Vou falar de novo sobre futebol, tem gente que não gosta... Vou falar de novo sobre política, tem gente que não gosta... Então estou avisando, se você não gosta de um ou de outro pode passar para outro Post.
Hoje, ao entrar no site oficial da CBF damos de cara com um cartaz preto, com os dizeres: "Desmascarando uma falsidfade" em letras garrafais
Desmascarando uma falsidade
Assessoria CBF
Tomando como pretexto o aparte dado pelo então Deputado
José Maria Marin, a discurso proferido pelo à época deputado Wadih Helu,
na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 9 de outubro de 1975,
ou seja, 38 anos atrás, desenvolve-se pela imprensa torpe campanha,
visando a tentar desestabilizar a atuação do Sr. José Maria Marin à
frente da Presidência da CBF.
A falsidade do alegado pretexto fica patente quando se sabe que o Sr. José Maria Marin, depois de abril de 1975, dedicou-se a atividades de relevo, tais como o exercício dos cargos de Vice-Governador e Governador do Estado de São Paulo, Presidente da Federação Paulista de Futebol, e por muitos anos, o de Vice-Presidente da CBF, sem incomodar os setores da imprensa que, numa ação visivelmente orquestrada, agora se dispõem a alvejá-lo, a serviço de interesses inconfessáveis, mas bem conhecidos.
Parece óbvio o intuito de constranger o Sr. José Maria Marin, conturbando as atividades do futebol brasileiro num momento de notória importância e delicadeza, quando se avizinha a realização, no Brasil, da Copa Mundial de 2014.
Ao encarar-se uma campanha de difamação, baseada em mentiras e deturpação de fatos do passado, como essa que visa a atingir o Sr. José Maria Marin, não se pode deixar de recordar outra campanha, paradigmática, que levou à ruina a Escola Base de São Paulo e seus diretores, também fruto da má-fé e irresponsabilidade de pseudos-jornalistas que lá, tal como agora, com característico ânimo criminoso, empenharam-se na desmoralização de pessoas de bem, para satisfazer maus instintos, entretendo-se em atirar, em quem os mira de cima, a lama em que chafurdam esses delinquentes.
Parece difícil crer que, na fase atual de maturidade dos meios públicos de comunicação no país, ainda possam neles encontrar guarida esses elementos de baixo nível ético e moral, dispostos a malbaratar a liberdade de imprensa, valor essencial à democracia, dela fazendo uso para agredir a honra alheia, num assomo de inveja ferida.
Qualquer pessoa, com mínimo de boa-fé, que se dispuser a ler a manifestação do Sr. José Maria Marin, na Assembleia Legislativa de São Paulo, facilmente concluirá que as acusações que ora lhe fazem esses pseudos-jornalistas são absolutamente falsas, não encontram suporte no fato ocorrido, que é imprestável para alimentar essa mesquinha e implacável perseguição.
Trata-se, evidentemente, de campanha articulada e baseada em mentiras, forjadas de maneira inescrupulosa, de sabor fascistoide, a lembrar as táticas goebelianas. Repita-se a mentira quantas vezes possível e ela se transformará em verdade nas mentes desavisadas.
Em poucas palavras, veja-se que o Deputado Helu foi à tribuna para relatar o teor de denúncia a respeito da TV Cultura, formulada por certo jornalista.
O Sr. José Maria Marin, iniciando seu aparte com a categórica afirmativa de que não estaria abordando o mérito da denúncia (suas primeiras palavras), declarou que ela merecia apuração, concitando as autoridades a esclarecer o que de fato ocorria na referida emissora. Nada mais.
Só mentes doentias e perversas ou toldadas pela paixão podem ver nessa simples recomendação, qualquer acusação neste ou naquele sentido. Ou, pior, sustentar que dessa manifestação parlamentar possa ter nascido qualquer outra consequência, a não ser a apuração do mérito da denúncia, conforme sugerido.
Com a tranquilidade de quem tem a consciência limpa, o Presidente José Maria Marin não se deixará intimidar por campanhas assim espúrias, fadadas a ter o destino das coisas inúteis e podres, e não se desviará do caminho reto que tem norteado sua vida.
Segue-se o inteiro teor dos referidos discursos, transcrevendo-se primeiro o proferido pelo Deputado Wadih Helu, ao qual se segue o aparte do Presidente MARIN:
O SR. WADIH HELU – Sr. Presidente
e nobres Srs. Deputados, sábado último tivemos a satisfação de,
juntamente com deputados estaduais, federais, secretários de Estado,
participamos das festividades de Capão Bonito, onde, com a presença do
Sr. Governador do Estado, Dr. Paulo Egydio Martins, a SABESP inaugurou o
serviço de águas e esgotos naquela progressiva cidade do sul paulista.
Foi realmente uma festa, que contou com a presença de mais de 40 prefeitos das cidades adjacentes, demonstrando, acima de tudo, trabalho profícuo do governo da ARENA, que vai ao encontro das necessidades dos municípios parcos de recursos, proporcionando-lhes condições para a instalação do serviço de águas e esgotos, no atendimento dos serviços de infra-estrutura. Tudo foi festa. Entretanto, notamos a ausência do órgão de divulgação do Estado, da TV Cultura – Canal 2.
Essa ausência não nos surpreendeu porque temos lido semestralmente na “Coluna Um”, de Cláudio Marques, denúncias de infiltração de elementos de esquerda no Canal 2, com a complacência do Secretário de Cultura, Dr. José Mindlin, e do próprio Governo.
Desta tribuna queremos externar o nosso protesto, pois nos falta condições de lutar por um país democrata, por um regime de democracia, quando a própria instituição governamental fica solapando essa democracia, não só com a sua ausência deliberada, mas muito mais do que isso, com a sua presença comunizante no vídeo, diariamente, com a sua presença comunizante no vídeo, diariamente, com sua presença que enaltece e procura dar provas de grandiosidade de líderes de esquerda de outros países, que vêm desgraçando outros povos, procurando inculcar no espírito do povo brasileiro que este País é só miséria, que este País é só pobreza, vez que na Televisão Cultura – Canal 2, só assistimos jornais mostrando a miséria, mostrando a pobreza, mostrando a desgraça. Num País como o nosso, que está em pleno desenvolvimento, num País como o nosso, que se constitui num verdadeiro oásis no mundo de hoje, são esses elementos pagos pelo governo, numa emissora de televisão do Governo de São Paulo, que pregam a desagregação de nosso povo, da nossa cidade, omitindo-se de comunicar ao povo paulista, as realizações do nosso governo, como aconteceu em Capão Bonito, como aconteceu há dez dias em São Paulo, com a inauguração do Metrô, obra do Governo da ARENA, através de cinco prefeitos, de cinco homens que responderam pelos destinos da nossa cidade. O Canal 2, a tudo omite, fazendo o proselitismo do comunismo, da subserviência, tornando-se como diz o colunista Cláudio Marques. A Televisão Vietnam Cultura de São Paulo, paga com o dinheiro do povo, desservindo nosso governo e a nossa Pátria”.
O Sr. José Maria Marin (Com assentimento do orador) – Nobre deputado Wadih Helu, realmente o assunto levantado por V.Exa. dessa tribuna, deve merecer uma atenção toda especial não só desta Casa, mas, principalmente, por parte do Sr. Secretário da Cultura do Estado e por parte do Sr. Governador do Estado. Sem adentrar no mérito da questão, causa-me estranheza quando os órgãos de imprensa do nosso Estado, de há muito tempo vêm levantando esse problema, pedindo providências aos órgãos competentes, com o que está acontecendo com o Canal 2, e não verificamos pelo menos, nenhuma palavra de esclarecimento. Já não se trata de divulgar o que é bom e deixar de divulgar aquilo que é mal, mas, trata-se da intranquilidade que já toma conta de São Paulo, um assunto que não é comentado apenas desta tribuna, que não é comentado apenas nos meios políticos, mas é assunto comentado em quase todos os lares de São Paulo. Neste aparte, nobre deputado Wadih Helu, quero chamar a atenção do Sr. Secretário da Cultura do Estado de São Paulo e do Sr. Governador do Estado, que venham a público esclarecer definitivamente essas denúncias que estão sendo levantadas pela Imprensa de São Paulo e, de forma particular e corajosa, pelo jornalista Cláudio Marques. Se a maioria dessas denúncias está sendo levantada pelos vários jornais de São Paulo, basta um simples exame desse problema para verificar que não só o jornalista citado dessa tribuna vem verificando os fatos negativos, pois não se vê nada de positivo, apresenta apenas misérias, apresenta problemas, mas não apresenta soluções. Nessas condições, congratulamo-nos com V.Exa. pela oportunidade em levantar este problema e quero daqui neste ligeiro aparte, fazer um apelo ao Sr. Governador do Estado: ou o jornalista está errado ou então o jornalista está certo. O que não pode continuar é essa omissão, tanto por parte do Sr. Secretário da Cultura, como do Sr. Governador. É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos”.
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Sobre o que é essa fome dedesmascarar a falsidade por parte da CBF??? Tem haver com outra fome de verdade que já passa de 38 anos. Um dos maiores mistérios e/ou mentira da história do Brasil.O Caso Vladimir Herzog. Uma mentira que foi sustentada por mais de 37 anos por documentos oficiais apesar de muitos próximos ao caso saberem que era uma mentira descarada.O presidente da CBF tem alguma coisa com esse caso? É o que o Romário, grande craque do futebol brasileiro, ex-Flamengo, Vasco, Fluminense, Barcelona e seleção brasileira. Fez grande dupla com o Bebeto na copa do mundo de 1994. Hoje ele é Deputado federal e fez o seguinte discurso na Camara de deputados em Brasília:
O deputado federal Romário (PSB-RJ), presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, fez nesta quinta-feira 14 um discurso no plenário da Casa no qual pediu investigações parlamentares a respeito do papel do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, na ditadura (1964-1985). Romário quer que a Comissão da Verdade, responsável por apurar abusos ocorridos durante o regime, passe a investigar também os efeitos da ditadura sobre o esporte.
Discurso de Romário feito agora, na Câmara dos Deputados:
“Eu faço parte de um partido de muitas lutas, muitas batalhas.
Batalhas que nem sempre foram vencidas, mas que sempre valeram a pena, porque expressam nosso anseio por justiça e liberdade.
Refundado, em 1985, por homens e mulheres que resistiram à ditadura militar, sofrendo perseguições e mandatos cassados, o PSB denunciou a tortura num dos seus primeiros programas de televisão, e defendeu a punição rigorosa para esse tipo de crime.
Entre meus colegas de bancada está uma mulher de luta, a deputada Luiza Erundina, defensora histórica dos direitos humanos.
Ela coordena, hoje, nesta Casa, a Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, que tem o objetivo de acompanhar e apoiar os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, na revelação de fatos, ainda obscuros, que ocorreram durante a ditadura civil-militar, no período de 1964 a 1985.
A criação da Comissão Nacional da Verdade é uma obrigação moral e política que decorre do reconhecimento, pelo Estado brasileiro, de que ele teve, sim, responsabilidade por crimes cometidos durante a última ditadura, e, por isso, deve esclarecimentos e reparação às famílias das vítimas – isto é, das pessoas que foram torturadas e assassinadas por agentes do Estado naquele período.
Esse reconhecimento aconteceu lá atrás, em 95, com a edição da Lei nº 9.140, no governo FHC.
Minha amiga Erundina deu uma contribuição importante nessa busca da verdade, quando ocupou a Prefeitura de São Paulo e determinou a abertura de uma vala clandestina localizada em um cemitério municipal, que levou à descoberta, entre as 1.049 ossadas, de corpos de OITO desaparecidos políticos. Este episódio resultou, também, na criação de uma CPI na Câmara de Vereadores da capital.
Este foi o início da abertura dos arquivos sobre aquele período.
Esta Casa, que teve suas portas fechadas durante o regime de exceção, cumpriu parte do seu dever ao atender o pleito da Deputada Erundina, e restituir simbolicamente os mandatos dos 173 deputados federais cassados pela ditadura.
Muita gente não sabe, mas o Sr. Marín, antes de entrar para o milionário negócio do futebol, chegou a ter algum destaque como político.
Ele presidiu a Câmara de Vereadores de São Paulo e, antes de se tornar governador do Estado, foi deputado estadual pela ARENA, o partido da ditadura.
Foi nessa ocasião, em 9 de outubro de 1975, que ele fez um duro pronunciamento, contra a TV Cultura, ao apartear no plenário o deputado Wadih Helu.
No seu aparte, o Deputado Marín exigia que fossem tomadas providências, segundo ele, em nome da “tranquilidade dos lares paulistanos”, como está registrado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, do dia 09 de outubro de 1975, página 62, que solicito conste nos anais desta Casa.
Não sei que providências ele tinha em mente.
O que sei, e que todos nós sabemos, é que no dia 24 de outubro daquele mês, o Diretor de Jornalismo da TV Cultura, Vladimir HERZOG, foi convocado para depor no DOI-CODI, e apareceu morto em sua cela, no dia seguinte.
A farsa da simulação de suicídio e o culto ecumênico realizado na Catedral da Sé para protestar contra a tortura, após a divulgação da morte de Herzog, já fazem parte da nossa História.
Mesmo com medo da repressão, pois havia câmeras estrategicamente posicionadas nas saídas da igreja, filmando cada um dos participantes, 8 mil pessoas saíram às ruas e transformaram o culto ecumênico na maior manifestação do povo brasileiro contra a ditadura.
Com certeza, Senhor Presidente, muita coisa ainda falta ser esclarecida, e a sociedade brasileira tem o direito de conhecer toda a verdade.
Muitos de nós parlamentares, bem como a Presidente Dilma e o conjunto da sociedade brasileira, têm interesse em saber se o Sr. José Maria Marín, hoje presidente da Confederação Brasileira de Futebol, manteve, naquele período, alguma relação com os órgãos da repressão, como, por exemplo, o DOI-CODI.
E também se ele contribuiu com crimes de violação dos direitos humanos no país.
Perguntaram ao senhor Nilmário Miranda, Presidente da Comissão da Anistia, se a Comissão da Verdade vai revelar o que os atletas sofreram durante a ditadura. A resposta dele foi a seguinte: “o Estado tem obrigação de revelar a verdade, reparar moralmente e até financeiramente as vítimas da tirania. O país está descobrindo que o direito à verdade é um direito irrenunciável”.
Neste contexto, podemos citar craques e ídolos do nosso futebol, como Afonsinho, Nando, Reinaldo, Sócrates e Vladimir, que sofreram com a repressão.
Por isso, senhor Presidente, vou propor a realização de uma audiência pública conjunta entre a Comissão de Turismo e Desporto, que, hoje, presido, e a Comissão Memória, Verdade e Justiça, para debater o tema “o futebol e a ditadura”, e gostaria de contar com a participação da Comissão Nacional da Verdade para que compartilhe e traga tudo o que já tiver sido levantado sobre este assunto.
Quero também contar com a colaboração de todos que tenham informações sobre episódios da época, para nos ajudar a revelar a verdade que buscamos.
As suspeitas sobre o Presidente da CBF são graves e constrangedoras. Nós, atletas e ex-atletas, ficamos muito desconfortáveis com esse tipo de situação, principalmente num momento em que o Brasil se expõe ao mundo, ao se preparar para receber megaeventos esportivos.
Será que merecemos ter à frente do nosso esporte mais querido, mais popular, um esporte que orgulha o nosso povo, uma pessoa suspeita de envolvimento, ainda que indireto, com tortura, assassinato e a supressão da democracia?
Será que a CBF, que comanda um esporte intimamente vinculado à cultura nacional, pode ser dirigida por alguém que pedia a repressão a uma emissora estatal de televisão, a TV Cultura, à qual estava vinculado Vladimir Herzog?
Não podemos esquecer que a nossa seleção gera expressivos recursos financeiros à CBF, que explora nossos símbolos: o nome do país, o hino, a bandeira e suas cores. Eles geram dividendos que ultrapassam os 100 milhões por ano, só de patrocínio, sem que tenhamos a transparência devida sobre a destinação desse dinheiro.
Será que dentre 200 milhões de brasileiros, é justamente ele quem melhor preenche os requisitos?
Que imagem o Brasil passa para o mundo e para a história do futebol, tendo à frente da CBF e do COL um personagem com este perfil?
Tenho observado que a Presidente Dilma tem dificuldade de engolir o presidente da CBF. Assim como o ministro Aldo Rebelo também tem, principalmente agora, depois da divulgação da gravação em que Marín diz as bobagens que pensa sobre o Ministro de Esportes.
Quero dizer que discordo de tudo o que disse sobre o ministro, viu, senhor Marín?
Então, será que, como presidente do COL e da CBF, Marín terá tranquilidade para figurar ao lado da Presidente Dilma e do Ministro Aldo Rebelo na recepção às autoridades estrangeiras?
Acho que o Sr. Marín não tem o direito de chamar de “delinquentes”, como pode ser conferido no site da CBF, aqueles que simplesmente buscam a transparência e a verdade.
O que a sociedade brasileira reivindica é o acesso à informação, aos fatos, o que é um direito de todos, e que o Estado tem o dever de propiciar.
Os tempos de intimidação e silêncio, graças ao Papai do Céu e à sociedade brasileira, são página virada na nossa História.
E só por isso estamos aqui, podendo dizer o que pensamos.
Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.
Muito obrigado”.
E não deixe de assinar AQUI se você ainda não se juntou a 39 mil brasileiros que já assinaram.
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Dizem os repórteres políciais que uma mesma história tem 2 versões e uma verdade que fica entre as duas versões. O professor que me deu aula de filosofia no segundo grau me mostrou uma imagem muito legal sobre a verdade: O que é um elefante? Depende muito sobre qual ângulo que você encherga. Acho que o que ele queria passar é essa parábola:
Como é que vamos saber hoje a verdade dos fatos que ocorreram a 38 anos atrás? Ao consultar o wikipédia por exemplo lá está o nome do José Marin ligado a prisão do Vladimir Herzog como deputado na época.
Vlado Herzog (Osijek, Reino da Iugoslávia, 27 de junho de 1937 — São Paulo, 25 de outubro de 1975) foi um jornalista, professor e dramaturgo. Passou a assinar "Vladimir" por considerar seu nome muito exótico nos trópicos. Naturalizado brasileiro, Vladimir também tinha paixão pela fotografia, atividade que exercia por conta de seus projetos com o cinema.
O nome de Vladimir tornou-se central no movimento pela restauração da democracia no Brasil após 1964. Militante do Partido Comunista Brasileiro, foi torturado até a sua morte no DOI-CODI em São Paulo, após ter se dirigido pessoalmente ao órgão para um interrogatório sobre suas atividades "ilegais". Segundo o jornalista Sérgio Gomes, Vladimir Herzog é um "símbolo da luta pela democracia, pela liberdade, pela justiça."
Vladimir era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem teve dois filhos. Com a morte do marido, Clarice passou por maus momentos, com medo e opressão e teve que contar para os filhos pequenos o que havia ocorrido com o pai. Clarice, três anos depois (1978), conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte do esposo.Ainda sem se conformar, ela diz que "Vlado contribuiria muito mais para a sociedade se estivesse vivo".
Na década de 1970, assumiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, de São Paulo. Também foi professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP e, nessa época, também atuou como dramaturgo, envolvido com intelectuais do teatro. Em sua maturidade, Vladimir passou a atuar politicamente no movimento de resistência contra a ditadura militar brasileira de 1964 a1985, como também no Partido Comunista Brasileiro.
Em sentença histórica, responsabilizando a o governo federal pela morte, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes pediu a apuração da autoria e das condições da morte. Entretanto nada foi realizado. Em 24 de setembro de 2012, o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, dando o parecer de que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)", conforme havia sido solicitado pela Comissão Nacional da Verdade.
O então secretário de Segurança Estadual Erasmo Dias bloqueou a cidade inteira com barreiras policiais, impedindo o acesso à Catedral e o trânsito na cidade, mesmo assim as pessoas desceram de seus ônibus e automóveis e se dirigiram a pé até a catedral, no centro da cidade. A propria Praça da Sé, situada em frente a catedral, se encontrava totalmente tomada por policiais, seus cavalos e cachorros, que iam até praticamente a calçada da rua que separa as escadarias da Sé. Apesar da repressão a missa ocorreu silenciosamente até o seu final com cerca de oito mil pessoas em seu interior, e milhares na escadaria que gritando slogans pela volta da democracia. Ao final carros sem placa atiraram bombas de gás lacrimogênio contra os participantes que tentavam sair da Catedral em passeata. Dispersando o movimento (Celso Lungareti, "Vladimir Herzog é assassinado: o Brasil repudia o DOI-Codi".)
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Mas sabemos que a wikipédia aceita o que os editores mantem lá...
Para se aproximar da verdade podemos ler o que foi noticiado na época. Sabemos que quanto mais passa o tempo menos a verdade é vista com clareza. No livro "Dez reportagens que abalaram a ditadura"
http://downloadity.net/file/0Q77675 mostra uma das melhores reportagens sobre o caso da época.
Mas esse caso específico não podemos tanto confiar nas palavras do jornalistas da época, não porque eles não eram confiaveis, mas porque as informações que chegavam a eles não eram verdades. Por mais que se investigava sabemos que os militares eram bons em manter segredos.
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Entenda o caso Vladimir Herzog
O jornalista Vladimir Herzog de 38 anos, casado, pai de dois filhos e diretor de jornalismo da TV Cultura
de São Paulo, foi encontrado morto, supostamente enforcado, nas
dependências do 2ª Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. No
dia seguinte à morte, o comando do Departamento de Operações de
Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de
repressão do exército brasileiro, divulgou nota oficial informando que
Herzog havia cometido suicídio na cela em que estava preso.
A versão oficial da morte foi refutada pelos movimentos
sociais de resistência à ditadura militar. Uma semana após a morte do
jornalista, cerca de oito mil brasileiros participaram de uma missa
ecumênica organizada por D. Paulo Evaristo Arns, pelo reverendo James
Wright e pelo rabino Henri Sobel.
Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, o processo
movido pela família do jornalista revelou a verdade sobre a morte de
Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do
jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de
uma vítima do regime militar contra o Estado.
No dia 18 de outubro de 2004, o Correio Braziliense
divulgou duas fotos que seriam de Herzog em sua cela no DOI-CODI. As
imagens seriam inéditas e reforçariam a tese de que o jornalista havia
sido torturado antes de ser morto. Na única imagem conhecida até então,
Herzog aparecia enforcado.
Clarice Herzog, viúva do jornalista, teria confirmado ao Correio que as fotos seriam mesmo do marido.
O Exército brasileiros divulgou uma nota oficial se
posicionando sobre a divulgação das supostas fotos inéditas, que foi mal
vista e duramente criticada por movimentos sociais e entidades como a
Federação Nacional dos Jornais (Fenaj) e a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB). A nota dos militares é a seguinte:
"Á época, o Exército brasileiro, obedecendo ao clamor popular, integrou,
juntamente com as demais Forças Armadas, a Polícia Federal e as
polícias militares e civis estaduais, uma força de pacificação que
logrou retomar o Brasil à normalidade". Afirma, ainda, "que o movimento
de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a
construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou uma
retratação por parte do Exército e do Ministério da Defesa. Assim, no
dia 19 de outubro, após reunião entre Lula, o ministro José Viegas e
comando militar, general Francisco Roberto de Albuquerque, comandante do
Exército, afirmou que a forma como o assunto foi abordado pela sua
assessoria não foi "apropriada e condizente com o momento histórico". A
segunda nota oficial dos militares afirma que somente a ausência de
discussão interna sobre o assunto pode ter sido responsável pela
divulgação da primeira nota oficial. "O Exército também não quer ficar
reavivando traumas da sociedade brasileira", garantiu o comandante
Albuquerque.
Em entrevista à imprensa, no mesmo dia, o ministro da
Defesa classificou a primeira nota do Exército de "inaceitável", e disse
que a nova versão da nota oficial encerra o assunto sobre o assassinato
do jornalista Vladimir Herzog. "Assunto encerrado. Bem resolvido. A
nota esclarece definitivamente as coisas ao agravo do presidente da
República e do ministro da Defesa", disse.
No dia 21 de outubro, foi divulgado que as supostas fotos
inéditas de Herzog faziam parte do arquivo da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados e teriam sido divulgadas à imprensa em
1997. Na época, ninguém teria relacionado a foto do homem nu a Herzog.
No mesmo dia, o ministro da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, Nilmário Miranda, afirmou que a Direção da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), lhe comunicou "que as fotos
publicadas na imprensa durante esta semana não correspondem ao
jornalista Vladimir Herzog, morto pela repressão em outubro de 1975". As
imagens seriam produto de uma investigação ilegal conduzida em 1974
pelo antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e que, por este
motivo, o nome do homem fotografado não poderia ser divulgado.
No dia 22 de outubro, o perito Ricardo Molina, do
Instituto de Pesquisa do Som, Imagem e Texto, da Universidade de
Campinas, contrariou Miranda e a Abin sustentando no jornal O Estado de S.Paulo
que pelo menos duas das três fotos que estudou são de Vladimir Herzog.
Ao mesmo tempo, a viúva Clarice Herzog voltou a afirmar que ao menos uma
das fotos é realmente do marido.
Ainda no dia 22, a Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com o homem que seria o personagem das fotos divulgadas pelo Correio.
Seria o padre canadense Leopoldo d'Astous, pároco durante 31 anos na
Igreja de São José Operário, em Brasília, que foi investigado pelo
Serviço Nacional de Informações (SNI) de 1972 a 1974 por envolvimento
com grupos de esquerda. Ele teria sido fotografado em 1974, um ano antes
da morte de Herzog.
Após reunião com o ministro da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos (SEDH), Nilmário Miranda, no dia 28 de outubro, a viúva
de Herzog, Clarice, voltou atrás em suas afirmações e negou que as
fotografias divulgadas fossem de seu marido.
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Brasília, 11 de dezembro de 2012: O deputado Romário chega de mansinho na sala da Comissão. Uma centena de pares de olhos seguem o icônico Baixinho que se dirige primeiro à imprensa. “Andrew Jennings, meu amigo, como vai”, diz, enquanto aperta minha mão entre as suas.
Ele parece estar em grande forma, leve, relaxado, sorridente, e um brilho no olhar que promete: um dos maiores goleadores do mundo está prestes a marcar mais um tento. Sem fazer alarde, como sempre. Romario simplesmente marca: Gol!
“Melhor agora que encontrei você, companheiro”, respondo. Ele dá risada e vai embora, driblando as mesas para tomar assento na Comissão de Esporte e Turismo da Câmara, da qual faz parte.
Romario aguarda pacientemente por alguns minutos. Então, o presidente da mesa lhe passa a bola: é sua vez de falar. Ele não sorri agora.
“As pessoas me param na rua para dizer: ‘Traga o Teixeira de volta, o novo presidente da CBF é pior’”.
Pronto. Com apenas uma frase ele agarrou a bola e: gol!
Durante 23 anos Ricardo Teixeira desviou dinheiro da FIFA e da CBF. O peso da corrupção finalmente o forçou a renunciar nove meses atrás e os torcedores puderam recolher as faixas “Fora Teixeira” que estendiam nos estádios.
Como o cara que assumiu a CBF, o octogenário José Maria Marin, poderia ser pior que o antecessor? Certamente ele vai fundo saqueando o futebol brasileiro, mas Marin não tem como superar as décadas de roubo de Ricky Vigarista.
A resposta está fora do campo do futebol, em uma história sórdida que vem do tempo da ditadura militar. Por isso a indignação em São Paulo – onde manifestantes protestaram diante de sua casa- nas colunas dos jornais, no Congresso, onde foi acusado de ter “as mãos sujas de sangue”
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Brasília, 13 de dezembro de 1968: Quatro anos depois do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil veio uma lei – o famigerado AI-5 – que dava ao milico que estivesse na cadeira da presidência o poder de fazer o que lhe desse na telha. O Congresso estava amordaçado, os partidos políticos, banidos e os direitos humanos, extintos. A censura corria solta nos jornais, na música, no teatro, no cinema.
Sabendo-se ilegítimos e odiados pelo povo, os generais declararam a guerra suja contra os opositores. Torturava-se e matava-se na Operação Bandeirantes – a OBAN – executada por policiais civis e militares e secretamente financiada por empresários brasileiros e corporações americanas – que pagavam bônus para tirar os sindicalistas de suas fábricas.
Em 1970, entre os milhares de presos estava uma jovem estudante, Dilma Rousseff, que se juntara a um grupo clandestino de guerrilha urbana. Ela descreveu, em uma entrevista de 2011, as pancadas que recebia nua e amarrada, entremeadas por choque elétricos nos pontos mais sensíveis do corpo, que chegaram a provocar hemorragia uterina.
São Paulo, 15 de março de 1971: Enquanto os torturadores da OBAN davam choques em Dilma, José Maria Marin – que muito depois se tornaria o chefão do futebol – assumia o mandato de deputado estadual. Se quisesse, Marin teria ouvido os gritos dela. Ele tinha conhecimento da tortura mas isso não o incomodava. Os militares não faziam segredo da sua brutalidade; eles precisavam de uma população acuada, intimidada para se impor.
O senhor Marin aderira à ARENA, o partido criado para os políticos da ditadura. Ele gostava dos militares porque eles o deixavam pertinho do caixa-forte; e os militares o apreciavam porque era a caixinha de música deles. Bastava apertar o botão, e lá ia Marin discursar na Assembléia, denunciando os comunistas ou qualquer um que a OBAN quisesse, dando o pretexto para prender e torturar.
De vez em quando Marin se encontrava com Sérgio Fleury nos bastidores políticos ou nos restaurantes da moda em São Paulo. Fleury era um sádico de primeira, um artista da tortura. O Príncipe da Dor supervisionava inquéritos e operava uma rede de cativeiros privados – em casas, chácaras – onde clandestinamente os presos políticos eram torturados dias a fio. Muitos morreram – ou simplesmente desapareceram.
Seus gângsters em trajes civis invadiam qualquer casa a qualquer hora e quando queriam se divertir, espancavam o suspeito. As crianças assistiam, aterrorizadas. Os revólveres disparavam. Marin tinha Fleury em alta conta.
São Paulo, janeiro de 2013: “Depois que a ditadura se instalou, ser jornalista se tornou uma ocupação prejudicial à saúde. Eu tinha saído do país seis meses antes e estava em Londres, trabalhando para o serviço brasileiro da BBC”, lembra o jornalista Nemércio Nogueira.
“Eu e um colega fizemos um lobby para que a BBC oferecesse um emprego ao amigo e jornalista Vladimir Herzog. Em 1965 eles contrataram o Vlado, que veio com a mulher, Clarice; eles tiveram os dois filhos em Londres, Ivo e André”.
Depois de três anos na BBC, em agosto de 1975, ele voltou com a família para o Brasil, e foi nomeado editor-chefe da TV Cultura, uma emissora do governo do Estado. Agora ele estava na esfera de influência do deputado José Maria Marin, porta-voz de Fleury e dos generais.
A ditadura começava a rachar. A luta armada tinha sido sufocada, os guerrilheiros eliminados. Alguns generais pregavam um retorno gradual e cauteloso à democracia. Mas os linha-dura não queriam ouvir falar nisso; para continuar nos negócios precisavam da “ameaça vermelha”. Os soldados da tortura concordavam do fundo do coração.
Eles conseguiram ajuda externa. Os serviços de segurança da Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai lançaram a Operação Condor, sincronizada através de uma base da CIA no Panamá, prendendo e assassinando lideranças de esquerda e opositores da ditadura em toda a América Latina.
Vlado era mais do que um respeitado ex-repórter e produtor da BBC. Graduado em Filosofia, era um documentarista bem sucedido e professor de jornalismo na Universidade de São Paulo.
Outros colegas jornalistas recordam: “Vlado tinha um estilo direto e despojado de falar e escrever, e não era dado à retórica. Uma frase que usava com frequência, que resume o pensamento dele – e está gravada em sua lápide – era: “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”.
Sua família conhecia o medo, o medo das atrocidades. Judeus, eles fugiram da Croácia quando ele era menino por causa dos nazistas.
Ivo Herzog me disse: “Sim, meu pai era membro do Partido Comunista Brasileiro. Mas não era um grupo armado. Era mais como um grupo de debates.”
As denúncias serviam ao que Fleury e seus sádicos queriam. Eles começaram a prender os suspeitos de serem comunistas e torturá-los para obter mais nomes.
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São Paulo, Setembro de 1975: Claudio Marques era um provocador barato, um porta-voz dos torturadores que entrava nos lares da cidade pela TV.
“Conheci o Claudio pessoalmente, como jornalista, e ele me parecia um canalha. Acho que ele não era mais do que um oportunista que viu na ditadura uma forma de obter favores, patrocínio para sua coluna, seu programa de TV, um emprego, qualquer coisa”, lembra o jornalista Nemércio Nogueira, amigo e colega de Vlado na BBC.
Claudio fazia tudo que podia para conseguir a gratidão dos generais. Fleury queria vermelhos? Claudio proveria. Ele começou a escrever sua “Coluna Um”.
“Viram o noticiário de ontem na TV Cultura? Falando do esquerdista vietnamita Ho Chi Min?”
Não interessava que a materia tivesse vindo da BBC Visnews, ali estava a prova de que o canal estatal tinha sido tomado pelos vermelhos! E o governo vai ficar parado assistindo a isso?
Isso foi na primeira semana de setembro. Dois dias depois, a coluna de Claudio espalharia o veneno pela segunda vez.
As prisões dos comunistas suspeitos começou na última semana de setembro. Amarrados na Cadeira de Dragão, com eletrodos no nariz e no pênis, e afogados em baldes de água, eles estavam gritando nomes.
A campanha se mudou para o Congresso.
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São Paulo, 9 de outubro, 1975: O fantoche escolhido para fazer o aquecimento era o deputado Wadih Helu, outra criatura da ditadura. Ele tomou assento nas fileiras da Arena enquanto providenciava lugares discretos para os interrogatórios dos torturadores de Fleury.
Helu trazia “denúncias graves” a seus colegas na Assembléia.
Veja só: o governo tinha acabado de inaugurar um novo sistema de esgoto e quem assiste à TV Cultura não ficou sabendo disso. Eles não mandaram equipe! (controle sua vontade de rir, o fim da história é funesto).
Fingindo tremer de raiva, o deputado Helu prosseguiu: “A ausência da equipe da TV Cultura nas inaugurações do governo não é novidade para quem tem acompanhado a coluna de Cláudio Marques, denunciando a infiltração de elementos comunistas na TV do estado”.
Helu subiu o tom: “Eles só mostram notícias negativas, nada de positivo. Estão fazendo proselitismo do comunismo subserviente, tornando-se, como diz Claudio Marques, ‘a TV Cultura vietnamita de São Paulo’, usando dinheiro do povo para prestar um desserviço ao governo e à Pátria”.
Helu sentou. Era a vez do deputado arenista José Maria Marin.
“Acho estranho que apesar da imprensa estar levantando o problema há tempos, pedindo providências aos órgãos competentes em relação ao que está acontecendo no canal 2, não tenha acontecido nada até agora”.
“Não é só uma questão daquilo que eles publicam mas o desconforto que provocam não apenas aqui, nem apenas nos círculos políticos, mas que se comenta em quase todos os lares paulistas”.
Alguma coisa tinha que ser feita.
“Gostaria de chamar a atenção da Secretaria de Cultura de São Paulo, do governador do Estado que devem definitivamente apurar as denúncias publicadas na imprensa de São Paulo, em especial, pelo corajoso jornalista Claudio Marques”.
“Faço um apelo ao governador do Estado: ou jornalista está errado ou está certo. Essa omissão por parte da Secretaria do Estado e do governador não pode persistir. Mais do que nunca é necessário agir para que a tranquilidade reine novamente nesta Casa e, principalmente, nos lares de São Paulo”.
Sérgio Fleury e seus gorilas agora tinham carta branca para trabalhar. Essa era a mensagem do discurso de Marin. O relógio estava correndo depressa no sentido de abreviar a vida de Herzog.
“Naquele tempo a gente vivia no olho do furacão”, lembra o amigo e colega de Vlado, Paulo Markun. Oito dias depois, Markun foi preso. “Fui torturado e confessei que era membro do Partido Comunista”, disse.
Na noite de 24 de outubro, 15 dias depois dos discursos raivosos de Helu e Marin na Assembléia, os policiais chegaram na TV Cultura querendo levar Vlado. Os colegas de redação argumentaram que ele estava fechando o jornal da noite e que, se o levassem naquele momento, o programa não iria ao ar. Vlado se ofereceu para ir voluntariamente à polícia no dia seguinte.
Vlado foi incauto? Era ingênuo? Um colega e amigo dele me disse: “Minha interpretação é que, morando em endereço bem conhecido, sendo um jornalista renomado, com um cargo alto na TV estatal, e sem envolvimento na luta armada, ele não tinha muito o que temer”.
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São Paulo, 25 de Outubro de 1975: Vladimir Herzog, 38 anos, acordou mais cedo do que de costume na manhã de sábado. Fez a barba, tomou banho e deu um beijo de despedida em Clarice, que ainda estava na cama.
Ela queria levantar e fazer o café da manhã, mas ele lhe disse que não se preocupasse, que no caminho pararia em uma padaria para tomar um café com leite.
No fundo, no fundo, todos os que não eram aliados do regime tinham medo de “desaparecer”. Afinal, naquela época isso acontecia mesmo. Vlado combinou de encontrar um colega que o acompanhou até o número 921 da rua Tutóia, no bairro do Paraíso, hoje o 36o distrito policial. Eles chegaram por volta das 8 horas da manhã.
Por trás dos muros altos guardados por sentinelas funcionava a OBAN. Vlado cruzou o portão de entrada e disse ao recepcionista seu nome completo, profissão, número de RG.
E esperou sentado em um dos bancos de madeira no amplo hall que conduzia a um vidro e uma porta de ferro. Minutos depois, foi levado para interrogatório.
Vlado recebeu a ordem de tirar as roupas e colocar os trajes de prisioneiro. Na sala de interrogatório já estavam dois prisioneiros com os rostos cobertos por capuzes pretos.
Um deles, Rodolfo Konder, reconheceu o amigo: “Consegui erguer um pouco o capuz e reconheci seus sapatos, os mocassins pretos do Vlado”.
Vlado negou ser membro do Partido Comunista. Konder e o outro prisioneiro foram levados. Pouco tempo depois, eles ouviram os gritos de Vlado quando os choques elétricos começaram.
Os gritos duraram boa parte da manhã. “Os choques eram tão violentos, que Vlado uivava de dor”, diz Konder. “Eles ligaram um rádio para abafar o som”.
“Cerca de uma hora depois, eles me levaram para outra sala onde pude tirar o capuz e eu vi o Vlado. O homem que fazia o interrogatório, aparentava uns 35 anos, era magro, musculoso, com uma tatuagem de âncora no braço, disse-me para falar para ele que era inútil resistir”, lembra Konder.
“Vlado estava com o capuz enfiado na cabeça, tremendo, desfigurado. Tive que ajudá-lo a escrever uma confissão dizendo que ele tinha sido convencido por mim a entrar no PCB e listar outros membros do partido”.
Sobre isso, Ivo Herzog me disse: “Eles interromperam os choques e ditaram uma nota para ele escrever. Ele obedeceu, escreveu, então refletiu e rasgou a nota. Eles aumentaram a voltagem, os gritos dele voltaram a ser ouvidos e os choques o mataram”.
Ele hesita um pouco e para de falar. “Minha família não gosta de recordar a tortura. Eles não tinha necessidade de matar meu pai – foi sem intenção”.
Fleury estava na sala? – perguntei.
“Não sabemos”, diz Ivo. “Mas sei que o Marin estava bem preparado para colocar a vida do meu pai em perigo e assim ficar bem com os militares”.
Tarde da noite, Clarice Herzog recebeu as notícias da morte do marido.
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25 de outubro de 1975, horas mais tarde: Os torturadores vestiram Vlado apressadamente com as suas roupas, passaram o cinto da calça em volta do pescoço, penduraram o corpo na cela e o fotografaram de novo, dessa vez alegando que ele havia se matado. A foto não era nada convincente: os pés dele tocavam o chão e seus joelhos estavam dobrados.
Seu corpo foi entregue às autoridades religiosas esperando que fosse enterrado – e as evidências do crime também. A tradição judaica não permite que os suicidas sejam interrados em seus cemitérios. Mas quando o Shevra Kaddish – o comitê fúnebre judaico – estava preparando o corpo para o funeral, o rabino Henry Sobel reparou nas marcas de tortura. Ele ordenou que Vlado fosse enterrado no centro do cemitério. A versão do suicídio tinha sido desmentida.
As notícias da morte de Vlado se espalharam à medida que os jornalistas e opositores gradualmente ocupavam as ruas. A tragédia havia levado para a classe média os fatos que ocorriam em todo o país. Lentamente – foi preciso outra década para restabelecer algo que parecesse mais com a democracia –, o golpe militar arrefecia. Sobel diria depois: “O assassinato de Herzog foi o catalisador da volta da democracia”.
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São Paulo, 7 de outubro de 1976: Um ano e dois dias depois de “salvar” a TV Cultura – e incitado a prisão que terminou com o assassinato de Herzog – Marin mais uma vez discursava na Assembléia Legislativa de São Paulo.
E novamente, o deputado reclamava. Não sobre os vermelhos. Dessa vez, estava aborrecido com a falta de reconhecimento público a Sérgio Fleury, o delegado. Um homem que recentemente tinha emboscado e matado os guerrilheiros corajosos o bastante para enfrentar a ditadura.
Isso foi tirado da gravação oficial do discurso de Marin: “Aqueles que o conhecem de perto, sabem que ele é um chefe de família exemplar, mas, mais do que tudo, ele cumpre seus deveres como policial da maneira mais louvável possível”.
“Não conseguimos entender como um policial desse calibre, um homem que dedicou sua vida inteiramente ao combate do crime, um homem que muitas vezes pôs em risco não apenas a sua vida mas a de seus familiares não está recebendo o reconhecimento que merece”.
“Conhecendo seu caráter como eu conheço, não há dúvida de que Sérgio Fleury ama sua profissão; de que Sergio Fleury se dedica ao máximo, sem medir esforços nem sacrifícios para honrar não apenas a polícia de São Paulo, mas acima de tudo seu título de delegado de polícia. Ele deveria ser uma fonte de orgulho para a população de nossa cidade”.
“Por isso, senhor relator, na certeza de refletir o pensamento dos moradores de São Paulo, queremos expressar o orgulho que sentimos por ter em nossa polícia o delegado Sérgio Fleury”.
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St Helier, Jersey,17 de novembro de 2012: Antigo amigo dos militares, ainda amigo de José Maria Marin e ainda procurado pela Interpol por lavagem de dinheiro, Paulo Maluf dá risada diante da decisão judicial de que ele é um ladrão que desviou 10,5 milhões de dólares da obra de uma estrada em São Paulo.
Por que ele deveria se importar? Tem 81 anos agora, o governo nunca conseguirá o dinheiro de volta enquanto ele estiver vivo nem conseguirá obter provas suficientes para recuperar os estimados 1,7 bilhões de dólares desviados por ele no decorrer de anos.
Maluf se aproximou dos cofres públicos pela primeira vez quando os generais o nomearam prefeito de São Paulo em 1969. Três anos depois ascendeu ao governo do estado de São Paulo, fez de José Maria Marin seu deputado, e lhe passou as chaves do tesouro estadual em 1982.
O acontecimento mais memorável durante os dez meses de governo de Marin em São Paulo foi ser vaiado na Assembléia Legislativa depois que veio à tona empréstimos suspeitos feitos por um banco federal. Os amigos o indicaram para dirigir a seção São Paulo da CBF.
O desempenho de Marin foi suficiente para impressionar Ricardo Teixeira que o nomeou vice-presidente da CBF em 2008. Quando as revelações que fiz a respeito das propinas de Teixeira o forçaram a sair da FIFA e da CBF, Marin era o substituto conveniente. Ele havia provado que compartilhava dos pontos de vista de Teixeira sobre o futebol; se pode ser roubado, roube. Marin foi flagrado na TV afanando uma medalha do campeonato juvenil.
Três meses depois, o brilhante jornalista esportivo Juca Kfouri desenterrou o discurso de Marin na Assembléia em outubro de 1975, denegrindo Vlado Herzog. Juca culpou Marin pela prisão e morte do journalista. Juca também apresentou aos leitores o discurso inacreditáve de Marin elogiando o torturador Sérgio Fleury.
Um jornalista de São Paulo, que acompanha a carreira de Marin, diz, “Marin não é nem um rato, é um camondongo”.
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São Paulo, domingo, 11 de Novembro de 2012: Um grupo de manifestantes está na frente da casa de José Maria Marin, nos Jardins. Carregando faixas, tambores, tamborins, microfones e um carro de som, os que protestam cantam músicas compostas especialmente compostas para a ocasião. Uma delas pergunta: “Olha a ficha suja do Marin, será que ele é? Será que ele é? Será que ele é dedo-duro?”
Entre eles está Adriano Diogo, do PT, 63 anos que também foi preso e torturado pela OBAN em 1971 e ficou na cadeia alguns anos.
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São Paulo, Quinta-feira, 27 de Novembro de 2012: Adriano Diogo está discursando novamente mas agora como parte de seu trabalho cotidiano. Ele é deputado da Assembléia Legislativa de São Paulo como era José Maria Marin 37 anos antes quando ele atacou a TV Cultura.
“Senhores e senhoras, primeiro eu quero congratular-me com essa nova geração que faz escrachos (nomeando e envergonhando) na porta dos torturadores pela ideia brilhante de ir à casa de José Maria Marin”.
“O senhor José Maria Marin, o delator da ditadura, é responsável pela prisão e assassinato de Vladimir Herzog.” said Diogo. “Ele tem as mãos sujas de sangue, não pode ser o president da CBF.”
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Quarta-feira, 23 de janeiro de 2013: Mensagem oficial. “A Comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) vai investigar a responsabilidade do Estado pela morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975, durante a ditadura militar (1964-1985).
“De acordo com a petição, o Brasil não cumpriu ainda sua obrigação de investigar, perseguir e punir os responsáveis pela morte de Vladimir Herzog.
“O caso Herzog ilustra o fracasso do judiciário durante a ditadura militar brasileira e na democracia”, diz Viviana Krsticevic, diretora executiva do Center for Justice and International Law, sediado em Washington, que veio ao Brasil anunciar a aceitação da petição.
“Queremos saber quem é responsável pelo que aconteceu com o meu pai”, diz Ivo Herzog.
Ninguém vai chamar José Maria Marin para testemunhar? Ele ignorou o convite para comparecer ao encontro do Comitê de Esporte e Turismo em Brasília, deixando o gol livre para Romario.
Port Louis, Maurício, 30 de maio de 2013: Será o início do 63o Congresso da FIFA’s; espera-se dos delegados que endossem as “reformas” do presidente Sepp Blatter. Será que José Maria Marin do Brasil será o único acusado de cumplicidade em um crime de assassinato?
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A pergunta atual é: O que aconteceu na ditatura foi somente culpa do contexto político da época e devemos culpar nossa história, ou não podemos deixar apenas para os livros e devemos, hoje trinta anos depois, investigar e punir aqueles que participaram, mandaram, executaram, torturaram. Lembrando que são muitas pessoas envolvidas dentre policiais, militares, políticos que hoje podem estar aposentados em casa ou presidindo a CBF.
O deputado Campos Machado, líder do PTB na
Assembleia Legislativa paulista, encaminhou hoje na Casa moção de apoio
ao ex-governador e presidente da CBF (Confederação Brasileira de
Futebol) José Maria Marin.
De acordo com Campos Machado, está em curso uma “maquiavélica orquestração para denegrir a imagem, a honra, a história política e o passado de glórias do jogador de futebol, do vereador, do deputado estadual, do presidente da Federação Paulista de Futebol, do governador do Estado e agora presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin”.
O líder petebista classificou como uma “vergonha, para não dizer um ato vil e covarde, querer associar a morte do jornalista Vladimir Herzog, diretor à época da TV Cultura, ao ex-governador Marin, simplesmente por ele ter feito um apelo, em um aparte ao pronunciamento do deputado Wadih Helú, em 1975, na tribuna da Assembleia Legislativa, para que o Governo do Estado pudesse investigar supostas denúncias, levantadas pela imprensa, de que aquela emissora estatal não estava noticiando e divulgando conquistas do Executivo em favor da população carente, e obras públicas de relevo, mostrando apenas a miséria e os problemas enfrentados pelos menos favorecidos”.
A Moção de apoio a Marin foi protocolada na Assembleia horas antes da visita do presidente da CBF ao presidente do Parlamento Paulista, deputado Barros Munhoz. O documento de apoio segue agora para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Casa) para aprovação em caráter conclusivo.
Na quarta-feira, 13 de março, o site da CBF estampou artigo pondo fim à absurda acusação de que Marin teria dado apoio à ditadura militar na perseguição aos dissidentes. Sob o título de “Desmascarando uma falsidade”, o texto da CBF qualifica a campanha como “torpe” e baseada “em mentiras e deturpações”.
Para Marin, a publicação do editorial foi necessária porque o assunto, baseado numa mentira, estava gerando “intranquilidade e comentários”.
Veja, a seguir, a moção de apoio a Marin:
“A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO manifesta, aos Excelentíssimos Senhores Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, assim como aos demais ilustres membros daquelas Casas Legislativas, incondicional apoio e solidariedade ao Senhor José Maria Marin, Presidente da Confederação Brasileira de Futebol - CBF, contra a total falsidade de declarações, atribuídas àquela autoridade, no episódio envolvendo a morte do jornalista Vladimir Herzog.”
A falsidade do alegado pretexto fica patente quando se sabe que o Sr. José Maria Marin, depois de abril de 1975, dedicou-se a atividades de relevo, tais como o exercício dos cargos de Vice-Governador e Governador do Estado de São Paulo, Presidente da Federação Paulista de Futebol, e por muitos anos, o de Vice-Presidente da CBF, sem incomodar os setores da imprensa que, numa ação visivelmente orquestrada, agora se dispõem a alvejá-lo, a serviço de interesses inconfessáveis, mas bem conhecidos.
Parece óbvio o intuito de constranger o Sr. José Maria Marin, conturbando as atividades do futebol brasileiro num momento de notória importância e delicadeza, quando se avizinha a realização, no Brasil, da Copa Mundial de 2014.
Ao encarar-se uma campanha de difamação, baseada em mentiras e deturpação de fatos do passado, como essa que visa a atingir o Sr. José Maria Marin, não se pode deixar de recordar outra campanha, paradigmática, que levou à ruina a Escola Base de São Paulo e seus diretores, também fruto da má-fé e irresponsabilidade de pseudos-jornalistas que lá, tal como agora, com característico ânimo criminoso, empenharam-se na desmoralização de pessoas de bem, para satisfazer maus instintos, entretendo-se em atirar, em quem os mira de cima, a lama em que chafurdam esses delinquentes.
Parece difícil crer que, na fase atual de maturidade dos meios públicos de comunicação no país, ainda possam neles encontrar guarida esses elementos de baixo nível ético e moral, dispostos a malbaratar a liberdade de imprensa, valor essencial à democracia, dela fazendo uso para agredir a honra alheia, num assomo de inveja ferida.
Qualquer pessoa, com mínimo de boa-fé, que se dispuser a ler a manifestação do Sr. José Maria Marin, na Assembleia Legislativa de São Paulo, facilmente concluirá que as acusações que ora lhe fazem esses pseudos-jornalistas são absolutamente falsas, não encontram suporte no fato ocorrido, que é imprestável para alimentar essa mesquinha e implacável perseguição.
Trata-se, evidentemente, de campanha articulada e baseada em mentiras, forjadas de maneira inescrupulosa, de sabor fascistoide, a lembrar as táticas goebelianas. Repita-se a mentira quantas vezes possível e ela se transformará em verdade nas mentes desavisadas.
Em poucas palavras, veja-se que o Deputado Helu foi à tribuna para relatar o teor de denúncia a respeito da TV Cultura, formulada por certo jornalista.
O Sr. José Maria Marin, iniciando seu aparte com a categórica afirmativa de que não estaria abordando o mérito da denúncia (suas primeiras palavras), declarou que ela merecia apuração, concitando as autoridades a esclarecer o que de fato ocorria na referida emissora. Nada mais.
Só mentes doentias e perversas ou toldadas pela paixão podem ver nessa simples recomendação, qualquer acusação neste ou naquele sentido. Ou, pior, sustentar que dessa manifestação parlamentar possa ter nascido qualquer outra consequência, a não ser a apuração do mérito da denúncia, conforme sugerido.
Com a tranquilidade de quem tem a consciência limpa, o Presidente José Maria Marin não se deixará intimidar por campanhas assim espúrias, fadadas a ter o destino das coisas inúteis e podres, e não se desviará do caminho reto que tem norteado sua vida.
Segue-se o inteiro teor dos referidos discursos, transcrevendo-se primeiro o proferido pelo Deputado Wadih Helu, ao qual se segue o aparte do Presidente MARIN:
“DISCURSO DO ENTÃO DEPUTADO WADIH HELU
Foi realmente uma festa, que contou com a presença de mais de 40 prefeitos das cidades adjacentes, demonstrando, acima de tudo, trabalho profícuo do governo da ARENA, que vai ao encontro das necessidades dos municípios parcos de recursos, proporcionando-lhes condições para a instalação do serviço de águas e esgotos, no atendimento dos serviços de infra-estrutura. Tudo foi festa. Entretanto, notamos a ausência do órgão de divulgação do Estado, da TV Cultura – Canal 2.
Essa ausência não nos surpreendeu porque temos lido semestralmente na “Coluna Um”, de Cláudio Marques, denúncias de infiltração de elementos de esquerda no Canal 2, com a complacência do Secretário de Cultura, Dr. José Mindlin, e do próprio Governo.
Desta tribuna queremos externar o nosso protesto, pois nos falta condições de lutar por um país democrata, por um regime de democracia, quando a própria instituição governamental fica solapando essa democracia, não só com a sua ausência deliberada, mas muito mais do que isso, com a sua presença comunizante no vídeo, diariamente, com a sua presença comunizante no vídeo, diariamente, com sua presença que enaltece e procura dar provas de grandiosidade de líderes de esquerda de outros países, que vêm desgraçando outros povos, procurando inculcar no espírito do povo brasileiro que este País é só miséria, que este País é só pobreza, vez que na Televisão Cultura – Canal 2, só assistimos jornais mostrando a miséria, mostrando a pobreza, mostrando a desgraça. Num País como o nosso, que está em pleno desenvolvimento, num País como o nosso, que se constitui num verdadeiro oásis no mundo de hoje, são esses elementos pagos pelo governo, numa emissora de televisão do Governo de São Paulo, que pregam a desagregação de nosso povo, da nossa cidade, omitindo-se de comunicar ao povo paulista, as realizações do nosso governo, como aconteceu em Capão Bonito, como aconteceu há dez dias em São Paulo, com a inauguração do Metrô, obra do Governo da ARENA, através de cinco prefeitos, de cinco homens que responderam pelos destinos da nossa cidade. O Canal 2, a tudo omite, fazendo o proselitismo do comunismo, da subserviência, tornando-se como diz o colunista Cláudio Marques. A Televisão Vietnam Cultura de São Paulo, paga com o dinheiro do povo, desservindo nosso governo e a nossa Pátria”.
“APARTE DO ENTÃO DEP. JOSÉ MARIA MARIN, HOJE PRESIDENTE DA CBF
O Sr. José Maria Marin (Com assentimento do orador) – Nobre deputado Wadih Helu, realmente o assunto levantado por V.Exa. dessa tribuna, deve merecer uma atenção toda especial não só desta Casa, mas, principalmente, por parte do Sr. Secretário da Cultura do Estado e por parte do Sr. Governador do Estado. Sem adentrar no mérito da questão, causa-me estranheza quando os órgãos de imprensa do nosso Estado, de há muito tempo vêm levantando esse problema, pedindo providências aos órgãos competentes, com o que está acontecendo com o Canal 2, e não verificamos pelo menos, nenhuma palavra de esclarecimento. Já não se trata de divulgar o que é bom e deixar de divulgar aquilo que é mal, mas, trata-se da intranquilidade que já toma conta de São Paulo, um assunto que não é comentado apenas desta tribuna, que não é comentado apenas nos meios políticos, mas é assunto comentado em quase todos os lares de São Paulo. Neste aparte, nobre deputado Wadih Helu, quero chamar a atenção do Sr. Secretário da Cultura do Estado de São Paulo e do Sr. Governador do Estado, que venham a público esclarecer definitivamente essas denúncias que estão sendo levantadas pela Imprensa de São Paulo e, de forma particular e corajosa, pelo jornalista Cláudio Marques. Se a maioria dessas denúncias está sendo levantada pelos vários jornais de São Paulo, basta um simples exame desse problema para verificar que não só o jornalista citado dessa tribuna vem verificando os fatos negativos, pois não se vê nada de positivo, apresenta apenas misérias, apresenta problemas, mas não apresenta soluções. Nessas condições, congratulamo-nos com V.Exa. pela oportunidade em levantar este problema e quero daqui neste ligeiro aparte, fazer um apelo ao Sr. Governador do Estado: ou o jornalista está errado ou então o jornalista está certo. O que não pode continuar é essa omissão, tanto por parte do Sr. Secretário da Cultura, como do Sr. Governador. É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos”.
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Sobre o que é essa fome dedesmascarar a falsidade por parte da CBF??? Tem haver com outra fome de verdade que já passa de 38 anos. Um dos maiores mistérios e/ou mentira da história do Brasil.O Caso Vladimir Herzog. Uma mentira que foi sustentada por mais de 37 anos por documentos oficiais apesar de muitos próximos ao caso saberem que era uma mentira descarada.O presidente da CBF tem alguma coisa com esse caso? É o que o Romário, grande craque do futebol brasileiro, ex-Flamengo, Vasco, Fluminense, Barcelona e seleção brasileira. Fez grande dupla com o Bebeto na copa do mundo de 1994. Hoje ele é Deputado federal e fez o seguinte discurso na Camara de deputados em Brasília:
O deputado federal Romário (PSB-RJ), presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, fez nesta quinta-feira 14 um discurso no plenário da Casa no qual pediu investigações parlamentares a respeito do papel do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, na ditadura (1964-1985). Romário quer que a Comissão da Verdade, responsável por apurar abusos ocorridos durante o regime, passe a investigar também os efeitos da ditadura sobre o esporte.
Romário investiga Marin
Discurso de Romário feito agora, na Câmara dos Deputados:
“Eu faço parte de um partido de muitas lutas, muitas batalhas.
Batalhas que nem sempre foram vencidas, mas que sempre valeram a pena, porque expressam nosso anseio por justiça e liberdade.
Refundado, em 1985, por homens e mulheres que resistiram à ditadura militar, sofrendo perseguições e mandatos cassados, o PSB denunciou a tortura num dos seus primeiros programas de televisão, e defendeu a punição rigorosa para esse tipo de crime.
Entre meus colegas de bancada está uma mulher de luta, a deputada Luiza Erundina, defensora histórica dos direitos humanos.
Ela coordena, hoje, nesta Casa, a Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, que tem o objetivo de acompanhar e apoiar os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, na revelação de fatos, ainda obscuros, que ocorreram durante a ditadura civil-militar, no período de 1964 a 1985.
A criação da Comissão Nacional da Verdade é uma obrigação moral e política que decorre do reconhecimento, pelo Estado brasileiro, de que ele teve, sim, responsabilidade por crimes cometidos durante a última ditadura, e, por isso, deve esclarecimentos e reparação às famílias das vítimas – isto é, das pessoas que foram torturadas e assassinadas por agentes do Estado naquele período.
Esse reconhecimento aconteceu lá atrás, em 95, com a edição da Lei nº 9.140, no governo FHC.
Minha amiga Erundina deu uma contribuição importante nessa busca da verdade, quando ocupou a Prefeitura de São Paulo e determinou a abertura de uma vala clandestina localizada em um cemitério municipal, que levou à descoberta, entre as 1.049 ossadas, de corpos de OITO desaparecidos políticos. Este episódio resultou, também, na criação de uma CPI na Câmara de Vereadores da capital.
Este foi o início da abertura dos arquivos sobre aquele período.
Esta Casa, que teve suas portas fechadas durante o regime de exceção, cumpriu parte do seu dever ao atender o pleito da Deputada Erundina, e restituir simbolicamente os mandatos dos 173 deputados federais cassados pela ditadura.
Muita gente não sabe, mas o Sr. Marín, antes de entrar para o milionário negócio do futebol, chegou a ter algum destaque como político.
Ele presidiu a Câmara de Vereadores de São Paulo e, antes de se tornar governador do Estado, foi deputado estadual pela ARENA, o partido da ditadura.
Foi nessa ocasião, em 9 de outubro de 1975, que ele fez um duro pronunciamento, contra a TV Cultura, ao apartear no plenário o deputado Wadih Helu.
No seu aparte, o Deputado Marín exigia que fossem tomadas providências, segundo ele, em nome da “tranquilidade dos lares paulistanos”, como está registrado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, do dia 09 de outubro de 1975, página 62, que solicito conste nos anais desta Casa.
Não sei que providências ele tinha em mente.
O que sei, e que todos nós sabemos, é que no dia 24 de outubro daquele mês, o Diretor de Jornalismo da TV Cultura, Vladimir HERZOG, foi convocado para depor no DOI-CODI, e apareceu morto em sua cela, no dia seguinte.
A farsa da simulação de suicídio e o culto ecumênico realizado na Catedral da Sé para protestar contra a tortura, após a divulgação da morte de Herzog, já fazem parte da nossa História.
Mesmo com medo da repressão, pois havia câmeras estrategicamente posicionadas nas saídas da igreja, filmando cada um dos participantes, 8 mil pessoas saíram às ruas e transformaram o culto ecumênico na maior manifestação do povo brasileiro contra a ditadura.
Com certeza, Senhor Presidente, muita coisa ainda falta ser esclarecida, e a sociedade brasileira tem o direito de conhecer toda a verdade.
Muitos de nós parlamentares, bem como a Presidente Dilma e o conjunto da sociedade brasileira, têm interesse em saber se o Sr. José Maria Marín, hoje presidente da Confederação Brasileira de Futebol, manteve, naquele período, alguma relação com os órgãos da repressão, como, por exemplo, o DOI-CODI.
E também se ele contribuiu com crimes de violação dos direitos humanos no país.
Perguntaram ao senhor Nilmário Miranda, Presidente da Comissão da Anistia, se a Comissão da Verdade vai revelar o que os atletas sofreram durante a ditadura. A resposta dele foi a seguinte: “o Estado tem obrigação de revelar a verdade, reparar moralmente e até financeiramente as vítimas da tirania. O país está descobrindo que o direito à verdade é um direito irrenunciável”.
Neste contexto, podemos citar craques e ídolos do nosso futebol, como Afonsinho, Nando, Reinaldo, Sócrates e Vladimir, que sofreram com a repressão.
Por isso, senhor Presidente, vou propor a realização de uma audiência pública conjunta entre a Comissão de Turismo e Desporto, que, hoje, presido, e a Comissão Memória, Verdade e Justiça, para debater o tema “o futebol e a ditadura”, e gostaria de contar com a participação da Comissão Nacional da Verdade para que compartilhe e traga tudo o que já tiver sido levantado sobre este assunto.
Quero também contar com a colaboração de todos que tenham informações sobre episódios da época, para nos ajudar a revelar a verdade que buscamos.
As suspeitas sobre o Presidente da CBF são graves e constrangedoras. Nós, atletas e ex-atletas, ficamos muito desconfortáveis com esse tipo de situação, principalmente num momento em que o Brasil se expõe ao mundo, ao se preparar para receber megaeventos esportivos.
Será que merecemos ter à frente do nosso esporte mais querido, mais popular, um esporte que orgulha o nosso povo, uma pessoa suspeita de envolvimento, ainda que indireto, com tortura, assassinato e a supressão da democracia?
Será que a CBF, que comanda um esporte intimamente vinculado à cultura nacional, pode ser dirigida por alguém que pedia a repressão a uma emissora estatal de televisão, a TV Cultura, à qual estava vinculado Vladimir Herzog?
Não podemos esquecer que a nossa seleção gera expressivos recursos financeiros à CBF, que explora nossos símbolos: o nome do país, o hino, a bandeira e suas cores. Eles geram dividendos que ultrapassam os 100 milhões por ano, só de patrocínio, sem que tenhamos a transparência devida sobre a destinação desse dinheiro.
Será que dentre 200 milhões de brasileiros, é justamente ele quem melhor preenche os requisitos?
Que imagem o Brasil passa para o mundo e para a história do futebol, tendo à frente da CBF e do COL um personagem com este perfil?
Tenho observado que a Presidente Dilma tem dificuldade de engolir o presidente da CBF. Assim como o ministro Aldo Rebelo também tem, principalmente agora, depois da divulgação da gravação em que Marín diz as bobagens que pensa sobre o Ministro de Esportes.
Quero dizer que discordo de tudo o que disse sobre o ministro, viu, senhor Marín?
Então, será que, como presidente do COL e da CBF, Marín terá tranquilidade para figurar ao lado da Presidente Dilma e do Ministro Aldo Rebelo na recepção às autoridades estrangeiras?
Acho que o Sr. Marín não tem o direito de chamar de “delinquentes”, como pode ser conferido no site da CBF, aqueles que simplesmente buscam a transparência e a verdade.
O que a sociedade brasileira reivindica é o acesso à informação, aos fatos, o que é um direito de todos, e que o Estado tem o dever de propiciar.
Os tempos de intimidação e silêncio, graças ao Papai do Céu e à sociedade brasileira, são página virada na nossa História.
E só por isso estamos aqui, podendo dizer o que pensamos.
Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.
Muito obrigado”.
E não deixe de assinar AQUI se você ainda não se juntou a 39 mil brasileiros que já assinaram.
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Dizem os repórteres políciais que uma mesma história tem 2 versões e uma verdade que fica entre as duas versões. O professor que me deu aula de filosofia no segundo grau me mostrou uma imagem muito legal sobre a verdade: O que é um elefante? Depende muito sobre qual ângulo que você encherga. Acho que o que ele queria passar é essa parábola:
A verdadeira história dos cegos e o elefante
O que houve depois
A história dos cegos e do elefante está
disseminada por aí, em várias versões. Mas nenhuma conta o que
aconteceu depois. Corrigimos isso a tempo, confira.
Era uma vez seis cegos à beira de uma estrada. Um
dia, lá do fundo de sua escuridão, eles ouviram um alvoroço e
perguntaram o que era.
Era um elefante passando e a multidão tumultuada atrás dele Os cegos não sabiam o que era um elefante e quiseram conhecê-lo.
Era um elefante passando e a multidão tumultuada atrás dele Os cegos não sabiam o que era um elefante e quiseram conhecê-lo.
Então o guia parou o animal e os cegos começaram a
examiná-lo:
Apalparam, apalparam...Terminado o exame, os cegos começaram a conversar:
Apalparam, apalparam...Terminado o exame, os cegos começaram a conversar:
— Puxa! Que animal esquisito! Parece uma coluna
coberta de pêlos!
— Você está doido? Coluna que nada! Elefante é um
enorme abano, isto sim!
— Qual abano, colega! Você parece cego! Elefante é
uma espada que quase me feriu!
— Nada de espada e nem de abano, nem de coluna.
Elefante é uma corda, eu até puxei.
— De jeito nenhum! Elefante é uma enorme serpente
que se enrola.
— Mas quanta invencionice! Então eu não vi bem?
Elefante é uma grande montanha que se mexe.
E lá ficaram os seis cegos, à beira da estrada,
discutindo partes do elefante. O tom da discussão foi crescendo, até
que começaram a brigar, com tanta eficiência quanto quem não enxerga
pode brigar, cada um querendo convencer os outros que sua percepção
era a correta. Bem, um não participou da briga, porque estava
imaginando se podia registrar os direitos da descoberta e
calculando quanto podia ganhar com aquilo.
A certa altura, um dos cegos levou uma pancada na
cabeça, a
lente dos seus óculos escuros se quebrou ferindo seu olho esquerdo e, por algum
desses mistérios da vida, ele recuperou a visão daquele olho. E vendo,
olhou, e olhando, viu o
elefante, compreendendo imediatamente tudo.
Dirigiu-se então aos outros para explicar que estavam
errados, ele estava vendo e sabia como era o elefante. Buscou as
melhores palavras que pudessem descrever o que vira, mas eles não
acreditaram, e acabaram unidos para debochar e rir dele.
Morais da história:
Em terra de cego, quem tem
um olho anda vendo coisas.
Quando algo é tido como verdade, o que é diferente
parece mentira.
Problemas comuns unem.
Se você for falar sobre um bicho para uma pessoa que
nunca viu um, melhor fazer com que ela o veja primeiro.
Como é que vamos saber hoje a verdade dos fatos que ocorreram a 38 anos atrás? Ao consultar o wikipédia por exemplo lá está o nome do José Marin ligado a prisão do Vladimir Herzog como deputado na época.
Vladimir Herzog
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Vladimir Herzog | |
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Nascimento | Vlado Herzog 27 de junho de 1937 Osijek, Reino da Iugoslávia |
Morte | 25 de outubro de 1975 (38 anos) São Paulo, Brasil |
Formação | Filosofia (USP, 1959) |
Ocupação | Jornalista, professor e dramaturgo |
Cônjuge(s) | Clarice Herzog |
Nacionalidade | Brasileiro |
Site oficial |
O nome de Vladimir tornou-se central no movimento pela restauração da democracia no Brasil após 1964. Militante do Partido Comunista Brasileiro, foi torturado até a sua morte no DOI-CODI em São Paulo, após ter se dirigido pessoalmente ao órgão para um interrogatório sobre suas atividades "ilegais". Segundo o jornalista Sérgio Gomes, Vladimir Herzog é um "símbolo da luta pela democracia, pela liberdade, pela justiça."
Vladimir era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem teve dois filhos. Com a morte do marido, Clarice passou por maus momentos, com medo e opressão e teve que contar para os filhos pequenos o que havia ocorrido com o pai. Clarice, três anos depois (1978), conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte do esposo.Ainda sem se conformar, ela diz que "Vlado contribuiria muito mais para a sociedade se estivesse vivo".
Biografia
Primeiros anos
Herzog nasceu na cidade de Osijek, em 1937, na Iugoslávia (atual Croácia), filho do casal de origem judaica Zigmund e Zora Herzog. Durante a Segunda Guerra Mundial, para escaparem do antissemitismo praticado pelo estado fantoche da Croácia, então controlado pela Alemanha Nazista, que ocupava a Iugoslávia desde 1941, o casal primeiro fugiu para a Itália, onde viveram clandestinamente ajudado por alguns locais, decidindo imigrar com o filho para o Brasil, após o conflito.Educação e carreira
Herzog se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo, em 1959. Depois de formado, trabalhou em importantes órgãos de imprensa no Brasil, notavelmente em O Estado de S. Paulo. Nessa época, resolveu passar a assinar "Vladimir", ao invés de "Vlado", pois acreditava que seu nome verdadeiro soava um tanto exótico no Brasil. Vladimir também trabalhou por três anos na BBC de Londres.Na década de 1970, assumiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, de São Paulo. Também foi professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP e, nessa época, também atuou como dramaturgo, envolvido com intelectuais do teatro. Em sua maturidade, Vladimir passou a atuar politicamente no movimento de resistência contra a ditadura militar brasileira de 1964 a1985, como também no Partido Comunista Brasileiro.
Prisão e morte
Antecedentes
Em 1974, o general Ernesto Geisel tomou posse da Presidência da República com um discurso de abertura política (na época chamado de "distensão"), o que na prática significaria a diminuição da censura, investigar as denúncias de torturas e dar maior participação aos civis no governo. Todavia, o governo enfrentava dois infortúnios: a derrota nas eleições parlamentares e a crise do petróleo. Além disso, o general Ednardo D'Ávila Mello fazia afirmações de que os comunistas estariam infiltrados no governo de São Paulo, na época chefiado por Paulo Egydio Martins, o que criou uma certa tensão entre estes. Nesse cenário, a linha dura sentiu-se ameaçada, e em 1975 a repressão continuava forte. O Centro de Informações do Exército (CIE) se voltou essencialmente ao Partido Comunista Brasileiro, do qual Herzog era militante, mas não desenvolvia atividades clandestinas. Através do jornalista Paulo Markun, Herzog chegou a ser informado que seria preso, mas não fugiu.A prisão
Em 24 de outubro de 1975 — época em que Herzog já era diretor de jornalismo da TV Cultura, após campanha contra sua gestão levada a cabo na Assembleia Legislativa de São Paulo pelos deputados Wadih Helu e José Maria Marin, pertencentes ao partido de sustentação ao regime militar, a ARENA; agentes do II Exército convocaram Vladimir para prestar depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro, partido que atuava na ilegalidade durante o regime militar. No dia seguinte, Herzog compareceu ao DOI-CODI. Ele ficou preso com mais dois jornalistas, George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder. Pela manhã, Vlado negou qualquer ligação ao PCB. A partir daí, ou outros dois jornalistas foram levados para um corredor, donde viriam a escutar uma ordem para que se trouxesse a máquina de choques elétricos. Para abafar o som da tortura, um rádio com som alto foi ligado. Posteriormente, Konder foi obrigado a assinar um documento no qual ele afirmava ter aliciado Vlado "para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido." Logo, Konder foi levado à tortura, e este foi o último momento em que Vlado foi visto com vida.A morte
O Serviço Nacional de Informações recebeu uma mensagem em Brasília de que naquele dia 25 de outubro, a "cerca de 15 hs, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". Na época, era comum que o governo militar ditatorial divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam perecido por "suicídio", fuga ou atropelamento, o que gerou comentários irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidados pela ditadura". O jornalista Elio Gaspari comenta que "suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até." Conforme o Laudo de Encontro de Cadáver expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, Herzog se suicidou com uma tira de pano que era usada como "cinta do macacão que o preso usava", amarrado em uma grade a 1,63 metro de altura. No laudo, foram anexadas fotos, porém, há várias inverossimilhanças. Uma delas é o fato de que ele se enforcou com um cinto, coisa que os prisioneiros do DOI-CODI não possuíam. Além disso, suas pernas estão dobradas e no seu pescoço há duas marcas de enforcamento, o que mostra que sua morte foi feita por estrangulamento.Em sentença histórica, responsabilizando a o governo federal pela morte, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes pediu a apuração da autoria e das condições da morte. Entretanto nada foi realizado. Em 24 de setembro de 2012, o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, dando o parecer de que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)", conforme havia sido solicitado pela Comissão Nacional da Verdade.
Missa Ecumênica
Depois do ato institucional número cinco, de 13 de dezembro de 1968, a missa ecumênica em protesto a morte de Vladimir Herzog foi o primeiro grande movimento da sociedade civil contra as práticas da ditadura militar. Reuniu milhares de pessoas dentro e fora da Catedral na Praça da Sé. O assassinato colocara uma grande questão religiosa. Os judeus não enterram suicidados dentro de seu cemitério, mas fora dele. Assim o enterro de Herzog, dentro do cemitério Israelista, e a respectiva missa se tornaram atos contra o regime militar.O então secretário de Segurança Estadual Erasmo Dias bloqueou a cidade inteira com barreiras policiais, impedindo o acesso à Catedral e o trânsito na cidade, mesmo assim as pessoas desceram de seus ônibus e automóveis e se dirigiram a pé até a catedral, no centro da cidade. A propria Praça da Sé, situada em frente a catedral, se encontrava totalmente tomada por policiais, seus cavalos e cachorros, que iam até praticamente a calçada da rua que separa as escadarias da Sé. Apesar da repressão a missa ocorreu silenciosamente até o seu final com cerca de oito mil pessoas em seu interior, e milhares na escadaria que gritando slogans pela volta da democracia. Ao final carros sem placa atiraram bombas de gás lacrimogênio contra os participantes que tentavam sair da Catedral em passeata. Dispersando o movimento (Celso Lungareti, "Vladimir Herzog é assassinado: o Brasil repudia o DOI-Codi".)
- Registra ainda Celso Miranda em Vladimir Herzog: Mataram o Vlado de 01/10/2005 00h00
Nas ruas de São Paulo, o clima era outro. Ainda na segunda-feira, cerca de 30 mil estudantes da USP, PUC e Fundação Getúlio Vargas entraram em greve. A garotada queria marchar pela cidade, mas aguardava a reunião com os jornalistas. Juntos, aprovaram a realização de um ato religioso pela memória de Vlado na sexta, dia 31. O cardeal Arns tomou a iniciativa: ofereceu a catedral da Sé e disse que estaria lá. (...) No dia seguinte, o povo estava na rua e (com a missa) fazia a primeira manifestação contra a ditadura após o AI-5. Um pouco antes da hora do culto, dois secretários do governador Paulo Egydio Martins ainda procuraram o arcebispo de São Paulo e lhe pediram para cancelar o evento. “Fui informado que existiriam mais de 500 policiais na praça com ordem de atirar ao primeiro grito. Se houvesse protestos, eles metralhariam a população”, lembra dom Paulo. A estratégia dos manifestantes era chegar à praça em pequenos grupos, evitando aglomerações. Cerca de 8 mil pessoas se espalharam pelas escadarias da Sé. As que conseguiram entrar viram o cardeal, o rabino Henry Sobel e mais 20 sacerdotes, entre eles dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. “Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu do coração de Deus para ser fonte de amor”, disse dom Paulo. “Nas minhas dores, ó Senhor, fica ao meu lado”, respondeu a audiência. Vladimir Herzog: Mataram o Vlado de 01/10/2005 |
Pós-morte
Gerando uma onda de protestos de toda a imprensa mundial, mobilizando e iniciando um processo internacional em prol dos direitos humanos na América Latina, em especial no Brasil, a morte de Herzog impulsionou fortemente o movimento pelo fim da ditadura militar brasileira. Após a morte de Herzog, grupos intelectuais, agindo em jornais e etc., e grupos de atores, no teatro, como também o povo, nas ruas, se empenharam na resistência contra a ditadura do Brasil. Diante da agonia de saber se Herzog havia se suicidado ou se havia sido morto pelo Estado, criaram-se comportamentos e atitudes sociais de revolução. Em 1976, por exemplo, Gianfrancesco Guarnieri escreveu Ponto de Partida, espetáculo teatral que tinha o objetivo de mostrar a dor e a indignação da sociedade brasileira diante do ocorrido. Segundo o próprio Guarnieri:[...] Poderosos e dominados estão perplexos e hesitantes,impotentes e angustiados. Contendo justos gestos de ódio e revolta, taticamente recuando diante de forças transitoriamente invencíveis. Um dia os tempos serão outros. Diante de um homem morto, todos precisam se definir. Ninguém pode permanecer indiferente. A morte de um amigo é a de todos nós. Sobre tudo quando é o Velho que assassina o Novo.
Legado
Em 2009, mais de 30 anos após a morte de Vladimir, surge o Instituto Vladimir Herzog. O Instituto destina-se a três objetivos: organizar todo o material jornalístico sobre a história de Vladimir, como meio de auxílio a estudantes, pesquisadores e outros interessados em sua vida e obra; promover debates sobre o papel do jornalista e também discutir sobre as novas mídias, e, por fim, ser responsável pelo Prêmio Jornalistico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que premia pessoas envolvidas no jornalismo e na promoção dos direitos humanos.=======================================================================
Mas sabemos que a wikipédia aceita o que os editores mantem lá...
Para se aproximar da verdade podemos ler o que foi noticiado na época. Sabemos que quanto mais passa o tempo menos a verdade é vista com clareza. No livro "Dez reportagens que abalaram a ditadura"
http://downloadity.net/file/0Q77675 mostra uma das melhores reportagens sobre o caso da época.
Mas esse caso específico não podemos tanto confiar nas palavras do jornalistas da época, não porque eles não eram confiaveis, mas porque as informações que chegavam a eles não eram verdades. Por mais que se investigava sabemos que os militares eram bons em manter segredos.
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Entenda o caso Vladimir Herzog
(pelo portal Terra)
Foto gera controvérsia sobre identidade de preso político
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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Qual o papel do chefão da CBF no assassinato de Vladimir Herzog?
#CopaPública
no blog
O repórter investigativo britânico
Andrew Jennings relembra os pecados do atual presidente da CBF, José
Maria Marin, durante a ditadura brasileira.
Brasília, 11 de dezembro de 2012: O deputado Romário chega de mansinho na sala da Comissão. Uma centena de pares de olhos seguem o icônico Baixinho que se dirige primeiro à imprensa. “Andrew Jennings, meu amigo, como vai”, diz, enquanto aperta minha mão entre as suas.
Ele parece estar em grande forma, leve, relaxado, sorridente, e um brilho no olhar que promete: um dos maiores goleadores do mundo está prestes a marcar mais um tento. Sem fazer alarde, como sempre. Romario simplesmente marca: Gol!
“Melhor agora que encontrei você, companheiro”, respondo. Ele dá risada e vai embora, driblando as mesas para tomar assento na Comissão de Esporte e Turismo da Câmara, da qual faz parte.
Romario aguarda pacientemente por alguns minutos. Então, o presidente da mesa lhe passa a bola: é sua vez de falar. Ele não sorri agora.
“As pessoas me param na rua para dizer: ‘Traga o Teixeira de volta, o novo presidente da CBF é pior’”.
Pronto. Com apenas uma frase ele agarrou a bola e: gol!
Durante 23 anos Ricardo Teixeira desviou dinheiro da FIFA e da CBF. O peso da corrupção finalmente o forçou a renunciar nove meses atrás e os torcedores puderam recolher as faixas “Fora Teixeira” que estendiam nos estádios.
Como o cara que assumiu a CBF, o octogenário José Maria Marin, poderia ser pior que o antecessor? Certamente ele vai fundo saqueando o futebol brasileiro, mas Marin não tem como superar as décadas de roubo de Ricky Vigarista.
A resposta está fora do campo do futebol, em uma história sórdida que vem do tempo da ditadura militar. Por isso a indignação em São Paulo – onde manifestantes protestaram diante de sua casa- nas colunas dos jornais, no Congresso, onde foi acusado de ter “as mãos sujas de sangue”
* * * * * * * *
Brasília, 13 de dezembro de 1968: Quatro anos depois do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil veio uma lei – o famigerado AI-5 – que dava ao milico que estivesse na cadeira da presidência o poder de fazer o que lhe desse na telha. O Congresso estava amordaçado, os partidos políticos, banidos e os direitos humanos, extintos. A censura corria solta nos jornais, na música, no teatro, no cinema.
Sabendo-se ilegítimos e odiados pelo povo, os generais declararam a guerra suja contra os opositores. Torturava-se e matava-se na Operação Bandeirantes – a OBAN – executada por policiais civis e militares e secretamente financiada por empresários brasileiros e corporações americanas – que pagavam bônus para tirar os sindicalistas de suas fábricas.
Em 1970, entre os milhares de presos estava uma jovem estudante, Dilma Rousseff, que se juntara a um grupo clandestino de guerrilha urbana. Ela descreveu, em uma entrevista de 2011, as pancadas que recebia nua e amarrada, entremeadas por choque elétricos nos pontos mais sensíveis do corpo, que chegaram a provocar hemorragia uterina.
São Paulo, 15 de março de 1971: Enquanto os torturadores da OBAN davam choques em Dilma, José Maria Marin – que muito depois se tornaria o chefão do futebol – assumia o mandato de deputado estadual. Se quisesse, Marin teria ouvido os gritos dela. Ele tinha conhecimento da tortura mas isso não o incomodava. Os militares não faziam segredo da sua brutalidade; eles precisavam de uma população acuada, intimidada para se impor.
O senhor Marin aderira à ARENA, o partido criado para os políticos da ditadura. Ele gostava dos militares porque eles o deixavam pertinho do caixa-forte; e os militares o apreciavam porque era a caixinha de música deles. Bastava apertar o botão, e lá ia Marin discursar na Assembléia, denunciando os comunistas ou qualquer um que a OBAN quisesse, dando o pretexto para prender e torturar.
De vez em quando Marin se encontrava com Sérgio Fleury nos bastidores políticos ou nos restaurantes da moda em São Paulo. Fleury era um sádico de primeira, um artista da tortura. O Príncipe da Dor supervisionava inquéritos e operava uma rede de cativeiros privados – em casas, chácaras – onde clandestinamente os presos políticos eram torturados dias a fio. Muitos morreram – ou simplesmente desapareceram.
Seus gângsters em trajes civis invadiam qualquer casa a qualquer hora e quando queriam se divertir, espancavam o suspeito. As crianças assistiam, aterrorizadas. Os revólveres disparavam. Marin tinha Fleury em alta conta.
São Paulo, janeiro de 2013: “Depois que a ditadura se instalou, ser jornalista se tornou uma ocupação prejudicial à saúde. Eu tinha saído do país seis meses antes e estava em Londres, trabalhando para o serviço brasileiro da BBC”, lembra o jornalista Nemércio Nogueira.
“Eu e um colega fizemos um lobby para que a BBC oferecesse um emprego ao amigo e jornalista Vladimir Herzog. Em 1965 eles contrataram o Vlado, que veio com a mulher, Clarice; eles tiveram os dois filhos em Londres, Ivo e André”.
Depois de três anos na BBC, em agosto de 1975, ele voltou com a família para o Brasil, e foi nomeado editor-chefe da TV Cultura, uma emissora do governo do Estado. Agora ele estava na esfera de influência do deputado José Maria Marin, porta-voz de Fleury e dos generais.
A ditadura começava a rachar. A luta armada tinha sido sufocada, os guerrilheiros eliminados. Alguns generais pregavam um retorno gradual e cauteloso à democracia. Mas os linha-dura não queriam ouvir falar nisso; para continuar nos negócios precisavam da “ameaça vermelha”. Os soldados da tortura concordavam do fundo do coração.
Eles conseguiram ajuda externa. Os serviços de segurança da Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai lançaram a Operação Condor, sincronizada através de uma base da CIA no Panamá, prendendo e assassinando lideranças de esquerda e opositores da ditadura em toda a América Latina.
Vlado era mais do que um respeitado ex-repórter e produtor da BBC. Graduado em Filosofia, era um documentarista bem sucedido e professor de jornalismo na Universidade de São Paulo.
Outros colegas jornalistas recordam: “Vlado tinha um estilo direto e despojado de falar e escrever, e não era dado à retórica. Uma frase que usava com frequência, que resume o pensamento dele – e está gravada em sua lápide – era: “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”.
Sua família conhecia o medo, o medo das atrocidades. Judeus, eles fugiram da Croácia quando ele era menino por causa dos nazistas.
Ivo Herzog me disse: “Sim, meu pai era membro do Partido Comunista Brasileiro. Mas não era um grupo armado. Era mais como um grupo de debates.”
As denúncias serviam ao que Fleury e seus sádicos queriam. Eles começaram a prender os suspeitos de serem comunistas e torturá-los para obter mais nomes.
* * * * * * *
São Paulo, Setembro de 1975: Claudio Marques era um provocador barato, um porta-voz dos torturadores que entrava nos lares da cidade pela TV.
“Conheci o Claudio pessoalmente, como jornalista, e ele me parecia um canalha. Acho que ele não era mais do que um oportunista que viu na ditadura uma forma de obter favores, patrocínio para sua coluna, seu programa de TV, um emprego, qualquer coisa”, lembra o jornalista Nemércio Nogueira, amigo e colega de Vlado na BBC.
Claudio fazia tudo que podia para conseguir a gratidão dos generais. Fleury queria vermelhos? Claudio proveria. Ele começou a escrever sua “Coluna Um”.
“Viram o noticiário de ontem na TV Cultura? Falando do esquerdista vietnamita Ho Chi Min?”
Não interessava que a materia tivesse vindo da BBC Visnews, ali estava a prova de que o canal estatal tinha sido tomado pelos vermelhos! E o governo vai ficar parado assistindo a isso?
Isso foi na primeira semana de setembro. Dois dias depois, a coluna de Claudio espalharia o veneno pela segunda vez.
As prisões dos comunistas suspeitos começou na última semana de setembro. Amarrados na Cadeira de Dragão, com eletrodos no nariz e no pênis, e afogados em baldes de água, eles estavam gritando nomes.
A campanha se mudou para o Congresso.
* * * * * * *
São Paulo, 9 de outubro, 1975: O fantoche escolhido para fazer o aquecimento era o deputado Wadih Helu, outra criatura da ditadura. Ele tomou assento nas fileiras da Arena enquanto providenciava lugares discretos para os interrogatórios dos torturadores de Fleury.
Helu trazia “denúncias graves” a seus colegas na Assembléia.
Veja só: o governo tinha acabado de inaugurar um novo sistema de esgoto e quem assiste à TV Cultura não ficou sabendo disso. Eles não mandaram equipe! (controle sua vontade de rir, o fim da história é funesto).
Fingindo tremer de raiva, o deputado Helu prosseguiu: “A ausência da equipe da TV Cultura nas inaugurações do governo não é novidade para quem tem acompanhado a coluna de Cláudio Marques, denunciando a infiltração de elementos comunistas na TV do estado”.
Helu subiu o tom: “Eles só mostram notícias negativas, nada de positivo. Estão fazendo proselitismo do comunismo subserviente, tornando-se, como diz Claudio Marques, ‘a TV Cultura vietnamita de São Paulo’, usando dinheiro do povo para prestar um desserviço ao governo e à Pátria”.
Helu sentou. Era a vez do deputado arenista José Maria Marin.
“Acho estranho que apesar da imprensa estar levantando o problema há tempos, pedindo providências aos órgãos competentes em relação ao que está acontecendo no canal 2, não tenha acontecido nada até agora”.
“Não é só uma questão daquilo que eles publicam mas o desconforto que provocam não apenas aqui, nem apenas nos círculos políticos, mas que se comenta em quase todos os lares paulistas”.
Alguma coisa tinha que ser feita.
“Gostaria de chamar a atenção da Secretaria de Cultura de São Paulo, do governador do Estado que devem definitivamente apurar as denúncias publicadas na imprensa de São Paulo, em especial, pelo corajoso jornalista Claudio Marques”.
“Faço um apelo ao governador do Estado: ou jornalista está errado ou está certo. Essa omissão por parte da Secretaria do Estado e do governador não pode persistir. Mais do que nunca é necessário agir para que a tranquilidade reine novamente nesta Casa e, principalmente, nos lares de São Paulo”.
Sérgio Fleury e seus gorilas agora tinham carta branca para trabalhar. Essa era a mensagem do discurso de Marin. O relógio estava correndo depressa no sentido de abreviar a vida de Herzog.
“Naquele tempo a gente vivia no olho do furacão”, lembra o amigo e colega de Vlado, Paulo Markun. Oito dias depois, Markun foi preso. “Fui torturado e confessei que era membro do Partido Comunista”, disse.
Na noite de 24 de outubro, 15 dias depois dos discursos raivosos de Helu e Marin na Assembléia, os policiais chegaram na TV Cultura querendo levar Vlado. Os colegas de redação argumentaram que ele estava fechando o jornal da noite e que, se o levassem naquele momento, o programa não iria ao ar. Vlado se ofereceu para ir voluntariamente à polícia no dia seguinte.
Vlado foi incauto? Era ingênuo? Um colega e amigo dele me disse: “Minha interpretação é que, morando em endereço bem conhecido, sendo um jornalista renomado, com um cargo alto na TV estatal, e sem envolvimento na luta armada, ele não tinha muito o que temer”.
* * * * * * * * *
São Paulo, 25 de Outubro de 1975: Vladimir Herzog, 38 anos, acordou mais cedo do que de costume na manhã de sábado. Fez a barba, tomou banho e deu um beijo de despedida em Clarice, que ainda estava na cama.
Ela queria levantar e fazer o café da manhã, mas ele lhe disse que não se preocupasse, que no caminho pararia em uma padaria para tomar um café com leite.
No fundo, no fundo, todos os que não eram aliados do regime tinham medo de “desaparecer”. Afinal, naquela época isso acontecia mesmo. Vlado combinou de encontrar um colega que o acompanhou até o número 921 da rua Tutóia, no bairro do Paraíso, hoje o 36o distrito policial. Eles chegaram por volta das 8 horas da manhã.
Por trás dos muros altos guardados por sentinelas funcionava a OBAN. Vlado cruzou o portão de entrada e disse ao recepcionista seu nome completo, profissão, número de RG.
E esperou sentado em um dos bancos de madeira no amplo hall que conduzia a um vidro e uma porta de ferro. Minutos depois, foi levado para interrogatório.
Vlado recebeu a ordem de tirar as roupas e colocar os trajes de prisioneiro. Na sala de interrogatório já estavam dois prisioneiros com os rostos cobertos por capuzes pretos.
Um deles, Rodolfo Konder, reconheceu o amigo: “Consegui erguer um pouco o capuz e reconheci seus sapatos, os mocassins pretos do Vlado”.
Vlado negou ser membro do Partido Comunista. Konder e o outro prisioneiro foram levados. Pouco tempo depois, eles ouviram os gritos de Vlado quando os choques elétricos começaram.
Os gritos duraram boa parte da manhã. “Os choques eram tão violentos, que Vlado uivava de dor”, diz Konder. “Eles ligaram um rádio para abafar o som”.
“Cerca de uma hora depois, eles me levaram para outra sala onde pude tirar o capuz e eu vi o Vlado. O homem que fazia o interrogatório, aparentava uns 35 anos, era magro, musculoso, com uma tatuagem de âncora no braço, disse-me para falar para ele que era inútil resistir”, lembra Konder.
“Vlado estava com o capuz enfiado na cabeça, tremendo, desfigurado. Tive que ajudá-lo a escrever uma confissão dizendo que ele tinha sido convencido por mim a entrar no PCB e listar outros membros do partido”.
Sobre isso, Ivo Herzog me disse: “Eles interromperam os choques e ditaram uma nota para ele escrever. Ele obedeceu, escreveu, então refletiu e rasgou a nota. Eles aumentaram a voltagem, os gritos dele voltaram a ser ouvidos e os choques o mataram”.
Ele hesita um pouco e para de falar. “Minha família não gosta de recordar a tortura. Eles não tinha necessidade de matar meu pai – foi sem intenção”.
Fleury estava na sala? – perguntei.
“Não sabemos”, diz Ivo. “Mas sei que o Marin estava bem preparado para colocar a vida do meu pai em perigo e assim ficar bem com os militares”.
Tarde da noite, Clarice Herzog recebeu as notícias da morte do marido.
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25 de outubro de 1975, horas mais tarde: Os torturadores vestiram Vlado apressadamente com as suas roupas, passaram o cinto da calça em volta do pescoço, penduraram o corpo na cela e o fotografaram de novo, dessa vez alegando que ele havia se matado. A foto não era nada convincente: os pés dele tocavam o chão e seus joelhos estavam dobrados.
Seu corpo foi entregue às autoridades religiosas esperando que fosse enterrado – e as evidências do crime também. A tradição judaica não permite que os suicidas sejam interrados em seus cemitérios. Mas quando o Shevra Kaddish – o comitê fúnebre judaico – estava preparando o corpo para o funeral, o rabino Henry Sobel reparou nas marcas de tortura. Ele ordenou que Vlado fosse enterrado no centro do cemitério. A versão do suicídio tinha sido desmentida.
As notícias da morte de Vlado se espalharam à medida que os jornalistas e opositores gradualmente ocupavam as ruas. A tragédia havia levado para a classe média os fatos que ocorriam em todo o país. Lentamente – foi preciso outra década para restabelecer algo que parecesse mais com a democracia –, o golpe militar arrefecia. Sobel diria depois: “O assassinato de Herzog foi o catalisador da volta da democracia”.
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São Paulo, 7 de outubro de 1976: Um ano e dois dias depois de “salvar” a TV Cultura – e incitado a prisão que terminou com o assassinato de Herzog – Marin mais uma vez discursava na Assembléia Legislativa de São Paulo.
E novamente, o deputado reclamava. Não sobre os vermelhos. Dessa vez, estava aborrecido com a falta de reconhecimento público a Sérgio Fleury, o delegado. Um homem que recentemente tinha emboscado e matado os guerrilheiros corajosos o bastante para enfrentar a ditadura.
Isso foi tirado da gravação oficial do discurso de Marin: “Aqueles que o conhecem de perto, sabem que ele é um chefe de família exemplar, mas, mais do que tudo, ele cumpre seus deveres como policial da maneira mais louvável possível”.
“Não conseguimos entender como um policial desse calibre, um homem que dedicou sua vida inteiramente ao combate do crime, um homem que muitas vezes pôs em risco não apenas a sua vida mas a de seus familiares não está recebendo o reconhecimento que merece”.
“Conhecendo seu caráter como eu conheço, não há dúvida de que Sérgio Fleury ama sua profissão; de que Sergio Fleury se dedica ao máximo, sem medir esforços nem sacrifícios para honrar não apenas a polícia de São Paulo, mas acima de tudo seu título de delegado de polícia. Ele deveria ser uma fonte de orgulho para a população de nossa cidade”.
“Por isso, senhor relator, na certeza de refletir o pensamento dos moradores de São Paulo, queremos expressar o orgulho que sentimos por ter em nossa polícia o delegado Sérgio Fleury”.
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St Helier, Jersey,17 de novembro de 2012: Antigo amigo dos militares, ainda amigo de José Maria Marin e ainda procurado pela Interpol por lavagem de dinheiro, Paulo Maluf dá risada diante da decisão judicial de que ele é um ladrão que desviou 10,5 milhões de dólares da obra de uma estrada em São Paulo.
Por que ele deveria se importar? Tem 81 anos agora, o governo nunca conseguirá o dinheiro de volta enquanto ele estiver vivo nem conseguirá obter provas suficientes para recuperar os estimados 1,7 bilhões de dólares desviados por ele no decorrer de anos.
Maluf se aproximou dos cofres públicos pela primeira vez quando os generais o nomearam prefeito de São Paulo em 1969. Três anos depois ascendeu ao governo do estado de São Paulo, fez de José Maria Marin seu deputado, e lhe passou as chaves do tesouro estadual em 1982.
O acontecimento mais memorável durante os dez meses de governo de Marin em São Paulo foi ser vaiado na Assembléia Legislativa depois que veio à tona empréstimos suspeitos feitos por um banco federal. Os amigos o indicaram para dirigir a seção São Paulo da CBF.
O desempenho de Marin foi suficiente para impressionar Ricardo Teixeira que o nomeou vice-presidente da CBF em 2008. Quando as revelações que fiz a respeito das propinas de Teixeira o forçaram a sair da FIFA e da CBF, Marin era o substituto conveniente. Ele havia provado que compartilhava dos pontos de vista de Teixeira sobre o futebol; se pode ser roubado, roube. Marin foi flagrado na TV afanando uma medalha do campeonato juvenil.
Três meses depois, o brilhante jornalista esportivo Juca Kfouri desenterrou o discurso de Marin na Assembléia em outubro de 1975, denegrindo Vlado Herzog. Juca culpou Marin pela prisão e morte do journalista. Juca também apresentou aos leitores o discurso inacreditáve de Marin elogiando o torturador Sérgio Fleury.
Um jornalista de São Paulo, que acompanha a carreira de Marin, diz, “Marin não é nem um rato, é um camondongo”.
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São Paulo, domingo, 11 de Novembro de 2012: Um grupo de manifestantes está na frente da casa de José Maria Marin, nos Jardins. Carregando faixas, tambores, tamborins, microfones e um carro de som, os que protestam cantam músicas compostas especialmente compostas para a ocasião. Uma delas pergunta: “Olha a ficha suja do Marin, será que ele é? Será que ele é? Será que ele é dedo-duro?”
Entre eles está Adriano Diogo, do PT, 63 anos que também foi preso e torturado pela OBAN em 1971 e ficou na cadeia alguns anos.
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São Paulo, Quinta-feira, 27 de Novembro de 2012: Adriano Diogo está discursando novamente mas agora como parte de seu trabalho cotidiano. Ele é deputado da Assembléia Legislativa de São Paulo como era José Maria Marin 37 anos antes quando ele atacou a TV Cultura.
“Senhores e senhoras, primeiro eu quero congratular-me com essa nova geração que faz escrachos (nomeando e envergonhando) na porta dos torturadores pela ideia brilhante de ir à casa de José Maria Marin”.
“O senhor José Maria Marin, o delator da ditadura, é responsável pela prisão e assassinato de Vladimir Herzog.” said Diogo. “Ele tem as mãos sujas de sangue, não pode ser o president da CBF.”
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Quarta-feira, 23 de janeiro de 2013: Mensagem oficial. “A Comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) vai investigar a responsabilidade do Estado pela morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975, durante a ditadura militar (1964-1985).
“De acordo com a petição, o Brasil não cumpriu ainda sua obrigação de investigar, perseguir e punir os responsáveis pela morte de Vladimir Herzog.
“O caso Herzog ilustra o fracasso do judiciário durante a ditadura militar brasileira e na democracia”, diz Viviana Krsticevic, diretora executiva do Center for Justice and International Law, sediado em Washington, que veio ao Brasil anunciar a aceitação da petição.
“Queremos saber quem é responsável pelo que aconteceu com o meu pai”, diz Ivo Herzog.
Ninguém vai chamar José Maria Marin para testemunhar? Ele ignorou o convite para comparecer ao encontro do Comitê de Esporte e Turismo em Brasília, deixando o gol livre para Romario.
Port Louis, Maurício, 30 de maio de 2013: Será o início do 63o Congresso da FIFA’s; espera-se dos delegados que endossem as “reformas” do presidente Sepp Blatter. Será que José Maria Marin do Brasil será o único acusado de cumplicidade em um crime de assassinato?
O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
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A pergunta atual é: O que aconteceu na ditatura foi somente culpa do contexto político da época e devemos culpar nossa história, ou não podemos deixar apenas para os livros e devemos, hoje trinta anos depois, investigar e punir aqueles que participaram, mandaram, executaram, torturaram. Lembrando que são muitas pessoas envolvidas dentre policiais, militares, políticos que hoje podem estar aposentados em casa ou presidindo a CBF.
Comunicado da CBF 15.03.2013 às 11h17
Líder do PTB encaminha moção de apoio a Marin
Assessoria CBF
De acordo com Campos Machado, está em curso uma “maquiavélica orquestração para denegrir a imagem, a honra, a história política e o passado de glórias do jogador de futebol, do vereador, do deputado estadual, do presidente da Federação Paulista de Futebol, do governador do Estado e agora presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin”.
O líder petebista classificou como uma “vergonha, para não dizer um ato vil e covarde, querer associar a morte do jornalista Vladimir Herzog, diretor à época da TV Cultura, ao ex-governador Marin, simplesmente por ele ter feito um apelo, em um aparte ao pronunciamento do deputado Wadih Helú, em 1975, na tribuna da Assembleia Legislativa, para que o Governo do Estado pudesse investigar supostas denúncias, levantadas pela imprensa, de que aquela emissora estatal não estava noticiando e divulgando conquistas do Executivo em favor da população carente, e obras públicas de relevo, mostrando apenas a miséria e os problemas enfrentados pelos menos favorecidos”.
A Moção de apoio a Marin foi protocolada na Assembleia horas antes da visita do presidente da CBF ao presidente do Parlamento Paulista, deputado Barros Munhoz. O documento de apoio segue agora para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Casa) para aprovação em caráter conclusivo.
Na quarta-feira, 13 de março, o site da CBF estampou artigo pondo fim à absurda acusação de que Marin teria dado apoio à ditadura militar na perseguição aos dissidentes. Sob o título de “Desmascarando uma falsidade”, o texto da CBF qualifica a campanha como “torpe” e baseada “em mentiras e deturpações”.
Para Marin, a publicação do editorial foi necessária porque o assunto, baseado numa mentira, estava gerando “intranquilidade e comentários”.
Veja, a seguir, a moção de apoio a Marin:
“A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO manifesta, aos Excelentíssimos Senhores Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, assim como aos demais ilustres membros daquelas Casas Legislativas, incondicional apoio e solidariedade ao Senhor José Maria Marin, Presidente da Confederação Brasileira de Futebol - CBF, contra a total falsidade de declarações, atribuídas àquela autoridade, no episódio envolvendo a morte do jornalista Vladimir Herzog.”
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