Publicação: 20/10/2011 04:00 - Estado de Minas - Caderno de informática - Reporter Shirley Pacelli
De uma luz verde pulando de um lado a outro da tela representando uma partida de tênis, em 1958, a você saltando para a frente e para os lados diante da TV com uma raquete imaginária, pode-se dizer que a evolução dos videogames, do primeiro jogo, Tennis for two, até chegar à tecnologia do Kinect, foi muito grande e, por que não dizer, encantadora.
Se antes a imagem de uma criança gordinha, nerd e com um saboroso (e pouco saudável) hambúrguer na mão era associada aos games, os jogos atuais já não podem ser reconhecidos como vilões e responsáveis pelo sedentarismo infantil. Estão aí as novas gerações de consoles e títulos – que permitem ao jogador se divertir e suar movimentando o próprio corpo para comandar seu avatar –, como contra-argumentos bem convincentes.
“Nós vamos começar a ter videogames com toques, cheiros e holografias. Você vai interagir de forma 3D. Ainda não é viável comercialmente, mas os videogames tendem a partir para essa realidade”, prevê Cleidson Lima, que surpreendentemente é colecionador de antigos consoles. Ele já recebeu a proposta de R$ 70 mil em troca de seus 120 exemplares, mas negou, confirmando sua gamemania.
Os nostálgicos, a exemplo de Cleidson, não se esquecem dos clássicos como Mega man, série de jogos de 1987. Ana Paula Pimentel, de 27 anos, faz parte desse grupo e recebeu o apelido de “retrô chata” dos amigos gamers. “Eu acho que quanto mais distante da realidade melhor é o game. Nunca vou querer jogar algo que seja a simulação da realidade. Para isso eu já tenho a própria, não é?”, diz a moça.
Outra lenda que também foi desmitificada é a que diz que os games são só para a garotada. Tem muito marmanjo trocando o tempo com a namorada para ficar em frente à telinha superando seus recordes. Alguns vão além e, inspirados por uma paixão, resolvem fazer música com as trilhas dos jogos: é a turma da game music. Bandas mineiras, como Abreu Project e Atari One, provocam saudade em muita gente ao primeiro acorde da guitarrra.
O tema games é tão envolvente e criativo, capaz de despertar intensas emoções, que até exposições são realizadas pelo país afora, como uma exposi;áo que está em Belo Horizonte e que conta a história dos videogames no Brasil. Um espaço para viver boas recordações, seja você um invencível gamemaníaco como Cleidson Lima ou apenas um simples mortal, somente um observador dos acontecimentos que movem as paixões humanas.
Muita ação e adrenalina nas telas
Conheça os tipos de jogos que mexem com pessoas de todas as idades
Apaixonado pelo universo dos games, Cleidson Lima tem em sua coleção 120 consoles, entre eles verdadeiras raridades |
Hoje, ele é dono de 120 consoles, que integram a sua coleção e ilustram a sua “pequena” loucura por jogos. O interesse por esse universo é tamanho, que ele está escrevendo um almanaque do videogame, que deve ser lançado no ano que vem. Entre os seus exemplares está um Odissey 100, primeiro de uma série de videogames da Magnavox, lançado em 1972. Objeto raro e xodó do dono, ele deve custar cerca de US$ 1 mil no eBay, empresa de comércio eletrônico.
Além dele, o jornalista tem um Atari Super Pong e o Faichild Channel F, primeiro videogame a usar cartuchos, ambos de 1976. Um Atari 2600 americano, com frente de madeira (1977), o Vectrex, console com monitor embutido (1982), um Nintendo Virtual Boy, primeiro 3D (1995) e o Colecovision, grande rival do Atari na década de 80, também fazem parte da coleção.
Segundo Cleidson, existem cerca de oito gerações de games, com mais de 1 mil modelos. “Para o colecionador, quanto pior o console, melhor, porque são mais raros. Estou longe de ter todos”, considera. Uma dica preciosa para quem quer começar a reunir os seus é procurar nas casas das vovós. “Os melhores videogames do mundo estão nos guarda-roupas das avós ou mães. Grande parte dos tesouros achei nesses locais. Os filhos casam, se mudam e abandonam os brinquedos. Elas não jogam fora, guardam com carinho”, explica o jornalista.
Todos os antigos videogames funcionam, assegura o colecionador. Mas não pense que é fácil manter essas máquinas “pré-históricas” rodando. A manutenção tem que ser constante. Além dos dois técnicos que recebem um ou outro console todo mês, Cleidson aprendeu eletrônica para dar conta dos reparos mais simples. “É um vício que exige muita dedicação”, resume.
CAUSOS A busca por novos exemplares já levou o jornalista a locais inusitados. Da última vez, uma plaquinha de “compra-se videogames” o atraiu a adentrar por uma portinha antiga de um lugar feio, como ele mesmo qualificou. “Tinha tanta poeira e sujeira, que qualquer pessoa em sã consciência não entraria lá. Olhei uma caixa com cerca de uns 50 jogos. O senhor estava vendendo cada um por R$ 7. Comprei todos e, só para se ter uma ideia, ganhei R$ 1,8 mil com apenas um deles”, conta.
Em outro momento, durante a realização do evento Campo Grande Game Show, ele colocou a sua coleção em exposição e a disposição dos visitantes. “Em pouco tempo, os guris, que antes jogavam Kinect, estavam se divertindo com o Atari. Os pais olhavam os antigos consoles e chamavam os filhos para jogarem juntos. Quis mostrar para as pessoas que os games têm história. E consegui”, completa. (Colaborou Rafael Alves)
ESCOLHA SEU ESTILO
Confira alguns gêneros de games que fazem sucesso entre os jogadores, suas características e os representantes mais famosos em cada categoria.
Plataforma
Se você não for de outro planeta, certamente já deve ter jogado alguns das dezenas de games da série Mario Bros. ou Sonic em alguma plataforma de videogame ao longo da vida. Pois é, eles são exemplos clássicos desse gênero. De forma simples e direta, basta dizer que o nome vem do fato de o personagem correr por obstáculos ao longo do cenário, saltando de plataforma para plataforma ou algo que se assemelhe.
Casual
Sabe aquele tempo livre na frente do computador jogando paciência? Pois é, você já faz parte do mundo dos jogos casuais. São aqueles que buscamos quando estamos querendo passar o tempo. Com a expansão dos jogos nos celulares, muitos deles se tornaram hit e ameaçam o reinado de títulos já tradicionais. Se já ouviu falar dos pássaros enfezados de Angry bird sabe do que estamos falando.
Simulador
Aqui o objetivo é criar um jogo que se assemelhe ao máximo a uma situação real. Os games de maior sucesso nessa área sempre foram os de aviação, com a série Flight simulator reinando absoluta anos a fio. Porém, os games de corrida têm tentando entrar nesse clube, com lançamentos que tentam passar ao máximo o realismo dos pilotos nas pistas. A inclusão de títulos como Grand turismo 5 entre os simuladores, porém, gera muita controvérsia entre os fanáticos por esse estilo.
FPS
A máxima do mercado de produção de games atualmente é: se puder transformar sua ideia em um first person shooter (tiro em primeira pessoa, na sigla em inglês), já é meio caminho andado para ele ser rentável. Esse tipo de game, que virou mania entre jogadores desde os anos 1990, tem com característica assumir a visão do jogador. Ou seja, se você comanda um soldado, a perspectiva de visão será a que ele tem do combate, com a arma em punho e o mundo diretamente à sua frente. As franquias atuais de maior sucesso na área são a Call of duty e Battlefield.
TPS
Aqui o jogador controla um personagem com uma perspectiva diferente. Os third person shooters (ou tiro em terceira pessoa) são caracterizados pela câmera em terceira pessoa, ou seja, seu personagem será seguido por uma visão um pouco afastada de seu corpo, normalmente sobre os ombros. Apesar de parecer pouco diferente dos FPS em teoria, a jogabilidade é totalmente diferente. Muitos jogadores se acostumam melhor com o estilo FPS que o TPS e vice-versa. Os sucessos Gears of wars e Uncharted, respectivamente exclusivos do Xbox 360 e do Playstation 3, são as melhores indicações atualmente.
Estratégia
Aqui vale a capacidade de pensar rápido e também de agir rápido para ter sucesso. Imagine-se no comando de um exército no qual tudo depende de sua decisão para acontecer: desde o simples treinamento de um soldado à melhor estratégia para atacar ou se defender do inimigo. Os games nesses estilo exigem muito conhecimento do jogador, que precisa saber exatamente qual peça em seu controle tem melhor efeito em determinada situação. Eles podem ser em tempo real, como os aclamados Starcraft e Age of empires, ou por turnos, no qual todos os comandos são dados e cabe ao computador simular as ações conforme determinado, como em Civilization.
RPG
Os role playing games (RPG) são games nos quais o jogador assume o papel do personagem e, conforme interage com o mundo ao redor, evolui dentro da trama, que pode alterar conforme as decisões tomadas. É um estilo com grande apelo no mundo dos games e com variações que muitas vezes deixam de lado o sentido original de ser um jogo de interpretação de papéis para se tornar um jogo de ação. Apesar de as séries com temáticas japonesas, como Final fantasy, terem marcado a trajetória desse gênero, sucessos ocidentais recentes, como Fallout, têm se mostrado histórias mais interessantes para os fãs.
Puzzle
Jogos de quebra-cabeça encantam há gerações, muito antes de caíram no mundo eletrônico. Com a popularização das ferramentas de criação de games para computador, consoles e telefones celulares, uma imensidão de títulos tem tomado conta do mercado. Muitos poderiam até se encaixar no estilo casual, mas há títulos que são muito bem elaborados, com histórias cativantes e desafios que exigem mais que alguns poucos minutos para serem solucionados. Se você prefere pensar, pensar e pensar antes de agir, encontrou seu estilo. O mais popular e desafiador dos consoles tem sido a série Portal.
Musical
Esse estilo reinventou o jeito de as produtoras tratarem os consoles. Com o lançamento do Guitar Hero, em 2005, e, dois anos depois, do Rockband, o mercado ganhou não apenas um novo gênero de jogos como uma mina de dinheiro para vender softwares, músicas em suas redes internas e acessórios, como guitarras e baterias em forma de controle. As parcerias com bandas famosas, como Aerosmith, Metallica e Beatles, se tornaram comuns. Aqui, o jogador precisa pensar e agir rápido para acertar as notas conforme as cores e sequências que aparecem na tela,reunindo nesse estilo um público que antes olhava os videogames como coisa de criança.
Viagem por um mundo de cores e sons
Paixão pelos games motiva até criação de
bandas de trilhas musicais. Exposição que conta história dos videogames
une todas as gerações
Vestir-se como personagens dos jogos faz parte das apresentações da Atari One |
O grupo, atualmente formado por Fábio, Filipe Alvim (ambos guitarristas), César Alves Júnior (baterista), Jonathan Moreira (tecladista) e Tiago Nolasco (baixista), segue com a proposta de se divertir com o som. Gamers assumidos, eles são unânimes em escolher Top gear como a melhor das trilhas. As bandas Game Over (www.nintendometal.com), de heavy metal da Suécia, Powerglove (www.vgmetal.com) e as mineiras 8-bits e Abreu Project servem como inspiração.
Todos têm outras profissões e bandas, mas não largam o projeto. “O objetivo é resgatar os bons tempos do videogame”, resume César Alves. “Hoje em dia acabou aquela coisa de se reunir na casa do amigo para jogar. A galera está esquecendo a diversão e dando valor somente para a computação gráfica”, complementa Tiago Nolasco.
PARAMENTAÇÃO Mas, para os meninos, o que não falta é animação: do encontro para uma partida de Street fighter aos palcos. Na última apresentação que fizeram, em um festival no metrô da capital mineira, um deles teve a excelente ideia de se vestirem a caráter. Mario Bross, Luigi, Sub-Zero, Scorpion e Strike foram incorporados. Algumas das fantasias, inclusive, foram feitas pelo multitalentoso Fábio, com a ajuda da máquina de costura da mãe.
Dependendo do show, a Atari One toca até 15 músicas. Todas instrumentais, claro. Um vídeo é passado com as temáticas de cada canção e o público responde a cada faixa executando comandos próprios de games. Uma plateia de causar inveja. “Enquanto o pessoal de outras bandas fica pedindo 30 toalhas brancas no camarim, a gente só quer uma sala de fliperamas”, brinca o guitarrista Filipe Alvim.
Em um episódio numa casa de shows de Belo Horizonte, os jovens, que iriam tocar na mesma noite do Abreu Project, ficaram decepcionados ao terem que ir embora sem ver a apresentação dos colegas. Por serem menores de idade à época, tiveram que tocar e ir direto para casa. “A Abreu é uma das poucas bandas que mantém a trilha original. Geralmente, os músicos de games colocam uma pegada mais metal ou eletrônica em suas versões”, explica César Júnior.
SORTE DE PRINCIPIANTE Além de se enveredar pelo universo das trilhas dos games, Fábio Nolasco resolveu investir em consoles. Já são sete em sua coleção. O mais antigo – um Atari de 1986 – foi comprado pela pechincha de R$ 20. O videogame vale hoje cerca de R$ 3 mil no mercado de colecinadores.
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