Postado em 24/08/2017 - Fonte: DCI - SP - Por: Paula Salati
Remessa de lucro e dividendos do País para o exterior expande 14% até julho
Nos sete primeiros meses do ano, o montante remetido das filiais às matrizes chegou a US$ 10,8 bilhões; balanço das companhias, dólar e investimento nacional fraco influenciaram o resultado
São Paulo - A remessa de lucros e dividendos de empresas instaladas no Brasil às suas matrizes no exterior avançou 14,1% entre janeiro a julho deste ano, para US$ 10,833 bilhões, contra igual período de 2016.
Somente no mês de julho, o crescimento nas emissões foi de 28,8%, alcançando soma de US$ 2,077 bilhões, mostram dados do Banco Central (BC), divulgados ontem no relatório do setor externo referente a julho.
O professor de economia da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodolfo Olivo avalia que a expansão das remessas de lucros e dividendos por parte das multinacionais se explica pela melhora em seus balanços durante o segundo trimestre e pelo menor patamar do dólar em relação ao real neste ano, comparado a 2016.
"O dado de julho reflete um resultado mais positivo do balanço das empresas no segundo trimestre com relação ao primeiro. Com a recuperação da economia, ainda que lenta, o fluxo de caixa das companhias melhorou e elas passaram a ficar menos receosas de remeterem lucros", considera Olivo.
Ele pontua que o montante das amortizações de empréstimos de curto prazo das filiais instaladas no Brasil às matrizes no exterior também teve expansão no acumulado do ano até julho (+46%, para US$ 12,1 bilhões), reforçando o cenário de alívio de caixa das companhias.
"Outra coisa que não podemos desprezar é que o dólar vem recuando na média. Depois do susto político em maio, a moeda norte-americana chegou a subir, mas voltou para casa dos R$ 3,10, R$ 3,15", afirma Olivo. Diante desse cenário, as empresas precisam, agora, de menos reais para comprarem dólares do necessitavam no ano passado.
No dia 1º de agosto de 2016, por exemplo, o dólar comercial havia fechado em R$ 3,35, ao passo que no mesmo dia de 2017, chegou a R$ 3,13.
Já na análise do professor de economia e Finanças do Ibmec/RJ Ricardo Macedo, o aumento das emissões de lucros e dividendos reflete o cenário restritivo dos investimentos no Brasil. "As remessas estão crescendo, principalmente entre as empresas industriais e de serviços, por conta da própria dinâmica atual da economia do País: nossa atividade está parada, ninguém está investindo", ressalta o professor.
"As empresas estão preferindo enviar os seus lucros para as matrizes do que expandir as suas plantas no Brasil, aguardando um momento mais favorável para voltarem a investir", complementa Macedo.
Para ele, um retorno mais expressivo desses aportes ainda não está claro. Além das incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência Social, as eleições presidenciais de 2018 ainda colocam um ponto de interrogação no futuro da política econômica. "Todo esse processo retarda a retomada dos investimentos", conclui o especialista do Ibmec.
Consolidado
Dados do BC mostram ainda que, depois do superávit de US$ 1,330 bilhão em junho, o resultado das transações correntes ficou no negativo em US$ 3,404 bilhões em julho. Foi o primeiro déficit depois de quatro meses consecutivos de superávits. O BC projetava rombo de US$ 5,6 bilhões para o mês passado.
"O déficit em conta em julho foi causado por um fator sazonal, que é o pagamento de juros. Foram pagos US$ 4,5 bilhões em juros em julho, mas isso não se repetirá em agosto", disse o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Renato Baldini. Ainda assim, ele pontuou que o déficit em conta em julho foi o menor para o mês desde 2009.
Baldini disse também que o principal destaque do setor externo brasileiro segue sendo a balança comercial. Em julho, o saldo foi positivo em US$ 6,056 bilhões, o maior para o mês da série histórica do BC.
Baldini afirmou que a projeção da instituição para a conta corrente em agosto é de déficit de US$ 1,2 bilhão. Já no caso do Investimento Direto no País (IDP), a projeção para o mês é de US$ 6,5 bilhões. Em agosto, até o dia 21, já ocorreram entradas de US$ 4,7 bilhões.
Na conta de viagens internacionais, as saídas líquidas do País até o dia 21 de agosto somam US$ 909 milhões, resultado de despesas de brasileiros no exterior de US$ 1,199 bilhão e de gastos de estrangeiros no Brasil de US$ 290 milhões.
Baldini informou ainda que, na conta de juros, houve saída de US$ 511 milhões do País em agosto, até o dia 21. Na rubrica de lucros, houve remessas de US$ 696 milhões no mesmo período. Já o investimento em ações até o dia 21, está positivo em US$ 1,5 bilhão. No caso da renda fixa, está negativo em US$ 424 milhões. A estimativa do Banco Central para a dívida externa brasileira em julho é de US$ 306,059 bilhões.