Outro dia botei no facebook um comentário sobre essa música do Michel Teló que está movimentando notícias seja na Polônia, na revista Forbes ou na dança com Neymar.
Mal tinha ouvido falar do rapaz, mas fui ver e ouvir. Como aquele pensador antigo chamado Terêncio, sou humano e nada do que é humano me é estranho. Quando uma coisa faz sucesso ou aparece muito na midia tento entender, mais do que simplesmente julgar.
Se essa música dançante do Teló, é uma nonada como dizia Guimarães Rosa, no entanto, me deixou intrigado. E pensei: engraçado, ele está retomando um motivo: A garota de Ipanema! Mas me informam, para alegria dos baianos, que ele retomou um tema conhecido em Feira de Santana. Mas vejam: na sua música ele está na balada, vê uma menina passando, chega pra ela e diz: ai se eu te pego! Na outra, a de Ipanema, o macho poeta vê uma menina cheia de graça também passando, mas olha-a melancolicamente: ah, porque estou tão sozinho! porque tudo é tão triste?
Telô, parece mais moderno, embora não chegue a fazer a dança da garrafa e outras estripolias narradas pelo funk. Li uma pesquisa de duas sociólogas dizendo que hoje os meninos esperam as meninas saírem do banheiro nas boites, as agarram para beijar e o jogo é saber quem beija 10 ou 20 meninas numa só noite. Beijam uma já olhando quem será a próxima.
Comparado com isto a musica do Teló é até muiiiito casta. Ele está vendo, mas não está pegando. Vai ver que esse quase é que é o fascínio desse ritmo. Ele está imaginando, e a imaginação é mais perigosa que a realidade: ai se eu te pego, ai que delicia! E cada um, ou uma, pode imaginar o que vai fazer segundo o repertório de cada qual. Vai ver que é por isto que, sobretudo as moças, cantam isto expressando o desejo reprimido. A vontade de receber algumas delicadezas dos machos, em geral tão apressados.
Este tema da mulher impossível, da mulher que passa aos olhos do macho, é antiguíssimo na literatura. Vocês sabiam que houve uma época em que os poetas curtiam noivas mortas e freiras castas, portanto, todas ausentes e inatingíveis?
Vinícius de Morais vivia cantando e louvando a mulher impossível. Estava entre o passado e a modernidade. Chegou a dizer: eu quero a mulher que passa, a mulher que passa e fica, que pacifica? Vinícius queria sempre a mulher passante que o pacificava por um instante. Hoje as pessoas vão logo pegando, beijando, mandando ver. Mas há quem tenha a nostalgia da imaginação…