(*)
Estranho mundo em que "O Que Estou Vendo" virou legenda padrão para
fotos postadas com imediatismo arrasador. Não estou julgando, só
tentando entender.
Resolvi postar a demo de Bora para mergulhar, a meu modo, no espírito destes tempos. A legenda poderia ser "O Que Estou Gravando".
Ao
contrário das fotos filtradas de paisagens que parecem ter passado
batom, esta demo não têm corretores. Na veia, sem dourar a pílula. É
crua, embrionária. Gravei em casa, tentando não derrubar a erva do
chimarrão no laptop, salvando meu cachorro da morte por enforcamento no
cabo do violão, com a TV sem volume parada em algum canal esportivo
(como uma lareira sem calor, um docinho para os olhos). Dispersão
concentrada, concentração dispersa. É assim, neste caos amigo, que gosto
de trabalhar. Tenho fé no discernimento dos "de fé". Eles saberão ouvir
as potencialidades e relevar as imperfeições dos primeiros passos desta
criança.
Bora
foi a primeira canção que a sanfona me trouxe. Parece ser do time de
Olho do Furacão. Ambas misturam a percepção de um mundo onde tudo que é
sólido desmancha no ar com a esperança de que novas oportunidades
surgirão dos escombros, das ruínas, do farelo. Não sei que rumo ela vai
tomar, se um dia haverá uma versão "oficial". Engenheiros do Hawaii?
Pouca Vogal? Banda de Pífaros de Caruaru? Filarmônica de Berlim? Seria
como decidir o curso superior de um bebê que ainda está na maternidade.
Nesta gravação, optei por simular o formato power duo
do Pouca Vogal. Duas vozes, violão e sanfona. Bumbo, pandeiro e prato
disparados com os pés. Gosto das especificidades de cada formato. As
limitações mais motivam do que inibem minha escrita musical. Já era
assim nos tempos de power trio dos EngHaw.
(*)
Desde sempre me perguntam sobre as mudanças que, com o tempo, acontecem
no processo criativo. Sempre respondi que, apesar de ter amadurecido
(menos do que gostaria) e envelhecido (mais do que gostaria) escrevia
como sempre escrevi.
Talvez
eu deva rever esta resposta a partir da entrada em cena dos meus
livros. Eles (em especial NAS ENTRELINHAS DO HORIZONTE) colocam o
compositor em outro patamar, livre de alguns compromissos, comprometido
com outros desafios. Se isso é ou será notado pelas pessoas, o que elas
acham ou acharão disso, já não me diz respeito. Foge ao meu raio de
ação. Tomara que faça sentido. Ao menos para quem interessa. Ao menos
para quem se interessa. Ao menos o que interessa.
(*)
Pessoas “do ramo” aconselham a não mostrar demos... faz sentido... mas
ao chegar em casa depois do show do Roger Waters, The Wall, fiquei
ouvindo as demos dele. Também fez sentido.
um abraço é uma ponte
que ele dure
(que ela nos leve)
(que ela nos leve)
até a próxima terça
27março2012
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