Escrever pode ser recreativo
Almanaque mostra conexão entre jogos e organização de textos
Publicação: Jornal Estado de Minas 05/04/2012 Caderno Inform@tica Repórter Raphael Pires
Autora do Almanaque da rede, Sônia Rodrigues pesquisa área de games há anos |
Johan
Huizinga, historiador neerlandês, disse em seu livro Homo ludens que o
jogo e a brincadeira precedem a civilização e a escrita. Antes mesmo de
aprendermos a ler e escrever, já entendemos quando nossos pais estão
querendo brincar de pega-pega ou jogar bola. Unir a simplicidade de um
jogo com a tarefa de saber como organizar um texto é a proposta do
Almanaque da rede (ADR), criado em março de 2009 pela escritora e
jornalista Sônia Rodrigues. Como continuidade à plataforma, acaba de ser
lançado o aplicativo Jogo da escrita, para Android. Ele abrange quatro
tipos de texto com foco na escrita criativa: narrativo, descritivo,
dissertativo e mensagem. Por exemplo: no descritivo, vários ícones
aparecem na tela onde o aluno escreve “o quê”, “onde”, “como”, “quem”
etc. e monta o primeiro parágrafo do texto. Dessa forma, o jogador vai
acumulando pontos por cada regra de ortografia e gramática aprendida na
produção de redações, histórias, diálogos e roteiros.
O Almanaque conta com 13.220 alunos em escolas no Rio de Janeiro e Pernambuco. Funcionando nos moldes de uma rede social, os estudantes podem conversar com outros e comentar sobre os textos produzidos. Além da internet, é possível se conectar por meio do aplicativo para Android. E uma versão impressa permite a criação na sala de aula, entre os colegas.
Além do Jogo da escrita, o ADR tem quatro jogos. No Jogo dos desafios, atualizado toda semana, os participantes levados a escrever de acordo com propostas dadas, como contar sobre a rotina de um adolescente ou uma mensagem de pai para filho. No Jogo das narrativas é preciso escrever uma história completa, introduzindo elementos básicos, como cenário, lugar, época, personagem e problema.
Os quadrinhos, tão presentes na infância e juventude de cada um, são o foco do Jogo dos diálogos, em que o aluno monta uma conversa entre personagens que relatam uma situação pela qual estão passando. Fugindo da escrita, no jogo de conhecimentos Sei mais, os jogadores respondem questões de história, português, geografia, física e biologia. Uma equipe de oito pessoas, formadas em comunicação e letras, acompanha e comenta os textos dos alunos, dando dicas de como melhorar suas composições.
TESTE SOBRE RPG
O Almanaque conta com 13.220 alunos em escolas no Rio de Janeiro e Pernambuco. Funcionando nos moldes de uma rede social, os estudantes podem conversar com outros e comentar sobre os textos produzidos. Além da internet, é possível se conectar por meio do aplicativo para Android. E uma versão impressa permite a criação na sala de aula, entre os colegas.
Além do Jogo da escrita, o ADR tem quatro jogos. No Jogo dos desafios, atualizado toda semana, os participantes levados a escrever de acordo com propostas dadas, como contar sobre a rotina de um adolescente ou uma mensagem de pai para filho. No Jogo das narrativas é preciso escrever uma história completa, introduzindo elementos básicos, como cenário, lugar, época, personagem e problema.
Os quadrinhos, tão presentes na infância e juventude de cada um, são o foco do Jogo dos diálogos, em que o aluno monta uma conversa entre personagens que relatam uma situação pela qual estão passando. Fugindo da escrita, no jogo de conhecimentos Sei mais, os jogadores respondem questões de história, português, geografia, física e biologia. Uma equipe de oito pessoas, formadas em comunicação e letras, acompanha e comenta os textos dos alunos, dando dicas de como melhorar suas composições.
TESTE SOBRE RPG
Filha do escritor Nelson Rodrigues, Sônia é formada em
comunicação e tem doutorado em literatura pela PUC Rio. Sua tese,
“Roleplaying game e a pedagogia da imaginação no Brasil” é a primeira no
Brasil sobre RPG. “Decidi pesquisar na área de jogos por causa do meu
filho Maurício Mota. Ele jogava muito RPG e me deu a ideia de estudar
esses jogos de representação”, explica Sônia, que gravou centenas de
horas de sessões do jogo e leu os livros de regras para prosseguir com a
pesquisa.
Para ela, o RPG é um exercício de imaginação e de incentivo à criatividade. O jogo exercita a mente de forma lúdica, sem ser maçante. O aprendizado ganha um status diferente, o de gamificado. “Ganhar pontos lendo motiva mais a leitura”, afirma Sônia.
Gamificação é o conceito utilizado quando os games aparecem em áreas que não estão diretamente ligadas a eles. Como no caso do Almanaque da rede, é usar características inerentes aos jogos – pontuação, passar de níveis, recompensas etc – no aprendizado tradicional. Outra forma é distribuir emblemas e insígnias para cada boa ação dentro de uma empresa, como ajudar o colega, apagar as luzes ao sair e deixar o ambiente limpo.
Mas não para por aí. A designer de games canadense Jane McGonigal quer usar a gamificação para resolver os maiores problemas sociais no mundo. A princípio, a ideia parece maluca, mas ela já lançou um livro com várias explicações. No Reality is broken: why games make us better and how they can change the world (Por que jogos nos fazem melhor e como eles podem mudar o mundo) a pesquisadora analisa o comportamento de jogadores no multi-massive on-line role-playing game World of warcraft e como eles resolvem, sem hesitar, os problemas de outras pessoas em várias missões que aparecem pela frente e como o trabalho em grupo é favorecido e necessário para vencer.
E se essa vontade de ajudar os outros e melhorar o mundo virtual fosse transferida para a realidade? Esse é o questionamento de Jane, que desenvolveu em 2010 o jogo Evoke, no qual os jogadores adquiriam missões on-line para resolver problemas em sua comunidade, levando em conta aspectos como inovação, sustentabilidade e empreendedorismo. O elemento da gamificação aparece aqui quando os jogadores ganham pontos obtidos a partir de evidências das ações postadas pelos competidores na página do jogo. (Com Raphael Pires)
Para ela, o RPG é um exercício de imaginação e de incentivo à criatividade. O jogo exercita a mente de forma lúdica, sem ser maçante. O aprendizado ganha um status diferente, o de gamificado. “Ganhar pontos lendo motiva mais a leitura”, afirma Sônia.
Gamificação é o conceito utilizado quando os games aparecem em áreas que não estão diretamente ligadas a eles. Como no caso do Almanaque da rede, é usar características inerentes aos jogos – pontuação, passar de níveis, recompensas etc – no aprendizado tradicional. Outra forma é distribuir emblemas e insígnias para cada boa ação dentro de uma empresa, como ajudar o colega, apagar as luzes ao sair e deixar o ambiente limpo.
Mas não para por aí. A designer de games canadense Jane McGonigal quer usar a gamificação para resolver os maiores problemas sociais no mundo. A princípio, a ideia parece maluca, mas ela já lançou um livro com várias explicações. No Reality is broken: why games make us better and how they can change the world (Por que jogos nos fazem melhor e como eles podem mudar o mundo) a pesquisadora analisa o comportamento de jogadores no multi-massive on-line role-playing game World of warcraft e como eles resolvem, sem hesitar, os problemas de outras pessoas em várias missões que aparecem pela frente e como o trabalho em grupo é favorecido e necessário para vencer.
E se essa vontade de ajudar os outros e melhorar o mundo virtual fosse transferida para a realidade? Esse é o questionamento de Jane, que desenvolveu em 2010 o jogo Evoke, no qual os jogadores adquiriam missões on-line para resolver problemas em sua comunidade, levando em conta aspectos como inovação, sustentabilidade e empreendedorismo. O elemento da gamificação aparece aqui quando os jogadores ganham pontos obtidos a partir de evidências das ações postadas pelos competidores na página do jogo. (Com Raphael Pires)
Somos uma rede social de aprendizagem destinada a desenvolver em seus
participantes atitudes de estudo e de colaboração essenciais para o
sucesso profissional e pessoal. O Almanaque da Rede existe desde 2009 e
até hoje, 13.200 alunos já participaram do projeto.
A partir de dezembro de 2011, alunos da rede pública do Rio de Janeiro, interessados em fazer a licenciatura em Física, podem assinar o Almanaque da Rede rodando com desafios, mais de 200 vídeo aulas sobre Física, Matemática e Redação e um sistema de pontuação meritocrático.
Os desafios dessas disciplinas são renovados semanalmente e os participantes ganham pontos a cada vez em que respondem aos desafios, assistem vídeos, lêem comentários dos tutores, comentam desafios de outros participantes. Os pontos são trocados por prêmios, como pen drives com as vídeo aulas, livros e netbooks.
O Almanaque da Rede é uma rede social de aprendizagem através da escrita criativa. Aqui estudantes escrevem e a equipe ADR, sob a coordenação da escritora Sonia Rodrigues, acompanha a produção textual, faz a mediação e avalia os textos dos usuários. A prática da escrita criativa através de jogos ajuda a organizar o pensamento e ensina a praticar a avaliação e a auto-avaliação. Os jogos formulam perguntas e propõem desafios, as respostas tornam- se textos corridos ou quadrinhos. Todas as atividades dentro do Almanaque da Rede são pontuadas e os usuários ganham troféus digitais que podem ser trocados por prêmios físicos.
O Sei Mais Física é um projeto do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense (IF/UFF), em parceria com a FAPERJ e a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é aumentar o interesse pelo Curso de Licenciatura em Física da UFF entre os alunos da rede públicao. Para isso, estão disponíveis aulas de Física básica, arquivos em áudio que podem ser baixados, relatos de experiências no ensino médio e comentários de professores do Instituto de Física da UFF.
A partir de dezembro de 2011, alunos da rede pública do Rio de Janeiro, interessados em fazer a licenciatura em Física, podem assinar o Almanaque da Rede rodando com desafios, mais de 200 vídeo aulas sobre Física, Matemática e Redação e um sistema de pontuação meritocrático.
Os desafios dessas disciplinas são renovados semanalmente e os participantes ganham pontos a cada vez em que respondem aos desafios, assistem vídeos, lêem comentários dos tutores, comentam desafios de outros participantes. Os pontos são trocados por prêmios, como pen drives com as vídeo aulas, livros e netbooks.
O Almanaque da Rede é uma rede social de aprendizagem através da escrita criativa. Aqui estudantes escrevem e a equipe ADR, sob a coordenação da escritora Sonia Rodrigues, acompanha a produção textual, faz a mediação e avalia os textos dos usuários. A prática da escrita criativa através de jogos ajuda a organizar o pensamento e ensina a praticar a avaliação e a auto-avaliação. Os jogos formulam perguntas e propõem desafios, as respostas tornam- se textos corridos ou quadrinhos. Todas as atividades dentro do Almanaque da Rede são pontuadas e os usuários ganham troféus digitais que podem ser trocados por prêmios físicos.
O Sei Mais Física é um projeto do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense (IF/UFF), em parceria com a FAPERJ e a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é aumentar o interesse pelo Curso de Licenciatura em Física da UFF entre os alunos da rede públicao. Para isso, estão disponíveis aulas de Física básica, arquivos em áudio que podem ser baixados, relatos de experiências no ensino médio e comentários de professores do Instituto de Física da UFF.
ENTREVISTA: Sonia Rodrigues e o projeto Almanaque da Rede
Publicação: site http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/
Sonia Rodrigues
Criado com base na metodologia Autoria, desenvolvida pela escritora, jornalista e roteirista Sonia Rodrigues a partir de sua tese de doutorado, o projeto Almanaque da Rede pode ser definido como um jogo-laboratório de escrita criativa e cultura digital, que tem por objetivo estimular o desenvolvimento da leitura e ensinar técnicas de escrita a todos os alunos da Rede Pública Estadual de Ensino.
Há 12 anos na criação de games educativos virtuais, a Doutora em Literatura pela PUC-Rio especializou-se em dissecar a construção narrativa, o jogo que se estabelece entre autor, texto e leitor, debruçando-se ainda sobre a memória e a imaginação como possibilidades de cantar alegrias, suavizar dores e administrar loucuras.
Para conhecer mais sobre a grande iniciativa que vem reinventando a história da educação nacional, o portal Conexão Professor conversou com a sua idealizadora, que já possui 23 livros publicados, dentre eles o consagrado “O amor em segredo” e a Coleção Reconstruir, que consta dos títulos “A ilha dos amores/Eros e Psiquê”, “Eu sou Maria/Os doze trabalhos de Hércules”, “O prêmio/A Ilíada”, “A garota dos seus sonhos e o cara quase perfeito/A Caixa de Pandora”. Confira a íntegra da entrevista.
Conexão Professor (CP) – Gostaríamos de conhecer mais sobre o projeto. Em que consiste o Almanaque da Rede?
Sonia Rodrigues - O Almanaque da Rede é uma ferramenta de apoio aos professores e de produção textual de escrita criativa para os alunos. O projeto foi idealizado para existir em papel e também em formato online, visando à prática de uma escrita colaborativa. Então, os alunos escrevem, as pessoas - tanto outros estudantes, como também a equipe do Almanaque - comentam, os jovens fazem uso de jogos narrativos e de resolução de problemas. A ferramenta é, portanto, uma plataforma online de escrita criativa e uma rede social de aprendizagem, além de um suporte em papel para a produção textual em sala de aula.
CP – E qual é, de fato, a sua proposta? O que motivou a criação do Almanaque?
Sonia Rodrigues – Transformei minha tese de doutorado sobre RPG (Role-playing game) no jogo “Autoria”, presencial de criação de histórias. Na realidade, há 12 anos desenvolvo jogos em papel e digitais, na linha da resolução de problemas e da escrita criativa. O Almanaque é uma síntese de todos os jogos que eu criei até agora e atua sobre as dificuldades principais da expressão escrita. Vale destacarmos o jogo da escrita criativa, que contém os jogos da dissertação, da mensagem, da descrição e da narrativa.
CP – Quais os principais obstáculos enfrentados pelos estudantes na prática da escrita?
Sonia Rodrigues – A principal dificuldade é que os alunos não conhecem a importância de organizar o pensamento antes de escrever. Organizando o pensamento também se aprende. O jornalista aprende que, quando vai entrevistar alguém, ele precisa saber “o quê”, “onde”, “quem”, “como”, “quando”, “por que”, “para que”, enfim, de forma a organizar um texto. E os alunos não aprendem a premissa básica da escrita. Muita gente pensa que escrever é uma questão de imaginação e criatividade. E não é. Imaginação e criatividade são alguns dos fatores, mas não o principal. A pessoa pode escrever e se comunicar corretamente, conseguir um emprego, passar num vestibular sem usar tais recursos. Se você tiver apenas imaginação e criatividade, você não alcança qualquer conquista. Agora, se você tiver o pensamento organizado e for competente na expressão escrita, e tiver imaginação e criatividade, aí o céu é o limite.
CP – Fale um pouco sobre a metodologia “Autoria”?
Sonia Rodrigues – A metodologia “Autoria” consiste em facilitar, em desvendar, em revelar para as pessoas os caminhos para se tornarem autoras, sujeitos do próprio pensamento. Com o domínio desta ferramenta, é possível organizar o pensamento de uma forma lúdica, de uma forma divertida, de uma forma amigável. Trata-se daquilo que toda criança deveria aprender a partir dos quatro anos de idade e não aprende... A metodologia “Autoria” é uma plataforma que, em papel ou online, organiza isso. Oferece caminhos para as pessoas exercerem a sua imaginação e criatividade. Online o efeito é instantâneo.
CP – E como funciona na prática?
Sonia Rodrigues – Na prática funciona assim: nós temos online, no Almanaque da Rede, jogos. E esses jogos formulam perguntas aos usuários que, por conseguinte, vão respondendo e produzindo um texto corrido. São jogos de resolução de problemas que sugerem uma situação e também disponibilizam uma biblioteca de personagens para as pessoas escolherem. Então, a gente usa o suporte tecnológico para oferecer aos estudantes caminhos para que eles entendam como se preenche essas lacunas, como o nosso pensamento se encaminha naturalmente para isso.
CP – A proposta de inclusão digital gera alguma resistência por parte de alunos e professores?
Sonia Rodrigues – De forma alguma. Os alunos não apresentam a menor resistência. Os jovens que começam a fazer aprendem e adoram. Funciona mesmo como uma rede social de aprendizagem muito interessante. O Almanaque da Rede online restringe-se aos alunos. Professores podem conhecer, mas não participar. Em sala de aula existe o Almanaque de Papel. São 210 mil alunos da rede que possuem um exemplar neste formato. Então, o professor sugere temas e o aluno escreve no Almanaque. Muitos professores corrigem durante a aula e a ferramenta pode, inclusive, fazer parte da avaliação. Existem casos maravilhosos de uso do Almanaque em sala de aula.
CP – Daqui para frente, o que você imagina para o projeto?
Sonia Rodrigues – Existe uma ideia, que é para o ano que vem, de se inscreverem no Conexão Professor os professores interessados em trabalhar o Almanaque em sala de aula, informando quantos alunos possuem e a série em que lecionam. Este ano o projeto contemplou apenas a 1ª série do Ensino Médio. A gente pretende realizar uma pesquisa para detectar quantos professores possuem interesse e não só de Português, mas de qualquer disciplina. E estamos oferecendo também um concurso muito atraente que é para o Almanaque de Papel. O professor que enviar mais cópias de redações de seus alunos vai ganhar uma viagem para Porto Seguro na Bahia, em dezembro, com direito a acompanhante. Acredito que a premiação em si é fundamental, pois valoriza aqueles que estão de fato usando o Almanaque, que estão estimulando a criatividade dos alunos. E os 12 estudantes da Rede Estadual de Ensino premiados com as melhores redações ganharão acesso a um curso de Inglês durante todo o ano que vem. O resultado, sem dúvida, será muito positivo.
CP – A partir do Prêmio Almanaque da Rede, com a primeira edição realizada em junho e a segunda em agosto, há uma valorização não só do desempenho do aluno, mas de sua participação. Por quê?
Sonia Rodrigues – Na verdade, a gente valoriza essencialmente a participação. A nossa mediação em relação ao desempenho na escrita é muito amigável. A equipe do Almanaque comenta o texto dos alunos todos os dias, mas nunca tudo de uma só vez. Os alunos cometem muitos erros de ortografia, de concordância, e a gente hoje dá um toque, amanhã dá outro. O mérito principal é escrever. Porque se você escreve todos os dias, você aprende a escrever. Se você escreve todos os dias e todo dia há alguém que lê o que você escreve, alguém que comenta o que você escreveu, você aprende a escrever. Então, os vencedores do Almanaque da Rede são alunos de 19 a 25 coordenadorias, sendo que tem 30 no estado. Ou seja, em todo o Estado do Rio de Janeiro existem alunos que escreveram muito. Isso é o que a gente valoriza. E a gente possui vídeos com entrevistas de alunos no YouTube, em breve o Almanaque estará no Conexão, temos tutoriais, ensinamos a trabalhar a ferramenta em sala de aula... O Almanaque, definitivamente, usa muito as novas mídias para a inclusão digital.
Sonia Rodrigues
Criado com base na metodologia Autoria, desenvolvida pela escritora, jornalista e roteirista Sonia Rodrigues a partir de sua tese de doutorado, o projeto Almanaque da Rede pode ser definido como um jogo-laboratório de escrita criativa e cultura digital, que tem por objetivo estimular o desenvolvimento da leitura e ensinar técnicas de escrita a todos os alunos da Rede Pública Estadual de Ensino.
Há 12 anos na criação de games educativos virtuais, a Doutora em Literatura pela PUC-Rio especializou-se em dissecar a construção narrativa, o jogo que se estabelece entre autor, texto e leitor, debruçando-se ainda sobre a memória e a imaginação como possibilidades de cantar alegrias, suavizar dores e administrar loucuras.
Para conhecer mais sobre a grande iniciativa que vem reinventando a história da educação nacional, o portal Conexão Professor conversou com a sua idealizadora, que já possui 23 livros publicados, dentre eles o consagrado “O amor em segredo” e a Coleção Reconstruir, que consta dos títulos “A ilha dos amores/Eros e Psiquê”, “Eu sou Maria/Os doze trabalhos de Hércules”, “O prêmio/A Ilíada”, “A garota dos seus sonhos e o cara quase perfeito/A Caixa de Pandora”. Confira a íntegra da entrevista.
Conexão Professor (CP) – Gostaríamos de conhecer mais sobre o projeto. Em que consiste o Almanaque da Rede?
Sonia Rodrigues - O Almanaque da Rede é uma ferramenta de apoio aos professores e de produção textual de escrita criativa para os alunos. O projeto foi idealizado para existir em papel e também em formato online, visando à prática de uma escrita colaborativa. Então, os alunos escrevem, as pessoas - tanto outros estudantes, como também a equipe do Almanaque - comentam, os jovens fazem uso de jogos narrativos e de resolução de problemas. A ferramenta é, portanto, uma plataforma online de escrita criativa e uma rede social de aprendizagem, além de um suporte em papel para a produção textual em sala de aula.
CP – E qual é, de fato, a sua proposta? O que motivou a criação do Almanaque?
Sonia Rodrigues – Transformei minha tese de doutorado sobre RPG (Role-playing game) no jogo “Autoria”, presencial de criação de histórias. Na realidade, há 12 anos desenvolvo jogos em papel e digitais, na linha da resolução de problemas e da escrita criativa. O Almanaque é uma síntese de todos os jogos que eu criei até agora e atua sobre as dificuldades principais da expressão escrita. Vale destacarmos o jogo da escrita criativa, que contém os jogos da dissertação, da mensagem, da descrição e da narrativa.
CP – Quais os principais obstáculos enfrentados pelos estudantes na prática da escrita?
Sonia Rodrigues – A principal dificuldade é que os alunos não conhecem a importância de organizar o pensamento antes de escrever. Organizando o pensamento também se aprende. O jornalista aprende que, quando vai entrevistar alguém, ele precisa saber “o quê”, “onde”, “quem”, “como”, “quando”, “por que”, “para que”, enfim, de forma a organizar um texto. E os alunos não aprendem a premissa básica da escrita. Muita gente pensa que escrever é uma questão de imaginação e criatividade. E não é. Imaginação e criatividade são alguns dos fatores, mas não o principal. A pessoa pode escrever e se comunicar corretamente, conseguir um emprego, passar num vestibular sem usar tais recursos. Se você tiver apenas imaginação e criatividade, você não alcança qualquer conquista. Agora, se você tiver o pensamento organizado e for competente na expressão escrita, e tiver imaginação e criatividade, aí o céu é o limite.
CP – Fale um pouco sobre a metodologia “Autoria”?
Sonia Rodrigues – A metodologia “Autoria” consiste em facilitar, em desvendar, em revelar para as pessoas os caminhos para se tornarem autoras, sujeitos do próprio pensamento. Com o domínio desta ferramenta, é possível organizar o pensamento de uma forma lúdica, de uma forma divertida, de uma forma amigável. Trata-se daquilo que toda criança deveria aprender a partir dos quatro anos de idade e não aprende... A metodologia “Autoria” é uma plataforma que, em papel ou online, organiza isso. Oferece caminhos para as pessoas exercerem a sua imaginação e criatividade. Online o efeito é instantâneo.
CP – E como funciona na prática?
Sonia Rodrigues – Na prática funciona assim: nós temos online, no Almanaque da Rede, jogos. E esses jogos formulam perguntas aos usuários que, por conseguinte, vão respondendo e produzindo um texto corrido. São jogos de resolução de problemas que sugerem uma situação e também disponibilizam uma biblioteca de personagens para as pessoas escolherem. Então, a gente usa o suporte tecnológico para oferecer aos estudantes caminhos para que eles entendam como se preenche essas lacunas, como o nosso pensamento se encaminha naturalmente para isso.
CP – A proposta de inclusão digital gera alguma resistência por parte de alunos e professores?
Sonia Rodrigues – De forma alguma. Os alunos não apresentam a menor resistência. Os jovens que começam a fazer aprendem e adoram. Funciona mesmo como uma rede social de aprendizagem muito interessante. O Almanaque da Rede online restringe-se aos alunos. Professores podem conhecer, mas não participar. Em sala de aula existe o Almanaque de Papel. São 210 mil alunos da rede que possuem um exemplar neste formato. Então, o professor sugere temas e o aluno escreve no Almanaque. Muitos professores corrigem durante a aula e a ferramenta pode, inclusive, fazer parte da avaliação. Existem casos maravilhosos de uso do Almanaque em sala de aula.
CP – Daqui para frente, o que você imagina para o projeto?
Sonia Rodrigues – Existe uma ideia, que é para o ano que vem, de se inscreverem no Conexão Professor os professores interessados em trabalhar o Almanaque em sala de aula, informando quantos alunos possuem e a série em que lecionam. Este ano o projeto contemplou apenas a 1ª série do Ensino Médio. A gente pretende realizar uma pesquisa para detectar quantos professores possuem interesse e não só de Português, mas de qualquer disciplina. E estamos oferecendo também um concurso muito atraente que é para o Almanaque de Papel. O professor que enviar mais cópias de redações de seus alunos vai ganhar uma viagem para Porto Seguro na Bahia, em dezembro, com direito a acompanhante. Acredito que a premiação em si é fundamental, pois valoriza aqueles que estão de fato usando o Almanaque, que estão estimulando a criatividade dos alunos. E os 12 estudantes da Rede Estadual de Ensino premiados com as melhores redações ganharão acesso a um curso de Inglês durante todo o ano que vem. O resultado, sem dúvida, será muito positivo.
CP – A partir do Prêmio Almanaque da Rede, com a primeira edição realizada em junho e a segunda em agosto, há uma valorização não só do desempenho do aluno, mas de sua participação. Por quê?
Sonia Rodrigues – Na verdade, a gente valoriza essencialmente a participação. A nossa mediação em relação ao desempenho na escrita é muito amigável. A equipe do Almanaque comenta o texto dos alunos todos os dias, mas nunca tudo de uma só vez. Os alunos cometem muitos erros de ortografia, de concordância, e a gente hoje dá um toque, amanhã dá outro. O mérito principal é escrever. Porque se você escreve todos os dias, você aprende a escrever. Se você escreve todos os dias e todo dia há alguém que lê o que você escreve, alguém que comenta o que você escreveu, você aprende a escrever. Então, os vencedores do Almanaque da Rede são alunos de 19 a 25 coordenadorias, sendo que tem 30 no estado. Ou seja, em todo o Estado do Rio de Janeiro existem alunos que escreveram muito. Isso é o que a gente valoriza. E a gente possui vídeos com entrevistas de alunos no YouTube, em breve o Almanaque estará no Conexão, temos tutoriais, ensinamos a trabalhar a ferramenta em sala de aula... O Almanaque, definitivamente, usa muito as novas mídias para a inclusão digital.
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