancos.
10. Que dizer das privatizações lesivas ao patrimônio
público (dezenas de trilhões de dólares), cujas ilegalidades as fizeram ser
impugnadas por decisões judiciais, cassadas em liminares injustificáveis, até
hoje pendentes de julgamento?
11. Passando a coisas recentes, por que Eduardo Cunha
permanece presidente da Câmara, embora acusado, com provas, de delitos
gravíssimos, pelo procurador-geral da República?
12. Por que a grande mídia noticia tão pouco e distorce o que acontece na Operação Zelotes,
a qual envolve sonegação de impostos de
R$ 600 bilhões? Será porque estão envolvidos Cunha e outros figurões, além de
grande empresa midiática e concentradores econômicos?
13. Em suma, por que tão espantosa e inexplicável diferença de tratamento por
parte da grande mídia, do MP, da PF e de instâncias judiciárias ?
14. A resposta parecer ser que o regime tem regra
constitucional não-escrita, que dá liberdade de saquear e imunidade penal aos
que prejudicam o interesse nacional.
15. Outra regra diz: será perseguido aquele que, mesmo
fazendo enormes concessões contrárias ao País, o favoreça em algum aspecto. Daí
provém o assédio sobre Lula. Não adianta
jogar carne às feras: o apetite delas não diminui: muito pelo contrário.
16. O império, mesmo quando já obtém mais de 90% do que
deseja, quer 100%. Além disso, não admite qualquer governante ou partido que se
pretenda manter, por decênios, à frente do Executivo. Até Collor, que entregou
tudo, foi deposto, porque almejava perpetuar-se, mercê de dinheiro e da compra
de uma rede nacional de TV.
17. Em artigo de 15.03.2016 - A
Lavajato quer tirar Brasil do BRICS e CELAC – Beto Almeida observa que
os governos petistas retomaram políticas
valiosas para a economia e a defesa nacionais,
que remontam a medidas do presidente Geisel (1974-1978): apoio às empresas de engenharia nacionais,
que – graças ao poder de compra de Petrobrás - desenvolveram capacidade
competitiva em obras no exterior.
18. Recorde-se Henry Kissinger: “Não podemos tolerar o
surgimento de um novo Japão no Hemisfério Ocidental.” O império assegurou seu objetivo, desde agosto
de 1954, fazendo o Brasil entregar, com subsídios, às empresas transnacionais o
grosso dos mercados da indústria, iniciando a desnacionalização da economia
brasileira.
19. Atualmente, com a Lavajato, o império anglo-americano
faz demolir as empresas nacionais que sobreviveram à inviabilização, pela
política econômica, de atividades de elevado valor agregado.
* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
A presente crise
Adriano Benayon * - 30.03.2016
Muitos correspondentes perguntam como o Brasil poderia
livrar-se da crise econômica e política.
2. Trata-se, como em toda crise, de sintomas agudos das
perdas e da deterioração do organismo (no caso o País).
3. Iludem-se os que cogitam de que ela provém somente da
tentativa keynesiana, na gestão de Mantega na Fazenda, de elevar o
financiamento público para investimentos produtivos de grandes empresas.
4. A crise foi agravada com o término dessa política anticíclica, ao
iniciar-se, em 2012, o segundo mandato da presidente da República, e ser
adotada a brutal elevação dos juros, bem como cortes orçamentários, ambos danosos à economia e ao social, a pretexto de
sanar o desequilíbrio financeiro.
5. De fato, as duas coisas convergem para deprimir ainda
mais a economia e o emprego. E são contraditórias em relação ao pretenso
objetivo, pois a elevação dos juros - na dimensão que teve, e incidindo sobre
estoque de dívida interna de R$ 4 trilhões -
causa aumento da despesa pública muito superior ao corte de gastos.
6. Os efeitos não poderiam ser mais perversos. Significam violento
ataque sobre um organismo fraco, e que já sofreu, ao longo dos anos, crises
devidas ao crescimento errado e a sucessivas tentativas de correção, com danos
adicionais ainda mais pesados.
7. Por que o organismo ficou fraco? Devido a causas estruturais, que acarretam as crises.
A causa fundamental é desnacionalização, que conduz à desindustrialização e à
concentração. As três coisas não cessaram de aumentar nestes 62 anos.
8. As doenças socioeconômicas têm sido exponenciadas pela
deterioração das instituições políticas e pela profunda penetração política e
cultural (anticultural) dos carteis transnacionais e de entidades
internacionais e de potências estrangeiras.
9. Essas instâncias
intervêm no País, não só através de pressões financeiras, atribuídas ao
“mercado financeiro”, mas de pressões políticas, intensificando as causas
estruturais da insanidade.
10. A cada momento, surgem mais sintomas desse quadro
patológico. O Estadão noticia, em 28 do corrente:
“Só em São Paulo, 4.451 indústrias de transformação fecharam
as portas em 2015, número 24% superior ao de 2014.”
“Muitos trabalhadores demitidos não receberam salários e
rescisões. De acordo com o IBGE, entre novembro e janeiro, a indústria
brasileira fechou 1,131 milhão de vagas, recorde para um trimestre.”
11. Não são só pequenas empresas. Em Guarulhos, há pouco, as
metalúrgicas Eaton, Maxion e Randon encerraram suas atividades.
12. Nos implementos rodoviários houve retração de 50%. A
têxtil Polyenka, de Americana (SP), que já tivera 2.000 empregados, deixou de
produzir.
13. A MABE, linha
branca, também com 2.000 empregados, pediu falência em fevereiro e fechou as
fábricas de geladeiras Continental em Hortolândia e de fogões Dako em Campinas.
14. A grande empresa de autopeças Delphi fechou duas
fábricas em 2015, em Mococa (SP) e Itabirito (MG), e este ano completa a
transferência da unidade de Cotia para Piracicaba (SP). 1,7 mil trabalhadores
perderam os empregos.
15. Antes da queda de 8,7%, em 12 meses até janeiro de 2016
(dado do IBGE), a indústria caíra de 35% (anos 80) de participação no PIB, para
menos de 10%.
16. O País regride, em condições piores que as do início do
Século XX, à condição de exportador de bens primários. Avultam desastres
terríveis, como a lama tóxica da mina de ferro da SAMARCO (Vale
desnacionalizada e a transnacional Billiton), que devasta grandes áreas e o Rio
Doce, e até o mar. Há tragédias potenciais desse tipo.
17. Na agropecuária, desastre permanente de enormes dimensões,
determinado pela subordinação da estrutura econômica e da infraestrutura às
conveniências dos “mercados” importadores.
18. Veja-se: “O Brasil consome 20% dos agrotóxicos”. De longe, o maior do mundo no uso desses
venenos. Ademais, usa 14 agrotóxicos proibidos em outros países. Ora, a incidência de câncer é três vezes superior
à média em áreas contaminadas por agrotóxicos.
19. Em função do agronegócio, cujo objetivo é produzir para
países industrializados, metade da área utilizada pela agricultura no Brasil é
para a soja, quase toda transgênica.
20. Ademais, o cartel
transnacional das sementes transgênicas e fertilizantes e pesticidas químicos
impingiu a aceitação desses flagelos, que estragam solos, subsolos e águas, e
intoxicam agricultores e consumidores.
21. Grande número de brasileiros come alimentos cozinhados
com óleo de soja transgênica, sem informação
para procurar nos rótulos o microscópico T, nem dinheiro para opções de
oferta limitada.
22. O poder combinado das transnacionais e dos ruralistas,
grandes doadores de recursos de campanha, explica o apoio oficial a grandes
projetos mineradores e às fazendas industrializadas.
23. Os ruralistas têm quase a quase metade dos 594 parlamentares e tornaram
inócuas as leis proibitivas de plantas geneticamente modificadas.
24. Respondendo à pergunta inicial: com a permanência da
presidente ou sua derrubada, o cenário é péssimo, nada havendo a esperar de
honesto nem de salvador por parte dos pretendentes. O moralismo, manchado pela
seletividade, tem servido para intensificar a desnacionalização e a
desindustrialização, queda da produção e o desmonte da Petrobrás e empresas de
engenharia.
25. Não há saída sob o atual regime. Tampouco, sob um
calcado nos governos de 1964 a 1984.
* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
O Poder
Adriano Benayon * - 23.03.2016
A política trata do poder. Como ensinou Maquiavel - o principal mestre da ciência política – a
questão fundamental é conquistar e manter o poder.
2. O nome de Maquiavel ficou, para muitos, associado à crua
violência e à falta de escrúpulos que ele descreve, ao avaliar o jogo político.
Dizem e repetem que, para ele, os fins justificam os meios, e isso parece ser
uma condenação definitiva.
3. Antes de apreciar se essa condenação é bem fundada, e o
que está por trás dela, lembro que Maquiavel foi reverenciado por Spinoza,
grande gênio da filosofia do Século XVII, quando, a meu ver, a filosofia
atingiu seu cume.
4. Pode ter havido filósofos (não muitos) de valor
intelectual comparável a Spinoza, mas
nenhum de seu porte ético, o que é interessante em relação ao conceito que ele
teve de Maquiavel.
5. Não há como ignorar ou desprezar os fatos. Eles recaem
sobre as pessoas. Os povos e as nações têm sido vítimas de exploração, manipulações e violências inimagináveis, por
parte de oligarquias e tiranos. Não é fácil conceber que se possam liberar de
tais afrontas a suas vidas e à sua dignidade, sem recurso aos meios que viabilizam
dispor de poder.
6. Na lição do próprio Maquiavel, esses meios são o ouro e
as armas. No caso, entenda-se a palavra ouro representando a finança, incluindo
os patrimônios transformáveis em dinheiro, e o controle dos meios físicos de
produção, ou seja, o poder econômico, em seu todo.
7. Não admira que as oligarquias cuidem ciosamente de
concentrar esse poder, bem como de manter todo tipo de armas sob seu comando e
controle.
8. Diferenciemos os termos oligarquia e elite. Isso é, não
só importante, como, amiúde, deixado de lado. A oligarquia é um grupo de
pessoas ou famílias que usam seu poder dominando e subjugando os povos e as
nações.
9. Elite tem dois sentidos. Um, genérico, abrange também a
oligarquia e também qualquer grupo que se destaque por seu valor, incluindo
dotes como liderança, coragem,
inteligência, know-how.
10. Este é a elite, propriamente dita, grupo dotado de
valor, que tem por meta exercer o poder, assentado no consentimento e na
participação da maioria do povo, que precisa fortalecer, educar e preparar, até
para enfrentar a oligarquia.
11. Cabe, pois, à verdadeira elite, à qual devem ter acesso
oriundos de estratos populares, ligar-se à respectiva nação e liderá-la na
formulação de seus projetos de desenvolvimento econômico e social.
12. Maquiavel propugnava, para a Itália de seu tempo
(transição do Século XIV para o XV), o comando de um príncipe capaz de unificar
a nação, dividida em numerosos Estados e tendo regiões ocupadas por forças
militares de potências estrangeiras. Para ele, os príncipes assentariam seu
poder, tornando o povo contente.
13. Evidentemente, não havia como alcançar tais objetivos a
não ser pelos meios que secularmente sustentam o poder: ouro e armas.
14. Nos tempos atuais, é o império angloamericano que
recorre a esses meios em doses colossais, aos quais agrega mais recursos,
derivados desses dois: manipulação da informação, pela grande mídia – que
dispõe de recursos visuais e acústicos eletrônicos, técnicas de psicologia
social aplicada etc. - e por institutos, entidades, universidades e outros
centros formadores de opinião.
15. Ao mesmo tempo, concentra poder econômico, aumentando-o
principalmente por meio da finança, controlada pela oligarquia banqueira, e faz
na indústria de armamentos o grosso dos investimentos materiais.
16. Às nações é oferecido – para se iludirem, imaginando
participar do poder – o simulacro de eleições, cada vez mais manipuladas. Grana
distribuindo recursos para as campanhas eleitorais e dominando a grande mídia,
principalmente a televisiva, de maior impacto.
17. Isso não tem bastado para assegurar, de modo completo, o
aprofundamento da penetração imperial. Daí as “revoluções coloridas”, movidas
por serviços secretos das potências imperiais e entidades a elas ligadas, ONGs
etc., as quais promovem manifestações de rua, atentados etc..
18. Assim, realizam golpes institucionais, combinando a
pretensa vontade de manifestantes com a infiltração em poderes do Estado,
inclusive polícia federal e Ministério
Público.
* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade
de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Continuidade deletéria
Adriano Benayon * - 06.04.2016
Publiquei, este ano, artigo “O Golpe Permanente”, em que
resumi como as lamentáveis estrutura e infraestrutura econômica e social do
País são o resultado da continuidade, nos últimos 62 anos, de políticas
determinadas por interesses vinculados às potências imperiais ou, no mínimo,
capitulações diante de pressões dessas potências.
2. A continuidade, geralmente despercebida, tem prevalecido
sob governos e regimes díspares, incluindo os militares e os eleitos pelo voto
direto, e também os instalados através de eleições indiretas pelo Congresso
“Nacional”.
3. Essa realidade prossegue sob a presente “ordem”
constitucional, e perdurará, enquanto esta existir, como também sendo ela substituída por mais um regime incapaz de
conduzir o Brasil ao desenvolvimento econômico e social.
4. Tenho enfatizado que a corrupção mais profunda é de natureza distinta da que costuma ser
investigada pelas autoridades competentes e exposta ao público pelos meios de
comunicação social.
5. Muitos brasileiros estão divididos entre, os que
consideram que a preservação (?) do inexistente (mas oficialmente assim
definido) regime democrático depende de rejeitar o pedido de impeachment contra
a presidente da República, e os que julgam que esse regime somente sobreviverá
se conseguirem defenestrar a primeira mandatária.
6. Não obstante a segunda “alternativa” afigurar-se a mais
deletéria, o País terá agravados os seus desequilíbrios com qualquer desses
desfechos.
7. No deprimente espetáculo oferecido por políticos e
partidos, o PMDB apresentou mais um número digno de seu passado de conchavos
espúrios e deslavado fisiologismo, afastando-se do Executivo petista, de que
fez parte desde o primeiro mandato de Lula.
8. De fato, por todo esse tempo, caciques peemedebistas,
Temer, Cunha e outros, - além das cornucópias reservadas ao Legislativo, como
as emendas ao orçamento – desfrutaram de cargos e feudos na área do Executivo.
9. E já o haviam feito nos oito anos de FHC (PSDB),
cumpliciando-se em todos os atos de frontal desprezo aos interesses nacionais.
10. É manifesta a orfandade dos brasileiros no que dependa
da representação política, cujas mazelas independem da dualidade esquerda (PT,
PC doB ?) / direita (PSDB e aliados, agora reforçados pelo PSB, em traição às
memórias de seus fundadores).
11. Se a “direita”, é confessadamente alinhada às posições
defendidas pelo império angloamericano e em favor de sua oligarquia financeira,
os governos encabeçados pelo PT nunca deixaram de se acomodar com esta.
12. Isso vem desde
antes da primeira posse de Lula, quando este fez acordo de “governabilidade”,
no qual concordou em sufocar os movimentos que pleiteavam rever as grossas
bandalheiras das privatizações, em que foi dilapidado o grosso do patrimônio
público.
13. Recorde-se que o surgimento de Lula e do PT foi
patrocinado durante goveno militar, sob a direção de Golbery, ligado à CIA, a
fim de dividir a esquerda que, à época ainda contava com figuras nacionalistas
de expressão: Leonel Brizola e Miguel Arraes.
14. A escalada de Lula foi fomentada, não só pela ala
pró-EUA do governo militar, mas também pela grande mídia, tradicional
sustentáculo dos interesses dos carteis transnacionais, desde antes da
derrubada do presidente Vargas em 1954.
15. O apoio externo
ao sindicalista de resultados manifestou-se, de forma despercebida pelo
público, por exemplo, em cenários ilusórios de perseguição contra Lula, para
transformá-lo em suposta vítima do governo ditatorial, como o sobrevoo
ameaçador de concentração de seguidores, por helicópteros das FFAA.
16. Outro episódio marcante foram as fraudes contra Brizola
para que Lula obtivesse, por pequena margem, o segundo lugar no 1º turno da
fatídica eleição de 1989, que elevou Collor à presidência, para, entre outras
medidas devastadoras, fazer o Congresso aprovar, em 60 dias, pacote de leis tão
volumoso, como nocivo ao País.
17. Entretanto, fazendo justiça a Lula, lembre-se que ele,
no primeiro mandato, tomou algumas medidas favoráveis à economia e deteve
temporariamente a destruição da Petrobrás, encetada por FHC, desde a Lei
9.478/1997 e a infiltração de agentes de interesses externos na na ANP e na
estatal.
18. Lula pôs em posições executivas da Petrobrás, técnicos,
como Guilherme Estrella e Ildo Sauer, que dirigiram as descobertas das
grandiosas reservas do pré-sal, além de
ter conseguido aprovar a Lei que instituiu regime especial para a exploração dessas
reservas.
19. Mas a qualidade das administrações da Petrobrás não se
manteve no segundo mandato e deteriorou-se sob Dilma, com Graça Foster e muito
mais com Bendine.
20. As políticas deste são contraditórias e destrutivas,
como comprova: 1) o balanço de 2015, em que foram enganosamente desvalorizados
e subavaliados os ativos da empresa; 2) a açodada venda de parte substancial de
ativos.
21. É desastrosa a atuação da presidente Dilma, em áreas
cruciais como o petróleo e a eletricidade, em manteve o sistema de caos
programado instituído por FHC, e acabou consumando a virtual falência da
Eletrobrás.
22. Entretanto, constatar esses fracassos não leva a
concluir que a devastação do patrimônio do País não será ainda mais
incrementada, se o Executivo for assumido por qualquer dos opositores.
23. No próximo artigo, avaliarei antecedentes históricos das
mentirosas “alternativas” existentes no
cenário político.
* Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade de
Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Antecedentes da enganação
Adriano Benayon * - 13.04.2016
Dando continuidade ao golpe permanente, Comissão Especial da
Câmara dos Deputados aprovou, por 38 votos contra 27, a abertura do processo de
afastamento da presidente.
2. Denotando inominável falta de vergonha, votação dirigida
pelo presidente da Câmara, o qual, de há muito, deveria ter sido destituído.
3. O golpe permanente foi retomado, porque entre o de 1954 e
o anterior, de 20.10.1945, o da primeira derrubada de Getúlio Vargas, fora
interrompido em 1950, com a escolha deste em eleição direta.
4. O sistema mundial de poder da oligarquia
monárquico-banqueira angloamericana, de há muito, mascara sua dominação, por
meio de exterioridades “democráticas”, como pluralidade de partidos e
equilíbrio entre os “poderes do Estado”.
5. A tirania imperial sempre manteve agentes em numerosos
países, inclusive na França, por séculos, centro cultural mundial. Montesquieu fez propaganda do sistema
britânico, como se a família real não monopolizasse o poder. Inventou a teoria
dos controles e contrapesos e fomentou a ficção de o governo pertencer ao
Parlamento, eleito pelo “povo”.
6. No Reino Unido, os partidos conservador e
trabalhista revezam-se no poder formal.
Nos EUA, o republicano e o democrata. Qualquer deles ocupando oficialmente o
governo, o essencial das políticas não se altera: são determinadas pelo
complexo militar/serviços secretos e pela oligarquia financeira.
7. No Brasil, o simulacro cabe a alianças partidárias
rotuladas de “direita, centro e esquerda”.
8. De 1946 ao golpe de 1964, houve: 1) a UDN, que combinava
“moralismo”, fidelidade aos EUA e
oposição ferrenha a Vargas; 2) o PSD, de base rural e conservadora; 3) o PTB,
trabalhista, partido de Vargas; 4)
agremiações de todas as ideologias e sem nenhuma.
9. No regime criado em 1988, ficaram: o PSDB e aliados (DEM,
PPS, PP, PL etc.) alinhados, incondicional e assumidamente, ao sistema
imperial, contando, no governo, com o apoio do PMDB e outros; o PT.
10. Este, embora não mais se fingindo de esquerda, ocupou o
espaço desta. No governo, teve o apoio do PMDB e de mais políticos adictos ao
fisiologismo.
11. Claro, pois, que o presente regime depende do dinheiro e
da grande mídia e não oferece alternativa alguma digna de crédito.
12. Podem-se ver no antigo PSD o antecedente dos partidos
de falso centro, como o PMDB. Ele se
aliou ao PTB nas presidências de Vargas, JK e Goulart, auferindo as benesses
governamentais, mas tendia a trair as políticas trabalhista e nacionalista.
13. Isso se comprovou, nos momentos de dificuldade de Vargas
e Goulart e no quinquênio entreguista de JK, consumando-se no apoio à
conspiração político-militar pré-1964 e à eleição de Castelo Branco, o
presidente mais pró-EUA que já chefiou o Executivo.
14. JK, traindo os votos getulistas que o elegeram, executou
e ampliou políticas instituídas pelo golpe de 1954 – que derrubou Vargas para
assegurar a ocupação da indústria por empresas transnacionais, desencadeando a
desnacionalização da economia.
15. O desenvolvimentismo de JK tinha pés de barro, pois a
expansão do PIB estava associada à deterioração estrutural da produção e ao
desequilíbrio financeiro. Impulsionou, como nunca antes, a taxa de inflação,
causou déficits crônicos nas transações exteriores e fez cair o crescimento nos
anos seguintes.
16. Tudo isso foi encoberto por demagogias, como o
“rompimento” com o FMI, disfarçando de nacionalismo o que não passava de
irresponsabilidade financeira.
17. JK promoveu Castelo Branco, que sabia ser conspirador, a
pretexto de ser oficial competente, aumentando as possibilidades do golpe, a
que aderiu antes de consumado, e apoiou no Senado a eleição de Castelo. A
cassação de JK pelo regime militar lembra o lugar-tenente do heroi luso,
Viriato, que o entregou ao império romano e foi repelido ao cobrar a
recompensa.
18. Desmitifiquem-se mais ícones “democráticos”, como
Tancredo Neves. Ele foi ao Uruguai, em 1961, com Ernesto Geisel, da casa
militar de Jânio Quadros, convencer Goulart a concordar com a redução de
poderes, via emenda parlamentarista, e se tornou primeiro-ministro.
19. A investidura de Goulart na presidência foi possível
graças a Brizola, que conseguiu mobilizar e armar o povo do Rio Grande do Sul,
e obter apoio do 3º Exército, liderado pelo general Oromar Osório. A marcha do
Sul chegou a São Paulo e teria seguido para Brasília, não fora a timidez de
Goulart.
20. Quando diplomata em Washington, de 1978 a 1982,
inteirei-me de que Tancredo era considerado
boa opção civil em círculos norte-americanos que trabalhavam para descartar o
regime militar, desde medidas tomadas por Geisel, como o programa nuclear
(embora Geisel não seja, pelo conjunto da obra,
merecedor de admiração).
21. Por que, na eleição indireta de 1984, Tancredo derrotou
Maluf (agora retirado da lista da INTERPOL, após aderir ao golpe contra Dilma)
? A Arena, que apoiava Maluf, era majoritária no Congresso. Deixou de sê-lo,
para dar a vitória a Tancredo, através da dissidência que criou o PFL,
articulada por Marco Maciel, político vinculado às oligarquias local e mundial,
com ACM, Olavo Setúbal e Sarney.
22. A real significação de Tancredo não é dedutível de
declarações como “Não pagarei a dívida com a fome do povo”, que, de resto, não
envolve questionar as irregularidades e fraudes contidas nas dívidas.
23. Ela é inteligível: pela cartada comandada por Maciel;
pelos ministros que nomeou (até Francisco Dornelles na Fazenda!); por extensas
matérias da notória revista VEJA, com dados manipulados e elogios desmedidos ao
discutível governo de Tancredo em Minas Gerais.
Nota: Em 17.04.2016, a Câmara aprovou encaminhar ao Senado o
processo de impedimento, com 25 votos além dos requeridos 2/3. O que mais
impressionou, afora a ignorância de tantos representantes da prostituição
política reinante, foi o cinismo: enrolados na bandeira nacional, gritando
“Viva o Brasil!”, enquanto aceleram a demolição do pouco que falta para
completar a alienação da soberania nacional, operada de 1954 até hoje... O império
angloamericano vale-se de irrecuperável regime político, formado e controlado
por ele, e colhe mais frutos dos investimentos em ignorância e corrupção que
realiza, há mais de 70 anos, no País.
* Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade de
Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Benayon: Feito dependente químico, Brasil corre atrás de capital estrangeiro
Quatro dos seis filhos do professor Adriano Benayon vivem fora do Brasil. Canadá, Dinamarca, Holanda…
Ele diz que isso é sintomático. Jovens recém-formados que pretendem expressar seu conhecimento de forma criativa não encontram espaço em terras brasileiras.
Aqui, a dominação estrangeira da economia não prevê a criação de empregos de alta qualidade, reservados para centros tecnológicos de além-mar, com raríssimas exceções.
O próprio economista, doutor pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha, às vezes sente o impulso de mudar-se daqui. Argentina, talvez? Aparentemente o professor se sente isolado.
Não consegue travar o debate que vem propondo faz tempo. Pelo menos não com a repercussão necessária.
Adriano Benayon também foi diplomata. Serviu na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Além disso foi consultor parlamentar na Câmara e no Senado Federal.
Hoje morando em Brasília, prepara o lançamento de uma coletânea de seus escritos, Economia Política, pela Fundação João Mangabeira, ligada ao PSB. Seu livro anterior é Globalização versus Desenvolvimento.
O professor acredita que o debate sobre a economia brasileira — subir ou não os juros, mexer ou não nos reajustes do salário mínimo — foca no periférico para evitar o principal: a dependência do capital estrangeiro.
O Brasil, na visão de Benayon, está entregue. Não merece figurar nos chamados BRICs, ao lado de Rússia, Índia e China, pois não dispõe de grau de soberania equivalente ao dos outros três.
“O Brasil está amarrado pelos oligopólios”, afirma. Eles formam os preços praticados no Brasil, dando pouca margem de manobra ao governo de plantão, inclusive no controle da inflação.
Segundo Benayon, estas corporações fazem maquiagens contábeis para aumentar a remessa de lucros, obtém concessões tributárias de todo tipo e, através de prepostos, comandam setores da economia.
O poder oligopólico permite a elas formar os preços do jeito que bem entendem. É por isso que os brasileiros, por exemplo, pagam três vezes o valor de um mesmo automóvel vendido no Exterior.
“Tudo está voltado para servir pagamentos no Exterior”, diz ele.
O ex-presidente Lula ensaiou mudanças, em 2002. Por exemplo, quando colocou o economista Carlos Lessa para dirigir o BNDES.
Depois, no segundo mandato, segundo Benayon, Lula recuou.
Indicou Marina Silva para o ministério e Henrique Meirelles para o Banco Central. Este, notadamente ligado ao Banco de Boston. Aquela, hoje possível candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, do PSB, ligada ao capital financeiro britânico que controla, entre outros, o banco Santander.
Dilma Rousseff, na visão de Benayon, retomou a agenda que vem de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, segundo o professor, o Brasil vive sob governos mais ou menos entreguistas desde o golpe da UDN contra Getúlio Vargas, em 1954. No início de 1955 foram tomadas medidas econômicas que deram grandes vantagens às montadoras de veículos, dentre as quais a Volkswagen.
Juscelino Kubistchek seria, portanto, um falso desenvolvimentista. As vantagens ao capital estrangeiro foram aprofundadas durante a ditadura militar. Collor, Itamar, Sarney, FHC. O tucano, na visão de Benayon, foi o grande entreguista. Vendeu a Vale. Promoveu as privatizações. Criou as agências reguladoras que são biombos das empresas que deveriam vigiar.
Numa delas, a Agência Nacional do Petróleo, hoje em dia está instalada Magda Chambriard, denunciada como “entreguista” por nacionalistas que militam no setor do petróleo, com os quais Benayon se identifica.
FHC passou a lei complementar 87, conhecida como Lei Kandir, em 13 de setembro de 1996. Com isso, ficaram isentos de ICMS os produtos primários destinados à exportação. Ponto para as mineradoras controladas pelo capital internacional, dentre as quais a Vale — e para os capitalistas brasileiros associados a ele.
FHC também passou a lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, que acabou com o monopólio da Petrobras em todas as atividades relativas ao setor do petróleo e abriu espaço para concessões a empresas estrangeiras. FHC colocou à venda parte das ações da empresa na bolsa de Nova York. Queria mudar o nome da estatal para Petrobrax.
Dilma Rousseff, com as concessões de estradas e aeroportos e o leilão de Libra, na opinião de Benayon segue a mesma trilha: a tentativa de atrair capital estrangeiro para fechar as contas.
Este é, na avaliação do professor, o verdadeiro problema da economia brasileira. Um fluxo permanente de recursos para o Exterior. Enfrentado com medidas para atrair mais dinheiro de fora. Por exemplo, com a elevação das taxas de juros. O dinheiro vem, mas remunerado nas alturas. E o trabalho do povo brasileiro, em vez de financiar investimentos no próprio Brasil, é desviado para remunerar o capital estrangeiro. Cada vez mais.
A dívida interna, resultado da dívida externa, já bateu em R$ 3 trilhões. Os juros e amortizações comem mais de 40% do Orçamento. Falta dinheiro para fazer os hospitais, as escolas e as creches que os jovens reclamaram nas ruas em 2013.
Adriano Benayon compara a situação à dependência química. O dependente, no caso o Brasil, combate a crise de abstinência com mais da droga que está na origem do problema.
Sendo assim, na avaliação dele uma crise nas contas externas é apenas questão de tempo. Como, aliás, tem sido: de forma cíclica. O arrocho, na forma de desemprego, inflação e deterioração da qualidade de vida, seria o resultado inevitável — como se dá, aliás, hoje em dia, na periferia da Europa. Arrocho para garantir o dinheiro que remunera o capital investido no Brasil.
[Talvez de olho no futuro, O Globo já prega a mudança na fórmula de reajuste do salário mínimo]
Provoquei o professor Benayon: mas, se a situação é assim tão grave, por que não sai na mídia comercial? Ele riu. Entendi a resposta: a mídia patronal é aquela que ajuda a sustentar o modelo, é patrocinada pelos grandes oligopólios que controlam setores completos da economia brasileira e não tem interesse no debate que, modestamente, esperamos ajudar a travar.
Aliás, só podemos fazê-lo graças à contribuição dos assinantes do Viomundo — que, como todos os nossos leitores, acreditam no jornalismo independente.
Fiquem com a íntegra da entrevista do professor Benayon, em duas partes:
“Há uma quantidade de capital brasileiro no exterior muito maior do que o total investido anualmente no país pelo conjunto do capital nacional, inclusive o estatal, e o estrangeiro”, diz o economista.
Confira a entrevista.
O projeto desenvolvimentista em curso no país desde 1954, apoiado no ingresso de capital estrangeiro, intensificado no governo Juscelino Kubitschek e, posteriormente, na ditadura militar, levou a economia brasileira a um processo de desnacionalização. Na avaliação do economista Adriano Benayon, isso é consequência de uma política econômica “contrária aos interesses nacionais”, e que criou “imensos atrativos para o capital estrangeiro, alegando haver necessidade de poupança externa para complementar a nacional”. Segundo ele, a reestruturação do capitalismo brasileiro beneficia as empresas transnacionais, que “gozam do privilégio de ter custo de capital e de tecnologia praticamente zero no Brasil”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Benayon enfatiza que a desnacionalização em curso nos últimos 60 anos levou à desindustrialização, e tem tornado a indústria “menos competitiva internacionalmente”. Na avaliação dele, se um país deseja ser competitivo e alcançar o progresso, “não deve de modo algum favorecer, em desfavor das locais, empresas de porte muitíssimo maior que essas e experientes tecnologicamente, através da produção e das vendas em mercados de alta renda e grande dimensão”. E reitera: “Só com firmas nacionais competindo no mercado é viável a acumulação de capital e de tecnologia no país”. Crítico do ingresso de capitais estrangeiros na economia nacional, o economista esclarece que “eles sempre foram desnecessários e continuam sendo. Além disso, são contraproducentes, porque acabam retirando muito mais capital do país do que o que fazem ingressar nele”.
Adriano Benayon é formado em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha. Foi professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. É autor de Globalização versus Desenvolvimento (São Paulo: Ed. Escrituras, 2005).
Confira a entrevista.
O projeto desenvolvimentista em curso no país desde 1954, apoiado no ingresso de capital estrangeiro, intensificado no governo Juscelino Kubitschek e, posteriormente, na ditadura militar, levou a economia brasileira a um processo de desnacionalização. Na avaliação do economista Adriano Benayon, isso é consequência de uma política econômica “contrária aos interesses nacionais”, e que criou “imensos atrativos para o capital estrangeiro, alegando haver necessidade de poupança externa para complementar a nacional”. Segundo ele, a reestruturação do capitalismo brasileiro beneficia as empresas transnacionais, que “gozam do privilégio de ter custo de capital e de tecnologia praticamente zero no Brasil”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Benayon enfatiza que a desnacionalização em curso nos últimos 60 anos levou à desindustrialização, e tem tornado a indústria “menos competitiva internacionalmente”. Na avaliação dele, se um país deseja ser competitivo e alcançar o progresso, “não deve de modo algum favorecer, em desfavor das locais, empresas de porte muitíssimo maior que essas e experientes tecnologicamente, através da produção e das vendas em mercados de alta renda e grande dimensão”. E reitera: “Só com firmas nacionais competindo no mercado é viável a acumulação de capital e de tecnologia no país”. Crítico do ingresso de capitais estrangeiros na economia nacional, o economista esclarece que “eles sempre foram desnecessários e continuam sendo. Além disso, são contraproducentes, porque acabam retirando muito mais capital do país do que o que fazem ingressar nele”.
Adriano Benayon é formado em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha. Foi professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. É autor de Globalização versus Desenvolvimento (São Paulo: Ed. Escrituras, 2005).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Percebe uma reestruturação do capital brasileiro e internacional? Quais são as razões?
Adriano Benayon – Certamente. Quanto ao Brasil, os capitais de maior vulto têm tido pouco espaço no país, dado que os setores da economia produtiva têm sido ocupados por transnacionais estrangeiras, favorecidas pela política econômica por subsídios de várias ordens, desde setembro de 1954, logo após o golpe de Estado que derrubou o presidente Getúlio Vargas.
Com isso, hoje o principal do grande capital brasileiro está nos bancos e nas empreiteiras, as quais trabalham também no exterior. Mesmo nos bancos há presença significativa do capital estrangeiro, desde o governoFernando Henrique Cardoso – FHC. O propósito deste, a serviço de interesses externos, foi apagar o que restava da Era Vargas. Assim, um dos cinco maiores bancos em atividade no Brasil é o Santander, vinculado ao grupo Alpha, da Inglaterra, através do Royal Bank of Scotland. Esse banco abocanhou o Banespa, o maior banco estadual do mundo, por cifra ridiculamente baixa em relação aos ativos do banco, e livre de passivos, pois a União, através do PROES, os sanou antes da privatização. E há outros bancos estrangeiros importantes, como o HSBC.
Capital externo
O expressivo montante dos ativos de brasileiros em refúgios fiscais no exterior (offshore tax-havens), de 562 bilhões de dólares, é indicativo da peculiar condição de um país onde nunca faltaram capitais, mas cuja política econômica – de forma contrária aos interesses nacionais – criou imensos atrativos para o capital estrangeiro, alegando haver necessidade de poupança externa para complementar a nacional. Ao contrário do que ocorre aqui com as transnacionais, o grosso dos capitais brasileiros no exterior não controla atividades produtivas.
Quanto ao capital internacional também caberia melhor o termo “desestruturação” do que reestruturação, porque a principal mudança foi, desde, pelo menos, 1980, a hipertrofia do capital financeiro e a perda de importância relativa do capital aplicado na produção real. Isso resultou da concentração. Esta leva a que as oportunidades de investimento na produção se tornem cada vez menores em relação à acumulação de capital resultante dos lucros oligopolistas.
Concentração de capital
A concentração do capital faz também com que cresça a concentração de renda. E foi a queda relativa do poder aquisitivo de 80% a 90% da população que fez minguar o investimento do capital na produção, já que só se investe se se prevê demanda. Isso tudo levou à extrema financeirização do capital, e essa é a principal mudança estrutural em âmbito mundial, à exceção de poucos, como a China.
A financeirização, por sua vez, levou ao primeiro surto do colapso financeiro, em 2007, e à depressão econômica nos EUA, Europa e Japão, entre outros. A concentração é a tendência normal na economia capitalista. Para atenuá-la, teriam de ter sido adotadas políticas públicas em favor da desconcentração. Entretanto, nos EUA, desde o início dos anos 1980, e especialmente dos anos 1990, não só não se fez qualquer coisa para deter a concentração como também foram revogadas as principais leis que regulavam os mercados financeiros.
Assim, juntou-se a avalanche de ganhos oligopolistas do grande capital, causadora de grande oferta de capitais, com adesregulamentação do setor financeiro, em que predominam operações alavancadas, i.e., realizadas sem estarem cobertas senão por uma pequena fração de seu valor. Tudo isso contribuiu para que, em 2007, os derivativos não contabilizados nos balanços dos bancos ultrapassassem a inacreditável soma de 600 trilhões de dólares.
Como novos derivativos têm sido criados, essa soma não foi significativamente reduzida com a liquidação forçada de talvez US$ 40 bilhões desses ativos, em todo o mundo, às custas dos contribuintes, mediante a intervenção dos bancos centrais e governos, na realidade governados pelos grandes bancos. Grande parte dos títulos podres foi vendida por seu valor nominal (quando não valem nem 15% deste), em incríveis negociatas. Em suma, o colapso financeiro mundial não mostra sinais de estar sendo debelado.
IHU On-Line – Desde que momento está ocorrendo o processo de desnacionalização da economia brasileira? Ela é uma tendência internacional ou acontece apenas em alguns países?
Adriano Benayon – Desde 1954. A globalização, que se estendeu muito desde o final da segunda guerra mundial, envolveu, em escala crescente, a aquisição de empresas em países que não os da transnacional adquirente, além dos investimentos diretos estrangeiros. A globalização aconteceu na maioria dos países com intensidades diferentes. Ela afeta de modo mais grave os países que não se haviam desenvolvido, nos quais ela asfixia o capital local e intensifica a concentração. Essas duas coisas tornam impossível o desenvolvimento econômico e social.
Implicações nos países não desenvolvidos
Mas os países não desenvolvidos reagiram de forma diversa à globalização: Coreia do Sul e Taiwan tinham de manter o comércio exterior aberto, mas evitaram, tanto quanto puderam, os investimentos diretos estrangeiros e conseguiram que as transnacionais não dominassem suas economias. O Brasil inicialmente manteve muitas barreiras ao comércio, mas onde deveria ter-se defendido não o fez. Não só se abriu aos investimentos diretos estrangeiros como lhes deu benefícios enormes. Então, a indústria da Coreia do Sul e a de Taiwan, mesmo partindo de base muito baixa em 1960, e sendo esses países carentes de recursos naturais, eles superam hoje em muito, qualitativamente, a indústria do Brasil e a da Argentina.
Eu explico em meu livro “Globalização versus Desenvolvimento” que o Estado na Coreia do Sul e em Taiwan, repetindo o Japão e o que fizeram todos os países que se desenvolveram, apoiou as empresas nacionais de todos os modos. No Brasil, as nacionais foram grandemente prejudicadas pela política econômica que, ao mesmo tempo, favoreceu as transnacionais.
Ora, isso contraria toda lógica: pois, se você quer competição e progresso, você não deve de modo algum favorecer, em desfavor das locais, empresas de porte muitíssimo maior e experientes tecnologicamente, através da produção e das vendas em mercados de alta renda e grande dimensão. Só com firmas nacionais competindo no mercado é viável a acumulação de capital e de tecnologia no país.
O resultado da política de “atração aos investimentos estrangeiros” é lastimável e está à vista de todos não só nas degradadas periferias das grandes cidades, mas também dentro delas. Esse resultado demonstra bem, mais de cinquenta anos depois, a falsidade do desenvolvimento sob Juscelino Kubitschek, e, cerca de 40 anos depois, a dos supostos milagres econômicos de alguns dos governos militares.
IHU On-Line – Quais são os setores econômicos nacionais mais atrativos para o capital internacional?
Adriano Benayon – Na realidade, todos, pois a coisa começou na indústria, depois estendeu-se aos serviços, como se vê hoje, na hotelaria, no turismo etc. e no agronegócio. Um dos mais rendosos é certamente o dos bancos.
IHU On-Line – Quais os riscos e implicações desse processo para o desenvolvimento da nação, e fortalecimento da economia? Quais são os setores econômicos brasileiros mais prejudicados por causa dessa política de investir em transnacionais?
Adriano Benayon – Os riscos são a iminente crise no Brasil, com a bolha de crédito já desenhada e demais gargalos decorrentes da infraestrutura econômica e social (saneamento, saúde, educação). Eu diria que danos imensos já ocorreram em grande escala. Diria também que o risco é de esses danos continuarem aumentando.
Na direção em que se está indo, o risco não é apenas o apontado pelo professor José Luís Oreiro, de o subdesenvolvimento tornar-se eterno em nosso país. É o risco é de este ser desagregado, deixando de existir como país.
IHU On-Line – Pode-se dizer que a desnacionalização tem contribuído para acentuar o processo de desindustrialização?
Adriano Benayon – Sem a menor dúvida. A desnacionalização levou à industrialização, e o setor industrial, cuja participação no PIB já andou aí pelos 35%, caiu para 15%. Essa é a queda quantitativa expressada nessa proporção.
Ela decorre de a indústria ter-se tornado menos competitiva internacionalmente, o que é facilitado pela política econômica, que abriu o mercado na indústria e isentou de impostos a exportação de produtos primários (Lei Kandir/Collor). Sem falar na taxa de câmbio, que se valorizou por causa da entrada de capital do exterior na compra de títulos públicos. Portanto, a dívida, consequência do modelo dependente, também contribui muito para a desindustrialização.
Também qualitativamente a queda é abissal, pois, com maior intensidade nos últimos 30 anos, produções da indústria e dos serviços de maior valor agregado e conteúdo tecnológico têm saído do Brasil, sendo agora realizadas no exterior.
Além disso tudo, a indústria se tornou menos competitiva em razão do que expus no recente artigo “O custo da desnacionalização”: em suma, os altos custos de produção, apesar do baixo custo real de produção. Como assim? Respondo: as transnacionais gozam do privilégio de ter custo de capital e de tecnologia praticamente zero no Brasil. Entretanto, em sua contabilidade superfaturam as importações de produtos finais e de insumos (o que cresceu com a abertura comercial) e subfaturam exportações. Ademais, pagam às matrizes por transferência – inexistente – de tecnologia e por outros supostos serviços. Daí preços altos, em contraste com custos baixos.
Também mostrei que a descapitalização do país, resultante do modelo, leva a baixo investimento público na infraestrutura econômica e na social, ademais de os investimentos serem mal direcionados, pois os governos têm preferido atender aos interesses dos fornecedores (muitos transnacionais) dos bens e serviços a cuidar dos interesses nacionais.
IHU On-Line – Por quais razões os grupos econômicos se tornaram mais robustos e sólidos do que o Estado? A globalização econômica, por si só, explica essa mudança? E por que os Estados incentivam a solidificação desses grupos transnacionais, especialmente o Estado brasileiro?
Adriano Benayon – Essas tendências existem há muitos séculos. A globalização, como a maioria das políticas, foi promovida sob a influência, para não dizer a comando, dos grupos econômicos sobre os governos. Isso no caso do Brasil foi muito extenso e profundo. Como disse no artigo citado, aí reside a maior – e menos conhecida – corrupção.
IHU On-Line – Diante da globalização econômica e da atuação internacional das empresas, qual a possibilidade de os países fazerem escolhas no sentido de fortalecer a economia nacional e diminuir a intervenção internacional? Quais os limites nesse sentido?
Adriano Benayon – Precisam de uma tomada de consciência, que vá incluindo mais pessoas, e pessoas determinadas a mudar o presente estado de coisas. A vontade humana, bem inspirada, pode levar a êxitos inacreditáveis. Os limites são os atuais sistemas políticos nas “democracias” de modelo ocidental, em que a pluralidade de partidos, eleições periódicas etc. passam por democracia, mas não o são. Está tudo manipulado através da massa de dinheiro nas eleições e do controle absoluto da grande mídia por parte dos concentradores.
IHU On-Line – Recentemente circulou na imprensa a informação de que 60% dos recursos do BNDES são destinados ao investimento das grandes empresas. O banco tem contribuído para esse processo de desnacionalização?
Adriano Benayon – Certamente.
IHU On-Line – Em artigo recente o senhor menciona que os investimentos diretos estrangeiros registrados no Brasil de 1947 a 2008 totalizaram mais de 222 bilhões de dólares, mas as rendas remetidas do Brasil para o exterior, entre 1995 e 2008, somam mais de 292 bilhões. O que estes dados sinalizam?
Adriano Benayon – Eles ilustram o resultado da estrutura econômica e social determinada pela desnacionalização. E essa é apenas uma das ilustrações de que o Brasil está manietado em seu desenvolvimento.
IHU On-Line – Diante de tantas fusões, é possível saber se ainda há bastante capital nacional no Brasil? Há mais capital “nacional” no exterior?
Adriano Benayon – Talvez o que há seja suficiente para multiplicar por dez o volume dos produtivos no país, hoje em nível baixíssimo, por ter sido o Brasil coagido a adotar o modelo dependente. Como mencionei, há uma quantidade de capital brasileiro no exterior muito maior do que o total investido anualmente no país pelo conjunto do capital nacional, inclusive o estatal, e o estrangeiro.
IHU On-Line – Por que o senhor não é favorável ao ingresso de capitais no país?
Adriano Benayon – Em primeiro lugar, eles sempre foram desnecessários e continuam sendo. Além disso, são contraproducentes, porque acabam retirando muito mais capital do país do que o que fazem ingressar nele. Se tivéssemos estrutura política como a da China, poderíamos receber capitais estrangeiros com vantagem para o país. Mas aqui é diferente: o sistema político, aberto à influência do dinheiro concentrado nas eleições, inviabiliza políticas favoráveis à sociedade.
Note-se que, quando as eleições puseram Vargas no governo, mesmo contra a grande mídia, inteira, que o denegria, o capital estrangeiro ainda não se tinha apropriado do grosso da economia. Além disso, havia mais trabalhadores assalariados em relação à população total. Getúlio venceu em São Paulo, onde estava o grosso da indústria, por maioria superior às vitórias tidas nos demais Estados. E em São Paulo estava o principal foco da oposição a ele, em classes mais abastadas.
Quando da “redemocratização” com a Constituição de 1988, o sistema de poder já se podia arriscar de novo ao processo das eleições pluripartidárias. Antes, não. Vargas vencera em 1950, e então houve intervenção através do golpe de Estado de 1954, dirigido, como o de 1964, pela oligarquia anglo-americana, cujos serviços secretos trabalharam, durante anos, para esses eventos.
IHU On-Line – Quais os desafios da economia brasileira diante da conjuntura atual, de crise internacional e do processo de desnacionalização? É possível reverter esse quadro?
Adriano Benayon – Sugeri algo nesse sentido, em resposta anterior. É possível reverter o quadro, desde que nos livremos das ilusões inculcadas nas mentes dos brasileiros ao longo de dezenas de anos.
IHU On-Line – Como o governo Dilma tem se posicionado diante desta desnacionalização?
Adriano Benayon – Parece não morrer de amores por ela, e tenta atenuar alguns de seus efeitos. Mas, no essencial, acomoda-se a ela.
IHU On-Line – Muitos economistas consideram o governo Dilma, do mesmo modo que o ex-governo Lula, neodesenvolvimentista. O senhor concorda? Que modelo de desenvolvimento o Estado projeta para o país?
Adriano Benayon – A meu ver, esses economistas não têm ideia clara do que seja desenvolvimento e julgam ter sido o governo de JK gerador de desenvolvimento. JK dizia-se desenvolvimentista. Pela mesma razão, esses economistas consideram que Dilma tenta se aproximar de algo parecido com as políticas de JK.
A semelhança é que JK manteve e ampliou os subsídios para as transnacionais estrangeiras ocuparem o mercado brasileiro e que Lula/Dilma manteve os desastres institucionais implantados por Collor e principalmente por FHC, como as privatizações, as concessões, as agências reguladoras, que servem às prestadoras dos serviços públicos privatizados, e não aos consumidores.
Lula, tal como FHC, pressionou o Congresso para aprovar emendas constitucionais das reformas tributária e previdenciária, a Desvinculação das Receitas Tributárias – DRU. Manteve também a Lei de “Responsabilidade Fiscal” e tudo mais que o sistema de poder mundial mandou instituir, na era de FHC, em favor dos banqueiros beneficiários dos absurdos juros da dívida pública, inviabilizando adicionalmente a capacidade de as empresas nacionais competirem nos mercados.
Lula e Dilma
Lula e Dilma não seriam tão monoliticamente defensores do capital estrangeiro, nem decididos anuladores das possibilidades de sobrevivência das empresas de capital nacional quanto o foi o “governo” de FHC. Mas principalmente Lula cedeu às pressões com facilidade.
Dilma tenta elevar o baixíssimo quantum dos investimentos públicos, que prevalece desde o início da década perdida, dos anos 1980. Na realidade, a dos anos 1990 foi mais desastrosa, devido às privatizações e demais transformações institucionais voltadas para sufocar em definitivo o desenvolvimento do país. Mas Dilma não tem conseguido êxito. O absurdo serviço da dívida pública, a qual nunca foi auditada, consome dinheiro demais, e a redução da taxa Selicainda não afetou significativamente essas despesas que aleijam a capacidade de o governo investir.
O programa de investimentos públicos federais depende das parcerias público-privadas, um modelo incompatível com a política de um Estado capaz de comandar e orientar o processo de desenvolvimento.
Os Estados estão manietados inclusive pelo serviço de suas dívidas para com a União. As estatais – que hoje são poucas – e com a Petrobrás prejudicada desde a era FHC e sem reversão tampouco disso – pouco investem em montante e em qualidade suficientes para impulsionar um desenvolvimento real. Este, de resto, depende também do setor privado, e o modelo dos últimos quase 60 anos o foi eliminando em favor das transnacionais.
IHU On-Line – Percebe uma reestruturação do capital brasileiro e internacional? Quais são as razões?
Adriano Benayon – Certamente. Quanto ao Brasil, os capitais de maior vulto têm tido pouco espaço no país, dado que os setores da economia produtiva têm sido ocupados por transnacionais estrangeiras, favorecidas pela política econômica por subsídios de várias ordens, desde setembro de 1954, logo após o golpe de Estado que derrubou o presidente Getúlio Vargas.
Com isso, hoje o principal do grande capital brasileiro está nos bancos e nas empreiteiras, as quais trabalham também no exterior. Mesmo nos bancos há presença significativa do capital estrangeiro, desde o governoFernando Henrique Cardoso – FHC. O propósito deste, a serviço de interesses externos, foi apagar o que restava da Era Vargas. Assim, um dos cinco maiores bancos em atividade no Brasil é o Santander, vinculado ao grupo Alpha, da Inglaterra, através do Royal Bank of Scotland. Esse banco abocanhou o Banespa, o maior banco estadual do mundo, por cifra ridiculamente baixa em relação aos ativos do banco, e livre de passivos, pois a União, através do PROES, os sanou antes da privatização. E há outros bancos estrangeiros importantes, como o HSBC.
Capital externo
O expressivo montante dos ativos de brasileiros em refúgios fiscais no exterior (offshore tax-havens), de 562 bilhões de dólares, é indicativo da peculiar condição de um país onde nunca faltaram capitais, mas cuja política econômica – de forma contrária aos interesses nacionais – criou imensos atrativos para o capital estrangeiro, alegando haver necessidade de poupança externa para complementar a nacional. Ao contrário do que ocorre aqui com as transnacionais, o grosso dos capitais brasileiros no exterior não controla atividades produtivas.
Quanto ao capital internacional também caberia melhor o termo “desestruturação” do que reestruturação, porque a principal mudança foi, desde, pelo menos, 1980, a hipertrofia do capital financeiro e a perda de importância relativa do capital aplicado na produção real. Isso resultou da concentração. Esta leva a que as oportunidades de investimento na produção se tornem cada vez menores em relação à acumulação de capital resultante dos lucros oligopolistas.
Concentração de capital
A concentração do capital faz também com que cresça a concentração de renda. E foi a queda relativa do poder aquisitivo de 80% a 90% da população que fez minguar o investimento do capital na produção, já que só se investe se se prevê demanda. Isso tudo levou à extrema financeirização do capital, e essa é a principal mudança estrutural em âmbito mundial, à exceção de poucos, como a China.
A financeirização, por sua vez, levou ao primeiro surto do colapso financeiro, em 2007, e à depressão econômica nos EUA, Europa e Japão, entre outros. A concentração é a tendência normal na economia capitalista. Para atenuá-la, teriam de ter sido adotadas políticas públicas em favor da desconcentração. Entretanto, nos EUA, desde o início dos anos 1980, e especialmente dos anos 1990, não só não se fez qualquer coisa para deter a concentração como também foram revogadas as principais leis que regulavam os mercados financeiros.
Assim, juntou-se a avalanche de ganhos oligopolistas do grande capital, causadora de grande oferta de capitais, com adesregulamentação do setor financeiro, em que predominam operações alavancadas, i.e., realizadas sem estarem cobertas senão por uma pequena fração de seu valor. Tudo isso contribuiu para que, em 2007, os derivativos não contabilizados nos balanços dos bancos ultrapassassem a inacreditável soma de 600 trilhões de dólares.
Como novos derivativos têm sido criados, essa soma não foi significativamente reduzida com a liquidação forçada de talvez US$ 40 bilhões desses ativos, em todo o mundo, às custas dos contribuintes, mediante a intervenção dos bancos centrais e governos, na realidade governados pelos grandes bancos. Grande parte dos títulos podres foi vendida por seu valor nominal (quando não valem nem 15% deste), em incríveis negociatas. Em suma, o colapso financeiro mundial não mostra sinais de estar sendo debelado.
IHU On-Line – Desde que momento está ocorrendo o processo de desnacionalização da economia brasileira? Ela é uma tendência internacional ou acontece apenas em alguns países?
Adriano Benayon – Desde 1954. A globalização, que se estendeu muito desde o final da segunda guerra mundial, envolveu, em escala crescente, a aquisição de empresas em países que não os da transnacional adquirente, além dos investimentos diretos estrangeiros. A globalização aconteceu na maioria dos países com intensidades diferentes. Ela afeta de modo mais grave os países que não se haviam desenvolvido, nos quais ela asfixia o capital local e intensifica a concentração. Essas duas coisas tornam impossível o desenvolvimento econômico e social.
Implicações nos países não desenvolvidos
Mas os países não desenvolvidos reagiram de forma diversa à globalização: Coreia do Sul e Taiwan tinham de manter o comércio exterior aberto, mas evitaram, tanto quanto puderam, os investimentos diretos estrangeiros e conseguiram que as transnacionais não dominassem suas economias. O Brasil inicialmente manteve muitas barreiras ao comércio, mas onde deveria ter-se defendido não o fez. Não só se abriu aos investimentos diretos estrangeiros como lhes deu benefícios enormes. Então, a indústria da Coreia do Sul e a de Taiwan, mesmo partindo de base muito baixa em 1960, e sendo esses países carentes de recursos naturais, eles superam hoje em muito, qualitativamente, a indústria do Brasil e a da Argentina.
Eu explico em meu livro “Globalização versus Desenvolvimento” que o Estado na Coreia do Sul e em Taiwan, repetindo o Japão e o que fizeram todos os países que se desenvolveram, apoiou as empresas nacionais de todos os modos. No Brasil, as nacionais foram grandemente prejudicadas pela política econômica que, ao mesmo tempo, favoreceu as transnacionais.
Ora, isso contraria toda lógica: pois, se você quer competição e progresso, você não deve de modo algum favorecer, em desfavor das locais, empresas de porte muitíssimo maior e experientes tecnologicamente, através da produção e das vendas em mercados de alta renda e grande dimensão. Só com firmas nacionais competindo no mercado é viável a acumulação de capital e de tecnologia no país.
O resultado da política de “atração aos investimentos estrangeiros” é lastimável e está à vista de todos não só nas degradadas periferias das grandes cidades, mas também dentro delas. Esse resultado demonstra bem, mais de cinquenta anos depois, a falsidade do desenvolvimento sob Juscelino Kubitschek, e, cerca de 40 anos depois, a dos supostos milagres econômicos de alguns dos governos militares.
IHU On-Line – Quais são os setores econômicos nacionais mais atrativos para o capital internacional?
Adriano Benayon – Na realidade, todos, pois a coisa começou na indústria, depois estendeu-se aos serviços, como se vê hoje, na hotelaria, no turismo etc. e no agronegócio. Um dos mais rendosos é certamente o dos bancos.
IHU On-Line – Quais os riscos e implicações desse processo para o desenvolvimento da nação, e fortalecimento da economia? Quais são os setores econômicos brasileiros mais prejudicados por causa dessa política de investir em transnacionais?
Adriano Benayon – Os riscos são a iminente crise no Brasil, com a bolha de crédito já desenhada e demais gargalos decorrentes da infraestrutura econômica e social (saneamento, saúde, educação). Eu diria que danos imensos já ocorreram em grande escala. Diria também que o risco é de esses danos continuarem aumentando.
Na direção em que se está indo, o risco não é apenas o apontado pelo professor José Luís Oreiro, de o subdesenvolvimento tornar-se eterno em nosso país. É o risco é de este ser desagregado, deixando de existir como país.
IHU On-Line – Pode-se dizer que a desnacionalização tem contribuído para acentuar o processo de desindustrialização?
Adriano Benayon – Sem a menor dúvida. A desnacionalização levou à industrialização, e o setor industrial, cuja participação no PIB já andou aí pelos 35%, caiu para 15%. Essa é a queda quantitativa expressada nessa proporção.
Ela decorre de a indústria ter-se tornado menos competitiva internacionalmente, o que é facilitado pela política econômica, que abriu o mercado na indústria e isentou de impostos a exportação de produtos primários (Lei Kandir/Collor). Sem falar na taxa de câmbio, que se valorizou por causa da entrada de capital do exterior na compra de títulos públicos. Portanto, a dívida, consequência do modelo dependente, também contribui muito para a desindustrialização.
Também qualitativamente a queda é abissal, pois, com maior intensidade nos últimos 30 anos, produções da indústria e dos serviços de maior valor agregado e conteúdo tecnológico têm saído do Brasil, sendo agora realizadas no exterior.
Além disso tudo, a indústria se tornou menos competitiva em razão do que expus no recente artigo “O custo da desnacionalização”: em suma, os altos custos de produção, apesar do baixo custo real de produção. Como assim? Respondo: as transnacionais gozam do privilégio de ter custo de capital e de tecnologia praticamente zero no Brasil. Entretanto, em sua contabilidade superfaturam as importações de produtos finais e de insumos (o que cresceu com a abertura comercial) e subfaturam exportações. Ademais, pagam às matrizes por transferência – inexistente – de tecnologia e por outros supostos serviços. Daí preços altos, em contraste com custos baixos.
Também mostrei que a descapitalização do país, resultante do modelo, leva a baixo investimento público na infraestrutura econômica e na social, ademais de os investimentos serem mal direcionados, pois os governos têm preferido atender aos interesses dos fornecedores (muitos transnacionais) dos bens e serviços a cuidar dos interesses nacionais.
IHU On-Line – Por quais razões os grupos econômicos se tornaram mais robustos e sólidos do que o Estado? A globalização econômica, por si só, explica essa mudança? E por que os Estados incentivam a solidificação desses grupos transnacionais, especialmente o Estado brasileiro?
Adriano Benayon – Essas tendências existem há muitos séculos. A globalização, como a maioria das políticas, foi promovida sob a influência, para não dizer a comando, dos grupos econômicos sobre os governos. Isso no caso do Brasil foi muito extenso e profundo. Como disse no artigo citado, aí reside a maior – e menos conhecida – corrupção.
IHU On-Line – Diante da globalização econômica e da atuação internacional das empresas, qual a possibilidade de os países fazerem escolhas no sentido de fortalecer a economia nacional e diminuir a intervenção internacional? Quais os limites nesse sentido?
Adriano Benayon – Precisam de uma tomada de consciência, que vá incluindo mais pessoas, e pessoas determinadas a mudar o presente estado de coisas. A vontade humana, bem inspirada, pode levar a êxitos inacreditáveis. Os limites são os atuais sistemas políticos nas “democracias” de modelo ocidental, em que a pluralidade de partidos, eleições periódicas etc. passam por democracia, mas não o são. Está tudo manipulado através da massa de dinheiro nas eleições e do controle absoluto da grande mídia por parte dos concentradores.
IHU On-Line – Recentemente circulou na imprensa a informação de que 60% dos recursos do BNDES são destinados ao investimento das grandes empresas. O banco tem contribuído para esse processo de desnacionalização?
Adriano Benayon – Certamente.
IHU On-Line – Em artigo recente o senhor menciona que os investimentos diretos estrangeiros registrados no Brasil de 1947 a 2008 totalizaram mais de 222 bilhões de dólares, mas as rendas remetidas do Brasil para o exterior, entre 1995 e 2008, somam mais de 292 bilhões. O que estes dados sinalizam?
Adriano Benayon – Eles ilustram o resultado da estrutura econômica e social determinada pela desnacionalização. E essa é apenas uma das ilustrações de que o Brasil está manietado em seu desenvolvimento.
IHU On-Line – Diante de tantas fusões, é possível saber se ainda há bastante capital nacional no Brasil? Há mais capital “nacional” no exterior?
Adriano Benayon – Talvez o que há seja suficiente para multiplicar por dez o volume dos produtivos no país, hoje em nível baixíssimo, por ter sido o Brasil coagido a adotar o modelo dependente. Como mencionei, há uma quantidade de capital brasileiro no exterior muito maior do que o total investido anualmente no país pelo conjunto do capital nacional, inclusive o estatal, e o estrangeiro.
IHU On-Line – Por que o senhor não é favorável ao ingresso de capitais no país?
Adriano Benayon – Em primeiro lugar, eles sempre foram desnecessários e continuam sendo. Além disso, são contraproducentes, porque acabam retirando muito mais capital do país do que o que fazem ingressar nele. Se tivéssemos estrutura política como a da China, poderíamos receber capitais estrangeiros com vantagem para o país. Mas aqui é diferente: o sistema político, aberto à influência do dinheiro concentrado nas eleições, inviabiliza políticas favoráveis à sociedade.
Note-se que, quando as eleições puseram Vargas no governo, mesmo contra a grande mídia, inteira, que o denegria, o capital estrangeiro ainda não se tinha apropriado do grosso da economia. Além disso, havia mais trabalhadores assalariados em relação à população total. Getúlio venceu em São Paulo, onde estava o grosso da indústria, por maioria superior às vitórias tidas nos demais Estados. E em São Paulo estava o principal foco da oposição a ele, em classes mais abastadas.
Quando da “redemocratização” com a Constituição de 1988, o sistema de poder já se podia arriscar de novo ao processo das eleições pluripartidárias. Antes, não. Vargas vencera em 1950, e então houve intervenção através do golpe de Estado de 1954, dirigido, como o de 1964, pela oligarquia anglo-americana, cujos serviços secretos trabalharam, durante anos, para esses eventos.
IHU On-Line – Quais os desafios da economia brasileira diante da conjuntura atual, de crise internacional e do processo de desnacionalização? É possível reverter esse quadro?
Adriano Benayon – Sugeri algo nesse sentido, em resposta anterior. É possível reverter o quadro, desde que nos livremos das ilusões inculcadas nas mentes dos brasileiros ao longo de dezenas de anos.
IHU On-Line – Como o governo Dilma tem se posicionado diante desta desnacionalização?
Adriano Benayon – Parece não morrer de amores por ela, e tenta atenuar alguns de seus efeitos. Mas, no essencial, acomoda-se a ela.
IHU On-Line – Muitos economistas consideram o governo Dilma, do mesmo modo que o ex-governo Lula, neodesenvolvimentista. O senhor concorda? Que modelo de desenvolvimento o Estado projeta para o país?
Adriano Benayon – A meu ver, esses economistas não têm ideia clara do que seja desenvolvimento e julgam ter sido o governo de JK gerador de desenvolvimento. JK dizia-se desenvolvimentista. Pela mesma razão, esses economistas consideram que Dilma tenta se aproximar de algo parecido com as políticas de JK.
A semelhança é que JK manteve e ampliou os subsídios para as transnacionais estrangeiras ocuparem o mercado brasileiro e que Lula/Dilma manteve os desastres institucionais implantados por Collor e principalmente por FHC, como as privatizações, as concessões, as agências reguladoras, que servem às prestadoras dos serviços públicos privatizados, e não aos consumidores.
Lula, tal como FHC, pressionou o Congresso para aprovar emendas constitucionais das reformas tributária e previdenciária, a Desvinculação das Receitas Tributárias – DRU. Manteve também a Lei de “Responsabilidade Fiscal” e tudo mais que o sistema de poder mundial mandou instituir, na era de FHC, em favor dos banqueiros beneficiários dos absurdos juros da dívida pública, inviabilizando adicionalmente a capacidade de as empresas nacionais competirem nos mercados.
Lula e Dilma
Lula e Dilma não seriam tão monoliticamente defensores do capital estrangeiro, nem decididos anuladores das possibilidades de sobrevivência das empresas de capital nacional quanto o foi o “governo” de FHC. Mas principalmente Lula cedeu às pressões com facilidade.
Dilma tenta elevar o baixíssimo quantum dos investimentos públicos, que prevalece desde o início da década perdida, dos anos 1980. Na realidade, a dos anos 1990 foi mais desastrosa, devido às privatizações e demais transformações institucionais voltadas para sufocar em definitivo o desenvolvimento do país. Mas Dilma não tem conseguido êxito. O absurdo serviço da dívida pública, a qual nunca foi auditada, consome dinheiro demais, e a redução da taxa Selicainda não afetou significativamente essas despesas que aleijam a capacidade de o governo investir.
O programa de investimentos públicos federais depende das parcerias público-privadas, um modelo incompatível com a política de um Estado capaz de comandar e orientar o processo de desenvolvimento.
Os Estados estão manietados inclusive pelo serviço de suas dívidas para com a União. As estatais – que hoje são poucas – e com a Petrobrás prejudicada desde a era FHC e sem reversão tampouco disso – pouco investem em montante e em qualidade suficientes para impulsionar um desenvolvimento real. Este, de resto, depende também do setor privado, e o modelo dos últimos quase 60 anos o foi eliminando em favor das transnacionais.
(Por Patricia Fachin)
Adriano Benayon
Prezados brasileiros que não são contemplados com os esquemas de corrupção vigentes em nosso pais. Temos o prazer de informar que o Dr. Adriano Benayon, doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, ex-diplomata do Itamarati e autor do livro "Globalização versus Desenvolvimento" por indicação de
José Barboza da Hora, um dos fundadores do Instituto Mãos Limpas Brasil, assumiu a supervisão do projeto Nióbio, que será objeto de uma intensa campanha na internet. O nióbio é um mineral estratégico que estaria sendo dado de mãos beijadas para as grandes potências seguindo as práticas entreguistas que passaram a dominar o Brasil desde a morte de Getúlio. O tão aclamado Presidente JK, promoveu, muito antes de Collor, um dos capitulos mais importantes da história do "entreguismo nacional", ao abrir escancaradamente o mercado brasileiro para as industrias estangeiras de automóvel, sendo que até hoje, não temos sequer uma indústria brasileira de veiculos auto-motores, o que obviamente não se deve à falta de competência dos brasileiros que foi muito bem demonstrada na Embraer, com a construção de aeronaves exportadas para as grandes potências. Imaginem onde estaria o Brasil hoje em termos de desenvolvimento social e econômico não fossem os presidentes entreguistas que tomaram de assalto o Poder, através de eleições pseudo-democráticas!
Quando o Brasil for governado por verdadeiros estadistas - e só assim - ele se transformará numa grande potência. Até lá cabe a todos os brasileiros que não trairam a sua Pátria e não se submeteram ao dominio dos DPM - donos do poder mundial, lutar de todas as formas possiveis pela independência econômica do Brasil, independência esta que é a condição básica para que nosso país ocupe o lugar que merece no cenário internacional, onde foi ultrapassado por muitos paises que adotaram estratégias do verdadeiro desenvolvimento nacional. Ai vai a segunda entrevista de Benayon, como parte do nosso projeto "Economia ao Alcance de Todos" que vai revelar todo o contéudo da caixa preta que domina a corrupção econômica do Brasil.
ML - O sr. tem se referido enfaticamente ao processo de corrupção de Fernando Henrique Cardoso e sua turma, vinculando-o às chamadas privatarias. Na sua opinião o processo de corrupção de Lula e sua turma não teria nenhum esquema entreguista envolvido? Outra eventual diferença seria a dimensão do enriquecimento ilícito das duas turmas. Por exemplo: o patrimônio rural de FHC seria muito maior do que o de Lula? O de Serra muito maior que o de Zé Dirceu ou Genoino?
AB - Sim, considero que as privatizações realizadas, em grande escala, durante os mandados de FHC representam o maior exemplo mundial, de todos os tempos, em matéria de corrupção, pois, de outro modo, não poderia ter havido o que houve. E o que houve? Estatais federais, bancos e estatais estaduais entregues, não apenas de graça, mas fazendo a União gastar centenas de bilhões de reais. Essas empresas e bancos valiam mais que dezenas de trilhões de dólares. Isso porque seu valor na época já era inestimável, insuscetível de ser medido em moedas criadas à vontade por bancos centrais a serviço de banqueiros golpistas, que levaram ao maior caos financeiro da história e desencadearam a depressão mundial, que deve durar mais e ser mais profunda que a famosa dos anos 30. Então, como é possível, sem a mega-corrupção presente, entregar aqueles patrimônios fantásticos acrescidos de vários presentes, como dinheiro em caixa, estoques, liquidação onerosíssima de passivos trabalhistas, doação de créditos fiscais, (por exemplo, havendo ágio no leilão, essa parte foi compensada por créditos fiscais), financiamentos privilegiados etc. etc., pagamento em títulos podres do preço estipulado nas fraudulentas avaliações, e gastando centenas de bilhões de dinheiro dos contribuintes, para dar tudo não só de graça, mas, sim, por preço líquido negativo?
ML - Por que razão o sistema precisaria exagerar tanto nessa busca de vantagens e mais vantagens, chegando ao absurdo de dar tudo de graça? Para que tamanho exagero?
AB - O saqueio das estatais através das ‘privatizações’ foi, repito, o maior que já se fez no Brasil e no Mundo. E não foi o único que se fez no Brasil. Sabemos todos nós que houve muitos e enormes, durante o período mais nefasto da história do Brasil, os oito anos de FHC, antes dele e depois dele. Para ficar só nesse período brutal, grupos financeiros mundiais, associados a alguns grupos locais e com a ajuda de testas-de-ferro, se apoderaram daqueles patrimônios colossais e, em vez de pagar, ainda receberam incríveis subsídios por isso. Então, eu diria o seguinte: desde que o mundo é mundo, quando os saqueadores encontram pouca resistência ou têm meios de neutralizar a resistência, raras vezes eles se autolimitam, moderando o saqueio.
São conhecidos muitos exemplos, ao longo da história antiga e moderna, em que os invasores entravam num país, apoderavam-se do ouro, dos estoques de alimentos etc., aí incendiavam tudo e ainda passavam os vencidos ao fio da espada. A tradição anglo-americana é provocar guerras, forjando incidentes, falseando os fatos, de tal forma a convencer sua opinião pública e a dos demais países que o agressor é o agredido, aí executam ações de guerra contra este, geralmente desprovido de condições de defesa, realizam saqueios incalculáveis, como ocorreu na índia, de forma intensa e continuada, nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do XX. No caso da guerra do ópio, através da qual forçaram a admissão de drogas na China, para poder receber as belas manufaturas chinesas de então, sem despender ouro, intensificaram a exploração das riquezas da China e ainda cobraram indenização desse país, como se fosse ele que tivesse levado à guerra.
No Brasil, em termos militares, bastam os precedentes de ter sido forçado a entrar na 2ª Guerra Mundial e ceder bases nesse contexto e da presença nas costas brasileiras em 1964 de bem-armada esquadra norte-americana, pronta a apoiar os governadores de Minas, São Paulo e Rio, além dos comandos militares, insurretos contra o governo federal. Basta, ainda, de um lado, o super-armamento de potências imperiais, EUA e Reino Unido, com bases em toda a América do Sul, e, de outro, o completo desarmamento do Brasil, conseqüência do subdesenvolvimento do País causado pela desnacionalização da economia desde 1954 e pelo desmonte da indústria bélica nacional etc.
Com isso no pano de fundo, bastam para dominar o Brasil: o ataque ideológico, com a grande mídia a serviço das potências imperiais, a maior parte do pensamento político, econômico etc., emanado de universidades de nomeada financiadas por grandes empresas transnacionais; a mentalidade criada pela indústria do entretenimento, pelo marketing, pelas marcas estrangeiras e por aí vai. Com isso grande parte dos letrados e iletrados no Brasil tem a opinião formada pela VEJA, criada para isso com a ajuda de empresas ligadas à CIA, pela TV-Globo, idem, idem, além de outros grupos midiáticos.
Ainda assim, houve resistência às privatizações por parte de manifestantes, alguns sindicais, e de membros do Ministério Público que fizeram petições demonstrando os absurdos das negociatas, obtendo liminares para sustá-las, as quais foram derrubadas em Tribunais Superiores, sabendo-se que a cúpula dos três poderes no Brasil se subordina por inteiro às pressões da oligarquia financeira mundial (à qual estão subordinados também os governos dos países ditos desenvolvidos, que a ajudam na pressão imperial sobre o Brasil). De resto, os tribunais nunca examinaram o mérito das ações impetradas contra a privatização. Deixaram que ela ocorresse, cassando as liminares, e ficou tudo engavetado.
Hoje, portanto, ficou ainda mais sem sentido tentar avaliar as estatais privatizadas na moeda podre, que é o dólar, completamente inflacionado e destinado a ser trocado por outra moeda de vigaristas. De fato, o dólar não vale mais quase nada, hiperinflacionado que está, e prestes a desabar ainda mais. Basta dizer que a onça de ouro beira US$ 1,400.00, e se cotava a pouco mais de 200 dólares em 2002. E isso ainda é só o começo.
E não foram só as privatizações: há ainda as políticas e as medidas específicas para desnacionalizar as médias e grandes empresas de capital nacional, hoje também quase todas em poder de transnacionais, já que foram adquiridas por estas por frações de seu valor real, mesmo sem contar que esse valor seria muito mais elevado se mais de quatro quintos de sua população não vivessem em condições econômicas lamentáveis.
Não duvido de que também haja corrupção entreguista no governo de Lula. Entretanto, o grau de envolvimento deste com esse esquema me parece incomparavelmente menor do que o da gang tucana. Por que? Porque, se Lula não tomou medidas para reverter o processo que já vinha desde Collor, de entregar tudo, e foi intensificado por FHC, pelo menos o desacelerou grandemente.
ML - O Governo Lula estaria assim na sua opinião procurando atender, de forma bonapartista as duas vertentes básicas da economia - a que propõe a privatização e a que propõe a estatização - para assim se pepetuar no Poder? Isso explicaria o apoio de Lula ao MST e ao Chávez?
AB - Não tenho elementos para responder essas perguntas objetivamente. Penso que Lula, que é, sem dúvida, homem esperto, trata de conseguir bases internas de sustentação política e eleitoral. Assim, dá prioridade a programas de distribuição de renda, evita o quanto pode políticas recessivas (embora não interfira na política de juros altos do BACEN, porque sabe que seria derrubado se o fizesse). Em suma, seu objetivo é se manter no poder, enriquecer no processo, o que também ajuda na sustentação política, e vai manobrando entre o que se chamaria a direita e a esquerda.
A realidade é que qualquer presidente no Brasil só chega a isso – e até a candidato – se tiver o beneplácito do sistema de poder da oligarquia financeira anglo-americana. Logo ao ser eleito em 2002, Lula fez duas nomeações de imediato, determinadas por esse sistema: a de Meirelles para o Banco Central e Marina da Silva para o Meio Ambiente.
Mas em muitas áreas, inclusive a de defesa, a do desenvolvimento nuclear, houve apreciável melhora sob Lula. Na área do petróleo, embora timidamente, Lula é muito menos entreguista do que a gang de FHC. Esta, já encarapitada no bonde de Serra, quer atender às transnacionais do petróleo de forma radical.
A política de infra-estrutura e o apoio ao agronegócio e aos grandes empreiteiros (esses estão contentes com Lula) pode envolver corrupção, mas é muito menos nociva ao País do que aquela que privilegia exclusivamente empresas de capital estrangeiro e trata de enfraquecer grandes grupos nacionais a se venderem às transnacionais.
ML - A Rede Globo e o Grupo Pão de Açúcar que recorreram ao capital estrangeiro teriam sido também sido vitimas desta estratégia de desnacionalização ou se enfraqueceram devido à concorrência de outras empresas? Curiosamente a Globo foi se socorrer de capital mexicano. (ou capital anglo-americano "nacionalizado"?)
AB - A Rede Globo, desde antes de 1964, foi capitalizada pelo poder imperial estrangeiro, podendo-se considerar uma associada tradicional ou, antes, uma subordinada local. Slim, o magnata mexicano da TV, tem trajetória semelhante à de Roberto Marinho. O Grupo Abílio Diniz faz parte da suboligarquia local que se alia ao capital estrangeiro. O enfraquecimento da posição concorrencial de empresas brasileiras é, na maioria dos casos, consequência da política econômica, da abertura da economia ao capital estrangeiro e das vantagens que este tem sobre as firmas nacionais. É vítima, portanto, da estratégia de desnacionalização: sendo a política econômica a que é, a empresa nacional tende a perder na concorrência. Não porque ela seja necessariamente menos competente, mas porque as transnacionais usam a força decorrente de sua dimensão em numerosos mercados mundiais, seu poder financeiro muito maior, seu acesso a crédito mais barato etc. Mesmo que sejam mais competentes, não há vantagem para o País em abrir o mercado para elas, porque após dominarem o mercado, seus cartéis só tratam de transferir ganhos para o exterior, e, assim, se produzem as crises de contas externas, o endividamento, a intervenção do FMI para priorizar o pagamento, a política de contenção de gastos, que elimina os investimentos produtivos e destina tudo aos pagamentos financeiros.
Finalmente, não vejo muito sentido em comparar os patrimônios acumulados no Brasil por corruptos de grande porte. Isso porque, em geral, não contamos com dados sobre o que eles acumularam em contas e em outros ativos no exterior.
ML - A criação das Nações Indigenas é um projeto de FHC? Lula fez alguma coisa para desmontar este projeto? E quanto às nossas riquezas minerais, como o nióbio, Lula tomou alguma providência ou aderiu ao entreguismo de FHC?
AB - Obviamente, FHC é o príncipe dos entreguistas, mas está longe de ser o único deles. As reservas indígenas vêm de bem mais longe, pois há decênios que as ONGs financiadas pela oligarquia mundial operam no Brasil, inserem-se na administração pública, controlam a FUNAI (como a área do meio-ambiente etc.) e executam o plano da oligarquia mundial, liderada no caso pela família real britânica. Sarney, podem dizer que é corrupto, e não sou eu que vou negar, mas política do jeito que ocorre nas pseudo-democracias aceitas como democracias pelo poder mundial, não se faz sem muito dinheiro, e quem não o arranja de algum modo, fica à mercê do poder absoluto das transnacionais e da mídia controlada por estas. Sarney não favoreceu as reservas indígenas, mas elas vêm de há mais tempo, tendo tido grande impulso com a reserva dita ianomâmi sob a impulsão de Jarbas Passarinho (governo Collor). Nesse ponto o PT é alienado e segue praticamente a mesma linha de FHC, de intensificar a expansão dessas zonas, destinadas a reservar os recursos minerais mais valiosos (preciosos e estratégicos) para a oligarquia financeira anglo-americana. Pode ser que ceda por pressão da coroa britânica e de outros donos do poder financeiro mundial, mas o faz.
ML - Depois desta onda avassaladora de corrupção que dominou o Brasil nos últimos 16 anos, o sr. não acha que embora a corrupção seja apenas um sintoma de uma grave enfermidade sistêmica, ela deveria estar na pauta dos principais problemas brasileiros? Ou o sr. propõe que a corrupção só será eliminada (ou reduzida significativamente) depois que for implantado um novo sistema econômico em nosso país?
AB - Realmente a corrupção é sistêmica. Tentar combatê-la apenas no varejo só agrava o problema. Ou seja, por exemplo, quando o sistema condena gente honesta como os Capibaribe, do Amapá, e os deixa como ficha-suja, não só comete grave injustiça, mas favorece os corruptos, inclusive de alto coturno, que servem o sistema de poder, comandado pelas transnacionais. Mesmo, quando o político é corrupto de fato, como Roriz, o próprio Sarney, Maluf, Quércia e muitos outros, ainda assim ele é "n" vezes preferível a indivíduos como Sérgio Cabral, Aécio Neves, Marina da Silva e "n" outros que estão aí com o favorecimento do sistema de poder mundial, praticando a corrupção no varejo e no atacado. Por fim, lembro que a mega-corrupção não é fenômeno típico dos últimos dezesseis anos. Em meu livro Globalização versus Desenvolvimento, menciono, entre outras coisas, três lances incríveis de corrupção (só na área do petróleo) havidas no governo do general Geisel, praticadas por e através de Shigeaki Ueki, como presidente da estatal e como ministro das Minas e Energia. Denunciados os esquemas a Geisel por seu secretário particular, o presidente demitiu a este e não a Ueki. Há que recordar também, entre os destaques da mega-corrupção mais antiga, os favorecimentos incríveis prestados ao Japão por Eliezer Batista, à frente da Vale Rio Doce e do mesmo ministério das Minas e Energia.
ML - O sr. tem se colocado simultaneamente contra o capitalismo e contra o socialismo marxista que prega a extinção da sociedade dividida em classes sociais. No que a sua proposta voltada para "economia de mercado" se distingue do capitalismo? A economia de mercado não é uma das premissas do capitalismo? O que diferencia a sua economia de mercado da economia capitalista?
AB - A economia de mercado é antítese do capitalismo, na medida em que o defino como o sistema que permite e favorece a concentração econômica, não impondo qualquer limite legal, nem intervenção estatal alguma, voltada para impedir a eliminação da economia de mercadoque é uma estrutura de mercadona qual existe concorrência e, portanto, incentivo à criatividade e ao desenvolvimento de tecnologias competitivas. Economia de mercado significa uma economia em que o mercado é uma espécie de arena em que os bens e serviços se impõem por sua qualidade e preço. Capitalismo, ao contrário, é caracterizado pelo predomínio de oligopólios, cartéis e monopólios. Sob o capitalismo, o mercado não decide nada (portanto, não é economia de mercado). Tudo está previamente decidido administrativamente pelas empresas dominantes, que, assim, obtêm lucros abusivos, fazem crescer assim seu poder, cada vez mais absoluto. As decisões administrativas, no caso, são piores ainda do que as de uma economia estatizada, pois certamente terão como único objetivo incrementar sempre mais o poder absoluto dos grupos “privados” dominantes. Com isso, estes, cada vez, mais detêm poder absoluto sobre a política. O sábio Machiavello já ensinava, no final do século XV e início do século XVI, que há duas fontes principais de poder: o ouro e as armas, e um se conquista por meio do outro. Fica claríssimo que concentração de poder econômico implica tirania política. Eis porque falar de democracia, nas ditas democracias ocidentais, não passa de piada de péssimo gosto,
Se a sua "economia de mercado" mantém a propriedade privada dos meios de produção, o que implica a manutenção da relação patrão-empregado, porque não considerá-la como um aprimoramento do capitalismo?
AB - Não vejo nada errado com a relação patrão-empregado. Mesmo numa estatal, os diretores-eecutivos têm de agir, na prática, como patrões e outros funcionários como empregados. No Japão e alguns outros países (no Brasil também ocorre em alguns casos) estes não deixavam de opinar sobre vários aspectos da produção e suas idéias eram discutidas em prol da empresa.
As constituições bem intencionadas (nesse aspecto) costumam incluir a norma da função social da propriedade. Isso significa que deve haver propriedade privada dos meios de produção. Do contrário, o poder fica desequilibrado, sem grupos sociais com capacidade de atuar politicamente sem pertencerem ao aparelho do Estado ou à administração de estatais. Além disso, há que dar espaço à criatividade, ao empreendedorismo, que são coisas muito positivas para economia, mas só florescem dentro de empresas não muito grandes. Não existem nas que controlam mercados a seu bel-prazer, com pouca ou nenhuma concorrência.
Isso quer dizer que o capitalismo valha a pena? Não. De jeito nenhum, pois, um sistema qe admite a concentração ilimitada do capital retira totalmente a função social da propriedade, e faz que o mundo dos negócios se torne o campo das ambições diabólicas, em que os líderes de grupos poderosos se comprazem em acumular poder despótico, gerando depressões, com o empobrecimento da classe média, fazendo e desfazendo governantes, como no cenário mundial atual, em que os grandes banqueiros fizeram lucros gigantescos com falcatruas financeiras e, quando estas deram com os burros n’água, receberam trilhões de dólares de ajuda dos governos dos EUA e dos governos europeus. Isso, enquanto o desemprego, que já não era pequeno, dobrou. Pergunto, isso é economia de mercado? Não isso é a coisa mais absurda que já ocorreu sobre a face da Terra.
Conclusão: não faz sentido essa de a economia de mercado ser aperfeiçoamento do capitalismo. O capitalismo é a degeneração da economia de mercado. Solução relativamente simples: impedir essa degeneração, por meio de leis, desde a Constituição, e por meio de controle social permanente, o qual só pode funcionar, enquanto o poder econômico estiver razoavelmente disseminado e, não como, no capitalismo, cada vez mais concentrado em mãos necessariamente malignas. Ou alguém concebe que se acumulem empresas e patrimônios de trilhões de dólares sem pensar senão em poder, poder e mais poder, sem qualquer respeito ou contemplação com o semelhante?
ML - O governo Lula, ao se distanciar dos EUA e se aproximar de seu clássico rival, a Inglaterra, não revelou assim que fez uma opção definitiva pelo capitalismo, opção essa confirmada pela aceitação e pagamento de nossa divida externa?
AB - Não sei em que Lula se aproximou da Inglaterra e se afastou dos EUA. Além disso, esses dois não são rivais. Os dois países poderiam até ser, mas as respectivas oligarquias, que vêm mantendo poder absoluto em ambos, são associadas, a ponto de formar um bloco só: a oligarquia financeira anglo-americana.
Com a entrada dos Bric's no mercado mundial, o sr. não acha que o poder anglo-americano deixou de ser hegemônico? Os Estados Unidos não são hoje dependentes novo Império Asiático liderados pela China?
AB - Não creio que exista império asiático. É possível que a ascensão da China represente um avanço na direção de um contexto de poder mundial menos desequilibrado. Mas ainda falta muito. Há que ver como a Índia e a Rússia evoluem, pois poderiam formar com a China um bloco capaz de resultar em avanço maior nessa direção. Mas o império ainda detém poder militar incomparavelmente maior que o desses todos reunidos e usa todos os seus recursos, inclusive os de seus serviços secretos, em que também investe pesado, para suscitar divisões, conflitos e guerras que façam manter sua hegemonia.
ML - Quais foram as medidas tomadas pelo Governo Lula que poderiam ser assimiladas pelo seu sistema de economia de mercado?
AB - Intencionalmente, não sei se houve alguma. Mas, quando se fomentam obras de infra-estrutura, e se realizam programas de distribuição de renda (embora se devessem criar os que geram trabalho diretamente, e não só indiretamente, como os atuais), se está expandindo o mercado. Mais importante, ainda, dar deliberadamente algum espaço a empresas nacionais em grandes obras, como as das plataformas de petróleo, constitui algo bem positivo, atenuando um pouco os efeitos das criminosas privatizações. Estas, de fato, entre suas perniciosas conseqüências, fizeram com que as grandes estatais deixassem de alocar obras para empresas nacionais, e de pôr especificações nas concorrências que viabilizassem a presença de pequenas e médias empresas nacionais de boa tecnologia, como ocorria, com as estatais, no setor hidrelétrico, nas telefônicas etc.
Adriano Benayon garante que manutenção de modelo no qual transnacionais controlam os principais setores da economia deixa país tão vulnerável quanto antes; mas acredita que a crise é uma oportunidade de buscar desenvolvimento independente Luís Brasilino, da Redação - 10/10/2008 15:12 No dia 3, o Congresso dos Estados Unidos aprovou e o presidente George W. Bush sancionou um pacote de 850 bilhões de dólares de socorro às instituições financeiras afetadas pela crise. A medida, porém, não acalmou os mercados que vivem dias turbulentos. Desde o início do mês até o dia 7 (data de fechamento desta edição), o índice Dow Jones, que mede as ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, acumulou queda de 13%. No Brasil, os abalos foram ainda mais fortes. Entre os dias 2 e 7, a Bovespa sofreu uma perda de 19,4%. Com isso, perdem força as análises que sustentam que o país está blindado contra a crise. Para o economista Adriano Benayon, não há nenhuma possibilidade de o "colapso financeiro", como prefere, não afetar o capitalismo brasileiro. Nesta entrevista sobre a conjuntura econômica, o professor da Universidade de Brasília (UnB) analisa ainda os motivos da crise e afirma que ela já extrapolou a esfera financeira e está atingindo o setor produtivo. Brasil de Fato - "Quebradeira geral", "caos" etc. Assim, a imprensa corporativa vem noticiando a queda das Bolsas de valores em todo o mundo e, especialmente, no Brasil. Por outro lado, o cotidiano dos brasileiros ainda não foi alterado e poucas pessoas parecem estar cientes desse "caos". Enfim, como (ou quando) a crise financeira afeta a economia familiar? Adriano Benayon - A imprensa corporativa ocupa-se demais das Bolsas e pouco de coisas mais importantes para a economia. As Bolsas estão registrando quedas expressivas nas ações, e isso não vai parar aí. Mas quebradeira mesmo é com os bancos, financeiras e seguradoras. Não chamo de crise o que está ocorrendo, porque são crises sucessivas formando o colapso financeiro em curso que se amplia e aprofunda. Os que fazem aplicações já têm sofrido perdas, não só em ações, mas também em outros títulos. Além disso, esse colapso já contaminou a economia real nos EUA e na maior parte dos países da Europa. Essa seqüência certamente ocorrerá também no Brasil. A crise, então, já atingiu o setor produtivo? Como frisei, o colapso financeiro atingiu o setor produtivo em muitos países e de modo sério. É questão de tempo isso se agravar, inclusive no Brasil. As bolhas financeiras acabam rompendo-se, como as formadas por títulos com conexão cada vez mais longínqua (derivativos) com os ativos imobiliários, fiduciários, cartões, títulos de crédito, opções e futuros de ações, de commodities etc. Começa a haver queda de renda real dos devedores, mesmo porque a concentração econômica leva a criar quantidades colossais de ativos financeiros e mais ainda de derivativos supostamente lastreados nesses ativos, enquanto que a base real da economia, espelhada, por exemplo, nos salários permanece praticamente estagnada. Intensificando-se as inadimplências, o crédito encolhe, bancos e financeiras vão ficando com ativos sem retorno, tentam passá-los adiante e não conseguem. Muitos e cada vez mais vão tendo que escriturar prejuízos, vem a corrida aos depósitos e por aí vai. É claro que, nessa dinâmica para baixo, o setor produtivo sofre tanto por causa da queda da procura nos mercados de bens e de serviços, como por dificuldades e custos mais altos para o crédito. O aperto do crédito atinge tanto consumidores como empresas produtoras de bens e de serviços. Nesse contexto, as cotações da grande maioria das ações de empresas caem e esse é mais um fator de perda de patrimônio das pessoas e mais um fator de retração da procura. Entretanto, professor, em entrevista ao Brasil de Fato (edição 292), o economista Nildo Ouriques, da Universidade Federal de Santa Catarina, afirmou que a crise não afetou o lucro do setor produtivo estadunidense, pois as transnacionais estão repatriando dividendos da periferia capitalista. O senhor discorda? Provavelmente Ouriques está reportando algo correto, mas é uma afirmação genérica demais. Algumas transnacionais certamente já vão lucrar menos em função da retração nos EUA e na Europa. Além disso, dentro de algum tempo, haverá também menos ganhos para enviar da periferia (nem digo repatriar, porque elas ganham na periferia infinitamente mais do que nelas investiram). O Congresso estadunidense finalmente aprovou o pacote (que havia sido rejeitado pela Câmara no dia 29 de setembro), agora de 850 bilhões de dólares (antes eram 700 bilhões de dólares, mas na votação do Senado, no dia 1º, foram incluídos outros 150 bilhões em isenções fiscais), de socorro aos bancos, uma forma de socializar as perdas com os contribuintes. Apesar disso, o senhor acredita que esse pacote é necessário ou, mais ainda, pode ser benéfico para os trabalhadores? De forma nenhuma. Os analistas independentes e competentes nos Estados Unidos e na Europa têm qualificado esse pacote como bandalheira. Os bancos beneficiados são grandes doadores das campanhas de ambos os candidatos à presidência [Barack Obama e John McCain], os quais recomendaram a seus partidos a aprovação no Congresso. O secretário do Tesouro [Henry Paulson, o autor do pacote,] é ex-sócio diretor de um deles, o Goldman Sachs. Penso que o pacote é ruim para a economia dos Estados Unidos e para a economia mundial. Claro que é pior ainda para os trabalhadores. Ele apenas livra a cara de alguns banqueiros que abusaram de jogadas gananciosas, ganharam centenas de bilhões de dólares com essas jogadas e não vão ter que reparar o estrago que causaram. Ele faz com que o governo dos EUA compre títulos sem valor ou de escasso valor para limpar os balanços de bancos e financeiras atolados nesses títulos, cuja manutenção nas suas carteiras significa a bancarrota. Se houvesse democracia nos EUA, essas instituições teriam que passar para o controle de interventores do Estado e os recursos do contribuinte seriam usados na aquisição de ações delas bem desvalorizadas, como já ocorre em função dos maus negócios (agora) para elas. Outra coisa. Somente os ativos podres do setor imobiliário nos EUA são estimados em 7 trilhões de dólares, de modo que o tal pacote pode cobrir só um pouco mais de 10% dos rombos. Além disso, se se incluir os demais ativos com grande potencial de virar pó, a conta poderá atingir mais de 100 trilhões de dólares. Para que os leitores tenham idéia do problema, o valor nominal dos derivativos, em dólares e euros, principalmente, passa de 500 trilhões de dólares. Portanto, o que estão fazendo é jogar mais lenha na fogueira da inflação, sem resolver nada na economia produtiva, pois não é aí que estão investindo. O sistema concentrador, que comanda a política econômica em quase todos os países do mundo, abusou das ideologias econômicas do tipo neoliberalismo, globalização, desregulamentação, Estado mínimo etc. Agora recorre à intervenção do Estado, porque controla discricionariamente o Estado (malgrado a aparência de eleições presidenciais, votações no Congresso etc.). Aí surge a usual louvação infundada ao keynesianismo, uma doutrina que, como mostrou [o economista e ex-senador, falecido em 2003] Lauro Campos, preconiza guerras de grande porte, com mobilização de muitos soldados (como a 2ª Guerra Mundial), para sair da depressão econômica. O economista Reinaldo Gonçalves, em entrevista ao Correio da Cidadania, apóia o pacote do governo dos Estados Unidos, porque entende que ele procura "travar uma crise financeira que abrange todo o mundo", oferecendo recursos para estabilizar as empresas e bancos envolvidos. O que o senhor acha dessa posição? Mantendo o que afirmei na resposta anterior, creio que, nesse ponto, o excelente economista Reinaldo Gonçalves não está bem informado. Existe alguma possibilidade de uma crise nos Estados Unidos não afetar o capitalismo brasileiro? A meu ver, nenhuma. Os fundamentos da economia brasileira (reservas) são realmente sólidos ou o Brasil continua tão vulnerável quanto antes? Continua tão vulnerável quanto antes. Basta dizer que, mesmo antes de o colapso financeiro mundial não poder ser mais escondido, o déficit de transações correntes do Brasil com o exterior já era altíssimo. O mercado interno brasileiro pode absorver as perdas do setor primário-exportador? Isso só me parece possível mediante uma mudança completa de modelo econômico, com o Estado fortalecendo empresas médias e pequenas e acabando com os brutais subsídios em favor de transnacionais concentradoras, que controlam os principais e quase todos os setores da indústria, sem falar no agronegócio. O governo Lula tem propagandeado uma política de comércio exterior que procura reduzir a dependência do Brasil com relação aos Estados Unidos, ao passo que estimula trocas com países do "Sul". Até que ponto isso é verdade? Essa mudança pode proteger o país da crise estadunidense? Sob o atual modelo, a orientação do comércio exterior do Brasil depende mais das transnacionais e de algumas outras empresas concentradoras do que da política econômica do governo, mesmo porque esta é talhada segundo os interesses desses grupos dominantes na economia. A política econômica do governo atual (de juros altos, liberalização financeira, câmbio flexível e superávit primário elevado) ajuda ou piora as condições do país nesta hora de crise? Não tem feito outra coisa até hoje senão piorar as condições do país. Claro que sob conjuntura mundial adversa o dano vai ser exponenciado. O senhor acredita que, para o Brasil, essa crise significa uma oportunidade para alcançar um desenvolvimento mais independente? Acredito que ela oferece oportunidade preciosa ao Brasil de buscar o desenvolvimento independente (sem o comparativo, porque, primeiro, o modelo econômico é radicalmente dependente, segundo, embora haja algum crescimento, não há desenvolvimento real). Por quê? Porque, nessa situação, pode-se entender melhor que convém desatrelar-se da economia mundial controlada por oligarquias de potências hegemônicas, as quais, de resto, controlam também a economia brasileira em sua atual estrutura. A Revolução de 1930 foi uma resposta ao anterior grande colapso econômico mundial. Sua seqüência, embora só conseguisse autonomia parcial, foi grandemente positiva e as lições dessa experiência devem ser aproveitadas, inclusive no sentido de não repetir erros. QUEM É Adriano Benayon é formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em economia pela Universidade de Hamburgo (Alemanha). Aos 75 anos, ele é diplomata de carreira, tendo trabalhado na Alemanha, Bulgária, Estados Unidos, Holanda e México, além de no próprio Itamaraty. Foi professor da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Rio Branco - See more at: http://gvces.com.br/a-crise-financeira-chegara-ao-brasil-entrevista-adriano-benayon-economista?locale=pt-br#sthash.jCWWLuUp.dpuf
Brasil privatizado e desnacionalizado
Adriano Benayon *
Cada vez mais, o nosso País vai sendo enredado na trama da oligarquia
financeira e belicista imperial, cujo programa, no tocante ao Brasil, é
evitar seu desenvolvimento, mantendo-o fraco, alienado e desarmado para
sofrer, sem reação, o saqueio de seus recursos. Apontei, em artigo
recente, algumas das razões pelas quais é muitíssimo enganosa a
comemoração de o Brasil ter, agora, o sexto maior PIB do mundo.
2. Afora o que escondem as estatísticas, mormente consideradas
isoladamente, o PIB quantifica somente a produção realizada em um país,
sem oferecer ideia alguma a respeito de quem ganha com essa produção,
nem quanto às necessidades de quem esta serve.
3. Por exemplo, os minérios extraídos de nosso subsolo são, em sua
esmagadora maioria, destinados ao exterior, onde entram na produção de
bens cujo valor agregado, em termos monetários, é maior que o dessas
matérias-primas, dezenas e até centenas de vezes.
4. Na agropecuária e na agroindústria, a fabulosa dotação de terras
aproveitáveis, de água e de sol pouco serve à qualidade de vida da
grande maioria dos brasileiros, pois, no mínimo, três quartos das terras
são usadas na pecuária extensiva para proporcionar carne barata aos
importadores, e em mais de 70% dos 25% das terras restantes estendem-se
culturas orientadas para a exportação de alimentos e de matérias-primas.
Só a soja ocupa 40% da área cultivada, para fornecer farelo destinado,
quase todo, à alimentação de animais no estrangeiro.
5. Nem mesmo a minoria dos brasileiros em condições econômicas e
culturais para desfrutar de alimentação saudável, o consegue, porquanto a
produção agrícola utiliza, em nível de recorde mundial, defensivos
altamente tóxicos, produzidos por transnacionais estrangeiras. Estas
fornecem, ademais, as sementes transgênicas, que causam a degradação da
agricultura, a dependência e a insegurança nessa área estratégica, e
ameaçam a sobrevivência das abelhas e das espécies vegetais.
6. Entre outros efeitos do modelo, o saldo das transações correntes
do balanço de pagamentos partiu de resultado positivo, no quadriênio
2004-2007, de US$ 40,2 bilhões, para déficit US$ 149,2 bilhões de 2008 a
2011, ou seja, houve queda de US$ 189,4 bilhões (cifras apontadas pelo
economista Flávio Tavares de Lyra).
7. Mais: o balanço das mercadorias ainda teve saldos positivos, em
função da colossal quantidade exportada de bens primários, mas esses
saldos são decrescentes. Como são crescentes os déficits dos balanços de
rendas e de serviços (lucros, dividendos e juros remetidos oficialmente
pelas transnacionais), os saldos negativos na conta corrente aumentam
rapidamente.
8. Isso ilustra a preponderância das empresas com matrizes no
exterior nas relações econômicas do Brasil. De 2008 a 2011, o déficit
nos serviços acumulou US$ 99,4 bilhões, e o das rendas, US$ 256 bilhões.
9. Até há pouco, o balanço de pagamentos vinha sendo “equilibrado”
pelo ingresso líquido de capitais estrangeiros, um pretenso remédio,
que, na realidade, aumenta a doença estrutural da economia, algo como
drogados sentindo alívio ao ingerir mais tóxicos, incrementando sua
dependência.
10. Se, para compensar os déficits na conta corrente, não for
suficiente a soma das entradas líquidas de investimentos diretos
estrangeiros, mais a compra líquida de ações de empresas locais, o
balanço de pagamentos só fecha através de empréstimos e financiamentos:
elevando o endividamento externo. Ou a dívida interna, com os dólares
convertidos em reais pelos aplicadores do exterior para auferir os juros
mais altos do mundo.
11. Tais aplicações podem tomar o rumo de volta a curto prazo, junto
com seus rendimentos mais apreciação cambial, devido: 1) à iminente nova
recaída do colapso financeiro dos bancos no exterior, a despeito de
terem sido socorridos com dezenas de trilhões de dólares e de euros por
seus governos, satélites dos banqueiros; 2) ao efeito combinado disso
com a previsível crise das contas externas, acarretando intensa fuga de
capitais.
12. Isso fará acabar (temporariamente, pois a maioria das pessoas não
gosta de encarar verdades desagradáveis) com muita ilusão acerca dos
“êxitos” da economia brasileira. Esses, no que têm de real, deveram-se à
exuberância dos recursos naturais e à capacidade de trabalho de muitos
brasileiros e estrangeiros aqui radicados. Entretanto, o modelo
dependente e entreguista impede o Brasil de colher os frutos dessas
vantagens.
13. Na realidade, as crises, a estagnação, se não a decadência, no
longo prazo, são consequências necessárias da estrutura econômica
caracterizada pela desnacionalização, pela concentração e pela
desindustrialização.
14. As três foram sendo implantadas segundo o modelo inculcado pelo
império financeiro mundial nas mentes crédulas e/ou corrompidas de
pseudo-elites e de classes médias subordinadas, resultando na
deterioração estrutural, que se agrava continuadamente.
15. Neste momento, em que o “governo” petista leva adiante mais
privatizações, é perda de tempo dar atenção às críticas do PSDB, que,
quando esteve no “comando” da União Federal, de 1995 a 2002, fez que
esta desse enorme salto qualitativo para o abismo, com privatizações em
massa, grandemente danosas para o Brasil.
16. Ocioso também gastar tempo com as “justificações” dos petistas,
cujos “governos” de 2003 até hoje (mais de nove anos), além de jamais
terem tratado de corrigir o desastre estrutural intensificado pelos
tucanos, vem-lhe adicionando mais medidas prejudiciais ao interesse
nacional.
17. Conforme listagem formulada por Maria Lucia Fattorelli,
coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, o governo do PT acumula as
seguintes privatizações: 1) previdência dos servidores públicos (projeto
do Executivo, por ser transformado em Lei no Congresso); 2) jazidas de
petróleo, incluso o pré-sal (cujo marco regulatório foi alterado a gosto
do cartel anglo-americano); 3) aeroportos mais rentáveis do País; 4)
rodovias; 5) hospitais universitários; 6) florestas: 7) saúde, educação e
segurança.
18. Claro que – à exceção do 1º e do 3º itens supra -, essas áreas já
vinham sendo privatizadas em “governos” anteriores. Entretanto, não há
como ignorar que o Executivo Federal e sua base parlamentar têm dado
prosseguimento à radicalização do modelo entreguista, cuja primeira
oficialização remonta ao golpe de 1954, resultado de conspiração que
resultou na derrubada do Presidente Getúlio Vargas, urdida e executada
por serviços secretos estrangeiros com apoio da 5ª coluna local,
19. É verdade que, mesmo enquanto Vargas foi presidente, já eram
muito fortes as pressões e a influência das potências anglo-americanas
sobre o Brasil, e ele, mais cauteloso que ousado e revolucionário,
fraquejou em momentos decisivos, quando a única saída, já em 1952, seria
o contra-ataque, inclusive alijando do Exército os principais oficiais
simpáticos àquelas potências ou por elas cooptados.
20. Naquele ano, o ministro das Relações Exteriores e o chefe do
Estado-Maior das FFAA negociaram acordo militar com os EUA, sem o
conhecimento do ministro da Guerra, que se demitiu, quando Vargas
consentiu com esse acordo. O presidente começou, então, a perder sua
base militar e ser posto na defensiva pelos artífices da conspiração.
21. Por que fazer referência ao golpe de 24 de agosto de 1954 como
marco do modelo que gradualmente espatifou o que restava de
independência nacional? Porque, 20 dias depois, foram baixados
regulamentos, como a Instrução 113 da SUMOC (nas funções de Banco
Central), os quais permitiram que as subsidiárias das transnacionais
importassem máquinas e equipamentos amortizados no exterior, mais que
sucatados após mais de dez anos de uso, e o registrassem como
investimento em moeda estrangeira, com altos valores.
22. Inaugurava-se assim a política de subsidiar as empresas
estrangeiras e de tornar praticamente impossível a permanência no
mercado de empresas brasileiras por muito tempo. Os subsídios foram
sendo, por vezes substituídos e, em geral, acumulados.
23. JK não fez revogar quaisquer medidas do governo udeno-militar
instalado com o golpe de 1954 e, ainda por cima, criou vantagens
especiais para “incentivar os investimentos estrangeiros”. Em 1964/66 o
czar da economia do presidente militar eleito pelo Congresso, com a
colaboração de JK, após o novo golpe, Roberto Campos, deu grande impulso
ao desbaratamento da indústria de capital nacional.
24. Apavorada pelo espantalho do comunismo, grande parte da classe
média e dos militares deixou-se manipular pelo falso maniqueísmo da
Guerra Fria, caindo nos braços do império anglo-americano. Em
consequência, a desnacionalização e a concentração cresceram
vertiginosamente até os dias de hoje.
25. De fato, nem sequer os dirigentes militares menos alinhados com
os EUA, e menos ainda, os do regime instalado – sob a supervisão dos
serviços secretos estrangeiro, durante e após a transição para a
pseudo-democracia – trabalharam por conter a concentração econômica, nas
mãos, cada vez mais, das transnacionais.
26. Assim, a estrutura econômica dos anos 90 em diante já era outra
bem diferente da dos anos 50, quando ainda o voto popular não era
totalmente teleguiado pelo dinheiro e pela grande mídia, a serviço dos
concentradores, nem existiam redes de TV. Atualmente, os partidos
políticos, quase todos, estão a serviço das transnacionais ou de bancos
estrangeiros e locais.
27. Até 1964, o voto popular, que favorecia Vargas e seus seguidores,
foi frustrado pelas intervenções a mando do estrangeiro, com a
desestabilização de governos eleitos, apoiada pela grande mídia e
fomentada pelas transnacionais e pelos governos dos países hegemônicos.
Ou seja pelas “democracias ocidentais”, as quais, como hoje está
claríssimo, nada tinham de democráticas e, agora, descambam para o
estado policial internamente e para ostensivas e brutais agressões
imperiais no exterior. JK foi o único que, eleito pelo voto popular,
terminou seu mandato. Mas por que? O dito no parágrafo 23 o explica.
28. Ao longo dos governos militares, embora tenham sido cassados e
afastados muitos nacionalistas das FFAA, não se cuidara de
privatizações, e foram criadas novas estatais. Entretanto, nem mesmo
após o primeiro daqueles governos, claramente pró-EUA, houve reversão
das políticas favorecedoras das transnacionais e cerceadoras das
empresas privadas de capital nacional.
29. Por isso, os “milagres” de JK e de alguns governos militares
(altas taxas de crescimento do PIB), mostraram-se falsos e redundaram na
explosão da dívida externa, no final dos anos 70, seguida da
inadimplência em 1982, ficando o País à mercê dos fraudulentos credores
externos.
30. Sem lideranças revolucionárias capazes de entender o desastre
estrutural da economia e de lutar por revertê-lo, o Brasil submeteu-se
aos famigerados planos Baker e Brady e ao Consenso de Washington. A
Constituição de 1988 foi fraudada para privilegiar o serviço da dívida, o
que levou a pagamentos astronômicos e, apesar deles, ao crescimento
exponencial da dívida interna.
31. Seguiram-se privatizações sob o ridículo pretexto de obter
recursos para o pagamento das dívidas, num processo em que o País gastou
centenas de bilhões de reais para alienar patrimônios fantásticos. É
isso que está sendo reativado agora, e não nos admira, pois, se FHC teve
por meta destruir o que ficou da Era Vargas, o PT foi criado para
dividir os trabalhadores, com mais um partido, este pretensamente de
resultados, simpático às transnacionais e desprovido de consciência
nacional.
* – Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento, editora Escrituras SP.
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Globalização Versus Desenvolvimento
NÚMERO DE PÁGINAS: 336 1ª EDIÇÃO ANO: 2005 FORMATO: 14 x 21 cm
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Três aniversários
I – 24 de agosto de 1954
Este aniversário é o da deposição do presidente Getúlio Vargas, programada e dirigida pelos serviços secretos estadunidense e britânico.
2. A quadra histórica era decisiva. O Brasil – desde sempre dotado de colossais recursos naturais – havia, a partir de 1930, acelerado o processo de substituição de importações industriais, graças a três fatores principais:
a) a falta de divisas, advinda da crise financeira e econômica mundial, > com a queda da demanda por café e outros produtos primários;
b) a tensão entre potências mundiais de 1933 a 1939, e daí a 1945 a > Segunda Guerra Mundial;
c) a Revolução de outubro de 1930 e os posteriores eventos políticos no > Brasil até à primeira deposição de Getúlio Vargas, em 29.10.1945.
3. Os dois primeiros fatores são as condições de crise e oportunidade. O terceiro é o papel das instituições políticas geradas em resposta à crise, as quais transformaram a estrutura econômica no sentido de > reduzir a dependência da exportação de matérias-primas. Além disso, Vargas mandou proceder à auditoria da dívida e liquidou os títulos no > mercado secundário, com grande desconto.
4. Ele se manteve na chefia do governo durante aqueles 15 anos, > conquanto de novembro de 1937 a 1945 dependesse das Forças Armadas, a > fonte de poder instituidora do Estado Novo.
5. Por terem as políticas de Getúlio Vargas desagradado as potências > anglo-americanas, era questão de tempo ele ser apeado da presidência, > terminada a Guerra Mundial (maio de 1945),
6. Durante a Guerra, Vargas teve de colaborar com essas potências, as > quais, não mais precisando dele, teleguiaram a oligarquia local, > políticos, mídia e chefes militares para depor o “ditador”, sob o > pretexto de que queria ficar no poder.
7. Isso não tinha cabimento, porque Vargas convocara eleições e se > dispunha a passar a presidência ao eleito. O golpe de 1945 foi só > vingança e tentativa de humilhar o líder trabalhista.
8. Por ocasião do golpe de 1937, os chefes militares, movidos pelo anticomunismo, estavam divididos entre simpatizantes do imperialismo anglo-americano e partidários das potências nazi-fascistas. Assim, Vargas pôde atuar como fiel da balança e no interesse nacional
9. Os militares nacionalistas não ocupavam posições que lhes habilitassem a imprimir rumos diferentes, em 1937, e menos ainda em 1945, quando os de tendência fascista convergiram com os admiradores das potências anglo-americanas.
10. Eleito em 1945, o Marechal Dutra (1946-1950), mentor do golpe de 1937, reprimiu os comunistas, converteu-se mais que à “democracia” , à abertura irrestrita às políticas do agrado de Washington.
11. Entretanto, Vargas ganhara a simpatia dos trabalhadores, elegeu-se senador por vários Estados, e voltou à presidência em 1951, por grande maioria popular. Criou a Petrobrás e deu passos para a fundação da Eletrobrás. Apoiou os excelentes projetos de sua assessoria econômica e cuidou de deter as abusivas remessas de lucros ao exterior das transnacionais.
12. Se prosseguissem as realizações de Vargas, o Brasil teria chances > de se desenvolver, e esse foi o móvel do golpe de agosto de 1954, > organizado pelas potências imperiais.
13. Os agentes externos postos por esse golpe na direção da política econômica instituíram enormes subsídios em favor dos investimentos das transnacionais, que operavam em muitos mercados no exterior, cada um de dimensões muito maiores que o brasileiro.
14. Em vez de proteger as indústrias de capital nacional para viabilizar > competirem com as transnacionais, aquelas sofreram discriminação, com > os imensos subsídios que só podiam ser utilizados pelas corporações > estrangeiras.
15. Eleito para o quinquênio 1956-1960, Juscelino manteve esses subsídios e estabeleceu facilidades adicionais para as empresas estrangeiras. Implantadas no País, estas transferem ao exterior, de diversas maneiras, os enormes lucros obtidos no mercado brasileiro, causando déficits no Balanço de Pagamentos.
16. Primeira cena dessa tragicomédia: eleito, antes de tomar posse, JK viajou ao exterior para atrair investimentos estrangeiros, com notórios entreguistas na comitiva. Segunda cena: sai JK, entra Jânio Quadros, e este envia ao exterior missão chefiada por Roberto Campos para rolar dívidas externas vencidas, contratadas durante o governo de JK.
17. Depois do conturbado período entre a renúncia de Jânio e o golpe de 1964, derrubando Goulart, o primeiro governo militar, a pretexto de fazer face à alta da inflação e à crise externa, adotou, sob a direção de Roberto Campos, políticas fiscal, monetária e de crédito restritivas, > eliminando grande número de empresas nacionais.
18. As lições econômicas disso tudo são importantes, como também as lições políticas. Entre elas avulta esta: prevalece sobre a Constituição escrita a regra constitucional, não-escrita, de que os governos em regime “democrático” só concluem seus mandatos, se se curvarem às pressões das potências imperiais.
19. Vargas e João Goulart realizaram políticas que visavam a gerar maior autonomia econômica para o País, embora fizessem concessões ao poder imperial.
20. Diferentemente, Dutra cedera aos interesses das potências estrangeiras, e JK deu-lhes plena satisfação no essencial: a abertura aos investimentos estrangeiros, escancarada pela outorga de privilégios que permitiram as transnacionais, a médio prazo, assenhorear-se do mercado brasileiro.
21. Até a proteção tarifária e não-tarifária aos bens duráveis produzidos no Brasil significou uma vantagem a mais às multinacionais, ampliada, quando, em 1969-1970, Delfim Neto estabeleceu vultosos subsídios para a exportação de manufaturados, entre os quais créditos fiscais no valor do imposto de importação dos bens de capital e dos insumos.
22. Os governos militares de 1967 a 1978 tentaram redinamizar a economia sem alterar o modelo dependente, nem garantir espaço às empresas nacionais em face da então já dominante ocupação do mercado pelas transnacionais. O resultado disso nos leva a outro aniversário.
II – Agosto/setembro de 1982
23. Em 16.08.1982, o México declarou moratória. Em seguida, o setembro negro, em que os gestores da política econômica brasileira, sob o espectro da inadimplência, imploraram aos banqueiros internacionais > refinanciar as dívidas.
24. A crise de 1982 foi muito maior a de 1961, gerada pelas políticas de 1954 a 1960. A causa essencial de ambas foi a mesma: a ocupação dos mercados pelas transnacionais, intensificada de 1964 a 1982
25. JK recebeu a dívida externa de US$ 1,4 bilhão em 1955. Ao sair, deixou US$ 3,5 bilhões. Em 1964 ela fechou com* *US$ 3,1 bilhões, pulando para US$ 43,5 bilhões, em 1978, e *para US$ 70,2 bilhões em 1982, tendo-se avolumado ainda mais pela elevação das taxas de juros e comissões, em 1979, além da composição desses encargos arbitrários.
26. As altas taxas de crescimento do PIB de 1967 a 1978 foram pagas pelo povo brasileiro, não só com a queda do PIB, de 1980 a 1984, e a estagnação nas duas décadas perdidas (anos 80 e 90). Em 1984, o Brasil transferiu para o exterior 6,24% do PIB e mais 5,54% em 1985.
27. Mas *o dano maior – e irreversível sob as presentes instituições – é a deterioração estrutural. Essa prossegue até hoje e se caracteriza pela infra-estrutura deficiente e pela produção quase totalmente desnacionalizada, inclusive através das privatizações de 1990 a > 2002.
28. Há um *processo cumulativo em que a desnacionalização faz crescer a dívida, e esta é usada como pretexto para desnacionalizar mais*. Tudo isso faz prever novas e piores crises, em que cresce a desindustrialização.
29. As débâcles, como a de 1982, ilustram a mentalidade servil diante dos “conselhos” e pressões imperiais, pois o Estado brasileiro curvou-se às imposições dos credores, aceitando a integralidade de dívidas > questionáveis, depois de tê-las alimentado, subsidiando a ocupação > estrangeira da economia e inviabilizando a tecnologia nacional.
30. “O Globo” veicula a desculpa de Delfim Neto, de que o colapso de 1982 decorreu da elevação dos preços do petróleo. Isso não procede: a Argentina não importava petróleo, e o México era grande exportador. O denominador comum das maiores economias latino-americanas é o modelo dependente.
31. Nos anos 70, a Petrobrás já substituía razoável quantidade de petróleo importado, e as importações eram pequena fração das de Alemanha, Japão, França.
32. O primeiro choque do petróleo deu-se em 1973. Daí a 1982 são nove anos. Tempo suficiente para medidas na estrutura produtiva, com resultados em seis anos, antes, portanto, do segundo choque do petróleo em 1979.
33. Tecnologia não faltava para substituir as importações de petróleo. O Brasil havia adotado, durante a Segunda Guerra Mundial, uma solução que funcionou muito bem: o gasogênio, para mover os veículos, com equipamentos que usavam carvão mineral do Sul, carvão e óleos vegetais. Foi abandonado após a Guerra, mas poderia ter sido retomado em 1973.
34. Geisel apoiou Severo Gomes e Bautista Vidal, no Programa do Álcool. Mas este não prosseguiu na forma planejada, nem se avançou nos Óleos Vegetais, que oferecem ao Brasil grande campo – até hoje inaproveitado – para produzir excelentes óleos e fabricar motores próprios para eles.
35. O dendê, na Amazônia e no Sul da Bahia, pode render mais de 6 mil > litros hectare/ano. *Para produzir quase tanto como a Arábia Saudita, ou seja, mais de cinco vezes o consumo brasileiro da época, bastaria plantar dendê em 60 milhões de hectares, ou seja, 12% da Amazônia Legal, associado a culturas alimentares. Em outras regiões a macaúba dá 4 mil litros ha/ano.
36. Essas opções são mil vezes melhores para a ecologia que extrair madeira para exportar, enquanto as ONGs vinculadas ao poder mundial fazem demagogia a respeito do desmatamento da Amazônia.
37. O óxido de carbono só é absorvido pelas plantas quando crescem. A Amazônia, com a floresta estável, não é pulmão do mundo. Esse papel cabe aos oceanos, que as petroleiras mundiais poluem de modo brutal.
38. É fácil e praticado, há muito, na Alemanha, produzir kits para adaptar motores ao uso de óleo vegetal. Melhor seria, mas o sistema de poder nunca o permitiu – produzir motores para esse óleo, o verdadeiro diesel. Biodiesel é um dos golpes do sistema para impedir o desenvolvimento dessas tecnologias, bem como as da química dos óleos vegetais e da alcoolquímica.
39. A deterioração das contas externas no final dos anos 70 serviu de gazua para a penetração do Banco Mundial no Programa do Álcool, desvirtuando-o, pois foi desvinculado da produção alimentar e tocado no sistema de plantations e mega-usinas, hoje, na maior parte, desnacionalizadas. 40. Moral: *se houvesse* *autonomia política, coragem e discernimento, ter-se-ia aproveitado o choque do petróleo para desenvolver produções agrárias e industriais com tecnologia própria e adequada aos recursos naturais*. Resultaria em prosperidade social incalculável com a energia renovável, além de esse padrão de desenvolvimento autônomo estender-se a outros setores.
41. Em suma, o mega-entreguismo de Collor e FHC não teria sido possível sem as políticas inauguradas em 1954 e continuadas de 1956 a 1960 e de 1964 até hoje. Por que? Porque essas políticas engendraram a relação de forças econômica e política determinante das desastrosas eleições > daqueles dois.
III – Sete de setembro de 1822
Está, pois, claro que o povo brasileiro precisa de real independência e que esta não existe. Não merece crédito o argumento de que há autonomia política, embora falte a econômica, porquanto uma não é possível sem a outra. Não se confunda a independência formal com a real.
- Adriano Benayon é doutor em economia e autor de Globalização versus Desenvolvimento.
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Tirania financeira
Michael Hudson, professor da Universidade Misouri-Kansas, escreveu excelente artigo, “O enganoso abismo fiscal dos EUA em 2012″. A enganação diz respeito a que o déficit orçamentário não precisaria existir (mas existe) e às suas reais causas.
Ele está em US$ 14 trilhões, o equivalente a quase um PIB anual dos EUA e menos que seu governo gastou para salvar os bancos. Nouriel Roubini aponta que o recente acordo entre Obama e parlamentares do Partido “Republicano” prenuncia novo colapso, pois prevê reduções fiscais, e não há como abrir mão de receitas tendo que cobrir um déficit dessa magnitude.
Os economistas do sistema clamam que, para reduzir os déficits públicos, há que: 1) cortar despesas sociais, obrigando os trabalhadores a financiarem seus planos de saúde e aposentadorias; 2) fazer que o Estado deixe de investir nas infra-estruturas econômicas e sociais; 3) demitir servidores; 4) privatizar as propriedades e os serviços públicos.
O Brasil seguiu, mais de uma vez, esse caminho, o que intensificou os malefícios da desnacionalização, encetada em 1954, e causa primordial de o país estar muito atrás de países, antes, muito mais pobres. O serviço da dívida e as privatizações acabaram de inviabilizar o desenvolvimento, de modo irreversível até que sejam substituídas as atuais estruturas econômicas e políticas.
A Europa – desprovida de soberania, pois o Banco Central não emite moeda para financiar os países membros – arruina-se através das políticas de “austeridade”, que agravam a depressão a pretexto de reduzir os déficits públicos gerados pelo colapso dos derivativos.
Os EUA só não estão de todo afundados por empregarem a força para obrigar produtores de petróleo a vendê-lo em dólares e por emitirem-nos à vontade para pagar importações e o serviço da dívida.
Os analistas não submissos mostram que os déficits não provêm das despesas sociais nem dos investimentos públicos nas infra-estruturas. Na verdade, os orçamentos do Estado foram onerados pelas operações de socorro aos grandes bancos, que ficaram em dificuldades quando os derivativos se revelaram títulos podres, após terem gerado lucros fantásticos para seus controladores.
Em suma, a oligarquia financeira, dona desses bancos e de outras indústrias dominantes, comanda, através de títeres políticos, os governos das “democracias”, bem como os formadores de opinião em cátedras e nos meios de comunicação.
Ela subordina a todos, por meio das políticas fiscal e monetária. Os 0,01% da oligarquia (incluindo executivos) são privilegiados por isenções fiscais e como credores, com o endividamento do Estado e de mais de 90% da população.
Por isso não admitem que os Tesouros nacionais emitam moeda para financiar o de que precisa a economia. Criou-se a mentira – aceita como verdade – que isso seria inflacionário. O sistema exige que o próprio o Estado, endividado por ter socorrido os bancos, dependa do crédito deles.
O cartel dos bancos, nos EUA, recebe dinheiro emitido pela Reserva “Federal” a juros de 0,25% ao ano, muito abaixo da taxa da inflação, e aplica em títulos especulativos e nos de países, como o Brasil e a Austrália, que se deixam tosquiar pagando juros elevados nos títulos públicos.
Como assinalei em artigo, “No Limiar de 2013″, não interessa à oligarquia acabar com a depressão, que dela se serve para quebrar o poder e a resistência de quantos pretendam equilibrar a sociedade e promover seu bem-estar.
O orçamento equilibrado é um dos instrumentos ideológicos para arranjar depressões. Falam da economia como se esta devesse ser gerida por quitandeiros ou políticos demagogos, na linha de Cícero (século I AC): “Não gaste mais do que arrecada”.
Michael Hudson recorda que as depressões coincidiram com períodos de superávit orçamentário. Este precedeu e/ou acompanhou as seis depressões iniciadas em 1819, 1837, 1857, 1873, 1893 e 1929. A atual, iniciada em 2007, é efeito retardado dos superávits de Clinton (1998-2001), postergada em consequência das bolhas da internet e dos imóveis residenciais, com inusitada explosão do crédito.
Quanto mais obtém maior concentração de riqueza – reduzindo assim o poder relativo inclusive dos ricos fora do topo da pirâmide – mais a oligarquia se converte em tirania.
Discordo de Hudson quando conclui que isso é não é capitalismo, mas sim feudalismo. Na verdade, o capitalismo converte-se em algo pior que o feudalismo, porque nele não há limites à concentração.
Quanto ao Brasil, lembrou, há pouco, Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES: “Não estamos sequer reproduzindo a República Velha. Esta República atual praticamente universalizou a desnacionalização.”
Enquanto isso, o sugado povo brasileiro é distraído pelo “combate à corrupção”, como se essa não fosse sistêmica. Milhões indignaram-se com o mensalão e aplaudem o STF. Entretanto, até hoje, dormem, engavetados nos tribunais superiores, os processos em foi provada a colossal roubalheira das privatizações (elétricas, telecomunicações, siderúrgicas, bancos estaduais), após terem esses tribunais cassado as liminares concedidas para sustá-las. Elas já completaram, impunes e consolidadas, 15 anos em média.
Mais tragicômico: os atuais “governantes”, além de nada terem feito para mudar a triste estrutura formada conforme o Consenso de Washington, usam o BNDES e a política fiscal para cevar ainda mais os concentradores, principalmente transnacionais, que desviam renda nacional, em quantias crescentes, para o exterior.
Isso é pouco para a mídia e demais alienados – antinacionais, desde antes do primeiro golpe contra Getúlio Vargas, 1945. Trabalham pela volta dos perpetradores do desastre em mega-doses. Mais: mesmo fora dos dois partidos ocupantes do Planalto nos últimos 18 anos, falta espaço, sob as instituições presentes, para lideranças capazes de oferecer alternativa real.
Adriano Benayon
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UCRÂNIA x BRASIL: Guerra e depressão
Por Adriano Benayon
O móvel da oligarquia financeira para desencadear guerras em grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais poder, subordinando países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam conter essa expansão.
2. Na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, respectivamente França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia (União Soviética), as potências angloamericanas só se engajaram com intensidade, no final, para ocupar espaços, estando aqueles contendores desgastados.
3. As duas grandes conflagrações eclodiram após longos períodos de depressão econômica e serviram como manobra de diversão em face das consequências sociais e políticas da depressão.
4. No Século XXI, os conflitos armados grandemente destrutivos estão tornando-se mais frequentes após o golpe preparatório: a implosão das Torres Gêmeas, em setembro de 2001.
5. Os principais alvos têm sido países islâmicos, envolvendo a geopolítica da energia. Desde 2001 o Afeganistão está sob agressão. Em 2003, destruição e ocupação do Iraque. Ataques a Sudão, Somália e Iêmen. Em 2011 a brutal agressão e intervenção da OTAN na Líbia. Durante todo o tempo, pressão e hostilização a Síria e Irã.
6. Em 2013, a agressão à Síria foi intensificada com a invasão por mercenários e extremistas, grandemente armados, com participação das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, e colaboração da Turquia e de outros membros da OTAN.
7. Mas, na Síria, o governo conseguiu resistir, com seus recursos e disposição e com apoio militar e político da Rússia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.
Ucrânia
8. O êxito, até o momento, dessa resistência, levou a potência hegemônica retornar a ataques mais incisivos contra a ex-superpotência, que busca reconstruir-se. Daí, o recente golpe de Estado na Ucrânia.
9. Ademais, Putin fortaleceu os laços econômicos e políticos da Rússia com a China e países da Ásia Central, frustrando a estratégia angloamericana de manter divididas e vulneráveis as potências capazes de alguma resistência a seu projeto de governo mundial absoluto.
10. Claro que os EUA nunca deixaram de reforçar o cerco à Rússia, desde a desmontagem da União Soviética, instalando bases de mísseis em ex-aliados de Moscou, com destaque para a Polônia. Teleguiaram a “revolução laranja” na Ucrânia, em 2004, mais um marco no enfraquecimento desse país de consideráveis dimensões e recursos naturais e população em grande parte russa.
11. Ao verem contida a intervenção na Síria – e presenciar o Irã muito pouco abalado pelas sanções e incessantes hostilizações - os EUA trataram de atingir o flanco da própria Rússia.
12. Instaram a União Europeia (UE), sua virtual satélite, a fazer ingressar nela a Ucrânia, visando a pô-la na OTAN, colocando bases militares contra a Rússia virtualmente dentro desta.
13. Entretanto, o presidente da Ucrânia, Yanukovych, constitucionalmente eleito, não concordou em aderir à UE sem discutir as draconianas condições impostas: adotar as medidas econômicas do figurino do FMI: cortar em metade o valor das pensões, suprimir benefícios sociais, demitir funcionários, privatizar mais patrimônio público em favor de plutocratas, tudo para pagar dívidas com bancos ocidentais.
14. Essas são as medidas às quais estão amarrados os pífios empréstimos que UE e EUA acabam de conceder após o golpe, desencadeado a partir de conversa telefônica entre a Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e seu Embaixador na Ucrânia.
15. Utilizaram-se as redes sociais e outros meios de arrebanhar massas descontentes e as levaram à praça Maidan, ignorando elas que suas lastimáveis condições de vida vão piorar muito após o golpe.
16. A polícia foi acusada de autora dos disparos feitos por gangs neonazistas e outras extremistas, como foi constatado pela chefe das relações exteriores da União Europeia e pelo ministro do exterior da Estonia, conforme conversação telefônica entre ambos, cuja autenticidade foi confirmada pelo ministro: http://rt.com/news/ashton- maidan-snipers-estonia-946/.
17. Isso é evidentemente omitido pela grande mídia, que só publica o que interessa aos governos dos EUA, aliados e satélites, todos subordinados à alta finança e ao big business.
18. Ninguém deveria desconhecer que ela mente, 24 horas por dia, e ainda mais desde a destruição, por dentro, das Torres Gêmeas em Nova York, golpe a partir do qual os EUA institucionalizaram mais instrumentos totalitários de repressão.
19. Mas engana muita gente, mesmo após ter sido desmascarada inúmeras vezes, como quando se comprovou ter o Secretário de Estado de Bush, Colin Power, mentido descaradamente sobre a existência de armas de destruição de massa no Iraque, negada pelo próprio observador das Nações Unidas.
20. É ao big business que agrada o golpe na Ucrânia, após já vir lucrando, antes dele, em negócios com os oligarcas corruptos atraídos para a órbita da oligarquia financeira, principalmente britânica.
21. De fato, anunciam-se novos acordos com as petroleiras angloamericanas (Chevron etc.) para extrair xisto, pelo processo altamente poluente fracking, bem como a cessão de terras ao agronegócio norte-americano, Monsanto à frente, com intenso uso dos letais transgênicos e agrotóxicos, nas grandes extensões férteis da Ucrânia.
22. O destino dos ucranianos, se confirmado o ingresso na UE, não diferirá do que assola a Grécia, e se abaterá também sobre os russos e outras nacionalidades que vivem em territórios cedidos à Ucrânia pelo bêbado Kruchev.
23. Putin está agindo com extrema cautela, tendo-se limitado a apoiar o parlamento da Crimeia em seu desejo de unir-se à Rússia, reforçando efetivos militares na península e no mar.
24. A China manifestou-se solidária à Rússia, inclusive por estar investindo na Ucrânia, como faz em todo lugar suscetível de exportar alimentos e outras matérias-primas.
25. A renda por habitante da Ucrânia equivale a 1/3 da russa, que não é alta, e a Rússia já acolheu três milhões de ucranianos em seu território. O agravamento das condições sociais levará a maior êxodo para a Europa Ocidental, que já tem enorme desemprego.
Brasil
26. O processo aqui em curso tem semelhanças com o da Ucrânia: insatisfação com as condições de vida e com a corrupção; ignorância das causas desses males.
27. Na nova ágora da internet e redes sociais, circulam versões absurdas como a de que o governo petista tem por objetivo implantar o comunismo.
28. Na realidade, esse governo, como seus predecessores, depende do big business transnacional, cujo domínio intensifica os problemas do País: concentração, desnacionalização e desindustrialização da economia; dependência tecnológica.
29. Difundiu-se muito no Brasil vídeo em que uma jovem ucraniana defende liberdade e democracia no errado contexto das massas iludidas na Ucrânia pelos mobilizadores do golpe. Na realidade, uma peça produzida por empresa de marketing político, sob os auspícios da agência norte-americana “National Endowment for Democracy”.
30. Este e outros braços do império acionaram as ONGs a seu serviço, a par dos nazistas, conforme a tradição da CIA, desde o final da 2ª Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia são homicídios, vandalismo e torturas, reiteradas agora com tiros sobre manifestantes pró-Rússia.
31. O objetivo da oligarquia financeira angloamericana no Brasil, até para prosseguir apropriando-se de seus recursos de toda ordem, é intensificar a desnacionalização e demais instrumentos para enfraquecê-lo.
32. Os meios de controle da informação – inclusive espionagem eletrônica, hacking – combinam-se com a corrupção de todo o sistema institucional. A presidente é acuada para aumentar o ritmo das concessões.
33. Estão presentes as consequências das falhas estruturais da economia brasileira, que venho, de há muito, denunciando, as quais se poderão manifestar de forma aguda após julho, apesar de haver eleições em outubro.
34. A crise brasileira tem face interna - física e financeira - como o serviço da dívida: R$ 900 bilhões para 2014; e face externa: déficit nas transações correntes com o exterior acumulando US$ 188,1 bilhões em três anos (US$ 81,4 bilhões só em 2013).
35. Além disso, seus efeitos econômicos e sociais podem ser agravados pelas repercussões do colapso financeiro no Hemisfério Norte, próximo de ressurgir.
* – Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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Finanças e (sub)desenvolvimento
Cidadãos saqueados
1.A oligarquia financeira mundial saqueia o Brasil, inclusive através da dívida pública, inflada pela capitalização de juros absurdos, mesmo gerando, com só eles, gastos inúteis da ordem de R$ 350 bilhões anuais.
2. Assim, são sugados recursos tributários, que deixam de ser aplicados em investimentos produtivos, serviços públicos e infra-estrutura física e social. Para aumentar as verbas destinadas aos juros da dívida, os governos títeres têm confiscado poupanças dos brasileiros, através de emendas constitucionais, como a da DRU (desvinculação das receitas da União), que permite desviar, para o serviço da dívida, recursos da seguridade social.
3. Em especial, os contribuintes do INSS – assalariados, autônomos e empresários - têm sido espoliados pelas “reformas” da previdência de FHC e Lula, aprovadas no Congresso por meios nada democráticos.
4. O “fator previdenciário”, na realidade calote previdenciário, reduz os proventos de aposentadoria em percentuais maiores para quem começou a trabalhar com menos idade.
5. Um interlocutor informou-me que, tendo contribuído sobre dez salários mínimos, perde, por conta do tal “fator”, 37,5% de seu provento, que caiu para três salários mínimos, também por causa da falta de atualização monetária da tabela do imposto de renda.
6. Essa, conforme estudos técnicos, ficou 62% abaixo do que deveria, se fosse aplicado o índice de variação do IPCA de 1996 a 2013. Assim, em 1996, o IR incidia só em salários acima de 8 mínimos, enquanto que, em 2013, recaiu sobre quem ganha R$ 1.710,78: menos de 3 salários mínimos.
Estado e política financeira
7. Há anos, a mídia ocidental “prevê” o estouro de bolha imobiliária e financeira na China, o que anima os que esperam o fim da arrancada de desenvolvimento desse país e que ele deixe de equilibrar a balança de poder em face dos EUA.
8. Em recente artigo na britânica BBC, informa-se que, nos últimos anos, a China construiu um novo arranha-céu a cada cinco dias, mais de 30 aeroportos, sistemas de metrô em 25 cidades, as três pontes mais extensas do mundo, mais de 9,6 mil quilômetros de rodovias, de alta velocidade, e empreendimentos imobiliários comerciais e residenciais em grande escala.
9. Então, lembra que as expansões econômicas sempre terminaram em crises, ignorando que isso pode não valer em países não dominados pela oligarquia financeira.
10. Na China o Estado detém grande poder, independente das centenas de bilionários e milhares de milionários cuja existência propiciou nos últimos 37 anos, e os controladores do Estado não chegam a essa posição por eleições movidas a dinheiro e pela mídia.
11. As crises e colapsos financeiros podem ser evitados, porquanto dívidas podem ser reduzidas, refinanciadas e canceladas, exceto se os credores tiverem poder para não permiti-lo, ainda que isso signifique a derrocada da economia.
12. Dinheiro e crédito podem ser criados à vontade, como os EUA fazem com o dólar, e não só em proveito dos bancos, ao contrário do que lá se faz.
13. A oligarquia, do Ocidente prefere a depressão ao saneamento da economia. Confiscou haveres de milhões de devedores, em lugar de deixar falir os bancos que haviam elevado, através de fraudes, as dívidas dos clientes e obtido lucros imensos, criando centenas de bilhões de dólares em novos títulos “lastreados” em títulos nada seguros.
14. Salvos pelo FED e pelo BCE (banco central europeu) , os bancos não financiam atividades produtivas, porque a economia está estagnada, e a demanda fraca. Aplicam o dinheiro em novas especulações e emprestam aos Tesouros, endividados para ajudá-los.
15. Foi normal que o crescimento econômico da China se desacelerasse, após 30 anos com taxas em média superior a 10% aa. Mas não entrou em recessão mesmo com a queda na demanda por importações das economias ocidentais.
16. A China pode fazer ocupar a enorme área de apartamentos e espaços comerciais construída. Se a política econômica não é escrava das finanças “ortodoxas”, não há problema em financiar locatários ou adquirentes, mormente se os salários e a produtividade seguem em alta.
17. O próprio regresso de milhões de pessoas para áreas rurais pode ser administrado, dada a boa infra-estrutura de transportes, fomentando a produção agrícola descentralizada, em interação com as áreas urbanas.
O Estado no Brasil
18. Diferentemente da facilidade, por decreto, com que se podem arrumar as finanças, precisa-se de decênios e muita qualidade estratégica para reparar os estragos na economia real decorrentes da depressão econômica (deterioração da infra-estrutura e do capital humano, como nos ocidentais desenvolvidos) e os danos do subdesenvolvimento, caso do Brasil, que, desde 1954, entrega seu mercado às transnacionais.
19. Para começar, o País tem de deixar de ser escravo das finanças. Além disso, o desenvolvimento econômico só é viável, se também for social: se o Estado impedir a concentração econômica.
20. Há que incorporar capital e tecnologia do próprio País ao processo produtivo, tanto nos bens e serviços de consumo e de uso individual, como nos coletivos: energia, transportes, comunicações, saneamento, saúde, educação, cultura e informação.
21. Fundamental que essa acumulação seja bem distribuída, com mercados em competição, salvo em setores de monopólio natural, caso em que tem de ser estatal. Em suma, sem distribuição do poder econômico, não haverá a do poder social.
22. Nos países desenvolvidos, o Estado teve ação decisiva, depois negada na história reescrita ao gosto da oligarquia capitalista, que se fortaleceu com a concentração e subordinou a economia de mercado.
23. Surgiram, assim, teorias e políticas conducentes a reduzir o papel do Estado e sua função de agente do desenvolvimento, privatizar estatais, eliminar políticas de bem-estar, desregulamentar as finanças, a indústria, etc., mas privilegiando a produção de armamentos.
24. O Brasil não chegou ao desenvolvimento, porque teve sua economia desnacionalizada, após os golpes de Estado determinados pela geopolítica das potências imperiais.
25. O governo instalado pelo golpe de 1954 doou o mercado às empresas transnacionais (ETNs), e lhes deu subsídios inimagináveis: a) permitir às ETNs importar bens de capital usados, de há muito amortizados com as vendas dos seus produtos no exterior; b) atribuir a essas importações valores significativos; c) permitir seu registro como investimento estrangeiro; d) converter essas quantias em moeda nacional, à taxa livre de câmbio (cuja cotação equivalia ao dobro da taxa preferencial; e) converter os enormes ganhos à taxa preferencial, nas remessas às matrizes.
26. Esses favores foram mantidos e ampliados por Juscelino Kubitschek, ao final de cujo quinquênio (1956-1960), o País teve a primeira crise de dívida externa, desde os anos 30, tendo Vargas praticamente reduzido a dívida a zero em 1943.
27. O primeiro governo militar (1964-1967) diminuiu o investimento público e tornou proibitivo o crédito empresas nacionais, fazendo falir grande número destas
28. Debilitadas e excluídas do mercado as empresas nacionais, não há como desenvolver no País tecnologias, que só florescem em empresas que produzem bens para o mercado.
29. Os governos militares seguintes obtiveram altas taxas de crescimento sob o mesmo modelo de dependência financeira e tecnológica: a dívida externa cresceu aceleradamente, devido aos déficits de transações correntes causados por: remessas de lucros das ETNs, inclusive como despesas; subfaturamento de exportações; superfaturamento de importações, inclusive de equipamentos e insumos (usinas em pacotes tecnológicos fechados) para obras públicas e setores básicos, em concorrências com especificações desenhadas pelo Banco Mundial, em favor de grandes transnacionais.
30. O crescimento exponencial da dívida externa culminou na inadimplência em 1982, tornando o País refém do garrote externo e da dívida interna, em progressão galopante impulsionada pelas taxas de juros mais altas do mundo.
31. Desde a Constituição de 1988, com a introdução fraudulenta, no § 3º inciso II do art. 166, de dispositivo que privilegia o serviço da dívida, a União gastou, em valores atualizados, R$ 10 trilhões, sangria que se soma às demais decorrentes da desnacionalização e da concentração.
32. Outro desastre flui do art. 164, que nega ao Tesouro competência para emitir moeda e a atribui ao Banco Central, e este só pode financiar bancos, que se locupletam com as brutais taxas de juros dos títulos do Tesouro.
33. Desde os anos 80: queda nos investimentos públicos, intensificação da desnacionalização e políticas cada vez mais favoráveis aos grupos concentradores; a partir de Collor (1991), enxurrada de emendas constitucionais e leis contrárias aos interesses nacionais e as corruptas privatizações sob FHC, mantidas e ampliadas pelos governos do PT.
34. A administração pública foi desestruturada, e a normatização e a gestão de energia, petróleo, águas e tudo mais entregues a agências dirigidas por gente ligada a interesses que não os nacionais.
35. Portos, aeroportos e estradas têm sido objeto de novas concessões a grupos privados, sem obrigação de fazer melhorias, nem de mantê-los adequadamente, mas com direito a arrecadar tarifas.
36. Nas PPPs (parcerias público-privadas) os investimentos de infraestrutura são financiados, a juros favorecidos, por bancos oficiais, e realizados e geridos por grupos privados, com lucros garantidos e risco coberto pelo Estado.
37. Com a lei 9.478/1997, transnacionais exportam petróleo, pagando royalties em percentual muitíssimo inferior à media dos vigentes em países sem estatais com a tecnologia da Petrobrás. A demissão do Estado culminou com o leilão do pré-sal.
38. De JK ao presente, a infraestrutura de transportes visa só a propiciar ganhos às ETNs automotivas. As grandes cidades carecem de linhas de metrô suficientes. São Paulo tem cinco vezes menos kms. de linhas que Shanghai. Tampouco se investiu correta e suficientemente em vias fluviais, canais e eclusas, navegação de cabotagem e ferrovias.
40. As políticas de energia e de telecomunicações são coleções de absurdos em favor de beneficiários das privatizações. A biomassa – que deveria ser a primeira das fontes de energia, ao lado das hidroelétricas - é não só preterida, mas boicotada.
41. Mais: o Estado subsidia escolas e instituições de “saúde” privadas, através de bolsas, enquanto negligencia a quantidade e qualidade das escolas e das instituições de saúde, públicas.
* – Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
PS dos bastidores: Abrimos o espaço pra deixar aqui o diálogo sobre o artigo entre o autor e o advogado Hélio Moura Filho.
Hélio Moura Filho – Prezado Dr. Benayon,
Mais uma vez, venho parabenizá-lo pelo artigo supra epigrafado, que com uma linguagem simples, abrilhanta nossas mentes e nos faz refletir, sobre as mazelas e as maldades das políticas econômicas aplicadas em nosso país nos últimos 60 anos.
Como fizeram mal ao povo brasileiro, que aceita todas as mudanças em suas vidas, com os planos econômicos mirabolantes, que esses políticos sem escrúpulos, nos colocam guela abaixo.
Promulgam PECs, aprovam Leis complementares e etc…sempre prejudicando os desfavorecidos e o próprio país.
A banca cada vez mais rica e os políticos inescrupulosos, cometendo seus crimes, como se fosse normal, defendidos por grandes bancas de advogados.
Vamos continuar lutando por um Brasil melhor! Temos uma grande arma, que é o voto, mas temos que ensinar e ensinar muito o povo a manuseá-lo.
Adriano Benayon – Prezado Dr. Moura Filho,
Fico muito honrado por seus generosos comentários sobre o artigo enviado e muito apreciaria que o divulgasse a mais pessoas, pois há muita gente dormindo em “berço esplêndido”, embalado pelas distrações e alienações midiáticas.
Permito-me exortar o ilustre correspondente e aos que acatam sua respeitada opinião a lutar sempre, através da informação e também da articulação com outras pessoas de elevado nível, para que um dia se possa mobilizar neste País gente e recursos para o erguimento de novas instituições. Nas atuais, nada há a esperar senão maior agravamento das sérias mazelas presentes.
A saída não está no voto, sob as atuais instituições, porque, primeiro, as eleições são decididas por dinheiro concentrado – e, por vezes, estrangeiro – e pela mídia corruptíssima, de tal modo que todos os candidatos à presidência, com chances, estão vinculados à rede de interesses que nos têm levado à ruína.
Segundo, porque, mesmo que houvesse meios de informar e esclarecer a população sobre as realidades e indicar candidatos capazes de tratá-las adequadamente, nem isso nos salvaria, porquanto a urna eletrônica usada no Brasil se presta a todo tipo de fraude.
Pior, o próprio STF pronunciou-se contra a impressão do voto, única forma de, com a tal urna, haver alguma possibilidade de controle, e os tribunais eleitorais recusam-se terminantemente a que se lhes demonstre a total falta de confiabilidade dessas urnas.
Dizem que eles mesmos as auditam: só aceitam auditorias internas, ou seja, os vendedores de voto negam-se a permitir qualquer auditoria independente, embora competentíssimos especialistas, inclusive professores de informática e criptografia já tenham comprovado publicamente que a urna eletrônica utilizada no Brasil,e sem voto impresso, é instrumento para n manipulações, ao gosto desses tribunais ou até de hackers estranhos.
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“Eleições” no modelo dependente
Por Adriano Benayon
O golpe de 1964 – agora com 50 anos – consolidou o modelo dependente, subordinado ao capital estrangeiro, instituído pelo golpe de 1954 e aprofundado no demagógico quinquênio JK. A falsa democratização radicalizou esse modelo, por meio de governos egressos de “eleições” também manipuladas pela oligarquia financeira mundial.
2. Sob pena de esfacelamento do País, o povo brasileiro não deve mais tolerar as imposições emanadas dessa oligarquia, que controla os poderes da República e demais instituições do Estado. Há 25 anos, repete-se a farsa de “eleições” para presidente, nas quais os eleitores praticamente nada escolhem.
3. O real sistema de poder manobra sempre para que todos os candidatos com chance de chegar ao 2º turno estejam comprometidos com a realização destes objetivos: ampliar e aprofundar a desnacionalização da economia, desindustrializá-la, servir a dívida - inflada pela composição de juros absurdos – e propiciar ganhos desmedidos às grandes empresas transnacionais.
4. Na primeira eleição direta (1989), ainda houve um candidato, Leonel Brizola, fora desses parâmetros. Esse foi barrado no 1º turno, através de expedientes, como impedir os transportes em regiões onde ele teria maioria, e fraudar urnas, a ponto de, em MG, por exemplo, ter ele tido zero voto em seções eleitorais às quais compareceram vários partidários e militantes do PDT.
5. Em 1989: Collor e Lula; 1994: FHC e Lula; 1998: FHC, no 1º turno, por meio de fraudes de fazer corar de vergonha qualquer tiranete de republiquetas bananeiras; 2002: Lula e Serra; 2006: Lula e Alckmin; 2010: Dilma e Serra.
6. Em 2002, o Dr. Enéas, apesar de seu escasso tempo no horário gratuito da TV, obteve quase 2 milhões de votos para deputado federal em São Paulo. Desenhava-se um perigo para o sistema: um fenômeno de comunicação.
7. A atuação de Enéas na Câmara foi dificultada através de todo tipo de obstáculos e armadilhas para consumir-lhe recursos e energias, inclusive, mediante a compra de quatro dos cinco deputados que elegera, para mudarem de partido, através do mensalão.
8. O fim do PRONA foi armado, por meio da Lei de Barreiras, tendo o notório Nelson Jobim mencionado o PRONA, na TV, como um “partido nanico” que dita lei visava eliminar. Aprovada ela, após dois anos de conchavos dirigidos pelo senador Marco Maciel, o Dr. Enéas teve de fazer fusão com um partido maior.
9. Uma semana depois, o ministro Marco Aurélio, do STF, declarou inconstitucional a Lei de Barreiras. Todos concordaram, e essa Lei acabou.
10. Não vem ao caso se Enéas parecia autoritário. Importa que, na Câmara, ele se opôs a emendas constitucionais entreguistas e lesivas aos trabalhadores e aposentados, impostas por Lula, mantendo e reforçando as impingidas por FHC ao Congresso.
11. O sistema não tolera políticos não dependentes de seu dinheiro e da grande mídia, mesmo que entreguistas, como o defenestrado Collor. Esse tentou, com o sócio Paulo Octávio, comprar a TV-Manchete.
12. Tal é o poder da oligarquia angloamericana sobre o País, que até hoje se oferece grande espaço a figuras como o nefasto FHC.
13. Os crimes contra o País cometidos na presidência de FHC são ocultados da opinião pública, para que se ignore a extensão e a profundidade dos danos que persistem e crescem, pois o grosso de suas políticas têm sido mantido e ampliado nos 12 anos de Lula/Dilma.
14. Osvaldo Nobre no artigo “A privatização desmoralizada” (Monitor Mercantil 14/03/2014), lembra que os governantes persistem nas doações: setor elétrico, telecomunicações, ferrovias, rodovias, transportes públicos, aeroportos, até a coleta de lixo, e o leilão do petróleo de Libra.
15. Como recorda Nobre, para privatizar o setor elétrico, o governo de FHC argumentou que não haveria mais recursos para investir e que, com a privatização, as tarifas seriam futuramente reduzidas. Ora, os recursos fluíram e fluem, quase todos públicos (do BNDES), e os aumentos das tarifas superam amplamente a inflação.
16. Roberto d’Araújo, do ILUMINA, aponta que, desde 1995, esse aumento real é de 80% e que os absurdos se acumulam: autorizadas as distribuidoras a contratar suas próprias geradoras, os contratos com estatais foram trocados por outros a preços de Kw três vezes maiores; em 2001, houve o maior racionamento da história do planeta; diminuída a receita, dada a queda do consumo, as distribuidoras foram compensadas com aumentos de 30% em 2003 e 2004; custos fixos foram majorados, como se fossem proporcionais ao mercado, e, em função disso, os consumidores foram lesados em R$ 7 bilhões até 2010; a Eletrobrás vendia energia, de 2003 a 2007, no mercado livre, a preços tão subsidiados, que era possível comprar 1 MWh até por R$ 4,00 (o preço médio em 2013 foi R$ 263,09); o número de apagões de grande porte triplicou; no Rio de Janeiro, explodem bueiros; um abstruso sistema de leilões determina a matriz elétrica, e o número de térmicas caras, a óleo e diesel, multiplicou-se por 6.
17. Com a queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas, o megawatt-hora (MWh) atingiu, em fevereiro de 2014, o incrível preço de R$ 822,83 por MWh.
18. A MP 579 - que reduziu um pouco as tarifas - está causando a falência da Eletrobrás. Essa MP faz que usinas hidroelétricas vendam energia a preços de térmicas. O Tesouro subsidiou as distribuidoras em mais de R$ 10 bilhões em 2013, sendo previstos mais R$ 18 bilhões em 2014.
19. Nobre assinala que, enquanto crescem os dividendos de acionistas das transnacionais e de outros beneficiários da privatização, os sistemas de energia não recebem investimento sequer para manutenção adequada.
20. Lembra que, em 1962, quando foi criada a Eletrobrás, os donos do setor eram empresas privadas, pontificando a canadense Light e o grupo AMFORP. Os serviços eram péssimos e faltava energia, apesar dos racionamentos e da demanda reprimida.
21. Tudo isso está voltando. Sob FHC e os petistas, a Eletrobrás foi fatiada, criando-se a EPE e o ONS para substituir diretorias da Eletrobrás, e a geração no Sul do País foi entregue à transnacional belga, Tractbel.
22. Conforme aduz Nobre, Dilma intensifica a privatização da geração de eletricidade, através de SPEs capitalizadas pelo Poder Público, além de criar o Programa de Térmicas Emergenciais, no modelito Dilma–Tomalsquin de leilões que privilegiam as térmicas.
23. Os ambientalistas silenciam diante desse horror, mas os das ONGs teleguiadas por Londres e a FUNAI forçam que os projetos de hidrelétricas sejam modificados para gerar muito menos energia, ao suprimirem reservatórios e eclusas.
24. O professor Scalambrini, da UFPE, Recife, assinala que as empresas de geração, transmissão e distribuição são “aliviadas” dos compromissos, inclusive contratuais, pelos órgãos oficiais e agências, como a ANEEL, que as deveriam regulamentar e fiscalizar.
25. Nobre menciona esquemas semelhantes, que prevalecem nas telecomunicações, desde FHC – entregues aos “amigos do Rei” – que fez universalizar os serviços, especialmente a telefonia móvel, e presenteá-los, através da privatização.
26. Acrescenta: “no início, euforia, todos com telefone, inclusive as classes D e E; hoje, a maior parte das concessionárias é controlada por transnacionais – mexicanas, italianas, espanholas - as empresas mais processadas pelos consumidores, que praticam tarifas escorchantes e oferecem péssimo serviço.” Cita: “Teles investem pouco no Brasil.” [1ª página de O Globo de 9/3/14]. E [página inteira (33) no mesmo jornal]: “Lucra aqui, envia para lá”.
27. Não foi cumprida obrigação alguma das assumidas nos contratos de privatização das ferrovias, e aeroportos foram doados com dinheiro do BNDES. Com as concessões rodoviárias: pedágios altíssimos, estradas precárias. Só Dilma já privatizou 4.250 km. de rodovias (Monitor Mercantil de 27/12/13, página 3).
28. A desastrosa infra-estrutura de transportes está associada à da de energia. Ambas são decididas pela oligarquia transnacional, a qual comanda a indústria do petróleo em âmbito mundial e o grosso da distribuição de derivados no Brasil, ademais de toda a indústria automotiva no País. Maximizar os lucros dessas indústrias constitui o objetivo primordial das políticas públicas no Brasil.
29. Isso explica: 1) a lastimável matriz de transportes, decorrente dos baixos e mal realizados investimentos em ferrovias e aquavias, bem como o caos dos transportes urbanos; 2) a crescente, custosa e poluente participação dos combustíveis fósseis na matriz energética; 3) a queda da participação do etanol entre os combustíveis dos veículos automotivos; 4) o descaso e o boicote à produção dos óleos vegetais, que substituiriam com vantagem os derivados do petróleo; 5) os leilões de petróleo abertos às transnacionais, em condições lesivas ao interesse nacional; 6) o fato de, há muito, a Petrobrás não mais valorizar seus quadros técnicos; 7) a contenção do preço final dos derivados de petróleo às expensas da Petrobrás; 8) o apoio às fontes renováveis de energia dependentes de tecnologia estrangeira, como a eólica, cujos pacotes envolvem até as obras de infra-estrutura junto com equipamentos de geração importados.
30. Assim, fica relegada a energia da biomassa, na qual há experiências vitoriosas, mas confinadas a proporções modestas devido ao desinteresse dos governos federal e locais. Esse é o caso, entre outros, do sistema UNIGEA, desenvolvido por Carlos Alberto Ferraz, continuador das realizações de Marcelo Guimarães, em MG.
31. Esses melhoram o processo de produção de álcool em microdestilarias, combinada com a produção de alimentos. Se fossem multiplicados em várias regiões, o País teria fantásticos ganhos econômicos, tecnológicos, sociais, ambientais e na saúde pública.
32. Maiores ganhos de todos esses tipos – em enorme salto qualitativo – resultariam da produção de óleos vegetais para uso direto em motores de combustão. A escala viável da multiplicidade de unidades produtivas descentralizadas tem dimensão várias vezes suficiente para prover combustível a toda a frota de veículos automotivos do País.
* – Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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Atentemos para alguns detalhes do crime. 1) A arma que teria ferido um dos pés de Carlos Lacerda era um revólver calibre 38. 2) A distância entre o atirador que o portava e os possíveis alvos era de poucos metros. 3) Um pistoleiro profissional, como o recrutado, não teria como errar seu alvo verdadeiro, a saber, o próprio Major Vaz. 4) Se uma bala daquela arma tivesse realmente atingido o jornalista, o pé da pretensa vítima teria sido estraçalhado e não teria sido engessado, nem a “vítima” ter-se-ia recuperado em pouco tempo. 5) O prontuário desapareceu dos registros do hospital. 6) Na proteção a Lacerda revezavam-se oficiais da Aeronáutica, e, no dia do atentado, a escala foi mudada, para que Gustavo Borges, solteiro, fosse substituído por Rubens Vaz, cuja morte suscitaria maior comoção na opinião pública, por ser ele casado e pai de filhos pequenos. 7) O inquérito ficou sob a direção de oficiais da Aeronáutica hostis ao Presidente, os quais formaram rebelião incorretamente consentida pelo governo, instalando a notória “república do Galeão”. 8) Os implicados foram interrogados sob coação e possível administração de droga. 9) Gregório, chefe da guarda pessoal do Presidente, indiciado como mandante, foi assassinado antes do término da pena cominada, com o que deixou de apresentar qualquer versão que não a prestada sob constrangimento. 10) Entre os marginais atuantes no atentado estavam informantes da polícia política (DOPS), dirigida pelo delegado Cecil Borer, adepto do nazismo, cooptado, como muitos outros dessa afiliação, por serviços secretos estadunidenses e por companhia transnacional de petróleo.
A literatura costuma omitir isso tudo. Em seu livro “Getúlio Vargas – A Revolução Inacabada”, Bloch Editores 1988, o filho do presidente, Luthero Vargas, anota elementos factuais relevantes, além de incluir depoimentos substanciosos de observadores militares e civis próximos aos eventos. Afora esse, apenas o de Carlos Heitor Cony (“Quem Matou Vargas? – 1954 Uma Tragédia Brasileira”, Bloch Editores 1974) faz aflorar dúvidas quanto aos lugares comuns aceitos, quase sempre, sem questionamento, pela imprensa e pela mídia, e por historiadores, biógrafos e professores universitários.
De 1900 a 1958, período em que a entrada de investimentos estrangeiros no País foi insignificante, o produto interno bruto (PIB) cresceu 5% ao ano em média, tendo chegado a US$ 19 bilhões, o que equivale, em valor de 2004, a US$ 152 bilhões. Se se tivesse, então, implantado o modelo autônomo de desenvolvimento, aplicando em investimentos a poupança nacional, sem deixar vazá-la para o exterior, teria sido fácil fazer crescer o produto a 10% aa., taxa conseguida, durante vários decênios, por países que nem de longe contam com recursos naturais comparáveis aos do Brasil, tais como Japão, Coréia do Sul, Taiwan e China. Isso faria chegar o PIB a US$ 11,1 trilhões, quantia igual ao PIB dos EUA. Melhor, a US$ 16,7 trilhões, computando 50% de elevação do PIB oficial resultantes de alterações no método de cálculo. Esta cifra seria, de longe, a mais alta do Mundo.
Mesmo que apenas se tivesse mantido, nos últimos 45 anos, o ritmo (5% aa.) da 1ª metade do Século XX, o PIB alcançaria US$ 1,37 trilhão. Antes, com aquela correção, seria de 2 trilhões, ou seja, quatro vezes maior do que o PIB atual. Levando-se em conta o crescimento da população, a triplicação do uso do território, em função das exportações agrícolas, bem como o crescimento fantástico da exploração de recursos minerais, o pífio PIB atual deve ser visto como a radiografia de um País cujos recursos lhe são extraídos de forma desbragada.
Quem consentiu nisso, quem até contribuiu para que isso acontecesse? A quase totalidade dos presidentes após G. Vargas, o último a tentar efetivamente defender o País. Eles foram coniventes. Uns, buscando atenuar um pouco a sangria, temerosos, porém, de ser derrubados. Outros, ativamente oferecendo as riquezas do País a troco de nada para este, e certamente em troca de algo para si próprios.
J. Kubitschek costuma ser louvado em prosa e verso, e mesmo observadores, em geral argutos, iludem-se com as elevadas taxas de crescimento do PIB em seu qüinqüênio. Essas taxas decorrem, em grande parte, do estoque de capital social e privado formado nos 20 a 40 anos anteriores, e só significam progresso, se, a cada ano, se estiver melhorando aquele estoque e, portanto, assegurando a continuidade de taxas altas. Para isso, o que importa é não só a quantidade, mas a qualidade da infra-estrutura e dos demais investimentos produtivos. Importa muito, também, que esses fiquem sob controle nacional. Do contrário, a transferência de renda para o exterior faz, no futuro, encolher o investimento e o consumo e, assim, causar baixo crescimento e até o declínio da economia.
Kubitschek, ao contrário de Vargas, era adepto dos investimentos diretos estrangeiros, pois, presidente-eleito, antes da posse, visitou vários países centrais, fazendo propaganda das vantagens que o País oferecia aos investidores estrangeiros. Deu incentivos e subsídios desmedidos, para que montadoras transnacionais de veículos ganhassem a reserva do mercado brasileiro. Inviabilizou, assim, a médio prazo, as indústrias automotivas de capital nacional, ou misto, que já iniciavam sua produção, e, fez liquidar, a longo prazo, as indústrias nacionais de autopeças. Estas detinham quase 100% do mercado e hoje, um quarto dele. Também a indústria naval de capital estrangeiro foi favorecida pelos grupos executivos criados por JK.
Além disso, este adotou como principal bandeira de política externa a “Operação Pan-americana”, uma aposta, totalmente irrealista, de que investimentos públicos e privados norte-americanos dessem vigoroso impulso ao desenvolvimento do Brasil e de outros países do continente. Ora, por um lado, os que dominam a política dos EUA não têm qualquer interesse nisso – e levaram a “Operação” em banho-maria – e, por outro, se tivessem atendido as expectativas de Augusto F. Schmidt e de JK, não teriam ajudado a América Latina a desenvolver-se. Os países que o conseguiram foram exatamente os menos “beneficiados” pela ajuda estrangeira. No Plano Marshall, o Reino Unido e a França receberam 60% do total dos financiamentos. A Itália e a Alemanha Ocidental, 30%, e tiveram crescimento econômico bem superior ao daqueles países.
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Os juros, a taxa efetiva e a SELIC
Por Adriano Benayon
Se os brasileiros têm alguma esperança de o País organizar-se para terem condições de vida toleráveis, precisam avaliar o que realmente significa a dívida pública e seus juros e amortizações.
2. Se o fizerem, perceberão a ação devastadora do “serviço da dívida,um dos principais instrumentos da brutal extorsão que o País vem sofrendo há decênios.
3. As pessoas menos mal informadas já têm razão de sobra para escandalizar-se com a altura e as elevações da taxa básica de juros SELIC determinadas formalmente pelo Conselho de Política Monetária (COPOM) e, na realidade, pelo Banco Central (BACEN).
4. De fato, as taxas básicas de juros da SELIC voltaram a ter várias elevações, a última das quais as fixou em 11% aa., um valor absurdo, uma vez que as correspondentes taxas nos EUA, Europa, Japão etc., não chegam, na maioria dos casos, a 1% aa.
5. Nada justifica essa diferença. É falacioso o argumento, considerado verdade absoluta pela mídia e por grande número de economistas, segundo o qual taxa de juros alta ou em elevação detém os aumentos dos preços dos bens e serviços (inflação).
6. Ademais, a dívida pública interna do Brasil, é inferior à daqueles países, em proporção aos respectivos PIBs.
7. A demonstração a seguir comprova que a principal função e o objetivo (não declarado) das altas taxas de juros no Brasil é assegurar seu subdesenvolvimento, bem como fabulosos lucros para concentradores locais e estrangeiros.
8. Estes e muitos brasileiros, captam, no exterior, dólares criados irresponsavelmente pelo FED e por bancos comerciais da oligarquia financeira angloamericana – sem lastro, ou seja, do nada – e os convertem em moeda brasileira para aplicar em títulos do Tesouro no País.
9. Os ganhos dos concentradores com os títulos do Tesouro brasileiro crescem não só em função das taxas atuais, mas também em decorrência de elas incidirem sobre montantes de dívida formados pela capitalização de juros ainda mais elevados, na maior parte do tempo, desde há decênios.
10. Vamos aos números, para ver que a terrível taxa SELIC parece módica diante dos juros efetivamente pagos pela União às custas do sangue dos brasileiros e dos recursos naturais do País. O Eng. Luiz Cordioli, de São Carlos (SP) elaborou tabela, baseada em dados oficiais do site do BACEN, com as taxas mensais da SELIC de 1986 a 2010.
11. Mais recentemente ele verificou que os dados atualmente encontráveis no site do BACEN foram modificados, até mesmo os referentes aos primeiros anos abrangidos, sem, entretanto, que a divergência, no conjunto, chegue a 1%.
12. Completei os números da tabela de Cordioli com os pertinentes aos anos de 2011 a 2013. As taxas SELIC acumuladas de 1986 a dezembro de 2013, mostram que, se a dívida equivalesse a um 1 real em 1986, ela teria chegado a 18,39 trilhões de reais no final do período, em grande parte devido às enormes taxas dos anos anteriores ao Plano Real, quando grande proporção delas era atribuída à correção monetária.
13. Então, dividi esse acumulado de 18,39 trilhões por 679,3 milhões, o fator acumulado até julho de 1994, quando se iniciou o Plano Real. Essa divisão resultou no fator 27,1 para o período de julho de 1994 a dezembro de 2013.
14. As dívidas mobiliárias somavam, em 1994, R$ 135,9 bilhões, sendo R$ 61,8 bilhões da federal e o restante das dívidas estaduais e municipais, as quais foram mais tarde federalizadas, submetendo os governos locais a taxas de agiotagem praticadas pela União, com a aplicação do IGP-DI.
15. Multiplicando-se R$ 135,9 bilhões por 27,1, a dívida mobiliária interna da União deveria ter atingido R$ 3,68 trilhões, se não tivesse sido feito pagamento algum de juros nem de amortizações de 1994 a 2013.
16. Ora, a dívida mobiliária interna atualmente é de cerca R$ 3,3 trilhões, computando-se, como é recomendável, também os títulos do Tesouro que circulam no mercado aberto, em montante superior a 900 bilhões de reais.
17. Já o montante atualizado dos pagamentos do serviço da dívida (juros e amortizações) supera R$ 7 trilhões, de 1994 ao final de 2013.
18. Portanto, as taxas básicas da SELIC constituíram apenas uma parte, talvez nem a metade, das taxas efetivas pagas pelo Tesouro Nacional em seus títulos.
19. Eis por que, se as taxas básicas já são desnecessária e grotescamente altas, que dizer das efetivas, as quais retratam o gasto real do poder público com “dívidas” formadas principalmente pela composição dos juros?
20. As próprias taxas básicas foram escandalosamente elevadas, mesmo após o indecente Plano Real – outra mentira que custou caríssimo para os brasileiros.
21. De fato, como entender taxas da magnitude que demonstro a seguir, divulgadas – através da propaganda oficial e a da mídia – como destinadas a conter a alta dos preços, e ainda mais durante a vigência de um Plano que diziam ter eliminado a inflação, por meio da âncora cambial e da extinção da indexação?
22. Calculei as taxas básicas acumuladas de 1995 a 2006, começando com a confrangedora taxa de 53,1% aa. em 1995. Nos dois fatídicos mandatos de FHC e no primeiro de Lula – também promotor de lucros espantosos em favor dos bancos e demais rentistas – essa taxa nunca ficou abaixo de 15% aa, e o acumulado de 1995 a 2006 resultou no fator de 12,7.
23. Ou seja: somente a aplicação da taxa básica SELIC nesses 12 anos faria multiplicar quase 13 vezes o montante da dívida do primeiro ano da série. E, como vimos, essa taxa oculta grande parte, se não a maior parte, do dano infligido ao País pela taxa de juros efetiva, paga pelo Tesouro, o qual, por sua vez, achaca os brasileiros para extrair os recursos que presenteia aos aplicadores em seus títulos.
24. Para isso, o poder público – dominado por interesses que não são os nacionais, mas sim, os de quem deseja condená-lo à condição de vil colônia de exploração de recursos naturais – usa expedientes adotados em emendas constitucionais, como a da DRU (desvinculação das receitas da União), e a famigerada lei completar, falsamente denominada de Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF), que merece ser chamada Lei de Proteção aos Predadores Financeiros.
25. O Eng. Luiz Cordioli, tal como a auditora fiscal Maria Lucia Fatorelli, fundadora e dirigente da Auditoria Cidadã da dívida, impressionaram-se com trabalhos que escrevi, há anos – inclusive o artigo “Anatomia de uma Fraude à Constituição”, em que tive a colaboração do Prof. Pedro Rezende, da UNB, perito em ciência da computação e criptografia.
26. Ali está minuciosamente descrito, juntamente com a documentação comprobatória, como a fraude foi operada, a fim de favorecer o “serviço da dívida” no Orçamento da União.
27. Cordioli e Fatorelli labutam incansavelmente para demonstrar os mecanismos através dos quais – sob a proteção dessa fraude, transformada em norma constitucional – o Tesouro, o BACEN e quem os manipula, lesam os contribuintes e arrasam as finanças públicas em dimensões inacreditáveis.
28. Cordioli e Fatorelli tem demonstrado, há anos, em requerimentos em petições ao Ministério Público Federal e a diversas outras autoridades, como o Conselho Nacional de Justiça, o STF, a Câmara e o Senado federais, OAB, além de as expor em audiências.
29. Apesar desses esforços e da competência de seus empreendedores, nenhum membro das instituições mencionadas animou-se, até hoje, a defender a supressão da ilegal, ilegítima e infame adulteração do inciso II do § 3º do art. 166.
30. Esse inciso, como qualquer outra norma, não podia ser modificada em seu mérito ou substância, após ter sido votado em 1º Turno. Ele rezava: “As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulação de despesa”.
31. Sob o disfarce de um requerimento de fusão de emendas dos arts. 165 a 167 (que só seriam legais, se fossem somente de redação), foi inserido fraudulentamente este acréscimo ao citado inciso II: “excluídas as que incidam sobre:” e mais a alínea b): “serviço da dívida”.
32. Assim, o “serviço da dívida”- ao contrário das demais despesas – ficou sendo aumentado sem limites, e sem sequer discussão, na votação do Orçamento Federal.
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Liberalismo ou imperialismo?
Por Adriano Benayon*
Ao nos ocuparmos das questões nacionais, não devemos nos precipitar, pois há pressa, e não se deve desperdiçar tempo em assuntos e discussões de importância secundária. A situação é grave demais para que se tire o foco do que interessa. Um tema que não deveria merecer gasto de nossa energia são as eleições presidenciais. Em artigo recente, “Eleições e Modelo Dependente”, escrevi: “O real sistema de poder manobra sempre para que todos os candidatos com chance de chegar ao 2º turno estejam comprometidos com a realização destes objetivos: ampliar e aprofundar a desnacionalização da economia, desindustrializá-la, servir a dívida – inflada pela composição de juros absurdos – e propiciar ganhos desmedidos às grandes empresas transnacionais.”
Portanto, com qualquer “eleito”, a vitória será do sistema imperial e de saqueio, comandado pela oligarquia financeira angloamericana, através de carteis transnacionais e coadjuvada por concentradores locais.
Sessenta anos de atraso tecnológico aumentando e crescente perda de autodeterminação política e econômica geraram condições deterioradas de vida no País.
Essa deterioração tem sido acompanhada por doses maciças de desinformação, sendo a natural revolta popular manipulada por opositores diretamente vinculados àquela oligarquia financeira e principalmente por entidades controladas por esta, que agem para desestabilizar a presente gerência petista.
Esta, na verdade, atende ao sistema de poder da oligarquia, contra o qual a revolta deveria se dirigir. É como culpar só o gerente do restaurante que manda servir alimentos estragados e que, se não o fizer, será sumariamente demitido.
De qualquer forma, não é tolerável a lesividade das políticas do atual governo, como:
1) os leilões do petróleo;
2) o agravamento da situação do setor de energia elétrica no quadro de um sistema predador, que se diz “de mercado”;
3) as parcerias público-privadas;
4) novas elevações das absurdas taxas de juros dos títulos públicos, que sangram o Tesouro, em favor dos concentradores financeiros.
Há que denunciar também a continuidade:
1) das alienações de terras usadas predatoriamente, em grandes plantations, para exportação;
2) da extrema desnacionalização da economia;
3) do favorecimento aos carteis transnacionais, praticantes de preços extorsivos e de transferência;
4) da liberdade de exportação, com baixa ou nula tributação, de inestimáveis recursos minerais, preciosos e estratégicos, inclusive o nióbio, em que o pouco caso com os interesses nacionais recebe o aval da CODEMIG, estadual de Minas Gerais.
Entre os crimes mais graves das gerências petistas estão como os decretos e medidas para liberar as sementes transgênicas e os agrotóxicos a elas associados. A urgente proibição dessas sementes tem de ser exigida nas mobilizações populares sem as quais o processo de desintegração do País não terá solução de continuidade.
Mais de 800 cientistas de 82 países assinaram carta aberta, na qual pedem a suspensão imediata das licenças ambientais para cultivos transgênicos e produtos derivados, tanto comercialmente como em testes em campo aberto, durante ao menos cinco anos.
Eles proclamam: “as patentes dos organismos vivos, dos processos, das sementes, das linhas de células e genes devem ser revogadas e proibidas.”
Apontam agrônomos e biólogos: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, nem reprodução da flora; sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana.”
Isso não é pouco, e há mais que isso. Os cientistas confirmam que os cultivos transgênicos prejudicam os agricultores, inclusive por envolver o aumento do uso de herbicidas e o empobrecimento do solo. Ademais, intensificam o monopólio das grandes empresas sobre os alimentos, o que está levando os agricultores familiares à miséria e impedindo a segurança alimentar e a saúde no mundo.
Até mesmo nos EUA e no Reino Unido, fontes do próprio Estado reconhecem o perigo dos transgênicos para a biodiversidade e a saúde humana e animal. A transferência horizontal de genes acarreta a difusão de genes que tornam incuráveis as doenças infecciosas e criam vírus e bactérias causadores de doenças e mutações capazes de provocar o câncer.
Liberalismo ou imperialismo?
A oligarquia financeira mundial tem investido no Brasil – durante mais de um século, de forma crescente – na (de)formação de opiniões e na deseducação, gerando confusão mental e animosidade entre grupos sociais e indivíduos, associadas a doutrinas e ideologias.
Os saqueadores e seus adeptos – remunerados ou não – encobrem a verdadeira natureza das políticas que realizam o saqueio imperial, fazendo que até mesmo os críticos delas as qualifiquem de liberais e neoliberais.
Esses nomes não costumam causar repulsa geral e até exercem atração sobre as pessoas que os associam a termos da mesma raiz, como “livre” , libertário”, “liberdade”. Palavras bonitas e antigos ideários das revoluções francesa e norte-americana, que passaram a ser evocados por mentores das políticas de escravização através da economia.
Do mesmo modo que as oligarquias nos países centrais, os defensores, no Brasil, dos privilégios aos carteis transnacionais e de seus contatos coloniais ou semicoloniais também se dizem e são chamados de (neo)liberais.
Então, o que, na realidade, não passa de mera apropriação dos recursos naturais e dos frutos do trabalho de um país, fica sendo discutido como se fosse questão doutrinária.
O engodo é ainda maior, porque se atribui aos liberais ser contrários à intervenção do Estado, e porque a grande maioria das pessoas ignora que atualmente, na maioria dos países, o Estado é controlado pela oligarquia e que ele intervém, em favor desta, nas finanças e na economia.
Por causa disso – mas sem que o público perceba que é por isso – o Estado comporta-se como insaciável coletor de impostos e taxas, sem prestar serviços, nem investir bem, nem assegurar direitos sociais básicos.
A própria incompetência adrede instalada no Estado, serviu para fazer aumentar ainda mais a concentração predadora, através das privatizações.
Essas estão sendo desfeitas em alguns países como Rússia e França, enquanto no Brasil o Estado só aumenta de tamanho como repassador de recursos a concentradores estrangeiros e locais.
Antes, tivemos excelentes avanços tecnológicos em estatais, mas elas foram sendo minadas para “justificar” as privatizações. Tudo em nome da “livre” iniciativa, na qual carteis e monopólios sufocam a iniciativa, impedem a concorrência e apropriam-se das poucas tecnologias não impedidas de surgir.
Entretanto, nenhum país se desenvolveu sem a liderança do Estado, o único instrumento de a sociedade organizar-se para evoluir e defender-se, papel que ainda desempenha em alguns países, ainda que nem sempre a contento geral.
Sem o Estado a seu serviço, a sociedade transforma-se em massa amorfa, composta por indivíduos sem personalidade e sem liberdade alguma, como ocorre no grande número de países dominados pela oligarquia financeira mundial, inclusive em suas sedes – EUA, Reino Unido.
Assim, as instituições formalmente democráticas, mesmo quando não violadas por desestabilizações e golpes de Estado, ficam sob controle daquela oligarquia. Os “governantes” são prepostos ou acuados.
De fato, não existe democracia sob regimes que não estabelecem limite à concentração econômico-financeira. A falsa que temos aqui leva à convulsão, com chance de o que vier depois, levar à guerra civil, à desintegração e a ainda maior submissão ao império mundial.
Portanto, nossa sobrevivência depende de os brasileiros não mais se deixarem pautar pela agenda e pelos conceitos do império. Só começará a ser viabilizada, quando a consciência dos fatos deixar de ser obscurecida por ideologias, e quando os brasileiros deixarem de repelir-se entre si por divergências de opinião, inclusive esquerda ou direita.
Adriano Benayon
*-Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento
Para sobreviver, sair do dólar
Por Adriano Benayon*
O sistema monetário internacional que prevalece desde 1971, é ainda pior que o criado pelos Acordos de Bretton Woods, em 1944, meses antes de acabar a 2ª Guerra Mundial.
2. Esses acordos – que instituíram o Banco Mundial e o FMI – deram primazia ao dólar como moeda de reserva mundial, mas estabeleciam limite à tirania financeira angloamericana, porquanto os EUA se comprometiam a vender ouro em troca de dólares, à taxa fixa de US$ 35,00 por onça-troy (31 gramas).
3. Entretanto, em agosto de 1971, os EUA romperam oficialmente os acordos de Bretton Woods, que já descumpriam na prática, desde, pelo menos, 1968, ao dificultar, a entrega do ouro.
4. Não lhes foi difícil virar a mesa, a seu talante, uma vez que eram satélites dos EUA os países que acumulavam maiores saldos de transações correntes em dólares – como Japão, Alemanha e Itália, ocupados militarmente desde o final da Guerra.
5. A exceção foi a França, cujo presidente, general De Gaulle praticava política independente. Exigia a conversão em ouro dos saldos de seu país, pois colocava os interesses nacionais acima da ideologia, inclusive em seu posicionamento em face da Guerra Fria.
6. A oligarquia financeira angloamericana visa exclusivamente ao poder mundial ilimitado e tampouco acredita em ideologias. Usa qualquer uma, em qualquer lugar, que a ajude, conforme o momento, a avançar naquele objetivo.
7. Assim, os serviços secretos dos EUA e do Reino Unido, juntamente com as máquinas de corrupção de instituições públicas e privadas desses países, fomentaram, na França, lideranças estudantis esquerdistas, com apoio da grande mídia e até de partidos e organizações de esquerda.
8. Assim, mobilizaram massas no movimento de maio de 1968, que espalhou a desordem e o caos pela França, e até hoje é considerado libertário pela opinião majoritária.
9. Apesar de alvo das manobras angloamericanas de desestabilização, De Gaulle manteve-se no governo até 1969, renunciando, ao ser derrotado em um referendo, pela primeira vez.
10. Esse tratamento, dado pela tirania imperial a De Gaulle, foi menos brutal que o dispensado a Saddam Hussein em 2003 e a Muamar Ghadáfi em 2011. Afinal, a França era potência nuclear e aliada, ademais de fonte das tão traídas ideias democráticas, formalmente adotadas nos EUA.
11. Pela mesma tentativa, de livrar seus países da extorsão pelo dólar, Hussein e Ghadáfi foram assassinados, com seus filhos e famílias, e seus países destruídos por agressões militares genocidas.
12. Daí se infere a importância para o império de continuar obrigando suas vítimas a custear até as armas com que são trucidadas ou chantageadas.
13. Pode-se estimar o que está em jogo pela proliferação dos ativos financeiros em dólares. Os derivativos nessa denominação passam de US$ 500 trilhões.
14. Vê-se, ainda, a inflação do dólar comparando a taxa de conversão do ouro até os anos 60, e sua ascensão posterior no mercado: de US$ 35,00 por onça-troy ele foi para os atuais US$ 1.300,00.
15. Chegou a US$ 1.800,00 em 2011, e só caiu por meio de manipulações dos grandes bancos, que fazem o que querem nos “mercados financeiros”, como vender quantidades enormes de certificados de ouro que não existe em cofre algum.
16. Esses certificados não passam de papel pintado, como o dólar foi descrito pelo general De Gaulle, nos anos 60. Hoje, nem isso, pois basta um clic nos computadores dos bancos do sistema do FED para passar o conto do paco no mundo inteiro.
17. A situação de um país em relação aos EUA é semelhante à de um particular ou de uma empresa em relação ao banco com que opera. Quando o banco faz empréstimos, cria dinheiro: abre, do nada, créditos na conta do tomador, e este fica obrigado a pagar amortizações e juros com dinheiro de seu salário ou de outra receita do trabalho individual ou empresarial.
18. Sob “governos” traidores, que começaram a entregar o mercado às empresas transnacionais após o golpe de agosto de 1954, o Brasil ficou fadado a ter déficits crônicos no comércio de bens e serviços (transações correntes) com o exterior, a origem das dívidas externa e interna.
19. O déficit de conta corrente tem crescido aceleradamente e somou US$ 81,4 bilhões em 2013. No primeiro quadrimestre, já atingiu US$ 33,5 bilhões, projetando mais de US$ 100 bilhões em 2014 (quase 5% do PIB).
20. De 2008 a 2012, totalizou US$ 204,1 bilhões, devendo, pois, ao final de 2014, acumular mais de US$ 400 bilhões, salvo se a crise econômica desabar sobre o País antes de o ano terminar.
21. O rombo é mal tapado pela entrada de investimentos estrangeiros, porquanto estes implicam intensificar a causa do mal, pois o grosso dos déficits externos decorreu dos lucros, inclusive disfarçados em despesas, remetidos ao exterior, relacionados também com o desequilíbrio inerente ao comércio entre países que se desenvolveram e os que patinam no atraso tecnológico, proveniente da desnacionalização da economia.
22. A moral, ou antes, a imoralidade da história é que para “investir” as transnacionais só precisam de dólares que seus bancos criam à vontade, enquanto as dívidas que o Brasil acumula, têm de ser pagas com bens, patrimônios e trabalho nacionais.
23. Com efeito, valendo-se do privilégio dado ao dólar como divisa internacional, os emissores dessa moeda e as empresas a eles ligadas não têm dificuldade alguma para comprar patrimônios, empresas e consciências em qualquer país que não restrinja essas aquisições.
24. Instituído no final de 1913, em trama na qual o Congresso cedeu seus poderes à oligarquia, o FED, banco central dos EUA, cria dólares e os fornece aos bancos angloamericanos que formam o cartel controlador do próprio FED.
25. Sair do dólar gerará represálias das potências angloamericanas e satélites, também dominadas pelos manipuladores dos mercados financeiros. Entretanto, é medida de sobrevivência para quem não quiser continuar sendo satélite ou colônia da oligarquia mundial.
26. A alternativa é ser subjugado através da ilimitada criação de moeda, que permite a essa oligarquia adquirir praticamente tudo, em qualquer lugar do mundo, além de financiar sua máquina de guerra.
27. Os EUA, de há muito, investem em armas mais que o dobro que o resto do mundo, e são as armas que, por exemplo, obrigam países exportadores de petróleo e a vendê-lo por dólares.
28. A questão está na ordem do dia. Haverá reunião em julho deste ano, em Fortaleza, na qual se espera que os chefes de Estado dos BRICS formalizem a criação de Banco de Desenvolvimento e assinem Acordo Contingente de Reservas.
29. Mais promissora, por ora, é a realização, nas moedas da Rússia e da China, dos pagamentos referentes ao novo e expressivo acordo de fornecimentos de gás russo e às exportações chinesas relacionadas.
30. Essas potências já realizam, em suas moedas, algumas transações com terceiros países, principalmente asiáticos, e a amplificação disso é fundamental para o ainda distante fim do domínio mundial do dólar.
31. Para contribuir nessa direção, o Brasil precisa, desde logo, revogar o art. 164 da Constituição e nacionalizar o Banco Central.
32. De fato, entre outros atos lesivos aos interesses nacionais, o BACEN, rejeita operações pelo Convênio de Créditos Recíprocos, firmado, em 1968, com países latino-americanos, e através do qual as operações de comércio exterior podem ser liquidadas nas moedas dos países membros, e os saldos, financiados pelas autoridades financeiras respectivas.
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O sistema pró-oligarquia
É pró-oligárquia o sistema político-econômico prevalecente nos países “desenvolvidos”, que, erroneamente, dizem ser democracias. O mesmo sistema é ainda mais radical nas periferias sob seu comando, como o Brasil, cujos mercados e base produtiva foram entregues às transnacionais, desde os anos 50, para ser explorados de forma neocolonial.
2. Temos exemplos significativos de que a política econômica no Brasil é intervencionista, e não, liberal. Ela não opera em prol do equilíbrio social, mas, sim, favorece os concentradores, em geral, e o capital estrangeiro, em especial.
3. Na moeda e no crédito, a intervenção contra a sociedade e em favor do oligopólio dos grandes bancos privados tem seu pilar básico na própria Constituição Federal (cidadã de onde?), em seu art. 164.
4. Este atribui exclusivamente ao Banco Central – cuja política, na prática, é determinada por aqueles bancos – a competência da União de emitir moeda e, ademais, proíbe ao Banco Central financiar entidades do Estado, inclusive o Tesouro Nacional – ao qual deveria caber o poder de emitir.
5. Ou seja: o BACEN só pode financiar os bancos privados, os quais se locupletam com os juros dos títulos do Tesouro, a taxas brutais, que, de nenhum modo, decorrem de um mercado financeiro livre.
6. Em um mercado livre não haveria, como há, a concentração de oferta de dinheiro nas mãos de um oligopólio liderado por pouquíssimos e gigantescos bancos, nem a promoção de enorme demanda forçada, constituída pelas necessidades de financiamento do Tesouro (consequência do art. 164 da CF).
7. Ironicamente, a maior das fontes de demanda por crédito provém do próprio serviço da dívida pública, a qual atingiu cifras assustadoras, através da composição de juros a taxas elevadíssimas, impostas pelo cartel dos bancos, que a grande mídia chama de o “mercado”.
8. Além das somas colossais que o cartel aufere com os juros dos títulos públicos, os lucros dele crescem também em função dos depósitos voluntários e compulsórios que colocam no Banco Central.
9. Noticiou-se que, em maio de 2014, os depósitos compulsórios atingiram o saldo de R$ 395,7 bilhões, remunerados à taxa SELIC. A 11% aa., supondo esse saldo médio no ano, o cartel ganha, só aí, R$ 43,5 bilhões.
10. Conforme estudo do DIEESE, em 2011, mais de 60% do lucro líquido dos cinco maiores bancos do país vieram da remuneração do depósito compulsório no Banco Central. Foram R$ 33,6 bilhões, do total de R$ 50,7 bilhões de lucro.
11. Esse retorno superou em 97,4% o de 2010. Em conluio, as autoridades monetárias, o “mercado” (cartel dos bancos) e a grande mídia alegaram o objetivo de conter o crescimento do crédito ao consumo e combater a inflação. Ora, as altas taxas de juros não servem para controlar a alta dos preços, mas, sim, para fomentar os lucros do cartel e dos rentistas.
12. Novamente crescem os depósitos no BACEN dos bancos, que agora dizem estar reduzindo riscos, diante da perspectiva de aumento das inadimplências, tendo deixado de emprestar quase R$ 14 bilhões, desde que as taxas de juros começaram a voltar a subir. De março de 2013 a maio de 2014, os compulsórios cresceram R$ 49,24 bilhões (14,7%).
13. Resumindo, o cartel:
a) recebe depósitos à vista do público, com os quais “lastreia” empréstimos, criando moeda do nada, que se torna dinheiro dele, à medida que recebe os juros e as amortizações desses empréstimos. Por exemplo, com 45% de compulsório, pode emprestar 6 e até mais vezes dos 55% de recursos livres: assim, para R$ 50 bilhões de depósitos à vista, terá R$ 27,5 bilhões livres e a possibilidade de criar crédito (dinheiro) no montante de R$ 165 bilhões ou mais;
b) sobre esses empréstimos, ganha as taxas mais altas do mundo, hoje na média de 32% aa., ao financiar pessoas físicas e jurídicas,
c) aufere os juros dos depósitos compulsórios, em que o risco é zero, sobre um dinheiro ocioso, que deixa ociosos fatores de produção existentes e não é usado para gerar novos bens de capital físico;
d) recebe recursos a baixo custo do BACEN no mercado interbancário;
e) aufere juros, a taxas efetivas muito superiores à absurdamente elevada SELIC, nos títulos de Tesouro, que assim paga por recursos financeiros que ele próprio poderia e deveria criar, não fosse a política pró-oligarquia instituída através do art. 164 da CF.
14. Portanto, poder-se-ia estimar a bolsa-bancos em mais de R$ 100 bilhões/ano. Essa brutal transferência de renda, em detrimento da sociedade e da produção decorre, além de das disposições legais, de as taxas de juros serem administradas pelo Estado, sob comando do cartel dos bancos. Ora, a taxa de juros seria baixíssima, se fosse determinada pelo mercado financeiro sem tal intervenção.
15. Também os mercados dos bens de uso durável e n outros ficam sob controle dos carteis, situação que se foi agravando, desde que, nos anos 50, a política subsidiou a ocupação do mercado e da produção pelos carteis que dominam o grosso da economia mundial.
16. Se fosse liberal e pró-livre iniciativa, a política teria viabilizado a concorrência nos mercados, coibindo os oligopólios e fomentando a descentralização, sem a qual não existe a menor possibilidade de livre concorrência e de livre iniciativa.
17. Após a concentração da indústria nas mãos das transnacionais, situação já consolidada no final dos anos 60, vieram com Delfim Netto, os desbragados subsídios à exportação de manufaturados. O que é isso senão intervencionismo pró-imperial?
18. Um liberal sério e que não seja agente consciente ou inconsciente da oligarquia imperial, defenderá a privatização somente em atividades que não demandem grande escala, nem sejam monopólios naturais. Assim, não pediria privatizar as estatais, as quais, ao contrário dos oligopólios transnacionais, viabilizavam empresas de pequeno porte e, assim, concorrência e produção de tecnologia no País.
19. A fim de descentralizar a economia e assim criar condições para a livre iniciativa, deveriam recomendar nacionalizar-se as multinacionais e subdividi-las, e então privatizá-las para empreendedores, que precisariam crédito e capacitação, por, de há muito tempo, virem sendo as empresas nacionais excluídas do mercado.
20. Como observa o Eng. Hélio Silveira, a política pró-imperial entregou a grandes grupos privados e estrangeiros empresas públicas, monopólios naturais, repassados com receita garantida, dinheiro em caixa, livres de obrigações fiscais (e até com créditos fiscais) e de dívidas trabalhistas, para o que a União desembolsou vultosos recursos públicos, muito maiores que as quantias arrecadadas nos leilões, amiúde pagas com títulos podres.
21. Privatizaram-se também, nessas condições, bancos estaduais, que se juntaram ao cartel dos bancos e se cevam com a bolsa-bancos.
22. A política pró-imperial prossegue nos empréstimos dos bancos públicos – BNDES à frente – com taxas de juros subsidiadas, para transnacionais e para outros grupos concentradores.
23. Do mesmo modo, as concessões de serviços públicos, garantidos por financiamentos federais, a grupos privados assemelham-se a feudos, dada a exploração, tarifas crescentes e sem obrigação de elevar a qualidade dos serviços. Nada têm de liberalizante.
24. Esse é também o caso das parcerias público-privadas, em que o Estado financia e assegura lucros sem risco para grupos privados.
25. Apresentada como liberal, em vez de desmascarada por sua natureza pró-imperial e pró-oligarquia, a grande fraude consiste em opor-se a intervenção do Estado sem perceber que esta tanto pode beneficiar como prejudicar a sociedade. Ao mesmo tempo, ignora-se que o favorecimento à concentração da economia e das finanças nas mãos de grupos privados necessariamente prejudica a sociedade.
26. Daí que a política pró-oligarquia usa o Estado como agente da concentração e da desnacionalização, intensificadas, no Brasil, a partir do golpe de Estado de 1954, promovido pelos serviços secretos e entidades dos centros imperiais.
27. Foi, ademais, minada a qualidade da administração pública, para “justificar” as privatizações e as concessões, além de criarem-se as agências “reguladoras”, dominadas pelos grupos concentradores. Além disso, a fim de torná-la inepta para promover o desenvolvimento.
28. Até instituições supostamente criadas para representar os interesses da sociedade, como o Ministério Público, o TCU e os tribunais de contas estaduais, entraram em cena, inviabilizando investimentos estatais, com amparo em leis como as ambientais e as de proteção aos indígenas.
29. Com a Lei de licitações, os agentes públicos evitam levar adiante obras públicas, receando processos administrativos. A repressão à corrupção de varejo não afasta, porém, a mega-corrupção sistêmica.
* – Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento
Os BRICS e a necessidade de autonomia frente ao sistema financeiro global
Os acordos dos BRICs, recém-assinados no Brasil – o da criação do Banco de Desenvolvimento e o referente ao mecanismo de proteção em face de crises financeiras – são passos interessantes, que representam maior potencial de cooperação entre os países membros, mas cuja realização depende substancialmente da vontade política desses países e, portanto, fundamentalmente, do grau de autonomia que eles têm vis-à-vis dos centros diretores do sistema financeiro mundial, governado por FMI, Banco Mundial e, acima de tudo, pelos principais bancos de Wall Street e da City de Londres.
É indicativa da allegiance a esse sistema, a regra desse Acordo, de subordinar ao beneplácito do FMI o socorro, na base integral do colchão de reservas.
O mais proveitoso a esperar dos BRICs seria o impulso para ampliar significativamente as operações comerciais e financeiras liquidadas nas moedas dos países membros, liberando-os gradativamente da dependência aos dólares emitidos ad libitum pelo FED.
E, esse respeito, só poderemos avançar, no que dependa do Brasil, de termos um Banco Central independente dos banqueiros e obediente a um governo que zele efetivamente pela autonomia do País. Quando me informarem de operações financeiras significativas que tenham sido aprovadas pelo BACEN, então confiarei em que o BRICs possa ser considerado instrumento decisivo para o desenvolvimento do País.
É fundamental ter presente que a remoção dos maiores empecilhos ao nosso desenvolvimento não depende de dólares e, por conseguinte, das boas graças da “comunidade financeira internacional”.
Há muito dinheiro para investir, mesmo com as amarras antinacionais do art. 164 da Constituição e outras. Este, como tenho salientado, faz que o Tesouro pague colossal serviços de dívida, que não precisaria ter existido, pois ao Tesouro deveria caber a competência de emitir moeda – e, não, ao BACEN. Esse dá o dinheiro aos banqueiros, para aplicarem nos títulos públicos, acarretando despesa inútil, no montante de mais de 40% do total.
Além disso, o BACEN remunera, na base da SELIC, os depósitos dos bancos no BACEN, livres e compulsórios.
Incrivelmente, há muito dinheiro, inclusive no BNDES e demais bancos estatais, e o que mais tem obstado os indispensáveis investimentos de infra-estrutura é a legislação de concorrências, instauradora de medo pânico nos administradores públicos, os quais preferem garantir seus empregos, não levando coisa alguma adiante. E mesmo quando o fazem, são impedidos pelo Ministério Público (instado por ONGs etc.), e pelos TCs.
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Marina Silva faz o jogo da oligarquia financeira
Por Adriano Benayon | Brasília, 30/08/2014
A questão objetiva é a seguinte: Marina não representa ambientalismo algum honesto. Ademais, não representa coisa alguma honesta. O que faz nessa área é o jogo da oligarquia financeira, cujos braços na indústria do petróleo, por exemplo, estão entre os maiores poluidores do planeta, contaminando, entre n outras coisas, os oceanos, a fonte principal e fundamental do oxigênio e do equilíbrio da Terra.
Se vocês pesquisarem as coisas relacionadas com o jogo do poder mundial, entenderia por que Marina é financiada por grandes banqueiros, obviamente ligados à oligarquia financeira angloamericana, e promovida, em toda a grande mídia e nos demais instrumentos dessa oligarquia concentradora, a qual aprofunda, cada vez mais, seu poder tirânico em quase todos os países, com especial intensidade no Brasil, presa por demais apetitosa por sua dimensão e por seus excepcionais recursos naturais.
Teria observado, entre outras gracinhas, que Marina foi designada ministra do meio ambiente por Lula, exatamente em Nova York, quando Lula, ainda antes de sua posse, foi peitado pelos superbanqueiros, em reunião que lá teve, daí anunciando suas duas primeiras nomeações: Meirelles para o BACEN e Marina Silva para o MMA.
Teria notado que Marina, no MMA, nomeou secretário-geral o presidente da ONG Greenpeace, no Brasil.
Teria sacado por que Marina foi dos poucos brasileiros presentes, quando o príncipe Charles se reuniu na Amazônia, com outros chefes de Estado da OTAN e caciques das terras que ele e outros membros da oligarquia mundial e de seus prepostos – chefes de governo e de Estado dos EUA, RU e satélites ?
O resultado de reuniões como essa e de pressões sobre os “governos” brasileiros têm sido transformar essas terras em gigantescas reservas indígenas, já sob controle de suas ONGs e organizações “religiosas”, como igreja anglicana, Conselho Mundial das Igrejas etc.
São terras de recursos minerais estupendos, verdadeiros delírios minerais, na expressão do falecido Almirante Gama e Silva, amazônida e profundo conhecedor da região, inclusive por ter sido, durante muitos anos, diretor do projeto RADAM. São áreas que os governos brasileiros de araque permitiram separar virtualmente do território nacional, pois brasileiro não entra mais nelas.
Entenderia também por que Marina desfilou em Londres, nas Olimpíadas, como a única brasileira a carregar a bandeira olímpica.
Já deu para inferir que o investimento da oligarquia do poder mundial na Sra. Marina visa a assegurar o controle das riquezas naturais fabulosas, principalmente da Amazônia, ainda não exploradas?
Vocês certamente sabem (os que não sabem, deveriam saber), que os carteis britânicos da mineração já monopolizam praticamente a extração dos minerais preciosos, e muitos dos estratégicos, no Brasil, na África, na Austrália e no Canadá.
Outra coisa: não deram a menor bola ao fato de Marina – além de regida pelo Itaú – já ter, comandando-a, uma equipe de economistas tão alinhada com a política pro-imperial como a que executou essa política no “governo” do mega-entreguista FHC e como a de que já se cercou o Aécio Neves?
Depois disso tudo, vocês ainda vão querer que eu explique por que o que está havendo, na realidade, é um golpe de Estado para pôr Marina no Planalto, a partir do momento em que operadores a serviço do poder mundial, através de políticos e parlamentares manjados e outros menos manjados, articularam a entrada dessa senhora na chapa do PSB, acenando a Eduardo Campos com o potencial de votos e de grana para obtê-los, aportado por ela? A rede, fazendo luzir a mosca azul, o pegou como peixes de arrastão.
Alguém viu a foto de Marina sorrindo no funeral do homem?
Alguém notou que, imediatamente após a notícia da morte dele, a grande mídia em peso dedicou incessantemente o grosso de seus espaços à tarefa de encher a bola de D. Marina?
O PSB e a eleição presidencial
Por Adriano Benayon
Há alguns anos, sou filiado ao PSB, em que ingressei, tendo tido a honra de ter tido minha ficha assinada pelo competente e digno Carlos Siqueira.
Sem solidariedade social e sem aspiração de independência nacional, socialismo é apenas uma palavra falsa.
Assim, diante do fato de que o PSB adotou a candidatura da Sra. Marina Silva à presidência da República, declaro que não votarei na candidata do partido.
Não estamos, senão formalmente, em regime democrático, haja vista a urna eletrônica absolutamente inconfiável, e a influência nas eleições do poder econômico concentrado e da desinformação em massa, a cargo da grande mídia, a serviço dos interesses imperiais. Meu voto, pois, tem peso ínfimo.
Mas para mim é importante declará-lo.
Para presidente, entre Dilma e Marina, sua provável concorrente, já que Aécio é fraco eleitoralmente e deverá ser preterido pelos imperiais, GAFE, PIG etc., penso que o PSB deveria apoiar a atual presidente, mediante compromissos de eliminação das políticas de juros altos, subsídios às montadoras estrangeiras e a outros concentradores, abandonar o tripé do FMI, intensificar as relações com os BRICS e com o Mercosul.
Devo concitar outros membros do PSB a pedir às lideranças do partido não persistirem no grave erro de se terem associado a uma certa rede ou teia, comprometida com interesses contrários aos de nosso País.
Errou o falecido Eduardo Campos ao entrar nessa associação, como erraram os que o acompanharam nesse passo.
Pior ainda foi, após a morte dele, apoiar a candidatura da Sra. Marina, sob pressão dos elementos mais entreguistas da coligação, como os Srs. Roberto Freire, Jarbas Vasconcellos et alli.
Mas o importante e recomendável é reconhecer os erros e fazer o possível para desfazê-los e/ou reduzir-lhes as consequências.
A prioridade então é dissociar-se da Rede e de D. Marina, pois essa aliança significa o fim do PSB como partido e sua identificação como mais uma sigla de aluguel.
Muitos estão ironizando, ao dizerem em relação a D. Marina: “Basta de intermediários. Neca Setúbal para presidente”.
Esses estão alienados da dura realidade, que é pior, pois a oligarquia dos grandes bancos locais é apenas subalterna dos interesses imperiais, tal como seus economistas, da mesma laia que os dos tucanos e ligados ao mega-entreguista FHC. Os críticos, se mais inteirados dos fatos e mais corajosos, deveriam dizer:
“Basta de intermediários. George Soros (ou o príncipe Charles, da família real britânica, Reino Unido) para Pró-Cônsul do império.”
*- Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Benayon: Getúlio Vargas e a independência
Por Adriano Benayon | Brasília, 12/08/2014
Aproxima-se o 60º aniversário do golpe de Estado com o qual a oligarquia angloamericana derrubou o presidente Vargas, em 24 de agosto de 1954.
2. Esse acontecimento teve efeitos tão desastrosos como importantes. Trata-se, nada menos, que da cassação da independência do Brasil.
3. A soberania do País nunca foi plenamente exercida, mas, se houve governante que tomou iniciativas para alcançá-la, esse foi Getúlio Vargas.
4. Exatamente por isso, a oligarquia imperial angloamericana sempre conspirou contra ele, com a ajuda de pseudo-elites e de agentes locais da política e da mídia, em geral recrutados por meio de corrupção.
5. Em 1932, a oligarquia paulista promovera o fracassado movimento de 9 de julho, movida pelos interesses britânicos. Intitularam-no constitucionalista, conquanto Getúlio organizara as eleições para a Constituinte que votou a Constituição de 1934, a qual instituiu significativos avanços econômicos e sociais.
6. Tão profunda como a estima dos verdadeiros industriais e a veneração dos trabalhadores brasileiros a Getúlio, foi a ojeriza da minoria desorientada pelos preconceitos da “democracia” liberal e dos contrários à industrialização, alimentada pela hostilidade da mídia, caluniosa e falsificadora dos fatos.
7. Vargas fora forçado, durante a Segunda Guerra Mundial, a ceder bases militares no Nordeste aos EUA, e cometeu o erro de insistir em enviar a Força Expedicionária Brasileira à Itália. A FEB foi equipada e armada pelos EUA e combateu sob comando norte-americano.
8. Daí se criaram laços entre os comandantes e oficiais de ligação estadunidenses e os oficiais brasileiros que conspiraram nos quatro golpes pró-EUA (1945, 1954, 1961 e 1964.
9. Em outubro de 1945, o pretexto foi derrubar um ditador, o que não tinha sentido, pois o presidente viabilizara eleições, já marcadas para o início de dezembro, e não era candidato. Após o golpe, recomendou votar no marechal Dutra, pois o brigadeiro Eduardo Gomes representava os que sempre se haviam oposto a Vargas.
10. Quando Vargas, eleito em 1950, voltou à presidência, nos braços do povo, já estava em marcha a desestabilização de seu governo, a qual culminou com o crime da rua Toneleros, já em agosto de 1954.
11. O crime foi dirigido pelo chefe da delegacia de ordem política e social (DOPS), famosa por seus métodos desumanos de repressão aos comunistas, desde a época do Estado Novo, instituído por golpe militar, em 1937.
12. Esse golpe proveio de oficiais do exército, que colocaram Felinto Muller na chefia da polícia. Vargas, presidente constitucional desde 1934, permaneceu à frente do governo, mas não teve poder e/ou vontade suficiente para limitar significativamente as violências.
13. Ele sempre foi contemporizador, negociava com pessoas de diferentes tendências e, por vezes, as colocava ou mantinha no governo. Ao voltar Vargas, em 1951, continuou na DOPS o filonazista Cecil Borer, que vinha da administração do marechal Dutra. Como tantos pró-nazistas, mundo afora, movido pelo anticomunismo, Dutra subordinou-se aos interesses dos EUA.
14. Apesar de seus erros, Vargas merece lugar de honra na história do Brasil, por ter dado o indispensável apoio do Estado ao desenvolvimento industrial, que despontava desde o início do século XX e ganhou força, de 1914 a 1945, graças também à redução dos vínculos comerciais e financeiros com os centros mundiais, propiciada pelas duas guerras e a longa depressão dos anos 30.
15. Antes do fim da Segunda Guerra Mundial, o império já planejava fazer abortar esse processo. Mais tarde, diria o notório Henry Kissinger: “para os EUA seria intolerável o surgimento de uma nova potência industrial no hemisfério sul.”
16. Os serviços secretos dos EUA e do Reino Unido vinham, de há muito, operando na desestabilização do presidente. Em 1954, Borer envolveu informantes da polícia e pistoleiros no crime da Toneleros, que matou o major Vaz, da aeronáutica, simulando que o alvo seria o virulento adversário de Vargas, Carlos Lacerda.
17. Na armação policial-jornalistica-militar, Vaz, casado e pai de filhos pequenos, substituiu, na ocasião, o solteiro major Gustavo Borges. Lacerda engessou o pé dizendo ter tomado um tiro de revólver, mas, se isso fosse verdade, o pé teria sido destroçado. Nunca se encontrou um prontuário de atendimento em hospital.
18. A conspiração enredou a guarda pessoal do presidente e o fiel guarda-costas Gregório Fortunato, que foi torturado e ameaçado para confessar o que não fez. Condenado a 15 anos de detenção, foi assassinado na prisão, em operação de queima de arquivo.
19. O golpe de 1954 é o maior marco negativo da história do Brasil, pois o governo udenista-militar, dele egresso, criou vantagens incríveis para as empresas transnacionais dominarem por completo a produção industrial do País. Fez os brasileiros pagar caríssimo para serem explorados.
20. Foi, assim, inviabilizado o desenvolvimento de tecnologias nacionais, a não ser por grandes empresas estatais ou apenas em nichos menores, no caso de indústrias privadas nacionais, ainda assim, fadadas a ser desnacionalizadas.
21. Tanto o golpe de 1964, que instituiu os governos militares, como a falsa democratização, a partir de 1985, intensificaram as políticas pró-capital estrangeiro em detrimento do País.
22. Os governos de 1954-1955 e 1956-1960 (JK) foram motores da desnacionalização da economia. Os de Collor e FHC os mais monoliticamente entreguistas. Nenhum operou reversões nessa marcha infeliz.
23. A herança hoje é a desindustrialização e a colossal dívida pública, tendo a União já gastado nela, desde 1988, quase 20 trilhões de reais. Além disso, recorrentes crises devidas aos déficits de comércio exterior.
24. As realizações do presidente Vargas fazem dele o principal heroi nacional e exemplo para futuros líderes. Mas não sem reservas, porque lhe faltou combatividade e espírito revolucionário.
25. Não me parece verdade que o nobre sacrifício de sua vida tenha frustrado os objetivos dos imperialistas. Preservaram-se as estatais, mas a própria Petrobrás – que já nascera sem o monopólio na distribuição, o segmento mais lucrativo – acabou, em parte, arrancada da propriedade estatal. Além disso, nos anos 90, ocorreram as doações-privatizações de dezenas de fabulosas estatais, algumas criadas durante governos militares.
26. A grande derrota estratégica deu-se com a entrega dos mercados e da produção industrial privada às transnacionais. Sem isso, a dívida externa não teria explodido em 1982, nem sido torradas as estatais, a pretexto de liquidar dívidas públicas, as quais, depois disso, ao contrário, se avolumaram como nunca.
27. O momento para evitar esse lastimável destino, era com Vargas, amado pelo povo, que foi às ruas, em massa nunca vista, pronto a tudo, quando de sua morte. Aí não havia liderança, nem plano.
28. Getúlio precisava ter cortado, no nascedouro, os lances que minaram suas bases de poder. Entre estes, o acordo militar Brasil-Estados Unidos, de 1952, negociado por Neves da Fontoura, ministro das Relações Exteriores, e por Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior das FFAA, sem o conhecimento do ministro do Exército, Estillac Leal.
28. Este se demitiu, pois Vargas assinou o acordo, e, com isso, cedeu aos que, mais uma vez, o traíam, e perdeu seu ministro nacionalista.
29. Fraquejou novamente em 1953, quando, embora mantendo o correto reajuste do salário mínimo, demitiu João Goulart do ministério do Trabalho, medida exigida em memorial assinado por 82 coroneis do Exército. Nesse episódio, caiu o ministro do Exército, Cyro do Espírito Santo Cardoso.
30. Não era tarefa simples sustentar-se sob constante e intensa pressão contrária da alta finança angloamericana, a qual não economiza recursos nem hesita em recorrer à corrupção e a práticas celeradas. Entretanto, a pior maneira de reagir a essa pressão é fazer concessões, em vez de cortar a crista dos golpistas.
31. Deixando de coibir aquelas práticas, Vargas facilitou o caminho dos inimigos. Sobraram-lhe escrúpulos, ao exagerar em sua tolerância, para não ser acoimado de ditador. Faltaram bons serviços de inteligência e a compreensão de que seria derrotado, se não mobilizasse o povo e a oficialidade nacionalista.
*- Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
A Argentina, a nova Guerra Fria e o Império
Por Adriano Benayon
A situação da Argentina e a investida dos abutres deve ser encarada no contexto da atual guerra fria do império com a Rússia. Também a violência, sustentada pelo império, através do Estado sionista na faixa de Gaza, deve ter interconexão com a guerra anti-Rússia e com o caso da Argentina.
Corro o risco calculado de, novamente, despertar reações de desagrado dos que, em vez de discutir o objeto de que se trata, se manifestam contrariados por ter sua sensibilidade afetada por afirmações julgadas peremptórias e com as quais não concordam.
Não deveria ser necessário, para poder expor nossos pontos de vista, que os embalássemos em escusas ou ressalvas do tipo: salvo melhor juízo: acho. Etc. Compreendo, porém, que, tal o esquema tirânico (algo muito pior que ditatorial) da mídia dominante no Ocidente, que as pessoas estranhem muito o que alguns de nós têm a dizer, especialmente os que recebemos matérias de fontes independentes dessa mídia e até as procuramos.
Primeiramente, a Argentina é o único país latinoamericano que, graças à mobilização popular, conseguiu, há pouco mais de dez anos, derrubar o governo (nos outros, os governos só têm sido apeados por golpes militares, ou agora pelos da moda, via Parlamento, sempre regidos pelo império).
Além disso, entre os latinoamericanos de maior dimensão econômica, é o único que levou a efeito auditoria da dívida e a renegociou, logrando reduzi-la substancialmente, de sorte que é o único cujas possibilidades de investimento público não estão manietadas pelo serviço da dívida.
Não bastasse, seu governo está entre os tachados de esquerda, aplica uma lei de meios de comunicação, tem feito algumas reestatizações etc. Não bastassem essas coisas, estaria conversando para entrar nos BRICS e ampliando suas relações com a Rússia.
Ao mesmo tempo, temos, em 2014, entrado num período de relações mundiais, em que os EUA e seus satélites passaram da fase de atacar e destruir países de menor porte, e estão intensificando sua escalada de ataques e provocações contra uma grande potência, não do mesmo porte, mas ainda assim uma grande potência, a Rússia.
Não só impondo sanções e forçando a UE a aplicá-las, mas usando a Ucrânia para ataques diretos, após ter promovido ali um golpe de Estado, com forte participação de elementos nazistas.
Ou seja, estão fazendo tudo que podem para causar uma 3ª Guerra Mundial, em que planejam – a risco de destruir completamente o Planeta – dar solução de continuidade ao processo de surgimento de uma multipolaridade do poder mundial, adveniente basicamente da aproximação e intensificação das relações econômicas entre a Rússia e a China, incorporando países da Ásia Central, Irã e outros. Mormente, com o reimimbi perfilando-se como muito mais confiável que o dólar para ser a principal moeda de reserva, além do início de operações de comércio internacional de certo vulto não sendo liquidadas em dólar ou euro.
Com as informações que acompanho sobre fatos bem anteriores, tais como a origem da 2ª Guerra Mundial, não constitui novidade alguma que oligarquia financeira angloamericana utilize nazistas para seus objetivos, inclusive porque ela foi decisiva para a entrega da Chancelaria a Hitler em janeiro de 1933, um instrumento dela com que contou para desencadear aquele tão longo e inusitadamente letal e genocida conflito.
Também conheço a utilização de elementos fascistas e nazistas por parte da CIA e do MI-6 no golpe que derrubou Getúlio Vargas em 1954, golpe de tão fatídicas consequências para a indústria nacional e para a própria independência de nosso País.
A agressão à economia argentina, com a decisão judicial em favor dos fundos abutres, equivale às sanções econômico-financeiras que os EUA, há tempos, aplicam contra o Irã e, mais recentemente, à Rússia. Pode sinalizar este recado: agora está começando a guerra mundial, e os países menores, notadamente os latinoamericanos, nosso velho quintal, têm que se alinhar, têm de compreender onde está a força, e inclinar-se diante dela.
A Argentina deveria significar que não tem por que submeter-se ao judiciário dos EUA, inclusive porque não a obriga a isso o direito internacional. E precisará de muita decisão e coragem para isso, pois sofre, há tempos, intervenção para desestabilizar o governo de Cristina Fernandez.
Ao enfrentar o presente desafio dos abutres e dos EUA, terá ainda mais trabalho, pois essa intervenção será intensificada, conforme os métodos tradicionais, e alimentada por vultosa corrupção através dos inesgotáveis dólares emitidos com meros clics nos computadores dos bancos do eixo Wall Street / City de Londres e de seus incontáveis braços nas bases offshore.
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Especial: É tudo um assunto só!
Criei uma comunidade no Google Plus: É tudo um assunto só
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Outro dia discutindo sobre as manifestações do dia 15, sobre crise do governo e a corrupção da Petrobrás eu perguntei a ele se tinha acompanhado a CPI da Dívida Pública. Então ele me respondeu: Eu lá estou falando de CPI?! Não me lembro de ter falado de CPI nenhuma! Estou falando da roubalheira... A minha intenção era dizer que apesar de ter durado mais de 9 meses e de ter uma importância ímpar nas finanças do país, a nossa grande mídia pouco citou que houve a CPI e a maioria da população ficou sem saber dela e do assunto... Portanto não quis fugir do assunto... é o mesmo assunto: é a política, é a mídia, é a corrupção, são as eleições, é a Petrobras, a auditoria da dívida pública, democracia, a falta de educação, falta de politização, compra de votos, proprina, reforma política, redemocratização da mídia, a Vale, o caso Equador, os Bancos, o mercado de notícias, o mensalão, o petrolão, o HSBC, a carga de impostos, a sonegação de impostos,a reforma tributária, a reforma agrária, os Assassinos Econômicos, os Blog sujos, o PIG, as Privatizações, a privataria, a Lava-Jato, a Satiagraha, o Banestado, o basômetro, o impostômetro, É tudo um assunto só!...
A dívida pública brasileira - Quem quer conversar sobre isso?
Escândalo da Petrobrás! Só tem ladrão! O valor de suas ações caíram 60%!! Onde está a verdade?
A revolução será digitalizada (Sobre o Panamá Papers)
O tempo passa... O tempo voa... E a memória do brasileiro continua uma m#rd*
As empresas da Lava-jato = Os Verdadeiros proprietários do Brasil = Os Verdadeiros proprietários da mídia.
Desastre na Barragem Bento Rodrigues <=> Privatização da Vale do Rio Doce <=> Exploração do Nióbio
Sobre o mensalão: Eu tenho uma dúvida!
Trechos do Livro "Confissões de um Assassino Econômico" de John Perkins
Meias verdades (Democratização da mídia)Spotniks, o caso Equador e a história de Rafael Correa.
O caso grego: O fogo grego moderno que pode nos dar esperanças contra a ilegítima, odiosa, ilegal, inconstitucional e insustentável classe financeira.
Uma visão liberal sobre as grandes manifestações pelo país. (Os Oligopólios cartelizados)
Depoimento do Lula: "Nunca antes nesse país..." (O país da piada pronta)
(Relata "A Privataria Tucana", a Delação Premiada de Delcidio do Amaral e o depoimento coercitivo do Lula para a Polícia Federal)
Seminário Nacional - Não queremos nada radical: somente o que está na constituição.
Seminário de Pauta 2015 da CSB - É tudo um assunto só...
UniMérito - Assembleia Nacional Constituinte Popular e Ética - O Quarto Sistema do Mérito
As aventuras de uma premiada brasileira! (Episódio 2016: Contra o veto da Dilma!)
As histórias do ex-marido da Patrícia Pillar
A mídia é o 4° ou o 1° poder da república? (Caso Panair, CPI Times-Life)
O Mercado de notícias - Filme/Projeto do gaúcho Jorge Furtado
Quem inventou o Brasil: Livro/Projeto de Franklin Martins (O ex-guerrilheiro ouve música)
Luiz Flávio Gomes e sua "Cleptocracia"
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Ricardo Boechat - Talvez seja ele o 14 que eu estou procurando...
Pedaladas Fiscais - O que são? Onde elas vivem? Vão provocar o impeachment da Dilma?
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Ajuste Fiscal - Trabalhadores são chamados a pagar a conta mais uma vez
Resposta ao "Em defesa do PT"
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Desastre em Mariana/MG - Diferenças na narrativa.
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Questões de opinião:
Eduardo Cunha - Como o Brasil chegou a esse ponto?
Sobre a Ditadura Militar e o Golpe de 64:
Dossiê Jango - Faz você lembrar de alguma coisa?
Comissão Nacional da Verdade - A história sendo escrita (pela primeira vez) por completo.
Luiz Carlos Prestes: Coluna, Olga, PCB, prisão, ALN, ilegalidade, guerra fria... Introdução ao Golpe de 64.
A WikiLeaks (no Brasil: A Publica) - Os EUA acompanhando a Ditadura Brasileira.
Sobre o caso HSBC (SwissLeaks):
Acompanhando o Caso HSBC I - Saiu a listagem mais esperadas: Os Políticos que estão nos arquivos.
Acompanhando o Caso HSBC II - Com a palavra os primeiros jornalistas que puseram as mãos na listagem.
Acompanhando o Caso HSBC III - Explicações da COAF, Receita federal e Banco Central.
Acompanhando o Caso HSBC V - Defina: O que é um paraíso fiscal? Eles estão ligados a que países?
Acompanhando o Caso HSBC VI - Pausa para avisar aos bandidos: "Estamos atrás de vocês!"...
Acompanhando o Caso HSBC VII - Crime de evasão de divisa será a saída para a Punição e a repatriação dos recursos
Acompanhando o Caso HSBC VIII - Explicações do presidente do banco HSBC no Brasil
Acompanhando o Caso HSBC IX - A CPI sangra de morte e está agonizando...
Acompanhando o Caso HSBC X - Hervé Falciani desnuda "Modus-Operandis" da Lavagem de dinheiro da corrupção.
Sobre o caso Operação Zelotes (CARF):
Acompanhando a Operação Zelotes!
Acompanhando a Operação Zelotes II - Globo (RBS) e Dantas empacam as investigações! Entrevista com o procurador Frederico Paiva.
Acompanhando a Operação Zelotes IV (CPI do CARF) - Apresentação da Polícia Federal, Explicação do Presidente do CARF e a denuncia do Ministério Público.
Acompanhando a Operação Zelotes V (CPI do CARF) - Vamos inverter a lógica das investigações?
Acompanhando a Operação Zelotes VI (CPI do CARF) - Silêncio, erro da polícia e acusado inocente depõe na 5ª reunião da CPI do CARF.
Acompanhando a Operação Zelotes VII (CPI do CARF) - Vamos começar a comparar as reportagens das revistas com as investigações...
Acompanhando a Operação Zelotes VIII (CPI do CARF) - Tem futebol no CARF também!...
Acompanhando a Operação Zelotes IX (CPI do CARF): R$1,4 Trilhões + R$0,6 Trilhões = R$2,0Trilhões. Sabe do que eu estou falando?
Acompanhando a Operação Zelotes X (CPI do CARF): No meio do silêncio, dois tucanos batem bico...
Acompanhando a Operação Zelotes XII (CPI do CARF): Nem tudo é igual quando se pensa em como tudo deveria ser...
Acompanhando a Operação Zelotes XIII (CPI do CARF): APS fica calado. Meigan Sack fala um pouquinho. O Estadão está um passo a frente da comissão?
Acompanhando a Operação Zelotes XIV (CPI do CARF): Para de tumultuar, Estadão!
Acompanhando a Operação Zelotes XV (CPI do CARF): Juliano? Que Juliano que é esse? E esse Tio?
Acompanhando a Operação Zelotes XVI (CPI do CARF): Senhoras e senhores, Que comece o espetáculo!! ("Operação filhos de Odin")
Acompanhando a Operação Zelotes XVII (CPI do CARF): Trechos interessantes dos documentos sigilosos e vazados.
Acompanhando a Operação Zelotes XVIII (CPI do CARF): Esboço do relatório final - Ainda terão mais sugestões...
Acompanhando a Operação Zelotes XIX (CPI do CARF II): Melancólico fim da CPI do CARF. Início da CPI do CARF II
Acompanhando a Operação Zelotes XX (CPI do CARF II):Vamos poupar nossos empregos
Sobre CBF/Globo/Corrupção no futebol/Acompanhando a CPI do Futebol:
Querido amigo, que falta tu faz em nossas vidas.
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