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terça-feira, 13 de março de 2012

Revolução no futebol brasileiro? O Fim da era Ricardo Teixeira.





Os jornalistas Juca Kfouri e Vitor Birner apresentaram o "Tabelinha" desta semana em ritmo de festa. A dupla comemorou a queda de Ricardo Teixeira, que horas antes da gravação do programa teve oficializada sua renúncia à presidência da CBF.

"Hoje é um dia histórico para a cidadania do Brasil e para o futebol brasileiro", declarou Juca, que apesar de celebrar a queda de Teixeira, avaliou que a entrada de José Maria Marin em seu lugar muda pouco ou praticamente nada a estrutura da CBF e do futebol.

Os apresentadores comentaram ainda os jogos da semana passada dos times brasileiros na Libertadores, fizeram previsões pouco otimistas para as partidas desta semana e distribuíram vários prêmios nas categorias "Chuteira de Ouro" (Messi, Neymar, Paulo Victor e Palmeiras) e "Perna de Pau" (Willian, Ronaldinho Gaúcho e Mano Menezes).

Ao técnico da seleção brasileira, por sinal, sobraram críticas. Os jornalistas repudiaram a entrevista que o treinador concedeu ao jornal O Globo em que afirmou que Neymar deveria jogar na Europa.



FIM DA ERA RICARDO TEIXEIRA »  
A última jogada  
Ricardo Teixeira sabia que, ao renunciar, não garantiria a paz no comando do futebol brasileiro. Gestão de josé maria Marin começa sob o signo da dúvida: ele se sustenta até 2015?


Publicação: Jornal Estado de Minas 13/03/2012 - Caderno de Esportes


Rei morto, rei posto ou rei morto, rei imposto? A partir de hoje, um dia depois de a renúncia do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ser anunciada pelo sucessor (de acordo com o estatuto da casa),  José Maria Marin, o futebol brasileiro está diante dessa questão. Será o ex-governador paulista, com o respaldo da Federação de Futebol do seu estado, capaz de se sustentar no poder até 2015?

Tudo indica que o septuagenário Marin não terá vida fácil no comando do futebol brasileiro e de todo o processo envolvendo a Copa do Mundo de 2014. Ontem mesmo, quando leu a carta de renúncia de Teixeira, sete dos 27 presidentes de federações convocados não estavam presentes, entre eles o de Minas, Paulo Schettino, de férias em Nova York. Outro ausente, o baiano Ednaldo Rodrigues, deu o tom do que o recém-empossado mandatário pode esperar: “Essas federações têm um posicionamento que não mudou (em relação) ao que era antes”.

Ednaldo prega abertamente a convocação de novas eleições e garante ter o apoio de Minas, do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pará e Paraná. Mas, pelo menos nas declarações, Schettino e o paranaense Hélio Pereira Cury, evitaram se comprometer. Antes do carnaval, quando a saída de Teixeira já parecia iminente e os rebeldes começavam a se articular, o presidente da Federação Gaúcha, Francisco Novelletto, outro ausente ontem na CBF, dizia que não aceitaria Marin: “Nós prorrogamos o mandato para Ricardo Teixeira. Então, espero que se faça justiça e se convoquem novas eleições.”

Indicado a vice por São Paulo e aliado de Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista, Marin deve ter o apoio dos seis clubes do estado na Série A do Brasileiro de 2012. Mas dificilmente terá o dos outros 14. A chance dos rebeldes, portanto, é reunir 24 descontentes – entre federações e clubes – no universo de 47 votantes, para tentar mudar o quadro. Se Teixeira é página virada na história do futebol brasileiro, a polêmica permanece em campo.


"Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias"  
Último ato de uma gestão de 23 anos é a carta lida pelo sucessor





A seguir a íntegra da carta de renúncia de Ricardo Teixeira lida por José Maria Marin.

“Ser presidente da CBF durante todos esses anos representou na minha vida uma experiência mágica. O futebol, no Brasil, é mais que esporte, mais que competição. É a paixão que envolve, é o sofrimento que alegra, é a fidelidade que unifica.

Por essas razões, pensei muito na decisão que ora comunico e pensei muito no que dizer sobre minha decisão.

Presidir paixões não é tarefa fácil. Futebol em nosso país é sempre automaticamente associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, despertou o talento. Quando perdemos, imperou a desorganização.

Fiz, nestes anos, o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Mas isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a confederação de futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país.

Ao trazer a Copa de 2014, o Brasil conquistou o privilégio de sediar o maior e mais assistido evento do mundo, se inseriu na pauta mundial, alavancou mais a economia e aumentou o orgulho de todo o povo brasileiro.

Tentei, no limite das minhas forças, organizar os talentos. Nas minhas gestões, criamos os campeonatos de pontos corridos e a Copa do Brasil, aumentamos substancialmente as rendas do futebol brasileiro, desenvolvemos o marketing e, principalmente, vencemos.

Hoje, deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação do dever cumprido. Não há sequência de ataques injustos que rivalizem com a felicidade de ver, no rosto dos brasileiros, a alegria da conquista de mais de 100 títulos, entre os quais duas Copas do Mundo, cinco Copas América e três Copas das Confederações. Nada maculará o que foi construído com sacrifício, renúncia e dor.

A mesma paixão que empolga consome. A injustiça generalizada machuca. O espírito é forte, mas o corpo paga a conta. Me exige agora cuidar da saúde.

Em obediência ao estatuto da CBF, mais precisamente ao disposto em seu artigo 37, você, meu vice-presidente e ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, passa a presidir a CBF. A você, desejo sorte, para que o talento se revele na hora certa; discernimento, para que o futebol brasileiro siga cada vez mais organizado e respeitado; e força, para enfrentar as dificuldades que certamente virão.

Deixo a CBF, mas não deixo a paixão pelo futebol. Até por isso, a partir de hoje e sempre que necessário, coloco-me à disposição da entidade. Reúno-me com mais força à minha família, que entendeu minha missão, apoiou-me sempre e me faz ainda mais feliz.

Agradeço de maneira especial aos presidentes de clubes e das federações estaduais, aos dirigentes e colaboradores da CBF, amigos leais em quem sempre encontrei apoio incondicional para o desempenho de meu trabalho.

À torcida brasileira, meu muito obrigado. Nunca me esquecerei das taças sendo erguidas. Elas estão no coração de cada um de nós. Elas são um pedaço do Brasil.”
Ricardo Terra Teixeira


"Exterminamos um câncer do futebol brasileiro. Espero que o novo presidente, João (sic) Maria Marin, o que furtou a medalha do jogador do Corinthians, não faça daquele ato uma constante" - Romário, ex-jogador e deputado federal (PSB-RJ)

Em polos opostos

Tetracampeões mundiais pelo Brasil e companheiros inseparáveis na Copa de 1994, os atacantes Bebeto e Romário estão em lados completamente distintos em relação ao fim da era Ricardo Teixeira. Enquanto o primeiro – convidado pelo cartola há menos de um mês para integrar o COL – se mostrou surpreso com a notícia, o segundo, desafeto assumido do ex-presidente, celebrou a renúncia dizendo em sua página no Facebook que é preciso comemorar a saída de “um câncer do futebol brasileiro”.

No COL desde 16 de fevereiro, Bebeto disse que conversou com Ronaldo ao saber da renúncia e decidiram manter o que vêm desenvolvendo no comitê. “Não vai mudar nada, temos de continuar o trabalho e fazer o melhor pelo país. Para Ronaldo, também nada vai mudar. Torcemos para que tudo dê certo, sempre pensando positivo.” Teixeira não havia dito nada a ele antes de anunciar a decisão. “Fui pego de surpresa. No dia em que recebi o convite do COL, ele me parecia bem contente. Acho que não podemos esquecer o trabalho que fez na Seleção. Para mim, foi o homem forte que trouxe a Copa para o Brasil.”

Para Romário, o fato de José Maria Marin – a quem se referiu com outro nome, não se sabe se por provocação – ter embolsado a medalha destinada ao goleiro corintiano na premiação pelo título da Copa São Paulo de Juniores, em janeiro, exige atenção. “Espero que o novo presidente, João Maria Marin, o que furtou a medalha do jogador do Corinthians, não faça daquele ato uma constante na Confederação. Senão, teremos de exterminar a Aids também”, disparou.

"No dia em que recebi o convite do COL, ele me parecia bem contente. Acho que não podemos esquecer o trabalho que fez na Seleção. Para mim, foi o homem forte que trouxe a Copa para o Brasil" - Bebeto, ex-jogador e integrante do COL
 Reticente, o Baixinho considera este momento uma vitória e a mudança para o futebol brasileiro, embora também tenha dito ser “quase impossível” que a CBF “dê uma nova cara ao nosso futebol”. No fim tarde de ontem, ele cancelou a vinda a Belo Horizonte, onde participaria de evento na Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas).



Troca de Ricardo Teixeira por José Maria Marin muda só no nome o estilo CBF

José Maria Marin: 'Não há nova administração, não existe novo projeto. O que existe é uma continuidade de um trabalho que vem sendo benfeito'


Jorge Gontijo/EM/D.A Press
R. Teixeira estava na CBF desde 1989
O novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, deixou claro em sua primeira entrevista coletiva como mandatário do futebol brasileiro, na manhã de ontem, no Rio: não pretende fazer nenhuma mudança drástica no comando da entidade até 2015, data em que o atual mandato termina.

Em vez de rebater as inúmeras críticas à era Ricardo Teixeira, fez questão de enaltecer a administração anterior. “Preciso dar continuidade a esse estupendo trabalho que Ricardo realizou, a essa administração moderna. Insisti para que todos os diretores continuassem, porque precisamos da experiência deles para que a CBF permaneça na trilha do sucesso e da boa administração. Quem é da confiança do Teixeira é da minha confiança.”
Marin também assumirá o lugar de Teixeira no comando do Comitê Organizador da Copa, entidade que tem como integrante o ex-atacante Ronaldo, por ele confundido com outro astro da bola durante o anúncio na sede da CBF, na Barra da Tijuca. “Vou assumir o COL ao lado de um grande ex-jogador, Romário.” Logo em seguida, ao perceber a gafe, lembrou-se do nome do Fenômeno.

Teixeira nem compareceu à CBF, limitando-se a enviar a carta de renúncia para ser lida por Marin. Este herda o cargo por ser o mais idoso dos cinco vice-presidentes da CBF. O agora ex-presidente havia pedido licença médica na quinta-feira, sem especificar por quanto tempo. O ex-governador paulista estava desde então na presidência. Com a renúncia de Teixeira, todos os diretores da CBF, entre eles o ex-presidente do Corinthians Andrés Sánchez, puseram o cargo à disposição. Foram imediatamente reconduzidos pelo sucessor.

RACHA Embora tenha apoio interno para dar continuidade ao trabalho do antecessor, Marin terá de bater de frente com o posicionamento divergente de parte dos 27 presidentes das federações estaduais. Sete deles não comparecem à CBF.

Havia uma sugestão para que se estabelecesse um rodízio entre os vices durante a licença do antigo titular. “Não há nova administração, não existe novo projeto. O que existe é uma continuidade de um trabalho que vem sendo benfeito. Tive uma conversa com meus vices e vamos procurar aliar a disposição da juventude à experiência do mais idoso, que sou eu”, disse Marin.

Rolos marcantes
Manobras de bastidores, licenças oportunas, convocações para depor em CPIs. A vida do cartola não foi tão fácil nesses 23 anos, embora ele tenha escapado até agora de todos os escândalos. Menos o último

Reeleições
Antecipou de janeiro de 1992 para julho de 1991 a eleição para a presidência da CBF, evitando que os clubes participassem do pleito, como previa a Lei Zico. Em 1995, driblou a mesma lei e, apoiado no estatuto da entidade, emplacou nova gestão contando com votos somente dos clubes da Série A, estendendo o período de mandato para sete anos. Ultimamente, cumpria o quinto mandato.

Clube dos 13
Teixeira tornou-se inimigo público de Fábio Koff ao apoiar no ano passado a candidatura de Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo, à presidência do Clube dos 13. Aliou-se ao Corinthians, peça-chave na negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, para enfraquecer a entidade.

Voo da muamba
Ao retornar do Mundial dos Estados Unidos’1994, foi acusado pelo Ministério Público Federal de ter transportado ilegalmente um sistema de refrigeração para sua choperia no Rio, no valor de US$ 45 mil da época. Ele teria declarado apenas a compra de uma sela e uma geladeira de plástico não elétrica. A Seleção Brasileira, tetracampeã mundial, trouxe dos EUA 17 toneladas de bagagem. Em 2008, Teixeira foi condenado a pagar à União R$ 2.359. Em consequência do episódio, o então secretário da Receita, o advogado tributarista Osíris Lopes Filho, pediu exoneração do cargo, alegando não compactuar com "aquele crime de famosos".

CPI
Em 2000 e 2001, foi alvo da CPI do Futebol, instalada no Senado, e da CPI da Nike, na Câmara dos Deputados. No relatório final dos senadores, o cartola foi acusado de crimes de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, apropriação indébita e evasão de divisas. Mas se livrou da punição de 10 anos de prisão.

Conquistas
Em quase um quarto de século no comando da CBF, Ricardo Teixeira gosta de se vangloriar dos títulos do futebol brasileiro em seu período. De fato, nas várias categorias, a Seleção Brasileira conquistou inúmeras taças, embora o cartola não tenha colaborado com um mísero gol sequer.


Seleção Principal
Copas do Mundo dos Estados Unidos’1994 e Japão e Coreia do Sul’2002
Copas das Confederações da Arábia Saudita’1997, Alemanha’2005 e África do Sul’2009
Copas América do Brasil’1989, Bolívia’1997, Paraguai’1999, Peru’2004 e Venezuela’2007

Seleção Feminina
De certa forma, profissionalizou o futebol feminino do Brasil, adotando procedimentos de preparação para os principais torneios do mundo semelhantes aos do masculino. Hoje, as mulheres passam por períodos de treinamentos específicos na Granja Comari e fazem amistosos antes das principais competições. Têm os mesmos patrocinadores dos homens.

Seleções de base
Mundiais Sub-20 1993, 2003 e 2011; Sul-Americanos 1991, 1992, 1995, 2001, 2007, 2009 e 2011
Mundiais Sub-17 1997, 1999 e 2003; Sul-Americanos 1991, 1995, 1997, 1999, 2001, 2005, 2007, 2009 e 2011
Sul-Americanos Sub-15 2005, 2007 e 2011
Copa Internacional do Mediterrâneo Sub-18 2011
Copa Sendai Sub-19 2003, 2005, 2006, 2008, 2009 e 2010

OS DESAFETOS
O fascínio pelo poder exercido por Ricardo Teixeira nos 23 anos à frente do futebol brasileiro faz com que seus desafetos de ontem se tornem aliados de hoje. O caminho inverso é mais raro. Em determinados momentos, Pelé, Ronaldo, Alexandre Kalil, Rede Globo, entre outros, demonstraram ser contrários à administração do dirigente, mas bastaram algumas concessões ou acordos para que a opinião sobre o mandatário do futebol brasileiro se modificasse.

Dilma Rousseff
Diferentemente do antecessor Lula, a presidente da República quer distância das irregularidades cometidas por Teixeira e vem sistematicamente lhe negando audiência. Para complicar, nomeou Pelé embaixador honorário da Copa do Mundo’2014

Romário
Eleito deputado federal, o Baixinho passou a ser o porta-voz das críticas a Teixeira, principalmente quanto à organização da Copa de 2014. Chegou a se reunir com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em Zurique, para tratar do afastamento do dirigente brasileiro e das decisões relativas ao Mundial.

Joseph Blatter
Os dois cartolas entraram em rota de colisão. Primeiro, Teixeira teria apoiado a candidatura do catariano Mohamed Bin Hamman à presidência da Fifa. Reeleito, Blatter passou a ameaçar divulgar detalhes sobre o escândalo da ISL, que teria pago propina ao brasileiro.

Ronaldo
Teixeira é apontado como o principal responsável pela ausência de Ronaldo da Seleção Brasileira desde a Copa de 2006. O ex-jogador e o dirigente passaram bom tempo às turras, mas depois do jogo de despedida do astro, em junho do ano passado, voltaram a se entender e hoje o ídolo faz parte do Comitê Organizador Local.

Alexandre Kalil
Quando era presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, no início dos anos 1990, Kalil fez várias críticas à CBF e a seu presidente. Atleticano, Teixeira chamou o já presidente do Galo, em março de 2010, para reunião na sede da entidade, e foi selada a paz. "Acertamos que o Atlético tem de ser inserido com carinho dentro da CBF. O que passou, passou", explicou Kalil.

Fábio Koff
Para impedir a criação de uma liga independente, Teixeira lançou a candidatura de Kléber Leite à presidência do Clube dos 13. Koff acusou o presidente da CBF de comprar votos, mas acabou reeleito. A entidade, no entanto, implodiu com a renovação do contrato dos direitos de transmissão do Brasileiro no ano passado.

Juvenal Juvêncio
O presidente do São Paulo teve atritos com Teixeira por causa da taça das bolinhas e da exclusão do Morumbi da Copa de 2014. Na última eleição do Clube dos 13, em 2010, Juvenal se recusou a votar em Kleber Leite, indicado pelo presidente da CBF, e ainda foi vice na chapa de Fábio Koff.

Imprensa
Teixeira nunca teve boa relação com a imprensa, principalmente os órgãos que publicam denúncias contra ele. E os ameaçou com retaliações na Copa de 2014, inclusive não liberando credenciais.

Rede Globo
Até a emissora parceira nos contratos de transmissão dos principais campeonatos de futebol do país e dos jogos da Seleção Brasileira teve seu momento de atrito com Teixeira. Em agosto de 2001, o Globo repórter divulgou que o cartola tinha propriedades não declaradas, como uma mansão em Búzios e outra em Miami.

Zico
Líder da candidatura brasileira à sede da Copa de 2006, Zico não se conformou com a desistência do país em 2000. Na ocasião, disse que não trabalharia mais com Teixeira, que o demitiu por telefone. No entanto, foi convidado e aceitou participar do sorteio das Eliminatórias da Copa de 2014, no Rio, em julho do ano passado.

Aldo Rebelo e Sílvio Torres
O deputado federal Aldo Rebelo, hoje ministro do Esporte, presidiu a CPI CBF-Nike, em 2000, que apontou várias irregularidades cometidas por Teixeira. Sílvio Torres foi o relator daquela comissão, que detonou as investigações sobre a administração da CBF.

Emerson Leão
O treinador é desafeto declarado de Teixeira desde que foi demitido no Aeroporto de Narita, no Japão, depois da péssima campanha da Seleção Brasileira na Copa das Confederações, em 2001.


Os 23 anos de Teixeira na CBF

 (Nacho Doce/reuters)

1989

Chega à presidência da CBF depois de derrotar na eleição o vice-presidente da entidade, Nabi Abi Chedid. Vence com o apoio do sogro e então presidente da Fifa, João Havelange.

1990 - 1991

Na primeira Copa de Teixeira, na Itália, o Brasil cai nas oitavas de final diante da Argentina.

Antecipa as eleições da CBF para evitar a participação dos clubes – como previa a Lei Zico – e chega ao segundo mandato já sob polêmica. Tomaria posse no ano seguinte.

1994

O Brasil vence a Copa do Mundo nos Estados Unidos, 24 anos depois do tri no México. Depois da Copa, Teixeira é acusado de importar irregularmente equipamentos para a choperia El Turf, de sua propriedade, no que ficou conhecido como o "voo da muamba".

1995

Ignora a Lei Zico pela segunda vez e consegue o terceiro mandato apenas com o voto dos clubes da Série A. Estende o mandato para sete anos.

1996

A CBF assina contrato de US$ 160 milhões com a Nike. Mesmo assim, a entidade dá prejuízo e toma uma série de empréstimos, pagando juros acima dos do mercado.

1998

O Brasil chega à final da Copa da França, mas perde por 3 a 0 do país anfitrião. Os contratos da CBF começam a ser investigados no Congresso Nacional.

2000

Presta depoimento de cinco horas na CPI do Futebol, no Senado, para explicar os déficits anuais da CBF. Tem os sigilos bancário e fiscal quebrados. No relatório final, é acusado de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, apropriação indébita e evasão de divisas, mas acaba inocentado.

2001

Presta depoimento na CPI da CBF-Nike, na Câmara dos Deputados. Tem de explicar sobre atividades da CBF e de suas empresas. É acusado pelo deputado Aldo Rebelo (hoje ministro do Esporte) de escolher o antes desafeto Pelé como sucessor para enfraquecer o trabalho das CPIs.

2002

O Brasil chega ao quinto título mundial com a conquista na Coreia do Sul e no Japão. O dirigente obtém na Justiça liminar que proíbe a impressão e a distribuição do livro CBF-Nike, dos deputados Sílvio Torres e Aldo Rebelo, que relata as investigações que devassaram seus negócios.

2003

Chega ao quarto mandato consecutivo na CBF.

2006

Na Copa da Alemanha, o Brasil cai nas quartas de final e os jogadores são alvo de críticas do dirigente, que ataca a condição física dos astros. As confederações que formam a Conmebol votam de forma unânime pela candidatura única do Brasil a sede da Copa do Mundo de 2014.

2007

Mobiliza a bancada da bola para impedir a instauração da CPI do Corinthians/MSI, com o argumento de que poderia atrapalhar a candidatura do Brasil à Copa de 2014. A Fifa confirma o país como sede do evento. Teixeira consegue o quinto mandato na CBF e se garante na entidade até 2015.

2010

A Seleção Brasileira cai nas quartas de final da Copa da África do Sul. Em programa da rede britânica BBC – e depois em livro –, o jornalista escocês Andrew Jennings acusa Teixeira de ter recebido propina da falida empresa de marketing esportivo ISL. O dirigente (assim como o ex-sogro, Havelange) teria pago o dinheiro de volta a um tribunal suíço com a condição de não ter o nome revelado no inquérito.

2011

Tenta emplacar Kléber Leite na eleição do Clube dos 13, mas sai derrotado. Como vingança, articula a dissolução do grupo durante a negociação dos direitos televisivos do Campeonato Brasileiro. Sofre pressão na organização da Copa do Mundo com a chegada de Dilma Rousseff à presidência da República. Ao contrário do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, ela fez questão de se distanciar do dirigente e desafia o cartola ao nomear Pelé "embaixador honorário" do Brasil para a Copa de 2014.

2012

Malvisto na presidência da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), nomeia o ex-atacante Ronaldo para o conselho do órgão como forma de diminuir a pressão sobre si. Com o nome envolvido na investigação do superfaturamento na organização do amistoso Brasil x Portugal, em 2008, no Bezerrão (DF), sofre pressão cada vez maior para deixar a entidade. E a saída fica inevitável. Ele se afasta aos poucos. Primeiramente, pede licença por tempo indeterminado. Por fim, tem a renúncia anunciada pelo substituto, José Maria Marin.


Com ares de raposa Marin é considerado boleiro, mas tem histórico conservador

Felipe Seffrin
Publicação: 13/03/2012 04:00

Na mais recente polêmica, o dirigente saiu da Copa São Paulo levando uma medalha dos campeões, o que classifica como
Na mais recente polêmica, o dirigente saiu da Copa São Paulo levando uma medalha dos campeões, o que classifica como "piada de mau gosto"
 São Paulo – Bom interlocutor, simpático com a imprensa, boleiro e político, retrógrado, indeciso, manipulado e até ladrão de medalhas. Contrastantes, são estes os primeiros adjetivos que qualificam José Maria Marin, novo presidente da CBF, 18º mandachuva do país do futebol e principal responsável pela organização da Copa do Mundo 2014.

Nascido em 6 de maio de 1932, em São Paulo (SP), Marin sempre foi um apaixonado por esportes. Herdou a paixão do pai, o lutador de boxe espanhol Joaquín Marín y Umañes, um dos introdutores do pugilismo no Brasil. Chegou a ser ponta-direita do São Paulo atuando ao lado do craque Leônidas da Silva, o Diamante Negro, entre 1950 e 1952. É formado em direito.

Na década de 60, Marin começou carreira política marcada pelo “direitismo”. Em 1964 foi eleito vereador por São Paulo pelo Partido de Representação Popular (PRP), do integralista Plínio Salgado. Em 1969, filiado à Arena, que dava sustentação política ao regime militar, se tornou presidente da Câmara Municipal. Em 1971, Marin elegeu-se deputado estadual, mandato que exerceu até 1979, quando alcançou o posto de vice-governador de São Paulo, nomeado ao lado do colega de partido Paulo Maluf.

Quando Maluf deixou o governo em 1982 para disputar as eleições para deputado federal, Marin tornou-se governador por 10 meses. Com o fim da ditadura militar, caiu no ostracismo. Em 1986 fracassou na eleição para senador pelo PFL. Em 2000 tentou a prefeitura pelo nanico PSC, obtendo apenas 9.691 votos (0,18% dos válidos). Em 2002, nova derrota ao tentar o cargo de senador e obter 0,2% dos votos válidos.

Com o apoio de Nabi Abi Chedid, ex-deputado estadual e ex-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), seria dirigente máximo da entidade paulista.

MEDALHAS Em janeiro, Marin se envolveu numa polêmica ao embolsar a premiação de um jogador do Corinthians na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Durante a posse na CBF, porém, classificou o fato como “piada de mau gosto”. É vaidoso, pinta o cabelo e tenta disfarçar a idade. É conhecido por suas gafes e por trocar nomes.

Marin também é classificado como uma pessoa de poucas convicções, que busca muito o conselho de seus escudeiros. Por outro lado, ele mostra-se disposto a ouvir todos, inclusive antigos desafetos de seu antecessor, Ricardo Teixeira, como o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, e cartolas de federações rebeldes. Tem bom trânsito com políticos como Paulo Maluf, José Sarney e Fernando Collor, todos da base aliada da presidente Dilma Rousseff, o que pode facilitar a relação da CBF com a Presidência, que andava estremecida.


Trajetória

Década de 1950
Tentou sem sucesso carreira como jogador, chegando a atuar como ponta-direita do São Paulo. Era reserva. Fez 20 partidas entre 1950 e 1952, marcando cinco gols em 12 vitórias, quatro empates e quatro derrotas

Década de 1960
Vereador eleito inicialmente pelo Partido de Representação Popular, fundado pelo integralista Plínio Salgado

Década de 1970
Eleito deputado estadual pela Arena, partido de sustentação do regime militar

1978
Foi indicado pelo regime militar vice-governador de São Paulo na gestão de Paulo Maluf. Se tornou governador quando Maluf renunciou para candidatar-se a deputado federal pelo PDS, partido que apoiava o regime ditatorial

1982
Assume a Federação Paulista de Futebol, que dirigiu até 1986

2012
Na final da Copa São Paulo, em janeiro, o dirigente embolsou a medalha de um dos jogadores do Corinthians, campeão do torneio. O goleiro Matheus Caldeira ficou sem a premiação. Marin alega que foi presente da Federação Paulista


Repercussão

“É o momento de os clubes colocarem o pé na porta e falarem quem manda, quem paga as contas e quem é a célula do futebol brasileiro. Nós temos um líder que está lá e foi eleito pelos clubes. É o doutor Fábio Koff (presidente do Clube dos 13). É hora de resgatar essa liderança e o mandato dele.”
Alexandre Kalil, presidente do Atlético

“Conheço pouco o José Maria Marin, mas há sempre uma expectativa positiva. A tendência é que ele mantenha o trabalho do Ricardo Teixeira, mas nós esperamos que a moralidade dos campeonatos permaneça. Há coisas a melhorar para satisfazer os clubes, jogadores e torcedores”
Marcus Salum,  integrante do conselho administrativo do América

“Fui surpreendido com a renúncia do Ricardo Teixeira. O Cruzeiro vai aguardar o desenrolar dos fatos, mas sempre estará lutando para defender os interesses do futebol mineiro e espera que isso seja em conjunto com os demais clubes do estado”
Gilvan de Pinho Tavares, presidente do Cruzeiro

“O dr. Marin é um advogado ilustre, com uma trajetória importante no futebol. Inclusive com experiência dentro do campo. Temos plena confiança de que ele vai trazer um novo momento para o futebol brasileiro. Desejamos a ele toda sorte e apoio neste momento”
Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo

“Diante do anúncio da nova liderança do Comitê Organizador Local para a Copa do Mundo de 2014, o Ministério do Esporte reafirma sua determinação de continuar cooperando com a entidade responsável pela organização do Mundial”
Ministério do Esporte

“A renúncia, da forma que foi, surpreendeu. Eu esperava que após a licença isso ocorresse, mas pensava que ela fosse por um tempo maior. Quando voltar, espero me reunir com Marin. Todas as ações que eu tomar serão certamente em benefício do futebol mineiro”
Paulo Schettino, presidente da FMF





Presidente do Atlético-MG vê ótimo momento para clubes construírem movimento no futebol

por ESPN.com.br

Uma oportunidade de os clubes se organizarem e terem participação mais ativa nos rumos do futebol brasileiro. Assim o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, interpreta a saída de Ricardo Teixeira do comando da CBF depois de 23 anos.

“É uma pena que a gente não tenha hoje uma mesa. Uma mesa forte, coesa. Mas sem dúvida é uma oportunidade rara, que tem que ser olhada com olho clínico. Porque os clubes têm o maior interesse no futebol brasileiro e não na Copa do Mundo”, disse o cartola, à ESPN Brasil.

“Acho até que o atual presidente da CBF - José Maria Marín -, que não conheço e não quero julgar, pode ter um comportamento histórico e ser o grande homem do futebol brasileiro a partir do momento que ele chame os clubes. O que aconteceu hoje é uma coisa muito importante: a quebra de 23 anos de um pensamento. Os homens não têm o mesmo pensamento.”

Mas Kalil prevê muito trabalho até que os clubes consigam se organizar. “Pode ser que a gente tenha uma mudança, mas isso não vai acontecer com todos sentados em suas cadeiras.”


Leia na íntegra a entrevista polêmica de Ricardo Teixeira à revista Piauí

Leia agora a entrevista polêmica de Ricardo Teixeira à Revista Piauí. O cartola da CBF critica inimigos, imprensa e fala sobre a Copa de 2014 no Brasil e as suspeitas de desvios de dinheiro e superfaturamento de obras! Entre as críticas, Ricardo Teixeira xinga os seus inimigos! Veja tudo o que Ricardo Teixeira pensa, sem cortes, na íntegra!

O presidente

Ricardo Teixeira combina o valor de jogo da Seleção, decide quem vai transmiti-lo e negocia quem vai patrociná-lo. Ele é o dono do futebol brasileiro, e quer fazer uma Copa irreprochável para se eleger presidente da Fifa

por Daniela Pinheiro
A varanda do Hotel Baur au Lac foi construída, em 1844, de maneira a oferecer aos hóspedes uma paisagem inspiradora: o jardim aparado com esmero em primeiro plano, depois o lago sereno e, ao fundo, os Alpes soberbos. Milionários bronzeados que pilotam Jaguar são habitués do hotel, no centro de Zurique. Eles costumam ser acompanhados por senhoras que portam dois relógios de brilhante no mesmo braço (um que marca a hora local e o outro com o fuso do país de onde vêm). Ou então por loiras magras que bebem Campari com gestos lentos. Em maio, o hotel estava cheio de dirigentes da Fédération Internationale de Football Association, a Fifa, que realizava o seu 61º congresso na capital da Suíça. Num começo de tarde, Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, tomava champanhe sentado de costas para o jardim. A seis dias da eleição do novo presidente da Federação, ele falava de tudo um pouco, com animação: das dificuldades do ministro Antonio Palocci para explicar o seu patrimônio, da blitz da Lei Seca que pegou o senador Aécio Neves ao fim de uma noitada, da despedida de Ronaldo Fenômeno da Seleção, dali a alguns dias.
Parecia imune à catadupa de incriminações de corrupção dos dirigentes da Fifa – ele inclusive, e com realce. David Triesman, ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol, dissera que Ricardo Teixeira lhe pedira dinheiro para votar na Inglaterra para sede da Copa de 2018. O cartola britânico contou que o colega o abordou durante o jogo do Brasil com a Inglaterra, no ano passado, e lhe disse: “O Lula não é nada, venha aqui e diga o que você tem para mim.”
Quando o assunto surgiu, no terraço do Baur au Lac, ele apertou os olhos, franziu o nariz como se tivesse sentido um odor pestilento e emitiu um “pffffffffffff”, enquanto girava a cabeça para o lado. O gesto se repete todas as vezes em que se fala de uma acusação a ele, ou da hipótese de um estádio não ficar pronto a tempo da Copa no Brasil.
“Minha filha, você acredita em tudo que sai na imprensa?”, perguntou, sarcástico. “Esquece, isso é tudo armação. Esses ingleses estão putos porque perderam, eles não se conformam. Olha para mim e me fala se eu diria uma bobagem dessas. Que eu ia dizer que o Lula era nada. E pedir suborno em tribuna, na frente de todo mundo. Faz favor, né?”
Discorreu então sobre o domínio colonial e o imperialismo britânico. Classificou os ilhéus de “piratas do mundo”, relatou casos da empáfia da Loira Albion e lembrou até de falar mal da comida inglesa. “Esse Triesman está tendo que explicar na Justiça como gastou 50 milhões de dólares, sendo 15 do governo, na candidatura da Inglaterra”, prosseguiu, sublinhando as moedas. “É uma quantia absurda, não se explica. Nós gastamos 3 milhões de reais e levamos 2014. Eles não engolem isso, percebe?”
Outra acusação foi feita pelo jornalista Andrew Jennings, no programa Panorama, da BBC. Ele apresentou uma lista de dirigentes da Fifa, entre eles Teixeira e João Havelange, que teriam recebido 100 milhões de dólares, ao longo dos anos 90, de uma empresa de marketing esportivo chamada ISL. Em troca, os cartolas teriam concedido benesses à companhia na venda de direitos de transmissão de campeonatos.
Teixeira, afirmou o repórter inglês, recebeu 9,5 milhões de dólares, por meio de uma empresa de fachada. Jennings disse que um tribunal suíço obrigara o brasileiro a devolver o suborno, o que significava admitir o crime. “Ah é? Devolvi dinheiro? Então, cadê? Por que ninguém mostra?”, perguntou Teixeira. Porque, segundo a BBC, o processo foi encerrado com um acordo extrajudicial que garantiu o anonimato dos acusados. “Eu nem era do Comitê Executivo nessa época, iam me subornar para quê?”
Juntou-se à mesa a mulher de Ricardo Teixeira, Ana Carolina Wigand, uma morena de 34 anos, trinta mais nova que ele, e a filha do casal, Antônia, de 11. Falou-se da cidade, do clima, do hotel. O presidente abraçou a filha, uma menina espevitada que o beijava e acariciava os cabelos dele. Brincando, ele disse que a proibiria de sair à rua de roupa curta.
Quando as duas se foram, ele voltou ao assunto. Disse que Jennings, autor de um livro sobre corrupção na Fifa, era um “fanfarrão” que vivia de palestras. “Minha querida, presta atenção, raciocina”, pediu, “a BBC é estatal, é do governo, entende? É interesse do governo inglês anular a escolha da Rússia e tirar o Brasil do páreo, porque eles acham que podem nos substituir na última hora. É tudo orquestrado, percebe?”
Quando quer que fixem o que diz, Teixeira faz “psssiiii” e põe o dedo indicador na altura da boca. Ele costuma chamar mulheres e homens de “meu amor”, com acentuado sotaque carioca: “Meu amor, já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da Seleção, a CPI da Nike e a do Futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo coisa da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas merdas.”
Uma garçonete se aproximou e recolheu os copos. “O Lula me falava: ‘Eu não vejo essa Globo News porque só dá traço’”, disse, referindo-se à baixa audiência da emissora. “Então, esse uol só dá traço. Quem lê o Lance? Oitenta mil pessoas? Traço! Quem vê essa espn? Traço!”
Ele concorda com um raciocínio que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, teria feito no tempo em que dirigia a Rede Globo. Certa vez, falaram-lhe que um avião caíra e centenas de pessoas morreram. Boni teria dito que, se o Jornal Nacional não noticiasse, para todos os efeitos o avião não teria caído. “Portanto, só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”, disse Teixeira.
Aos 64 anos, o mineiro Ricardo Terra Teixeira está há 22 à frente da CBF. É também presidente do Comitê Organizador da Copa de 2014 e membro do Comitê Executivo da Fifa. Dito de outro modo: ele é o chefe do futebol brasileiro, o cartola-mor.
É Teixeira quem decide onde, quando e a que horas os clubes jogam. No que toca à Seleção, ele define o cachê de um amistoso, a emissora que o transmite, e é quem fecha os acordos milionários com os patrocinadores. É quem dá ou não credenciais para que jornalistas possam trabalhar nos estádios. E quem nomeia o técnico da equipe brasileira.
Na próxima Copa, Teixeira influenciará na escolha dos estádios, dos lugares de concentração das equipes estrangeiras, e poderá palpitar sobre qualquer obra pública ligada ao Mundial.
Filho de um funcionário do Banco Central e de uma dona de casa, Teixeira nasceu em Carlos Chagas, no interior de Minas Gerais. Foi criado em Belo Horizonte, mas ainda na infância se mudou para o Rio. Estudou no Santo Inácio, escola tradicional carioca onde aprendeu francês com um padre (se comunica bem em portunhol e tem um inglês infrabásico).
Na adolescência, chegou a integrar a equipe de vôlei do Botafogo. Futebol nunca foi o seu forte. Torce pelo Atlético Mineiro e pelo Flamengo. Em 1968, ele estava no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, o CPOR, de onde observou a radicalização da ditadura militar.
Aos 19 anos, em um baile de Carnaval em Teresópolis, foi apresentado a Lúcia, filha de João Havelange, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos, organização que antecedeu a CBF. Começaram a namorar, casaram-se cinco anos depois e tiveram três filhos. Abandonou o curso de direito, no 4º ano, para trabalhar em uma financeira de Belo Horizonte, o que o obrigava a viver na ponte aérea.
Quando fala de seu período como operador do mercado financeiro, ele se deleita em lembrar como vendia ações desacreditadas e triplicava o investimento. “Eu ganhava muito mais do que hoje”, disse. “Era como se eu ganhasse um Dodge Charger RT por dia.” Graças aos contatos de João Havelange, fez cursos e estágios em Zurique e em Nova York. Foram as suas primeiras viagens ao exterior.
Para explicar como saiu do mercado financeiro e virou cartola de futebol, Teixeira é sucinto: “Foi o rumo natural das coisas.” No relato de João Havelange, porém, foi ele o Merlin que ensinou e preparou o genro para as artes da cartolagem. Em 1989, Teixeira foi eleito presidente da CBF. Ao falar da Confederação ou da Seleção, Teixeira emprega a metonímia “eu”: “Eu tive que pagar”, ou “Eu tenho 120 milhões em caixa”, ou “Eu tinha que ganhar aquela Copa”, ou “Eu não queria abrir a Copa da Alemanha”.
Teixeira é pródigo em citações folclóricas, que atribui sempre a sua mãe, qualquer que seja o assunto. “Mamãe, que era mineira, sempre dizia…”, ele começa, e daí segue: “o que não tem remédio, remediado está”, “aqui se faz, aqui se paga”, “macaco senta no próprio rabo para falar do dos outros”, “nada como um dia após o outro”, “a vida é fácil, a gente é que complica”. Sua expressão predileta para falar da imprensa esportiva é: “Isso é de quinta categoria!”
Ele tem as feições pouco marcadas, rechonchudas. Como anda um pouco curvado, devagar e tem pigarros recorrentes, aparenta mais idade. Parece estar sempre irritado porque, mesmo relaxado ou de bom humor, mantém o cenho contraído, como se o sol do meio-dia ou uma forte dor de cabeça lhe atingisse em cheio a fronte. Quando se desarma, ou toma uma taça a mais num fim de noite, é espirituoso e atencioso com todos. Ele se veste de maneira formal, padrão: calça marrom, camisa branca, blazer azul com botões dourados e gravata vermelha. Antes de se casar – sua mulher contou – usava sapato preto com meia soquete branca.
Em dez dias de convivência, riu às lágrimas em duas ocasiões. Na primeira, ao contar a história, que jurou ser verdadeira, de duas brasileiras do interior que entraram num elevador do Hotel Plaza, em Nova York, com o jogador de basquete Michael Jordan e o cachorro. Sem saber de quem se tratava, e alertadas para a violência na cidade, vinda dos negros, elas se agacharam em pânico quando ele ordenou sit! ao animal. A outra foi sobre ladrões portugueses que, ao explodir um caixa eletrônico, botaram fogo no dinheiro.
O presidente entrou às sete e meia da noite num dos seus restaurantes preferidos, o Zeughauskeller. Especializada em salsichão, chucrute e batata rosti, a casa tem a decoração rústica dos Alpes, com mesas longas e bancos de madeira pesada. Foi recebido em espanhol pela dona, que o conhecia pelo nome e o encaminhou a uma mesa reservada para quinze pessoas. Sentou-se, tirou a gravata e arregaçou as mangas.
Os convivas eram cartolas de confederações sul-americanas, suas esposas e assessores. Parecia um jantar do elenco do seriado Chapolin, com muita tinta acaju, pulseiras de prata, calças de tergal e sobrancelhas feitas com um risco em forma de meia-lua. Estava lá o octogenário Julio Grondona, jefe da Associação do Futebol Argentino. Ele é acusado de ter ganho 78 milhões de dólares para votar no Catar para sede da Copa de 2022.
Também apareceu Nicolás Leoz, um paraguaio de 82 anos que preside a Confederação Sul-Americana de Futebol, a Conmebol. Além de ter recebido suborno da ISL, diz-se que ele teria pedido um título de nobreza a David Triesman, em troca de seu voto pela Inglaterra. “Don Leoz, donde está su corona?”, gritou-lhe Teixeira, trazendo à baila o almejado título de sir. Leoz fez um bico de muxoxo e levantou os braços sobre a cabeça, fingindo estar sendo coroado, e todos gargalharam. “Se nos devolverem as Malvinas, eu voto em qualquer coisa!”, gritou Grondona, que usa um anel de ouro no mindinho com a expressão Todo pasa.
Em Zurique, Teixeira anda sempre com os latinos. Quando não estava com a família, sua companhia mais frequente eram cartolas uruguaios, argentinos e paraguaios. Mesmo durante a maior crise da história da Fifa, permaneceu à margem de reuniões da cúpula da entidade – como a que ocorreu às vésperas da eleição, quando um grupo virou a noite ajudando Joseph Blatter a preparar seu discurso.
Depois do jantar, Teixeira – apesar da locomoção vagarosa – quis voltar a pé para o hotel. Em 1998, caiu do cavalo, foi operado e lhe colocaram uma placa de ferro na coxa, o que lhe encurtou em 2 centímetros a perna direita. Ele enfrenta o problema usando sapatos feitos sob medida, por “um cara em Olaria”, com um salto interno para compensar a diferença.
À medida que percorria a Bahnhofstrasse, a rua das lojas de luxo, comentava o que via nas vitrines: “Não gosto dessa roupa, acho brega”, “Olha que diferente isso”, “Essa loja é nova”, “Nessa aqui você acha tudo quanto é tipo de perfume”, “Olha que coisa bem bolada esses chocolates”. Na esquina do Baur au Lac, ele parou, com as mãos enfiadas nos bolsos do paletó, e se espantou: “Ah, não. Olha isso! Casaco de pele a mil euros? Tenho que comprar. Não é possível esse preço.”
Parecia cansado, mas sugeriu que tomássemos um último café no salão de chá. Meio em inglês, meio em espanhol, pediu um expresso com um pouco de água quente em separado. Eram seis da tarde no Brasil e o celular de Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF, tocava sem parar. Em quarenta minutos, ele havia atendido treze telefonemas, e escutara perguntas sobre o atraso do salário da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, o suposto achaque ao dirigente inglês e os gastos da Confederação.
Quando Paiva desligou, Teixeira se aprumou na cadeira, como se tivesse descansado o suficiente, e disse: “Que porra as pessoas têm a ver com as contas da CBF? Que porra elas têm a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade pri-va-da. Não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?”
Ao assumir a presidência, Teixeira abriu mão de toda a receita pública, inclusive de dividendos da loteria esportiva, uma das principais fontes de renda da entidade. Também abdicou dos ganhos pelo uso da imagem dos times, e deixou que o lucro de bilheteria ficasse para os clubes. Ao contrário do Comitê Olímpico Brasileiro, cujas verbas são públicas, na CBF não há dinheiro do Estado.
Ele conta que, ao assumir o cargo, encontrou a Confederação em petição de miséria. Até a Taça Jules Rimet estava penhorada. Houve ocasiões em que jogadores só entraram em campo depois de ver, literalmente, a cor do dinheiro de seus salários atrasados. Diz que saneou as contas graças a sua experiência no mercado financeiro. Hoje a entidade tem 120 milhões de reais em caixa, jatinho, helicóptero e um terreno na Barra, estimado em 25 milhões de reais, destinado à construção de uma nova sede. No seu mandato, a Seleção chegou à final da Copa três vezes, venceu duas e ganhou a Copa América em cinco ocasiões.
No final de 2009, ele encomendou uma pesquisa ao Vox Populi. Das 2 500 pessoas entrevistadas em 150 municípios, 53% disseram que o seu trabalho na CBF era ótimo ou bom. Mais da metade considerou que o Campeonato Brasileiro de Futebol estava mais organizado. E a maioria se disse favorável às mudanças que o presidente implementou, como o ponto corrido, a quantidade de times da serie a e o fim do mata-mata. “Só jornalista fala mal de mim”, ele disse.
Todos haviam terminado o café. Um representante da empresa Match, que negocia os pacotes de hospedagem e entradas para a Copa, quis saber se, na entrevista agendada com a Rede Globo, haveria perguntas sobre os preços, considerados estratosféricos, de hotéis e restaurantes no Brasil. “Não vai ter isso, não: está tudo sob controle”, respondeu Teixeira. Quase à uma da manhã, ele se despediu. Antes de entrar no elevador, comentou: “E essa coisa da Dilma doente? Não quero nem pensar.”
Inaugurada há dois anos, a sede da Fifa em Zurique custou 250 milhões de dólares. Em uma área de 44 mil metros quadrados, o prédio de três andares tem outros cinco pisos subterrâneos, sala de meditação, capela ecumênica, academia de ginástica e um campo de futebol oficial. O piso do saguão da entrada é forrado com granito e lápis-lazúli importados do Brasil. Era meio-dia quando Teixeira saiu de uma reunião e checou a programação do dia com seu secretário particular.
Alexandre Silveira o acompanha há dezoito anos. Carrega sua mala, celular e computador, tem sempre duas gravatas do patrão à mão, completa as suas frases, faz ligações, organiza a sua agenda, e tudo o mais que lhe for pedido, com a eficiência de alguém treinado no cerimonial do Palácio de Buckingham – e sem jamais ouvir um “por favor” ou um “obrigado”. Ex-telefonista da CBF, ele é jovem, baixo, só anda de terno e passa mais tempo com o chefe do que com a mulher e a filha de 7 anos. José Serra uma vez o confundiu com o ministro Orlando Silva, dos Esportes, e o cumprimentou efusivamente.
Breno Silveira e Andrucha Waddington, da Conspiração Filmes, registraram os bastidores da Copa na Alemanha, em 2006. No DVD com a primeira montagem das imagens, pode-se ver Ronaldo Fenômeno sem camisa, com 91 quilos de músculos, enquanto a imprensa o chamava de gordo (hoje ele pesa cerca de 110 quilos). Também chamam a atenção as cenas no vestiário que mostram o ambiente pesado, de derrota inevitável, ainda no intervalo da final contra a França.
No carro, a caminho do almoço, Teixeira falou que quer fazer um filme em 2014 cujo tema seja “a Copa que perdeu e a Copa que ganhou” (pressupondo que na próxima a Seleção vencerá). Queria ter feito isso no Mundial passado, mas Dunga proibiu que os cineastas se aproximassem dos jogadores, o que o irritou sobremaneira. No banco de trás, Rodrigo Paiva observou que deveriam pedir o copião do que fora gravado, e Teixeira o atalhou: “Pedir porra nenhuma, o filme é nosso, as imagens são minhas.”
Com a temperatura de 18 graus, o presidente quis ficar no terraço do restaurante italiano Bindella. Naquela manhã, uma nota de cinco linhas na Folha de S.Paulo noticiava que o processo conhecido como “voo da muamba”, no qual ele era réu, havia sido arquivado, dezessete anos depois de iniciado. “São uns filhos da puta, nem colocaram que não tinha a coisa do meu bar”, disse.
O avião que trouxe a Seleção de volta ao Brasil, depois de ganhar a Copa do Mundo nos Estados Unidos, em 1994, tinha na bagagem 17 toneladas de compras de jogadores, cartolas e convidados. Teixeira foi acusado de pressionar um funcionário para liberar a carga sem vistoria. “Falaram que eu tinha trazido material contrabandeado, o caralho”, lembrou. “Agora, sabe por que isso tudo aconteceu? Porque não deixei que a imprensa entrasse no avião e porque o secretário da Receita, o Osíris Lopes Filho, ia ser demitido.”
O garçom, que falava português, interrompeu a conversa para anotar os pedidos. Ele quis burrata com presunto cru, uma massa bem cozida (“Detesto al dente, sinto gosto de farinha”, disse) e vinho tinto. Teixeira não gosta de peixe, dispensa frango e não come nada verde.
Explicou que Osíris seria exonerado por Itamar Franco, por ter “falado umas merdas sobre a Petrobras”. De fato, em julho daquele ano, numa palestra, o secretário da Receita disse que a estatal devia o equivalente a 1 bilhão de dólares em impostos.
“Aí, foi tudo armado”, prosseguiu. “Descemos no aeroporto, o povo da Receita falou para deixarmos as bagagens, que eles iam guardar e dali a três dias devíamos voltar para pegar. A CBF pagaria todo o imposto, como pagou depois, mas o seu Osíris armou para mostrar serviço, posou de arauto da moralidade, a imprensa comprou a história e nós nos fodemos.”
Havia toda sorte de eletroeletrônicos e eletrodomésticos a bordo. Falou-se que o jogador Branco havia trazido uma cozinha inteira e que Teixeira incluíra na bagagem chopeiras para seu bar no Jockey Club, no Rio. “Essas chopeiras vieram da Nova Zelândia”, disse ele. “Então, presta atenção: o gênio aqui conseguiu entrar com esse material contrabandeado ilegalmente nos Estados Unidos, depois sair dos Estados Unidos ilegalmente, e entrar no Brasil também ilegalmente, até ser descoberto?” Dias depois, em Brasília, encontramos por acaso Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil do governo Itamar Franco, que confirmou a versão de Teixeira.
Há mais de quarenta anos, Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange se hospeda no Hotel Savoy. Não gosta da badalação do Baur au Lac. Num fim de tarde, ele chegou ao saguão para a entrevista com pontualidade suíça. Aos 95 anos, mantém o porte reto e senhorial. Sempre de terno, chama a todos de mais de quinze anos de “senhor” ou “senhora”. Para expor seus argumentos, usa o método socrático: faz perguntas cujas respostas já sabe, mas deixa que o interlocutor chegue a elas por conta própria.
Havelange é talvez o maior responsável pela transformação da Fifa numa potência. Ao assumir a sua direção, contou ter encontrado 20 dólares no caixa. Foi um dos primeiros a perceber, nos anos 70, que o futebol tinha a vocação de se transformar, com as transmissões ao vivo, via satélite, num espetáculo mundializado, atraindo patrocinadores multinacionais. Com a vantagem de, ao contrário das Olimpíadas, o futebol não ser contaminado pela política da Guerra Fria, já que os Estados Unidos não se interessavam pelo esporte.
Mas seria preciso que a Federação, de origem europeia e bem de vida, incorporasse países pobres. Alterou então o critério de eleição para presidente, dando o mesmo peso dos europeus aos votos da África, do Caribe e da Ásia. Destinou-lhes também verbas para organizarem estruturas nacionais. Assim, consolidou o seu poder. Hoje, a Fifa fatura 4,6 bilhões de dólares só com o Mundial.
No Savoy, Havelange disse que, se teve algum sucesso, foi porque nasceu no Brasil, onde “aprendemos a lidar desde o berço” com diferenças de raça e religião. Lembrou-se do primeiro congresso da Fifa que organizou, em 1974: “A senhora acha que um inglês dá beijo num preto? Um alemão dá? Pois todo africano que entrava no congresso, eu e minha mulher, Anna Maria, beijávamos todos.”
A escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo passa pela relação de Havelange com os cartolas africanos. Em troca do apoio que teve durante os anos à frente da Fifa, Havelange havia conseguido, já em 2006, a maioria dos votos para que a África do Sul fosse a sede da Copa. Em contrapartida, os africanos apoiariam a candidatura brasileira na eleição seguinte.
Na última hora, no entanto, numa atitude suspeitíssima, o representante da Nova Zelândia votou em branco, e a Alemanha levou o Mundial de 2006. A Fifa mudou logo as regras de rodízio de continentes, de modo que a sede seguinte fosse na África e, na sequência, na América do Sul. Como a África do Sul e o Brasil eram os países mais ricos dos seus continentes, não tinham como perder. E não perderam.
As denúncias de corrupção não lhe fizeram mossa. Para Havelange, tratava-se de maquinações para desestabilizar candidatos, de disputa política por um cargo cobiçadíssimo. “Quem não quer sentar nessa cadeira com os recursos e o poder que a Fifa tem hoje?”, perguntou.
Ele descreveu Ricardo Teixeira assim: inteligência acima da média, observador, calado “como um bom mineiro”, tem sempre uma pessoa dele infiltrada nos lugares que importam (“O que faz com que esteja sempre bem informado”) e capacidade de aguentar desaforos e planejar o troco para mais tarde. “O Ricardo é o quê? Mineiro, não é? O Aécio é amigo dele, não é? Onde você acha que vai ser a abertura da Copa do Mundo?” “Em Belo Horizonte”, concluí. “Isso é o Ricardo, nós é que somos bobos”, ele comentou.
Quando o casamento de sua filha acabou, Havelange rompeu com Teixeira. Ninguém da família podia pronunciar o nome dele na sua frente. “Um dia minha mulher, Anna Maria, me disse: ‘Não te esqueças que ele é o pai dos teus netos’”, contou. “E aí apaguei tudo. Voltei a me relacionar como se ele ainda estivesse casado com a minha filha. Porque neto é neto. Bisneto é bisneto.”
Por isso, tentará o que lhe estiver ao alcance para fazer o ex-genro chegar à presidência da Fifa, em 2015: “O Ricardo queria se apresentar agora, mas eu disse a ele: ‘Faz uma Copa do Mundo de qualidade, trata todo mundo de maravilha, vão votar em você por agradecimento.’”
Perguntei se Teixeira precisava dele para se eleger. “Claro que não, burro é uma coisa que ele não é”, respondeu Havelange. “Se a senhora um dia tivesse que definir a malandragem, no bom sentido, claro, ela se chamaria Ricardo Teixeira.”
Ele acha, contudo, que o seu herdeiro deveria ter mais paciência para cultivar as pessoas, como ele próprio fez. E poderia se preocupar um pouco mais em não melindrar certos ânimos. Contou que, certa vez, Joseph Blatter foi de jatinho à Etiópia. E ele fez uma ponderação ao seu sucessor na Fifa: “Não se anda em país pobre de jatinho. Pega um avião comum, salta pela frente, todo mundo respeita. É essa sensibilidade que se tem que ter.”
Depois de quase duas horas sentado, Havelange sentiu uma fisgada no pé. Apesar de ainda nadar 1 200 metros diariamente, teve uma fissura no osso do tornozelo. Gentilmente, encerrou a entrevista. Sua observação final foi a seguinte: “O Ricardo é sozinho. Deveria ter alguém para confiar, para se détendre.”
Jornalistas esportivos me disseram que a CBF privilegia repórteres e veículos de comunicação que preservam Teixeira.
E procura restringir o acesso daqueles que o criticam. Em Zurique, o presidente conversou por duas vezes com advogados sobre a possibilidade de negar credenciais para jogos da Seleção Brasileira. Foi orientado a conceder pelo menos uma aos desafetos, de maneira a não se caracterizar a discriminação.
Uma equipe da BBC mandara mais de dez pedidos de entrevista a Teixeira, para uma reportagem que fariam no Brasil sobre a Copa de 2014. “Eu vou infernizar a vida deles”, explicou. “Enquanto eu estiver na CBF, na Fifa, onde for, eles não entram.” Apesar de a reportagem da BBC e de o depoimento do inglês David Triesman terem ocupado a primeira página de dezenas de jornais, Teixeira não buscou reparação na Justiça. Um advogado francês lhe disse que um processo contra a BBC lhe custaria, no mínimo, 500 mil dólares. “Fora isso, tem que ir lá, dar depoimento, aquela coisa toda, muito trabalho”, comentou.
No Brasil, suas investidas judiciais têm um alvo preferencial, o comentarista Juca Kfouri, a quem já processou mais de cinquenta vezes. “Dele, eu não deixo passar nada”, afirmou. “Outro dia, recebi um dinheiro dele. Mas eu doo para a caridade. Na próxima que ganhar, vou publicar no site da CBF um agradecimento.”
A desavença entre ambos, contou, tinha uma origem pessoal. Antes de se divorciar da filha de Havelange, correu o rumor de que uma amante de Teixeira havia morrido em um desastre de carro, em Miami. Kfouri noticiou a história, provocando um terremoto em sua vida familiar que culminou com o fim do casamento.
Kfouri disse que o cartola usa a história como pretexto para atacá-lo, e que a origem real do conflito foi o fato de ele ter noticiado as “relações promíscuas” de Teixeira com a Nike. “A estratégia dele é me processar por qualquer coisa, na tentativa de convencer meus empregadores que eles gastam muito com advogados para me defender, e me mandem embora”, disse Kfouri. “Ele não pode achar que pode agir como quiser à frente do futebol, sem que ninguém fale nada. Na camiseta da Seleção não está escrito Teixeira.”
No terraço do Bindella, a mesa aguardava a sobremesa enquanto Rodrigo Paiva atendia mais chamadas de repórteres brasileiros. Queriam saber o que o presidente pensava da tentativa do deputado Anthony Garotinho, da bancada evangélica, de aprovar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a CBF e a organização da Copa do Mundo. “Ele está trabalhando para a Record”, disse Teixeira.
As relações de Teixeira com a Record ficaram atritadas no ano passado, quando a rede mantida pela Igreja Universal do Reino de Deus tentou tirar da Globo o direito de transmissão do Campeonato Brasileiro. Falava-se que a Record ofereceria 1 bilhão de reais aos vinte maiores times, congregados no chamado Clube dos 13. E a Globo, com o apoio da CBF, passou a negociar individualmente com os clubes. Logo de início, acertou-se com o Flamengo e o Corinthians, cujos dirigentes são bastante próximos de Teixeira. No fim, a maioria renovou com a Globo e a Record, novamente, ficou sem futebol.
“A partir daí, o Garotinho começou com essa coisa de montar CPI”, disse Teixeira. Em março, o ex-governador do Rio conseguiu reunir as assinaturas para formar uma Comissão sobre a Copa. Pego de surpresa, o presidente da Confederação voou para Brasília, peregrinou pelos gabinetes e conseguiu demover muitos parlamentares. “Todo mundo que era do PT e havia assinado voltou atrás quando viram que aquilo era um absurdo”, disse.
No futuro, Teixeira considera montar uma estrutura jornalística própria, que produzirá conteúdo de interesse da CBF. Seja para responder aos ataques dos críticos, seja para comercializar o acesso privilegiado que a entidade tem sobre os jogadores.
Antes de pagar a conta no restaurante, Teixeira falou pelo telefone com Evandro Guimarães, lobista da Globo em Brasília. Trocou ideias sobre inseminação de bovinos, uma de suas mais novas atividades. Sua fazenda, no interior do Rio, produz 10 mil litros de leite por dia e os laticínios do presidente são consumidos em diversos restaurantes cariocas. Ele também vende doce de leite, ricota, queijo de minas, parmesão e requeijão (o melhor produto, no seu entender). O negócio é rentável? “Não sou de jogar dinheiro fora”, respondeu.
Perguntado sobre quem são seus melhores amigos, ele disse: “O Rico, o Beto, a Joana e a minha mulher.” São os seus três filhos mais velhos, que, assim como seu irmão e seu cunhado, também estão no ramo dos negócios do futebol. Para ilustrar sua visão da amizade, inventou uma pequena fábula: “Se você está na merda, vão falar: ‘Coitado do Ricardo, vamos dar uma mão para ele.’ Mas aí, todo mundo volta para casa, não ajuda e finge que esqueceu o assunto”, disse. “Agora, pense na situação inversa: ‘Porra, o Ricardo está bem pra caralho, que sucesso.’ Pode ter certeza que vai ser aquele que você acha que é seu melhor amigo quem vai dizer primeiro: ‘Também, roubando, quem não fica bem?’”
Ele disse que não se incomoda com as acusações de corrupção: “Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão.” Como Tom Jobim, ele acha que os brasileiros lidam mal com o sucesso alheio. “O neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala: ‘Quero um igual’”, raciocinou. “O negro não quer que o branco se foda e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria.”
Ao sair do Bindella, quis novamente andar até o hotel. “Preciso dar essa caminhadinha para fazer a digestão”, justificou. Em frente à loja dos casacos de pele, mais uma vez se mostrou intrigado: “Olha o casaco, ainda está lá. Será que o preço é esse mesmo?”
No salão de chá do Baur au Lac, o argentino Julio Grondona estava esparramado numa poltrona, com o rosto afogueado. “Ah, fui ver os vitrais do Chagall, comi um risoto maravilhoso, bebi uma garrafa de Chianti e brindei à eleição da Fifa”, disse, caindo na gargalhada.
Teixeira pareceu surpreso ao saber que um dos principais pontos turísticos de Zurique, os vitrais de Marc Chagall, ficava a menos de 500 metros do hotel. Ainda que frequente a cidade há mais de trinta anos, seus trajetos são inalteráveis: hotel, Fifa, os mesmos restaurantes, onde é atendido pelos mesmos garçons – a quem pede os mesmos pratos. As paisagens deixaram de deslumbrá-lo.
Às cinco e meia da tarde, Teixeira disse que precisava dar uns telefonemas, avisou que jantaríamos às oito e subiu para o quarto. Eduardo Deluca, o secretário-geral da Confederação Sul-Americana de Futebol, falou então sobre o companheiro: “Você conhece alguém que tenha esse cargo, essa projeção e sobre o qual não inventem as mesmas histórias? Ele é um candidato fortíssimo para 2015, por isso o atacam. Estamos fechados com ele.” Deluca é uma figura pantagruélica, de fala monocórdia, cujos olhos parecem boiar no vazio.
O presidente, a mulher, as duas filhas, Rodrigo Paiva e o secretário Alexandre Silveira foram jantar no Dézaley, que serve uma das fondues mais elogiadas da cidade. Instalaram-se numa mesa de fundos, o garçom lhes deu boas-vindas em português e anotou os pedidos.
“Olha aqui, tenho uma notícia fresquinha”, anunciou o cartola à mulher enquanto lhe passava um maço de folhas de papel. “A Federação inglesa mandou um relatório agora à tarde para a Fifa dizendo que não tenho nada com aquilo de pedir suborno para o inglês, lê aí.”
Quando chegou a fondue, Teixeira dizia que o documento seria mostrado à imprensa dali a três dias, durante uma entrevista coletiva. “Mas que absurdo. Vão deixar você apanhar até lá?”, perguntou Ana. “Tanto faz para mim”, respondeu ele. Sua filha mais velha, Joana Havelange, de 34 anos, só escutava a conversa. Ela é loira, alta e gosta de roupas pretas. Foi nomeada pelo pai diretora-executiva do Comitê Organizador da Copa.
Nos almoços e jantares com Ricardo Teixeira (que nunca me permitiu pagar nem um café em sua companhia), todos são instados a dar palpites sobre a burocracia do futebol, sobretudo da Copa, e a comentar fofocas políticas. São raros os momentos de intimidade, como quando a caçula Antônia abraçou o pai e disse que ele era lindo, tinha um cabelo maravilhoso e que não deveria cortá-lo. Derretendo-se, ele deixou a cabeça descansar no ombro da menina.
Quando a conta chegou, Teixeira sacou a carteira Gucci, que só tem cartões de crédito e nenhuma nota de dinheiro. Ajeitou os óculos na ponta do nariz e perguntou, atarantado: “O que é trinkgeld?” Quando soube que se tratava da gorjeta, contou que uma vez teve um cartão recusado porque se confundiu com os números da senha, ainda que o limite fosse de 600 mil reais.
Perto da meia-noite, o grupo andou até a ponte do rio Limmat e parou na frente do relógio da catedral de Fraumünster. Estavam munidos de pedaços de pão velho, trazidos do restaurante, que foram jogados ao vento, caíram e boiaram na água cristalina do rio. “Dou pão aos patos aqui desde 1974″, disse Teixeira, suspirando. Na Bahnhofstrasse, ele chamou a atenção da filha: “Toninha, olha esse casaco: mil euros! Eu vou comprar!”
Em 1997, Ricardo Teixeira se separou de Lúcia Havelange e engatou um namoro com a grã-fina Narcisa Tamborindeguy. Logo depois, conheceu Ana Carolina, que estudava administração na Pontifícia Universidade Católica. Ela esperava amigas no bar da El Turf, a boate dele. As amigas não chegaram e o cartola, sem se identificar, disse a um funcionário que pegasse o telefone da jovem de 19 anos. Dias depois, ligou. “Ele não ficou enrolando, disse que não era garoto, que não tinha tempo nem paciência para ficar de paquera e foi logo direto ao assunto”, contou Ana Carolina.
Passaram semanas até que ela consentisse em marcar um encontro. Foram jantar e, na hora de deixá-la em casa, beijaram-se. Ela gostou, mas Teixeira deu-lhe um gelo. “Depois daquilo, ele me ignorou totalmente, e aí eu fiquei com a pulga atrás da orelha: quem era ele para fazer aquilo comigo?”, disse.
Ana Carolina comentou que mexera recentemente numa caixa de fotos antigas. Ficou surpresa com as mudanças físicas do marido, ocorridas em tão pouco tempo: “O pescoço, a pele, tudo; o cabelo era grisalho e agora é todo branco.”
Passaram-se outras tantas semanas até que começassem a namorar. Aí veio Paris. Com um sorriso eloquente, ela lembrou a primeira viagem que fizeram juntos. Jantaram no Jules Verne, o restaurante da Torre Eiffel, e depois, caminhando para o hotel, ocorreu, segundo ela, uma das cenas mais românticas do casamento. “Tinha uma cigana vendendo rosas. Ele perguntou quanto era, ela disse que eram 10 francos, acho, ele pegou uma nota de 500, deu a ela e pegou uma rosa”, contou, encarando o marido, que ficou todo o tempo de cabeça baixa, examinando algo invisível nas mãos. “Aí, ele pegou a rosa, deu para a cigana, pegou o balde inteiro de flores e me deu.” Teixeira continuava vexado. Quando perguntei o que lhe havia chamado a atenção em Ana Carolina, ele não respondeu (para desconsolo da mulher).
A quatro dias da eleição da nova diretoria da Fifa, uma equipe da Globo foi mandada de Londres para Zurique para fazer uma reportagem sobre os preparativos da Copa. Executivos da Federação, inclusive Teixeira, falaram longamente sobre as obras de infraestrutura no Brasil, a construção dos estádios e as cidades-sede dos jogos. Apesar de todas as denúncias sobre corrupção e suborno, nenhuma pergunta foi feita sobre o assunto pela Globo.
Durante a CPI da Nike, em 2001, a rede levou ao ar uma reportagem no Globo Repórter sustentando que a renda de Ricardo Teixeira era incompatível com o seu patrimônio e padrão de vida. A CBF anunciou pouco depois, do nada, uma mudança no horário de transmissão de uma partida Brasil x Argentina, clássico sul-americano que costuma bater recordes de audiência. Em vez de ser exibido no horário de praxe, depois da novela das oito, o jogo foi marcado para as 19h45.
“Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?”, cochichou-me Teixeira, no Baur au Lac, quando o caso foi relembrado. Como a Globo transmitiu a partida, amargou o prejuízo de deixar de mostrar diversos anúncios no horário nobre, o mais caro da programação. A partir daí, não houve mais reportagens desagradáveis sobre o presidente da CBF na Globo.
Teixeira quis almoçar de novo no Zeughauskeller. No caminho, o celular de Rodrigo Paiva tocou e, do Rio, alguém lhe contou que o prefeito Eduardo Paes havia divulgado que a sede do centro de imprensa da Copa seria na cidade. O anúncio, no entanto, deveria ter sido feito pelo Comitê Organizador, ou seja, por Ricardo Teixeira. O que se falou no carro é impublicável.
Chovia com intensidade e o celular de Paiva não parava. Em outro telefonema, alguém avisou que uma reportagem “bombástica” sobre Teixeira seria exibida, no domingo, na Rede Record. Ele reagiu amaldiçoando a emissora, jornalistas, sites noticiosos e a imprensa toda. Disse que não se preocupava porque o programa da rede da Igreja Universal “dava traço”. Achava até bom: “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo.” Ao longo dos dias, porém, teve a sensação de que era injusto tomar bordoadas sozinho por causa de uma briga deletéria entre a Globo e a Record.
Quando o carro entrou na rua do restaurante, disse ao secretário para não se esquecer de “comprar as meias do vice-governador Pezão”. No Zeughauskeller, pediu cerveja e o estrogonofe de vitela. Depois, telefonou para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, para reclamar de Garotinho.
Enquanto comia, disse que estava comprometido “desde sempre” com a reeleição de Joseph Blatter, que disputava com o milionário catariano Mohammed Bin Hammam. A filha Antônia, que saboreava batatas fritas, virou em direção ao pai com uma expressão de não ter entendido direito. “Ué, mas você não quer o Bin Hammam?”, ela perguntou. Teixeira fez um movimento brusco com o braço direito por debaixo da mesa. Quis ser discreto, mas a menina protestou, alto: “Ai, pai! Não me belisca!”
Houve um silêncio desajeitado. Teixeira voltou a comer, sua mulher a ler o cardápio e Antônia escreveu uma mensagem no smartphone. A menina passou o telefone para a mãe, que digitou alguma coisa antes de lhe devolver o aparelho. De olho na tela, Antônia riu e disse alto: “Desculpa.”
Teixeira mandou o secretário ligar para Sandro Rosell, presidente do Barcelona, ex-diretor da Nike e seu padrinho de casamento. “Meu querido, boa sorte, tudo de bom, estamos torcendo demais”, disse-lhe. No dia seguinte, o Barcelona enfrentaria o Manchester, na final da Copa dos Campeões, em Londres, e Rosell havia convidado os Teixeira a assistir a partida na tribuna. O presidente não aceitou para evitar o assédio da imprensa inglesa.
Eles são amigos desde os anos 90, quando Rosell morou no Rio. Foi nessa época que a empresa se tornou fornecedora oficial do material esportivo das seleções do Brasil e uma grande patrocinadora da CBF. A relação entre a Confederação e a Nike foi investigada na Câmara e no Senado, e ficou meses a fio no noticiário.
“Aquilo só aconteceu para abafar a CPI do Eduardo Jorge: ela estava pronta, mas aí inventaram essa do futebol que, obviamente, ofuscou a outra”, disse Teixeira. Ele se referia ao secretário-geral da Presidência, no governo Fernando Henrique Cardoso. À época, Jorge foi envolvido no escândalo de superfaturamento de obras do Tribunal Regional do Trabalho, junto com o juiz Nicolau dos Santos Neto e o senador Luiz Estevão. (Nada ficou provado contra Eduardo Jorge, que processou e ganhou indenização de vários órgãos de imprensa que o acusaram.)
“Até o Ronaldo teve que depor na CPI da Nike”, prosseguiu ele. “E, no depoimento, um deputado ficou perguntando quem era o encarregado de marcar o Zidane. Isso é coisa para CPI?” Ao final da investigação, Teixeira foi indiciado por treze crimes, entre eles apropriação indébita, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Todos os processos vieram a ser arquivados, a pedido do Ministério Público Federal. “Reviraram tudo e não acharam nada. Foi tudo arquivado. E aí? O Ministério Público é incompetente, então?”, disse.
A empresa Match alugara uma sala no hotel para que caciques da Fifa assistissem ao jogo do Manchester contra o Barcelona. Teixeira ajeitou-se numa cadeira na primeira fileira, em frente à televisão. Havia salgadinhos e bebida, mas ele tomou suco. Um cartola uruguaio lhe perguntou detalhes dos times brasileiros e ele respondeu de maneira lacônica: “Santos es muy fuerte. El problema es que sólo tiene dos jugadores”,”Problema de Palmeiras es que gastó mucho y no ganó nada.”
Ao contrário dos outros, que vibravam,comentavam, gritavam e xingavam, Teixeira parecia ver um filme repetido da sessão da tarde. Fez comentários breves sobre os passes errados do Barça, e apertava os lábios quando o time perdia uma boa jogada. No meio do jogo, pegou seu iPad. Quando Messi marcou um gol, mal levantou os olhos por cima dos óculos para conferir o tira-teima.
Ao final, comentou que detestava ver jogo rodeado de “muita gente”. Ele já me havia dito que sabia separar o público do privado no que dizia respeito ao gosto pelo esporte. “Eu não sou dirigente torcedor, eu sou administrador”, dissera. “Não quero saber quem o técnico vai escalar, não fico de ti-ti-ti com jogador, não chamo jogador para a minha casa.”
No dia seguinte, devido às denúncias, o tradicional baile de gala que antecede a eleição do presidente da Fifa foi cancelado. O secretário-geral Jérôme Valcke mostrara à imprensa o documento que absolvia Teixeira da acusação de suborno. Ainda assim, o cartola estava com a cara péssima. “Olha como a imprensa brasileira é escrota!”, disse, na varanda do hotel. Pegou o iPad e mostrou três reportagens de sites brasileiros sobre o assunto. Apenas a da BBC esclarecia o caso com detalhes. As demais colocavam o documento sob suspeita, já que era produto de uma investigação de um órgão ligado à Fifa.
“A imprensa brasileira é muito vagabunda”, disse. Contou que, certa vez, um site noticiara que ele havia passado o Réveillon em uma estação de esqui. Usara como fonte um porteiro de hotel. “Se eu não estivesse com a minha mulher, esses putos teriam acabado com o meu casamento”, falou.
Às 7h45, João Havelange estava sentado sozinho no saguão do Savoy, esperando seu motorista, que só chegaria às nove para levá-lo à eleição da Fifa. A caminho, falou que comemorava seu aniversário, havia décadas, indo a um circo em Zurique. “O circo é o único lugar do mundo hoje onde ainda há solidariedade”, disse. Quando chegou, em frente ao prédio, dez manifestantes exibiam cartazes pedindo “jogo limpo”. Havia mais de 500 jornalistas cadastrados, a maior parte ingleses.
Antes de começar a votação da Fifa, Jérôme Valcke avisou aos 203 delegados presentes que deveriam testar a maquininha de voto. Ele faria duas perguntas pró-forma, e os representantes dos países filiados deveriam apertar verde para sim, amarelo para abstenção e vermelho para não. As instruções foram traduzidas em sete idiomas. “Esse Congresso está ocorrendo na Hungria?”, foi a primeira questão. Para o espanto geral, 45 delegados responderam que sim. “Foi a Espanha que ganhou a última Copa do Mundo?” No painel, viu-se que sete responderam negativamente.
Aprovaram-se pontos de um novo estatuto, a entrada de novos membros e, motivados pelas acusações de corrupção, mudanças no sistema de escolha dos países para sediar as copas do mundo. Dali em diante, todos os delegados, e não mais só os membros do Comitê Executivo, poderiam votar. O aumento do número de votantes dificultará, em tese, a corrupção, já que haverá muito mais gente para se subornar.
Ricardo Teixeira passou todo o tempo com o fone de tradução no ouvido. Antes de o resultado da eleição ser proclamado, sumiu. Tinha que pegar um voo para o Brasil ainda naquela tarde. Sem adversários, Blatter foi reeleito por mais quatro anos. O primeiro ministro inglês, David Cameron, classificou o resultado de “farsa”.
Era meio-dia quando Ricardo Teixeira atravessou o saguão do Hotel Caesar Park, em Guarulhos, onde a Seleção Brasileira estava concentrada para o amistoso contra a Romênia. O jogo marcaria a despedida de Ronaldo Fenômeno. Em uma sala do hotel, ocorreu a cerimônia de entrega de um relógio comemorativo ao jogador, com quem Teixeira estava estremecido. “Você foi o melhor jogador da Seleção Brasileira na minha gestão”, disse-lhe o cartola. Na frase, havia uma vendeta particular: o deputado federal Romário, que quisera levar Teixeira a depor na Câmara, havia dito que era ele, e não Ronaldo, o melhor atleta da história recente do Brasil.
A eleição da Fifa ocorrera há uma semana e ninguém mais falava dela. Quando encontrei Teixeira, quis saber se a situação era como dizia o anel de seu amigo Grondona: Todo pasa. Ele riu, botou a mão no meu ombro e disse: “O feio é perder, minha querida. Quando ganha, acabou.”
Na saída do evento, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, contou que o ex-presidente Lula lhe havia dito que não poderia assistir ao jogo de Ronaldo porque tinha de ir a Brasília “resolver essa coisa do Palocci, que está dando a maior merda”. Quando alguém comentou que Palocci não se sustentava mais no cargo, Teixeira respondeu: “Por que ele tem que sair? Não tem que sair nada, Palocci não vai sair.”
À tarde, a Seleção fez um treino rápido no Estádio do Pacaembu. Ao final, Luiz Gleiser, diretor da Globo, ensaiou Ronaldo: ensinou como ele e seus dois filhos deveriam andar ao entrar no campo, a que horas deveriam correr, quantos minutos depois deveriam se retirar, onde ele deveria falar. Assim, na noite da partida, depois de quinze minutos em campo, duas tentativas de gols perdidas, o Fenômeno se despediu.
Na hora do intervalo, fez um discurso preparado e agradeceu aos torcedores por “terem me aceitado como eu sou”. As câmeras e as lentes dos fotógrafos registraram a última imagem do ídolo em campo: suado, gordo e, curiosamente, usando um dilatador de nariz. Em casa, os espectadores da Globo tiveram uma informação complementar: entre a despedida de Galvão Bueno e a chamada do Jornal da Globo, o único comercial exibido foi o do Respire Melhor, o dilatador de nariz que Ronaldo usara sem nenhum motivo.
Na semana seguinte, Ricardo Teixeira entrou numa sala VIP do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, onde embarcaria no jato da CBF para Brasília. Soube que a deputada Ideli Salvatti havia acabado de ser anunciada ministra de Relações Institucionais. “A presidenta sabe exatamente por que quis a Ideli lá”, disse ele, em resposta a um comentário estranhando a nomeação.
Na hora da decolagem, olhou pela janela, respirou fundo e fez cinco vezes seguidas o sinal da cruz. Só relaxou quando o avião alcançou a altura de cruzeiro. Alexandre Silveira se sentou à sua frente e começaram a despachar. Eram três pastas com dezenas de cartas, solicitações, convites. A cada uma, o presidente dava uma orientação: “Arquivo”, “Recebo”, “Manda para o Salim”, “Diz que me coloco à disposição”. A respeito de um convite para um baile pelo aniversário da rainha Elizabeth, no Copacabana Palace, disse: “Ninguém vai a nada de inglês.”
Em Brasília, ele pretendia assistir à cerimônia de posse de três ministros do Superior Tribunal de Justiça. Também esperava se encontrar com Ciro Gomes e Aécio Neves. A um ele chama de “Cirinho”, mas quer que o outro seja presidente da República. O vínculo entre o cartola e o senador mineiro é recente. Quando era presidente da Câmara, foi Aécio Neves quem indicou Sílvio Torres para o cargo de relator da CPI da Nike. Torres preparou uma denúncia nutrida e bem concatenada contra Teixeira.
Até a CPI da Nike, a CBF fazia doações em dinheiro para candidatos. Assim, manteve no Congresso, durante anos, a chamada “bancada da bola”. Agora, com investimentos previstos de 24 bilhões de reais em obras para a Copa, os políticos o bajulam e pressionam para que ele marque jogos nos seus currais eleitorais.
Teixeira se aproximou de Lula em 2004, quando a Seleção Brasileira foi jogar no Haiti, numa ação de propaganda para valorizar as tropas nacionais enviadas a Porto Príncipe. Lula passou a recebê-lo, geralmente às sextas-feiras, no final do expediente, para tomar um uísque e conversar sobre futebol e política. Com Dilma Rousseff, a situação mudou: jamais esteve com a presidenta. Quando quer saber sobre os bastidores do Palácio do Planalto, costuma acionar interlocutores em comum, com trânsito privilegiado em Brasília.
Ao entrar no restaurante Gero, num shopping center de Brasília, Teixeira foi cumprimentado pela maioria das mesas: “Oi, presidente!”, “Boa-tarde, presidente!”; “Por aqui, presidente”, disse-lhe o garçom. “Não tenho a mínima ideia de quem seja aquele baixinho. Tenho que fazer óculos para longe”, falou. Nem Ciro Gomes, nem Aécio Neves apareceram. Não estavam na cidade.
Ele pediu nhoque com ragu (“O meu nhoque é muito cozido, tá? Ragu é tipo bolonhesa, é isso?”) e uma garrafa de vinho tinto. Um assessor comentou que o sucesso da Copa do Mundo no Brasil seria a prova de sua competência e calaria os inimigos. Teixeira mencionou que já havia conseguido amealhar 300 milhões de dólares, três anos antes do Mundial, enquanto a África do Sul não havia faturado nem 40 milhões de dólares em todo o período dos jogos.
E continuou: “Taí, vai ver que a minha vaidade é essa: ver que as maiores empresas do mundo, a maior de carne, a maior de seguros, a maior cervejaria, o maior banco do país, a maior editora, todo mundo investiu milhões no ladrão, no bandido aqui, numa CBF de merda, num time que só perde, né?” Referia-se aos grandes patrocinadores da Copa no Brasil: Seara, Liberty, Ambev, Itaú e Abril. Entre risadas, contou que, ao voltar de Zurique, mandou cancelar o resumo dos jornais, parou de ver televisão e fuçar a internet. “Não leio mais porra nenhuma, a vida ficou leve pra cacete, tá muito bom”, afirmou.
A cerimônia de posse dos ministros do Superior Tribunal de Justiça foi rápida. Mas havia uma fila de cumprimentos interminável. Ao deixar o plenário, Teixeira foi abordado por uma repórter. “Não dou entrevista”, disse, ríspido. Foi informado de que se tratava de uma jornalista da TV Justiça, que só queria saber o que ele achara da cerimônia.
Depois de uma hora em pé na fila, ele começou a sentir dores na perna operada. Uma desembargadora a seu lado puxava assunto sobre as obras para a Copa de 2014. “No que depender de nós, está tudo dentro do prazo”, disse. “Estou muito tranquilo, vai dar tudo certo. O Rio está um canteiro de obras; Belo Horizonte, Salvador e Recife, idem. Com dinheiro, se faz tudo”, afirmou.
Quis saber sobre a polêmica dos estádios paulistas. “A imprensa é a maior culpada de tudo isso”, ele disse. “Por ser toda paulista, passou três anos tentando enfiar goela abaixo o Morumbi. Com isso, atrasaram todos os projetos.”
Há outra versão. A de que, na esteira da briga envolvendo o Clube dos 13, a Globo e a Record, Teixeira teria descartado o Morumbi, que pertence ao São Paulo, para atingir o presidente do clube, Juvenal Juvêncio – um de seus detratores –, durante a disputa. Os críticos do presidente argumentaram que, em vez de se gastar o triplo na construção do estádio do Corinthians, o Itaquerão – como ele defende –, bastaria apenas uma reforma para viabilizar o Morumbi.
Teixeira argumentou que o melhor estádio da Copa na Alemanha ficava “no meio de uma estrada e outra estrada”. Segundo ele, “Itaquera tem muito mais estrutura do que o Morumbi. Tem trem e metrô na porta”.
Como de hábito, responsabilizou a imprensa pela celeuma: “Olha a merda que foi a Copa na França: a Seleção jogou num estádio de 27 mil lugares, ficamos concentrados no meio do nada. E algum jornalista reclamou? Não, né? Afinal, estavam indo para Paris.” Quando se falou em aeroportos, ele deixou claro que o problema não lhe diz respeito. “Isso é o governo. E se o governo acha que a Copa não é prioridade, não posso fazer nada. Esse é o SEU país”, disse.
A fila andou, mas havia pelo menos mais vinte minutos em pé. Falou-se sobre o goleiro Bruno, acusado de mandar matar a mãe do filho dele. Teixeira acha que há pelo menos cinco jogadores de renome que foram salvos pelo futebol. Se não tivessem se tornado profissionais, teriam sido mortos antes dos 15 anos por terem índole de criminosos. Depois de quase duas horas de espera, os cumprimentos duraram menos de cinco minutos. Mas ele ficou satisfeito: “Foi muito bom, encontrei pelo menos vinte ministros.”
Na Base Aérea de Brasília, recebeu um telefonema alertando que a Record anunciava mais uma “reportagem avassaladora” sobre sua vida, naquela noite. Teixeira afastou-se para falar com seu advogado, e perguntava o que exatamente exibiriam no programa. Repórteres haviam feito imagens da sua fazenda, atribuído a ele uma casa em Búzios que não era sua, e mostrado sua casa na Flórida.
Ele mandou o advogado preparar a notificação para um processo. O jatinho taxiava e ele atendeu a mais uma chamada pelo celular. Quando desligou, ficou sentado longe do espaldar da poltrona segurando o telefone na mão. “Alguém está falando do Palocci hoje? Não, né? Se eu renunciasse hoje, eu viraria santo”, disse, em tom de desabafo.
Enquanto o avião decolava, tirou os sapatos, esticou as pernas sobre um banquinho de couro creme e fez o sinal da cruz. As luzes da cidade tinham ficado para trás quando rompeu o silêncio: “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou.”

O futebol brasileiro está atrasado

Juca Kfouri

Foto: Miguel Schincariol
Por PAULO ANDRÉ*
Se dissermos que o jogo de futebol se divide em três princípios básicos e deles, todas as variações são possíveis, eu diria que:
tecnicamente sempre fomos muito superiores a qualquer outra nação;
fisicamente, em algum período, chegamos a ser inferiores;
e taticamente sempre sofremos com a falta de disciplina na aplicação da estratégia porque éramos tão melhores jogadores de bola que sempre achamos um jeito de vencer nossos rivais.
Assim sendo, inicialmente decidimos resolver a discrepância física e incrementamos toda a cientificidade oferecida pelos melhores estudos e artigos já produzidos para construirmos o atleta ideal.
O intuito era nos equipararmos aos europeus e para isso, quebramos inúmeras barreiras culturais introduzindo a musculação e os treinos físicos específicos para jogadores de futebol.
Durante anos os especialistas na área tinham vontade de vomitar ao escutar dirigentes, treinadores e comentaristas dizendo que a musculação deixaria o jogador travado.
De qualquer forma e com certa demora, evoluímos muito na qualidade dos treinos físicos e permitimos que a ciência entrasse no futebol brasileiro.
Até aí, tudo bem.
Conseguimos igualar a valência física e continuamos com a supremacia técnica. Éramos então praticamente imbatíveis.
Mas em algum momento da história do futebol e da economia brasileira, os clubes se encontravam em péssima condição financeira e não conseguiam gerar outro tipo de renda que não com a venda de jogadores para o mercado europeu.
Demoramos muito para nos estruturarmos, explorarmos o marketing e a paixão doentia do nosso torcedor, gerando receitas que, aliadas aos direitos de TV, tornassem o clube auto-suficiente.
Então, o único meio de sobrevivência encontrado por dirigentes amadores e despreparados naquela época era vender atletas à Europa para solver dívidas e contratar medalhões, ganhando assim, o apoio popular.
Desde então, estamos produzindo jogadores para os europeus, buscando selecioná-los e prepará-los de acordo com o perfil de jogo que facilita essa negociação.
Pior que isso, o nosso erro foi acreditar que o atleta ideal era aquele que existia na Europa.
Boa estatura, forte, sem muita ginga (pois futebol já não era mais brincadeira), disciplinado, com bom jogo aéreo e o mais importante, com nome e sobrenome.
Chegamos ao cúmulo de tirar até os apelidos dos nossos meninos da base para que eles ficassem mais vendáveis aos olhos e aos cofres do velho continente.
Em pleno século 20, ainda éramos colônia, explorados pelos europeus que compravam barato e lucravam com o desempenho e as futuras transferências daqueles “produtos” importados.
Apesar disso, nós brasileiros estávamos felizes e pensávamos que essa “facilidade” de achar matéria-prima abundante e vendê-la para o além-mar era a salvação da lavoura.
Não nos preocupávamos com o êxodo de jogadores porque a renovação e o talento eram tão naturais do nosso povo que a cada ano surgiam mais e mais jogadores de qualidade.
Se quiséssemos, montaríamos três ou quatro seleções em condições de ganhar uma mesma Copa do Mundo.
Nesse período (e durante esse processo), ainda mantínhamos a supremacia técnica e por isso demoramos anos para perceber que o jogo também evoluiu.
O futebol passou a ser estudado e analisado tanto quanto o organismo humano ou a economia mundial.
Também pudera, algo que gera tantos bilhões de dólares e movimenta outros tantos bilhões de torcedores ao redor do planeta não poderia ser deixado ao azar ou ao talento nato de seus praticantes.
Então, enquanto nos dedicávamos aos treinos físicos – com tiros de 1000m, 300m etc… – os europeus faziam tudo dentro do campo, com a bola.
Trabalhos mais intensos e disputados, mini jogos que exploravam especificamente um princípio de ataque ou de defesa, tudo inserido ao jogo.
Cada treino tinha um objetivo e o sincronismo dos movimentos de pressão ao adversário, de bloco alto (encurtar o campo), de trocas de passes rápidas e com o menor número possível de toques na bola se tornaram exigências do futebol contemporâneo.
A linha de 4 defensiva e a tentativa de roubar a bola no campo adversário já eram praticadas muito antes de eu chegar à Europa em 2006.
Estamos em 2012 e no Brasil tem gente que ainda fala em ala, três zagueiros e volante de contenção.
A falta de visão, de protecionismo, de estímulos para a manutenção de talentos e de desenvolvimento do estilo brasileiro de se jogar futebol se revela hoje, duas décadas depois, um grave problema.
Nos esquecemos de investir em planejamento, estruturação e, principalmente, capacitação de profissionais para darmos sequência à produção e consolidação da nossa hegemonia no futebol mundial.
Nos preocupamos em vender a nossa Seleção e esquecemos-nos de reinvestir o lucro nas futuras gerações.
Usamos os “produtos” produzidos e formados pelos nossos clubes, mas esquecemos de retribuir o serviço com a criação de campeonatos mais fortes e rentáveis, infra-estrutura de qualidade (estádios, gramados, etc…) e capacitação de pessoas em todas as áreas do esporte brasileiro (gestores, técnicos, preparadores físicos, scouts etc…).
Estamos atrasados.
Quase não temos cursos capacitantes que valham à pena.
O círculo do futebol brasileiro é restrito, fechado e avesso a novas ideias.
Quase não temos estudiosos do jogo, das variações táticas ou dos treinamentos específicos.
Nossa formação de base não ensina para o futebol atual, mas, sim, para o futebol de outrora.
Insistimos em coisas do arco da velha simplesmente porque a maioria dos nossos ex-jogadores (atuais treinadores) não está preparada para formar novos atletas.
Falta conhecimento e posteriormente a aplicação de ferramentas como a teoria do jogo, a psicologia e a pedagogia aplicadas ao esporte para que possamos sair do marasmo em que nos encontramos.
Precisamos abdicar de fórmulas que um dia deram certo e que se tornaram tradicionais para chacoalhar os estaduais, as divisões inferiores e os times “pequenos”, assim como um dia passamos do sistema de mata-mata para pontos corridos, dando mais estabilidade financeira aos clubes e atletas.
Talvez seja a hora de quebrarmos outros paradigmas.
Admitir que o modelo está ultrapassado e que precisamos mudar é o primeiro passo.
O problema é que poucas pessoas estão preocupadas com isso.
Na verdade poucos enxergam o atraso, só reclamam que a Seleção não está bem.
Novos valores e estudiosos do jogo não conseguem se inserir no meio porque não jogaram futebol e não tem a confiança do mercado.
A categoria de base da maioria dos clubes brasileiros está jogada ao Deus dará.
Os cargos dentro dos clubes, federações e confederações ainda são políticos e não técnicos. Isso tem que mudar!
O Brasil se encontra em uma encruzilhada.
Na verdade, estamos parados diante dela há alguns anos, observando, com olhos fixos, a estrada que nos trouxe até aqui.
Ela é repleta de flores, encantos e conquistas.
Revendo o trajeto, nos apaixonamos pela construção da nossa história e temos a certeza e o orgulho de saber que os melhores times e os maiores jogadores que o planeta já viu foram brasileiros.
Enxergamos também que ganhamos, orgulhosa e merecidamente, o apelido de “País do futebol”, o maior exportador de pé-de-obra que o mundo conheceu.
Dominamos o futebol mundial e possuímos, por anos, estrelas em todos os grandes campeonatos nacionais do velho continente.
Todos tinham medo da camisa amarela e os brasileiros, encantados, paravam para ver a seleção canarinho jogar.
Por tudo isso, passamos anos desfrutando da beleza do nosso futebol e do avanço que tínhamos sobre os demais.
Acreditamos que tudo era possível ao país que tem no DNA de seu povo, o talento do futebol.
Hoje, olhando ao redor, mais próximos da encruzilhada, ainda pelo caminho que construímos, vemos sonhos, delírios e extravagâncias que desperdiçaram tempo e dinheiro e não se transformaram em nada.
Um período sonolento em que a falta de capacidade se justificou de inúmeras formas, especialmente pelo passado esplendoroso que construímos.
Mas eis que recentemente, atônitos e ainda parados na estrada, fomos despertados pelo barulho ruidoso dos motores espanhóis, holandeses e alemães que passaram por nós sem pedir licença.
Aceleraram em tamanha velocidade que ainda não conseguimos reparar quais as novas peças da engrenagem os fazem acelerar tão de pressa.
E cá estamos nós, olhando fixamente para a encruzilhada buscando dicas de para onde seguir ou qual o melhor caminho a tomar.
*Paulo André é atleta profissional e zagueiro do Corinthians.
http://www.pauloandreoficial.com.br/site2/


Para Juca, clubes devem liderar renovação na CBF após saída de Ricardo Teixeira

por ESPN.com.br

Na manhã desta segunda-feira, após 23 anos na presidência da CBF, Ricardo Teixeira anunciou sua renuncia do cargo. Alegando motivos de saúde, Teixeira deixou seu lugar para o, até então, vice-presidente da Confederação, José Maria Marin.

Na segunda edição do Bate-Bola, o comentarista dos canais ESPN Juca Kfouri analisou este momento fundamental para o futuro do futebol brasileiro.

Para ele, no contexto atual, tanto jogadores como presidentes dos clubes precisam tomar atitude e não desperdiçar esta chance, em especial, para mudar o processo eleitoral na CBF.

Ainda, ressaltou a importância do governo Dilma na saída de Teixeira e na sequência dessa mudança no cenário esportivo.


 Jorge Cajuro comenta sobre a saída
Cada jornal tem uma seriedade e uma linha editorial... Aqui a saída de Ricardo Teixeira na versão do Jornal Nacional da rede Globo
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