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terça-feira, 21 de abril de 2020

Golpe de 64 - 21 anos de ditadura

As várias manifestações e algumas poucas reivindicações para uma intervenção militar levou a boa curiosidade de saber o que foi a última intervenção militar no Brasil... Foi legal? Foi ilegal? Foi moral? Foi imoral? Nos salvou do comunistas? Atrasou nosso desenvolvimento? Foi um milagre econômico? Foi responsável pelo aumento da miséria do nosso povo? Houve censura da imprensa? A imprensa foi beneficiada? Houve tortura? Houveram morte por parte daqueles que tem como obrigação a defesa da vida? Era proibido pensar? É engraçado fazer piadas sobre essa época? O Pasquim fazia piadas sobre essa época? Os Estados Unidos tinham alguma coisa haver sobre a ditadura? (Brasil, ame ou deixe-o!!) O que são mais perigosos: os comunistas que comem criancinhas ou os militares que torturam? Houveram sequestros de autoridades de alta patente, incluindo embaixador norte-americano? Até hoje temos conseqüências dessa época? É uma boa torcer para que aconteça de novo?

Como introdução devemos saber é que o Brasil é apenas um país no planeta terra que vivia um período pós segunda guerra mundial. Uma guerra traumática que terminou com uma bomba atômica americana no Japão após os japoneses praticarem um massacre em um ataque surpresa a Pear Harbor. A guerra acabou e deixou o mundo divido: Duas Alemanhas... Duas Coréias... E uma guerra fria mundial. Um lado azul com medo das bombas do lado vermelho que tinha medo das bombas do lado azul. Azul X Vermelho. Direita X Esquerda. Comunistas X Capitalistas. O mundo estava dividido... O Brasil no meio do mundo...

Outra lembrança é que tenho que fazer antes de começar é que um dos primeiros atos da ditadura foi destruir a redação de um jornal (Correio da manhã) que tinha linha editorial diferente da visão do grupo que assumiu o poder.Uma ferramenta da ditadura é controlar o quarto poder (o poder da imprensa).  Portanto as notícias da época ou são incompletas ou totalmente mentirosas. Boa parte da história, versão oficial que foram para os jornais, revistas e livros tem esse vício. No processo de redemocratização houve um cuidado muito especial sobre como sairia da ditadura os meios de comunicação. (Vamos lembrar que órgãos de imprensa tem financiamentos e possuem lado, como está mostrado no filme O mercado de notícias (Já tem um post sobre esse filme no blog))

Então temos que tomar cuidado com as fontes de onde podemos tirar informações...

Tomando esses dois cuidados, Vou começar com a conclusão e depois mostrar o raciocínio...
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 Blog/Livro A verdade Sufocada : http://www.averdadesufocada.com/


Os militares sentem-se injustiçados por não serem reconhecidos por toda essa evolução do Brasil nos 21 anos de governo militar...
Não sou um desses. Reconheço as grandes obras feitas nas seguintes áreas: Hidroelétricas, estrutura de transportes(estradas, ferrovias, portos e aeroportos)  e grandes avanços na nossas empresas extrativistas(agricultura, mineração e petrolíferas).

Não há como negar que tudo isso foi feito com a maior competência, planejamento e excelência!
Admiro muito a competência e genialidade como tudo foi feito... Todos muito inteligentes!

No seu Blog/livro o coronel reformado do Exército Brasileiro Carlos Alberto Brilhante Ustra reproduz aqui um texto que foi divulgado primeiro no blog Sangue Verde Oliva. Esse blog fez um dossiê "O Brasil sob o regime militar"  onde a parte 1 mostra os grandes feitos brasileiros sob regime militar(as bondades) e na Parte 2 mostra as ruindades feitas pelo governo brasileiro nas mãos dos civis...

Pode acessar para ver o texto todo, mas vou reproduzir só a listagem de bondades feitas no período:

- Os militares (seu regime) fizeram a maior Revolução Industrial do século XX. Pegaram um país com o 45º PIB do mundo e, 21 anos depois, entregaram aos civis com o 10º(décimo) PIB mundial. Estamos há 24 anos sob autoridade civil e ainda continuamos em 10º lugar.

Outras coisinhas que os militares fizeram (tire suas conclusões):

  Criação de 13 milhões de empregos;

  A Petrobrás aumenta a produção de 75 mil para 750 mil barris/dia de petróleo;

  Estruturação das grandes construtoras nacionais;

  PIB de 14%;

  Construção de 4 portos e recuperação de outros 20;

  Criação da Eletrobras;

  Criação da Nucleobras e subsidiária;

  Criação da Embratel e Telebras;

  Usina Angra I e Angra II;

  Indústria aeronáutica, naval, bélica e automotiva;

  É restabelecida a autoridade por 21 anos;

  Pró-alcool (95% dos carros no país);

  Construída as maiores usinas do MUNDO: Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipú;

  Exportações crescem de 1,5 bilhões de dólares para 37 bilhões;

  Rede Asfaltada de 3mil para 45 mil KM;

  Redução da inflação de 100% ªª para 12% ªª, sem controle do preço* e sem massacre do funcionalismo público;

  Fomento e financimento de pesquisa: CNPq, FINEP e CAPES;

  Cursos de mestrado e doutorado;

  INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM;

  FUNRURAL;

  Programa de merenda escolar e alimentação do trabalhador;

  Criação de várias Universidades

  Criação do FGTS, PIS, PASEP;

  Criação da EMBRAPA (70 milhões de toneladas de grãos);

  Duplicação da rodovia Rio Juiz de Fora e da Via Dutra;

  Criação da EBTU;

  Implementação do Metrô em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza;

  Criação da INFRAERO, proporcionando a criação e modernização dos aeroportos brasileiros (Galeão, Guarulhos, Brasília, Confins, Campinas - Viracopos, Salvador, Manaus);

  Implementação dos Pólos Petroquímicos em São Paulo (Cubatão) e na Bahia (Camaçari);

  Prospecção de Petróleo em grandes profundidades na bacia de Campos;

  Construção do Porto no Maranhão;

  Construção dos maiores estádios, ginásios, conjuntos aquáticos e complexos desportivos em diversas cidades e universidades do país;

  SNI;

  Polícia Federal;

  Código Tributário Nacional;

  Código de Mineração;

  Zona Franca de Manaus;

  IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal;

  Conselho Nacional de Poluição Ambiental;

  Reforma do TCU;

  Estatuto do Magistério Superior;

  INDA Instituto de desenvolvimento agrário;

  Criação do banco Central (DEZ64);

  SFH Sistema Financeiro habitacional;

  BNH Banco Nacional de Habitação;

  Construção de 4 milhões de moradias;

  Regulamentação do 13º salário;

  Banco da Amazônia;

  SUDAM;

  Reforma Administrativa, Agrária, Bancária, Eleitoral, habitacional, Política e Universitária;

  Ferrovia da soja;

  Rede Ferroviária ampliada de 3mil e remodelada para 11 mil KM;

  Frota mercante de 1 para 4 milhões de TDW;

  Corredores de exportações de Vitória, Santos, Paranaguá e Rio Grande;

  Matriculas do ensino superior de 100 mil em 1964 para 1,3 milhões em 1981;

  Mais de 10 milhões de estudantes nas escolas (que eram realmente escolas);

  Estabelecimento de assistência médico sanitária de 6 para 28 mil;

  Crédito Educativo;

  Projeto RONDON;

  MOBRAL;
   
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É claro que nem tudo são flores e esse planejamento teve um preço. 
Também ocorreram nesse período crimes contra os direitos humanos e torturas que foi o maior preço que pagamos, pelo menos no que diz respeito aos direitos humanos.

Essa também é a minha grande crítica, mas eu tenho uma segunda crítica, que poucos falam por ser maquiada pela indignação à censura, tortura, etc... Mas é um crime lesa-pátria tão grande quanto. As torturas foi só uma ferramenta. Os objetivos eram outros.

Releia a relação dos avanços brasileiros da época militar...

Toda a infra-estrutura para o bom funcionamento de empresas primárias foram feitas. Nós usamos a energia elétrica para minerarmos, plantarmos, tirarmos petróleo, transportamos as matérias-primas pelas estradas/ferrovias até os portos/aeroportos e... exportamos...

Nenhum avanço na nossa industrialização. (Industrialização aqui somente com empresas internacionais).

Hoje confundimos o conceito de países industrializados com países desenvolvidos, pois aqueles que se industrializaram se desenvolveram. Aqueles que ficaram no extrativismo ficaram sub-desenvolvidos.

Quem joga StarCraft sabe o que eu estou falando: O Brasil é apenas aquela base de expansão que dominamos, colocamos estruturas primárias e parca proteção somente para mineramos até a última gota e com os recursos desenvolvemos nossa base principal!...

O Brasil caiu nessa armadilha, assim como a Argentina, o Equador, o Paraguai, o México, o Chile, a Indonésia, as Arábias, alguns asiáticos, alguns da América Central... Tudo muito bem planejado e executado... Em vários países do mundo. O Brasil foi só mais um.

Faz parte do plano o endividamento público. Toda essa evolução foi a base de vultuoso e generoso empréstimos estrangeiro.

Quando ficamos bem estruturados e funcionando bom como uma grande mina e celeiro, os juros aumenta e a grande dívida vira uma eterna dívida. Quanta genialidade.  

Exportando matéria prima e importando a produção das industria externa, a desvalorização cambial, inflação interna e a correção monetária da dívida faz com que não haja saída para quebrar o ciclo financeiro descendente. Que inteligência!
A dívida eterna faz com que o governo sub-desenvolvido recolha seus impostos e repasse a metade ou mais dos recursos para pagamentos de juros... o país vira exportador de dinheiro também. Exportamos metais, petróleo, comida e dinheiro. Que belo planejamento!

É o imperialismo-colonialismo da segunda metade do século XX e início do século XXI...


Faz parte do plano campanhas de massa para demonizar a reforma agrária...
E campanhas defendendo as privatizações... lembra do elefantinho?
Faz parte também vários acordos e atuações pontuais para que a dívida se perpetue... 
Tudo bem investigado pela CPI da dívida pública... Alguém lembra dela?

Vou copiar e colar também... Um post do Jornalista (Paulo Moreira Leite) que acompanhou o processo e em 22/08/2012 ele escreveu lembrando os fatos:

"Entre aqueles que se tornaram campeões da moralidade de 1964, um número
considerável de parlamentares recebeu, um ano e meio antes do golpe, US$ 5 milhões da
CIA para tentar emparedar João Goulart no Congresso. Depois do 31 de março essa
turma deu posse a Ranieri Mazzilli, alegando que Jango abandonara a Presidência,
embora ele nunca tenha pedido a renúncia.
Seis anos depois do golpe, o deputado Rubens Paiva, que liderou a CPI que apurou a
distribuição de verbas da CIA e foi cassado logo nos primeiros dias, foi sequestrado e
executado por militares que diziam combater a subversão e a corrupção."


Está vendo: A tortura e crimes contra a humanidade era só uma ferramenta... Essa é minha conclusão.
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O Raciocínio: Claro que para chegar a essa conclusão é necessário bastante informação...

Com aquele cuidado de saber da origem da informação, Primeiro vou mostrar esses documentários vindo de duas fontes: O observatório da imprensa, e o ministério da justiça. Ambos para marcar os 50 anos do golpe de 64.







Esse documentário mostra um pouco a relação da mídia com os militares. Começou com um apoio quase incondicional(a exceção de um jornal que foi depredado e fechado logo no início do golpe.).
Passou um tempo apoiando, estranhou o início da censura mas aceito e em alguns caso nem precisava de censura pois sua pauta era igual ao desejado pelos militares. Em alguns casos os pontos proibidos de serem divulgados eram informações desconhecidas da imprensa. A lista de assuntos proibidos era usada então como fonte de informação! Depois da morte de Vlado, aí assim começou um questionamento sobre o que estava ocorrendo. A imprensa teve um papel importante para a reabertura no caso do protesto de "Diretas já!", e as grandes empresas de mídia de hoje foram bastante beneficiadas durante e após a reabertura.


Com a instauração da ditadura militar através de um golpe das Forças Armadas do Brasil, no período entre 1964 e 1985, o papel dos advogados na defesa dos direitos e garantias dos cidadãos foi fundamental no confronto com a repressão, ameaças e todo tipo de restrições. "Os Advogados contra a Ditadura" propõe uma profunda reflexão sobra a época em questão, relembrando, através de depoimentos e registros de arquivos, a relevante e ativa participação dos advogados contra as imposições do autoritarismo e na luta pela liberdade.

Dirigido por Silvio Tendler, o filme faz parte do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia

Sinopse: Eles lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964, mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que, até hoje, ainda buscam justiça e reconhecimento na história do país. Militares da Democracia resgata, através de depoimentos e registros de arquivos, as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos, por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e democrática.

Dirigido por Silvio Tendler, o filme faz parte do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia

Uma mesa vermelha e o verbo de 23 ex-presos políticos. Neste filme, senhores jovens subversivos comentam sobre a convivência nos presídios masculinos pernambucanos durante o período militar. Da chegada ao cárcere, do afeto, da greve de fome, do papel dos coletivos dentro da cadeia. O sentimento de pertencimento é o que move este documentário. Aos personagens, o pertencimento a uma geração. À equipe técnica, o sentimento de pertencimento a um país que busca sua memória, que busca sua verdade.

Documentário dirigido por Tuca Siqueira,

Sinopse: "Eu me Lembro" é um documentário sobre os cinco anos das Caravanas da Anistia e reconstrói a luta dos perseguidos por reparação, memória, verdade e justiça, com imagens de arquivo e de entrevistas em 94 minutos.


Aqui mostra os EUA na retaguarda e com protagonismo na escolha dos militares que ficariam a frente do governo brasileiro. Fica a pergunta: O que o EUA queria com o Brasil?!!?
A resposta é: Os EUA querem com o mundo inteiro! O EUA fizeram interferência e foram os responsáveis por golpes e apoiaram a eleição de governos em vários países da América do Sul, Central, México, Ásia e Oceania.

Verdade?!

Dois grandes eventos mundial escancararam a política externa americana e suas intervenções em governos ao redor do mundo:

A WikiLeak(gerou um prêmio nóbel da paz) e o John Perkins.

http://wikileaks.org/

A WikiLeaks (no Brasil: A Publica) - Os EUA acompanhando a Ditadura Brasileira.



http://www.johnperkins.org/

Trechos do Livro "Confissões de um Assassino Econômico" de John Perkins 



Reportagem de capa da Revista Super Interessante(antes de ir à falência) em  março de 2014:

Os EUA derrubaram o presidente do Brasil?

Arquivos recém-abertos revelam toda a influência dos americanos no Golpe de 64. Eles bancaram os golpistas, tinham tropas prontas para intervir e seu favorito sucedeu Jango. Não é conspiração: é história


Jennifer Ann Thomas
John Kennedy tinha um brinquedo novo. Quando os convidados chegaram, o presidente apertou um botão escondido na lateral de sua mesa, acionando um microfone ali no Salão Oval e um gravador no porão da Casa Branca. Era a estreia de uma engenhoca secreta que registrou 260 horas de conversas sigilosas.

Olha que coincidência: a primeira gravação é sobre o Brasil. Das 11h52 às 12h20 de 30 de julho de 1962, debateu-se o futuro e a fritura do presidente João Goulart. O embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, disse que Jango estava "dando a porcaria do país de graça para os..." "...comunistas", completou Kennedy. O assessor Richard Goodwin ressaltou: "podemos muito bem querer que os militares brasileiros tomem o poder no final do ano". Isso quase dois anos antes do Golpe de 64.

Desde 1961, com a chocante renúncia de Jânio Quadros e a conturbada posse de Jango, as reuniões de Kennedy sobre nosso país eram monotemáticas: como impedir que o Brasil se tornasse uma gigantesca Cuba? Apesar disso, Lincoln Gordon, embaixador no Rio entre 1961 e 66, morreu em 2009, aos 96 anos, negando que os americanos teriam participado do golpe. Durante e após a ditadura, que foi até 1985, muitos pesquisadores brasileiros menosprezaram o papel dos americanos, tachando investigações nesse sentido de paranoia e teoria da conspiração. Mas documentos revelados nos últimos anos contam uma história diferente, que vai sendo revelada aos poucos.

Parte desse material ganhou destaque no documentário O Dia que Durou 21 Anos, da dupla de filho e pai Camillo e Flávio Tavares - autor de um grande livro sobre a luta contra o regime, Memórias do Esquecimento. O filme apresenta gravações e documentos oficiais e expõe justamente a articulação do governo americano e dos militares brasileiros contra Jango. Arquivos recém-abertos nos EUA estão mexendo até com obras definitivas: os quatro livros do jornalista Elio Gaspari serão reeditados levando em conta as gravações clandestinas de Kennedy e de seu sucessor Lyndon Johnson. E ainda há muito a ser revelado: Carlos Fico, historiador da UFRJ, estima que mesmo com a Lei de Acesso à Informação ainda não se analisou nem 20% dos arquivos dos órgãos de repressão brasileiros.

De qualquer forma, as informações disponíveis já permitem cravar: Jango caiu com um empurrão dos Estados Unidos. O governo americano instigou os militares, financiou a oposição, boicotou a economia e tinha tropas e navios prontos se fosse necessário intervir. Não foi. Em boa parte, graças ao próprio João Goulart, um presidente que até hoje desafia classificação.

JANGO LIVRE

O vice-presidente João Goulart soube da renúncia do presidente Jânio Quadros após uma viagem oficial à China, durante uma missão extraconjugal em Cingapura. Em 2014, após 29 anos de democracia ininterrupta, seria uma surpresa se o vice não assumisse, seja quem for e esteja onde estiver. Em 1961, a regra não era tão clara. Aliás, era feita para confundir: havia eleição para presidente e também para vice. Os vencedores podiam ser de campos opostos. E, em 1960, foram: Jânio era um salvador-da-pátria de direita, Jango um para-raios de todas as tempestades à esquerda. Quando o presidente deixou o campo após sete meses, seu reserva era de outro time. E o árbitro - nesse caso, as Forças Armadas - não quis que o reserva entrasse.

Jango foi defendido em seu Estado natal, o Rio Grande do Sul, onde o governador (e seu cunhado) Leonel Brizola criou a Campanha da Legalidade para impor sua posse. Com a nação à beira da guerra civil, aceitou ser presidente em um regime parlamentarista. Ganhou o cargo, mas não o poder.

Mesmo enfraquecido, ele assustava Kennedy, que o recebeu em abril de 1962. A primeira-dama Maria Thereza Goulart, rival à altura de Jacqueline Kennedy, encantou Washington, mas os EUA mantiveram dois pés atrás com Jango. Para os americanos, ele era um radical livre. Além de manter boas relações com Cuba, defendia impostos pesados e até a expropriação de empresas americanas no Brasil. Os relatos de Gordon sugeriam que ele se tratava de uma marionete de Moscou.

Em janeiro de 1963, a 14 meses do golpe, Jango recuperou os poderes presidenciais: 91% votaram contra o parlamentarismo em um plebiscito. O pleito tinha sido convocado por ele, o que os americanos compararam a "uma jogada de Garrincha, um jogador de futebol que corre grandes riscos esperando obter grandes ganhos". Mas ser contra o parlamentarismo não significava ser a favor de Jango. Sim, ele contava com o apoio dos pobres: uma pesquisa do Ibope às vésperas do golpe e não divulgada na época mostrava uma aprovação de 86% entre as classes baixas de São Paulo. Mas um levantamento do oposicionista Aníbal Teixeira no mesmo período mostrava que o golpe era apoiado por 80% do exército, 72% dos empresários, 66% do clero e 58% dos estudantes. Na imprensa, tinha fama de indeciso e incompetente. Havia a suspeita de que ele planejava realizar seu próprio golpe, com o apoio da esquerda.

Jango estava encurralado, e muito por culpa dele mesmo. A história seria diferente se ele tivesse apoio dos americanos? Ou dos militares brasileiros? Se bem que aí é especular demais. O alinhamento desses dois grupos não teve início nesse golpe nacional, mas muito antes, em uma guerra mundial.

COMANDOS EM AÇÃO

Precisou que um submarino alemão afundasse cinco navios brasileiros em 40 horas para que Getúlio Vargas deixasse de manobras e entrasse na Segunda Guerra contra Hitler. Isso foi em 1942. Só em 1944 os primeiros brasileiros chegaram à Itália para lutar sob comando dos EUA. A Força Expedicionária Brasileira era formada por 25 mil pracinhas. O contingente, metade do previsto, era mal equipado e mal preparado - houve meses de treinamento suplementar em solo italiano. Cientes de que organização não era nosso forte, os americanos escolheram como oficial de ligação entre os dois exércitos alguém cujo principal talento era o jogo de cintura: Vernon Walters.

Sem diploma universitário, e militar há apenas três anos, Walters era fluente em sete idiomas. Inclusive português, que aprendeu guiando militares lusitanos em visita aos EUA. Conquistou os brasileiros com gestos simples, como o de conseguir casacos para nossos soldados enfrentarem o inverno nos alpes. Além de condecorações, ganhou o posto de adido militar no Rio de Janeiro entre 1945 e 48.

O período após a Segunda Guerra foi de muito intercâmbio entre oficiais brasileiros e americanos. Após o convívio com forças realmente armadas na Europa, nossos militares pressionavam o governo por mais máquinas, armas e experiência. Centenas foram estudar no exterior, principalmente na Escola das Américas no Panamá, centro de treinamento criado pelos Estados Unidos, e na National War College, inspiração para a criação da nossa Escola Superior de Guerra. Independente do endereço, a ideologia era uma só: eliminar o comunismo.

Esse objetivo não era apenas de militares, mas também de civis. Uma tarefa importante dos agentes da CIA era monitorar a América Latina para avaliar a possibilidade de golpes que evitassem "novas Cubas". Sean Purdy, canadense professor de história dos Estados Unidos na USP, explica que a agência americana não possuía uma fórmula: podia haver envio de tropas ou apenas apoio logístico e financeiro. E aliados eram imprescindíveis. "Nenhum golpe apoiado pelos americanos aconteceu sem que o país tivesse forças internas para articulá-lo. Ele não era imposto a outras nações. Os EUA têm a sua culpa, mas, também no caso do Brasil, havia parte da sociedade que apoiava a derrubada do governo", explica Purdy. Durante a Guerra Fria, estima-se que a CIA tenha participado de, no mínimo, 26 golpes de estado.

Naquela primeira reunião grampeada por Kennedy ficou decidido que os EUA apoiariam um golpe militar no Brasil. E que o homem para saber quando e como esse golpe aconteceria era: Vernon Walters. Quando desembarcou no Rio em outubro de 1962 para reassumir o posto de adido militar, 13 generais brasileiros lhe esperavam para dar as boas-vindas.

Para James Green, historiador da Universidade Brown, o fato de Walters cair em um ambiente simpático facilitou sua missão de instigar a derrubada de Jango. O conhecimento acumulado facilitava a ida de um conspirador a outro. Em seu livro de memórias, Walters desconversa: conta que gostava muito de tomar sorvete com os seus amigos, e que não conversava sobre política nesses momentos. "Duvido que isso fosse possível", diz o historiador americano. Apesar de não haver registros, Green acredita que Walters era influente o suficiente para, de forma sutil, deixar claro o nome que mais agradava aos EUA para ser o primeiro presidente após o golpe. A honra coube justamente a um companheiro de Vernon da Segunda Guerra, um general cearense com quem o americano chegou a dividir o quarto: Humberto de Alencar Castello Branco.

A COR DO DINHEIRO

Nem só de tramas ocultas vive uma conspiração. Também é preciso abrir a carteira. Além de financiar adversários de Jango, os EUA o desestabilizavam negando financiamentos ao Brasil.O apoio aos políticos vinha da Aliança para o Progresso, programa criado no início da gestão Kennedy. Nas eleições estaduais e parlamentares de 1962, era fundamental impedir um crescimento da esquerda brasileira. Rolou uma espécie de mensalão americano: a Aliança distribuiu entre os adversários de Jango US$ 5 milhões - metade do que havia custado a campanha presidencial de Kennedy em 1960. Gordon chamava os contemplados de "ilhas de sanidade". Caso de João Cleofas, que perdeu a disputa em Pernambuco para Miguel Arraes, e de Carlos Lacerda, que já era governador da Guanabara e assumiu o papel de porta-voz da oposição. O repasse dessa verba marca o início do envolvimento direto dos americanos na política brasileira.

Outra frente de propaganda ficava por conta do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), dois órgãos brasileiros que contavam com financiamento dos Estados Unidos. Ambos produziam conteúdo para rádio, televisão, cinema e jornais pregando o anticomunismo e a oposição a Goulart, frequentemente misturando as duas coisas. Além das campanhas amplas, o plano americano também contemplava ações focadas em público diferenciado e formador de opinião: os militares brasileiros. Gastaram atuais US$ 60 mil em livros para os oficiais, e só em 1963 organizaram 1.706 exibições de filmes "progressistas" em quartéis, bases, escolas e navios.

Não bastasse a campanha de desestabilização interna, havia também boicote externo. Tanto Kennedy quanto Lyndon Johnson, seu sucessor, congelaram os empréstimos que Jango havia acertado com instituições internacionais. Com muito capital investido no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, os EUA podiam decidir quais propostas seriam aprovadas ou não. Como o embaixador Gordon garantia que Goulart vivia sob influência do comunismo e o dinheiro iria para a guerrilha, o pedido era negado. (Gordon não escondia sua antipatia pelo presidente brasileiro. Em agosto de 1963, pôs num telegrama: "é quase certo que Goulart fará de tudo para instituir alguma forma de regime autoritário". Mais adiante, torce contra sua saúde: "Se Deus é realmente brasileiro, o problema cardíaco de Goulart, de 1962, brevemente se tornará agudo".)

Menos de um mês depois do golpe, os americanos aprovaram o envio de US$ 1 bilhão para o presidente Castello Branco, o que motivou o Banco Mundial e o FMI a também liberar recursos. Era como se já estivesse tudo acertado. Bom: alguma coisa já estava.

O QUE TODO MUNDO FAZ
Um mês e meio antes de ser assassinado em Dallas, Kennedy chamou Lincoln Gordon ao Salão Oval e apertou o botão mais uma vez. O áudio desse encontro foi postado no site da Biblioteca Kennedy e descoberto por Elio Gaspari - parte dele estará na nova edição de A Ditadura Envergonhada. Em 7 de outubro de 1963, o presidente americano quis saber do embaixador o que fazer com seu colega brasileiro. Gordon respondeu que havia dois cenários: Jango podia abandonar o discurso esquerdista e resolver a coisa de modo pacífico. "Ou não tão pacífico: ele pode ser tirado involuntariamente." Gordon buscou instruções: "Vamos suspender relações diplomáticas, econômicas, ajuda, todas essas coisas? Ou vamos encontrar uma maneira de fazer o que todo mundo faz?" Kennedy pega a bola e mais adiante devolve: "Acha aconselhável que façamos uma intervenção militar?" Pense naqueles 26 golpes com selo CIA de qualidade.

Gordon desaconselhou uma ação imediata. A não ser que Jango se aproximasse de "velhos amigos" como Brizola. Ficou por isso mesmo. Kennedy morreu e a bola passou para seu sucessor, Lyndon Johnson.

Atolado com a Guerra do Vietnã, Johnson repassou a bola para Thomas C. Mann, novo coordenador da Aliança para o Progresso. E bota coordenador nisso: em 18 de março de 1964 se reuniu com todas as autoridades envolvidas com a América Latina. Desse encontro saiu a Doutrina Mann: os Estados Unidos reconheceriam o governo de qualquer aliado, mesmo sob regime autoritário, contanto que continuasse anticomunista. A definição a poucos dias do golpe era um sinal claro para militares golpistas agirem com segurança, escreveu o New York Times no dia seguinte. Mann, em vez de desmentir, declarou: cada caso era um caso.

No caso do Brasil, havia a Operação Brother Sam. Não, não é paranoia: é história, comprovada por múltiplas fontes. Caso os golpistas precisassem de uma força, os Estados Unidos tinham mobilizado um porta-aviões, um porta-helicópteros, tropas de paraquedistas, seis contratorpedeiros com cerca de 100 toneladas de armas e os quatro navios-petroleiros - havia receio que faltasse gasolina para os revolucionários. A operação foi planejada com apoio de brasileiros: o general José Pereira de Ulhoa Cintra, homem de confiança de Castello Branco, seria o responsável por avisar Walters caso necessitasse de ajuda.

O estopim do golpe, no entanto, não veio de Washington, mas do centro do Rio de Janeiro. É lá que fica o Automóvel Clube, onde em 30 de março um Jango em chamas disse a militares aliados que "o golpe que nós desejamos é o golpe das reformas de base, tão necessárias ao nosso país". Para Jango, as "reformas de base" eram uma bandeira; para a oposição, a aurora do Brasil Soviético. Na mesma noite, chegou a Washington um telegrama afirmando que o golpe aconteceria dentro das próximas 48 horas, partindo de São Paulo ou de Minas Gerais. Foi de Minas: na manhã seguinte, o general Olympio Mourão Filho saiu de Juiz de Fora, dando início ao movimento que derrubaria o presidente. (A linha do tempo que começa na pág. 36 conta o golpe passo a passo.)

Só no dia seguinte Jango voou do Rio para Brasília, onde foi informado que o movimento de Minas podia ter conhecimento e o apoio dos EUA. Para muitos, esse alerta explica a falta de resistência de Jango e sua fuga para o Uruguai: ele não quis enfrentar os americanos. Americanos que nem vieram: em 1º de abril, Castello Branco avisou Gordon que as embarcações da Operação Brother Sam, que vinham do Caribe, podiam dar meia volta.

O deputado Rainieri Mazzilli assumiu a presidência interinamente. Mas quem seria o presidente militar? Costa e Silva, ligado à linha dura, quis impor seu nome. Ficou para 1967. Em 1964, deu Castello Branco - para Green, graças à influência americana. Castello tomou posse em 11 de abril, prometendo "entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo em eleições livres, uma nação coesa".
Durante os 21 anos de ditadura, Lincoln Gordon a defendeu. Ignorava a censura, a tortura e celebrava o Milagre Brasileiro. Defendeu até o fim que em 1964 o Brasil estava à beira de uma revolução comunista. Nunca se soube por que foi tão fácil para os militares tomar o poder. E talvez nunca se saiba: até hoje não encontraram um gravador no porão do Kremlin.


Mai uma reportagem do Super Interessante:

10 mitos sobre a ditadura no Brasil (ou Por que você não deve querer que ela volte)

Em 1964, um golpe de estado que derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura no Brasil. O regime autoritário militar durou até 1985. Censura, exílio, repressão policial, tortura, mortes e “desaparecimentos” eram expedientes comuns nesses “anos de chumbo”. Porém, apesar de toda documentação e testemunhos que provam os crimes cometidos durante o Estado de exceção, tem gente que acha que naquela época “o Brasil era melhor”. Mas pesquisas da época – algumas divulgados só agora, graças à Comissão Nacional da Verdade – revelam que o período não trouxe tantas vantagens para o país.
Nas últimas semanas, recebemos muitos comentários saudosistas em relação à ditadura na página da SUPER no Facebook. Em uma época em que não é incomum ver gente clamando pela volta do regime e a por uma nova intervenção militar no país, decidimos falar dos mitos sobre a ditadura em que muita gente acredita.

1. “A ditadura no Brasil foi branda”

Foto: Auremar de Castro/DEDOC Abril

Pois bem, vamos lá. Há quem diga que a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes latino-americanos. Países como Argentina e Chile, por exemplo, teriam sofrido muito mais em “mãos militares”. De fato, a ditadura nesses países também foi sanguinária. Mas repare bem: também foi. Afinal, direitos fundamentais do ser humano eram constantemente violados por aqui: torturas e assassinatos de presos políticos – e até mesmo de crianças – eram comuns nos “porões do regime”. Esses crimes contra a humanidade, hoje, já são admitidos até mesmo pelos militares (veja aqui e aqui). Para quem, mesmo assim, acha que foi “suave” a repressão, um estudo do governo federal analisou relatórios e propõe triplicar a lista oficial de mortos e desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar. Ou seja: de 357 mortos e desaparecidos com relação direta ou indireta com a repressão da ditadura (segundo a lista da Secretaria de Direitos Humanos), o número pode saltar para 957 mortos.

2. “Tínhamos educação de qualidade”
Naquele época, o “livre-pensar” não era, digamos, uma prioridade para o regime. Havia um intenso controle sobre informações e ideologia – o que engessava o currículo – e as disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas por Educação, Moral e Cívica e por OSPB (Organização Social e Política Brasileira, uma matéria obrigatória em todas as escolas do país, destinada à transmissão da ideologia do regime autoritário). Segundo o estudo “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização) fracassou. O Mobral era uma resposta do regime militar ao método do educador Paulo Freire – considerado subversivo -, empregado, já naquela época, com sucesso no mundo todo. Mas os problemas não paravam por aí: com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram. E faturaram também. Esse “sucateamento” também chegou às universidades: foram afastadas dos centros urbanos – para evitar “baderna” – e sofreram a imposição do criticado sistema de crédito.

3. “A saúde não era o caos de hoje”
Se hoje todo mundo reclama da “qualidade do atendimento” e das “filas intermináveis” nos hospitais e postos de saúde, imagina naquela época. Para começar, o acesso à saúde era restrito: o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento público, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. Ou seja, só era atendido quem tinha carteira de trabalho assinada. O resultado era esperado: cresceu a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas. Essas instituições abrangeram, em 1976, a quase 98% das internações. Planos de saúde ainda não existiam e o saneamento básico chegava a poucas localidades, o que aumentava o número de doenças. Além disso, o modelo hospitalar adotado relegava a assistência primária a segundo plano, ou seja, para os militares era melhor remediar que prevenir. O tão criticado SUS (Sistema Único de Saúde) – que hoje atende cerca de 80% da população – só foi criado em 1988, três anos após o fim da ditadura.

4. “Não havia corrupção no Brasil”

Arquivo Editora Bloch/Veja Rio/DEDOC Abril
Uma características básica da democracia é a participação da sociedade civil organizada no controle dos gastos, denunciando a corrupção. E em um regime de exceção, bem, as coisas não funcionavam exatamente assim. Não havia conselhos fiscalizatórios e, depois da dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram sequer analisadas, quanto mais discutidas. Além disso, os militares investiam bilhões e bilhões em obras faraônicas – como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço -, sem nenhum controle de gastos. Esse clima tenso de “gastos estratosféricos” até levou o ministro Armando Falcão, pilar da ditadura, a declarar que “o problema mais grave no Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”. Muito pouco se falava em corrupção. Mas não significa que ela não estava lá. Experimente jogar no Google termos como “Caso Halles”, “Caso BUC” e “Caso UEB/Rio-Sul” e você nunca mais vai usar esse argumento.

5. “Os militares evitaram a ditadura comunista”
É fato: o governo do presidente João Goulart era constitucional. Seguia todo à risca o protocolo. Ele chegou ao poder depois da renúncia de Jânio Quadros, de quem era vice. Em 1955, foi eleito vice-presidente com 500 mil votos a mais que Juscelino Kubitschek. Porém, quando Jango assumiu a Presidência, a imprensa bateu na tecla de que em seu governo havia um “caos administrativo” e que havia a necessidade de reestabelecer a “ordem e o progresso” através de uma intervenção militar. Foi criada, então, a ideia da iminência de um “golpe comunista” e de um alinhamento à URSS, o que virou motivo para a intervenção. Goulart não era o que se poderia chamar de marxista. Antes de ser presidente, ele fora ministro de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e estava mais próximo do populismo. Em entrevista inédita recentemente divulgada, o presidente deposto afirmou que havia uma confusão entre “justiça social” – o que ele pretendia com as Reformas de Base – e comunismo, ideia que ele não compartilhava: “justiça social não é algo marxista ou comunista”, disse. Há também outro fator: pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe, em 31 de março, mostram que Jango tinha um amplo apoio popular, chegando a 70% de aprovação na cidade de São Paulo. Esta pesquisa, claro, não foi revelada à época, mas foi catalogada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

6. “O Brasil cresceu economicamente”
Um grande legado econômico do regime militar é indiscutível: o aumento da dívida externa, que permaneceu impagável por toda a primeira década de redemocratização. Em 1984, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Sim, mais da metade do que arrecadava. Se transpuséssemos essa dívida para os dias de hoje, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão, ou seja, o quádruplo da atual dívida externa. Além disso, o suposto “milagre econômico brasileiro” – quando o Brasil cresceu acima de 10% ao ano – mostrou que o bolo crescia sim, mas poucos podiam comê-lo. A distribuição de renda se polarizou: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois. Quer dizer, quem era rico ficou ainda mais rico e o pobre, mais pobre que antes. Outra coisa que piorava ainda mais a situação do população de baixa renda: em pleno milagre, o salário mínimo representava a metade do poder de compra que tinha em 1960.

7. “As igrejas apoiaram”
Sim, as igrejas tiveram um papel destacado no apoio ao golpe. Porém, em todo o Brasil, houve religiosos que criaram grupos de resistência, deixaram de aceitar imposições do governo, denunciaram torturas, foram torturados e mortos e até ajudaram a retirar pessoas perseguidas pela ditadura no país. Inclusive, ainda durante o regime militar, uma das maiores ações em defesa dos direitos humanos – o relatório “Brasil: Nunca Mais” – originou-se de uma ação ecumênica, desenvolvida por dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright. Realizado clandestinamente entre 1979 e 1985, gerou uma importante documentação sobre nossa história, revelando a extensão da repressão política no Brasil.


8. “Durante a ditadura, só morreram vagabundos e terroristas”
Esse é um argumento bem fácil de encontrar em caixas de comentário da internet. Dizem que quem não pegou em armas nunca foi preso, torturado ou morto pelas mãos de militares. Provavelmente, quem acredita nisso não coloca na conta o genocídio de povos indígenas na Amazônia durante a construção da Transamazônica. Segundo a estimativa apresentada na Comissão da Verdade, 8 mil índios morreram entre 1971 e 1985. Isso sem contar as outras vítimas da ditadura que não faziam parte da guerrilha. É o caso de Rubens Paiva. O ex-deputado, cassado depois do golpe, em 1964, foi torturado porque os militares suspeitavam que, através dele, conseguiriam chegar a Carlos Lamarca, um dos líderes da oposição armada. Não deu certo: Rubens Paiva morreu durante a tortura. A verdade sobre a morte do político só veio à tona em 2014. Antes disso, uma outra versão (bem mal contada) dizia que ele tinha “desaparecido”. Para entrar na mira dos militares durante a ditadura, lutar pela democracia – mesmo sem armas na mão – já era motivo o suficiente.

9. “Todos os militares apoiaram o regime”
Ser militar na época não era sinônimo de golpista, claro. Havia uma corrente de militares que apoiava Goulart e via nas reformas de base um importante caminho para o Brasil. Houve focos de resistência em São Paulo, no Rio de Janeiro e também no Rio Grande do Sul, apesar do contragolpe nunca ter acontecido. Durante o regime, muitos militares sofreram e estima-se que cerca 7,5 mil membros das Forças Armadas e bombeiros foram perseguidos, presos, torturados ou expulsos das corporações por se oporem à ditadura. No auge do endurecimento do regime, os serviços secretos buscavam informações sobre focos da resistência militar, assim como a influência do comunismo nos sindicatos, no Exército, na Força Pública e na Guarda Civil.

10. “Naquele tempo, havia civismo e não tinha tanta baderna como greves e passeatas”

Estudantes que participavam de uma reunião da UNE são presos no interior de São Paulo. Foto: Cristiano Mascaro/DEDOC Abril
Quando os militares assumiram o poder, uma das primeiras medidas que tomaram foi assumir a possibilidade de suspensão dos diretos políticos de qualquer cidadão. Com isso, as representações sindicais foram duramente afetadas e passaram a ser controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho, o que gerou o enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão. Afinal, para que as leis trabalhistas vigorem, é necessário que se judicializem e que os patrões as respeitem. Com essa supressão, os sindicatos passaram a ser compostos mais por agentes do governo que trabalhadores. E os direitos dos trabalhadores foram reduzidos à vontade dos patrões. Passeatas eram duramente repreendidas. Quando o estudante Edson Luísa de Lima Souto foi morto em uma ação policial no Rio de Janeiro, multidões foram às ruas no que ficou conhecido com o a Passeata dos Cem Mil. Nos meses seguintes, a repressão ao movimento estudantil só aumentou. As ações militares contra manifestações do tipo culminaram no AI-5. O que aconteceu daí para a frente você já sabe.
Mas, se você já esqueceu ou ainda não está convencido, confira uma linha do tempo da ditadura militar nesse especial que a SUPER preparou sobre o período. Não deixe de jogar “De volta a 1964″, o jogo que mostra qual teria sido sua trajetória durante as duas décadas do regime militar no Brasil.



Fontes: Folha, Estadão, EBC, Brasil Post, Pragmatismo Político, O Globo, R7


Especiais 50 anos do Golpe Militar de 64:
http://www.sul21.com.br/jornal/50-anos-do-golpe-civil-militar/

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