Clicou, pagou, mas nem sempre recebeu
Sites de vendas on-line promovem campanha com frete grátis que deve movimentar R$ 50 mi, em momento de alta nos problemas com entregas
O frete hoje, em mais de 30 sites de e-commerce no Brasil, não será cobrado, para a maioria dos produtos. A estratégia, encabeçada pelo site Busca Descontos, promete movimentar, em um único dia, R$ 50 milhões em compras e surge justamente em momento de crise de credibilidade do setor – o avanço do comércio eletrônico no país cresceu junto com as reclamações de quem já enfrentou problema com a entrega. A expectativa é de que as vendas das empresas sejam, hoje, de 20% a 30% maiores que em dias comuns. O frete pode ser grátis, mas não deixa de ser frete. Segundo Leonardo Bortoletto, diretor da Web Consult, consultoria especializada em inteligência digital, o apelo do frete grátis ajuda no impulso da compra, mas o fato de oferecer a entrega gratuita não exime as empresas do comprometimento com o bom serviço.
“O frete é grátis, mas é preciso que estejam claras as informações sobre os detalhes da logística de entrega, para que não haja disparidade entre a expectativa gerada e o que o site oferece”, diz o consultor. Embora seja justamente a entrega o ponto crítico, o movimento do Dia do Frete Grátis é abrangente quando toca nesse assunto em seu regulamento: limita-se a definir como obrigação das empresas “oferecer, no dia da ação, frete grátis para o máximo de produtos/categorias e/ou o site todo; não inflacionar ou maquiar preços e descontos; deixar claro as regras e condições de uso do frete grátis; realizar todos os esforços para entregar os produtos nos prazos estipulados”.
Quem já se decepcionou com entregas de compras on-line costuma ficar calejado. Foi em uma manhã de janeiro que a estudante Sheilla Márcia Barbosa não resistiu à divulgação de um e-mail que ofertava o videogame que queria, por uma bagatela. Embora fosse esmola demais, ela não desconfiou e bateu o martelo na compra. “Estou até hoje esperando a entrega, e não consigo contato com a empresa”, reclama a jovem, que engrossa o número dos consumidores que se renderam à praticidade do comércio eletrônico, mas se decepcionaram com o serviço por atrasos ou cancelamentos.
Número aliás, que não é nem divulgado pelas empresas. As assessorias de imprensa habituaram-se a negar pedidos de entrevista alegando que tais companhias têm perfil “discreto”. Isso enquanto alardeiam crescimentos vultuosos no faturamento na mesma toada em que enfrentam crises de reputação on-line. O comércio eletrônico, que nos primórdios impunha desafio de virtualização às lojas físicas, hoje inverteu o foco do problema. Tem como principal questão justamente a criação de estruturas físicas de logística que sustentem o crescimento no volume de negócios.
No último ano, o setor faturou R$ 18,7 bilhões, crescimento equivalente a 26% na comparação com 2010. Os números são da e-bit, empresa especializada em informações do setor, segundo a qual 9 milhões de novos consumidores engrossaram esse mercado em 2011. Os indicadores de atrasos e cancelamentos, contudo, não são periodicamente publicados.
Segundo a e-bit, no último Natal, as reclamações quanto a atrasos e cancelamentos marcaram 13% das transações – evolução ante os 17% registrados em 2010. “Metade do setor não tem logística própria ou terceirizada para realizar as entregas e eventuais devoluções. Com isso, ficam na mão dos Correios e não têm completo controle sobre o processo”, destaca Cris Rother, diretora de negócios da consultoria.
Foi exatamente essa dependência que jogou balde de água fria no último dia das crianças, segundo ela. O setor previa crescimento de 20% no período, estimando vendas de R$ 740 milhões. A greve dos Correios fez com que as empresas de comércio eletrônico faturassem só 16% a mais que no ano anterior, batendo nos R$ 713 milhões. Segundo Rother, no monitoramento que faz junto a consumidores, 92% das reclamações dizem respeito a atrasos e cancelamentos. Justamente o que levou o setor à pole position nos índices de reclamações de órgãos de defesa do consumidor no último ano – não foi diferente na coluna Segunda Via, publicada no Estado de Minas às segundas-feiras.
Para Bortoletto, o mais grave é a visão curta de muitas das empresas, que preferem resolver pontualmente problemas jurídicos a anunciar – e de fato executar – vultuosos investimentos em logística, para prevenir esses contratempos. “A visão estritamente financeira do prejuízo logístico pode dar a entender que é melhor resolver a exceção do que criar regra que gere custo em toda a operação para resolver problemas pontuais”, diz o consultor. O problema surge, ele destaca, quando o transtorno deixa de ser pontual: “Daí, teremos efeito colateral que fere a reputação on-line da marca. Isso é muito sério porque pode gerar desistência de compra, antes dela existir. É prejuízo literalmente incomensurável do ponto de vista da perenidade do negócio”.
Controle em debate A questão da regulação das empresas “discretas” é tensa por envolver o delicado tema do cerceamento de atividades a endereços de web. “A atualização do Código de Defesa do Consumidor, em discussão no Senado, contudo, dá aos órgãos de defesa do consumidor autonomia para fiscalizar e suspender sites e tomar iniciativas sem depender da Justiça”, explica Maria Inês Dolci, coordenadora institucional do Proteste – Associação de Consumidores. De acordo com ela, muitas vezes os consumidores recorrem à Justiça, mas as determinações demoram anos: “Nesse meio tempo, as empresas já lucraram”.
Dolci acredita ser fundamental que o consumidor cumpra a parte que lhe cabe, evitando comprar novamente em sites com os quais já teve problemas: “Mostrar que está insatisfeito é não dar chance para o problema se repetir”. A estudante Sheilla Márcia, que está ainda sem o videogame de R$ 869 que comprou em janeiro, conta que não pretende dar outra chance ao site Caldeirão de Ofertas. “Nenhum dos meus contatos foi respondido. Simplesmente sumiram e não deram mais notícias.”
A reportagem tentou contato com a empresa. Não há telefones de informação na página. A resposta automática ao e-mail esclarecia que “normalmente, nossas respostas são enviadas em até 48 horas úteis. Porém, eventualmente este prazo pode chegar a até 96 horas úteis, devido a certos eventos pontuais que geram uma demanda de e-mail (sic) muito grande”. Enquanto isso, à consumidora, que tem no código garantido o direito de ao menos conversar com a empresa para esclarecer as dúvidas quanto à compra, resta a solicitação citada ao fim da mensagem eletrônica: “pedimos gentilmente a sua compreensão”.
Hoje é Dia do Frete Grátis nas lojas online
Lojas como Walmart, Submarino e Dell fazem promoção de frete grátis nesta quinta-feira
Site exama 12/04/2012 13:58
No Dia do Frete Grátis, cerca de 30 lojas vendem mercadorias na web sem cobrar pela remessa
São Paulo – O comércio online
brasileiro está adotando mais uma promoção que já é tradicional no
varejo americano: o Dia do Frete Grátis. A promoção, organizada aqui
pelo site Busca Descontos, inclui lojas como Walmart, Submarino, Dell, Netshoes, Saraiva e Magazine Luíza. Ela acontece hoje, até meia-noite.
O Free Shipping Day já é realizado há quatro anos nos Estados Unidos.
Lá, 2.300 lojas vendem seus produtos na web sem cobrar pela entrega.
Estima-se que, no ano passado, elas faturaram mais de 1 bilhão de
dólares nesse dia. A versão nacional, muito mais modesta, conta com
pouco mais de 30 lojas. Elas se comprometeram a vender a maioria dos
produtos (mas não todos) com frete grátis, e a não incorporar o valor da
remessa ao preço desses itens.
Algumas lojas, como Compra Fácil e Walmart, estenderam a promoção a todos os itens disponíveis online. Mas a maioria delas estabelece restrições. Na Saraiva, por exemplo, o frete grátis vale para compras de valor superior a 99 reais, e não vale para a região Norte do país. Na Americanas, a promoção inclui produtos de categorias específicas e de valor superior a 99 reais.
O site Busca Descontos, que organiza a promoção, diz que oferecer o frete grátis pode equivaler, em alguns casos, a dar um desconto entre 5% e 10% no preço do produto. É o mesmo site que organizou as liquidações Black Friday e Boxing Day no Brasil. Segundo a empresa, só a Black Friday, realizada em novembro, movimentou 100 milhões de reais num único dia no ano passado.
Algumas lojas, como Compra Fácil e Walmart, estenderam a promoção a todos os itens disponíveis online. Mas a maioria delas estabelece restrições. Na Saraiva, por exemplo, o frete grátis vale para compras de valor superior a 99 reais, e não vale para a região Norte do país. Na Americanas, a promoção inclui produtos de categorias específicas e de valor superior a 99 reais.
O site Busca Descontos, que organiza a promoção, diz que oferecer o frete grátis pode equivaler, em alguns casos, a dar um desconto entre 5% e 10% no preço do produto. É o mesmo site que organizou as liquidações Black Friday e Boxing Day no Brasil. Segundo a empresa, só a Black Friday, realizada em novembro, movimentou 100 milhões de reais num único dia no ano passado.
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