Minhas 20 músicas favoritas do
Makely Ka .
Makely Ka .
A outra cidade
Uma Confábula
Cavalo motor
Mira
Cerebro na cuba
Soroco
Cantango
Autófago
Efeito Continuo
Não se meta
Codigo aberto
Solaris
Fio Desencapado
Famigerado
Mesmo quando não
Eu não
Fogo água papel
Letra de Música
Menina ilha dos olhos d`agua
Astronauta Neandertal
Makely Ka
Oficial: http://makelyka.com.br
Last FM: http://www.lastfm.com.br/music/Makely+Ka
Facebook: http://www.facebook.com/makely.ka.108
Twitter: http://twitter.com/makelyka
Youtube:http://www.youtube.com/user/makelyka/
Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Makely_Ka
DicionárioMPB: http://www.dicionariompb.com.br/makely-ka/obra
Blog Autófago: http://autofago.blogspot.com.br/
Outras Postagens do Blog sobre o Reciclo Geral:
Geração Reciclo
O Reciclo é 10
Makely nasceu em Valença do Piauí no ano de 1975. Primeiro de cinco irmãos, mestiço de árabe, negro, índio e português, filho de mãe mineira e pai nordestino, com menos de três anos foi com a família para o interior de Minas Gerais, onde viveu até o início da adolescência. Na metalúrgica Barão de Cocais começou a se interessar pela música, ouvindo através do pai os aboios e as histórias de vaqueiros e aprendendo os primeiros acordes de violão com o tio. Foi através do tio materno que estabeleceu também os primeiros contatos com outras linguagens artísticas como a pintura, o desenho, a escultura e, principalmente, a literatura: filosofia e textos sagrados. Nietzsche, o Mahabarata, Freud, o Ptah-Hotep, Marx, a Bíblia. Nessa fase leu também muito quadrinho da gibiteca fabulosa do tio.
Seguiu para Belo Horizonte antes de completar os 15 anos para cursar Eletrônica Industrial no CEFET, antiga Escola Técnica. Na capital do estado começou a freqüentar o circuito alternativo, acompanhando os shows e eventos culturais da cidade. Começou a ler poesia e mergulhou de cabeça na Beat Generation. Nesse período descobriu também o prazer das viagens, aproveitando os finais de semana e feriados prolongados para conhecer as diversas regiões do estado, sempre de carona, no melhor estilo On the Road. Foi também a época da primeira Bienal de Poesia e dos primeiros grandes shows com o BH Rock Independente na Praça da Estação.
Terminou o curso técnico e foi fazer estágio na Cia. Vale do Rio Doce, onde trabalhou por quase dois anos na área de automação industrial e telecomunicações. Nesse período morou em Mariana e começou a freqüentar o Festival de Inverno da UFMG, que acontecia em Ouro Preto. Conhece o poeta marginal e performer Renato Negrão. Vem dessa época o interesse pelos movimentos de vanguarda do início do século XX. Dos poetas beats chega a Blake, Rimbaud e Lautréamont.
Saiu da Vale para prestar vestibular, iniciando um curso de Geologia e outro de Física, até optar pela Filosofia, ao mesmo tempo em que se aproxima do teatro e da performance. Realizou também nesse período vários vídeos experimentais e montou uma rádio livre que transmitia clandestinamente de um casarão histórico no centro de Ouro Preto. A abertura de um dos programas semanais era feita ritualísticamente com a leitura do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade. Nessa época era um discípulo aplicado dos concretos e ouvia muito punk rock e música eletro-acústica. Assiste a um show solo do compositor baiano Tom Zé, na Casa da Ópera de Ouro Preto, que definiria sua opção artística dali em diante.
Durante o curso de filosofia aprofunda seu interesse pelo estudo de mitologia grega e desenvolve a pesquisa de Iniciação Científica “Da Grécia Arcaica ao Sertão Mineiro” através do CNPq, onde faz um estudo comparativo entre a obra de Homero e Guimarães Rosa. Começa a estudar grego antigo. Nesse mesmo período se envolve com política estudantil e funda o Centro acadêmico do curso de Filosofia, realizando diversos saraus e incitando greves na Universidade Federal de Ouro Preto.
Em 2008 lança seu primeiro livro de poemas, “Objeto Livro”. O caráter inovador e iconoclasta do livro rende uma calorosa acolhida no meio cultural e as primeiras críticas na imprensa. Participa de diversos saraus e eventos culturais. No mesmo ano de lançamento de seu primeiro livro parte numa viagem pelo Norte e Nordeste do país. Leva na bagagem seu violão , duas dúzias de canções e quase nenhum dinheiro. Volta quase seis meses depois mais moreno e com saudades do Brasil. Depois dessa viagem decide fazer uma imersão na obra dos grandes intérpretes do Brasil e destrincha “Casa Grande e Senzala”, “Raízes do Brasil” e “Os Sertões”.
Pede transferência para a Universidade Federal de Minas Gerais e se muda novamente para Belo Horizonte. Na capital começa a trabalhar como assistente de direção do videoartista Chico de Paula, seu antigo professor nas oficinas dos Festivais de Inverno em Ouro Preto. Nessa época pensava em se tornar videoartista mas depois de um show do compositor Itamar Assumpção decide viver de música. Monta em seguida uma banda para executar suas canções e se apresenta em diversas cidades do interior do estado. O grupo, que chegou a ter 11 integrantes, entre eles o DJ e produtor musical Lucas Miranda, mais conhecido como Osciloide, as percussionistas Alcione Oliveira e Daniela Ramos e a cantora Sílvia Gommes, alternava performances musicais e poéticas com grandes doses de improvisação e experimentalismo. Foi o período em que mergulhou no cubo-futurismo russo e incorporou o Ka ao seu nome em homenagem ao poeta Velimir Khlébnikov.
No bairro Paraíso, zona leste de Belo Horizonte, divide uma casa com outros artistas em início de carreira, entre eles o poeta Renato Negrão, o cineasta Sérgio Borges, o músico Kristoff Silva, a atriz Eva Queiróz e o performer Daniel Costa. O espaço se torna uma referência na cidade, virando palco de shows, performances, instalações e eventos por quase dois anos. Nesse período inicia uma parceria musical com a cantora Cristina Brasil e conhece o escritor e compositor Jorge Mautner e os poetas Chacal e Nicolas Behr.
Realiza em 1999 o “Tributo a Paulo Leminski” que conta com a presença dos poetas Alice Ruiz, Carlos e Afonso Ávila. Na ocasião conhece Estrela Leminski, que se tornaria sua parceira.
Conhece a cantora Maísa Moura com quem inicia uma longa e frutífera parceria musical. Ao seu lado parte em turnê pelo Nordeste, levando um disco demonstrativo na bagagem. O convívio desperta seu interesse pela Antropologia, que marcaria uma mudança radical na sua concepção artística no futuro.
Nesse período dá aulas de literatura e filosofia em cursos pré-vestibulares e coordena atividades culturais na Casa do Movimento Popular de Contagem. Apresenta ainda um programa semanal na Abóboras FM, rádio comunitária da região metropolitana de Belo Horizonte.
De volta a Belo Horizonte inicia as articulações para a realização do Reciclo Geral – Mostra de Composições Inéditas. O evento faz história e se torna um marco na trajetória recente da música mineira. Nesse mesmo ano inicia a parceria musical com os compositores Kristoff Silva e Pablo Castro, que resultariam na gravação do disco-manifesto “A Outra Cidade”. O disco é considerado pela crítica um dos melhores lançamentos do ano e frequentemente é citado como um dos trabalhos de referência da música produzida em Minas nos últimos tempos.
Nessa época o curso de filosofia já agonizava e o golpe de misericórdia foi uma turnê pelo interior de São Paulo, impossibilitando definitivamente a conciliação da carreira artística com as atividades acadêmicas. Decide definitivamente se tornar um não-especialista e estudar somente e tudo aquilo que o interessa.
Cria a Selo Editorial e publica mais de vinte livros de poemas, contos, ensaios e memórias de diversos escritores.
A cantora Alda Rezende grava e lança em 2001 suas primeiras canções no álbum “Samba Solto”. São três composições, inclusive a que dá nome ao disco. A partir daí seria gravado por outras dezenas de intérpretes como Titane, Noriko Yamamoto, Ná Ozzetti, Carol Saboya, Aline Calixto, Regina Spósito, Mariana Nunes, Leopoldina, Júlia Ribas, Elisa Paraíso, Flavia Enne, Ana Paula da Silva, Carol Ladeira, Dani Gurgel, Juliana Perdigão, Paula Santoro, Irene Bertachinni e Laura Lopes entre outras.
Publica em 2003 seu segundo livro de poemas, Ego Excêntrico, acompanhado do CD Poemas de Ouvido. O livro é lançado em Belo Horizonte durante três dias de debates, shows e apresentações. Nesse período já conta com diversos artigos e poemas publicados em jornais e revistas do país.
Assume nesse mesmo ano a direção musical da casa de shows Reciclo Asmare Cultural, onde realiza diversos projetos.
Lança em 2006 o álbum Danaide, ao lado da cantora Maisa Moura, somente com suas canções. Com o disco realizam uma série de shows em Curitiba, São Paulo, Salvador, Recife e Fortaleza. O álbum é reconhecido pelo público e pela crítica como um dos trabalhos mais originais da cena mineira.
Começa a ser requisitado por outros músicos e inicia parcerias com diversos compositores. Entre eles Chico Saraiva, Mário Sève, Flávio Henrique, André Mehmari, Estrela Leminski, Natan Marques, Marku Ribas, Ná Ozzetti, Pedro Carneiro, Chico Amaral e Benji Kaplan entre outros.
Ainda em 2006, em enquete realizada pelo jornal Estado de Minas é eleito o letrista mais representativo da sua geração.
Ao lado do parceiro Bruno Brum começa a editar um periódico de poesia, a Revista de Autofagia, que trás referência explícita à publicação modernista editada na década de 20 por Oswald de Andrade.
Faz a direção artística e a curadoria do Expresso Melodia, um projeto da Fundação Clóvis Salgado que circula pelo interior do estado de Minas realizando shows num caminhão-palco. Percorre durante seis meses mais de quarenta cidades.
Começa a se envolver com as discussões sobre políticas públicas para a cultura e é eleito representante do estado para as Câmaras Setoriais do Ministério da Cultura no início da gestão de Gilberto Gil. Nesse mesmo ano de 2005 participa da fundação do Fórum Nacional da Música com representantes de 17 estados brasileiros.
Funda em 2007 a COMUM – Cooperativa da Música de Minas e atua como presidente por quatro anos. Viaja o país inteiro levando o germe do cooperativismo e da contra-indústria, ajudando a implantar cooperativas na Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Pará, Acre e Espírito Santo.
Primeira viagem à Europa nesse mesmo ano, quando conhece as casas de Fado em Lisboa e as tabernas de Flamenco em Sevilha. Entra em contato com os galegos, no norte da Espanha, que se tornariam parceiros e alimentariam seu interesse pelos trovadores medievais.
Lança Autófago, seu primeiro disco solo produzido pelo parceiro Renato Villaça em 2008 e realiza shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Fortaleza e excursiona pela primeira vez por Portugal. O disco com pegada roqueira, ritmos nordestinos e discurso afiado traz trechos de depoimentos de Glauber Rocha, Sub-comandante Marcos e Maiakóvski, entre outros.
Participa da criação do Fórum da Música de Minas e atua como articulador político e gestor da ação internacional. Participa de atividades em Nova York, Copenhague, Sevilha, Pontevedra, Bogotá, Buenos Aires e Barcelona entre outras cidades.
Em 2011 desenvolve um aplicativo para móbiles e realiza uma turnê nacional de lançamento com shows em Salvador, Maceió, Natal, Recife, Rio Branco, Cuiabá, São Paulo e Rio de Janeiro. Faz shows também na Cidade do México, além de Copenhague e Lisboa.
Em 2012 realiza a expedição “Cavalo Motor pelo Grande Sertão”, quando percorre de bicicleta os caminhos do personagem Riobaldo Tatarana no romance “Grande Sertão: Veredas”, do escritor João Guimarães Rosa, para registrar em gravações de áudio, vídeo e fotos as paisagens sonoras e visuais que vão integrar o disco e o show Cavalo Motor. O percurso compreendeu 1.680 Km e pôde ser acompanhado em tempo real através de ferramentas de geolocalização espacial no seu site.
Neste mesmo ano é eleito representante do setor musical para o Conselho Estadual de Cultura do Estado Minas Gerais.
É também um dos selecionados para se apresentar na edição 2012 da WOMEX – World Music Expo, a maior feira de música independente do mundo, realizada em Tessalônica na Grécia.
Em 2013 recebe o patrocínio da Natura Musical para finalizar seu novo disco e realizar uma série de shows de lançamento. Realiza também nesse ano uma turnê com diversos concertos na Lituânia (Vilnius e Kaunas) e Grécia (Ilha de Creta), com grande sucesso de público e da crítica. Inaugura uma exposição com fotos, mapas e vídeos no Museu Casa Guimarães Rosa em Cordisburgo que está aberta para visitação.
Prepara um disco de poesia sonora e um livro infantil a serem lançados no próximo ano.
Entrevista para o jornalista Pedro Alexandre Sanches
Quase dá vontade de pensar no “Zé do Caroço” de Leci Brandão, “está nascendo um novo líder/ no Morro do Pau da Bandeira”. Mas estamos aqui mais no território dos filhotes de Gilberto Gil – do Gil tropicalista de quatro décadas atrás e do Gil ministro do Min(im)istério da Cultura de oito ou menos anos atrás.
Agora
mesmo, enquanto a gente pisca o olho, está nascendo um novo tipo de
artista da música, em vários cantos do Brasil. A velha indústria
desmoronou, um disco não vale mais um tostão etc. e tal. O mineiro
nascido no Piauí Makely Ka é um entre dezenas, centenas, se não
milhares e milhões, de zés do caroço da música brasileira dos anos
2000. Eles crescem em muitos morros do pau da bandeira, e talvez você e
eu nem tenhamos os notado ainda, principalmente se estivermos
ocupados demais resmungando de “como anda parada a música brasileira”
ou de que “já não se fazem mais chicos e caetanos como antigamente”.
Você
terá de acreditar em mim para continuar neste texto e acompanhar a
entrevista relativamente longa que se segue. Mesmo que nunca tenha
ouvido falar de Makely Ka. Mesmo
que não entenda por que um paulistano nascido no Paraná vai parar no
Acre entrevistando um mineiro que nasceu no Piauí, para que ele fale de
sua música (que música?) e de sua atuação política (hein?, atuação
política?).
Lado a lado com a Cooperativa da Música do Acre, Makely é um dos organizadores do I Seminário Nacional de Cooperativismo Musical,
que acontece aqui em Rio Branco. Presidente da Cooperativa de Música
de Minas Gerais, ajuda a reunir zés do caroço como ele, que antes
viviam invisíveis em seus respectivos paus de bandeira. A prática (não
se trata uma teoria), em tudo oposta às das antigas gravadoras de
discos e editoras de “direitos”, aposta num desenvolvimento
colaborativo – e não competitivo – de cada um de seus mais de 300
associados. Makely afirma, alto e bom som, que deve muito do despertar
disso que poderíamos chamar de artista-cidadão à semeadura inaugurada
por Gilberto Gil à frente do MinC.
Evidentemente,
não estamos aqui para falar de política (estamos?). Eu conhecia os
discos de Makely e seus parceiros em Minas, mas os ouvia talvez com
aquela cara tipicamente paulista de muxoxo, meio de bode com o que me
parecia, à distância, mais alguma safra indigesta de MPB universitária
(como se MPB já não fosse universitária desde o berço…).
Aqui,
além de debates e discussões que não param o dia inteiro, pude
assistir a um show do artista no lindo Cine Teatro Recreio. Além do
discurso literário-musical espirituoso (e da militância
político-musical, que eu também conhecia de longe), me vi transportado –
pelos violões (e viola caipira), pelas sonoridades mouras, africanas e
nordestinas, por certas letras que cutucam um diálogo com os muitos
Brasis que o Brazil com Z não conhece – a uma das escolas mais
vigorosas de música brasileira e mineira.
Não,
não estou falando do clube da esquina, mas sim de um saber musical
que, por falta de nome, batizo por um instante de escola Bosco-Blanc,
escola mineira-carioca dentro da qual cabe bem mais que um país. Os
espectros do João Bosco e do Aldir Blanc, principalmente
daquele samba-MPB popularíssimo das décadas de 1970 e 1980, habitaram
nessa noite o teatro de madeira da capital do estado natal de João Donato.
No
show, houve rap, e ciranda, e martelo, e aboio, e (sim) MPB, e moda
de viola, tudo na cadência bonita dos (não-)sambas dos zés do caroço. E
houve “Código Aberto” (o título já diz muito), que integra e atualiza
o “tudo é perigoso/ tudo é divino, maravilhoso” do ex-ministro
tropicalista em “sei que viver é perigoso/ nunca houve uma época segura/
o perigo também é prazeroso”.
Mais
uma vez, tenho a pedir, qual um jornalista-político, seu voto de
confiança para estar atento e forte para as palavras e histórias que
vêm abaixo – até sobre uma história pouco popular na “grande” mídia,
sobre um tal manifesto do cantor e compositor Sérgio Ricardo (aquele que quebrou o violão em 1967) que Chico Buarque a princípio subscreveu e depois voltou a trás, supostamente a “pedido” da irmã hoje chefe do minimistério da (contra)cultura, Ana de Hollanda.
Ainda
que nunca tenha ouvido falar de Makely Ka, aí abaixo vai um resumo de
assuntos presentes, essenciais para todos nós que gostamos de música
etc., e a história dos melhores anos de nossas vidas, estes nos quais
os brasileiros temos aprendido a nos portar como adultos e a gostar de
nós mesmos como somos, não como outros (não) gostariam que nós (não)
fôssemos. A nova música brasileira está viva e pujante no coreto da
praça, mas é preciso ter olhos e ouvidos bem abertos para não ficar
apenas esperando ela passar, carolina ou lindoneia, pela janela imóvel.
Pedro Alexandre Sanches: De onde vem seu nome? É verdadeiro?
Makely Ka:
É, meus pais criaram os nomes. Eu sou o mais velho, Makely, aí vêm
Makeline, Makênia, Maken e Makeber. Quando os irmãos nasciam, eu e
minha irmã fazíamos as listas e íamos pro hospital pra minha mãe
escolher. Eles falam que foi um filme que eles viram, mas dizem que
isso é uma mania de famílias nordestinas. O Ka eu incorporei, é uma
homenagem a um poeta russo, Klebnikov, que tem um livro chamado Ka, que inspirou os futuristas.
PAS: Qual é o sobrenome verdadeiro?
MK: É Oliveira Soares Gomes.
PAS: Você nasceu no Piauí?
MK: Nasci
em Valência do Piauí, no sudeste do estado, a 300 quilômetros de
Teresina. Meu pai é do Piauí, foi trabalhar em Brasília, como operário.
Foi transferido pra Belo Horizonte, e de lá, visitando o interior do
estado, conheceu a minha mãe, que é de Barão de Cocais, próximo ao
Parque do Caraça. Casaram e foram pro Piauí, depois voltaram, e eu fui
criado a partir dos 3 anos em Minas. Depois descobri que eles voltaram
pro Piauí porque minha mãe se casou grávida, e minha avó materna,
beata, não podia saber. Eles ficaram escondidos numa fazenda, pra
anunciar que eu tinha nascido três meses depois, pra dar o tempo.
Minha irmã foi registrada um mês depois, porque ela tem uma diferença de 11 meses de mim, não daria tempo. Essa fraude durou até recentemente (risos).
Minha irmã foi registrada um mês depois, porque ela tem uma diferença de 11 meses de mim, não daria tempo. Essa fraude durou até recentemente (risos).
PAS: Você sabia seu aniversário errado?
MK:
A vida inteira era errado. Com 20 e poucos anos a gente descobriu.
Minha irmã fez o mapa astral e não batia nada, ela falou: tem alguma
coisa errada.
PAS: Sua avó está viva? O que ela achou o que ao saber?
MK: Está viva. Ela não sabe ainda (risos).
PAS: Ela não deve ler FAROFAFÁ…
MK: (Risos)
Tenho dois aniversários. O real é 26 de junho – gosto muito dessa
data, é a data do Gil, e descobri que ele fez uma música no dia que eu
nasci. E tem a outra data, que é 26 de setembro, comemoro as duas.
PAS: Sobre etnia, vejo que você é misturado, mas não sei de quê.
MK:
É, tem um pouco de árabe, negro, índio e português. Quando vou pra
Europa, na Espanha, eles me consideram árabe. Aliás, a única vez que
senti algum preconceito foi lá. Eu estava no metrô em Madri, com uma
mochila pesada, e tinha um banco com um árabe caracterizado, e ninguém
sentava com ele. Eu estava pesado, fui sentar do lado, ele fez um
gesto de gratidão, e todo mundo ficou me olhando, todo mundo se
afastou, ninguém chegou perto. Eu nunca tinha sentido isso.
PAS: Como e por que a música entra na jogada?
MK:
A família do meu pai é uma família de vaqueiros, que têm uma tradição
de aboio. Tenho essa relação muito forte com a música nordestina e o
aboio por essa tradição familiar. E da parte da minha mãe tenho um tio
que tinha uma escolinha de violão, e eu aprendi com ele. A gente
tinha uma formação de música brasileira, a gente aprendia a tocar as
músicas, mas no colégio, nos anos 1980, não podia tocar música
brasileira. Era considerado cafona, brega. Mas eram as músicas que a
gente aprendia, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque.
PAS: Levava vaia se tocava?
MK: A gente nem tocava, já tinha uma pré-censura. Na adolescência, eu ouvia rock’n'roll, camisa preta, teve aquela negação.
PAS: Você foi pego ali, no manguebit? Qual é sua idade?
MK: Eu tenho 36, ou 35 pela outra data (risos).
O manguebit possibilitou um desenvolvimento de carreira de novo,
fazendo música brasileira, sem estar ligado a um nicho tão específico.
PAS: O show que vi ontem (quinta-feira)
é brasilidades de todos os lados… Mas você está dizendo que já foi
roqueiro de camisa preta. Você teve que fazer algum tipo de ruptura?
MK: É,
no início dos anos 1990, aquele momento do grunge, a gente ainda
estava naquela rebordosa do rock Brasil, e e a música brasileira ainda
não estava tão liberada. Ela nunca deixou de ter prestígio, mas foi
perdendo público, perdendo espaço na imprensa. Nesse sentido acho que o
movimento mangue recupera.
PAS: Mas aí a axé music também, por outro viés.
MK: Também, a axé music, como diz Jorge Mautner,
é uma tradução do tropicalismo, que ela traz pra grande massa. A
importância do manguebit é que ele traz a crítica, traz o intelectual de
novo pra pensar a música brasileira dentro dessa perspectiva. Teve um
período que a gente ficou sem essa crítica, né? É muito significativo
o aval tanto do Ariano Suassuna quanto do Hermano Vianna, que são talvez extremos da coisa da brasilidade, um que recusa tudo e o outro que considera tudo.
PAS: E você foi para a formação musical tradicional?
MK: Não,
eu nunca estudei música, sou analfabeto musical Fiz faculdade de
filosofia, a música foi uma relação que veio da poesia. Comecei em
1998, lançando um livro de poesias, depois comecei a musicar uns textos
e a fazer uns espetáculos de poemas falados, com uma cantora que me
acompanhava, Sílvia Gomes. Entrei nesse universo da música mesmo
depois que estudei em Ouro Preto, fui pra Belo Horizonte e comecei a
atuar. A gente morava numa casa que dividia entre vários artistas,
atores, cineastas. E teve um momento que a gente considera inaugural
dessa nossa cena mineira, belo-horizontina, que foi o Reciclo Geral. Em
2002 a gente montou uma mostra de composições inéditas, que reuniu
mais de 70 músicos, só com novos compositores apresentando só músicas
inéditas. A gente fez no espaço dos catadores de papel, o Reciclo Geral
era uma forma de incorporar a noção de reciclagem que eles estavam
propondo. Tinham acabado de inaugurar esse espaço, faziam o cenário e a
gente propunha uma nova música reciclada, devolvendo tudo que a gente
tinha ouvido.
PAS: Havia
uma comunicação real com os catadores? Em geral classe média faz
música, mas não convive com o pessoal que faz rap, por exemplo.
MK:
Havia, porque o espaço foi criado por eles. A gente fazia oficinas de
música com eles, e eles davam oficina de reciclagem de material pra
gente. Era muito interessante.
PAS: Isso me lembra esse seu rap que você pontua no show, “você me diz que é artista/ artista você não é”…
MK:
Isso foi uma brincadeira com a minha avó, de ela sempre falar: “Mas,
meu filho, você já arrumou emprego?”. E eu: “Mas, vó, eu trabalho com
música”.
PAS: É a mesma avó que não pode saber que sua mãe casou grávida?
MK: É (risos).
“Mas vó, eu trabalho com música.” “Mas eu nunca te vi na televisão,
meu filho.” “Mas vó, a gente aparece na TV Cultura, na TV Minas, a
senhora só assiste Globo e SBT, a gente não vai aparecer no programa do
Faustão nem do Ratinho.” “Meu filho, você fica fazendo
isso, mas arruma um cartão pra bater.” Enfim, aquele foi nosso momento
inaugural, também porque a gente começou a se posicionar como artista
num estado que tem esse peso quase esmagador do clube da esquina.
Naquele momento não tinha interlocução nenhuma com eles. A geração do
pop também não tinha essa interlocução. Hoje, talvez a gente tenha mais
interlocução com o clube que com a geração Skank, Jota Quest e Pato Fu. Com o clube a gente teve interlocução, também porque em 2003 eu e mais dois compositores, Kristoff Silva e Pablo Castro,
lançamos um disco-manifesto claramente inspirado no clube da esquina,
mas também negando ele um pouco, como uma forma de diálogo de
geração.
PAS: Vocês classificaram como um disco-manifesto mesmo? Atualmente todo mundo foge desse rótulo…
MK: É, porque a gente reuniu aquela geração, era programático.
PAS: Qual era o manifesto, resumindo?
MK: A gente propunha “A Outra Cidade”,
porque Belo Horizonte sempre era a cidade que estava fora do
circuito, que não tem uma tradição reconhecida, tanto que todo mundo
foi pra fora pra ser reconhecido lá em Minas.
A gente estava falando de outra cidade, que estava ali e não era cartão postal. A gente fala da rodoviária, dos camelôs, de uma outra relação com a cidade. Belo Horizonte não tem isso que o Rio e São Paulo têm, de os músicos gostarem de falar da cidade. A gente falou: não, a gente tem uma cidade, a gente vive aqui.
A gente estava falando de outra cidade, que estava ali e não era cartão postal. A gente fala da rodoviária, dos camelôs, de uma outra relação com a cidade. Belo Horizonte não tem isso que o Rio e São Paulo têm, de os músicos gostarem de falar da cidade. A gente falou: não, a gente tem uma cidade, a gente vive aqui.
PAS:
De longe, de São Paulo, e sem entender muito nem me interessar muito,
me pareceu mais uma turma de MPB tradicional surgindo. Começo a achar
que estava enganado…
MK: Eu
vinha dessa formação com a poesia, com a música nordestina, e vinha
sendo muito solicitado pra fazer letras. Tem muito pouco letrista
atuando. O Kristoff é um cara que tem formação acadêmica e é uma
referência pra todos os músicos, tem um trabalho de excelência como
cantor, harmonizador, instrumentista, professor da UFMG. E o Pablo é um
cara que vinha da experiência da noite, tinha uma banda cover dos Beatles, mas tocava todo o repertório do clube da esquina, João Bosco, Edu Lobo. Ele falava da música 3 do lado B do disco do Beto Guedes
de 1974, nem os caras lembram mais o que é isso. Eram formações muito
diferentes, e a gente juntou e chamou todo mundo que a gente conhecia
naquele momento pra tocar no disco. Tem faixas que têm a Orquestra Mineira de Rock,
grupos de percussão, quarteto de cordas, cravo… Tinha essa
diversidade, mas basicamente a proposta de trabalhar a harmonia, a
escola harmônica mineira, dentro dessa concepção nova que a gente vinha
trazendo.
PAS: Esse foi o seu primeiro disco?
MK: Foi, mas eu já vinha fazendo um trabalho com a Maísa Moura, a gente lançou um disco juntos, Danaide, em 2006.
Quando fiz Autófago,
em 2008, fiz um disco com uma pegada mais rock’n'roll. Ele veio no
mesmo ano que o Kristoff também lançou o disco dele, com cinco músicas
minhas. A gente tem um diálogo, uma espécie de competição saudável, eu
não podia lançar um disco de MPB no mesmo ano que o Kris estava
lançando um disco. Ele canta e toca muito melhor do que eu. E aí eu
fiz um disco mais político, mais barulhento. Não que fosse um disco
pensado a partir do disco dele, mas depois fui perceber que foi uma
forma de distanciar. Enquanto ele fazia um disco com quarteto de
cordas, eu fiz um disco com duas guitarras sujas, barulhento, com
palavrão, e uma pegada política mais forte. Minas é um estado muito
conservador, é uma forma de provocar. “A Outra Cidade”, que gravei no Autófago,
tem um texto chamado “Linha Branca”, que é uma crítica bem-humorada
até, a uma certa cristalização política no estado de Minas. Tive
problemas com ela, de tocar no jornalismo da TV Minas, ao vivo, e
oferecer ela pro governador.
PAS: Ao governador Aécio Neves? E o que aconteceu?
MK:
Ao Aécio. Aconteceu que sou persona non grata no jornalismo da TV
Minnas, a TV de cultura do estado. Até faço outros programas, mas esse
não, por eles acharem que foi uma falta de respeito… São essas coisas
que incomodam, mas é a nossa função também, né? (Recita o texto, meio em tempo rápido de rap.)
“A cidade não explode, mas não se contém/ ela cada dia tem mais
carros, sem metrô nem trem/ esse trânsito catravo entra em colapso/ um
espaço entre as carcaças convida ao esbarro/ se eu não morro eu me
mato de nervo ou cansaço/ mas não ando a pé aqui no sol, no céu,
mormaço/ eu não reconheço, eu não tenho salvo-conduto e o governador
planeja um novo viaduto/ quem tem grana sai da selva/ a salvo em
condomínio/ quem não tem tem de render o seu salário mínimo/ eu me
pico, eu me capo, eu me regenero e uma puta não é páreo pro meu
aparelho/ eu me culpo, mas escapo de papo Lutero se chuto a santa/
taco fogo em monastério/ queimo o sacripanta, abro conta no
estrangeiro/ e quem é contra eu mando pro chuveiro/ eu sou o único que
presta no país inteiro/ esse é o novo código de conduta do Brasil
real de um neto filha da puta do homem cordial”.
PAS: E você dedicou ao governador?
MK: É.
Aconteceu uma situação curiosa, eu fui tocar em São João del Rey, na
terra do governador. A gente ficou com receio, mas fizemos a música.
Quando estava no camarim, chegou um senhor mais velho, sério, e falou:
“Eu não concordo com aquele texto”. A gente ali no berço, todo mundo
ficou atento, nossa, e agora, o que vai acontecer? “Tudo bem, tem
direito de discordar, mas por que você discorda?” “Porque o avô também
era filha da puta”, era um inimigo político deles. Todo mundo riu.
PAS:
É fato que no governo Aécio existiu um sufocamento, como também em
São Paulo, em que ninguém pode se expressar na “grande” mídia fora dos
domínios do PSDB?
MK: É,
tem, é quase uma paranoia. Independente do governo, ele vai exercer o
poder de autoridade. É a função do artista, da sociedade civil como um
todo, se manifestar.
PAS: É
uma questão importante, porque nos dois estados, Minas e São Paulo, o
PSDB se coloca como o poder civilizado, que não reprime, não censura
quem não está alinhado com as convicções deles. Mas é mentira, um
coronelismo supostamente “civilzado”.
MK:
É, isso é uma questão muito combatida. Por exemplo, a gente não tem
uma força jornalística que se contraponha. São Paulo tem projeção
nacional, se a Folha de S.Paulo coloca uma coisa todo mundo vem e bate. Se O Estado de Minas coloca uma coisa, ninguém bate.
PAS: Mas a Folha nunca coloca nada grave que seja contra o governo do próprio estado.
MK:
É, esse posicionamento não é saudável. Existe esse tensionamento. A
gente, por exemplo, como Fórum de Música de Minas, tem uma parceria com
o governo do estado, o que não impede de artisticamente a gente se
manifestar e ter um posicionamento político contrário. A gente está
discutindo agora a formação do Conselho Estadual de Cultura, e ali a
gente tem uma posição contrária à da secretaria, e isso é saudável. A
gente está em todos os espaços, então não tem essa conversa de que a
gente está fazendo crítica irresponsável. Eu faço a crítica na música,
mas estou lá na audiência pública, na mesa, debatendo essa crítica.
Brasil, anos 2000, parte 2: do sonar ao aboio ao sonar ao aboio ao sonar ao…
Se na primeira parte deste trabalho partimos da música de Makely Ka
e chegamos a política, façamos agora o caminho oposto. A trajetória
que ele aponta, assim como sua ciranda “Roda da Fortuna”, é circular,
pendular – da música à política, dessa de volta à música, à política, à
música, à política.
(E, a
propósito, “Roda da Fortuna” está disponível, ao lado de outras
canções, para audição no aplicativo para celulares que Makely lançou –
ali, ele vai costruindo o disco pouco a pouco, faixa por faixa, a
começar pela capa, que existe antes do disco, mas pode mudar a qualquer
momento.)
PAS: Já
começamos a misturar os assuntos, e eu queria isso mesmo. Você é
artista, mas ao mesmo tempo é presidente da Cooperativa da Música de
Minas (Comum). Por que fazer as duas ao mesmo tempo?
MK:
Esse movimento de organização é muito recente, não tem dez anos que a
música começa a se organizar efetivamente em rede. A gestão do Gilberto Gil
inaugura o Ministério da Cultura (MinC), inaugura a interlocução e de
certa forma imanta o Brasil, aquela coisa do ímã que todas as setas
apontam pra aquela direção. Acho muito salutar a definição do Gil, no
programa dele, o discurso dos pontos massageados, do do-in
antropológico…
PAS: Na época muita gente zombou…
MK: Sim, e é revolucionário. Um dos principais responsáveis por aquele texto é o Antônio Risério,
um antropólogo que acompanho há muito tempo e que, não por acaso, é
também um dos ideólogos do tropicalismo. Por isso considero a gestão do
Gil uma continuidade do tropicalismo. Ali é o braço político que
faltou ao movimento naquele momento. A política sempre esteve dentro
do conteúdo programático do tropicalismo, mas eles não tinham
experiência, nem acesso e nem saco naquele momento pra desenvolver.
Pra mim é lógico, e é uma continuidade natural o Gil ter entrado. O
programa do Gil não era do PT, eu estudei os programas de todos os
presidenciáveis. Não tinha nada parecido com aquilo, acho que nem o
próprio Gil tinha muita dimensão do que ele ia fazer. Mas ele reuniu
algumas pessoas, como Risério, Jorge Mautner, Waly Salomão, Rogério Duarte,
pessoas fundamentais na gestação do tropcalismo pra o ministério. E
chamou a juventude, a galera da cultura digital, pra entrar, pra cair
pra dentro.
PAS: Não deve ser fácil ser do clã Buarque de Hollanda e ter que assumir essa sucessão…
MK: Não,
não. A Ana, se tivesse assumido esse ministério em 2003, não ia ter
problema nenhum, ia ser louvada inclusive. É porque o Gil colocou a
coisa num patamar muito alto. Ele vem com conceitos muito avançados, e
dentro de um processo que já começou 40 anos atrás. Eu me senti muito
instigado quando ele assumiu. Sempre tive esse interesse, mas nunca
tinha me envolvido muito em grêmio, em política estudantil, nunca me
filiei a nenhum partido. Chegamos a puxar greves, mas sempre
individualmente. Mas quando quando eles fizeram o chamamento pra gente
ir participar das Câmaras Setoriais do MinC, eu fui. Foi em 2005. Foi o
primeiro momento que a gente se encontrou em Brasília, 17 estados,
pra discutir políticas públicas.
PAS: E você era um cara que fazia música em Minas e foi porque quis?
MK: Fui porque a gente fez uma reunião com alguns músicos, e eu e o Weber Lopes
fomos indicados pra ir representar o Fórum. A gente já estava
acompanhando as discussões, no Rio e em São Paulo tinham começado um ano
antes. O MinC passou em todos os estados convocando a organização dos
músicos, e eu fui pra Brasília e conheci um universo que… Encontrei
gente do Pará, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul. Os nossos
problemas eram muito parecidos, e a gente não se conhecia. E a gente
fazia basicamente a mesma coisa. É ali que surge a ideia de
autoprodutor. A gente cria, produz, divulga, às vezes a gente mesmo
compra a nossa própria música, então a gente tem que se juntar. Isso
começou a gerar os fóruns, as cooperativas, as associações, que foram
surgindo ali naquele momento. E foram surgindo outras ações paralelas,
que foram engrossando o caldo. O Fora do Eixo é uma ação que a gente
acompanhou desde o início, eu levei o Pablo Capilé pra BH em
2006 ou 2007, mas já tinha feito uma entrevista com ele por messenger
pra uma revista que a gente publica, a Revista de Autofagia, um ou dois
anos antes, quando o Pena Schmidt e o Edson Natale me falaram de uma ação em Cuiabá que tinha impressionado muito eles.
PAS: Você acha que o movimento deles, assim como o de vocês, é filhote do MinC de Gilberto Gil?
MK:
Sem dúvida, começa nesse processo, ou pelo menos coincide. Mas não é
uma coincidência gratuita. Nunca a gente tinha imaginado uma
construção coletiva de um Plano Nacional da Cultura, pensar os
próximos dez anos de investimentos pra área. Eu gosto de fazer isto em
tempo de eleição: pego um táxi, o taxista tem opinião sobre todas as
áreas e todas as propostas dos governos, pra saúde, educação,
saneamento. De cultura, ninguém tem opinião nenhuma. Porque a indústria
acostumou a gente a entender a cultura como um investimento privado.
Tem artistas, inclusive, que acham ainda hoje absurdo ter investimento
em cultura com dinheiro público.
PAS: Jornalistas denunciam como se fosse crime.
MK:
Eu falo: se fosse construir um hospital você seria contra? Se fosse
pra fazer um tratamento de esgoto seria contra? Não. Por que se for
construir um teatro é contra? Por que investir numa ação na área de
cultura é errado, se isso é um direito constitucional, e se é dever do
estado cuidar disso?
PAS: É como plano de saúde que não quer cobrir atendimento psicológico, como se fosse frufru.
MK:
Exatamente, tanto que isso se reflete nas secretarias de cultura da
grande e esmagadora maioria de prefeituras no país inteiro, não só nos
interiores, nas capitais também. É um cargo de perfumaria.
PAS: Em São Paulo, temos agora Andrea Matarazzo, que é secretário estadual de Cultura, mas não se sabe de uma grande ligação dele com a área.
MK:
Fazem política de eventos, que não é política de cultura – quando não
é política de balcão mesmo. Se for de eventos, menos mal, porque tem
um calendário, mas não é uma política efetiva. Antes do Gil, a gente
tinha uma política de balcão, totalmente entranhada. A recusa da
Ancinav (agência reguladora proposta no início do primeiro governo Lula e amplamente rejeitada como “dirigista” e “stalinista”) reflete isso, o discurso do manifesto do Luiz Carlos Barreto
era exatamente este: vai pulvrizar nosso dinheiro. Meu amigo, vai
pulverizar, sim, vocês não estão sozinhos, o Rio de Janeiro não está
sozinho. O resto país quer fazer, está fazendo, e tem o direito de
acessar esses recursos
PAS: Quando e como surge a Cooperativa da Música de Minas?
MK:
Foi fundada em 2007. Vejo como um desdobramento lá do Reciclo, quando
a gente se juntou, fez uma ação cooperativa sem saber que estava
fazendo. A cooperativa não tem nenhum tipo de restrição, mas, por
contiguidade, o tipo de gente que vai entrando tem esse perfil nosso:
trabalha ou quer viver profissionalmente da música, muitos já têm uma
carreira, um disco, dois discos, têm uma perspectiva de ampliar e criar
circuito. A cooperativa foi uma das principais fomentadoras do
programa Música Minas, que é ação do Fórum da Música, a gente conseguiu
mobilizar um edital de passagens pra mandar músicos pro mundo todo.
Nesses dois anos de programa a gente já mandou mais de cem artistas pra
todos os continentes. A cooperativa hoje tem 300 e poucos filiados.
PAS: Todos músicos?
MK:
Não, músicos, jornalistas, designers, técnicos de som, roadies, todos
da cadeia da música. Pra um jornalista ser filiado, por exemplo, ele
tem que apresentar um clipping de que faz um trabalho de crítica na
área de música. Seria quase um suicídio querer fazer só com músicos,
não funciona. A maior parte dos que trabalham hoje efetivamente do que a
gente chama de núcleo durável são produtores, jornalistas e
pesquisadores. Hoje na diretoria somos só dois músicos. É difícil
conciliar.
PAS: Eu queria
chegar nisso. Você concilia as duas atividades, ambas intensamente.
Muitos artistas dizem “não posso, preciso cuidar da minha arte”…
MK:
Eu tento conciliar. Por exemplo, a gente ajudou a organizar o evento
aqui, e eu não me furtei a apresentar meu show também, porque é o
trabalho que eu faço. Fiz uma turnê pelo Nordeste em maio, e comprei
uma passagem da Giro TAM, um programa da TAM que viabiliza você comprar
uma passagem até o destino final e pingar em algumas cidades, pagando
só um trecho. Com R$ 400, consegui comprar uma passagem pra Natal, e
parei em Salvador, Maceió e Recife. E articulei shows nessas cidades.
Fui sozinho e consegui músicos e participações em cada uma dessas
cidades. A divulgação, a produção e a articulação foram feitas pelos
fóruns e cooperativas, com apoio inclusive do Fora do Eixo na
divulgação. Num edital que a cooperativa lança, não participo, já estou
excluído. Mas, como figura de frente, eu sou a pessoa que estabelece
os contatos. Não sou hipócrita, sou músico, vivo do meu trabalho. Fiz o
lançamento de um aplicativo pequeno, que ainda está em processo de
construção, mas a gente resolveu botar ele durante a turnê, que teve
repercussão na mídia também por esse detalhe. Mas é difícil conciliar.
PAS: É um sacrifício?
MK:
Eu tenho o maior prazer, porque eu não queria fazer outra coisa. Foi
isso que eu escolhi. E a forma de viabilizar a minha carreira passa
por aí. Se a gente não fizer ninguém vai fazer, saca? E eu sei que vou
colher esses frutos também.
PAS:
A impressão que dá é de uma estrutura bem organizada que se construiu
com grande rapidez. Já estão fazendo um congresso de cooperativas.
MK:
É muito rápido porque a gente já tinha um acúmulo de experiência do
fazer. Isso tanto a gente quanto o pessoal do Fora do Eixo tinha muito
claro: nós não queremos estar na grande indústria. Um termo que a
gente costuma usar é contraindústria, no sentido até de recuperar
aquele sentido da contracultura, de uma desobediência civil, um
posicionamento aguerrido. Isso sempre esteve muito claro. A gente não
esá construindo carreira independente pra ser trampolim, pra ser
descoberto. Em Minas, a gente viu gerações se frustrando porque
ficavam esperando Roberto Carlos bater na porta da casa e falar:
“Você é genial, eu vou te gravar”. A gente sempre ficou muito de olho
em dois modelos, Pernambuco e Bahia, porque são dois modelos fora do
eixo, fora da grande indústria.
PAS: De modo concreto, como a sua experiência política repercute no seu ofício, que é fazer música?
MK:
O meu disco anterior tinha uma pegada muito política, explícita.
Inclusive, em algumas situações, teve uma resistência a isso, porque
parecia panfletário. Acho ainda pertinentes as falas que coloquei ali, Subcomandante Marcos, Glauber Rocha, Hugo Chávez.
Mas principalmente a do Chávez teve uma espécie de patrulhamento,
tanto à direita, de me associar diretamente àquela esquerda comunista,
quanto à esquerda, de achar desrespeitoso, porque é uma música que
falo de rimar pau com boceta.
PAS: Como você definiria o trabalho que você mostrou ontem no show?
MK:
O mote do disco tem um sentido político, mas está um pouco mais
diluído. Está um pouco menos na frente. Tenho tentado separar um pouco
as coisas. Não separar no sentido de negar, mas não quero que o palco
seja um palanque pra defesa de uma política que vou defender lá no
colegiado setorial da música. Mas a política está presente de uma forma
até inconsciente.
PAS:
Deixa eu dar um exemplo. Tem viola caipira, e ontem, na circunstância
de faltar o som nela, você teve a chance de dizer que a viola é
discriminada nas cidades grandes.
MK:
Tenho vários amigos violeiros, hoje a viola reverteu isso. Tem o
movimento dos violeiros, acho às vezes até meio chato que a viola tem
que ser do mato. É um instrumento, e você usa ele, e ele pode estar
dentro de uma banda de rock pesado. Mas tem esses pequenos
preconceitos, como teve com a guitarra. São casos inversos, mas
complementares.
PAS: A princípio, a guitarra tinha ganhado, mas agora não dá pra ter tanta certeza assim.
MK:
É, eu tenho uma crítica àquela viola de raiz, já pensei em fazer um
disco só com sons de viola urbana, imitando uma impressora a jato de
tinta (risos), só tirando uma onda dos violeiros. É um instrumento versátil, que se presta a muitas coisas.
PAS:
Noutro momento você diz: “Vou fazer uma ciranda agora, na verdade nem
sei se é uma ciranda”. São elementos de identidade que está usando de
modo livre, não pra reproduzir o que na verdade você não é.
MK:
Nesse disco eu trabalho com muitos motes e ritmos que absorvi, mas
nunca fiz uma oficina de ciranda pra saber, nunca fui estudar ijexá. Me
sinto à vontade pra me apropriar disso da forma como eu entendo.
PAS: Mas você está interessado em fazer isso, podia estar interessado no grunge.
MK: A música “Santeria” eu fiz imaginando que estava fazendo uma rumba, um ritmo caribenho. Aí mostrei pro Guinga, e ele falou: “Isso não é uma rumba, é um galope sergipano” (ri).
No final das contas, a gente já tem essas matrizes todas aqui, e essa
bobagem de dizer que isto é de fora e isto não é de fora… Na verdade,
tudo é de fora, toda a cultura armorial do Ariano Suassuna
veio de fora, foi importada.. Ao mesmo tempo, isso não deixa de ser
nossa. Essa apropriação me interessa muito, e não tenho o menor
constrangimento de pegar uma métrica como o martelo e botar dentro de
uma melodia que não é característica dessa métrica. Ou usar uma melodia
de aboio e botar uma letra que não tenha nada a ver com aquele
universo. Tenho uma referência muito forte com relação a isso, que é o Bráulio Tavares (autor de sucessos de Elba Ramalho e Lenine). Ele faz essa transposição muito bem, entre a cultura popular, o pop, o erudito.
PAS: Pergunto à queima-roupa: existe uma escola João Bosco de música brasileira? Vi o fantasma dele lá no show…
MK: (Ri)
É uma referência forte, na coisa de não ter uma formação acadêmica.
Gosto muito da percussão do violão do João Bosco. Os dois violonistas
que não são necessariamente violonistas, mas que mais me influenciaram
foram João Bosco e Gilberto Gil. Aquela fase do Gil de Expresso 2222,
aquele violão ponteado, e no João Bosco a percussão, o loop e o
ostinato que ele usa no violão são referências muito fortes. E claro que
é filtrado pela minha deficiência como músico, mas também pela
influência da escola mineira. Meus parceiros todos têm essa coisa da
harmonia, a referência do clube da esquina, do Guinga, do Tom Jobim: Chico Saraiva, Kristoff Silva, Mário Seve.
PAS: Gilberto Gil é o tropicalismo, Milton Nascimento é o clube da esquina, mas o que João Bosco fez não teve um nome. E é tão característio, e particular – e mineiro, afro.
MK:
Minas é o segundo estado com maior população afrodescendente do país.
E os africanos que vieram pra cá, ao contrário da Bahia, que recebeu
muito iorubá, foram africanos bantos, que são muito diferentes, é
outra conversa, outra relação com a música, outra língua, os gestos, a
expressão. Isso tem uma influência muito forte no interior, o João é
de Ponte Nova e estudou em Ouro Preto, como eu também estudei. A
relação da população negra da cidade é muito forte, porque os negros
de Ouro Preto vivem na periferia, nos morros, e frequentam o centro
histórico como trabalhadores. E essa relação é tensa, muito forte, o
João traz muito isso. Ele e o Aldir Blanc, que é uma referência muito grande também.
PAS:
Eu ia falar isso, não está certo falar escola Bosco, devia ser
Bosco-Blanc. Sua poesia não tem a ver com a do Aldir Blanc, mas em
alguns momentos também remete, de algum modo.
MK: Pra mim, se for pensar em alguns letristas de referência, numa linha temporal, é Noel Rosa, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Torquato Neto, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Bráulio Tavares, Arnaldo Antunes. Paulo Leminski também foi importante pra mim, de fazer esse gancho, como Alice Ruiz ele hoje estaria muito mais ligado à música que à poesia.
PAS:
Aldir tem uma temática com “os bóias-frias”, uma proximidade
verdadeira do que seria uma poesia popular. Quando você se aproxima do
rap, por exemplo, ou dos catadores de papel, está tentando algo
parecido? É pra ser popular ou não é? Noutro momento você brinca com um
refrão: “Vou fazer um refrão fácil e vocês cantam comigo”, e canta um
refrão superdifícil, que não decorei até agora (risos). Qual é essa provocação?
MK: É uma brincadeira, isso de tirar uma onda do público é um pouco do Tom Zé.
A gente faz uma música que não é necessariamente pra dançar, pra
embalar romances. É uma música pra pensar, não que seja intelectual no
sentido mais puro do termo. Mas é pra despertar alguma reflexão, é como
eu ouço música. Olha que sacada legal, de alguma forma a gente está
pensando através da música, né? E esses comentários são uma forma de
tentar dar um clique, olha, peraí, ele está falando comigo?
PAS:
Por outro lado, chegou o baixista, você chamou dois parceiros
nordestinos, de repente eram seis caras no palco cantando uma melodia
linda, que dava pra cantar junto, falando que “esta ciranda é
pendular”, o que não é um linguajar habitual da música popular.
MK:
O Aldir tem toda a erudição dele, ele insere nas músicas às vezes até
de uma forma pedante, em muitas parcerias com o Guinga, fica citando
frases em francês e inglês. Eu acho chat, mas mesmo assim às vezes ele
cria termos que viram…
PAS: “Band-aid no calcanhar”.
MK:
“Band-aid no calcanhar”, viram expressões. Isso pra mim é genial, a
grande realização do compositor. O Aldir é extremamente feliz nessas
soluções, “de frente pro crime”, essas expressões que ele consegue
criar numa música extremamente sofisticada, até difícil do ponto de
vista formal – é difícil tocar João Bosco. E ao mesmo tempo de uma
ironia, “quem dá sardinha em plena beira do mar é coqueiro”, umas
sinapses absurdas que levam um tempo, você percebe, mas não consegue
entender racionalmente, entende quase intuitivamente no momento que
ouve. Isso eu busco, todo mundo busca, conseguir fazer com que o
público crie sinapses. Nessa ciranda uso uma melodia muito
característica das cirandas, dou uma desvirtuada e faço uma associação e
ideias que é muito comum na poesia. A ciranda é circular, ela lembra
um sonar que bate e volta e um pêndulo. Ela tem o movimento das ondas,
né? A ciranda tem os dois movimentos, porque ela gira, mas ao mesmo
tempo o movimento dos braços lembra uma onda, vai e volta como um
sonar, mas ao mesmo tempo é pendular.
PAS: A letra mais instigante, pra mim, é a que fala que o perigo é prazeroso. Como é mesmo?
MK: “Código Aberto”.
PAS: O título, por sinal, entra em vários territórios, de copyrights, copylefts…
MK: (Recita)
“Sei que a vida é um código aberto/ mas eu sei que viver é perigoso/
nunca houve uma época segura/ o perigo também é prazeroso/ não se pode
viver é na paúra”.
PAS: Essa mania que temos de reclamar, “ah, como a violência aumentou ultimamente”…
MK: Se você estudar um pouco de história, vai ver que a humanidade sempre foi cruel, sempre cortou cabeças. Aí eu cito o Guimarães Rosa,
que viver é perigoso. Se você está vivo e se recolhe, está muito mais
seguro, mas também abre mão de um monte de prazeres. É um círculo, o
prazer é perigoso.
PAS: E o perigo é prazeroso.
MK:
O perigo é prazeroso, injeta adrenalina. Estive duas vezes já no
Acre, li que foi inaugurada a estrada transoceânica, terminaram a
última ponte que liga o Brasil ao Oceano Pacífico. A matéria dizia que
é uma viagem muito interessante, mas é perigosa. Aí dá muito mais
vontade de fazer, imagine sair do Brasil, atravessar a floresta
tropical, entrar nas cordilheiras, atravessar os Andes e chegar no
Pacífico. Um sonho de gerações. E poder ainda desbravar uma estrada
quase virgem, que ainda não foi desbravada. É instigante, muito mais
que viajar pela Route 66. Essa música é um martelo, que é uma
estrutura tradicional, e é um tema pouco usual para trabalhar num
martelo, código aberto, que é uma metáfora pra própria vida. É um
pouco o que o Bráulio faz muito bem, pegar a ficção científica e botar
num cordel, e misturar esses códigos.
PAS: Zé Ramalho, antes, também fazia isso.
MK: É, ele é muito amigo do Zé Ramalho, são parceiros. É o que Zé Limeira já fazia também, o absurdo, a hipérbole, aquelas situações.
PAS: Sobre prazer perigoso e perigo prazeroso, fazer música e política ao mesmo tempo é perigoso? É arriscado?
MK:
Tem muitos riscos, principalmente pra carreira musical. A política é
um terreno muito pantanoso, e mais que isso, existe um estigma
negativo. Semana passada estávamos em Brasília, na reunião da frente
parlamentar da música, estavam o Frejat, Fernanda Abreu e
Sérgio Ricardo. Foi um dos encontros mais curiosos que já tive, porque
o Sérgio Ricardo é um cara marcado profundamente pela atitude
política sem querer. Aquela atitude dele (de quebrar o violão no festival)
em 1967 marcou o resto da vida dele, e não tinha como ele não ter uma
atitude política. De alguma forma, ele está retomando esse
engajamento com o manifesto G.R.I.T.A.,
e já gerou uma polêmica, porque ele é amigo do Chico, o Chico
assinou, depois pediu pra sair, criou uma indisposição com o MinC. A
Ana complicou a vida do Chico, né (risos)? Acho saudável botar o Chico na roda, ele fica numa situação muito confortável, de unanimidade.
PAS: Mas qual foi essa história?
MK: O
Sérgio Ricardo lançou o manifesto, um pouco romântico, a gente até
falou: “Olha, Sérgio, a gente já está fazendo um monte dessas coisas
aí, vamos chegar junto, vamos tentar alinhar o discurso”, eu almocei
com ele nesse dia. Ele leu o texto super romântico, no bom sentido até,
com intenções nobres, mas falando de coisas que são de um outro
tempo. É um cara que está aí, tem vários filmes fundamentais, A Noite do Espantalho, O Menino de Calça Branca, fez a trilha do filme do Glauber, é pintor. É uma referência de uma possibilidade.
PAS: …Que foi muito desqualificada ao longo das últimas décadas.
MK:
Foi. O Chico assinou, porque é amigo do Sérgio, mas parece que teve
uma chamada da irmã… Tiraram a assinatura dele, e isso deu mais
visibilidade: por que o Chico tirou? O ministério está sendo
questionado, está tendo crítica, não pode criticar? Se um Buarque de
Hollanda critica…
PAS:É o mesmo que falávamos dos tucanos de Minas e de São Paulo.
MK: Exatamente.
Mas acho saudável ter essa discussão, colocar na roda, e é muito
legal ter vindo do Sérgio, que é um cara muito respeitado pelos pares
dele, apesar de tudo.
PAS: Ele é? A imprensa não respeita, nem toma conhecimento.
MK: É, é aquele tipo de caso, como diz o Luís Nassif, de assassinato de reputação. Pete Townsend pode quebrar a guitarra, mas esse cara não, é considerado um vândalo até hoje. Pelo amor de Deus.
PAS:
Eu perguntei sobre perigo e você associou com Sérgio Ricardo. Você
pode ser estigmatizado por fazer política num lugar que supostamente
não era pra fazer?
MK: E do
outro lado as pessoas acharem que você está se beneficiando dos
canais, que deve estar recebendo dinheiro do ministério. Você acaba
sendo muito mais policiado, e acaba tendo que ter uma posição muito
mais reta. Tem que se resguardar mais, o processo é muito mais
melindroso.
PAS: Por que o primeiro encontro das cooperativas musicais está acontecendo no Acre?
MK:
Estive aqui no final do ano passado pra falar sobre o fórum e as
cooperativas, e eles tinham uma estrutura toda já montada, a secretaria
com a fundação, o Sebrae, o governo do estado, a prefeitura. Pra eles
o que faltava era uma entidade da música organizada, tinha essa
lacuna no organograma. Falei: “Mas a situação é muito mais favorável,
em quase todos os outros estados não existe um alinhamento como vocês
têm aqui. Vocês estão com tudo na mão”. Um mês depois eles criaram e
foram pra Belo Horizonte já como cooperativa. Viemos em maio discutir,
quando chegamos na reunião estavam o gabinete do senador Jorge Viana,
do governador, o secretário de cultura, o presidente da fundação, o
secretário de pequenos negócios, o presidente do Sebrae. Eu não
consigo, nem pra cultura, muito menos pra música, menos ainda pra
cooperativa da música uma pauta com o governo de Minas com uma
antecedência mínima de seis meses. A gente não tem esses acessos. Aqui
eles têm um governo com uma ação exemplar no âmbito social e cultural,
dizem que o PT aqui é o PT que deu certo.
PAS: E foi aqui que o PT e Dilma tomaram surra na eleição passada, não foi?
PAS: Eles quase perderam. É sintomático. E ao mesmo tempo o senador Jorge Viana,
que foi governador, tem prêmios internacionais, é reconhecido.
Independente disso, a gente achou simbólico trazer uma ação dessa pra
cá. Imagina, o Acre tem muita gente que duvida até que existe.
PAS: Uma piada de mau gosto.
MK:
De mau gosto, pejorativa. A gente trazer pra cá e mostrar como o Acre
está preparado… A gente apoiou imediatamente, porque pra gente é um
modelo, mostra que não precisa muita coisa, é vontade política. E é uma
forma de chamar atenção pra essa articulação que está surgindo hoje
na região Norte, que por muito tempo ficou à parte. Aponta pra nossa
vontade de integrar realmente o Brasil inteiro, o que as gravadoras
nunca fizeram.
PAS: E é a terra do João Donato.
MK:
Terra do João Donato!, eles inclusive gravaram um DVD em homenagem a
ele aqui, quando eu estive da outra vez ele estava aí gravando.
Makely Ka no Cultura Livre
Ideias que deram certo - Makely Ka e debate final
Makely Ka - Opinião Minas
Programa Caleidoscópio - TV Horizonte - Participação Makely Ka - 08/02/2012
A Outra Cidade
Makely Ka no Programa Arte no Ar
==============================================================
Outros Personagens do Bom Gosto Musical:
Minhas 20 músicas preferidas - Bom gosto musical - Introdução - Índice
==============================================================
Especial: É tudo um assunto só!
Criei uma comunidade no Google Plus: É tudo um assunto só
http://plus.google.com/u/0/communities/113366052708941119914
Outro dia discutindo sobre as manifestações do dia 15, sobre crise do governo e a corrupção da Petrobrás eu perguntei a ele se tinha acompanhado a CPI da Dívida Pública. Então ele me respondeu: Eu lá estou falando de CPI?! Não me lembro de ter falado de CPI nenhuma! Estou falando da roubalheira... A minha intenção era dizer que apesar de ter durado mais de 9 meses e de ter uma importância ímpar nas finanças do país, a nossa grande mídia pouco citou que houve a CPI e a maioria da população ficou sem saber dela e do assunto... Portanto não quis fugir do assunto... é o mesmo assunto: é a política, é a mídia, é a corrupção, são as eleições, é a Petrobras, a auditoria da dívida pública, democracia, a falta de educação, falta de politização, compra de votos, proprina, reforma política, redemocratização da mídia, a Vale, o caso Equador, os Bancos, o mercado de notícias, o mensalão, o petrolão, o HSBC, a carga de impostos, a sonegação de impostos,a reforma tributária, a reforma agrária, os Assassinos Econômicos, os Blog sujos, o PIG, as Privatizações, a privataria, a Lava-Jato, a Satiagraha, o Banestado, o basômetro, o impostômetro, É tudo um assunto só!...
A dívida pública brasileira - Quem quer conversar sobre isso?
Escândalo da Petrobrás! Só tem ladrão! O valor de suas ações caíram 60%!! Onde está a verdade?A revolução será digitalizada (Sobre o Panamá Papers)
O tempo passa... O tempo voa... E a memória do brasileiro continua uma m#rd*
As empresas da Lava-jato = Os Verdadeiros proprietários do Brasil = Os Verdadeiros proprietários da mídia.
Desastre na Barragem Bento Rodrigues <=> Privatização da Vale do Rio Doce <=> Exploração do Nióbio
Trechos do Livro "Confissões de um Assassino Econômico" de John Perkins
Meias verdades (Democratização da mídia)
Spotniks, o caso Equador e a história de Rafael Correa.
O caso grego: O fogo grego moderno que pode nos dar esperanças contra a ilegítima, odiosa, ilegal, inconstitucional e insustentável classe financeira.
Seminários:
Seminário Nacional - Não queremos nada radical: somente o que está na constituição.
Seminário "O petróleo, o Pré-Sal e a Petrobras" e Entrevista de Julian Assange.
Seminário de Pauta 2015 da CSB - É tudo um assunto só...
UniMérito - Assembleia Nacional Constituinte Popular e Ética - O Quarto Sistema do Mérito
Jogos de poder - Tutorial montado pelo Justificando, os ex-Advogados AtivistasMCC : Movimento Cidadão Comum - Cañotus - IAS: Instituto Aaron Swartz
TED / TEDx Talks - Minerando conhecimento humano
O que tenho contra banqueiros?! Operações Compromissadas/Rentismo acima da produção
Uma visão liberal sobre as grandes manifestações pelo país. (Os Oligopólios cartelizados)
PPPPPPPPP - Parceria Público/Privada entre Pilantras Poderosos para a Pilhagem do Patrimônio Público
As histórias do ex-marido da Patrícia Pillar
Foi o "Cirão da Massa" que popularizou o termo "Tattoo no toco"
A minha primeira vez com Maria Lúcia Fattorelli. E a sua?
As aventuras de uma premiada brasileira! (Episódio 2016: Contra o veto da Dilma!)
A mídia é o 4° ou o 1° poder da república? (Caso Panair, CPI Times-Life)
O Mercado de notícias - Filme/Projeto do gaúcho Jorge Furtado
Quem inventou o Brasil: Livro/Projeto de Franklin Martins (O ex-guerrilheiro ouve música)
Eugênio Aragão: Carta aberta a Rodrigo Janot (o caminho que o Ministério público vem trilhando)Luiz Flávio Gomes e sua "Cleptocracia"
Comentários políticos com Bob Fernandes.
Quem vamos invadir a seguir (2015) - Michel Moore
Ricardo Boechat - Talvez seja ele o 14 que eu estou procurando...
Melhores imagens do dia "Feliz sem Globo" (#felizsemglobo)
InterVozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social
Sobre Propostas Legislativas:
A PLS 204/2016, junto com a PEC 241-2016 vai nos transformar em Grécia e você aí preocupado com Cunha e Dilma?!
A PEC 55 (antiga PEC 241). Onde as máscaras caem.
Em conjunto CDH e CAE (Comissão de Direitos Humanos e Comissão de Assuntos Econômicos)
Sugestão inovadora, revolucionária, original e milagrosa para melhorar a trágica carga tributária brasileira.
Debates/Diálogos:
Debate sobre Banco Central e os rumos da economia brasileira...
Diálogo sobre como funciona a mídia Nacional - Histórias de Luiz Carlos Azenha e Roberto Requião.
Diálogo sobre Transparência X Obscuridade.
Plano Safra X Operações Compromissadas.
Eu acuso... Antes do que você pensa... Sem fazer alarde...talvez até já tenha acontecido...
Comissão Especial sobre o impeachment no Senado. Análise do Relatório de acusação(?) do Antônio Augusto Anastasia (AAA)
Pedaladas Fiscais - O que são? Onde elas vivem? Vão provocar o impeachment da Dilma?
Depoimento do Lula: "Nunca antes nesse país..." (O país da piada pronta)
(Relata
"A Privataria Tucana", a Delação Premiada de Delcidio do Amaral e o
depoimento coercitivo do Lula para a Polícia Federal)
Desastre em Mariana/MG - Diferenças na narrativa.
Quanto Vale a vida?!
Como o PT blindou o PSDB e se tornou alvo da PF e do MPF - É tudo um assunto só!
Ajuste Fiscal - Trabalhadores são chamados a pagar a conta mais uma vez
Resposta ao "Em defesa do PT"
Sobre o mensalão: Eu tenho uma dúvida!
Questões de opinião:
Eduardo Cunha - Como o Brasil chegou a esse ponto?
Sobre a Ditadura Militar e o Golpe de 64:
Dossiê Jango - Faz você lembrar de alguma coisa?
Comissão Nacional da Verdade - A história sendo escrita (pela primeira vez) por completo.
Luiz Carlos Prestes: Coluna, Olga, PCB, prisão, ALN, ilegalidade, guerra fria... Introdução ao Golpe de 64.
A WikiLeaks (no Brasil: A Publica) - Os EUA acompanhando a Ditadura Brasileira.
Sobre o caso HSBC (SwissLeaks):
Acompanhando o Caso HSBC I - Saiu a listagem mais esperadas: Os Políticos que estão nos arquivos.
Acompanhando o Caso HSBC II - Com a palavra os primeiros jornalistas que puseram as mãos na listagem.
Acompanhando o Caso HSBC III - Explicações da COAF, Receita federal e Banco Central.
Acompanhando o Caso HSBC V - Defina: O que é um paraíso fiscal? Eles estão ligados a que países?
Acompanhando o Caso HSBC VI - Pausa para avisar aos bandidos: "Estamos atrás de vocês!"...
Acompanhando o Caso HSBC VII - Crime de evasão de divisa será a saída para a Punição e a repatriação dos recursos
Acompanhando o Caso HSBC VIII - Explicações do presidente do banco HSBC no Brasil
Acompanhando o Caso HSBC IX - A CPI sangra de morte e está agonizando...
Acompanhando o Caso HSBC X - Hervé Falciani desnuda "Modus-Operandis" da Lavagem de dinheiro da corrupção.
Sobre o caso Operação Zelotes (CARF):
Acompanhando a Operação Zelotes!
Acompanhando a Operação Zelotes II - Globo (RBS) e Dantas empacam as investigações! Entrevista com o procurador Frederico Paiva.
Acompanhando a Operação Zelotes IV (CPI do CARF) - Apresentação da Polícia Federal, Explicação do Presidente do CARF e a denuncia do Ministério Público.
Acompanhando a Operação Zelotes V (CPI do CARF) - Vamos inverter a lógica das investigações?
Acompanhando a Operação Zelotes VI (CPI do CARF) - Silêncio, erro da polícia e acusado inocente depõe na 5ª reunião da CPI do CARF.
Acompanhando a Operação Zelotes VII (CPI do CARF) - Vamos começar a comparar as reportagens das revistas com as investigações...
Acompanhando a Operação Zelotes VIII (CPI do CARF) - Tem futebol no CARF também!...
Acompanhando a Operação Zelotes IX (CPI do CARF): R$1,4 Trilhões + R$0,6 Trilhões = R$2,0Trilhões. Sabe do que eu estou falando?
Acompanhando a Operação Zelotes X (CPI do CARF): No meio do silêncio, dois tucanos batem bico...
Acompanhando a Operação Zelotes XII (CPI do CARF): Nem tudo é igual quando se pensa em como tudo deveria ser...
Acompanhando a Operação Zelotes XIII (CPI do CARF): APS fica calado. Meigan Sack fala um pouquinho. O Estadão está um passo a frente da comissão?
Acompanhando a Operação Zelotes XIV (CPI do CARF): Para de tumultuar, Estadão!
Acompanhando a Operação Zelotes XV (CPI do CARF): Juliano? Que Juliano que é esse? E esse Tio?
Acompanhando a Operação Zelotes XVI (CPI do CARF): Senhoras e senhores, Que comece o espetáculo!! ("Operação filhos de Odin")
Acompanhando a Operação Zelotes XVII (CPI do CARF): Trechos interessantes dos documentos sigilosos e vazados.
Acompanhando a Operação Zelotes XVIII (CPI do CARF): Esboço do relatório final - Ainda terão mais sugestões...
Acompanhando a Operação Zelotes XIX (CPI do CARF II): Melancólico fim da CPI do CARF. Início da CPI do CARF II
Acompanhando a Operação Zelotes XX (CPI do CARF II):Vamos poupar nossos empregos
Sobre CBF/Globo/Corrupção no futebol/Acompanhando a CPI do Futebol:
KKK Lembra daquele desenho da motinha?! Kajuru, Kfouri, Kalil:
Eu te disse! Eu te disse! Mas eu te disse! Eu te disse! K K K
A prisão do Marin: FBI, DARF, GLOBO, CBF, PIG, MPF, PF... império Global da CBF... A sonegação do PIG... É Tudo um assunto só!!
Revolução no futebol brasileiro? O Fim da era Ricardo Teixeira.
Onde está a falsidade?? O caso Vladimir Herzog === Romário X Marin === Verdade X Caixa Preta da Ditadura
Videos com e sobre José Maria Marin - Caso José Maria MarinX Romário X Juca Kfouri (conta anonima do Justic Just )
Do apagão do futebol ao apagão da política: o Sistema é o mesmo
Acompanhando a CPI do Futebol - Será lúdico... mas espero que seja sério...
Acompanhando a CPI do Futebol II - As investigações anteriores valerão!
Acompanhando a CPI do Futebol III - Está escancarado: É tudo um assunto só!
Acompanhando a CPI do Futebol IV - Proposta do nobre senador: Que tal ficarmos só no futebol e esquecermos esse negócio de lavagem de dinheiro?!
Acompanhando a CPI do Futebol VII - Uma questão de opinião: Ligas ou federações?!
Acompanhando a CPI do Futebol VIII - Eurico Miranda declara: "A modernização e a profissionalização é algo terrível"!
Acompanhando a CPI do Futebol IX - Os presidentes de federações fazem sua defesa em meio ao nascimento da Liga...
Acompanhando a CPI do Futebol X - A primeira Liga começa hoje... um natimorto...
Acompanhando a CPI do Futebol XI - Os Panamá Papers - Os dribles do Romário - CPI II na Câmara. Vai que dá Zebra...
Acompanhando a CPI do Futebol XII - Uma visão liberal sobre a CBF!
Acompanhando a CPI do Futebol XIII - O J. Awilla está doido! (Santa inocência!)
Acompanhando a CPI do Futebol XIV - Mais sobre nosso legislativo do que nosso futebol
Acompanhando o Governo Michel Temer
Nenhum comentário:
Postar um comentário